CAPÍTULO 12 SÉCULO dezenove: IMPERIALISMO E MOVIMENTOS ANTICOLONIAIS

No século dezenove, europeus e estadunidenses produziram saberes pseudocientíficos (ou seja, falsamente científicos) para justificar a adoção de políticas de dominação territorial e cultural nos continentes africano e asiático. A imagem a seguir foi publicada por um médico e cientista estadunidense que tentou comprovar a suposta diferença entre as raças por meio do estudo de crânios.

Ilustração. Desenho da silhueta de três crânios vistos de cima. O primeiro é identificado como sendo caucasiano, tem formato largo e arredondado com o maxilar pequeno. Tem um distanciamento entre as cavidades dos olhos. O segundo, mongol, possui crânio largo e redondo, tem o maxilar grande e distância pequena entre as cavidades dos olhos. O terceiro, negro, tem o crânio oval e estreito. O maxilar é largo. Entre a cavidade dos olhos há um prolongamento da testa.
Suposta representação da parte superior do crânio de um caucasiano, de um mongol e de um negro em ilustração do livro Types of mankind, de Sêmiuel , 1854.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A partir do século dezessete, baseados em dados pseudocientíficos, estudiosos europeus procuraram dividir os seres humanos em diferentes raças, com o intuito de classificá-las e hierarquizá-las. Entre essas raças encontravam-se a caucasiana, que designava as pessoas brancas, a mongol, que englobava grupos asiáticos, e a negra, chamada por vezes de africana.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Qual dos crânios representados na imagem parece ser o maior?
  2. Em sua opinião, qual era o objetivo de sémiuel djórdje mórton ao representar essa diferença de tamanho entre os crânios?
  3. Quais foram os possíveis efeitos desse tipo de representação?
Respostas e comentários

Abertura

Com o texto e a imagem apresentados na abertura, procura-se promover uma reflexão sobre as relações entre as pseudociências e a política imperialista do século dezenove. Teses pseudocientíficas foram utilizadas naquele século para justificar políticas de dominação material, física e cultural da África e da Ásia pela Europa. A ilustração – baseada na craniometria usada para justificar supostas relações entre raça, desenvolvimento civilizacional e tamanho do crânio – apresenta medidas e resultados manipulados. Teóricos como sémiuel djórdje mórton utilizavam imagens como as da ilustração para afirmar que, quanto mais branco o ser humano fosse, mais eficiente e maior seria seu cérebro.

Atividades

1. O crânio do caucasiano, ou seja, do branco.

2. Possivelmente ele pretendia mostrar que havia crânios mais desenvolvidos e menos desenvolvidos e, assim, reunir provas de supostas diferenças raciais entre os seres humanos. Propagava-se a ideia equivocada de que as populações brancas tinham cérebros maiores e, por isso, supostamente seriam superiores aos povos não brancos.

3. A vinculação do discurso pseudocientífico à política foi um dos pilares do imperialismo, processo violento e desestruturador da África e de parte da Ásia.

Bê êne cê cê

Ao propor uma reflexão sobre a pretensa classificação hierárquica dos seres humanos em raças por meio da problematização de uma ilustração publicada em 1854, permitindo mobilizar a capacidade dos estudantes de elaborar questionamentos e hipóteses com base na análise de documentos, a abertura contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 3.

O imperialismo

Como você estudou no capítulo 9, na segunda metade do século dezenove ocorreu a Segunda Revolução Industrial. Com a ampliação da indústria e do comércio em países europeus, nos Estados Unidos e no Japão, eram necessárias novas fontes de matéria-prima e mercados consumidores para as mercadorias produzidas.

Nesse contexto de industrialização e de crescente nacionalismo, países como Reino Unido e França promoveram expedições de militares, geógrafos, engenheiros e cientistas, entre outros profissionais, em sua maioria europeus, para conhecer e investigar outros povos e lugares.

Essas equipes elaboraram mapas e relatórios ampliando o conhecimento a respeito de sociedades e lugares até então pouco explorados pelos europeus, principalmente nos continentes africano e asiático. Teve início, então, o domínio sobre territórios, bens e pessoas, e tentativas de imposição da cultura, da economia e da política da Europa nessas regiões. Esse processo, iniciado no século dezenove, é denominado neocolonialismoglossário ou imperialismo.

Os dados científicos foram manipulados e distorcidos para justificar a implementação da política imperialista. Diferentes campos da ciência foram direcionados para isso: geografia, antropologia, arqueologia e ecologia, entre outros.

Ilustração em preto e branco. Desenhos de rostos e seus respectivos crânios, identificados como pertencendo a uma pessoa grega, a uma pessoa negra e a um chimpanzé jovem. O primeiro rosto é o de um homem branco de nariz fino, queixo pequeno e cabelo ondulado. O crânio correspondente a ele é o do homem grego e é arredondado e largo com os dentes rentes ao contorno da testa. O segundo rosto é o de um homem negro que possui cabelo curto, nariz largo e lábios grossos e projetados para frente. Ao lado representação do crânio que corresponde a ele, e que é comprido e oval, com a mandíbula e o maxilar projetados para frente. O terceiro rosto é o de um chimpanzé que possui a cabeça comprida e oval, olhos pequenos, orelhas grandes e a boca projetada para frente. O crânio correspondente é arredondado, com o maxilar e a mandíbula projetados para frente.
Ilustrações do livro Types of mankind, de Sêmiuel djêordji mórton, 1854. A nomenclatura das imagens foi traduzida pelos autores para fins didáticos.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No século dezenove, a deturpação da ciência serviu para justificar a suposta superioridade racial dos europeus. Na imagem, um crânio humano representando os brancos, com fórmas consideradas superiores às de outras “raças”, foi relacionado ao deus grego Apolo. Já o crânio do negro foi comparado ao de um chimpanzé, demonstrando o racismo presente nesse tipo de teoria.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Analisar as relações entre as ideologias raciais e o determinismo biológico no contexto do imperialismo europeu no século dezenove.

Demonstrar os impactos sociais, culturais e econômicos da dominação imperialista na África, na Ásia e na América.

Caracterizar as especificidades dos projetos imperialistas na África, na Ásia e na América, levando em consideração as relações comerciais existentes séculos antes do período imperialista.

Identificar a resistência anti- -imperialista por diferentes agentes históricos, que utilizaram múltiplas táticas de ação.

Caracterizar e contextualizar aspectos das relações entre os Estados Unidos e demais países da América Latina no século dezenove e no início do século vinte.

Justificativa

Os objetivos listados são relevantes porque reforçam a percepção da história como a conexão entre espaços e tempos diversos. Aprofundam igualmente o questionamento de conceitos fundamentais para a compreensão do mundo contemporâneo, como a noção de imperialismo e ideologias racistas. Destaca-se a importância de reconhecer os sujeitos históricos que resistiram ao imperialismo, bem como a percepção da longa duração da dominação imperialista em sua conexão com os colonialismos da era moderna.

Bê êne cê cê

Ao relacionar a Segunda Revolução Industrial ao imperialismo, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

O crescimento da indústria e do comércio, vinculado às lógicas de Estado-nação e nacionalismo, impulsionou a ação dos países industrializados, no século dezenove, em busca de mercados consumidores e fontes de matéria-prima. Com objetivos econômicos delimitados, alguns países europeus iniciaram uma série de ações imperiais sobre a África, a Ásia e a América. As ciências passaram a partilhar valores imperialistas, legitimando com suposta racionalidade essas “ações civilizatórias”.

Darwinismo e darvinísmo social

Em 1859, o britânico chárlis Dárvin publicou a obra A origem das espécies, na qual propôs a teoria da seleção natural. De acordo com essa teoria, os seres que se adaptam melhor às condições do ambiente em que vivem têm mais chances de sobreviver e gerar descendentes, enquanto os seres que não se adaptam se extinguem. Ao longo do tempo, então, a população dos seres que conseguem sobreviver transmite para seus descendentes as características que facilitam a adaptação ao ambiente, garantindo a continuidade da espécie. A modificação da espécie por meio da aquisição dessas características foi denominada por Dárvin evolução.

A teoria de Dárvin não foi prontamente aceita pela sociedade da época. Para alguns cientistas e para a maior parte dos religiosos, as espécies seriam imutáveis. Outros se apropriaram das teorias de Dárvin a respeito da seleção natural e da evolução para produzir uma interpretação distorcida das sociedades humanas com base em aspectos biológicos, culturais e sociais.

De acordo com esse modelo explicativo, a espécie humana era biologicamente única, mas havia grupos em diferentes estágios civilizatórios (socioculturais): os que viviam no estágio mais primitivo (considerados selvagens), os que estavam em estágios intermediários (denominados bárbaros) e os que faziam parte do estágio considerado mais evoluído (chamados civilizados). Essa ideia de civilização tinha como parâmetro a Europa.

Segundo esse ponto de vista eurocêntrico, todos os povos poderiam progredir, passando de estágios mais primitivos aos mais avançados. Para isso, precisariam avançar nos níveis de uma escala evolutiva que os levaria ao mesmo patamar em que se encontravam os europeus. Progredir, portanto, seria se “europeizar”.

Também no século dezenove, consolidou-se a crença na existência de diferentes raças humanas. Isso explicaria as cores de pele, os tipos de cabelo, os formatos de nariz e olhos etcétera A ideia básica de raça era a de que características físicas fixas, imutáveis ou pouco mutáveis passariam de pais para filhos (ou seja, seriam hereditárias) e condicionariam a existência humana.

Tirinha em um quadro. Ilustração de três  homens de cabeça oval, nariz grande, olhos redondos e um deles tem barba cinza. Eles estão com roupas de anjo, asas e auréola, sobre nuvens. Um dos homens comenta com o outro: POBRE DARWIN, ELE NÃO CONSEGUE ENTENDER A ORIGEM DAS ASAS.
frênqui , tirinha de bóbi Teivis, 2014.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na tirinha, é representada uma interação entre Dárvin e figuras angelicais que viveriam no céu. O humor da tirinha está no fato de que a teoria da evolução defendida por Dárvin não explicaria mistérios como a vida depois da morte e as asas dos anjos.

Dica

VÍDEO

Expedições: percorra os caminhos de Darwin no Parque Estadual Serra da Tiririca

Direção: Lucas Saldanha. Brasil, 2016. Duração: 26 minutos Disponível em: https://oeds.link/VmE1w3. Acesso em: 20 abril2022.

Nesse episódio do programa Expedições, realizado pela tê vê Brasil, é abordada a época em que Dárvin esteve em solo brasileiro, no século dezenove, para realizar pesquisas científicas. Um de seus destinos foi o local correspondente ao do atual Parque Estadual da Serra da Tiririca, no estado do Rio de Janeiro, foco dessa produção.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: Darwinismo social e racismo

[LOCUTOR 2]: No final do século XIX, chegaram ao Brasil teorias europeias que afirmavam que a humanidade era dividida em raças superiores e inferiores. Algumas teses também falavam em seleção natural e dialogavam com o evolucionismo biológico de Charles Darwin: o chamado “darwinismo social”.

Qual foi o impacto da chegada do darwinismo social em um país que já praticava o racismo em sua própria estrutura social?

A professora Karoline Carula, do curso de História da Universidade Federal Fluminense, vai responder essa questão e nos ajudar a refletir mais sobre o assunto.

[VINHETA]

[LOCUTOR 2]: Por que teorias racistas foram elaboradas no final do século XIX? Qual o impacto delas na cultura do Ocidente?

