UNIDADE 4 SÉCULO dezenove: RAÇA, NACIONALISMO E IMPÉRIOS
A história e você: desconstruir o determinismo biológico
Nesta unidade, você estudará, entre outros assuntos, a expansão territorial dos Estados Unidos no século dezenove e sua influência sobre o restante da América, o Brasil durante o Segundo Reinado, o imperialismo europeu e os processos que contribuíram para o fim do sistema escravista.
Esse período foi marcado pelo fortalecimento do pensamento científico. A ciência começou a ser usada não só para compreender o mundo natural e desenvolver tecnologias, mas também para explicar a natureza humana e a organização das sociedades.
Comportamentos e práticas sociais passaram a ser justificados com base na biologia. As diferenças fisiológicas entre os sexos foram usadas para justificar os comportamentos identificados como femininos e masculinos. De acordo com esse pensamento, os homens, mais fortes e inteligentes, estariam mais aptos que as mulheres ao mundo do trabalho e da política.
As diferenças entre os grupos humanos começaram a ser utilizadas para elaborar teorias raciais. O formato do crânio, por exemplo, foi usado para classificar as etnias em inferiores e superiores. O crânio alongado e estreito, característico dos brancos, indicaria, supostamente, inteligência e criatividade.
Ideias como essa serviram para justificar o imperialismo europeu na África e na Ásia, sob a alegação de que os colonizadores brancos levariam o progresso aos povos desses continentes. No Brasil, elas sustentaram o projeto de branqueamento da população, por meio do incentivo à imigração em massa de trabalhadores europeus. Por meio da miscigenação, esperava-se que o número de brancos superasse o de negros, promovendo uma suposta “melhoria da raça”.
Imagens em contexto!
Nessa tela, Modesto brôcos representou três gerações de uma família. A avó negra, em pé ao lado da filha miscigenada, agradece aos céus pela cor clara do neto, que é observado com satisfação pelo pai branco. A cena representa a concretização do projeto de branqueamento da população brasileira.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao propor uma releitura crítica da obra A redenção de Cam, incentiva-se o pensamento crítico e a criatividade dos estudantes, além de promover a valorização da diversidade de indivíduos e grupos, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 3, nº 4 e nº 5, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1, nº 2 e nº 4 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 3.
Temas Contemporâneos Transversais
Por valorizar a diversidade cultural e sexual, criticando o determinismo biológico que hierarquizou grupos humanos e criou estereótipos, o texto e a atividade da abertura contribuem para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Diversidade cultural e Educação em direitos humanos.
Interdisciplinaridade
Por envolver processos de criação em artes visuais, a atividade mobiliza a habilidade do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero seis – “Desenvolver processos de criação em artes visuais, com base em temas ou interesses artísticos, de modo individual, coletivo e colaborativo, fazendo uso de materiais, instrumentos e recursos convencionais, alternativos e digitais”.
Abertura de unidade
Esta unidade abarca os capítulos 10 (“Estados Unidos no século dezenove”), 11 (“O Segundo Reinado”) e 12 (“Século dezenove: imperialismo e movimentos anticoloniais”) do volume.
O tema escolhido para a atividade de abertura foi o determinismo biológico, crença que acompanhou o cientificismo do século dezenove, e suas implicações políticas e sociais. Essa discussão, que continua atual, relaciona-se com o conteúdo dos capítulos 11 (que trata das teorias racistas e políticas de branqueamento no Brasil) e 12 (que aborda as relações entre o determinismo biológico e o imperialismo europeu).
Hoje, essas ideias são questionadas pela ciência, que não reconhece a existência de raças humanas. Além disso, sabe-se que a biologia não pode ser usada para explicar as práticas e os comportamentos humanos, que são igualmente determinados pelo meio e pela cultura. Apesar disso, muitos preconceitos que deram origem ao cientificismo do século dezenove continuam a existir.
A fim de combatê-los, você e os colegas farão uma paródia crítica da tela A redenção de Cam, ou seja, uma releitura dessa obra, com base nos valores de hoje, mantendo as características centrais dela, mas modificando alguns elementos para dar-lhes novos significados. Observem as etapas a seguir e mãos à obra!
Organizar
- Reúna-se com um colega.
- Busquem uma reprodução da tela A redenção de Cam na internet e façam seu download. Caso não tenham acesso à internet, copiem a imagem da página 194 usando algum aparelho disponível na escola ou a copiem fazendo um decalque usando papel vegetal.
- Pesquisem, em livros impressos ou na internet, informações sobre o personagem bíblico Cam e, com base no que descobrirem, procurem explicar o título da obra.
- Reflitam: se fosse pintada hoje, de acordo com valores antirracistas, de igualdade de gênero e de respeito à diversidade, como essa obra poderia ser?
Produzir
- Usando um programa de edição de imagens no computador, ou desenhando em papel, alterem alguns elementos da obra para transformar sua mensagem. Mantenham, porém, as características principais, de modo que a tela original seja reconhecível.
- Criem um título para a imagem-paródia.
Compartilhar
- Após a conclusão da atividade, mostrem o resultado para os colegas e o professor.
- Conversem sobre as paródias produzidas e sobre os tipos de crítica expressos nelas. Conversem também a respeito da experiência de fazer esse trabalho.
Respostas e comentários
Atividade
Pretende-se, com essa atividade, não só criticar a teoria racial por trás da mensagem transmitida pela tela analisada, mas também instigar a historicização e ressignificação das obras de arte. Trata-se de uma proposta a um só tempo lúdica e reflexiva, que incentiva a criatividade e o espírito crítico dos estudantes.
Antes de iniciá-la, proponha aos estudantes uma leitura coletiva do texto de abertura. Chame a atenção deles para o fato de que a ciência não é neutra, servindo muitas vezes a interesses de dominação.
Explore com os estudantes a reprodução da tela A redenção de Cam, destacando, por exemplo, que a avó foi representada com os pés descalços, enquanto o pai e a mãe da criança foram desenhados usando sapatos, sinal de liberdade e de uma pretensa “civilização”.
Incentive a discussão entre as duplas e explique que o título da obra se inspira em uma passagem bíblica. Cam, filho de Noé, teria zombado de seu pai ao surpreendê-lo dormindo nu e bêbado. Como castigo, o filho de Cam, Canaã, foi condenado por Noé à servidão. Esse mito, conhecido como “maldição de Cam”, foi usado por muito tempo para justificar a escravidão, pois os descendentes de Canaã foram identificados aos negros africanos. Ao nomear a tela como A redenção de Cam, o artista propôs a ideia de que o branqueamento da população negra, por meio da miscigenação, poria fim à suposta maldição bíblica.
A atividade pode ser realizada em uma ou duas aulas. Se possível, utilize a sala de informática, de modo que os estudantes tenham acesso a um programa de edição de imagens digitais. Caso esse recurso não esteja disponível na escola, solicite aos estudantes que façam uma reprodução livre da obra.
A etapa seguinte pode ser iniciada em aula e, se necessário, concluída como tarefa de casa. As paródias podem mobilizar diferentes elementos. No lugar do embranquecimento elogiado pelo pintor, por exemplo, pode-se propor o enegrecimento dos personagens, com a valorização de seus traços africanos. Podem-se substituir os pais da criança por um casal homoafetivo, ou inverter suas posições, representando-se o pai com a criança no colo e a mãe observando-a.
Circule entre as duplas e proponha-lhes questionamentos a fim de incitar seu espírito crítico. Permita que as duplas se comuniquem durante a produção da atividade, pois isso estimula a criatividade.
No momento do compartilhamento das paródias produzidas, proponha aos estudantes um debate sobre a historicidade das obras de arte, que veiculam os valores da época em que foram produzidas, e sobre a possibilidade de subverter tais valores. Ressalte o fato de que não há certo e errado nas paródias produzidas, mas, para cumprir a proposta, elas devem trazer mensagens inclusivas, de respeito às diferenças e de combate a preconceitos.
CAPÍTULO 10 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX
Em países como o Brasil e os Estados Unidos, séculos de escravização deixaram cicatrizes profundas. As tensões raciais e as desigualdades políticas, econômicas e sociais não acabaram quando a escravidão chegou ao fim no século dezenove. Elas se mantiveram com a prática do racismo, com a falta de oportunidades para os afrodescendentes e com a violência cometida contra a população negra.
As imagens desta página se relacionam a dois momentos distintos da história dos Estados Unidos e demonstram que a luta dos negros contra o racismo ainda é necessária.
Responda oralmente.
- O que há de semelhante e de diferente nas imagens?
- Qual é o papel de movimentos como o Black Lives Matter no combate ao racismo e na conquista de direitos sociais?
Respostas e comentários
Abertura
Na abertura são apresentadas três imagens distintas, produzidas em contextos históricos diferentes, sobre movimentos pelos direitos dos negros nos Estados Unidos. Uma delas é a reprodução de uma moeda de 1838 com uma crítica à escravidão; outra é parte de uma página do jornal abolicionista The Liberator, de 1855; a última é uma foto de 2020 relacionada ao movimento contemporâneo Black Lives Matter.
Atividades
1. Espera-se que os estudantes apontem como semelhança o fato de que todas as imagens são relativas à luta por direitos da população negra e apresentam elementos de resistência à violência. A moeda e a capa do jornal apresentam a reivindicação do fim da violência da escravidão. A foto de manifestação vinculada ao movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) retrata a denúncia à violência policial.
2. Movimentos como Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) têm o papel de denunciar o racismo praticado pelo Estado, por meio de ações policiais, do encarceramento em massa da população negra e de outros processos. O movimento em questão organiza protestos contra as mortes de negros causadas pela ação de policiais.
Curadoria
O surgimento do movimento #blacklivesmatter [Vidas Negras Importam] (Artigo)
quiânga iamáta têilor. Lutas sociais, São Paulo, volume 22. número40, página108-122,janeiro a junho 2018.
Neste artigo, a professora de estudos afro-americanos da Universidade de Princeton, autora do livro #VidasNegrasImportam e libertação negra (São Paulo, Elefante, 2020), quiânga iamáta têilor, aborda os principais aspectos do surgimento do movimento Vidas Negras Importam, relacionando alguns dos episódios de violência que lhe deram impulso, como a absolvição do responsável pela morte do jovem Martin (assassinado na Flórida, em 2012) e a reação ao assassinato do jovem maicol braun em Ferguson, no Missouri, em 2014.
