CAPÍTULO 6 INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS DA AMÉRICA ESPANHOLA E REVOLUÇÃO HAITIANA
Entre o fim do século dezoito e o início do século dezenove, parte da população que vivia entre o norte do México e o extremo da América do Sul buscou a independência da Espanha. Os líderes dessas lutas pela emancipação foram chamados de libertadores.
Eles foram homenageados com estátuas, celebrações e nomes de ruas em todos os países que se formaram nessa região. Além disso, desde 1965, o nome do maior torneio de futebol do continente é um reconhecimento aos feitos deles: Copa Libertadores da América.
Como e por que nomes e eventos históricos são relembrados? O que define um país independente e livre? Você descobrirá neste capítulo as respostas a essas perguntas.
Responda oralmente.
- Que relação a avó de Armandinho estabeleceu entre o movimento de pessoas nas ruas e o termo libertação?
- Em sua opinião, quando um país alcança a independência política, toda a população se torna imediatamente independente e livre? Justifique sua resposta.
- Por que as colônias da América espanhola decidiram romper com a metrópole?
Respostas e comentários
Abertura
Pretende-se, nesta abertura, estabelecer uma relação entre o passado e o presente por meio da rememoração de um evento popular, a Copa Libertadores da América, torneio de futebol provavelmente conhecido pela maioria dos estudantes. Ao ressaltar a importância de conhecer os motivos pelos quais uma data, nome de evento ou local são reconhecidos, bem como seu significado, estimula-se o desenvolvimento da consciência histórica, política e social entre os jovens estudantes e cidadãos.
Atividades
1. A avó do personagem Armandinho relacionou a movimentação de pessoas nas ruas com manifestações políticas e greves.
2. Espera-se que os estudantes lembrem o que estudaram no capítulo 3 sobre a independência dos Estados Unidos e reconheçam que, lá, a soberania política não representou a liberdade da população escravizada nem extinguiu as desigualdades sociais.
3. Os estudantes deverão formular hipóteses. Espera-se que relacionem a luta pela independência política às possíveis opressões econômicas da metrópole sobre as colônias, como o aumento de impostos e a falta de liberdade comercial. Estimule-os a refletir sobre o papel das populações submetidas ao trabalho compulsório e à escravidão nesse processo.
• Retome com os estudantes o modelo de divisão política das posses espanholas no continente americano, assunto estudado no capítulo 6 do 7º ano. No final do século dezoito, havia quatro vice-reinos (unidades político-administrativas maiores) e quatro capitanias gerais (territórios menores em localidades estratégicas governados militarmente). Essas regiões apresentavam enormes diferenças culturais, econômicas e geográficas entre si, e os movimentos de independência de alguma fórma refletiram essa diversidade, conforme desenvolvido no decorrer do capítulo.
O impacto das Reformas burbônicas
As Reformas burbônicas do século dezoito afetaram a América espanhola de várias fórmas. Em alguns locais, elas reduziram a autonomia dos criollos. Em outros, esse grupo foi beneficiado, por exemplo, pela abertura dos portos espanhóis ao comércio com nações estrangeiras.
Os cargos públicos mais altos (como o de vice-rei), entretanto, ainda eram ocupados somente por membros da elite nascidos na Espanha, causando descontentamento entre os criôlos. Ao mesmo tempo, diversas jurisdiçõesglossário foram extintas, diminuindo o poder local das lideranças indígenas. Além disso, a Coroa espanhola aumentou muito os tributos cobrados da população ameríndia.
Essas e outras medidas, que fizeram parte das Reformas burbônicas, desencadearam uma série de revoltas coloniais, principalmente em áreas nas quais o comércio local foi mais afetado. Integrantes de vários segmentos da sociedade colonial, incluindo criollos, indígenas e mestiços, participaram dessas rebeliões.
Imagens em contexto!
A expulsão dos jesuítas das colônias espanholas na América foi uma das medidas estabelecidas nas Reformas burbônicas. No século dezoito, os jesuítas também foram expulsos da América portuguesa, como você estudou no capítulo 5.
Respostas e comentários
Objetivos do capítulo
• Relacionar o contexto social, cultural e político aos movimentos emancipatórios na América espanhola, como as Reformas burbônicas, a Revolução Francesa e o movimento iluminista.
• Identificar as especificidades da Revolução Haitiana em seu processo de independência.
• Conhecer as ideias dos líderes dos movimentos independentistas e seu papel nos movimentos emancipatórios.
• Reconhecer as singularidades dos processos, o protagonismo e a atuação de diferentes grupos sociais e étnicos nas lutas pela independência na América espanhola e no Haiti.
• Reconhecer a importância da participação feminina nos processos de independência nas Américas.
• Caracterizar o pan-americanismo.
• Identificar as desigualdades e as exclusões sociais que perduraram após a emancipação dos países americanos.
Justificativa
Os objetivos selecionados para esse capítulo têm a importante função de contextualizar as singularidades dos diferentes movimentos emancipatórios da América espanhola e da Revolução Haitiana, sensibilizando os estudantes para a historicidade das configurações sociais, econômicas, políticas e culturais desses territórios. Nesse sentido, o reconhecimento da importância das mulheres nos processos de independência e a comparação entre os processos de independência abordados no capítulo incentivam a autonomia dos estudantes por meio do desenvolvimento da atitude historiadora.
Bê êne cê cê
Ao tratar das Reformas burbônicas e de seus reflexos na América espanhola, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero sete.
• O texto-base faz referência aos criollos, nascidos nas colônias que compunham um dos grupos da elite colonial. Essas noções já foram trabalhadas no capítulo 6 do livro do 7º ano.
• A designação indígena aqui adotada recobre a ampla diversidade dos grupos étnicos ameríndios. A América espanhola era composta de populações indígenas tão diversas quanto os Mapúche do Chile, os diferentes falantes da língua quéchua no Peru e os descendentes dos Maias. Vale a pena retomar o que os estudantes sabem sobre essa diversidade, pois se trata de um tema estudado em anos anteriores. O mesmo vale para a noção de mestiços.
A crise dos domínios coloniais na América espanhola
As ideias liberais e iluministas que serviram de base para processos como o de independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, circularam rapidamente pelo continente americano. As informações sobre esses eventos chegaram às colônias espanholas por meio de jornais, livros e panfletos, e inspiraram parte da população local.
Além dessa influência e dos processos revolucionários ocorridos nos Estados Unidos e na França, a população da América espanhola tinha outros motivos para lutar pela independência.
As colônias espanholas enfrentavam graves crises fiscais, e as diversas camadas sociais que compunham a população colonial, de cêrca de 2 milhões de pessoas no início do século dezenove, reagiram de diferentes fórmas a elas. Parte da elite econômica lucrava com a situação imposta pelas Reformas burbônicas, mas a maioria dos indígenas, mestiços e negros estava insatisfeita com os sistemas de cobrança de impostos, o aumento dos trabalhos forçados e a carestiaglossário generalizada. Além disso, muitos criollos, que eram senhores de escravizados, associavam o governo espanhol às limitações de seus negócios.
Não faltavam motivos para quase toda a sociedade da América hispânica estar descontente com a metrópole, apesar de as razões serem diferentes e às vezes até opostas.
Imagens em contexto!
A Insurreição dos Comuneros ocorreu no vice-reino de Nova Granada. Dela participaram integrantes da elite criolla que estavam descontentes com as medidas e taxas impostas pelas Reformas burbônicas.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a população da América espanhola no início do século dezenove foram retirados de: gusmãn, J. M. e outros La démographie de l’Amérique latine et de la Caraïbe depuis. Population-E, Paris, volume 61, edição 5-6, página 521, 2006.
Bê êne cê cê
Ao tratar da circulação das ideias iluministas e identificar as especificidades do descontentamento dos colonos nos domínios espanhóis, o conteúdo contribui com o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero quatro e ê éfe zero oito agá ih zero sete. Ao considerar as relações entre tempos e espaços diversos e a circulação das ideias, o conteúdo aciona a Competência Específica de Ciências Humanas nº 5 e a Competência Específica de História nº 2.
• Reforce com os estudantes as diferenças de posição e de interesses entre as elites criollas – prejudicadas pelas reformas que favoreciam aqueles que eram naturais do reino – e indígenas, negros escravizados ou libertos. O texto ressalta que esses últimos viviam o contexto de intensificação da exploração à qual já estavam sujeitos – o trabalho compulsório e o peso fiscal.