[KAROLINE CARULA]: O século XIX foi o século da ciência. Nele a ciência estendeu seus tentáculos para diversos setores da sociedade, foi aqui que inúmeros aspectos, desde o mundo natural à esfera social, passaram a ser cientificamente explicados. Teorias cientificas de diversas vertentes passaram a classificar a humanidade em grupos ou raças como eram chamados. Importante ressaltar que as análises classificatórias começaram a ser desenvolvidas no Iluminismo, mas foi apenas no século XIX que elas ganharam força e grande difusão. Essa classificação era hierarquizante e colocava determinados grupos como superiores aos outros. Ou seja, uma parcela da humanidade era considerada racialmente inferior a outra. O impacto dessas teorias racistas na cultura ocidental foi extremamente grande na medida em que elas trouxeram argumentos científicos para a delimitação de uma hierarquia racial na sociedade. Isso, no caso de sociedades onde a escravidão africana esteve presente de maneira basilar, propiciou a difusão de um discurso que pretendia estabelecer os lugares sociais nos quais os indivíduos deveriam ser introduzidos.

[LOCUTOR 2]: As teses originárias do darwinismo social eram muito lidas no Brasil naquela época? Quem eram seus leitores? Como eles recebiam essas ideias? Elas foram adaptadas? Outras teorias foram criadas aqui?

[KAROLINE CARULA]: Assim como em outros países ocidentais, as teses originárias do darwinismo chegaram e tiveram repercussão no Brasil. O darwinismo, compreendido como uma teoria moderna, foi lido, apropriado e ressignificado por uma parcela de letrados na sociedade brasileira – médicos, jornalistas, literatos dentre outros que poderíamos considerar como intelectuais.

A leitura da teoria de Darwin era feita por filtros. Esses sujeitos, que difundiram o darwinismo no Brasil, mesclavam ao darwinismo princípios de outros evolucionistas, como Dirac, Lamarck e Spencer. Ocorreu uma apropriação do darwinismo, muitas vezes para justificar questões de cunho social. Nesse sentido, importante destacar, que muitos desses intelectuais não liam diretamente a obra da Darwin, mas sim comentadores e divulgadores do darwinismo. Essas teses originárias do darwinismo, como o darwinismo social e seus desdobramentos, eram discutidas em espaços institucionais, como nas faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, nas faculdades de Direito do Recife, de São Paulo, no Museu Nacional, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e também em espaços públicos, como na imprensa e em conferências e cursos públicos. Por exemplo, a Conferência Pública sobre o Darwinismo, feita pelo médico Augusto César de Miranda Azevedo, no Rio de Janeiro em 1875, gerou grande polêmica na imprensa. A polêmica girou fundamentalmente em torno do jornal católico chamado O apóstolo, que se manifestou de modo hostil, explicitando sua oposição à teoria de Darwin. Contudo, boa parte da imprensa considerou importante a divulgação da teoria na sociedade brasileira, ou seja, a recepção do darwinismo não se deu de maneira igual e pacífica. No caso da conferência do Miranda Azevedo, uma das aplicações da teoria darwinista na sociedade apontada por Miranda Azevedo estava relacionada à seleção do serviço militar, pois, na visão desse médico, essa seleção do serviço militar retirava os homens sadios da sociedade e deixava os defeituosos para procriarem.

[LOCUTOR 2]: Qual a diferença entre o racismo surgido no fim do século XIX e a ideologia que fundamentou a escravidão nos séculos anteriores?

[KAROLINE CARULA]: No século XIX, sobretudo no final do século, a justificativa do racismo fundamentava-se em argumentos de caráter científico. O discurso científico era empregado para classificar de modo hierárquico os seres humanos. Quando pensamos nos séculos anteriores não temos a presença dessa argumentação fundamentada na fala da ciência. Nesse sentido, ao pensarmos a fundamentação ideológica da escravidão, não temos apenas uma explicação, mas sim várias. Por exemplo, uma justificativa muito importante largamente empregada estava pautada no caráter cristão, pois aqueles africanos seriam retirados do mundo pagão e inseridos no mundo cristão, no caso do Brasil, no mundo cristão católico. Porém o que é importante demarcar é que em nenhuma dessas explicações anteriores ao século XIX havia uma fundamentação racializada em termos científicos.

[LOCUTOR 2]: A época da chegada dessas teorias é também o período em que despontaram os primeiros escritores e líderes políticos negros no Brasil. Como eles se relacionavam com o racismo presente nas culturas brasileira e europeia?

[KAROLINE CARULA]: Com relação a escritores e líderes negros, podemos mencionar, por exemplo, Machado de Assis – mulato, literato, homem de imprensa, cuja obra é considerada um marco na literatura brasileira. Machado, apesar do que muitos afirmam, foi crítico a várias questões raciais que pautavam o mundo de sua época: escravismo, darwinismo social, preconceito racial etc. Quando ele trabalhou como funcionário do Ministério da Agricultura, lá ele atuou de diversas maneiras em prol da libertação dos escravos.

Outro que podemos citar é Luís Gama, que também combateu o racismo e a escravidão. Filho de uma africana livre e um fidalgo de origem portuguesa, ele foi vendido como escravo pelo próprio pai após sua falência. Conseguiu comprar sua liberdade e se tornou um eminente rábula. Rábula era como era chamado um advogado autodidata. E, atuando dessa maneira como advogado autodidata, ele conseguiu a liberdade de mais de 500 escravos.

Podemos também mencionar José do Patrocínio, que foi uma importante figura do movimento abolicionista. Patrocínio era filho de um cônego com uma quitandeira liberta. Quando de seu casamento com uma jovem branca, recebeu críticas feitas por meio da imprensa referentes ao casamento inter-racial. Ele rebateu as críticas no jornal A gazeta da tarde, que era um jornal de cunho abolicionista que ele era diretor em 1881.

Outra figura importante foi André Rebouças, filho do conselheiro de estado Antônio Rebouças, que era – o pai de André Rebouças – filho de uma escrava alforriada. André Rebouças era engenheiro de formação e foi vítima de vários preconceitos raciais. Engajado no movimento abolicionista, Rebouças, juntamente com Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. No início da década de 1880, viajou pela Europa a fim de dar continuidade à campanha abolicionista e de conectá-la ao movimento abolicionista internacional.

Por fim, já mais no início do século XX, merece destaque a figura de Lima Barreto. Também mulato, jornalista e escritor, ele criticou a condição precária a qual foram relegados os negros no pós-abolição. Em algumas de suas produções literárias, ele atacou os argumentos científicos racistas amplamente difundidos na sociedade daquele momento.

Então, temos aí uma lista de importantes escritores, literatos e outros que nos mostram a atuação desses negros dentro dessa sociedade.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar como as teorias raciais e o darvinísmo social foram utilizados para justificar a expansão imperialista nos continentes africano e asiático, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 1.

A origem das espécies trata do surgimento e do desenvolvimento dos seres vivos e de sua dispersão pelo planeta. Com a teoria da evolução por meio da seleção natural, chárlis Dárvin provou que as espécies se adaptavam ao ambiente e que os indivíduos mais aptos apresentavam melhores condições de sobrevivência. A lógica da sobrevivência natural e biológica foi transposta – por Arthur de Gobineau e rérbert Spencer, entre outros – para as teorias sociais, amplamente difundidas naquele período, que constituíam o chamado darvinísmo social. As reflexões sobre raça e diversidade humana eram mobilizadas para justificar as desigualdades sociais da época; por isso, o darvinísmo social foi empregado nos discursos racistas e imperialistas.

Ampliando

O trecho a seguir comenta a relação entre o darvinísmo social e o evolucionismo, no contexto geopolítico de ascensão do imperialismo.

“Essa corrente intelectual [darvinísmo social] é composta por autores variados que produziram trabalhos de análise social e política influenciada pelo evolucionismo entre a segunda metade do século dezenove e o início do século vinte como rérbert Ispêncer, Arnst Haycól, tchézare Lombroso, uíliam grêirram sâmner e Djón , entre outros. Além dessa grande diversidade de atores individuais que são considerados expoentes dessa corrente de ideias, vale lembrar que, do ponto de vista das ideologias políticas, o darvinísmo Social apresentou uma gama variada de possibilidades de apropriação e foi usado para defender uma série de concepções políticas que travavam conflito no final do século dezenove e início do século vinte, como o laissez-faire do capitalismo liberal, o nacionalismo imperialista, a eugenia e mesmo políticas progressistas de reforma social.”

COSCIONI, F. J. O darvinísmo social na geografia humana do início do século vinte: o caso da obra Influences of Geographic Environment, de Ellen sempôu. : Espaço e Tempo, São Paulo, volume 22, número 2, página 350-351, 2018.

Teorias como essa não são mais aceitas, pois se provou pela biologia e por outras ciências que as variações genéticas entre os seres humanos com características físicas semelhantes e entre pessoas com características físicas diversas são muito pequenas. Portanto, não existem raças humanas, mas apenas variações físicas.

Houve, ainda, teorias mais preconceituosas. Arthur de gobinô e Herbert Spencer, por exemplo, adaptaram a lógica da sobrevivência dos mais aptos para as teorias sociais e propuseram o chamado darvinísmo social, que foi amplamente difundido. De acordo com os defensores dessa ideia, os brancos fariam parte da raça superior. Abaixo deles estariam, nesta ordem, os amarelos, os indígenas e os negros. Para muitos darvinístas sociais, os indígenas e os negros seriam incivilizáveis.

Nesse discurso, a ideia de raça se misturava à de cultura. Portanto, uma cultura superior só seria possível a raças puras, e a única que os darvinístas sociais consideravam pura era a branca. Eles divulgavam a ideia de que, quanto mais misturas raciais houvesse, mais danos haveria à cultura superior e à civilização. Pior do que as raças inferiores puras, portanto, seria a mistura das raças, que poderia levar ao que era chamado de degeneração, ou seja, o processo pelo qual a raça mais desenvolvida se tornaria menos evoluída.

Embora diferentes, essas teorias tinham o racismo como base. Apesar de condenar as misturas raciais, porém, os defensores dessas teorias afirmavam que as nações civilizadas deviam estar presentes entre as menos civilizadas para tutorá-las.

Fortaleceu-se, dessa fórma, um discurso em defesa da ideia de que levar a civilização para africanos e asiáticos, por exemplo, seria uma obrigação moral dos europeus, responsáveis por civilizar povos que eles consideravam atrasados. Defendia-se também a ideia de que as raças que os europeus consideravam inferiores deviam ser eliminadas ou dominadas em benefício das superiores.

Ilustração. Vista de local aberto, com dois grupos ocupando lados opostos da imagem, separados pelo mar. À esquerda homens brancos, vestindo uniformes e empunhando armas. À frente deles há uma alegoria feminina, com cabelo loiro longo, vestindo uma túnica branca e um capacete, que ergue uma bandeira com o escrito CIVILIZAÇÃO. À frente deles, à direita, homens negros, sem camisa, descalços e segurando lanças. Um deles carrega uma bandeira com a palavra BARBÁRIE. Alguns deles estão caídos no chão. Ao fundo, o mar. No alto, céu de alvorada.
Do Cabo ao Cairo, ilustração de Udo Keppler, 1902.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa imagem, o cartunista estadunidense reproduziu a ideia racista de superioridade dos brancos ao representá-los do lado esquerdo, vestidos, calçados e munidos de armas de fogo, levando a bandeira da civilização, e ao desenhar os negros despidos, usando lanças e carregando a bandeira da barbárie.