A Marcha para o Oeste: território e fronteira nos Estados Unidos
Como você estudou no capítulo 3, após a independência, os Estados Unidos se tornaram um país organizado com base em um modelo federativo descentralizado. O governo tinha como função fornecer a estrutura para o desenvolvimento comercial da nação, coletar impostos, financiar créditos públicos e investir na infraestrutura do país.
O modelo federalista não foi aceito por todos, mas a intervenção do Estado na expansão territorial era defendida pelas diferentes fôrças políticas que contribuíram para o processo de independência dos Estados Unidos.
Por isso, quando os conflitos com a Grã-Bretanha chegaram ao fim, os estadunidenses começaram um movimento de expansão territorial imperialista em direção às chamadas terras do oeste. Essas terras, porém, não estavam desocupadas. No centro-oeste do território correspondente ao dos atuais Estados Unidos viviam diversos povos indígenas. Além disso, esse território era disputado pelo Império Espanhol e pela França. Ao norte, também havia terras sob tutelaglossário britânica.
Ao longo do século dezenove, o governo estadunidense tomou as terras indígenas por meio de negociações ou da violência e dominou territórios conquistados por países europeus próximos às áreas originalmente colonizadas pelos britânicos. Isso ocorreu por meio da compra, de incorporações e de anexações, como você pode notar no mapa.
Expansão territorial dos Estados Unidos – séculos dezoito-dezenove
FONTE: ATLAS histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 70.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Analise o mapa e resuma de que fórma se deu a chamada Marcha para o Oeste.
Respostas e comentários
Resposta do “Se liga no espaço”: A Marcha para o Oeste foi um processo que se estendeu ao longo do século dezenove e consistiu na expansão territorial em direção ao oeste. Iniciou-se, portanto, na segunda fase de formação dos Estados Unidos, partindo da costa leste (representada pela cor verde) em direção à oeste (representada por dois tons de rosa).
Objetivos do capítulo
• Analisar as políticas adotadas pelos Estados Unidos no século dezenove – para promover a expansão territorial e estabelecer zonas de influência –, que resultaram na Marcha para o Oeste, na guerra contra o México e na implantação da Doutrina Monroe.
• Demonstrar o problema da invasão das terras indígenas no processo de expansão territorial dos Estados Unidos.
• Identificar as diferenças entre os interesses econômicos dos estados do sul e os dos estados do norte dos Estados Unidos, ressaltando a questão da exploração da mão de obra de escravizados.
• Ressaltar a importância da luta dos movimentos abolicionistas e feministas.
• Analisar os legados da escravidão nos Estados Unidos, como a exclusão social e o preconceito racial, e a ampliação relativa da cidadania nesse país.
Justificativa
A importância dos objetivos listados para esse capítulo está relacionada à análise dos processos de expansão territorial e dos embates políticos que produziram algumas das configurações espaciais, sociais, culturais e econômicas que caracterizam atualmente os Estados Unidos. Nesse sentido, o estudo do problema da invasão das terras indígenas e dos movimentos abolicionista e feminista, assim como do legado da escravidão, têm o objetivo de sensibilizar os estudantes para os conflitos e os jogos de interesses que caracterizam uma sociedade plural, demonstrando as resistências que se desenvolvem nesses processos e a raiz histórica de graves problemas sociais relacionados à escravidão.
• Explore o mapa destacando a cronologia do processo de expansão, que se acelera da década de 1840 em diante. Aponte que essa aceleração da Marcha para o Oeste coincidiu com a imigração massiva e com a industrialização, como será abordado neste capítulo.
• É possível que os estudantes tenham alguma familiaridade com representações sobre o Velho Oeste a partir de filmes e outros produtos da indústria cultural. Mesmo que o western não seja um gênero tão comum no cinema atual, algumas produções retomaram o gênero, como Bravura indômita (2011), Django livre (2013), Os oito odiados (2015), a refilmagem de Sete homens e um destino (2016), entre outros.
A crença no self-made man
Para os estadunidenses, as relações com os nativos foram resolvidas em 1786, quando o governo estabeleceu a primeira reserva indígena no território e determinou que cada aldeia fosse considerada uma nação independente. Apesar dessa determinação, o processo de extermínio e deslocamento da população indígena tornou-se cada vez mais frequente ao longo do século dezenove.
Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos entre 1801 e 1809, foi o responsável pelo início do projeto expansionista como uma tarefa do Estado. Ele argumentava que a expansão de territórios era uma fórma de garantir terras para os cidadãos estadunidenses, além de expandir os valores culturais do país.
jéferson e seus aliados entendiam que a conquista de territórios era fundamental para construir uma nação de proprietários, enriquecidos por esforço e trabalho. Nesse contexto, ganhava fórça a crença partilhada entre os cidadãos estadunidenses da existência de um self-made man (“indivíduo que se faz sozinho”).
Estados Unidos: reservas indígenas – 1788-1894
FONTE: guílbert, M. The Routledge atlas of American history. New York: Routledge, 2006. map 58.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Analise o mapa e explique por que os territórios indígenas estão dispersos em diferentes pontos no mapa e em que área do país há maior quantidade desses territórios.
Respostas e comentários
Resposta do “Se liga no espaço!”: No caso dos Estados Unidos, ao longo do século dezenove, foram mapeadas áreas de território indígena marcadas pela diversidade cultural. Apesar de serem, no geral, áreas pequenas, há presença de territórios indígenas em praticamente todos os Estados Unidos. Há, contudo, destaque para a região oeste do país, local para onde, historicamente, os indígenas se deslocaram no período inicial da colonização, que ocorreu, em um primeiro momento, prioritariamente, na costa leste do atual Estados Unidos.
Bê êne cê cê
Por tratar da tutela e do contrôle das populações indígenas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih um quatro. Além disso, mobiliza a Competência Específica de História nº 5 e a Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.
• Destaca-se, no texto, o fato de as políticas para os grupos indígenas, marcadas por um poder tutelar que determinava quem eles eram e como deviam viver, datam do século dezoito, poucos anos depois da independência, ocorrida em 1776. Além disso, aborda-se a expansão territorial como um projeto de Estado. A criação de reservas pode ser interpretada como uma das técnicas de governar usadas pelos Estados nacionais, que foram herdadas do colonialismo secular na América. Nesse caso, pertencer à nação estadunidense implicava não pertencer às nações indígenas.
• Conforme é possível notar, a noção de “indivíduo que se faz sozinho” é muito forte na ideologia nacional estadunidense. Ela decorre da ideia de indivíduo possessivo – que prima por acumular posses –, própria do pensamento moderno.
• A expressão self-made man foi provavelmente cunhada por bênjalmin frânquilin, em uma alusão ao indivíduo que trabalha e enriquece sem a ajuda do Estado. Faz parte do debate entre federalistas e antifederalistas sobre a constituição da república e sobre as competências de um governo central. A expressão foi usada ao longo de toda a segunda metade do século dezenove e mantém-se no vocabulário político-econômico no mundo todo. No Brasil, é com frequência associada ao debate a respeito da meritocracia.
A intensificação da escravidão
A valorização do trabalho individual e das conquistas pessoais era partilhada pelos estadunidenses do norte e do sul do país, apesar de haver diferenças no funcionamento econômico e cultural dessas regiões: a economia do sul era baseada na monocultura das plantations, com mão de obra predominantemente de negros escravizados, enquanto o norte começava a se industrializar e dependia do trabalho livre.
O trabalho escravizado não era compatível com o discurso do self-made man; por isso, a escravidão se tornou um tema complicado no cenário político. Para os defensores do trabalho livre, a proposta de colonizar territórios parecia constituir uma solução para a superação gradual do trabalho escravizado sem conflitos abertos com os proprietários do sul. Já os sulistas escravocratas defendiam a conquista de territórios para ampliar as plantations.
Nesse contexto, teve início a expansão dos Estados Unidos. Em 1803, o território do país dobrou com a compra da Luisiana, que estava em posse da França. Nas terras recém-adquiridas, principalmente na região ao norte do Rio Mississípi, foram instaladas grandes plantações de algodão e de cana-de-açúcar.
Os trabalhadores das plantações de algodão eram escravizados adquiridos em mercados de tráfico internos, e o produto destinava-se às indústrias têxteis do norte. Isso frustrou os planos dos nortistas de promover um processo gradual de abolição da escravidão com a expansão territorial. Na realidade, a expansão das plantations de algodão revigorou o sistema escravista estadunidense.
Imagens em contexto!
As plantações de algodão no sul dos Estados Unidos transformaram a paisagem e reforçaram a estrutura escravocrata do país. Por ser uma atividade lucrativa que fornecia matéria-prima para os centros industriais do país, a questão da escravidão tornou-se mais tensa entre seus defensores e os abolicionistas.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao relacionar a escravidão aos projetos divergentes de expansão territorial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero seis.
• Sobre a compra da Luisiana, considerando as perspectivas de uma história global, é interessante destacar o fato de que a França estava sob o governo de Napoleão Bonaparte e, em 1791, os franceses enfrentaram a Revolução Haitiana, liderada por negros escravizados. Esse movimento deu início, como já foi estudado, a uma guerra de independência que se encerrou em 1804 e foi dispendiosa para os cofres franceses. Então, a venda da Luisiana para os Estados Unidos parecia à França uma fórma de reparar os prejuízos. Recorde com os estudantes os efeitos da Revolução Haitiana nos locais em que se mantinha a escravidão, como o sul dos Estados Unidos, Cuba e o Brasil.
• A economia das colônias inglesas sempre esteve de alguma fórma vinculada à escravidão, uma vez que o comércio triangular beneficiava os colonos de norte a sul, favorecendo o desenvolvimento das Treze Colônias.
• Com a escravidão moderna, em sua longa duração, estabeleceu-se um modo de vida sustentado na hierarquia racial e na desigualdade. A adoção pelos Estados Unidos desse sistema contrapunha-se à inscrição da igualdade na carta constitucional do país.
• Observe que a gravura de uólquer data de 1883, ou seja, foi feita quase vinte anos depois de extinta a escravidão como sistema produtivo. Explore com os estudantes a distribuição do espaço e das funções da plantation. O trabalho no campo não seria profundamente alterado com o fim da escravidão. Essa imagem pode ser um motivo para discutir o fato de as estruturas espaciais e sociais perdurarem por muito mais tempo.