• Relembre com os estudantes as fórmas de trabalho impostas às comunidades indígenas, como a mita e a encomienda, bem como a existência do trabalho de africanos escravizados nos domínios espanhóis.
Curadoria
Revolução e independências: notas sobre o conceito e os processos revolucionários na América Espanhola (Artigo)
Maria de Fátima Silva Gouvêa. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, volume 10, número 20,página 275-294, dezembro 1997.
Neste artigo, Gouvêa afirma que a história das independências da América espanhola não resultaria pura e simplesmente da preeminência de interesses externos e da correspondente subserviência das classes dominantes, analisando, por meio de um balanço historiográfico, a influência da ideia de revolução naquele contexto.
A Revolução Haitiana
A insatisfação generalizada não afetou só a América espanhola. Foi em um local dominado pela França que ocorreu a primeira guerra por soberania: na Ilha de São Domingos.
No século dezoito, nessa pequena ilha, estava a colônia mais lucrativa da França. Com rentáveis propriedades escravistas, era responsável pelo fornecimento de 40% do açúcar e 60% do café consumido na Europa. Em algumas fazendas havia mais de duzentos escravizados, sendo a maioria composta de mulheres. Os negros correspondiam a 90% da população dessa colônia francesa.
A sociedade era dividida em quatro estamentos. O primeiro era formado pelos grandes proprietários brancos, que, em sua maioria, moravam na França. O segundo era o dos negros e mulatos libertos, que atuavam como milicianos e funcionários públicos. Alguns deles possuíam escravizados e fazendas. O terceiro estamento era formado por brancos pobres, muitos deles artesãos. O quarto grupo, em que estava a maior parte da população, era composto de escravizados.
Inspirados pelas ideias iluministas e pela revolução ocorrida na França, os homens pobres que viviam na ilha passaram a exigir direitos, como o de igualdade jurídica em relação aos ricos e nobres, o de voto, a redução dos impostos e melhores condições na aquisição de escravizados.
Em resposta a essas exigências, em 1791, o governo revolucionário francês estendeu a cidadania a todos os homens livres da colônia, independentemente da cor, desde que comprovassem renda e propriedade e não fossem filhos de escravizados.
Imagens em contexto!
Na gravura foi representado o trabalho de escravizados em uma fazenda no Haiti. No fim do século dezoito, a maior parte da população de São Domingos era composta de pessoas escravizadas.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a exportação de produtos e a população da Ilha de São Domingos foram retirados de: SOUZA, I. R. Transformações da economia de plantation na Revolução Haitiana: Saint-Domingue, 1790-1803. ín SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 31, 2021, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Ampú, 2021. 5; , J. A brief history of the Caribbean revisedNew York: Facts on File 1999. 85, 116-117.
Bê êne cê cê
Ao tratar da Revolução Haitiana, identificando o lugar econômico de São Domingos no comércio internacional e os diferentes grupos que compunham essa sociedade colonial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih um zero e ê éfe zero oito agá ih um um.
• Aproveite para retomar conceitos abordados no 7º ano sobre a diáspora africana e o tráfico transatlântico de escravizados, especialmente no que tange às plantations e à escravidão.
• Ressalte que as definições raciais das posições sociais eram muito acentuadas na estrutura da sociedade colonial em São Domingos.
• A revolução no Haiti está relacionada à Revolução Francesa, mas é muito importante reforçar a ideia de que, no contexto de uma sociedade escravista, as noções de igualdade, liberdade e fraternidade ganhariam um sentido bem mais radical do que na Europa.
Ampliando
A filósofasúzan bâc-mórselabora uma crítica sobre o silêncio a respeito da escravidão no discurso francês iluminista.
“A exploração de milhões de trabalhadores escravos coloniais era aceita com naturalidade pelos próprios pensadores que proclamavam a liberdade como o estado natural do homem e seu direito inalienável. Mesmo numa época em que proclamações teóricas de liberdade se convertiam em ação revolucionária na esfera política, era possível manter nas sombras a economia colonial escravista que funcionava nos bastidores.
Se esse paradoxo não parecia incomodar a consciência lógica dos contemporâneos, talvez seja mais surpreendente que alguns autores, ainda hoje, se disponham a construir histórias do Ocidente na fórma de narrativas coerentes do avanço da liberdade humana. As razões não são necessariamente intencionais. Quando histórias nacionais são concebidas como autônomas ou quando aspectos distintos da história são tratados por disciplinas isoladas, as evidências contrárias são marginalizadas e consideradas irrelevantes. Quanto maior a especialização do conhecimento, quanto mais avançado o nível de pesquisa, quanto mais antiga e respeitável a tradição intelectual, tanto mais fácil se torna ignorar os fatos desviantes.
bâc-mórs, S. rêguel e Haiti. Novos Estudos cebrápi, São Paulo, volume30, número 2, página 131-171,julho 2011. página 132.
Escravidão e independência
Apesar dos benefícios concedidos aos homens livres, o sistema escravista foi mantido. Diante dessa situação, os cativos se rebelaram sob a liderança do ex-escravizado lôvertíur. Os integrantes do movimento destruíram plantações e engenhos e assassinaram diversos proprietários de terras brancos.
A Espanha declarou apoio ao movimento para minarglossário a influência colonial francesa no continente americano e lôvertíur acabou se tornando oficial do exército espanhol. Os britânicos também invadiram São Domingos, em 1793, para combater os franceses, com quem estavam em guerra na Europa.
Em 1794, a Convenção Nacional na França aboliu a escravidão na ilha. Como contrapartida, lôvertíur passou para o lado francês e, entre 1794 e 1800, combateu os ataques britânicos e espanhóis e as rebeliões locais. lôvertíur defendia a manutenção do sistema de planteition, pois o considerava muito importante para a economia da ilha.
Em 1801, Napoleão Bonaparte tentou reintroduzir a escravidão em São Domingos, enviando à colônia milhares de soldados franceses, que capturaram lôvertíur e o levaram para a França, onde o mantiveram preso. A liderança da revolução foi, então, assumida por jãn jaque dêssalíne, que, em 1804, declarou a independência de São Domingos e nomeou o novo país como Haiti.
Livre da dominação colonial, o Haiti abandonou o modelo de plantation e sua economia voltou-se para a subsistência. O país foi obrigado a pagar uma pesada indenização à França, que reconheceu sua independência apenas em 1825.
Imagens em contexto!
lôvertíur e dêssalíne foram líderes da emancipação do Haiti, único caso na história da América em que um levante de escravizados deu origem a uma nação independente. Após sua emancipação, o país sofreu com embargos econômicos impostos por outros países americanos, que tinham medo de que o processo de independência haitiano influenciasse de alguma fórma os escravizados de outros locais.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao destacar o protagonismo de escravizados e libertos na independência do Haiti, mencionando as ações de líderes no processo, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero oito, ê éfe zero oito agá ih um zero e ê éfe zero oito agá ih um um.
• Incentive os estudantes a observar atentamente as imagens. Se julgar pertinente, considerando que eles já têm alguma familiaridade com a pintura sobre temas históricos e outras fórmas pictóricas e visuais de época, inclusive por meio desta coleção, é o caso de perguntar: “Quantos personagens negros e negras já viram representados em quadros, gravuras e outros suportes que representam figuras históricas?“, “O que explicaria essa sub-representação?”.
• Ressalte que o reconhecimento definitivo da independência haitiana pela França, em 1825, obrigou a ex-colônia a pagar indenizações. O debate sobre essa questão persiste até os dias atuais. Quais foram os efeitos sociais e políticos do reconhecimento da independência mediante o pagamento de indenizações? Propor a reflexão sobre os efeitos disso leva a pensar sobre a duração histórica dos processos de independência e suas soluções assimétricas para as colônias e antigas metrópoles. Seria o caso de perguntar aos estudantes sobre a justiça dessas situações, instando-os a tomar uma posição sobre o presente amparada no conhecimento do passado histórico.
Curadoria
Os jacobinos negros: tussãn lôvertíure a revolução de São Domingos (Livro)
C. L. R. Djeimes. São Paulo: Boitempo, 2000.
Publicada originalmente em 1938, a obra é importante para reflexões sobre a modernidade como processo dependente da escravidão e da diáspora. O livro do historiador trinitário (nascido em Trinidad e Tobago) inspirou os movimentos pan-africanistas e de independência do século vinte, especialmente na África e no Caribe.