Dica

LIVRO

Quem foi chárlis Dárvin?, de Deborah Hopkinson. São Paulo: DCL, 2009.

Nessa biografia, a autora narra a vida do cientista desde a infância até a idade adulta. Além disso, ela comenta as primeiras viagens de observação e exploração da natureza feitas por Dárvin, principalmente as realizadas a bordo do navio agá ême éssebígou, seu método de pesquisa e o lançamento de suas hipóteses e teorias.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as teorias racistas que foram utilizadas pelos europeus como justificativa para seus projetos imperialistas na África e na Ásia, o conteúdo contribui com o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois três.

Interdisciplinaridade

A ilustração de Udo Keppler, produzida em 1902, pode ser explorada para promover uma reflexão sobre o emprego das artes visuais na propaganda imperialista. Ao explorar a imagem, contribui-se para o desenvolvimento das habilidades de arte ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” e ê éfe seis nove á érre zero quatro – “Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, fórma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etcétera) na apreciação de diferentes produções artísticas”.

Exercitando a análise da imagem, pergunte aos estudantes: “Quais são os atributos dos europeus e dos povos subjugados apresentados na cena?”; “Como eles estão posicionados e como parece incidir a luz sobre eles?”; “Que atributos relacionados ao trabalho se apresentam como civilizados?”.

Imperialismo na África

Desde o século quinze, os europeus estabeleceram diferentes fórmas de domínio e de interação com líderes de diversas regiões da África. No entanto, a presença no continente se intensificou a partir da década de 1870, quando teve início a corrida imperialista, que, como você estudou, aliava industrialização, racismo e disputas por mercados e matérias-primas entre as potências europeias.

Em 1876, essas potências fundaram a Associação Internacional Africana (), com a finalidade de, teoricamente, ajudar os africanos do centro do continente. A contava com comissões nacionais de vários países-membros e era presidida pelo rei belga Leopoldo segundo. A Bélgica fundou instituições como o Comitê de Estudos do Alto-Congo, em 1878, para explorar comercialmente esse território, e competia com outros países europeus, como França e Portugal, pelo domínio da região.

A França foi o primeiro país europeu a propor um acordo a líderes locais do Congo, em 1880, por meio de seu representante Piérr. Com auxílio de intérpretes e habitantes locais, brazá convenceu o chefe do povo batêque, ilô macôco, a transformar seus domínios em um protetoradoglossário da França. Acreditando na promessa de obter vantagens, macôco assinou o acordo, conhecido como Tratado brazá-macôco.

Fotografia em sépia. Em um local a céu aberto, há dezenas de presas de elefante espalhados pelo chão de terra. Ao fundo, alinhados lado a lado, homens brancos de chapéu e roupa social observam a cena. Entre eles há duas pessoas negras com roupas mais simples observando a cena também. No canto à direita, várias pessoas negras estão lado a lado observando as presas. Ao fundo, casa com cobertura de palha.
Exploradores belgas no Congo e moradores do local com presas de elefante utilizadas para a obtenção do marfim. Foto de 1900.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a exploração e o comércio de marfim e de borracha no Congo e associá-los à violência infligida à população local, contribui-se para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois quatro. Considerando a longa duração da exploração dos recursos naturais e o posicionamento da África no contexto capitalista do século dezenove e atualmente, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 1.

Proponha aos estudantes as seguintes questões: “Quais são as consequências das relações econômicas entre as regiões periféricas do capitalismo (África, Ásia e parte da América) e seu centro (Europa e América do Norte)?”; “Há relação entre a situação da África hoje e esse passado?”. Tais questões promovem conexões entre passado e presente.

Curadoria

Por uma revolução africana: textos políticos (Livro)

frâns fánôn. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2021.

Os escritos reunidos nessa obra tratam do contexto histórico do final dos anos 1950 e do início da década de 1960. Alguns deles foram publicados no jornal da Frente de Libertação Nacional da Argélia. Os textos fornecem um excelente panorama das críticas construídas pelos movimentos anticoloniais, que foram fundamentais para o enfraquecimento do imperialismo.

No mesmo período, o rei Leopoldo segundo enviou como representante o jornalista e aventureiro britânico rênei mórton istânlei à região, a fim de garantir o domínio do território para a Associação Internacional do Congo, instituição criada em 1879 para substituir o Comitê de Estudos do Alto-Congo. Por meio dessa instituição, a Bélgica conseguiu administrar parte do Congo como uma espécie de colônia privada, explorando primeiro o marfim e, depois, a borracha. istânlei usou meios cruéis para dominar os congoleses, castigando, mutilando e assassinando os que não atingissem as metas estipuladas de produção. As tentativas de resistência eram duramente reprimidas.

Para impedir o monopólio de um país sobre importantes regiões da África e evitar conflitos armados na corrida imperialista, as potências da época negociaram tratados diplomáticos no final do século dezenove e no início do século vinte. Um deles foi assinado entre 1884 e 1885, na Conferência de Berlim, promovida pelo chanceler alemão Otto von Bismarck, que contou com a participação de diversos países europeus, de representantes do Império Otomano e dos Estados Unidos. As principais preocupações desses países eram garantir a liberdade de comércio na bacia do Rio Congo e de navegação nos rios Congo e Níger e estabelecer critérios para legitimar as futuras anexações do território africano pelas potências capitalistas.

Esse tratado e uma série de outros acordos firmados até o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, resultaram na chamada partilha da África, que foi a divisão do continente de forma arbitráriaglossário pelas potências capitalistas, modificando as fronteiras africanas segundo os interesses imperialistas.

Países com mais poder político, como Reino Unido e França, foram privilegiados nesses acordos, pois assumiram a administração ou o direito de influenciar vastas regiões da África. Em contrapartida, a Itália e a Alemanha, países recém-unificados, não se sentiram beneficiadas, ficando com territórios menores e menos rentáveis economicamente.

Pintura. Interior de um grande salão com piso coberto por tapetes vermelhos, paredes azul-claro, teto alto, com detalhes dourados nas paredes e grandes janelas verticais ao fundo. Dezenas de homens estão reunidos no salão, alguns sentados ao redor uma grande mesa, outros em pé conversando. Eles vestem roupas escuras. À frente, dois senhores, um calvo e um de bigode branco, se cumprimentam. Um deles veste um paletó com várias medalhas penduradas. Alguns homens no salão observam a cena.
Congresso de Berlim, 13 de julho de 1878, pintura de Ânton fon Vérnar, 1881.
Respostas e comentários

Se possível, apresente aos estudantes um mapa-múndi contemporâneo e proponha-lhes que comparem a divisão política da África com a de outros continentes, nos quais prevalecem as demarcações por elementos naturais (rios, cadeias de montanhas etcétera). A África herdou fronteiras artificiais estabelecidas pelas políticas imperiais.

Atividade complementar

A expansão imperialista se sustentava em uma ideia de civilização segundo a qual certas culturas nacionais – as da Europa dita ocidental – eram consideradas o ponto alto de um processo civilizatório milenar. A difusão dessa ideia ganhou fôrça no século dezenove e no início do século vinte, no contexto do imperialismo. Com base nela, exploradores e cientistas de várias áreas passaram a catalogar vegetais, animais, objetos etcétera

As coleções dos museus de história e de ciências europeus e estadunidenses – principalmente, mas também de outras partes – estão repletas de objetos deslocados de regiões como o Egito, o Oriente Médio e o “Crescente Fértil” (Turquia, Irã, Iraque etcétera), a África subsaariana, a China, a Indochina (Vietnã, Laos e Camboja) e a Índia, a Grécia, o México e o Peru, além de outros lugares onde se desenvolveram culturas humanas consideradas pelos europeus como “exóticas” e em estágios “primitivos” de civilização, como as dos ameríndios da América do Sul.

Discuta com os estudantes a apropriação dos bens culturais por esses museus, promovendo um debate sobre a justiça e a necessidade da restituição desses bens aos lugares de origem ou de fórmas de partilha mais equânimes do conhecimento humano por diferentes instituições culturais e países.

A atividade pode contribuir para discutir com os estudantes o funcionamento da narrativa perversa do imperialismo, que atribui aos territórios dominados a incapacidade de ter e de gerir a própria memória. Desde os anos 1960, acompanhando os questionamentos pós-coloniais, propõe-se o debate sobre a devolução desses acervos constituídos pela Europa em um contexto violento de expropriação.

Dominação e resistência

A divisão arbitrária do continente africano causou uma série de problemas internos e disputas locais. Com o estabelecimento de fronteiras traçadas sem respeito à diversidade étnico-cultural das populações locais e as divergências entre elas, os conflitos armados entre os diferentes povos africanos aumentaram significativamente. Esses conflitos foram, em muitos casos, estimulados pelos europeus, que pretendiam ampliar seus domínios. Eles utilizaram a tática de “dividir para dominar”, que impedia a união dos africanos contra os invasores.

Para conquistar os territórios africanos, os europeus utilizaram diferentes lógicas e estratégias: em muitos casos usaram a fôrça para anexar formalmente os territórios invadidos, transformando-os em colônias; em outros, criaram fórmas de dependência econômica, estabelecendo áreas de influência e protetorados. Nas colônias, a administração era realizada diretamente pelos colonizadores, com perda total de soberania local. Já nos protetorados, a administração ocorria em aliança com a elite local.

Muitos povos africanos resistiram à dominação europeia. Um deles foi o Axânti, que vivia na Costa do Ouro (atual Gana). No final do século dezenove, os chefes tradicionais desse povo foram depostos pelos britânicos, que tentaram impor novos líderes e cobrar pesadas indenizações por revoltas anteriores. A rainha não aceitou essa situação. A partir de 1890, ela liderou um poderoso exército com a participação maciça de mulheres. Com esse exército, os Axânti travaram violentas batalhas contra os britânicos, mas acabaram derrotados em 1900. Esse evento ficou conhecido como Rebelião Axânti.

Outro exemplo de resistência foi a Rebelião máji máji, ocorrida na África Oriental Alemã (atual Tanzânia), entre 1905 e 1907. Essa revolta, comandada por líderes do povo ingôni, reuniu diversas etnias africanas contra os colonizadores alemães. Os participantes da rebelião se recusaram a aceitar a tomada de suas terras, a imposição do cristianismo e o trabalho forçado nas plantações de algodão, sendo violentamente reprimidos pelas autoridades alemãs.

Ilustração. Boneca negra com olhos grandes e rosto arredondado. Tem cabelos pretos, compridos e crespos. Usa um lenço amarelo com estampa geométrica em tons de verde e de vermelho ao redor da cabeça, formando um laço. Veste um macacão nas mesmas cores do lenço.
Ilustração atual representando uma boneca inspirada na rainha Iá Assentauá.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A rainha Iá Assentauá tornou-se símbolo da resistência africana contra o Império Britânico e também da fôrça feminina negra. Bonecas como a da imagem são feitas para homenagear a rainha e valorizar a fôrça das mulheres negras.

Os vestígios materiais da guerra liderada pela rai- nha Iá Assentauá contra o Império Britânico fazem parte da memória da etnia Axânti e da memória nacional de Gana. No ano 2000, foi fundado o Museu Iá Assentauá, em homenagem a ela, para lembrar a resistência do povo Axânti contra as potências imperialistas.