A Doutrina Monroe
Na passagem do século dezoito para o século dezenove, para consolidar as fronteiras do país e expandir o território, o governo estadunidense incorporou nove estados que não faziam parte da Nova Inglaterra. Além disso, os estadunidenses voltaram a atenção para o cenário internacional. Na América Central e na do Sul, eram realizados vários movimentos pela independência das colônias. Já na Europa, ocorria o processo de restauração das monarquias, iniciado no Congresso de Viena, em 1815.
O governo estadunidense estava atento às possibilidades de retaliação dos países europeus, caso optasse por apoiar e reconhecer a independência de suas ex-colônias na América. Em contrapartida, não queria ser visto como politicamente alinhado ao movimento de restauração monárquica que ocorria na Europa, incentivando as antigas estruturas imperiais.
Diante desse cenário político, em 1823, o governo do presidente DjeimesMônrou definiu quatro princípios que orientariam a política externa estadunidense:
- o continente americano não poderia ser recolonizado;
- a América teria autonomia política, independentemente do cenário europeu;
- os Estados Unidos entenderiam que qualquer ameaça à América seria uma ameaça a seu território;
- os Estados Unidos não interfeririam nas colônias europeias na América nem nas questões internas à Europa.
Essa política foi posteriormente denominada Doutrina Monroe, sendo sintetizada na frase “A América para os americanos”.
Imagens em contexto!
Muitas charges foram publicadas para criticar a Doutrina Monroe e o intervencionismo estadunidense em países americanos. Na imagem, o personagem Tio sém, símbolo dos Estados Unidos, é representado como um grande galo rodeado de galinhas com o nome de países americanos, enquanto galos com o nome de países europeus estão presos em uma gaiola chamada Doutrina Monroe.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar da Doutrina Monroe, caracterizando seus princípios essenciais, o conteúdo mobiliza a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco. Ao relacionar essa política com a expansão territorial e com a independência de outras colônias na América, mobiliza a Competência Específica de História nº 2.
• Na gravura da peça publicitária, produzida em cêrca de 1890, a doutrina estadunidense formulada em 1823 foi representada no contexto das lutas por independência em Cuba. Já na charge de Djón S. pãgui, parece haver certa ambivalência, algo entre o elogio e a crítica. No entanto, a mensagem do galo pomposo com o rosto do Tio sém é clara: a América era o quintal dos Estados Unidos. Essa charge usa as metáforas da ordem doméstica, da animalidade e da figura masculina. Se julgar conveniente, convide os estudantes a refletir sobre isso. De todo modo, é importante apontar, nas duas imagens, a centralidade, o volume, a cor e a disposição na cena dos respectivos personagens. Tais aspectos são essenciais nas mensagens e nos sentidos que se desejava passar por meio dessas imagens.
• É importante lembrar que os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência brasileira, em 1825. Havia de fato, portanto, um posicionamento favorável à afirmação da autonomia da América como um todo diante da Europa. Comente com os estudantes que, diferentemente da Doutrina Monroe – que guardava um tom unilateral e, para alguns, imperialista –, o pan-americanismo constituía-se como um conjunto de ideias sobre a autonomia e a unidade da América como um todo. Entretanto, os ideais pan-americanistas, em seus primeiros momentos – como no Congresso do Panamá, realizado em 1826 –, não foram muito bem-sucedidos.
A questão da escravidão e os movimentos abolicionistas
Os debates sobre a continuidade da escravidão se intensificaram nos Estados Unidos a partir da década de 1820. Grande parte dos proprietários de terras e de cativos no sul do país considerava a escravidão necessária. Para eles, a proibição do tráfico internacional de escravizados pela Constituição dos Estados Unidos, de 1807, era uma afronta à liberdade de propriedade, contornada pelo comércio interno.
Os industriais e profissionais liberais do norte, por sua vez, acreditavam que a escravidão acabaria de modo gradual, com a proibição do tráfico internacional e a pressão pela adoção do trabalho livre. Entretanto, com a procura de mão de obra para as plantações do sul e o tráfico humano interno, em vez de diminuir, a escravidão aumentou.
Em 1770, a população de escravizados era de .697897. Esse número passou para ..3953760 em 1860, o que representou um aumento de 467% em 90 anos. O fortalecimento do sistema escravista envolvia questões éticas e morais, mas também políticas e econômicas: para os industriais do norte, a escravidão criava dificuldades para manter sua representação no Congresso e significava um problema para o crescimento do país, pois pessoas escravizadas não eram consumidoras.
Dica
LIVRO
quíndred, de otávia bâtler. São Paulo: Morro Branco, 2019.
Nessa obra de ficção científica, a escritora estadunidense narra a luta de Dana, uma mulher que vive nos Estados Unidos no século vinte, mas é transportada ao século dezenove. Lá, ela sofre a violência da escravidão e precisa encontrar uma fórma de retornar a seu tempo. Com narrativa envolvente, o livro contribui para a reflexão sobre a questão escravista nos Estados Unidos.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a população de escravizados foram retirados de: izéquisson, V. Estados Unidos: uma história. São Paulo: Contexto, 2021. página 59.
Bê êne cê cê
Ao identificar as ideias e as posições divergentes sobre a escravidão, incluindo as que vinculavam a permanência desse sistema ao atraso econômico, o texto mobiliza as habilidades ê éfe zero oito agá ih um nove e ê éfe zero oito agá ih dois sete.
• Entre o século dezesseis e o início do século dezenove, foram levados da África para o que viria a ser os Estados Unidos cêrca de 500 mil escravizados. Portanto, a população escravizada apontada no texto resultou do crescimento vegetativo que, de fórma geral, era incentivado pelos escravistas dos Estados Unidos, que consideravam o crescimento da população de escravizados uma espécie de investimento em longo prazo. Os dados numéricos sobre a população de escravizados nos Estados Unidos foram retirados de: izéquisson, V. Estados Unidos: uma história. São Paulo: Contexto, 2021. página 59.
• A abolição do tráfico e da escravidão propriamente deveu-se a uma combinação de fatores econômicos, políticos e ideológicos que será estudada mais detalhadamente adiante. É importante comentar com os estudantes que, enquanto os interesses econômicos pesavam na decisão de manter a escravidão ou acabar com ela, como destacado no texto-base, a movimentação política e ideológica pela abolição vinculava-se a ideais políticos e religiosos que ressaltavam a igualdade. Também é importante destacar o fato de que o movimento não foi produto apenas de uma elite branca, mas contou com a participação de ativistas negros e com a resistência dos escravizados.
O Compromisso do Missouri
Com o aumento do número de escravizados, ocorreram crises cada vez mais intensas entre o sul e o norte dos Estados Unidos. Para os sulistas, a escravidão era fundamental, pois garantia suas estruturas de poder e seu enriquecimento diante da crescente procura do algodão pelas indústrias têxteis do norte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Por sua vez, os nortistas não viam com bons olhos a manutenção da escravidão em longo prazo. Eles acreditavam que a exploração do trabalho livre era necessária para ampliar a industrialização e aumentar a quantidade de consumidores das mercadorias produzidas.
Havia ainda outra questão relacionada a essa polêmica: no Congresso Nacional, o número de deputados era proporcional ao tamanho da população de cada estado. Os representantes dos estados livres do norte diziam que os escravizados não deveriam ser contados como cidadãos, pois eram considerados propriedade pelos sulistas. Já os deputados dos estados escravistas do sul queriam que os escravizados fossem contados como parte da população, pois isso aumentaria sua representatividade.
Essa questão foi provisoriamente resolvida ainda no século dezoito. Os deputados decidiram que um escravizado (que não podia votar nem se candidatar) valeria três quintos de um indivíduo livre no cálculo da população de cada estado. No entanto, com o aumento do número de escravizados no sul, a inclusão de novos estados poderia romper o equilíbrio existente entre o norte e o sul no Congresso Nacional. Assim, em 1819, quando o Missouri solicitou autorização para integrar a União como estado escravocrata, o estado de Massachusetts também foi incorporado, mas como território livre.
A partir de então, estabeleceu-se uma prática de admissão de novos estados para garantir a igualdade na representação de nortistas e sulistas no Congresso Nacional. Essa prática ficou conhecida como Compromisso do Missouri.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Por envolver a discussão sobre a composição política do Estado nacional, o conteúdo mobiliza a habilidade EH08HI06.
• Por meio da análise da situação histórica do Compromisso do Missouri, pode-se discutir a relação entre escravidão e constituição do Estado nacional nos Estados Unidos. Temas já estudados, como a federação e seu papel no equilíbrio nacional, a representação política e sua base territorial e populacional, e a contradição entre liberdade e escravidão, evidenciaram-se nesse episódio. Comente com os estudantes o posicionamento dos novos estados em relação à divisão entre norte e sul.
• Ao destacar a relação entre a continuidade da escravidão, a expansão territorial e a formação do Estado, percebe-se que a história dos Estados Unidos é um pouco diferente do que normalmente se apresenta no senso comum, isto é, verifica-se que ela não é um caminho contínuo e progressivo para a liberdade. Nesse processo, houve uma conquista complexa de direitos e liberdades que envolveu interesses econômicos antagônicos e também diferentes visões de mundo.
Interdisciplinaridade
Ao destacar o mapa histórico com a representação dos estados livres e escravistas, mobiliza-se a habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero oito gê ê dois zero – “Analisar características de países e grupos de países da América e da África no que se refere aos aspectos populacionais, urbanos, políticos e econômicos, e discutir as desigualdades sociais e econômicas e as pressões sobre a natureza e suas riquezas (sua apropriação e valoração na produção e circulação), o que resulta na espoliação desses povos”.
O abolicionismo
Além da questão da representatividade no Congresso Nacional, os conflitos relacionados ao tema da escravidão envolviam discussões éticas. No século dezoito, iniciou-se, na Europa e na América, um movimento, baseado nas ideias iluministas, contra a crueldade da escravização.
Na França, foi fundada, em 1788, a Sociedade dos Amigos dos Negros e, na Grã-Bretanha, os protestantes quakers se manifestaram contra a escravidão. Durante o período da independência dos Estados Unidos, houve pessoas que denunciaram a existência de um contrassenso no fato de se defender a luta contra a opressão do Império Britânico e, ao mesmo tempo, ser favorável à escravização de homens, mulheres e crianças negros.