A invasão da Espanha por Napoleão
No início do século dezenove, a relação entre a Espanha e suas colônias mudou em virtude da invasão napoleônica à Península Ibérica. Em 1808, o rei Fernando sétimo foi preso pelos franceses e obrigado a renunciar. Seu lugar foi ocupado por José Bonaparte, irmão de Napoleão, mas diversas províncias formaram juntas de governo fiéis ao rei. Elas eram coordenadas pela Junta Central de Governo, estabelecida em Sevilha.
Nas colônias, a maioria dos criollos permaneceu fiel a Fernando sétimo, mas não aceitou a autoridade da Junta Central espanhola. Assim, em Caracas (1808), em tchuquiásca, em lá pás e em Quito (1809), foram fundadas juntas de governo autônomas nos cabildos, instituições municipais de governo administradas principalmente por criollos. Na prática, os cabildos se tornaram juntas de autogoverno e passaram a ter uma autonomia inédita nas colônias.
Imagens em contexto!
A obra de Francisco de góia retrata a repressão à resistência popular durante a invasão de Napoleão Bonaparte à Espanha. Os soldados franceses foram representados de costas para o observador e a figura central da cena, um homem comum espanhol espantado e incrédulo, expressa o horror da situação.
As Cortes de Cádiz e a volta do rei
Na Espanha, entre 1810 e 1812, grupos que recusavam a autoridade de José Bonaparte reuniram-se nas côrtes de Cádiz para elaborar uma Constituição. Para sufocar os movimentos por autonomia das colônias americanas, as côrtes transformaram os territórios coloniais espanhóis em províncias, concedendo a elas o direito de enviar representantes à constituinte.
Os debates que deram origem à primeira Constituição Espanhola, em 1812, eram inspirados nas ideias liberais e iluministas. De acordo com o documento, quem tinha o poder era a nação espanhola, e não o rei. Assim, a decisão final a respeito de todos os assuntos importantes ficava a cargo das côrtes. Liberdade de imprensa, separação dos poderes, direito ao voto para os homens e cidadania aos indígenas (negros libertos e pardos poderiam adquirir cidadania mediante pedido) foram estabelecidos.
Em 1814, com o enfraquecimento de Napoleão Bonaparte, Fernando sétimo foi reconduzido ao trono espanhol. O rei dissolveu as côrtes, invalidou a Constituição e fechou jornais e clubes liberais. A população colonial se sentiu traída pelo monarca, o que aumentou as reivindicações e a agitação política.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao evidenciar as características do processo de rompimento parcial dos laços metropolitanos provocado pela invasão napoleônica da Espanha, o conteúdo se relaciona à habilidade ê éfe zero oito agá ih zero sete. Ao fazer referência à constituição das juntas de governo na metrópole e nas colônias, o texto-base contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero seis. Ao notar a importância das ideias iluministas nas côrtes de cádiz, o conteúdo contempla a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro.
• O primeiro impulso dos colonos foi manter a fidelidade à monarquia, que reconheciam como legítima. No início, portanto, os laços históricos com a metrópole estabelecidos pelas lealdades típicas do Antigo Regime foram preservados.
• As côrtes de Cádiz pretendiam deslocar o poder do monarca para a nação. Seria importante, assim, retomar o que os estudantes sabem sobre os significados políticos dessa fórma de governo. Comente que os termos nação e povo, naquele contexto, eram limitados a grupos e sujeitos específicos cuja cidadania era considerada natural. Vale lembrar que as possibilidades de libertos se tornarem cidadãos não foram jamais estendidas às mulheres.
• Reforce com os estudantes esse aspecto da restauração monárquica, assim como seus efeitos sobre o processo de criação de espaços de autonomia política (as juntas de governo) e expansão dos direitos civis e políticos inspirados no liberalismo. O sentido das ações tomadas pelo rei era o de restaurar os laços políticos de acordo com a lógica do absolutismo e do colonialismo por meio da subordinação dos súditos ao monarca e das colônias à metrópole.
• Em um curto espaço de tempo entre 1808 e 1814, os colonos experimentaram algumas fórmas de liberdade política que seriam sustadas pela restauração. O regresso à situação anterior não seria bem recebido na América.
• A formação de juntas de governo “locais” nos cabildos é um fato que relaciona os eventos das independências às realidades do poder político nas colônias. Nesse sentido, é importante relembrar as estruturas do poder político nas colônias espanholas, uma vez que os cabildos eram expressão do poder metropolitano, mas também espaços de sociabilidade e organização política das elites criollas.
O haitianismo
A experiência política das juntas americanas encorajou grupos da elite local a exigir mais poder e, consequentemente, autonomia em relação à Espanha. A população pobre também passou a reivindicar melhores condições de vida e de trabalho, mais autonomia e direitos.
Grande parte dos membros das tropas locais era formada por indígenas, mestiços e negros, que enxergavam na luta por autonomia uma oportunidade de conquistar melhores condições de vida e direitos sociais. Diante dessa movimentação, a elite criolla temia o fim da escravidão e a participação dos indígenas, negros e mestiços nos espaços representativos.
Esse medo de revoltas populares por parte da elite americana, no século dezenove, era causado pela lembrança do processo de independência do Haiti; por isso, é denominado haitianismo. Para a elite colonial da América espanhola e da América portuguesa, a independência dos Estados Unidos era considerada um modelo a ser seguido, enquanto a haitiana representava uma ameaça a ser evitada.
Imagens em contexto!
A população do Haiti sofre com as consequências de fenômenos naturais recorrentes. Em 2010, por exemplo, fortes terremotos devastaram o território haitiano, levando à morte mais de 200 mil pessoas e deixando 1,5 milhão de feridos e desabrigados. Em 2021, outro terremoto atingiu o país, deixando mais de 2 mil mortos e cêrca de 10 mil feridos. Além disso, o país é um dos mais pobres do mundo.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Como as Reformas burbônicas afetaram os diferentes grupos sociais das colônias da Espanha na América?
- Descreva os quatro estamentos sociais da Ilha de São Domingos no século dezoito.
- Qual foi a importância das juntas autônomas de governo para os movimentos pela independência das colônias espanholas?
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre os terremotos ocorridos no Haiti em 2010 e 2021 foram retirados de: Arrojo, L. Haiti, um país mergulhado na tragédia. El país, 21 agosto 2021. Disponível em: https://oeds.link/tBS6Zw. Acesso em: 25 fevereiro 2022.
Bê êne cê cê
Ao mencionar o protagonismo de mestiços, dos grupos indígenas e de negros escravizados e libertos nos processos de independência, o conteúdo se relaciona à habilidade ê éfe zero oito agá ih um um.
Orientação para as atividades
Oriente os estudantes a reler, compreender, analisar e sistematizar informações. Esses passos são importantes como estratégia de estudo em geral e para elaboração de respostas coesas e autônomas. Essas atividades requerem descrição, explicação e o estabelecimento de relações entre acontecimentos. Reforce a importância de tais procedimentos típicos do pensamento histórico. Pode ser interessante explicitar que o exercício se destina a desenvolver o pensamento histórico ou a atitude historiadora.
Agora é com você!
1. As Reformas burbônicas procuraram tornar o comércio colonial mais eficiente e centralizar a administração pública. Em alguns locais, reduziram a autonomia dos criollos, em outros, aumentaram os lucros desses grupos sociais por meio da flexibilização das operações comerciais. A concentração dos altos cargos em mãos de colonos nascidos na Espanha desagradou aos criollos. As populações indígenas sofreram com a supressão da autonomia e com o aumento de tributação.
2. O primeiro estamento era formado pelos grandes proprietários brancos, a maioria dos quais vivia na França. O segundo estamento era o dos negros e mulatos libertos, que ocupavam cargos públicos ou atuavam como milicianos. No terceiro estamento encontravam-se os brancos pobres, a maioria deles artesãos. No quarto estamento encontravam-se os escravizados, que compunham a base social e a maior parte da população.
3. As juntas formadas nos cabildos inicialmente declararam seu apoio a Fernando sétimo, monarca espanhol deposto por Napoleão, e passaram a tomar decisões de governo, não reconhecendo a autoridade francesa. Os criollos eram a maioria nessa administração. Os cabildos se autogovernavam e por isso passaram a ter liberdade e autonomia nunca vistas na América hispânica. Após a restauração da monarquia, as colônias desejaram manter as conquistas, entrando em choque com o desejo do rei espanhol de restabelecer o estatuto colonial.
A independência das colônias na América espanhola
Como você percebeu, o território espanhol era muito grande e formado por regiões com diferentes características. Por causa disso, os movimentos pela independência também ocorreram de maneira diversa em cada local. Houve, pelo menos, dois grandes blocos independentistas na América espanhola: o da Nova Espanha e o da América do Sul.