Fotografia. Em local a céu aberto, destaque para uma escultura do busto de uma mulher sem cabelos, com o rosto comprido, olhos pequenos e queixo quadrado. Sobre os ombos, um manto vermelho. A escultura está apoiada sobre uma base retangular azulejada. Ao fundo, uma casa grande com telhado inacabado e com plantas na frente. No alto, céu cinza.
Busto de Iá Assentauá, em frente ao museu a ela dedicado em êjisú, na região Axânti, em Gana. Foto de 2016.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a conquista dos territórios africanos por europeus e a resistência do povo ashanti, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois seis. Ao abordar impactos das ações imperialistas no continente africano, o conteúdo mobiliza a Competência Específica de História nº 1.

Ampliando

Iá Assentauá pertencia ao poderoso clã de êjisú, no antigo Império Axânti. Leia, a seguir, mais fatos sobre a vida dela.

reticências [Iá Assentauá] liderou um exército contra o estabelecimento dos britânicos na Costa do Ouro no período de ocupação colonial (1900-1901). Nasceu em Besease, e, junto com o irmão cuêzi, eram os únicos filhos de nãna áta pú (mãe) e nãna cuêcu ampôma (pai). Pelo lado materno, fazia parte do clã real de êjisú. reticências.

Iá Assentauá era proprietária de uma grande e bem-sucedida fazenda em boâncra especializada em produzir cebola e amendoim. reticências

Quando, após a conquista britânica, seu neto, côfi têne, que reinava com o nome de cuêzi afrâne segundo, foi derrubado e levado para uma prisão em Serra Leoa, ela, na qualidade de guardiã e protetora do ‘trono de ouro’, o mais importante símbolo da monarquia Axânti, reuniu-se com a assembleia dos chefes e organizou uma resistência armada. A guerra ocorreu [a partir] de abril de 1900 e durou sete meses, mas o episódio só se encerrou em março de 1901, quando ela foi efetivamente presa reticências.”

Iá Assentauá (cêrca de 1830–1921). Biografias de mulheres africanas (nêábi/u éfe érre gê ésse). Disponível em: https://oeds.link/X0oAz8. Acesso em: 7 julho 2022.

Curadoria

Poderosas rainhas africanas (Livro)

Mariana Bracks Fonseca. Belo Horizonte: Ancestre, 2021.

A história de Iá Assentauá é uma das que compõem o livro da professora de História da África da Universidade Federal de Sergipe (u éfe ésse) Mariana Bracks Fonseca. A obra é resultado das pesquisas da autora sobre o papel das mulheres nos processos históricos no continente africano, com ênfase nos espaços de poder, e apresenta a biografia de mulheres africanas poderosas, muitas vezes pouco conhecidas no Brasil, analisando suas trajetórias e estratégias de ação política e de resistência em diferentes locais e períodos.

A dominação do Egito

A disputa colonial acirrou ainda mais a rivalidade entre os países europeus. O Egito, por exemplo, foi disputado por França e Reino Unido até 1869, quando terminou a construção do Canal de Suez. Para concluir a obra, que ligou o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, o país obteve financiamento do Reino Unido, tornando-se área de influência dos britânicos. Em 1882, para sufocar revoltas nacionalistas, os britânicos invadiram o Egito, transformando-o em um protetorado.

Fotografia. Imagem de um sarcófago, estrutura vertical que tem o contorno do corpo humano. A tampa tem o rosto de um egípcio de cabelo comprido e olhos grandes pintados e, na parte da tampa que corresponde ao corpo, pinturas em camadas bem definidas. Há inscrições na parte interna do sarcófago.
Sarcófago egípcio de cêrca de 700 antes de Cristo, no Museu Britânico, em Londres, Reino Unido. Foto de 2019. As potências europeias se apossaram de vários objetos egípcios de alto valor cultural e com eles formaram acervos de museus como o Britânico.

O domínio estrangeiro na África – 1885-1913

Mapa. O domínio estrangeiro na África, 1885 a 1913. Mapa representando as áreas de domínio europeu na África. Legenda: Rosa: Reino Unido. Verde-claro: França. Verde-escuro: Alemanha. Vermelho: Itália. Laranja: Bélgica. Roxo: Portugal. Amarelo: Espanha. Hachurado rosa: Domínio conjunto anglo-egípcio. Cinza: Territórios não colonizados. No mapa, estão indicados os seguintes domínios: Reino Unido: Egito, Nigéria, Costa do Ouro, Fernando Pó (Bioko), Serra Leoa, Gâmbia, Somália Britânica, África Oriental Britânica, Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Suazilândia, Basutolândia, Niassalândia, União da África do Sul, Bechuanalândia e Zanzibar. França: Marrocos, Tunísia, Argélia, África Ocidental Francesa, África Equatorial Francesa, Madagascar e Somália Francesa. Alemanha: Camarões, Sudoeste Africano Alemão, África Oriental Alemã e Togo. Itália: Líbia, Eritreia e Somália Italiana. Bélgica: Congo Belga. Portugal: Angola, Moçambique, Guiné Portuguesa e Cabinda. Espanha: Saara Espanhol, Marrocos Espanhol e Guiné Espanhola. Domínio conjunto anglo-egípcio: Sudão Anglo-egípcio. Territórios não colonizados: Etiópia e Libéria. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 710 quilômetros.

FONTE: ernândes, L. L. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. página 68.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa e responda: que elementos representados nele sugerem que o continente foi demarcado por potências europeias? Essa demarcação respeitou as diferenças étnicas e culturais dos povos africanos? Explique.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique de que modo o imperialismo está relacionado à Segunda Revolução Industrial.
  2. O que foi a AIA?
  3. Os povos africanos resistiram à dominação europeia. Essa afirmação está correta? Justifique.
Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço”: O território africano foi demarcado de acordo com os interesses das potências europeias, sem respeitar as numerosas diferenças étnico-culturais do continente. O poder político dos europeus se sobrepôs e determinou não só o tamanho das partes destinadas a cada país, como também a localização das fronteiras.

Orientação para as atividades

Relembre com os estudantes o conteúdo estudado sobre a Segunda Revolução Industrial ao propor a atividade 1 do boxe “Agora é com você!”. Além disso, peça-lhes que releiam o conteúdo relacionado às atividades 2 e 3. É possível ir além do que é proposto nas atividades e relacionar os conteúdos históricos do imperialismo à situação contemporânea na África, bem como aos processos migratórios de habitantes desse continente para as antigas metrópoles.

Agora é com você!

1. Na segunda metade do século dezenove, a industrialização foi ampliada do Reino Unido para outros países europeus, Estados Unidos e Japão. Com o amplo crescimento da indústria e do comércio, as potências industriais passaram a buscar novas fontes de matéria-prima e novos mercados consumidores na Ásia, na África e na América. O desenvolvimento científico que acompanhou a Segunda Revolução Industrial, estudado em capítulos anteriores, teve papel importante na justificativa das ações imperialistas.

2. A Associação Internacional Africana () foi fundada em 1876 por países europeus com o suposto objetivo de auxiliar os africanos do centro do continente, mas, na prática, funcionava como um instrumento de exploração e partilha do território pelas potências imperialistas.

3. Sim. Um dos exemplos de resistência foi o dos ashanti, que, a partir de 1890, liderados pela rainha Iá Assentauá e com a participação maciça de mulheres, travaram batalhas contra os britânicos, que tentavam impor líderes ao povo africano e cobrar pesadas indenizações. Os ashanti, porém, acabaram derrotados em 1900. Esse evento ficou conhecido como Rebelião Ashanti. Outro exemplo foi a Rebelião máji máji, ocorrida na África Oriental Alemã (atual Tanzânia), entre 1905 e 1907. Essa revolta, comandada por líderes do povo ngoni, reuniu diversas etnias africanas contra os colonizadores alemães. Os participantes da rebelião recusaram-se a aceitar a tomada de suas terras, a imposição do cristianismo e o trabalho forçado nas plantações de algodão, mas foram violentamente reprimidos pelas autoridades alemãs.

Imperialismo na Ásia

No fim do século dezoito, o interesse dos europeus pelo continente asiático já era antigo. Desde o final do século quinze, eles exploraram, por exemplo, produtos da Índia, como especiarias, seda e madeira.

Naquele período, os portugueses se apossaram de territórios indianos, como Goa, Damão e Diu, e de outras regiões da Ásia, como Macau, na China, e parte do Timor, na Indonésia. Os espanhóis, por sua vez, tomaram o território correspondente ao das atuais Filipinas, enquanto os holandeses se concentraram em Java e Sumatra, na Indonésia.

O caso da Índia

A partir das últimas décadas do século dezoito, com a corrida imperialista, o interesse dos europeus pelo continente asiático aumentou. Naquela época, a então Grã-Bretanha exercia forte influência sobre a Índia. Por meio da atuação da Companhia das Índias Orientais, os britânicos firmaram acordos com integrantes da elite local, interferindo nas leis e na cobrança de impostos e subjugandoglossário povos e regiões inteiras.

O imperialismo na Ásia – século dezenove

Mapa. O imperialismo na Ásia, século 19. Mapa representando as áreas de domínio europeu na Ásia. Legenda: Potências dominadoras Rosa: Reino Unido. Amarelo: França. Laranja: Alemanha. Roxo: Holanda. Verde: Portugal. Vermelho: Japão. No mapa, estão indicados os seguintes domínios: Reino Unido: Nova Zelândia, Tasmânia, Austrália, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, Ilhas Gilbert, Sarawak, Cingapura, Índia, Birmânia, Ceilão, Áden (na península arábica), Socotora, Hong Kong e Wai-Hai-wei (na China). França: Nova Caledônia, Novas Hébridas, Kuang-Tcheu na China e Mahé, Yanaon, Pondicherry e Karikal na Índia. Alemanha: Nova Guiné e Kiaut-Cheu (na China). Holanda: Sumatra, Bornéu, Índias Holandesas, Java e Célebes. Portugal: Diu e Damão na Índia, Goa, Macau na China e Timor. Japão: Coreia, Porto Artur (na China), parte de Sacalina, Formosa, Porto Artur. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.210 quilômetros.

FONTE: párquer, G. Atlas Verbo de história universal. Lisboa: Verbo, 1997. página 113.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a repercussão das ações imperialistas e a resistência de habitantes da China e da Índia, no século dezenove e vinte, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois seis.

Ampliando

No texto a seguir, Danilo Freire Duarte trata da Guerra do Ópio e dos problemas causados pela droga.

“A chamada guerra do ópio, ocorrida na primeira metade do século dezenove, motivou a conscientização, pelo menos nas classes mais esclarecidas, dos problemas gerados pelo abuso dessa droga. O hábito de fumar ópio foi introduzido na China no século dezessete. Contudo, somente na segunda metade do século dezoito a importação do ópio pela China foi expandida, inicialmente pelos portugueses, depois pelos franceses e finalmente pelos ingleses, quando a quantidade importada por esse país foi estimada em .10000 toneladas, movimentando ..20000000 de libras esterlinas. Obviamente, o hábito de fumar ópio foi estimulado, de fórma inescrupulosa, pelos interessados num comércio tão compensador. Era natural, no entanto, que o Governo Chinês se preocupasse com os efeitos resultantes dessa importação exagerada, fato que culminou com o edito publicado em 1800, que proibia a importação de ópio.