Logo após a independência dos Estados Unidos, quakers estadunidenses fundaram, na Pensilvânia, a Sociedade Antiescravista da Pensilvânia, que se fortaleceu com a inauguração de instituições semelhantes em Nova iórque e na Filadélfia. Entre as ações dessas sociedades estavam a divulgação de propagandas para o consumo de café, arroz e algodão apenas das lavouras em que era empregado o trabalho livre.
Em 1780, a Pensilvânia aprovou a Lei de Abolição da Escravidão Gradual, de acordo com a qual o trabalho cativo em seu território deveria ser extinto em vinte anos. Leis semelhantes foram aprovadas ao longo da primeira metade do século dezenove pelos estados do norte dos Estados Unidos, o que os caracterizava como defensores do trabalho livre.
Imagens em contexto!
Além de lutar pelo fim do sistema escravista, o movimento abolicionista criou a Underground Slave Railroad, um sistema de rotas secretas pelas quais os escravizados do sul eram levados para territórios livres. No mapa, é representado esse sistema, que contava com o apoio de homens e mulheres negros e brancos unidos pelas ideias abolicionistas.
Respostas e comentários
Tema Contemporâneo Transversal
Ao tratar do abolicionismo e das críticas à escravidão, o conteúdo abre a possibilidade de questionar a continuidade do trabalho análogo ao de escravizado hoje, contrariando os preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A escravidão pode ser entendida como crime contra a humanidade e desperta discussões sobre reparações simbólicas e econômicas. O assunto envolve, portanto, o Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.
Curadoria
The underground railroad: os caminhos para a liberdade (Livro)
Colson Whitehead. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2017.
Trata-se de uma ficção histórica baseada na organização e no significado da Underground Slave Railroad, que servia de rota de fuga e local de repouso para escravizados que desejavam deixar o sul rumo ao norte ou ao Canadá, onde a escravidão já havia sido abolida. Em 2021, uma série televisiva foi produzida com base nessa obra. Embora devam ser compreendidas como obras de ficção, tanto o livro como a série apresentam questões que podem contribuir para a reflexão sobre esse contexto. A série, contudo, é indicada somente para os professores, visto que a classificação indicativa da obra está acima da faixa etária dos estudantes.
• As primeiras leituras históricas sobre as conexões entre os movimentos abolicionistas e a pressão da Grã-Bretanha e do norte dos Estados Unidos por mercados consumidores foram apresentadas no livro Capitalismo e escravidão, de Eric uíliams, lançado em 1944.
A luta contra a escravidão
A defesa do trabalho livre e a oposição à escravidão fortaleceram-se ao longo da primeira metade do século dezenove. Alguns indivíduos, como Frédric Douglas, tiveram papel fundamental no fortalecimento das ideias abolicionistas. Douglass nasceu escravizado, em 1818, em Maryland. Sua mãe nasceu nos Estados Unidos e seu pai foi levado da África à América como escravizado.
Após muitas tentativas frustradas de fuga, Douglass conseguiu chegar à cidade de Nova iórque em 1848. Lá, foi considerado livre e tornou-se um líder político do movimento abolicionista. Em 1845, ele publicou suas memórias em uma obra chamada Frédric Douglas: autobiografia de um escravo. O livro foi um sucesso de vendas e tornou-se uma maneira de divulgar as ideias abolicionistas, escancarando as feridas de um país marcado pela escravidão.
O movimento abolicionista foi muito importante para a reconfiguração dos Estados Unidos após a Guerra de Secessão, que será analisada adiante.
Imagens em contexto!
No ról funcionava a séde da Sociedade Antiescravista da Pensilvânia. O incêndio, representado na imagem, foi provocado por uma multidão defensora da escravidão três dias após a inauguração do prédio. O artista suíço Djón estava na Pensilvânia naquele momento, e viajou o mundo divulgando as tensões raciais existentes nos Estados Unidos.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Defina a Marcha para o Oeste e a importância da crença no self-made man.
- O que foi a Doutrina Monroe?
- Explique por que o aumento no número de escravizados causou tensões envolvendo a questão da representatividade dos estados no Congresso Nacional.
Respostas e comentários
Orientação para as atividades
Para realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, os estudantes precisarão estabelecer relações complexas entre eventos de naturezas diferentes (econômicos, sociais, culturais e políticos) e destes com conceitos históricos (o de self-made man, por exemplo). Sugere-se ao professor que:
• classifique, com a turma, os eventos e processos segundo a predominância de aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais – por exemplo, a Marcha para o Oeste é um movimento econômico e social; ela se relaciona a aspectos políticos;
• evidencie a imbricação desses processos e eventos com mais de um aspecto – por exemplo, a Marcha para o Oeste se relaciona também a processos culturais, como a crença no self-made man.
Agora é com você!
1. A Marcha para o Oeste foi o processo de expansão territorial imperialista que se iniciou com a independência dos Estados Unidos. Esse movimento foi direcionado às terras do oeste da América do Norte, que eram habitadas por diversos povos indígenas. Nesse processo expansionista, ganhou força a crença na existência do self-made man, ou seja, de um indivíduo capaz de se fazer sozinho, conquistando a terra, trabalhando e enriquecendo sem a ajuda do Estado. Tal crença foi amplamente empregada nos processos de conquista territorial e na valorização do indivíduo diante do Estado.
2. A Doutrina Monroe foi um conjunto de quatro princípios que orientaram a política externa estadunidense no contexto da expansão e da consolidação das fronteiras do país. Eles foram sintetizados na frase “A América para os americanos”. Os princípios eram:
• o continente americano não poderia ser recolonizado;
• a América teria autonomia política, independentemente do cenário europeu;
• os Estados Unidos entenderiam que qualquer ameaça à América seria uma ameaça a seu território;
• os Estados Unidos não interfeririam nas colônias europeias na América nem nas questões internas à Europa.
3. As tensões estavam relacionadas com a representação no Congresso Nacional e, portanto, com a capacidade de aprovar as leis e controlar o orçamento da União, pois o número de deputados era proporcional ao tamanho da população de cada estado. Os representantes dos estados livres do norte diziam que os escravizados não deveriam ser contados como cidadãos, pois eram considerados propriedades pelos sulistas. Estes, por sua vez, queriam que os escravizados fossem contados, pois isso aumentaria o número de deputados dos estados do sul. Defender a escravidão significava proteger as grandes propriedades monocultoras do sul do país, o que se opunha abertamente aos interesses do norte do país.
Analisando o passado
Em 4 de dezembro de 1833, na Filadélfia, foi realizado um congresso para pressionar os Estados Unidos a abolir imediatamente a escravidão. Estavam presentes no encontro sessenta líderes abolicionistas, que representavam dez estados do país. Eles elaboraram um documento com os princípios que defendiam. Leia a reprodução traduzida de um trecho desse documento. Depois, faça o que se pede.
“ Eis nossa visão e nossos princípios, estes são nossos projetos e medidas. Com plena confiança na soberana justiça de Deus, nós nos arraigamos à Declaração de nossa Independência e às verdades da Revelação Divina como se fosse sobre a Rocha Eterna.
Devemos organizar sociedades antiescravistas, se possível, em todas as cidades, vilas e aldeias de nossas terras.
Devemos enviar agentes para erguer a voz em protesto, advertência, súplica e repreensão.
Devemos fazer circular, implacável e extensivamente, tratados e jornais antiescravistas.
Devemos alistar o púlpito e a imprensa na causa dos que sofrem e dos emudecidos.
Devemos ter como objetivo a purificação das igrejas de qualquer participação nas suas culpas pela escravidão.
Devemos encorajar o trabalho de homens livres em vez do de escravos, dando preferência às suas produções .
Nossa confiança de que alcançaremos a vitória está exclusivamente em Deus. Podemos ser pessoalmente derrotados, mas nossos princípios nunca o serão. Verdade, Justiça, Razão, Humanidade devem triunfar e triunfarão gloriosamente. Um exército do Senhor já está vindo para nos ajudar na luta contra os poderosos, e essa perspectiva é muito encorajadora para nós. ”
DECLARATION of the Anti-slavery Convention. Philadelphia, December, . Library of Congress. Disponível em: https://oeds.link/dquQWc. Acesso em: 4 mártch 2022. Tradução nossa.
Imagens em contexto!
A imagem representa o combate entre um homem e um leão, em referência à luta de Hércules, um semideus da mitologia greco-romana, contra o leão de Nemeia e também a Davi e Sansão, personagens bíblicos que teriam enfrentado leões. A ideia era a de que, com o auxílio de Deus, o mais perigoso e difícil dos inimigos poderia ser derrotado.
Responda no caderno.
- Transcreva os trechos do documento em que a religião é relacionada à temática da escravidão.
- Explique as estratégias apresentadas pelos participantes do congresso para acabar com a escravidão.
- Com base em seus conhecimentos, explique a relação estabelecida pelo movimento entre a religião e a defesa da abolição da escravidão.
Respostas e comentários
BNCC
Por demandar a análise de um documento, a seção envolve procedimentos de construção do conhecimento histórico. Assim, para realizar as atividades propostas, é necessário empregar procedimentos do ofício do historiador, desenvolvendo a Competência Específica de História nº 6.
Analisando o passado
Nessa seção, é analisada uma fonte primária textual. É importante, como em outros momentos de estudo, contextualizar a fonte e relacioná-la com o conteúdo do capítulo. Do mesmo modo, recomenda-se analisar com os estudantes as sutilezas linguísticas do texto.
Atividades
1. Os estudantes podem citar os trechos: “Com plena confiança na soberana justiça de Deus, nós nos arraigamos à Declaração de nossa Independência e as verdades da Revelação Divina como se fosse sobre a Rocha Eterna”; “Devemos ter como objetivo a purificação das igrejas de qualquer participação nas suas culpas pela escravidão”; “Nossa confiança de que alcançaremos a vitória está exclusivamente em Deus”; “Um exército do Senhor já está vindo para nos ajudar na luta contra os poderosos reticências”.
2. A propagação do movimento em diferentes espaços é a principal estratégia anunciada na declaração. Além disso, o favorecimento da produção de mercadorias oriundas do trabalho livre é lançado como ação de pressão pela abolição.
3. Espera-se que os estudantes percebam que o documento tem como base a impossibilidade ética de conciliação entre discursos religiosos e a existência da escravidão. As instituições religiosas são entendidas como peças fundamentais para o fortalecimento do movimento antiescravocrata e para a purificação daqueles que haviam cometido o crime da escravidão.
