UNIDADE 1 O MUNDO NA PASSAGEM DO SÉCULO dezenove PARA O vinte

A história e você: segurança em primeiro lugar

Nesta unidade, você estudará a Primeira Guerra Mundial, o início do governo republicano no Brasil e as revoluções mexicana e russa. Esse período, compreendido entre as últimas décadas do século dezenove e o início do século vinte, foi marcado por muita euforia.

As inovações tecnológicas que então se difundiam, como a luz elétrica, o cinema, o telefone e o automóvel, transformaram o cotidiano dos centros urbanos. Diante de tantas novidades, parte da população mundial passou a ter uma crença inabalável no progresso, como se a humanidade caminhasse cada vez mais rápido em direção a um futuro melhor. Por isso, essas décadas ficaram conhecidas como Belle Époque (termo francês que significa “Bela Época”). Ao longo da unidade, porém, você perceberá que o futuro esperado não foi assim tão promissor e que o progresso não chegou para todos da mesma fórma.

Uma das novidades que mais afetaram a vida das pessoas foi o veículo motorizado. O automóvel, que era muito caro, tornou-se símbolo de státus social elevado e também de poder, pois quem dirigia um se impunha sobre as pessoas que transitavam a pé.

Com o passar do tempo, o automóvel ficou mais acessível e o aumento da frota trouxe alguns efeitos negativos para as grandes cidades, como poluição sonora e do ar, congestionamentos e acidentes de trânsito – muitos deles fatais.

Hoje, as consequências do tráfego de veículos motorizados podem ser percebidas não apenas nas grandes vias de circulação, mas também nas periferias das grandes cidades e em localidades menores.

Fotografia em preto e branco. Avenida Rio Branco, larga e extensa com grandes edifícios e árvores. No meio dela alguns veículos e pessoas.
Avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro. Foto da década de 1910.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No início do século vinte, apesar de haver poucos carros no Rio de Janeiro, a então capital do Brasil passou por uma reforma urbana para adequá-la à circulação de automóveis, com a abertura de largas avenidas que a deixassem parecida com as cidades da Europa.

Como a maioria das pessoas se locomove no município onde você mora? Existem meios de transporte coletivos? Se existem, são de boa qualidade e seguros? As pessoas são incentivadas a usá-los?

A fim de compreender os modos como as pessoas se deslocam no município em que moram e contribuir para melhorá-los, você e os colegas produzirão um mural artístico sobre esse tema. Para isso, verifique as etapas a seguir.

Organizar

  • Reúna-se em grupo com quatro colegas.
  • Escolham um local da região em que moram onde haja muita circulação de veículos motorizados.
  • Procurem na internet ou em jornais impressos fotografias, com diferentes perspectivas (vertical, frontal, lateral etcétera.), do local escolhido. Copiem, salvem ou imprimam as imagens.
  • Se possível, visitem o local escolhido e identifiquem as dificuldades enfrentadas pelas pessoas ao circular por lá a pé, de transporte público ou de carro.
  • Discutam esta questão: que mudanças na infraestrutura do local contribuiriam para torná-lo mais acessível e seguro para as pessoas?

Produzir

  • No computador, usando um programa de edição, façam alterações nas fotografias selecionadas inserindo elementos que poderiam melhorar o deslocamento das pessoas e até de animais no local (como placas de sinalização, cobertura de pontos de ônibus, aumento no número de barcos para transporte, instalação de cercas ou barreiras nas margens das pistas das rodovias ou passagens subterrâneas para os animais etcétera). Vocês também podem recriar as fotografias por meio de desenhos.
  • Produzam um ou mais cartazes com essas imagens, acompanhadas de uma lista dos benefícios decorrentes das intervenções propostas.

Compartilhar

  • Criem um grande mural com os projetos de todos os grupos e exponham o resultado em um local visível da escola.
  • No centro do mural, insiram um mapa do município ou da região em que moram, com a localização de todas as intervenções propostas.
Ilustrações atuais representando diferentes meios de transporte: embarcação fluvial, veículos em avenida de uma cidade e tráfego em uma rodovia. Nas imagens estão representados equipamentos e sinalização de segurança nesses diferentes meios de transporte e vias.