Como parte do contrôle proposto, foi destruído um depósito de ópio pertencente à Companhia das Índias Ocidentais. Esse ato precipitou a ‘guerra do ópio’ entre a Inglaterra e a China, sendo esta última derrotada. Com a celebração do Tratado de Nanquim, Róng Kóng foi cedido à Inglaterra e alguns portos foram abertos ao comércio europeu e norte-americano. Em 1858, ainda como consequência do Tratado de Nanquim, o comércio do ópio foi legalmente admitido.

O incentivo ao uso do ópio na China por parte do Governo Inglês provocou reações na própria Inglaterra, onde foi criada a Society for the Suppresion of Opium Trade, sob a Presidência do Conde Cháfisburi. Essa sociedade promoveu várias reuniões com o objetivo de protestar contra o incentivo ao perigoso hábito de fumar ópio. reticências

DUARTE, D. F. Uma breve história do ópio e dos opioides. Revista Brasileira de Anestesiologia, Rio de Janeiro, volume55, número 1, página 138-139, fevereiro 2005.

Curadoria

Cultura e imperialismo (Livro)

éduard W. saíd. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Alternativa às leituras materialistas clássicas sobre o imperialismo, essa obra do intelectual palestino éduard W. saíd, leitor de frâns fánôn e Michél Fucô, reúne doze ensaios sobre os conceitos de imperialismo, orientalismo, cultura e análise literária de autores como quíplin.

Em meados do século dezenove, com a redução das tarifas alfandegárias e a concorrência dos produtos britânicos, o setor têxtil indiano foi arruinado. Isso aconteceu porque a produção local de tecidos era artesanal, e os indianos não conseguiam vender as mercadorias por um preço mais baixo que o das importadas do Reino Unido.

O domínio britânico causou indignação na população. Diante disso, soldados indianos se uniram a outros grupos descontentes e, entre 1857 e 1859, promoveram a Revolta dos . O movimento foi violentamente reprimido pelo Império Britânico, que tomou o contrôle político da região e depois a incorporou a seu território.

O caso da China

A China também foi alvo da corrida imperialista no século dezenove. O Reino Unido importava dos chineses produtos como porcelana, chá e seda, que eram muito valorizados na Europa.

Os produtos britânicos, por sua vez, enfrentavam forte barreira comercial para entrar na China. Com a justificativa de abrandar as perdas com a exportação de suas mercadorias, o Império Britânico determinou a venda do ópio na China. Esse produto era uma droga viciante e proibida pelo Estado chinês.

O aumento no número de dependentes dessa droga causou vários problemas sociais e econômicos na China. Diante disso, o governo tentou aumentar as restrições ao comércio e ao uso do ópio. Com essas medidas, foram reduzidos os lucros do Reino Unido, que iniciou, em 1839, a chamada Primeira Guerra do Ópio. Com a vitória britânica em 1842, a China assinou o Tratado de Nanquim, por meio do qual teve de concordar com a abertura de cinco portos chineses ao livre-comércio e ceder aos britânicos a ilha de Róng Kóng.

Os chineses continuaram tentando controlar o comércio exterior e frear o consumo de ópio, que continuava a causar problemas no país. Essa situação gerou a Segunda Guerra do Ópio, ocorrida entre 1856 e 1860, na qual a China foi novamente derrotada pelos britânicos.

Em 1900, os integrantes de um grupo nacionalista, que era conhecido pelos britânicos como boxers, passou a cometer uma série de atentados contra estrangeiros, iniciando a Rebelião dos Boxers. Para combatê-los foi formada uma aliança internacional entre europeus, estadunidenses e japoneses. Mesmo com o apoio do governo chinês, os boxers foram derrotados, em 1901.

Charge. Ilustração de uma cena em que, ao centro, há uma pizza grande, em formato circular, de cor bege, com fatias delineadas onde está escrito em francês: CHINA. Apoiados com mãos e cotovelos sobre a pizza, quatro pessoas representando seus respectivos países. Da esquerda para à direita: uma mulher com rugas, cabelos brancos, véu branco preso nos cabelos, pulseiras douradas, colar e coroa na mesma cor segurando uma faca na mão direita, apontada para cima. Ela dirige um olhar tenso para o homem ao seu lado, que usa capacete preto com detalhes em dourado, com uma lança triangular na parte superior. Ele usa trajes militares e segura uma faca para cortar a fatia da pizza. Ao lado dele, um homem observa atentamente a atitude do outro. Ele usa um chapéu branco sobre a cabeça, casaca verde e gola em vermelho, com par de luvas brancas  e segura uma faca na mão direita. Atrás dele, uma mulher de cabelos escuros em coque e, sobre os cabelos, um pequeno gorro vermelho e roupa com gola vermelha, branca e azul. Na ponta da direita, um homem de cabelos pretos, com um coque pequeno, de blusa de manga comprida em laranja e tecido sobre os ombros em branco, com a mão direita sobre o queixo. Atrás das pessoas ao redor da mesa, um homem com olhos saltados, com espanto, rugas na testa, uma trança fina, barbicha grisalha, usando um chapéu preto com uma pena. Ele está com os braços erguidos para cima, possui unhas grandes e afiadas e colar em volta do pescoço.
Charge francesa publicada em 1898 no Le Petit Journal.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na charge, a China foi desenhada como uma pítsa . Os pedaços dela são disputados por personagens que representam a rainha Vitória, do Reino Unido, o cáizer Guilherme segundo, da Alemanha, o quizár Nicolau segundo, da Rússia, marriâne, símbolo da França pós-revoluções liberais, e um samurai do Japão. Ao fundo, um mandarim estereotipado protesta em vão.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A análise da charge francesa publicada em 1898 no Le Petit Journal contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1. Ao abordar o nacionalismo dos bóquissers, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois seis.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao estudar as Guerras do Ópio, pode-se promover um debate a respeito dos efeitos sociais e individuais do abuso de drogas lícitas e ilícitas, assim como dos interesses comerciais envolvidos no comércio desses produtos no passado e no presente. Trata-se de uma oportunidade para os estudantes refletirem sobre o autocuidado, relacionando o conteúdo ao Tema Contemporâneo Transversal Saúde.

Comente com os estudantes que, desde a Antiguidade, o ópio era usado como anestésico e para outros fins medicinais. Além disso, era utilizado como droga recreativa. A dependência dessa droga tornou-se, no século dezenove, um problema de saúde pública em várias cidades, principalmente nas portuárias, de vários locais integrados pelas redes comerciais, que se ampliavam. Quando se tentou conter o uso da droga no Estado chinês, os britânicos reagiram porque não queriam que seus interesses comerciais fossem atingidos.

A problemática relação entre Oriente e Ocidente fica evidente na charge, produzida em um contexto europeu imperial, na qual o mandarim foi desenhado com fórmas animalizadas (rosto, mãos e gestos) e o Japão foi representado por meio da figura de um samurai, e não do imperador (como seria esperado, pois a China estava sendo “dividida” por imperadores). É interessante destacar o fato de que, durante o Império meidjí (1868-1912), a figura do samurai e as tradições medievais japonesas foram proibidas pelo imperador, em uma política de modernização do país. A generalização e a valorização do senso comum são poderosos instrumentos narrativos de silenciamento do outro.

O nacionalismo, movimento iniciado na Europa no período das revoluções dos séculos dezoito e dezenove, fortaleceu-se nos espaços coloniais ou subordinados à tutela imperialista. A Rebelião dos bóquissers, iniciada na China em 1900, as duas guerras dos bôeres na África do Sul – ocorridas, respectivamente, entre 1880 e 1881 e entre 1899 e 1902 – e a Revolta dos Cipaios, na Índia, iniciada em 1857, são exemplos de apropriação e redefinição do nacionalismo em ambientes coloniais.

A dominação francesa na Indochina

Outra potência europeia que consolidou seu domínio sobre o continente asiático foi a França. Na segunda metade do século dezenove, os franceses conquistaram a Indochina, região correspondente à dos atuais Vietnã, Camboja e Laos. Eles incentivaram as rivalidades entre as populações locais e substituíram os governantes por representantes franceses. Além disso, exploraram a mão de obra local, sobretudo na extração de carvão e no cultivo de arroz, café e chá, e implantaram o cultivo de seringueiras para produzir látex.

A população local resistiu à dominação francesa. Em tônquim, por exemplo, entre 1883 e 1886, os nativos enfrentaram o exército francês, que foi enviado para transformar a região em um protetorado. Mesmo recebendo o apoio da China, eles não conseguiram impedir o avanço do país invasor.

Gravura. Vista de um gramado com uma construção semelhante a uma muralha ao fundo. No gramado está acontecendo uma batalha. À direita, soldados de uniforme escuro e chapéu triangular atacam com espingardas, baionetas e espadas. À esquerda, pessoas tentam se defender com espadas e lanças. No topo de uma lança, há uma cabeça humana. Ao fundo, outras pessoas participam da batalha e há fumaça no local.
Campanha sôn tái, gravura francesa do século dezenove.
Gravura. Em um local a céu aberto, à esquerda, um conjunto de militares vestindo roupas escuras está em pé conversando com um grupo de pessoas posicionado na parte direita da imagem. Elas vestem roupas coloridas, algumas usam chapéus triangulares sobre a cabeça. Na lateral direita, um membro do grupo empunha uma bandeira preta. Ao fundo, construções em estilo oriental e uma bandeira da França hasteada. Na base da imagem, textos escritos em francês. Um deles significa: Conchinchina e Tonkin unidas à França.
Cochinchina e tônquim unidas à França, gravura francesa do século dezenove.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As gravuras desta página foram produzidas em homenagem à vitória da França contra as tentativas de resistência da Indochina. Na imagem Campanha sôn tái, foi representada a dominação pelos franceses da cidade desôn tái, em tônquim (atual Vietnã), em 1883. Note que a violência dos soldados é ilustrada de fórma positiva. Já na outra imagem, os franceses e indochineses foram representados negociando em harmonia, criando uma falsa ideia de união. Além da produção de gravuras, foram emitidas moedas para comemorar a chamada Campanha de tônquim.

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

Ao analisar diferentes produções artísticas, é possível desenvolver as habilidades do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – e ê éfe seis nove á érre zero quatro – “Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, fórma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etcétera) na apreciação de diferentes produções artísticas”.

É interessante analisar com os estudantes a gravura francesa Cochinchina e tônquim unidas à França destacando os elementos que indicam a suposta harmonia e proporcionalidade entre franceses e indochineses. Para isso, oriente os estudantes a perceber a simetria entre as quatro áreas da imagem. Ao traçar eixos ortogonais (dividindo a imagem ao meio nos sentidos horizontal e vertical), percebe-se que os volumes são distribuídos mais ou menos simetricamente entre os dois lados, e considerando o número dos integrantes da cena, há uma vantagem para os franceses. Nota-se, também, que há uma horizontalidade na relação equidistante que franceses e indochineses guardam das margens superior e inferior da cena, encontrando-se no mesmo nível. Com base nesses elementos, é possível apontar uma construção ideológica segundo a qual a harmonia se restabelece na “apoteose da conquista”. Chame a atenção dos estudantes, contudo, para o que parece ser uma postura de deferência do indochinês levemente curvado em frente ao militar francês.

É possível que os estudantes tenham algum conhecimento sobre a Guerra do Vietnã, por meio do cinema e de outras produções audiovisuais. Caso já tenham obtido informação sobre esse conflito, comente com eles as conexões entre a iniciativa imperialista francesa, no século dezenove, e a intervenção estadunidense decorrente da Guerra da Indochina, encerrada com a derrota francesa em 1954.