Mulheres negras na luta contra a escravidão e o machismo
A fuga de escravizados para o norte, apesar de muito perigosa, era comum. Em 1827, a escravizada Isabella bôm fri, que vivia no sul do país, chegou ao Canadá com seu filho mais novo em busca de liberdade. Ao se estabelecer no local, ela passou a adotar o nome soudjouner trúf.
Em 1829, com a abolição da escravidão em Nova iórque, trúf mudou-se para o estado, onde trabalhou como empregada doméstica. Com sua experiência, ela se tornou uma líder abolicionista e ativista na luta em defesa dos direitos das mulheres, que também ganhava fôrça.
Em 1851, soudjouner trúf foi convidada a participar da Convenção dos Direitos da Mulher, realizada em Ohio. O discurso que ela proferiu – em resposta a religiosos conservadores que afirmavam a inferioridade da mulher – foi muito importante para a história dos movimentos pelos direitos das mulheres, do feminismo negro (aquele que se foca nas problemáticas relacionadas especificamente às mulheres negras) e do combate ao racismo. Nesse discurso, ela falou sobre a fôrça da mulher negra como agente históricoglossário .
Anna mãrrei-Douglas também se destacou como ativista na luta pelo fim da escravidão e pelos direitos das mulheres. Filha de escravizados alforriados em mérilend, mãrrei-Douglas nasceu livre, mas não tinha direitos sociais ou políticos. Tanto em Maryland como em Nova iórque, para onde se mudou em 1838, ela atuou na rede de rotas secretas para a fuga dos escravizados do sul para o norte dos Estados Unidos, o Canadá e o México. Em Nova iórque, ela se casou com o ativista Frédric Douglas.
Dica
LIVRO
A história de , a escrava do Norte, de ólive guílbert. São Paulo: Principis, 2021. (Clássicos da literatura mundial)
Trata-se de um livro que apresenta dados biográficos narrados por Isabella bôm fri a ólive guílbert. Por meio deles, tem-se acesso a aspectos do cotidiano, das lutas e angústias dessa mulher que é reconhecida como um importante nome do movimento abolicionista nos Estado Unidos.
Respostas e comentários
• O nome soudjouner trúf quer dizer, literalmente, “verdade peregrina”. Além dela, milhares de ativistas negras atuaram pelo feminismo e contra o racismo desde o século dezenove. Outro nome relevante é o de Réuriét Tôbmen, uma das organizadoras da ândergráund islêiv rêil wrôad, uma rede de fuga de escravizados.
Ampliando
Unindo o discurso religioso, usado pelos conservadores, a sua experiência nas lavouras, na Convenção dos Direitos da Mulher, trúf defendeu a igualdade entre os gêneros e a necessidade de as mulheres conquistarem direitos. Um trecho do discurso que ela proferiu naquele evento é reproduzido a seguir.
“Quero falar algumas palavras a respeito dessa questão. Sou [pelos] direitos das mulheres. Tenho tantos músculos quanto qualquer homem e posso fazer tanto trabalho quanto qualquer homem. Já arei e ceifei, e debulhei e cortei e capinei, e algum homem pode fazer mais que isso? Já ouvi muito falar que os sexos são iguais. Posso carregar tanto peso quanto qualquer homem, e comer o tanto quanto, se eu conseguir comida. Sou tão forte quanto qualquer homem que haja. E, sobre o intelecto, tudo o que eu posso dizer é que, se a mulher tem um copo e o homem tem uma jarra, por que é que ela não pode encher seu copo? Não precisam ter medo de nos dar nossos direitos, com receio de que a gente vá pegar demais – porque não conseguimos pegar mais que o que cabe em nosso copo. Os pobres dos homens parecem estar confusos, e não sabem o que fazer. Porque isso, meus filhos, se vocês têm os direitos das mulheres, deem a elas e vocês vão se sentir melhor. Vocês têm os seus direitos, e elas não vão causar tantos problemas. Eu não sei ler, mas sei ouvir. Ouvi a Bíblia e aprendi que Eva fez com que o homem pecasse. Bem, se foi a mulher que desarrumou o mundo, deem a ela a chance de consertá-lo de volta. reticências”.
trúf, S.; guílbert, O. E eu não sou uma mulher?: a narrativa de soudjouner trúf. São Paulo: Ímã, 2020. página13.
Mulheres e representatividade
As mulheres não tinham direitos políticos nos Estados Unidos, mas, ao longo do século dezenove, elas organizaram uma série de movimentos para exigir mudanças na sociedade. A luta das mulheres em várias partes do mundo naquele período ficou conhecida como a primeira onda do feminismo.
Envolvidas nos debates públicos, as participantes do movimento concordavam sobre a urgência do direito ao voto, mas não entraram em um acordo sobre as melhores estratégias para consegui-lo. Para algumas, o movimento deveria exigir o direito ao voto, em nível federal ou estadual, por meio de petições ao Congresso Nacional, sem muitas movimentações nas ruas, por exemplo. Para outras, era preciso organizar manifestações nas ruas para pressionar o Congresso a ampliar os direitos das mulheres.
A primeira reunião oficial de mulheres nos Estados Unidos ocorreu em julho de 1848, na Convenção de sêneca , em Nova iórque, que foi liderada pelas abolicionistas e defensoras dos direitos das mulheres elízabet quêidi isténton, lucréchia mót e Ruáit.
Ao final da convenção, 68 mulheres e 32 homens assinaram a Declaração dos Direitos e Sentimentos. No documento, foram utilizados argumentos religiosos e históricos para exigir o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade, em evidente diálogo com o texto da Declaração de Independência. O movimento das mulheres estava ligado aos ideais abolicionistas e, com a guerra civil (assunto que você estudará adiante), ganhou outras configurações.
Imagens em contexto!
elízabet quêidi isténton foi importante no movimento pelos direitos políticos das mulheres no século dezenove. Além da elaboração e da da Declaração dos Direitos e Sentimentos, isténton foi presidente da NationalWoman Suffrage Association (“Associação Nacional de Sufrágio Feminino”) de 1892 até 1900.
FONTE: fêigan, On her own wings: Oregon women and the struggle for suffrage. Oregon State Disponível em: https://oeds.link/OdNfEM. Acesso em: 10 2022.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a Convenção de Seneca Falls foram retirados de: SIGNATURES to the “Declaration of Sentiments”. United States Census Bureau. Disponível em: https://oeds.link/Xo1IUI. Acesso em: 9 mar. 2022.
• A Declaração dos Direitos e Sentimentos se integrava à cultura política republicana que se estabelecia nos Estados Unidos. A relação entre o feminismo e essa cultura política se expressou no processo de desenvolvimento e mudança do movimento feminista. Destacaram-se nesse processo a Associação Nacional pelo Sufrágio da Mulher, criada em 1868, por iniciativa de elízabét isténton, e a Associação Americana Pró-Sufrágio das Mulheres, mais conservadora, fundada em 1868 e liderada por lúci istôune. As mulheres foram excluídas da emenda constitucional que garantia o direito de voto aos escravizados libertos do sexo masculino; conseguiram, porém, o direito de peticionar nos tribunais e ter seus bens e herança reconhecidos.
Atividade complementar
A luta pela cidadania e por direitos continua ocorrendo. Diferentes movimentos sociais organizam atos e ações para pressionar os governantes a tomar medidas que assegurem direitos iguais a todos e que combatam o preconceito e a violência.
A fim de contribuir para que os estudantes compreendam a atualidade desses movimentos, a importância da mobilização social e o seu papel como agentes de transformação social, peça-lhes que pesquisem, em livros, jornais e revistas impressos e na internet, informações sobre uma manifestação pelos direitos das mulheres ocorrida, preferencialmente, há menos de cinco anos. Em sala de aula, forme com os estudantes um círculo para debater os principais temas dessas manifestações, sua estruturação e seu desenvolvimento. Oriente os estudantes a selecionar manifestações baseadas nos princípios democráticos.
A tomada de territórios do México
Na primeira metade do século dezenove, enquanto o debate pelo fim da escravidão ocorria, estadunidenses invadiram territórios que pertenciam ao México. A partir dos anos de 1840, essas invasões se intensificaram, e um grupo de estadunidenses declarou a independência de um território no interior do México, dando origem ao Texas. Os texanos passaram a exigir a incorporação do território aos Estados Unidos e tiveram amplo apoio da imprensa nacional.
O jornalista Djón ôu sâlivan, na edição de julho e agosto de 1845 do periódico Democratic Review, justificou a independência daquele território mexicano e sua anexação aos Estados Unidos com a doutrina do Destino Manifesto. Para ele, os estadunidenses, inspirados por Deus e detentores de uma superioridade moral, deveriam levar o progresso aos povos nativos e expandir seus territórios e sua fé.
Os territórios invadidos eram habitados por cidadãos mexicanos e povos indígenas, mas, segundo a perspectiva imperialista dos estadunidenses, eram espaços desocupados. A população desses locais, portanto, não foi consultada sobre esse processo.
O projeto de anexação do Texas foi aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, que declarou a intenção de expandir o território do país até o Pacífico, por meio da invasão da Califórnia.
Os invasores foram atacados por mexicanos e grupos indígenas que viviam na região. Isso foi usado como justificativa para declarar guerra ao México em 13 de maio de 1846. Rapidamente a Califórnia e o Texas foram tomados pelas fôrças militares estadunidenses. Apesar da resistência do exército mexicano, as tropas dos Estados Unidos invadiram a Cidade do México, capital do país, e, em um ato simbólico, tomaram a séde do exército das fôrças de resistência: o Castelo de Chapultepec.
O México foi obrigado a assinar, em 1848, o Tratado de Guadalupe Hidalgo, entregando aos Estados Unidos o território que hoje compõe os estados: Califórnia, Nevada, Novo México, Arizona, Texas, Colorado, Utah e Wyoming.
Imagens em contexto!
Na imagem, a batalha foi representada com base na perspectiva estadunidense. O exército estadunidense, à esquerda, foi desenhado como uma fôrça coesa e em avanço. Os soldados mexicanos, à direita, parecem estar desorganizados, em fuga, sofrendo com as mortes e a derrota inevitável.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
O conteúdo trata da anexação aos Estados Unidos de parte do território mexicano, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.
Ampliando
No texto a seguir, Fernando Catroga aborda o tema do Destino Manifesto.