Em algumas colônias, foram as camadas populares que lideraram o movimento de independência. Em outras, foram integrantes da elite criolla que protagonizaram as lutas emancipatórias. Em algumas regiões e períodos, esses dois movimentos se fundiram, lutando lado a lado contra o domínio espanhol.
Houve, entretanto, grupos de criollos que continuaram apoiando a Coroa espanhola. Esses grupos acreditavam que poderiam perder muito mais do que ganhar com uma eventual independência e lutaram pela manutenção do sistema colonial.
Imagens em contexto!
A Avenida 9 de Julho é uma das principais vias de tráfego em Buenos Aires. Seu nome provém de uma homenagem ao dia da declaração da independência da Argentina: 9 de julho de 1816.
Independência das colônias na América espanhola – século dezenove
FONTE: dubí, G. átlas istorrique mondiál. Paris: Larrússi, 2003. página 242.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Cite e ordene cronologicamente o nome das primeiras cinco nações que se tornaram independentes na América.
Respostas e comentários
Resposta do “Se liga no espaço!”: Haiti (1804); Paraguai (1811); Argentina (1816); Chile (1818); Grã-Colômbia (1819).
Bê êne cê cê
Ao destacar a diversidade populacional dos territórios coloniais americanos e de grupos sociais que protagonizaram as independências, o texto-base contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero sete e ê éfe zero oito agá ih um um. Ao se valer de recurso cartográfico, e ao procurar historicizar os processos no que se refere a seus agentes, às condições sociais e ao tempo (cronologia), o conteúdo também contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7 e da Competência Específica de História nº 2.
Curadoria
Movimentos de independência na América espanhola (Entrevista)
univéspi tê vê. Brasil, 2015. Duração: 30 minutos Disponível em: https://oeds.link/Ija3PB. Acesso em: 5 agosto 2022.
Nesta entrevista, a professora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Gabriela Pellegrino, faz uma síntese do processo de independência das colônias espanholas localizadas no continente americano, ressaltando o papel das lideranças políticas, especialmente dos escravizados.
O vice-reino da Nova Espanha
Em 1810, no vice-reino da Nova Espanha, o padre Miguel Hidalgo tornou-se o comandante de um movimento que reuniu indígenas e mestiços pobres, que lutavam pela independência do México e por amplas transformações sociais.
Hidalgo defendia o fim da escravidão e do trabalho forçado, o fim da cobrança de tributos dos indígenas e a divisão e a distribuição de terras das grandes propriedades.
A presença de indígenas pobres e armados incomodou profundamente setores da elite criolla, que negaram apoio ao movimento, receosos de que ele se convertesse em uma revolução popular.
Hidalgo chegou a liderar milhares de pessoas, mas suas tropas sofreram sucessivas baixas. Ele foi preso em 1811 e executado pelo exército espanhol. A liderança do movimento passou, então, ao padre José Maria Morélos, descendente de mestiços e negros e seguidor de Hidalgo.
Em 1813, Morélos convocou um congresso no qual apresentou o documento Sentimentos da nação, declarando a independência do México. Nessa ocasião, decidiu-se que o novo país manteria a fé católica, que o poder seria dividido em Executivo, Judiciário e Legislativo e que todos os homens maiores de idade seriam considerados cidadãos.
No ano seguinte, o congresso promulgou a primeira Constituição do país. Apesar de inicialmente vitorioso, Morélos passou a ser perseguido por apoiadores do rei espanhol, comandados pelo general Augustín de Iturbide, e acabou preso, julgado e fuzilado em 1815.
Imagens em contexto!
No centro da imagem, o padre Hidalgo foi representado segurando uma tocha, que simboliza a liberdade, ao lado de pessoas que lhe pediam ajuda. À esquerda dessa cena, foram representados escravizados com as correntes quebradas, simbolizando o fim da escravidão. À direita, Morélos foi retratado montando um cavalo e empunhando uma espada, em pose de ataque.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar do posicionamento político e estratégico do padre José Maria Morélos no processo de independência do México, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero oito. Ao tratar da passagem da fórma de governo monárquica para a republicana na Independência do México e da constituição das Províncias Unidas da América Central, o conteúdo contribui com o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero seis e ê éfe zero oito agá ih um três.
Interdisciplinaridade
Ao destacar o estilo muralista e a importância de seu conteúdo histórico, a imagem relaciona-se com o componente curricular arte, contribuindo com o desenvolvimento das habilidades ê éfe seis nove á érre zero um– “Pesquisar, apreciar e analisar fórmas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético” e ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço“.
• O destaque conferido a Hidalgo e Morélos não implica uma adesão ao tipo de história política que valoriza o protagonismo exclusivo de sujeitos excepcionais. A renovação da história política também pressupõe a revalorização dos indivíduos e seu posicionamento na história. No caso de ambos os personagens aqui destacados, e dos grupos sociais que eles passaram a representar no processo político em curso, é importante ressaltar que a religião também fazia parte da constituição de suas visões sobre a política e as desigualdades na sociedade colonial. Em outras palavras, suas ações eram influenciadas por crenças socialmente partilhadas, incluindo um senso de justiça religiosamente delimitado.
• A participação popular certamente marcou o conjunto dos movimentos emancipatórios nas diversas regiões da América espanhola, mas o caso mexicano se constitui o paradigma de maior movimentação popular, com a existência de lideranças das elites letradas que vocalizaram as demandas de indígenas, mestiços e demais camadas pobres da população mexicana.
A independência do México
Enquanto se desenrolava o processo revolucionário popular, a elite do vice-reino da Nova Espanha enviou delegados às côrtes de Cádiz para participar da elaboração da primeira Constituição Espanhola. A elite criolla exigia mais autonomia econômica e política, mas ainda não pensava na independência.
Com o retorno de Fernando sétimo ao trono espanhol, a luta pela independência foi retomada. Porém, dessa vez, foi conduzida pela elite criolla, que havia contribuído para reprimir o movimento popular e ajudado a elaborar a Constituição.
Liderado pelo militar augustín de iturbíde, esse grupo proclamou a independência do México em 1821. Iturbide foi declarado imperador, mas governou por pouquíssimo tempo, renunciando ao trono dois anos depois, quando o país adotou o regime republicano.
Ao se tornar independente, o México anexou a capitania da Guatemala. Em 1823, a região se emancipou, formando as Províncias Unidas da América Central. Em 1838, as províncias se separaram, dando origem a Nicarágua, Honduras, Costa Rica, Él Salvador e Guatemala.
Imagens em contexto!
O Palácio Nacional é a séde do Poder Executivo federal do México desde 1823, quando foi instaurada a república no país. Ele foi construído na mesma área em que, no século dezesseis, estava localizado o palácio do imperador asteca Montezuma segundo e, posteriormente, a moradia do vice-rei hernãn cortêse o Palácio Imperial.
Respostas e comentários
Ampliando
A participação expressiva de padres e de mulheres no processo de emancipação do México foi determinante nas lutas pela independência.
“Indígenas e mestiços reticências participaram das lutas pela independência. No México, os exércitos liderados pelos padres Miguel Hidalgo e José Maria Morélos contaram com número expressivo de camponeses indígenas e mestiços Do mesmo modo, eles aderiram à rebelião de Cusco de 1814, liderada pelos irmãos Angulo, que se espraiou desde o sul do Peru até a atual Bolívia. Um exemplo sempre lembrado é o do cacique indígena , de 75 anos, cujas fôrças se integraram aos insurgentes. Ele foi preso, condenado à morte e executado em frente de suas tropas.
A Igreja Católica, enquanto instituição hierarquizada, esteve ao lado dos realistas durante o processo de independência e, muitas vezes, usou a religião como arma para dissuadir os rebeldes.
Por outro lado, é notável o número de padres que se incorporaram ao movimento de emancipação. Na Nova Espanha, calcula-se que mil dos 10 mil sacerdotes existentes tomaram posição nas lutas.
Entretanto, não apenas o gênero masculino marcou sua presença no período. A participação das mulheres foi significativa e se deu em diversos níveis: como acompanhantes dos exércitos, como soldados, como mensageiras ou como animadoras da causa da independência. reticências
Nos campos de luta, as mulheres, às vezes com filhos, acompanhavam os soldados – maridos, amantes ou irmãos. Como não havia abastecimento regular das tropas, cozinhavam, lavavam, costuravam, em troca de algum dinheiro. Essas mulheres aguentavam as duras caminhadas e as agruras das batalhas sem qualquer reconhecimento positivo.