Curadoria

Indochina (Filme)

Direção: Régis vargniê. França, 1992. Duração: 160 minutosponto

O drama familiar entre a proprietária francesa de um seringal e sua filha adotiva vietnamita é atravessado pelas questões do colonialismo europeu dos séculos dezenove e vinte, bem como pela organização do movimento nacionalista vietnamita no século vinte.

A expansão imperialista do Japão

O continente asiático sofreu influência de outro país imperialista: o Japão. O país era governado por xoguns, líderes que concentravam os poderes políticos e militares. Durante muito tempo, a economia japonesa baseou-se na agricultura e a sociedade valorizava as tradições milenares.

Em 1853, o país foi obrigado a ceder à pressão dos Estados Unidos e abrir seus portos para o comércio, dando início a uma ampla abertura econômica. Depois disso, jovens japoneses passaram a ser enviados a universidades na Europa e nos Estados Unidos para frequentar cursos na área de tecnologia e, assim, impulsionar a industrialização do país.

Em 1868, o poder dos xoguns foi transferido ao imperador. Apoiado por uma forte reação nacionalista, o príncipe mutissurríto mêidji assumiu o poder, inaugurando o que ficou conhecido como Era meidjí (“governo dos iluminados”), caracterizada pela ocidentalização e pela industrialização do país.

Nesse processo, empresas controladas por famílias que tinham um banco para financiar suas atividades, chamadas zaibatsús, concentraram riquezas – apenas quatro companhias controlavam 32% da indústria pesada e 50% do sistema financeiro do país. Elas evitavam competir umas com as outras e eram favorecidas pelo Estado.

O Japão lançou-se, então, em uma campanha imperialista, guerreando contra a China e a Rússia em diversas ocasiões. Vencedor em todos os conflitos, o país incorporou diversos territórios na Ásia.

Desde o século dezesseis, o Japão invadia a Península Coreana, mas sem conseguir dominá-la. Em 1876, os japoneses conseguiram integrar a Coreia a seu império, exercendo influência política e econômica sobre a região. A anexação formal do território, contudo, ocorreu apenas em 1910.

Fotografia. Vista para uma área urbana, com destaque, em primeiro plano, para uma área coberta por árvores em tons de amarelo, vermelho e laranja. Ao centro, entre as árvores, há uma construção antiga, com telhados triangulares em cor verde com detalhes dourados. Ao fundo, vários prédios altos espelhados e modernos. No alto, céu azul com poucas nuvens brancas.
Vista da cidade de ossáka, no Japão. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Era meidjí, que durou até o início do século vinte, impulsionou a modernização do Japão, tornando-o uma potência mundial. A cidade de ossáka foi um dos principais centros comerciais japoneses no processo de modernização.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as zaibatsús foram retirados de: CASTRO, L. B. de. Financiamento do desenvolvimento: teoria, experiência coreana (1950-1980) e reflexões comparativas ao caso brasileiro. 2006. Tese (Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2006. página 69.

Bê êne cê cê

O conteúdo trata da relação entre o processo de modernização e de industrialização do Japão e seu projeto imperialista, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três.

Ampliando

O texto a seguir aborda algumas características do moderno sistema político social japonês.

“Um dos estudos de caso mais interessantes da cristalização de programas diferentes de modernidade além do Ocidente é o Japão reticências, não só do ponto de vista do estudo comparativo de sociedades modernas, mas também do ponto de vista mais geral das distinções analíticas e empíricas entre as dimensões estruturais/organizacionais e culturais da atividade humana e da constituição da ordem moderna.

Enquanto, em termos puramente estruturais/organizacionais, a sociedade moderna japonesa conseguiu grandes realizações e critérios universalistas, esses critérios caminharam junto com uma orientação/ambiente fortemente imanentista e foram inseridos (embedded) num ambiente social particularista – uma combinação que se havia cristalizado já na Restauração meidjí.

A diferença do caso japonês vem antes do fato de que foi quase a única sociedade asiática que, sob o impacto da expansão oriental, não só se manteve independente – a Tailândia também –, mas se tornou um importante ator na nova cena internacional moderna. O Japão se tornou bastante independente ao desenvolver e promover um programa distinto de modernidade reticências que fez surgir algumas características marcantes que o diferenciaram daquele modelo; algumas fórmas bem distintas de lidar com o problema da relação de sua modernidade com a modernidade ocidental.”

, S. N. Modernidade japonesa: a primeira modernidade múltipla não ocidental. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, volume 53, número 1, página 13, 2010.

Curadoria

Colonialismo e luta anticolonial: desafios da revolução no século vinte e um (Livro)

Domenico Losurdo. São Paulo: Boitempo, 2020.

Nessa obra, o filósofo italiano Domenico Losurdo aborda temas relativos ao imperialismo, ao racismo e à dominação colonial. Trata-se de referência fundamental para refletir sobre as relações entre o colonialismo e os enfrentamentos políticos do século vinte e um.

O imperialismo estadunidense na América Latina

No final do século dezenove e nas primeiras décadas do século vinte, os Estados Unidos adotaram uma postura agressiva de interferência política na América Latina, com base em uma lógica imperialista muito similar à europeia. A nação se projetou como branca, superior tecnologicamente e mais civilizada que as demais do continente, utilizando o argumento de que tinha de controlar vizinhos menos civilizados. Além disso, os Estados Unidos invadiram as possessões espanholas nas Filipinas, na Ásia.

A intervenção em Cuba e no Panamá

No final do século dezenove, Cuba era a maior produtora mundial de açúcar e atraía muitos investimentos estadunidenses. Além disso, localizava-se próximo ao Istmo do Panamá, porção de terra que liga a América do Norte à América do Sul.

Caricatura. Ilustração de uma ampla sala de aula. À esquerda, o professor é um senhor alto e magro, tem cabelo branco e liso, nariz grande e cavanhaque. Ele usa um casaco azul escuro e calça com listras vermelhas e brancas, nas cores da bandeira dos Estados Unidos. Está debruçado sobre uma mesa, apontando uma varinha fina para quatro crianças negras sentadas em um banco. Elas o observam assustadas. Na cintura das crianças é possível ler Cuba, Porto Rico, Havaí e Filipinas. Ao fundo, crianças brancas lendo livro sentadas em carteiras escolares individuais. Atrás delas há uma lousa com texto. Ao lado, uma porta, e, do lado de dentro da sala, um indígena está sentado encolhido e isolado do resto do grupo lendo um livro. Do lado de fora da porta, um aluno negro observa o interior segurando um livro embaixo do braço. Ao fundo à esquerda, um jovem negro no topo de uma escada limpa a janela da sala de aula com um pano e observa a cena. Na sala há uma bandeira dos Estados Unidos pendurada.
Caricatura publicada na revista estadunidense Puck, de 1899.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na caricatura, o Tio sém, símbolo nacional dos Estados Unidos, é representado como professor de crianças mal-comportadas que simbolizam Cuba, Porto Rico, Havaí e Filipinas (sentadas em um banco, sem livros, na primeira fileira). As crianças que simbolizam os estados dos Estados Unidos são representadas bem-vestidas e calçadas, sentadas em carteiras e lendo de maneira autônoma. Parecem mais velhas que as demais. O personagem indígena foi representado longe dos outros, com o livro de ponta-cabeça. O chinês foi desenhado do lado de fóra da escola. O africano, por sua vez, foi representado limpando uma janela, como se não tivesse direito de estudar.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar o projeto imperialista dos Estados Unidos na América Latina no final do século dezenove e no início do século vinte, incentiva-se o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

Ampliando

O texto a seguir amplia a discussão sobre a aplicação da Doutrina Monroe.

reticências a expansão dos Estados Unidos para território mexicano a partir de 1848 reticências deixava claro para mexicanos e seus vizinhos caribenhos e centro-americanos que ‘a Doutrina Monroe nunca fôra uma garantia contra os desígnios ambiciosos dos próprios Estados Unidos’ reticências. Na medida em que uma ‘política de hegemonia’ tornava-se ‘o complemento natural da Doutrina Monroe’ não era de se surpreender que alguns países, o México em particular, começassem a desenvolver ‘uma grande aversão à Doutrina, visto que eles normalmente a viam não a partir do aspecto que tivera em 1823 mas a partir do novo aspecto que havia sido atribuído a ela’ reticências.

Após a Guerra Mexicano-Americana de 1846, quando os Estados Unidos ampliaram grandemente seu território à custa do México, e a Guerra Hispano-Americana de 1898, quando Guam, Porto Rico e as Filipinas foram ocupados, esse novo aspecto da doutrina havia ficado bastante evidente. De fórma absolutamente pouco surpreendente, ao iniciar-se o novo século, o presidente do México viu-se obrigado a declarar publicamente sua oposição à Doutrina Monroe na medida em que a mesma, de acordo com ele, ‘ataca a soberania e a independência do México e estabelece uma tutelagem sobre todos os países da América’ reticências.”

TEIXEIRA, C. G. P. Uma política para o continente – reinterpretando a Doutrina Monroe. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, volume 57, número 2, página 121-122, 2014.

A caricatura publicada na revista estadunidense Puck, de 1899, evidencia a visão racista que norteava a relação dos Estados Unidos com os países sob sua influência. É comum a infantilização dos colonizados no discurso dos países imperialistas.

Em 1898, soldados estadunidenses e cubanos lutaram juntos contra os espanhóis pela independência de Cuba. O conflito ficou conhecido como a Guerra Hispano-Americana e foi marcado pelo ideal da Doutrina Monroe (que você estudou no capítulo 10). Com a vitória, Cuba conseguiu sua emancipação política da Espanha, mas se tornou uma espécie de protetorado dos Estados Unidos.

Para sair do país, em 1901, os estadunidenses obrigaram os cubanos a aceitar a Emenda Plát, um dispositivo, depois incorporado à Constituição Cubana, que permitia a interferência política dos Estados Unidos na ilha. Logo em seguida, forçaram a instalação de uma base naval em Guantánamo (mantida até hoje). Antes disso, os Estados Unidos enviaram tropas para Porto Rico, em 1898, e para a Nicarágua, em 1899.

Outro exemplo de intervenção dos Estados Unidos ocorreu no Panamá, que, no início do século vinte, era ligado à Colômbia. O governo estadunidense tinha interesse em construir na região uma ligação entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico: o Canal do Panamá.

Diante da recusa do governo colombiano de ceder seu território, os estadunidenses incentivaram a guerra de independência do Panamá, em 1903. Em troca de apoio no conflito, o governo panamenho cedeu o direito de construção do canal aos Estados Unidos.

Charge em preto e branco. Ilustração de uma cena em que um homem de cabeça grande, testa larga e sobrancelhas grossas está em pé, vestido com roupa social e gravata borboleta, e segura um ferro com as letras U S na ponta após marcar a pele das costas de um homem que está em pé na sua frente. O homem está amarrado a um poste no qual há uma placa, com o escrito Emenda Platt. Ao fundo um senhor de cartola e nariz comprido observa a cena com as mãos nos bolsos. No alto da imagem, um título em espanhol: O ferro da casa. Marca Comercial.
Charge publicada em Cuba, em 1901, ironizando a Emenda Plát.
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Imagens em contexto!

Na charge, o Tio Sam é representado observando a cena em que o então presidente dos Estados Unidos Uilian maquínli marca com ferro quente as costas de um cubano com as iniciais U.S. (United States). No cartaz se lê: “O ferro da casa: marca registrada”.