“A ideia de mênifest déstâni começou a ser popularizada na década de 1840, pois ela justificava bem a política expansionista contra o México (1846-1848), ao mesmo tempo que legitimava a aniquilação ou o contrôle dos índios, maneira de sacralizar a ofensiva a caminho do Oeste, ou melhor, a construção uma Nação do Atlântico ao Pacífico. E a sua utilização não deixará de ser permanentemente reatualizada. Poder-se-á mesmo defender que, se ela nasceu em uma conjuntura específica, ultrapassou-a, pois condensa alguns componentes nucleares da ideologia americana, nomeadamente a reivindicação da índole excepcional de sua experiência histórica, a exaltação dos valores nacionalistas, o direito ao expansionismo. E tudo isso supõe a existência de um povo eleito para aconcretizar, porque superior aos que não receberam aquela graça.
Assim sendo, não será abusivo articular a fé no mênifest déstâni com o conceito de Frontiê [fronteira], elaborado por frêdêríque djéquisson târner e exposto na comunicação que, em 1893, fez à américan rístori associêichion. E se outros argumentos não pudessem ser invocados para justificar a analogia, relembre-se que târner o elaborou levando em conta o contributo que a expansão para o Oeste trouxe para a formação do caráter americano.”
CATROGA, F. Nação, mito e rito: religião civil e comemoracionismo: ê u á, França e Portugal. Fortaleza: nudóc-ú éfe cê: Museu do Ceará, 2005. página 69-70.
Curadoria
Como o México perdeu o Texas para os ê u á (Reportagem)
, 10 janeiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/GGGQ6T. Acesso em: 31 maio 2022.
Nessa reportagem, ânrrel bermúdez trata do desequilíbrio demográfico entre mexicanos e estadunidenses e da preeminência da escravidão decorrentes da admissão pelo México e pela Espanha da presença de colonos estadunidenses em seu território. Por meio da história de môses óstin e das primeiras trezentas famílias que ele levou para o novo território, bermúdez explica os embates travados entre colonos e o México independente pela abolição da escravidão.
E os indígenas?
Os povos indígenas que viviam na América do Norte não eram reconhecidos como cidadãos dos Estados Unidos. Os confrontos entre integrantes de diferentes etnias indígenas e os estadunidenses eram frequentes, mas, legalmente, cada povo tinha o direito de formar uma nação independente.
Em razão disso, diferentes grupos negociavam com o governo o estabelecimento das chamadas reservas ou territórios indígenas. As negociações, porém, sempre desfavoreciam os indígenas, pois o poder de decisão sobre a criação das reservas concentrava-se no Congresso Nacional, formado por homens brancos.
Assim, a invasão de terras a oeste pelos estadunidenses significou a remoção forçada dos nativos de seus territórios ancestrais ao longo do século dezenove. O Estado, interessado em disponibilizar terras aos cidadãos, forçava os nativos a deixar o território em que viviam e ir para as reservas.
O movimento mais emblemático de remoção forçada foi contra o povo tcherôquí. Em 1838, a Suprema côrte decidiu que os chéroquís deviam ser reunidos e levados para o oeste por tropas do exército estadunidense e milícias locais. Estima-se que, em uma única leva, cêrca de 60 mil indígenas foram deportados. O exército e as milícias provocaram a morte de 4 mil pessoas. O tratamento recebido pelos chéroquís foi tão cruel que o caminho que fizeram ficou conhecido como Trilha das Lágrimas.
Estados Unidos: principais rotas de remoção de grupos indígenas – século dezenove
FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY. May 28Indian Removal Act.National Geographic. Disponível em: https://oeds.link/hCMIf5. Acesso em: 10 mártch 2022. Tradução nossa.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a remoção forçada dos cherokee foram retirados de: tórnton, érreThe demography of the Trail of Tears period: a new estimate of Cherokee population losses. ín: Ânderson, W. Cherokee removal: before and after. Athens: University of Georgia Press, 1992. página 75.
Bê êne cê cê
Ao destacar as políticas de remoção forçada e a criação das reservas indígenas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih um quatro e ê éfe zero oito agá ih dois sete.
• Os indígenas constituem relações muito intensas com o território, cujos elementos naturais são, em geral, percebidos por esses povos como seres viventes. Peça aos estudantes que imaginem o que significou a remoção forçada para a relação cosmogônica que os indígenas da América do Norte mantinham com tais elementos. Relativizando a condição dos estudantes, pergunte-lhes: “Como vocês se relacionam com a natureza? Que valores atribuem a ela?”.
Ampliando
No relato a seguir, o chefe dos quiôvas, satânta, trata da remoção forçada de indígenas para as reservas criadas pelo governo dos Estados Unidos no século dezenove.
“Soube que pretende colocar-nos numa reserva perto das montanhas. Não quero ficar nela. Gosto de vagar pelas planícies. reticências. Há muito tempo esta terra pertencia aos nossos antepassados; mas quando subo o rio vejo acampamentos de soldados em suas margens. Esses soldados cortam minha madeira, matam meu búfalo e, quando vejo isso, meu coração parece partir; fico tristereticências Será que o homem branco se tornou uma criança que mata sem se importar reticências? Quando os homens vermelhos matam a caça, é para que possam viver e não morrer de fome.”
bróun, D. Enterrem meu coração na curva do rio: a dramática história dos índios norte-americanos. São Paulo: Círculo do Livro, 1974. página 173.
• Incentive os estudantes a explorar o mapa questionando o significado dos deslocamentos forçados, que tiveram na Trilha de Lágrimas dos chéroquís seu momento mais dramático. Valendo-se da escala do mapa, se possível, peça aos estudantes que calculem as distâncias percorridas pelos grupos.
Cruzando fronteiras
Ao longo do século dezenove, milhões de pessoas emigraram para os Estados Unidos. Partindo de países europeus, como a Itália, a Irlanda e a Alemanha, e de regiões da Ásia, principalmente da China, os imigrantes buscavam melhores condições de vida e oportunidades de trabalho na América.
Durante os anos 1840, por exemplo, notícias sobre a exploração de ouro na Califórnia rodaram o mundo, atraindo chineses, alemães, russos, poloneses e irlandeses, além de indivíduos de outros locais.
Nesse período, o governo dos Estados Unidos adotou medidas para estimular a chegada de imigrantes, como o Ato para Encorajar a Imigração, de 1864. Outra medida importante foi a autorização da imigração de chineses para o território estadunidense, em 1868.
O deslocamento populacional em direção aos Estados Unidos era considerado uma fórma de obter mão de obra e expandir as atividades produtivas do país, além de consolidar a expansão das fronteiras.
A chegada de imigrantes contribuiu para transformar a cultura dos Estados Unidos com a introdução de tradições alimentares, festas, práticas religiosas e costumes de diversos povos. Em muitas cidades do país formaram-se bairros em que residiam pessoas da mesma nacionalidade.
Nas cidades de Chicago, Nova iórque, Boston e Filadélfia, por exemplo, foram formadas grandes comunidades de irlandeses durante o século dezenove. Uma das festas mais populares do país, a de São Patrício, é uma comemoração típica da Irlanda que foi preservada pelos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos.
Os imigrantes também criaram associações de auxílio mútuo para facilitar sua integração à sociedade estadunidense, como a Sociedade ílinói , fundada por imigrantes escoceses na cidade de Chicago, em 1845.
Apesar de sua importância para o desenvolvimento dos Estados Unidos no século dezenove, os imigrantes sofreram com o preconceito e a violência. Práticas discriminatórias eram comuns e houve momentos nos quais o governo estadunidense tomou medidas para restringir os direitos de imigrantes e até para expulsá-los. Em 1882, por exemplo, o Congresso proibiu a entrada de chineses e, em 1907, de japoneses no país.
Respostas e comentários
Cruzando fronteiras
Nessa seção, propõe-se a leitura de um gráfico e de uma tabela que, embora contenham informações diferentes, apresentam dados sobre a imigração para os Estados Unidos no século dezenove. Espera-se que, ao realizar as atividades, os estudantes compreendam a construção da informação histórica com base em dados matemáticos. Também é importante destinar atenção ao texto e às imagens reproduzidas. A foto da celebração da festa de São Patrício na atualidade evidencia a perenidade das identidades sociais baseadas no pertencimento a um grupo nacional imigrante. Esse não é um aspecto tão comum às cidades brasileiras; porém, em uma metrópole como São Paulo, é possível observar ocorrências semelhantes. Na gravura representando uma exibição teatral, as marcas nacionais dos chineses aparecem nos rostos, na indumentária, no público exclusivamente masculino etcétera. Mesmo sem confirmação da autoria da ilustração, publicada originalmente em Barcelona, Espanha, na obra El Mundo Ilustrado, em 1880, é possível inferir a presença de alguns traços do que se chamou de orientalismo – o processo cultural no qual o Ocidente imagina e constrói imagens, muitas vezes negativas, do Oriente e de seus povos, representando a si mesmo como superior. A imigração chinesa ou “amarela”, segundo o vocabulário racista da época, não era bem-vista nos Estados Unidos nem no Brasil. No caso estadunidense, tratava-se de preservar a homogeneidade racial branca. No contexto brasileiro, pretendia-se assegurar o sucesso do projeto de branqueamento da população.
• Alguns acontecimentos mundiais podem ajudar na compreensão das ondas de imigração para os Estados Unidos no século dezenove. Em parte da Europa, estava ocorrendo um tortuoso processo de Revolução Industrial que causava empobrecimento e fome entre os operários. Na Rússia, a fome também era uma realidade difícil de ser amenizada. A China passava por processos de mudança dinástica. Esse cenário internacional é fundamental para compreender alguns fatores que impulsionam as pessoas a imigrar.
• A fim de estabelecer conexões entre o conteúdo da seção e o presente, pode ser interessante abordar as crescentes ondas de imigração internacional, em especial as decorrentes de questões políticas, conflitos militares e problemas socioambientais.
Analise, no gráfico e na tabela a seguir, as informações sobre a imigração nos Estados Unidos ao longo do século dezenove. Depois, responda às questões propostas.