Também participaram de batalhas como soldados. Uma delas foi ruána assurduí de padilha[,] que nasceu em tchuquiásca (hoje Sucre), em 1780. Junto com o marido, homem de posses, dono de fazendas, liderou um grupo de guerrilheiros, participando de 23 ações armadas, algumas sob seu comando. Ganhou fama por sua coragem e habilidade, chegando a obter a patente de tenente-coronel. Depois da morte do marido, ruana, que perdeu todos os seus bens, continuou participando da luta guerrilheira, ainda que com dificuldades crescentes. A seu lado, nos combates, havia um grupo de mulheres, chamadas ‘las amassônas’.”
PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2021. página. 36-38.
Movimentos de independência na América do Sul
Entre 1809 e 1810, foram formadas juntas de governo na capitania-geral da Venezuela. Simôn Bolívar, que fazia parte da elite criolla, foi um importante membro dessas juntas.
Influente defensor das ideias republicanas, nomeado comandante das fôrças militares, bolívar foi um dos principais responsáveis pela formação de um exército independente na região, composto de pessoas de diferentes culturas e camadas sociais.
Depois de algumas vitórias, em 1811, o movimento liderado por bolívar foi derrotado. Em 1813, ele liderou um ataque aos apoiadores da Coroa e tomou Caracas, capital venezuelana. A partir desse momento, passou a ser conhecido como O Libertador.
Após sofrer outras derrotas para os espanhóis, bolívar exilou-se na Jamaica, em 1814. Lá, no ano seguinte, escreveu a Carta da Jamaica, em que defendeu a ideia de que a conquista da independência só seria possível por meio da união entre os povos americanos. Do exílio, convocou toda a América a lutar pela independência.
Depois de combater as tropas espanholas no norte, em 1819, ele declarou a independência da Grã-Colômbia, região formada pelo vice-reino de Nova Granada e pela capitania-geral da Venezuela, e foi seu primeiro presidente. Posteriormente, a região se fragmentou, dando origem à Colômbia, ao Equador e à Venezuela.
A independência do vice-reino do Rio da Prata
Em 1812, após combater as tropas napoleônicas na Espanha, o integrante da elite criolla do vice-reino do Rio da Prata (atual Argentina), rossê de sãn martín, retornou a Buenos Aires, onde assumiu o comando da luta pela independência nessa região.
A conquista da independência do vice-reino ocorreu em 1816, sendo instituída a República das Províncias Unidas do Rio da Prata. Os exércitos liderados por sân participaram ainda da luta pela independência do Chile, ocorrida em 1818, e do Peru, conquistada em 1821.
Imagens em contexto!
Nessa pintura, o artista representou a reunião organizada pela elite política e econômica da cidade de Buenos Aires (na época, parte do vice-reino do Rio da Prata) para debater a legitimidade do vice-rei espanhol e a conveniência de um governo local autônomo para substituí-lo. O vice-rei baltassár hidalgo de cisnêros foi afastado de seu cargo, o que revelou o descontentamento e o rompimento, cada vez mais próximo, entre o governo colonial e o domínio espanhol.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar da Carta da Jamaica e dos ideais pan-americanistas que permitiam pensar a independência em termos continentais, o conteúdo contempla as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero sete e ê éfe zero oito agá ih zero nove.
Ampliando
O trecho do ensaio a seguir trata da visão de bolívar a respeito do Brasil nos processos de independências da América.
Em dezembro de 1824, bolívar convidou representantes de todos os povos e governos da América, com exceção dos Estados Unidos, Brasil e Haiti, ao Congresso do Panamá, com a presença da Grã-Bretanha como observadora. Nota-se que o Brasil inicialmente não foi convidado ao Panamá. bolívar acreditava que não apenas sua língua, história e cultura eram completamente diferentes, mas também sua economia e sociedade tinham base no tráfico negreiro e no escravismo, que eram repudiados e/ou abolidos na maioria das repúblicas hispano-americanas. Sobretudo, o Brasil permanecia parte do sistema europeu que ele detestava e temia, devido à manutenção do sistema monárquico de governo. Pior ainda, o Brasil se considerava um Império e tinha ambições imperialistas em relação ao Rio da Prata.”
bétel, L. O Brasil e a ideia de “América Latina” em perspectiva histórica. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, volume 22, número 44, página 289-321, julho a dezembro 2009. página 294-295.
• A trajetória política de Simôn Bolívar, que se envolveu em vários processos de independência, levaria à formulação dos primeiros ideais pan-americanos em um contexto no qual também se pensava a ideia de um “sistema americano” na perspectiva de algumas lideranças dos Estados Unidos da América.
• Inicialmente, o pan-americanismo estava associado ao processo de independência e, mais tarde, às políticas imperialistas de definição de área de influência privilegiada, bem como à ideia de um “hemisfério ocidental”, que guardaria certa autonomia diante do Velho Mundo e seus conflitos.
Versões em diálogo
Simôn Bolívar produziu uma série de documentos que marcaram as questões políticas e sociais de seu tempo. Leia a seguir trechos de dois desses documentos e responda às questões.
TEXTO 1
O sucesso coroará nossos esforços porque o destino da América fixou-se irrevogavelmenteglossário ; o laço que a unia à Espanha está cortado: a opinião era toda sua fôrça, por ela estreitavam-se mutuamente as partes daquela imensa monarquia; o que antes as atavaglossário agora as divide; maior é o ódio que a Península nos inspirou que o mar que dela nos separa; reticências a morte, a desonra, tudo o que é nocivo nos ameaça e atemoriza; tudo sofremos dessa desnaturada madrasta. O véu rasgou-se, já vimos a luz e querem nos fazer voltar às trevas; romperam-se os grilhõesglossário ; já fomos livres e nossos inimigos querem novamente escravizar-nos. Por tudo isso a América luta desesperadamente e, raras vezes, o desespero não leva consigo a vitória.
bolívar, S. Carta da Jamaica (1815). ín bolívar, S. Escritos políticos. Campinas: Editora da unicâmpi, 1992. página 53-55.
TEXTO 2
“Meu caro general:
Sabe sua excelência que governei por vinte anos e deles não tirei mais que poucos resultados certos:
1) A América do Sul é ingovernável;
2) Quem serve a uma revolução, ara no mar;
3) A única coisa que se pode fazer na América do Sul é emigrar;
4) Nossos países cairão infalivelmente nas mãos da multidão desenfreada, para depois passar a tiranetesglossário , quase imperceptíveis de todas as cores e raças;
5) Devorados por todos os crimes e extinguidos pela ferocidade, os europeus não se dignarão mais nem a conquistar-nos;
6) Se fosse possível que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, este seria o último período da América do Sul.
bolívar, S. Carta a ruân rossê Flores (1830). ín: bolívar, S. Escritos políticos. Campinas: Editora da unicâmpi, 1992. página 139-140.
Responda no caderno.
- Em que contexto os dois documentos foram produzidos?
- No texto 1, qual é a visão de bolívar sobre as relações entre as colônias americanas e a Espanha? Transcreva no caderno um trecho que justifique sua resposta.
- No texto 2, qual parece ser a opinião de bolívar sobre os processos de independência na América espanhola?
- O que poderia explicar a mudança de opinião de bolívar?
Respostas e comentários
Versões em diálogo
Por meio de dois textos, a seção se propõe analisar as mudanças no discurso de Simôn Bolívar entre 1815 e 1830. Com a comparação dos discursos, procura-se ressaltar a importância de analisar os contextos para compreender as contradições e as mudanças de discurso diante de novos acontecimentos e resultados de processos.
Atividades
1. Pelas datas dos documentos, é possível inferir que o primeiro foi produzido no calor das guerras de independência, enquanto ainda ocorriam conflitos com as fôrças espanholas. O segundo texto foi escrito quinze anos depois, quando praticamente todas as colônias já haviam conquistado a própria independência.
2. Neste documento, bolívar expõe uma perspectiva de rompimento entre os países latino-americanos e a Espanha. Esse argumento pode ser sustentado pelo seguinte trecho: “O véu rasgou-se, já vimos a luz e querem nos fazer voltar às trevas; romperam-se os grilhões; já fomos livres e nossos inimigos querem novamente escravizar-nos. Por tudo isso a América luta desesperadamente e, raras vezes, o desespero não leva consigo a vitória”. Especificamente, o trecho “o véu rasgou-se, já vimos a luz e querem nos fazer voltar às trevas” é uma metáfora para o caminho sem volta que os movimentos de emancipação estavam tomando. Por mais que a Espanha tentasse controlar essa região novamente, isso não seria possível, de acordo com bolívar.