Respostas e comentários

Relembre aos estudantes a disputa entre franceses e britânicos pelo contrôle do Canal de Suez, no Egito, que facilitaria o acesso ao Oriente, dispensando o contorno da África. Com a abertura do Canal do Panamá, o objetivo era garantir uma passagem rápida que integrasse as rotas comerciais do Atlântico e do Pacífico. Entre 1914 e 1999, os Estados Unidos controlaram o canal até ele ser devolvido ao Panamá.

Ampliando

O texto a seguir apresenta um histórico da relação conflituosa entre os Estados Unidos e Cuba.

“Cuba sempre fôra o desafio mais imediato ao contrôle norte-americano do Caribe. Uma das últimas remanescentes do outrora grande império espanhol no Novo Mundo, a ilha, após uma fracassada e sangrenta tentativa de insurreição em 1878, vivia uma relativa prosperidade, sustentada pelo mercado norte-americano de açúcar e mantida pela Lei maquínli de Tarifas (1890), que permitia a entrada do produto em solo estadunidense sem pagamento de tarifas aduaneiras. Quando, em 1894, a Tarifa uílson górman voltou a cobrar esses encargos, Cuba mergulhou em uma depressão econômica que levou ao início de outro levante contra os espanhóis. A brutalidade da repressão espanhola à revolta foi destacada por jornais norte-americanos, levando grupos patrióticos, organizações trabalhistas, reformadores e membros do Congresso a exigir a intervenção norte-americana. O presidente clívilan (1893-1897) insistiu com a Espanha para que concedesse autonomia a Cuba, mas não sucumbiu aos clamores de compatriotas por uma guerra.

Durante o governo do presidente maquínli, empossado em 1897 reticências o ‘estopim da guerra’ foi a perda do u ésse ésseMêine, em fevereiro de 1898: enviado a Cuba para uma ‘visita de cortesia’, o navio de guerra norte-americano explodiu enquanto estava ancorado em Havana, matando 260 marinheiros.

Diante de uma enorme pressão de jornalistas e políticos belicosos e ultranacionalistas, reticências maquínli, em 11 de abril, solicitou permissão para usar armas a fim de restabelecer a ordem em Cuba.”

KARNAL, L. êti áli. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2007. página 166-168.

A diplomacia do Grande Porrete

Em 1904, Rusevélt, então presidente dos Estados Unidos, lançou o chamado Corolárioglossário Rusevélt à Doutrina Monroe, pensamento que se consagrou como a Política do Big Stick (“Grande Porrete”). Reafirmava, assim, o princípio de apoio dos Estados Unidos às nações americanas contra a interferência europeia, considerando o país o guardião da América, fosse por meio de negociações, fosse por meio da fôrça.

Desse modo, os estadunidenses se resguardavam o direito de interferir politicamente nos demais países do continente, derrubar e instaurar governos e invadir territórios. Assim como as demais nações imperialistas, eles afirmavam ter o dever de levar a civilização e o progresso a povos ou países que consideravam atrasados.

Impulsionados por essa ideia, realizaram intervenções militares em Cuba (entre 1906 e 1910), na Nicarágua (de 1909 a 1911, de 1912 a 1925 e de 1926 a 1933), no Haiti (entre 1915 e 1934) e na República Dominicana (entre 1916 e 1924). Entre 1898 e 1925, os Estados Unidos intervieram 31 vezes em nove países da América Central e do Caribe.

Charge. Ilustração de um homem vestido com roupas azuis caminhando a passos largos sobre o que parece ser a superfície de um lago envolto por terra. Na parte da terra, nomes de territórios: Santo Domingo, México, Panamá, entre outros. Na água está escrito Mar do Caribe e nela há embarcações de guerra com chaminés soltando fumaça. Em um dos barcos está escrito em inglês: coletor de impostos. À esquerda, está o homem de pele clara, cabelos e bigode escuros, com par de óculos redondos, lenço sobre o pescoço em branco e vermelho, casaca de mangas compridas em azul, calça até os joelhos em bege, segurando um objeto que se assemelha a um grande porrete. Ele está descalço e seus sapatos estão presos na cintura, onde também há um arma de fogo e uma espada. Com a mão esquerda, ele puxa uma corda presa a uma das embarcações. No alto, céu azul-claro, nuvens brancas e pássaros sobrevoando.
O Grande Porrete no Mar do Caribe, charge de UILIAM ÁLEN RÓGERS, 1904.
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Imagens em contexto!

Na imagem, o presidente Rusevélt é representado segurando um porrete e carregando uma frota naval no interior do Mar do Caribe. As nações identificadas no círculo são: São Domingos, Cuba, México, Panamá e Venezuela.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como as potências imperialistas se relacionavam com as tradições culturais dos territórios conquistados?
  2. Explique o que foi a Rebelião dos Boxers.
  3. Defina a Emenda Plát e a Política do Big Stick.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Oriente os estudantes a seguir os procedimentos de estudo do texto-base e registro preliminar das informações. Valorize as diferenças nas respostas, mesmo nas mais simples, sugerindo, se for o caso, a reescrita tendo por fim textos mais autônomos. A atividade 1 também permite analogias com o mundo contemporâneo considerando:

o ambiente cultural produzido pelo multiculturalismo liberal, que, se não “exotiza” integralmente as culturas da periferia, também não reconhece as assimetrias existentes;

a continuidade da resistência ao imperialismo e da tutela de grandes potências (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e mesmo a China) sobre outros países e regiões.

A charge de UILIAM ÁLEN RÓGERS fortalece o argumento segundo o qual a política dos Estados Unidos para a América se concentrava na região do Caribe, compreendido pela diplomacia do país quase como seu mar interior.

A crescente interferência estadunidense nos assuntos latino-americanos reforçou uma tendência ao nacionalismo que vinha se estabelecendo desde a independência dos países do continente. Intensificou-se a ideia da identidade latino-americana diante dos estadunidenses, produto da ação e da reflexão de integrantes da elite letrada que divulgavam suas percepções e críticas em obras literárias, históricas e sociológicas.

Agora é com você!

1. Os projetos imperiais, tanto europeus como estadunidense, ignoraram as diferenças étnicas e as divisões políticas preexistentes nas sociedades que se desejava conquistar. Disso resultou a desestruturação das organizações e das tradições culturais locais.

2. A Rebelião dos Boxers ocorreu na China como uma fórma de resistência à dominação ocidental. Em 1900, grupos nacionalistas (conhecidos como boxers porque praticavam artes marciais) cometeram uma série de atentados contra estrangeiros, iniciando a rebelião, que foi sufocada em 1901 por uma aliança entre europeus, estadunidenses e japoneses.

3. Ambas foram práticas imperialistas estadunidenses na América Latina. A Emenda Plát foi um dispositivo incorporado à Constituição Cubana que permitia a interferência política dos Estados Unidos na ilha. Já a Política do Big Stick reafirmava os preceitos de apoio dos Estados Unidos às nações americanas contra a interferência europeia e definia o país como guardião do continente, por meio de negociações ou pela fôrça.

Vamos pensar juntos?

O imperialismo foi praticado por países industrializados em diferentes regiões da África, da Ásia e da América. De acordo com o intelectual palestino Edward Said, todos eles afirmaram “não ser como os outros, explicaram que suas circunstâncias eram especiais, que existiam com a missão de educar, civilizar”. Com essa narrativa, criavam circunstâncias para dominar.

As ações imperialistas foram realizadas com o emprego de táticas militares, econômicas, culturais e políticas. Povos de diferentes locais reagiram a elas de diversas maneiras: por meio da valorização das tradições (língua, alimentação, vestimenta etcétera) e da literatura locais, da luta pela liberdade de crença ou do embate militar. Essas reações ficaram conhecidas como anti-imperialistas ou anticoloniais.

De fórma geral, elas ficaram mais populares e intensas com o passar do tempo e, a partir da metade do século vinte, tornaram quase insustentável a existência de impérios declarados.

Na América Latina, por exemplo, a política intervencionista dos Estados Unidos e o processo de desenvolvimento da consciência anti-imperialista alimentaram o debate intelectual no final do século dezenove e no início do século vinte. Importantes pensadores latino-americanos, como o cubano rossê martí, o uruguaio rossê enríque rodó e o nicaraguense rubên darío, escreveram textos contra o chamado Colosso ou Gigante do Norte, criando um imaginário político de contestação aos Estados Unidos. Expressões como diplomacia do dólar, Tio sém e Wall Street e imagens que associavam os Estados Unidos a chacais, monstros de duas cabeças, vampiros ou águias fizeram parte da linguagem de resistência à influência estadunidense na América Latina. Em uma carta de 1895, rossê martí declarou:

“Corro todos os dias o perigo de dar minha vida por meu país, e por meu dever – porque o entendo e tenho a coragem de fazê-lo – de impedir a tempo com a independência de Cuba que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam, com mais fôrça, sobre nossas terras da América. O que fiz até hoje, e continuarei a fazer, é impedir reticências que Cuba se abra, por anexação dos imperialistas de lá e dos espanhóis reticências”.

ápud: fernández, R. R. Pensamiento de nuestra America: autorreflexiones y propuestas. Buenos Aires: Clacso, 2006. página 41.

Responda no caderno.

  1. Para eduard saíd, quais foram as justificativas das potências para o imperialismo?
  2. O que são ações anti-imperialistas ou anticoloniais? Descreva uma das que você estudou neste capítulo.
  3. Em sua carta, como rossê martí apresenta sua relação com Cuba e o que ele denuncia?
Respostas e comentários

Citação retirada de: saíd, E. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. página17.

Bê êne cê cê

Ao tratar da visão dos latino-americanos sobre os Estados Unidos, o conteúdo da seção envolve reflexões a respeito de interpretações de época sobre a experiência histórica do imperialismo, e propõe questões de compreensão do texto citado que demandam a utilização de conteúdos desenvolvidos no capítulo, acionando, portanto, as habilidades ê éfe zero oito agá ih dois seis e ê éfe zero oito agá ih dois sete, e as Competências Específicas de História nº 1 e nº 4.

Vamos pensar juntos?

Nessa seção, apresentam-se fórmas de resistência social e cultural possíveis às intervenções de um país sobre outro. Países da América Latina reagiram de diferentes fórmas à política intervencionista dos Estados Unidos. Uma das maneiras de fortalecer a importância de proteger a soberania do país foi a difusão e a popularização de imagens e de termos críticos e irônicos sobre os Estados Unidos.

Atividades

1. De acordo com o humanista éduard saíd, um discurso civilizatório foi usado para tentar justificar a existência de impérios. Segundo ele, todos os impérios afirmaram “não ser como os outros” e “que suas circunstâncias eram especiais, que existiam com a missão de educar, civilizar”.

2. Ações anticoloniais e anti- -imperialistas são as que se opõem à dominação imposta por um império. No capítulo, foi estudada uma série de ações empreendidas pelos habitantes locais nas áreas dominadas, como as da rainha Axânti Iá Assentauá e a executada pelos boxers contra o Império Britânico. Houve também ações culturais, como a dos intelectuais latino-americanos responsáveis, por exemplo, pela criação de um imaginário político contestatório aos Estados Unidos. Termos como diplomacia do dólar, Tio sém e Wall Street e imagens que associavam os Estados Unidos a chacais, monstros bicéfalos, vampiros e águias foram popularizados e fortaleceram a crítica à influência estadunidense na América Latina. É importante destacar aos estudantes a multiplicidade de reações ocorridas cotidianamente contra a violência imperialista e a diversidade de agentes históricos e estratégias envolvidos nessas respostas.