Imigração para os Estados Unidos – 1820-1860
FONTE: DEPARTMENT of Homeland Security. 2019 Yearbook of Immigration Statistics. Washington, D.C.: U.S. Department of Homeland Security, Office of Immigration Statistics, 2020. página 5.
|
1860-1869 |
1870-1879 |
1880-1889 |
|
|---|---|---|---|
|
Europa |
|||
|
Império Austro-húngaro |
3.375 |
60.127 |
314.787 |
|
Dinamarca |
13.553 |
29.278 |
85.342 |
|
França |
35.938 |
71.901 |
48.193 |
|
Alemanha |
723.734 |
751.769 |
1.445.181 |
|
Irlanda |
427.419 |
422.264 |
674 061 |
|
Itália |
9.853 |
46.296 |
267.660 |
|
Noruega e Suécia |
82.937 |
178.823 |
586.441 |
|
Suíça |
21.214 |
25.212 |
81.151 |
|
Império Russo |
1.667 |
34.977 |
173.081 |
|
Reino Unido |
532.956 |
578.447 |
810.900 |
|
Ásia |
|||
|
China |
54.028 |
133.139 |
65.797 |
|
América |
|||
|
Canadá e Terra Nova |
117.975 |
323.974 |
492.508 |
FONTE: DEPARTMENT of Homeland Security. 2019 Yearbook of Immigration Statistics. Washington, D.C.: U.S. Department of Homeland Security, Office of Immigration Statistics, 2020. pê ponto 5.
Responda no caderno.
- No período representado no gráfico, qual foi o ano em que a imigração nos Estados Unidos chegou ao auge? Quantos imigrantes entraram no país nesse ano?
- De acordo com a tabela, quais eram os países de origem dos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos?
- No período de 1861 a 1890, quais eram os três principais países de origem dos imigrantes?
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar da imigração por meio da análise de um gráfico e uma tabela, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 5 e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.
Atividades
1. O gráfico apresenta um recorte de 1820 a 1860. Ele indica o pico de mais de 427 mil imigrantes, que entraram no país por volta de 1855. É interessante destacar o fato de que, com base nos dados desse gráfico, não é possível saber se os imigrantes eram homens, mulheres ou crianças, embora fique evidente que mais de um milhão e meio de pessoas entraram nos Estados Unidos durante as quatro décadas analisadas.
2. Império Austro-húngaro, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Noruega, Suécia, Suíça, Império Russo, Reino Unido, China e Canadá (e do território canadense chamado Terra Nova).
3. Os imigrantes eram predominantemente da Alemanha, do Reino Unido e da Irlanda.
Interdisciplinaridade
As atividades propostas na seção podem contribuir para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular matemática ê éfe zero oito ême ah dois três – “Avaliar a adequação de diferentes tipos de gráficos para representar um conjunto de dados de uma pesquisa”.
A guerra civil
Duas hipóteses são geralmente usadas para explicar o início da chamada Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão, ocorrida nos Estados Unidos entre 1861 e 1865.
De acordo com a primeira delas, o conflito foi o resultado de embates entre habitantes do norte e moradores do sul do país. Os nortistas defendiam o trabalho livre e os sulistas desejavam manter o trabalho escravizado. A questão da representatividade no Congresso e do conceito de propriedade teria sido o ponto de partida do conflito.
Conforme a outra explicação, a guerra teve início por causa das tensões entre os que defendiam a liberdade (e a imediata abolição da escravidão) e os escravocratas, independentemente das caracterizações de norte e sul do território estadunidense.
As duas leituras são válidas, pois havia disputas por representatividade e a defesa da liberdade ou, no caso, do fim da escravidão. Antes da declaração oficial da guerra civil, fazendeiros do sul afirmavam que os habitantes do norte (yankees) eram invasores que desrespeitavam o direito ao autogoverno e à propriedade, desarticulando as bases da identidade do cidadão estadunidense.
Esses fazendeiros defendiam a separação entre o sul e o norte, pois acreditavam que o pacto comum havia sido rompido e o Congresso não seria capaz de atender a interesses políticos, econômicos e culturais tão distintos. Já os habitantes do norte acreditavam que ainda existiam fatores comuns entre os estadunidenses – língua, religiosidade, experiência de tempos coloniais, por exemplo – e, resolvida a questão da escravidão, o país poderia encontrar um destino glorioso.
Em 1861, após vencer as eleições para presidente, Êibrarram Lincon (que tinha amplo apoio dos nortistas) declarou que os habitantes do sul precisariam respeitar as leis da União (o que incluiria uma mudança na questão da escravidão). Diante disso, os estados do sul se declararam independentes e integrantes dos Estados Confederadosglossário da América.
Nesse contexto, a guerra foi declarada em 12 de abril de 1861, quando tropas do sul abriram fogo contra as do norte. Todos esperavam que o conflito tivesse curta duração, mas houve quatro longos anos de combates, nos quais 620 mil soldados foram mortos e outros 400 mil ficaram feridos ou mutilados. A guerra foi difícil para ambos os lados e provocou mudanças no cenário político estadunidense.
Respostas e comentários
Dados numéricos sobre a Guerra Civil Americana foram retirados de: mâlderinc, ê éfeReview of Toward a social history of the American Civil War. Exploratory Essays by Marys A. Vinovskis. International Review of Social History, volume37, número 1, página 109-112, 1992.
Bê êne cê cê
Por tratar da Guerra Civil Americana e da reconstrução da nação, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero seis e ê éfe zero oito agá ih um nove. Ao tratar das limitações dos direitos políticos para negros e indígenas, o conteúdo mobiliza as habilidades ê éfe zero oito agá ih um quatro, ê éfe zero oito agá ih um nove e ê éfe zero oito agá ih dois sete.
Ampliando
No texto a seguir, aborda-se a guerra civil estadunidense.
“As batalhas tornaram-se verdadeiros palcos de horror. Numa delas, os nortistas, com cêrca de 30 mil homens a mais que os sulistas, obrigaram o general Lee a se refugiar na Virgínia e cêrca de 12 mil homens morreram em cada um dos lados envolvidos no conflito. Em outra, os confederados lançaram-se com mais de 150 mil homens contra as trincheiras da União próximas a Gettysburg, na Pensilvânia. Os confederados acabaram dizimados pelas tropas federais e cêrca de 30 mil soldados sulistas morreram nesse conflito.
Aos poucos, o investimento exigido pela guerra e a falta de recursos foram devastando o Sul. Na esperança de contar com um apoio europeu na guerra, as autoridades confederadas, em vez de exportar algodão e usufruir os lucros, cancelaram as vendas, pensando que, assim, poderiam forçar, por exemplo, a entrada da Inglaterra ao seu lado contra as tropas da União. Mas os ingleses tinham um ano de estoque do produto e os franceses se negaram a ajudar os sulistas sem o apoio inglês. reticências.”
KARNAL, L. êti áli. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2020. página 133.
• Estima-se que, dos 620 mil soldados mortos em combates, 360 mil eram nortistas e 260 mil sulistas. Esses dados numéricos foram retirados de: MARTIN, A. A Guerra de Secessão. ín: manhóli, D. (organizador). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2011. página 219, 239.
• A geopolítica evidencia a escala atlântica da guerra, que envolvia o abastecimento da indústria britânica e as possibilidades de escoamento de sua produção. Na época do conflito, a exportação de algodão de regiões brasileiras, como a do Maranhão e a do Ceará, cresceu para suprir o mercado britânico.
A reconstrução da nação
As principais conquistas dos estadunidenses após a guerra civil foram a abolição da escravidão e uma limitada ampliação do conceito de cidadania. Com a Uniãoglossário fortalecida, foi possível criar algumas emendas constitucionais, como a décima terceira – que libertou todos os negros escravizados –, a décima quarta – que tornou todos os cidadãos estadunidenses iguais em direitos e deveres, independentemente da vontade dos estados – e a décima quinta – que garantiu o direito de voto a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor ou condição social.
Os problemas sociais nos Estados Unidos, porém, estavam longe de ser resolvidos. O voto feminino só foi conquistado, após muita luta dos movimentos sufragistas, em 18 de agosto de 1920. Os indígenas, por sua vez, continuaram sem direito à cidadania até 1975 e até hoje encontram dificuldade para votar.
Além disso, as tensões raciais após a guerra civil mantiveram-se em todo o país. Organizações sulistas, racistas e violentas, como a dos supremacistas brancos da Cu Clús Clã, organizada em 1866 logo após o fim da guerra, praticaram o linchamento de negros até meados do século vinte. Apesar de criminalizadas, associações desse tipo continuam ativas no país. O racismo e a violência persistem; por isso, são necessários movimentos como o Black Lives Matter.
Em uma tentativa de refazer a nação, entre 1865 e 1877, o governo federal implementou um programa chamado Reconstrução. A proposta era unificar o país por meio da valorização da identidade dos cidadãos estadunidenses. Temas como o self-made man, a Doutrina Monroe e o Destino Manifesto tornaram-se guias da produção de um país imperialista.
Imagens em contexto!
A organização do movimento Black Lives Matter começou em 2013 por três ativistas estadunidenses (Alicia Garza, patrisse câlors e Opal tométi) para combater o racismo e a violência contra pessoas negras. Em 2020, após o assassinato de djêordji Flóid pela polícia de Minneapolis, o movimento ganhou repercussão internacional. Protestos contra o racismo foram organizados em diversas regiões dos Estados Unidos e em muitos outros países.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Resuma as razões para a guerra dos Estados Unidos contra o México.
- Explique a relação entre os indígenas e o governo estadunidense.
- Defina a política da reconstrução estadunidense após a guerra civil.
Respostas e comentários
Orientação para as atividades
Ao realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, os estudantes poderão sistematizar conhecimentos por meio da releitura do texto-base. Poderão, ainda, extrapolar as situações históricas estudadas relacionando-as: às tensões na fronteira entre os Estados Unidos e o México por causa da questão da imigração; à contínua exclusão das populações indígenas e ao questionamento da liberação de seus territórios para fins econômicos (a exploração petrolífera, por exemplo); aos limites evidentes da cidadania da população afro-americana, principalmente no que se refere à segregação urbana e à violência policial.
Agora é com você!
1. No princípio do século dezenove, estadunidenses passaram a invadir porções de terra ao sul do país que pertenciam ao México. A partir dos anos 1840, essas invasões tornaram-se intensas. Os estadunidenses declararam independência de um território no interior do México e passaram a exigir sua inserção nos Estados Unidos. Em 13 de maio de 1846, os Estados Unidos declararam guerra ao México, que teve seu território invadido e sua capital tomada pelo exército estadunidense. O México foi obrigado a assinar, em 1848, o Tratado de Guadalupe Hidalgo, entregando aos Estados Unidos os territórios que hoje compõem os estados da Califórnia, Nevada, Novo México, Arizona, Texas, Colorado, Utah e Wyoming.