3. No segundo documento, nota-se um descontentamento, um desapontamento de bolívar com os resultados alcançados no pós-independência.
4. Razões que podem explicar essa mudança: fracasso em governar os territórios da maneira pretendida, como a Grã-Colômbia, ou ainda o fracasso dos projetos de unidade defendidos por bolívar.
Curadoria
Simôn Bolívar – Independência e unidade latino-americana (Livro)
Simôn Bolívar. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2015.
Alguns dos escritos políticos de Simôn Bolívar podem ser conhecidos por meio dessa obra que reúne, além da Carta da Jamaica, a Carta de Cartagena e a Convocatória do Congresso do Panamá, entre outros textos que permitem compreender o pensamento político do líder independentista.
A participação feminina nos processos de independência
Em todas as campanhas e movimentos pela independência da América espanhola, a participação das mulheres foi fundamental. Muitas atuaram como soldados nos exércitos, fornecedoras de apoio às tropas, mensageiras, articuladoras políticas e difusoras das ideias revolucionárias.
Leona Vicario, por exemplo, participou ativamente do processo de independência da Nova Espanha. Ela empregou sua fortuna na causa revolucionária, atuou como informante dos rebeldes e publicou os acontecimentos em jornais. Além disso, correspondeu-se por cartas com José Maria Morélos para discutir os rumos do movimento.
Manuela sáenz também foi muito importante para os movimentos de independência na América espanhola. Nascida em Quito em 1797, ela atuou em diversas frentes, participando das reuniões dos grupos independentistas, distribuindo informações, divulgando as ideias revolucionárias e comandando batalhões.
sáenz foi condecorada por sãn martín com a Ordem do Sol do Peru por sua participação nas guerras de libertação do vice-reino do Peru. Ela foi reconhecida, principalmente, por seu protagonismo em importantes batalhas, como a de aiacútcho, em 1824. Ela também combateu ao lado de Simôn Bolívar, mas, ao final dos processos de independência da região, não foi incluída na política republicana.
ruána assurduí, de origem indígena, foi líder de guerrilhas contra o exército espanhol na região correspondente à da atual Bolívia. Assim como Manuela sáenz, após o encerramento dos embates, foi excluída da vida política e terminou seus dias na pobreza.
Imagens em contexto!
A participação das mulheres nas lutas pela independência nas diversas regiões da América Latina foi de muita relevância. Em 2009, Leona Vicario estampou a moeda de 5 pesos em comemoração ao Bicentenário da Independência do México.
Respostas e comentários
Atividade complementar
Leia com os estudantes os dois textos a seguir e depois proponha uma atividade.
TEXTO 1
“Em meio a este grupo de excluídos da história [escravizados, indígenas, população empobrecida] é patente o apagamento das mulheres, que se entrecruza com a discriminação racial e socioeconômica. Note-se que os chamados ‘próceres da independência’, aqueles que são lembrados e celebrados como os heróis da pátria, são em geral homens, apesar de os estudos historiográficos recentes constatarem que o engajamento das mulheres no movimento independentista foi muito além de casos isolados ou excepcionais.
reticências quando não foram completamente eliminadas dos relatos históricos, elas foram incluídas neles de maneira secundária e conforme uma série de estereótipos e enquadramentos sexistas. Note-se ainda que as poucas mulheres que obtiveram algum reconhecimento são em sua maioria brancas e oriundas das classes altas, o que revela novamente a importância do recorte étnico e socioeconômico na constituição desses olhares sobre a história.”
MACÊDO, L. M. S. O grito de independência das mulheres latino-americanas. Clássicas – Dossiê Cadernos de Estudos Sociais e Políticos. Rio de Janeiro, volume 6, número 11, página 80-88, 2017. página 82-83.
TEXTO 2
Manuela teve um comportamento não esperado em seu período histórico, ao criticar a sociedade através de suas ações. Primeiramente, lutou no Peru, junto do general sãn martín, praticando atos de espionagem e organizando tropas. Esses conflitos resultaram na formação de novos países, tornando-se o Alto Peru no atual Peru e o Baixo Peru na atual Bolívia. Na Grã-Colómbia, suas contribuições vão desde pensar o espaço territorial desta nação, como, por exemplo, em suas orientações a bolívar sobre como proceder em relação ao porto de guaiaquíl [no Equador], passando por atividades de agitação e propaganda, até tomar parte em combates empunhando armas e cuidando de soldados feridos. Separou-se do marido em uma época [em] que nem existia divórcio e optou por ter uma carreira política e militar.”
OLIVEIRA, E.; MARTINS, M. Atuação de Manuela Guerra de Libertação da Grã-Colômbia no século dezenove. Revista Brasileira de Estudos de Defesa, João Pessoa, volume 3, número 1, página 153-173, janeiro a junho 2016. página 169.
Com os estudantes, relacione esses textos com outros trechos do “Ampliando” da página 121, que tratam da presença de indígenas, mestiços, negros livres, escravizados e mulheres nos processos de independência. Em seguida, discuta com os estudantes as razões pelas quais a história privilegiou os homens como protagonistas dos eventos do século dezenove. Pergunte: “Hoje essa situação persiste?”, “Seria justo escrever uma história centrada exclusivamente em personagens masculinos, brancos e ricos?”, “Seria correto registrar a história com as classes populares, mulheres, indígenas e negros figurando apenas marginalmente?”. Essas perguntas podem ser alteradas para estimular o debate. Organize a turma em grupos e peça a cada um que se encarregue de pesquisar as personagens femininas citadas nos textos deste Guia do Professor e ao longo do capítulo. Ao fim, a turma deve compor uma galeria histórica (de preferência com imagens) das personagens pesquisadas e compartilhar o material.
O pós-independência
As guerras de independência na América espanhola foram longas e violentas. Estima-se que, apenas no México, cêrca de 400 mil pessoas morreram nos conflitos. Na região da Venezuela, aproximadamente 250 mil pessoas perderam a vida.
Apesar de indígenas e mestiços terem lutado nos campos de batalha, os Estados nacionais formados após a emancipação mantiveram a hierarquia colonial. Os privilégios políticos e sociais da elite branca continuaram sobrepondo-se aos direitos dos demais grupos sociais e étnicos. De maneira geral, os integrantes dessa elite achavam que as camadas populares eram ignorantes e, por isso, precisavam educá-las antes de conceder-lhes o direito de participar das questões políticas.
Além disso, o poder da Igreja Católica, que era criticado pelos participantes das revoluções liberais na Europa, permaneceu quase intacto na América espanhola.
Em outras instâncias, porém, já na primeira metade do século dezenove, nos países da América espanhola foi alcançada uma série de avanços políticos que na Europa ocorreriam décadas mais tarde. Entre esses avanços estavam a fragmentação de impérios em nações independentes e autônomas e a instituição de regimes republicanos.
Assim, pode-se dizer que o continente americano foi pioneiro nas discussões e tentativas de praticar ideias liberais e iluministas. Mesmo antes do fim das lutas por independência, por exemplo, os integrantes dos movimentos emancipatórios já discutiam os modelos de república a ser adotados.
Imagens em contexto!
Após a independência das colônias da América espanhola, indígenas, negros e pessoas pobres em geral tiveram de lutar muito ao longo dos anos para ter acesso, por exemplo, à participação no processo eleitoral por meio do voto.
Dica
SITE
Memorial da América Latina
Disponível em: https://oeds.link/k6IC7j. Acesso em: 23 fevereiro 2022.
Na página virtual dessa instituição, criada com o objetivo de aproximar o Brasil dos demais países latino-americanos, estão disponíveis informações sobre a cultura, a história, a política, a arte e outros temas relacionados à América Latina.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre os mortos nas guerras de independência na América espanhola foram retirados de: chêina, R. L. Latin America’s wars: the age of the caudillo, 2003. volume 1, página 84.
Bê êne cê cê
Ao tratar da continuidade tanto da desigualdade quanto da hierarquia social após os processos de independência, o conteúdo colabora para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih um três, ê éfe zero oito agá ih um quatro, ê éfe zero oito agá ih um nove e ê éfe zero oito agá ih dois sete.