3. No trecho da carta, martí afirma que daria a vida por seu país, caracterizando uma relação de fidelidade, compromisso e afeto. martí destaca a ameaça representada pelos Estados Unidos a toda a América, além de reforçar a ideia de que sempre lutaria contra a anexação de Cuba pelos imperialistas.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Analise as afirmações a seguir, sobre a obra A origem das espécies, publicada em 1859 por chárlis Dárvin. Depois, no caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. Inaugurou um debate sobre a história na Terra ao demonstrar que as espécies sofriam adaptações ao meio em que estavam inseridas.
    2. Alterou o debate sobre a evolução dos seres vivos no planeta Terra, mas manteve intocadas as discussões sobre a evolução humana.
    3. Foi adaptada de fórma equivocada para explicar as sociedades humanas, o que deu origem ao darvinísmo social.
    4. Serviu a economistas na elaboração de planos de desenvolvimento industrial para o Reino Unido e a França, sendo a base da Segunda Revolução Industrial.
  2. No caderno, reproduza o quadro a seguir e complete-o com as características dos movimentos de resistência ao domínio imperial citados no capítulo.
Îcone Modelo.

Nome do movimento

Local em que ocorreu

Motivações

Chefes tradicionais ashanti foram depostos pelos britânicos, que tentaram impor novos líderes e cobrar pesadas indenizações por revoltas anteriores.

Rebelião Maji-Maji (1905-1907)

Índia

Guerras do Ópio
(1839-1842 e 1856-1860)

Indochina

Aprofundando

3. Obras de arte, histórias em quadrinhos, charges e grafites, entre outros materiais com imagens, são importantes documentos históricos. Tendo em mente o contexto da política imperialista estadunidense no fim do século dezenove e no século vinte, analise a tirinha a seguir.

Tirinha em um quadro. Ilustração da parede de fora de uma construção, perto da qual há dois homens vestindo casacos largos e coloridos e usando chapéus. Eles olham com espanto para uma grande placa na parede com os dizeres: INSTITUTO TEDDY ROOSEVELT. CAMINHE COM SUAVIDADE E CARREGUE UM GRANDE PORRETE. Abaixo dessa placa, outras duas placas apresentam os seguintes textos: ESCOLA DE ENCANTO e uma seta para a esquerda, e ESCOLA DE MALDADE e uma seta para a direita. Ao lado das placas, há a escultura de um homem de bigode, sorrindo, com o cabelo penteado no meio, com duas pontas para cima, semelhante a chifres, segurando um chapéu em uma das mãos.
frênqui e Êrnest, tirinha de Bob Teivis, 2003.
  1. Descreva a tirinha. Qual é a sátira contida nela?
  2. Em sua opinião, por que o autor da tirinha recorreu ao tema da Política do Big Stick no século vinte e um?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a argumentação com base nos procedimentos específicos do campo da história, o posicionamento ético em relação ao cuidado de si e dos outros e a promoção da empatia, do diálogo, do respeito aos outros e aos direitos humanos, a atividade 5 contribui para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 7 e nº 9.

Atividades

Organize suas ideias

1. a) V; b) ; c) V; d) .

2. Ao preencher o quadro, os estudantes podem estabelecer a estrutura a seguir.

Nome do movimento: Rebelião Axânti (1890-1900); local em que ocorreu: Gana; motivações: Chefes tradicionais ashanti foram depostos pelos britânicos, que tentaram impor novos líderes e cobrar pesadas indenizações por revoltas anteriores.

Nome do movimento: Rebelião máji máji (1905-1907); local em que ocorreu: Tanzânia; motivações: Os revoltosos recusaram-se a aceitar a tomada de suas terras, a imposição do cristianismo e o trabalho forçado nas plantações de algodão.

Nome do movimento: Revolta dos Cipaios (1857-1859); local em que ocorreu: Índia; motivações: A população estava descontente com o domínio britânico, especialmente em relação aos trabalhos com tecidos.

Nome do movimento: Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860); local em que ocorreu: China; motivações: A China se opôs à venda do ópio em seu território pelo Império Britânico.

Nome do movimento: Revoltas de tônquim (1883-1886); local em que ocorreu: Indochina; motivações: A população se opôs à dominação francesa.

Aprofundando

3. a) Na tirinha são representados dois personagens (frênqui e Êrnest) observando uma estátua do presidente estadunidense teodór rúsvelt. Ao lado da estátua, está escrito: “Instituto Tédi Rusevélt: ‘Caminhe com suavidade e carregue um grande porrete [big stick]’”, “Escola de Encanto” (com uma seta para a esquerda) e “Escola de Maldade” (com uma seta para a direita). Nela está contida uma sátira à Política do Big Stick, idealizada por teodór rúsvelt. Tal política previa negociações – daí a alusão a “suavidade” e “encanto” –, mas era balizada pela possibilidade de uso da fôrça dos Estados Unidos contra as nações latino-americanas – por isso, a referência a “grande porrete” e “maldade”.

b) Espera-se que os estudantes percebam que as ações estadunidenses na América e sua política externa eram pautadas, em geral, por vestígios de ações imperialistas inauguradas no século dezenove. Em 2003, ano de produção da tirinha, a presidência de djêordji W. búch representava uma série de retrocessos nas relações dos Estados Unidos com a América Latina e com o Oriente Médio – daí a retomada do tema pelo autor da tirinha.

  1. (éfe gê vê-São Paulo – adaptado) “Fale macio e use um porrete”, dizia o presidente norte-americano Rusevélt para justificar a política externa dos ê u á. A respeito da política conhecida como “Big Stick”, indique no caderno a alternativa correta:
    1. Significou uma medida pragmática dos norte-americanos logo após a independência, buscando superar o isolamento diplomático, ao mesmo tempo que combatia o exército britânico.
    2. Era o lema dos Estados do Norte durante a Guerra de Secessão, durante a qual os escravos foram libertados, como fórma de enfraquecer as fôrças sulistas.
    3. Diz respeito à política norte-americana com relação à América Latina durante a Guerra Fria, quando deu apoio político e militar a diversas ditaduras militares, visando impedir o estabelecimento de regimes comunistas semelhantes ao de Cuba.
    4. Foi uma continuidade do expansionismo interno, marcado pela Marcha para o Oeste e pela Guerra de Secessão, que implicou nas seguidas intervenções militares norte-americanas que transformaram o Caribe em sua área de influência.
    5. Foi a orientação dada pelo serviço secreto norte-americano a seus agentes infiltrados na u érre ésse ésse e nos países da chamada Cortina de Ferro no Leste europeu.
  2. O imperialismo se expressou também nos livros escritos por estadunidenses e europeus. A história do personagem Tarzan, criada por édgar bâwrous em 1912, e a de , criada por rúdiard quíplin em 1884, são exemplos de representação dos povos e da natureza dos continentes africano e asiático nesse contexto. Houve várias adaptações dessas narrativas para o cinema e a televisão. Em 2016, foram lançadas no cinema as seguintes versões das duas histórias: : o menino lobo (direção: djôn fravô; país: Estados Unidos; duração: 106 minutos) e A lenda de Tarzan (direção: Deivid ; país: Estados Unidos; duração: 110 minutos). O professor organizará a turma em dois grandes grupos para assistir a uma delas. Depois de ver o filme, vocês deverão analisá-lo e escrever um relatório para apresentar aos colegas do outro grupo em sala de aula. O relatório deverá conter:
    • a ficha técnica e o gênero do filme;
    • os fatos e a época retratados no filme;
    • o nome do país em que se passa a trama;
    • a caracterização dos cenários;
    • a caracterização dos personagens;
    • a relação entre o filme e o conteúdo estudado no capítulo.   Depois de apresentar o relatório do filme que vocês viram e analisar o relatório feito pelos colegas do outro grupo, debatam as seguintes questões:
    1. Que imagens dos continentes africano e asiático prevalecem nas narrativas apresentadas?
    2. Como essas narrativas ajudaram a justificar a dominação imperialista nesses lugares?
Respostas e comentários

Classificação indicativa de Mogli: o menino lobo: 10 anos; de A lenda de Tarzan: 12 anos.

4. Alternativa d.

5. Essa atividade envolve noções introdutórias relacionadas a práticas de pesquisa, com destaque para a observação, tomada de notas e construção de relatórios, bem como para os procedimentos de análise documental, com foco na análise de discurso. Por meio da atividade é possível apreender as intencionalidades, as crenças, os valores e as visões de mundo presentes na construção das tramas e das narrativas fílmicas. Para compreender as questões culturais e políticas subjacentes à produção de um filme, os estudantes devem ficar atentos não só ao enredo, mas também ao autor, à estrutura, às características dos ambientes e dos personagens representados e às mensagens transmitidas. Esses elementos nem sempre são percebidos facilmente, mas a adoção de alguns procedimentos pode contribuir para facilitar a análise crítica dos filmes.

A atividade está dividida em duas partes. Na primeira, como preparação, os estudantes devem anotar, entre outros elementos, os dados referentes à ficha técnica (direção, país, ano e duração da obra) e ao gênero (aventura, ação, animação, fantasia etcétera) dos filmes, depreendendo que estes foram produzidos com base na visão ocidental sobre diferentes povos e culturas. Auxilie-os a reparar na composição das cenas, no uso da trilha sonora e das cores (geralmente quentes para valorizar exotismos ou frias para simbolizar a mata fechada e ameaçadora) para representar a natureza fantástica e inóspita em que são ambientados esses filmes. No que concerne à caracterização dos personagens, os estudantes devem ficar atentos aos gestos, às expressões, aos diálogos e às diferenças na fórma de representação de europeus e não europeus. É importante que os estudantes relacionem os filmes analisados com o conteúdo estudado no capítulo: um dos cenários de A lenda de Tarzan é o Congo, no tempo da dominação belga. Nele, os povos africanos são representados como primitivos e a natureza como exótica e indomável. Mogli: o menino lobo, por sua vez, é ambientado em algum lugar da Índia Central, com destaque para a natureza assustadora, cheia de elementos mágicos. As representações fantasmagóricas da natureza, as paisagens exóticas e hostis, os povos primitivos vivendo em meio ao caos e realizando atos irracionais, em oposição aos europeus, reforçavam a imagem do outro como atrasado e incivilizado e do Ocidente como um modelo a ser seguido, justificando, ao menos no imaginário, as ações imperialistas sobre a África e a Ásia.

Glossário

Neocolonialismo
: dominação exercida por potências capitalistas sobre territórios da África e da Ásia a partir do fim do século dezenove. Diferenciou­‑se do colonialismo, que ocorreu entre os séculos quinze e dezoito, por caracterizar, além da exploração do trabalho dos povos nativos e de seus recursos naturais, a criação de um mercado consumidor para os produtos industrializados e o contrôle dos locais onde o capital europeu seria investido.
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Protetorado
: território ou país que se mantém como Estado independente, mas é politicamente subordinado a um país estrangeiro.
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Arbitrário
: nesse caso, sem consultar os povos africanos nem levar em conta as histórias e o contexto social, político e cultural deles.
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Subjugar
: submeter, dominar com uso da fôrça.
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Corolário
: resultado, conclusão.
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