2. Os indígenas não eram reconhecidos como cidadãos estadunidenses. Os confrontos entre as diferentes etnias indígenas e os cidadãos eram frequentes, mas, legalmente, cada etnia tinha o direito de formar uma nação independente. Assim, cada qual negociava com o Estado o estabelecimento das chamadas reservas ou territórios indígenas. Os nativos eram retirados de seus territórios à fôrça e deslocados para as áreas de reserva. O processo foi violento e resultou no extermínio e na desterritorialização de diferentes etnias indígenas.
3. Com a vitória dos estados do norte, após a guerra civil, a abolição da escravidão foi determinada e houve certa ampliação do conceito de cidadania. Com a federação fortalecida, algumas emendas constitucionais foram elaboradas: a décima terceira, que tornava livres todos os negros escravizados; a décima quarta, que tornava todos os cidadãos estadunidenses iguais em direitos e deveres, independentemente da vontade dos estados; a décima quinta, que garantia o direito de voto a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor ou condição social.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Leia o enunciado a seguir e, no caderno, identifique as afirmativas verdadeiras e as falsas.
No século dezenove, a Doutrina Monroe teve muita importância na orientação da política externa dos Estados Unidos. Com essa política, o governo:
- apoiou oficialmente a independência das colônias na América como fórma de expandir os territórios estadunidenses.
- optou por não apoiar os processos de restauração na Europa como fórma de garantir a estabilidade de sua independência.
- propagandeou o mito do self-made man para garantir a influência do Estado sobre os proprietários de terras no sul do país.
- direcionou a zona de influência estadunidense para a América, declarando que o continente estava sob a proteção dos Estados Unidos, e não mais dos países europeus.
- Indique no caderno a alternativa correta sobre a Guerra de Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865.
- O conflito foi o resultado de embates entre o norte e o sul do país, sendo o norte agrário e escravocrata e o sul industrializado e dependente da mão de obra livre.
- Ideias humanistas sobre os direitos à liberdade por parte de homens, mulheres e crianças negros não foram importantes no debate sobre o fim da escravidão.
- O confronto foi vencido de fórma muito rápida e eficaz pelo sul dos Estados Unidos, configurando-se uma nova nação marcada pelo trabalho livre.
- A guerra foi difícil para ambos os lados e terminou com a vitória do norte e com um projeto de reconstrução da nação estadunidense.
Aprofundando
3. Analise a imagem. Nela, é possível identificar uma personagem central, Columbia, que representa a nação estadunidense. Ela parece voar acompanhando a marcha dos colonos e da “civilização” estadunidense em direção ao oeste. Entre os símbolos dessa cultura, são representados a locomotiva a vapor, o telégrafo, a agricultura e a propriedade privada. Na pintura, há um contraste entre luz e sombra: a luz simboliza o avanço dos colonos e a sombra é identificada com as culturas nativas do continente. Os nativos representariam a “barbárie” que deveria ser vencida pelo esforço colonizador branco.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Por envolver a elaboração de um roteiro de podcast ou programa de rádio, com a possibilidade de explorar o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação e ao destacar os debates sobre as estátuas como monumentos históricos e as manifestações contemporâneas que passaram a contestar quais memórias históricas deveriam ser celebradas (ou não) por tais monumentos, a atividade 4 contribui para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 4, nº 5 e nº 7, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2, nº 5 e nº 6 e das Competências Específicas de História nº 1, nº 3, nº 4, nº 6 e nº 7.
Temas Contemporâneos Transversais
Por envolver o questionamento do direito à história como parte da luta por direitos civis e políticos, a atividade 4 mobiliza o Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos. Mobiliza, também, o Tema Contemporâneo Transversal Ciência e tecnologia, ao sugerir a produção de um podcast como fórma de apresentação dos resultados e de preceitos do pensamento computacional como método de desenvolvimento da atividade e criação do produto final.
Atividades
Organize suas ideias
1. a) ; b) V; c) ; d) V.
2. Alternativa d.
- Analisando a direção da luz no quadro, é possível afirmar que a tela representa um amanhecer ou um entardecer? Indique a direção seguida por Columbia e pelos colonos estadunidenses e sua relação com o contexto histórico representado na imagem.
- Que atividades ou elementos tecnológicos caracterizam a marcha dos colonos em direção ao oeste?
- Sabendo que havia, no período, uma associação entre luz e “civilização”, é possível dizer que Djón procurou representar a valorização de uma sociedade em detrimento de outra? Justifique sua resposta.
- No início dos anos 2020, diversas reportagens a respeito da derrubada de estátuas em diferentes países circularam pelo noticiário nacional e foram muito comentadas nas redes sociais. Os manifestantes eram contrários à preservação da memória das pessoas representadas pelas estátuas, que tinham envolvimento com o tráfico humano ou com a posse de escravizados.
Com base nessa informação, você e os colegas vão criar um podcast ou um programa de rádio para discutir a relação entre o dilema que envolve a derrubada de estátuas e as lutas da população negra nos Estados Unidos pelo reconhecimento de seus direitos.
- Junte-se a três colegas, escolham o formato e façam as seguintes tarefas:
- ouçam alguns podcasts ou programas de rádio: tomem nota das características comuns da linguagem escolhida, como a existência de um locutor, de vinhetas ou de momentos de silêncio mais ou menos longos, a nitidez na veiculação de informações, a presença de convidados, a especificação das fontes citadas e o tempo de cada episódio;
- após encontrar os padrões, criem uma lista com o que é específico de cada um dos programas selecionados. Escolham, então, as variações que vocês desejam incluir no podcast ou no programa de rádio que produzirão e ignorem aquelas que não serão utilizadas;
- Pesquisem, em jornais e revistas impressos e na internet, notícias sobre a derrubada de estátuas nos últimos anos. Entre as notícias pesquisadas, anotem as características comuns nas ações dos manifestantes e escolham duas especificidades que chamaram a atenção do grupo.
- Criem o roteiro do podcast ou do programa de rádio com base nos elementos levantados nos passos anteriores.
- Produzam um relatório explicando de modo simples como o grupo fez as tarefas propostas nos itens anteriores.
- Com base no relatório, preparem o material a ser usado na gravação do podcast ou na realização do programa de rádio.
- Gravem o podcast; apresentem o programa de rádio.
- Compartilhem com os demais colegas o relatório produzido.
- Debatam os trabalhos e leiam os relatórios produzidos pelos outros grupos. Ao final de todas as apresentações, proponham aos outros grupos maneiras de aperfeiçoar o relatório deles.
- Com base nas sugestões dos colegas e do professor, retomem o relatório produzido e façam alterações para aperfeiçoá-lo.
- Junte-se a três colegas, escolham o formato e façam as seguintes tarefas:
Respostas e comentários
Aprofundando
3. a) O quadro foi elaborado no final do século dezenove, quando ocorria a consolidação do território estadunidense. A luz concentrada no lado direito do quadro indica um amanhecer, analogia relacionada à marcha estadunidense em direção ao oeste. Trata-se de uma referência ao processo que ficou conhecido como Marcha para o Oeste. Também é possível inferir que a luz representa a civilização e, portanto, os estadunidenses brancos, enquanto a parte escura representa a “barbárie”, uma vez que ela envolve os territórios com a presença dos indígenas.
b) Entre os símbolos dessa cultura que se expande em direção ao oeste, estão a locomotiva a vapor, as linhas telegráficas, os correios (representados pela diligência do serviço ôver lénd mêil) e o trabalho na lavoura com arado de tração animal.
c) Sim. A lógica do amanhecer, associando a luz à marcha “civilizatória” dos colonos brancos, indica a valorização da sociedade estadunidense em detrimento de outras fórmas de vida e existência. Nesse caso específico, as populações indígenas são relacionadas à “barbárie” que supostamente deveria ser suplantada pela técnica e pelo progresso estadunidense.
4. Com essa atividade, que tem como base princípios do pensamento computacional, pretende-se promover um debate acerca do dilema relacionado à derrubada de estátuas. Proponha aos estudantes este questionamento: “Qual é o sentido da retirada programada ou da destruição repentina de monumentos por manifestantes que são contra a permanência de símbolos relacionados ao tráfico humano ou à posse de escravizados nos Estados Unidos?”.
Espera-se que os estudantes produzam um podcast sobre esse assunto tendo como base o texto do capítulo e uma pesquisa em outras fontes, impressas ou digitais. Como opção, eles podem realizar um programa de rádio.
Incentiva-se a realização do procedimento de decomposição para a solução de problemas. Certifique-se de que os estudantes utilizarão fontes confiáveis voltadas à história e à difusão de notícias, como as produzidas por historiadores. Para debater o tema, peça aos estudantes que busquem artigos de fontes confiáveis sobre a derrubada de estátuas como as dedicadas ao general confederado róbert E. Li (Virgínia), a djêordji uóshinton (Portland), a Thomas Jefferson (Portland), a álbert páique (uóshinton) e a Ulisses S. grént (). A pesquisa pode ser ampliada, considerando tanto os monumentos removidos por manifestantes durante protestos quanto aqueles removidos por autoridades locais após as manifestações.
Os estudantes precisarão exercitar o procedimento de reconhecimento de padrões ao analisar os podcasts ou programas de rádio. Ao produzir o roteiro, exercitarão a habilidade de abstração das informações irrelevantes para a tarefa. Além disso, produzirão instruções ou regras para solucionar o problema apresentado. Incentive-os a produzir o relatório em formato de comandos simples e concisos. Após a produção do podcast ou do programa de rádio, peça aos integrantes de cada grupo que compartilhem o resultado com a turma, que poderá fazer sugestões para aprimorá-lo. Por fim, encoraje-os a incorporar essas sugestões ao relatório final.
Glossário
- Tutela
- : proteção, defesa, guarda.
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- Agente histórico
- : aquele que atua na síntese ou na alteração da história.
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- Confederado
- : participante da união política formada pelos estados do sul dos Estados Unidos que optaram pela separação (secessão). Entre os estados confederados originais estavam a Carolina do Sul, o Alabama, o Mississípi, a Geórgia, a Flórida, o Texas e a Luisiana.
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- União
- : conjunto de estados que permaneceram atrelados ao pacto federativo e ao Poder Executivo Federal representado por Êibrarram Lincon.
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