• O texto-base faz uma afirmação importante sobre a modernidade americana: em muitos aspectos, as soluções políticas adotadas, inspiradas no ideário do iluminismo e da filosofia europeia, pensadas com base nos problemas e nas questões locais, antecederam sua realização no contexto europeu. Enquanto na Europa da restauração proposta pelo Congresso de Viena (1814-1815), o liberalismo como linguagem e fôrça política recuava, na América, com todas as contradições de uma sociedade profundamente desigual em sua diversidade étnica e cultural, o ideário liberal ganhou um terreno fértil. Pelo menos até os anos 1830, as independências fomentaram a efervescência política.
Ampliando
O texto a seguir trata de alguns impasses políticos derivados de interesses conflitantes entre populares e elite no processo de construção dos Estados nacionais na América.
reticências Os pontos mais controversos giravam em torno da organização centralizada ou federalista de governo; da manutenção dos privilégios das corporações e dos foros especiais relativos ao Exército e à Igreja, instituição muito poderosa durante todo o período colonial; e sobre a participação política popular, vale dizer, sobre os significados e alcance da democracia.
reticências Num Estado republicano era preciso escrever uma constituição e promover eleições. O poder político emanava da sociedade, porém os setores populares poderiam ter participação plena, sem afetar a ordem social defendida com vigor pelos grupos dirigentes?”
PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2021. página 45.
O Pan-americanismo
Após a independência, discutiu-se a possibilidade de manter os territórios unidos em uma confederação pan-americana. As principais finalidades dessa aliança seriam a manutenção da paz na região, a união entre os países americanos e a formação de um bloco para a defesa contra eventuais agressões externas.
Simôn Bolívar foi o principal defensor dessa ideia. Em 1824, ele convocou representantes dos países independentes do continente para um encontro. Dois anos depois, ocorreu o Congresso do Panamá, no qual representantes das nações americanas discutiram a proposta do pan-americanismo.
Imagens em contexto!
A figura de Simôn Bolívar é bastante presente em diversos locais da América Latina, nomeando ruas, praças, monumentos e até países. O Estado boliviano, por exemplo, foi fundado em 1825, com o nome de República de bolívar em homenagem ao líder, passando, no ano seguinte, a ser chamado de República da Bolívia.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
O texto retoma a questão do pan-americanismo defendido por Simôn Bolívare aciona, assim, as habilidades ê éfe zero oito agá ih zero oito e ê éfe zero oito agá ih zero nove. Na sequência, a referência à escravidão, um dos limites da democratização dos países independentes, contribui com o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih um nove.
• O pan-americanismo visava integrar as regiões independentes em uma imensa confederação. Essa ideia foi proposta por Simôn Bolívare tinha como um dos objetivos manter a paz e a união entre os países americanos, bem como evitar agressões vindas de fóra. Em 1826 realizou-se o Congresso do Panamá, onde os representantes das nações americanas discutiram a proposta do pan-americanismo, que acabou rejeitada.
Curadoria
Federalistas e unitários na formação das Províncias Unidas do Rio da Prata (Vídeo)
univéspi tê vê. Brasil, 2014. Duração: 26 minutos. Disponível em: https://oeds.link/UOr647. Acesso em: 22 fevereiroponto2022.
Nesta videoaula, a professora de história da América Gabriela Pellegrino discute a formação do Estado nas Províncias Unidas do Rio da Prata, com especial ênfase no dissenso entre centralização política e federalismo representado pela disputa entre os unitários e os federalistas. Além disso, a professora explora a influência da figura dos caudilhos nesse contexto.
A fragmentação territorial
A proposta de uma confederação pan-americana não foi aceita em todo o continente. A postura republicana e antiescravista defendida no Congresso do Panamá foi considerada radical por muitos países, como os Estados Unidos (que mantiveram a escravidão em seus estados do sul mesmo após a independência) e o Brasil (que também manteve o sistema escravista e adotou o regime monárquico).
Além disso, em vários locais da América Latina, os representantes da antiga elite colonial, que tinham grandes propriedades, fraudavam eleições e estabeleciam mecanismos de contrôle de voto para se manter sempre no poder ou derrotar adversários. Esses líderes, chamados caudilhos, ficaram cada vez mais poderosos ao longo dos séculos dezenove e vinte.
As diferenças regionais se refletiram nas lutas e na administração dos territórios libertados, acentuando personalismosglossário de líderes locais e provocando a fragmentação territorial. Com isso, ideias de caráter centralizador, aristocrático e conservador acabaram se impondo.
Diante desses fatores, em vez de formar uma confederação, os territórios coloniais se fragmentaram em diversos países independentes e soberanos. Mesmo assim, os representantes enviados ao Congresso do Panamá, em 1826, aprovaram princípios inovadores para a época, como a solução pacífica para conflitos, o auxílio e a defesa mútuos e a condenação do tráfico de escravizados.
Imagens em contexto!
A escultura Mão é considerada um dos símbolos do Memorial da América Latina. Projetada pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemáier, a obra denuncia a violência da colonização no território latino-americano e homenageia as lutas dos povos da região por liberdade, soberania e justiça social.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Descreva resumidamente o processo de independência do vice-reino da Nova Espanha.
- Identifique duas mulheres que se destacaram nos processos de independência na América espanhola e demonstre como foi a participação de cada uma.
- Quais eram os objetivos dos congressistas pan-americanos reunidos em 1826? Que fatores contribuíram para o fracasso desse projeto?
Respostas e comentários
Orientação para as atividades
Espera-se que os estudantes já tenham incorporado as orientações do passo a passo, que consiste em reler, compreender, analisar e sistematizar. Em seguida, sugerimos que os estudantes criem uma cronologia dos processos de independência, identificando eventos e personagens significativos. Isso pode ser especialmente útil para as atividades 1 e 2. No caso da atividade 1, é importante atentar também para a relação entre os personagens destacados da Independência do México e os grupos sociais que os apoiavam, bem como suas pautas.
Agora é com você!
1. O primeiro comandante da movimento emancipatório foi o padre miguel hidalgo, que reuniu indígenas e mestiços pobres e defendia o fim da escravidão, do trabalho forçado e da cobrança de tributos sobre os indígenas. Sem apoio da elite criolla, o movimento venceu algumas batalhas contra o exército real. Com a execução de Hidalgo em 1811, a liderança do movimento passou para o padre José Maria Morélos, descendente de mestiços e negros. Morélos chegou a declarar a independência do México, mas foi fuzilado em 1815. A luta pela independência foi retomada com o retorno de Fernando sétimo ao trono espanhol, mas dessa vez foi conduzida pela elite criolla e liderada pelo militar , que declarou a independência do México em 1821.
2. Leona Vicario: atuou como informante dos rebeldes, publicou acontecimentos em jornais e debateu com José Maria Morélos os rumos do movimento de independência da Nova Espanha. Manuela sáenz: participou de reuniões dos movimentos independentistas, distribuiu informações, disseminou ideias revolucionárias e comandou batalhões. Foi protagonista em batalhas como a de aiacútcho. ruána assurduí: líder de guerrilhas contra os exércitos espanhóis na região que corresponde atualmente à Bolívia.
3. Os objetivos eram manter a paz nas nações independentes da América e uni-las em um bloco para defender-se de agressões externas. Entre os fatores que levaram à não concretização do projeto encontram-se as singularidades regionais, que se refletiram nas lutas e na administração dos territórios libertados, acentuando personalismos de líderes locais, os caudilhos, e cedendo lugar à fragmentação territorial.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
1. Leia o texto a seguir, sobre a Revolução Haitiana, e responda às questões.
“Para a América espanhola reticências o Haiti foi um exemplo e uma advertência, observados com crescente horror tanto por governantes como por governados.”
línti, J. As origens da independência da América espanhola. ínbétel, L. (. História da América Latina. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2001. volume 3,página69.
- Para quais grupos sociais da América espanhola o Haiti foi uma advertência observada com horror?
- Em que sentido o que ocorreu no Haiti foi um exemplo? Os integrantes de que camadas sociais poderiam seguir esse exemplo?
2. Leia o texto sobre a independência da América espanhola e, no caderno, identifique a alternativa correta.
“A luta pela independência na América espanhola implicou uma passagem de todo o poder político àqueles que já possuíam a maior parte do poder econômico.”
POMER, L. As independências na América Latina. décima ediçãoSão Paulo: Brasiliense, 1990. página12.
Segundo Leon Pomer, é correto afirmar que:- os trabalhadores da cidade e do campo tiveram sua participação política garantida e melhoria em suas condições de vida.
- a mobilidade social contribuiu para que os indígenas conseguissem um lugar melhor na hierarquia social.
- funcionários e clérigos nomeados pela Coroa puderam exercer livremente seu domínio político.
- a aristocracia criolla passou a dominar politicamente as sociedades americanas sem intervenção política e econômica da Espanha.
- com o fim do domínio espanhol, as nações que se formaram tornaram-se democracias que garantiram os direitos civis, políticos e sociais a todos os cidadãos.
Aprofundando
3. Leia o texto a seguir, sobre o conceito de liberdade no contexto da independência das colônias na América espanhola.
Liberdade, no entanto, não é um conceito entendido de fórma única Para um representante das classes proprietárias venezuelanas, liberdade era sinônimo de rompimento com a Espanha para a criação de fulgurantesglossário nações livres reticências para comerciar com todos os países, livres para produzir
Para outros dominados e oprimidos, como os indígenas mexicanos, a liberdade passava distante da Espanha e muito próxima da questão da terra. Na década de 1810, os líderes da rebelião camponesa mexicana, reticências [padre clamavam por terra para os deserdadosglossário .”
PRADO, M. L. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual, 1994. página 15-16.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar de questões que envolvem permanências e atualizações das estruturas coloniais, a atividade 4 contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 1, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 7 e das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 2 e nº 7.
Atividades
Organize suas ideias
1. a) Para os criollos especialmente, pois eram os proprietários de muitas terras e poderiam ser diretamente atingidos pelas revoltas da população explorada, como os indígenas, submetidos ao trabalho compulsório, e os negros escravizados.
b) Foi um exemplo para os grupos sociais explorados, como os indígenas, os mestiços pobres e os escravizados. Eles puderam perceber que era possível agir politicamente para sair da situação de exploração e violência a que eram submetidos e lutar por seus direitos, principalmente pelo direito à liberdade.
2. Alternativa d.
- No texto, a autora afirma que liberdade “não é um conceito entendido de fórma única”. Como Simôn Bolívar entendia o conceito de liberdade? E os indígenas mexicanos, como eles compreendiam esse conceito?
- Segundo o texto, a posição social de um indivíduo influenciaria sua concepção de liberdade? Explique utilizando informações apresentadas no texto.
- É possível dizer que a libertação da América do domínio espanhol proporcionou a liberdade desejada por todos os latino-americanos? Por quê?
4. Uma das muitas homenagens que os líderes dos processos de independência da América espanhola receberam foi a mudança do nome de um torneio de futebol, que até 1965 se chamava Copa dos Campeões da América, para Copa Libertadores da América. Considerando isso, leia o trecho da notícia a seguir a respeito de uma polêmica recente envolvendo a memória dos chamados libertadores.
“Quando foi fundada, a Copa Libertadores da América ganhou esse nome em homenagem à memória dos líderes políticos que lutaram pela independência do continente ante o domínio das metrópoles europeias.
Sessenta anos depois, a final do torneio entre ríver plêite e bôca júniors [clubes de futebol argentinos] será jogada em Madri, a capital da Coroa espanhola, depois dos incidentes [violentos] que levaram ao adiamento da partida em Buenos Aires.
O ineditismo da decisão reticências levanta um debate curioso. Heróis nacionais como e tupác amarú passaram a vida e às vezes morreram lutando contra a Coroa espanhola. A final do torneio que os homenageia acontecer na Espanha representa uma traição simbólica à memória e ao legado dos próceresglossário da independência do continente?
‘A final em Madri representa uma espécie de confissão, como se a América Latina não fosse capaz de sediar uma final’, disse Idelber Avelar, professor de literatura latino-americana da University, em Nova Orleans”.
uílquisson, A.; OLIVEIRA, L. Libertadores da América na Espanha é traição a heróis da independência? Uol, 30 novembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/h5YIoF. Acesso em: 28 fevereiro 2022.
Respostas e comentários
Aprofundando
3. Nessa atividade, o desenvolvimento de procedimentos de leitura, com foco nos processos inferenciais, é estimulado com a finalidade de contribuir para expandir a competência leitora dos estudantes e sua capacidade de análise de textos historiográficos. A proposta é, item a item, explorar as gradações desses processos, desde o nível literal, com a identificação de informações expressadas textualmente (no item a), estimular níveis mais profundos de leitura com a articulação de informações apresentadas no texto (item b) até, por fim, incentivar a produção de deduções com base em informações textuais e na articulação de conhecimentos prévios dos estudantes e de outros desenvolvidos ao longo deste capítulo.
a) Para iniciar a atividade, neste primeiro item, é importante que os estudantes identifiquem as informações no texto em um nível literal de leitura. De acordo com a autora, para Simôn Bolívar, a liberdade estava ligada ao rompimento com o domínio espanhol, com a liberdade de produzir e de comerciar com todos os países. Já para os indígenas mexicanos e os desfavorecidos de fórma geral, a liberdade estava relacionada à questão da terra (sua posse e seu uso).
b) Neste item, auxilie os estudantes a articular as informações expressas no texto. Explore com eles os trechos em que a autora caracteriza a posição social dos sujeitos históricos aos quais se refere. No primeiro parágrafo da citação, ao explicar o ponto de vista de Simôn Bolívar, ela introduz a seguinte caracterização: “um representante das classes proprietárias venezuelanas”. Já o parágrafo seguinte inicia nomeando os “dominados e oprimidos”, citando como exemplo os indígenas mexicanos, caracterizados como “deserdados”. A introdução dessas caracterizações demonstra a importância que, segundo o texto, a posição social teria na conformação do conceito de liberdade naquele contexto. É justamente essa duplicidade de um conceito que não é “entendido de fórma única” o objeto central explorado nessa citação. Caso os estudantes tenham dificuldades, retome a leitura da primeira sentença da citação, questionando o que eles entendem por liberdade. Depois, compare as respostas deles e verifique com a turma se surgiram variações na compreensão desse conceito entre eles.
c) Com base na leitura do texto, na articulação dos conhecimentos desenvolvidos ao longo desse capítulo e de outros conhecimentos prévios, os estudantes podem inferir que a libertação do domínio espanhol não representou a realização do conceito de liberdade de todos os latino-americanos, pois, ainda que para as classes proprietárias – como a que bolívar pertencia – o rompimento com a Espanha e a liberdade de comércio e de produção tenham sido estabelecidos, para os “deserdados”, “dominados e oprimidos”, a questão da terra continuou sendo uma demanda (que se estendeu do século dezenove ao vinte e vinte e um). O exemplo mencionado é o do México, os líderes que reivindicavam a distribuição das terras (como Hidalgo e Morélos), acabaram executados em pouco tempo. Situação que, no século vinte se repetiu, por exemplo, com Zapata e pântcho Villa, assassinados após a Revolução Mexicana (cujo lema era justamente “Terra e Liberdade” e) que defendia uma reforma agrária que favorecesse camponeses e indígenas.
4. Esta atividade propõe uma reflexão sobre a importância simbólica das figuras políticas e dos processos que transformaram a história de países. Trata-se da análise de um exemplo de situação na qual alguns grupos sociais, no caso, americanos, perceberam o risco de a memória coletiva de seu povo ser desrespeitada. Auxilie os estudantes a perceber que a polêmica tratada na notícia se refere à questão da escolha de Madri, capital da Espanha, para sediar a final da Copa Libertadores da América, um campeonato sul-americano de futebol que leva em seu nome o termo libertadores em homenagem àqueles que lutaram contra o domínio espanhol. Assim, a atitude da conmeból, organizadora do campeonato, de mudar a séde do jogo final gerou a polêmica associada à memória daqueles que essa copa homenageia. O professor Idelber Avelar argumenta que Madri é capital da Espanha, nação que colonizou grande parte dos países que disputam o campeonato em questão. Além disso, a realização da partida na Espanha causa desconforto cultural para os americanos, pois, para muitos, essa situação é simbólica em razão dos motivos apresentados. Ademais, é como se a América Latina fosse incapaz de sediar a final.
Glossário
- Jurisdição
- : autoridade concedida a determinados grupos para exercer fiscalização política e econômica.
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- Carestia
- : falta de produtos e aumento do custo de vida.
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- Minar
- : vencer, arruinar.
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- Irrevogavelmente
- : de maneira que não se pode anular ou voltar atrás.
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- Atar
- : ligar, unir.
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- Grilhão
- : ligação que aprisiona.
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- Tiranete
- : pequeno tirano.
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- Personalismo
- : organização política que tem a personalidade de seu líder como base.
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- Fulgurante
- : brilhante, destacado, grandioso.
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- Deserdado
- : privado de bens e vantagens, desfavorecido.
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- Prócer
- : líder, chefe.
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