CAPÍTULO 1  A Primeira Guerra Mundial

Quando imaginam uma guerra de grandes proporções, as pessoas podem pensar em imagens de soldados marchando, cidades em ruínas, líderes e governos tomando decisões enérgicas ou importantes...

Esses são elementos centrais de uma guerra, mas há outros que devem ser considerados, como a reação da população diante dos horrores do conflito e o apôio ou o boicote às decisões dos governantes. As imagens desta página foram produzidas para sensibilizar a população do Reino Unido durante uma guerra. Analise-as.

Cartaz. Homem vestindo terno sentado em uma poltrona com uma menina no colo. Ela segura um livro aberto. No chão um menino brinca com pequenos bonecos.
Cartaz elaborado em 1915 sob encomenda da Comissão Parlamentar de Recrutamento do Reino Unido.
Cartaz. Mulher de vestido preto e um casaco longo rosa por cima, está com um dos braços levantados. Usa um lenço nos cabelos na mesma cor do casaco. Ao fundo, outras mulheres e um militar na porta.
Cartaz elaborado em 1916 pelo Ministério de Munições britânico.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No cartaz de 1915 está escrita a seguinte pergunta: “Papai, o que VOCÊ fez na Grande Guerra?”. No de 1916, há duas inscrições: “Estas mulheres estão fazendo sua parte” (no alto do cartaz) e “Aprenda a fazer munições” (no canto inferior direito).

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que é representado nos cartazes?
  2. Que estratégias foram utilizadas para mobilizar a população em favor da guerra?
  3. Em sua opinião, ainda ocorrem mobilizações da população em favor de uma guerra ou conflito? Justifique.

A Europa antes da guerra

No dia 28 de julho de 1914, teve início a Primeira Guerra Mundial. Poucos dias depois, o escritor tcheco Frans Cáfica anotou em seu diário: “A Alemanha declarou guerra à Rússia – natação à tarde”. Ele não acrescentou análises nem comentários a esse importante evento. Como boa parte das pessoas da época, Cáfica apostava que a guerra declarada seria curta e teria pequenas proporções. Isso porque fazia quase um século que não havia um conflito envolvendo todas as grandes potências da Europa. Entre 1871 (ano em que acabou a Guerra Franco-Prussiana) e 1914, não houve nenhuma grave disputa armada.

Além disso, em razão das transformações geradas pela Segunda Revolução Industrial, havia no continente um clima de otimismo e esperança, sobretudo na ciência, na técnica e no progresso da civilização. Não por acaso, esse período ficou conhecido como Belle Époque.

Nos quatro anos que se seguiram, no entanto, a Primeira Guerra Mundial abalou todas as convicções dos europeus e pôs à prova um continente que se considerava o centro do mundo civilizado.

Cartaz. Ilustração da Torre Eiffel em destaque. Ao redor uma grande praça e alguns edifícios. No cartaz há algumas informações em francês.
Cartaz sobre a Exposição Universal realizada em Paris, França, em 1889.
Fotografia. Marie Curie, senhora de vestido escuro em um laboratório. Ela manuseia dois frascos de vidro. Ao seu lado, uma bancada com outros frascos e equipamentos.
A cientista franco-polonesa Marrí Kurrí em seu laboratório em Paris, França. Foto de 1925. Ela elaborou a teoria da radioatividade e foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel.
Pintura. Homens e mulheres reunidos em uma área arborizada. As mulheres usam vestidos longos e os homens roupa social e chapéu. À frente, um grupo está sentado, com copos sobre a mesa. Há luminárias entre as árvores.
O baile no moulin de la Galette, pintura de Piérr-Oguíste Renoar, 1876.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Bél lêpóc europeia foi marcada por mudanças nas fórmas de pensar e viver. Passeios públicos, jardins e cinemas estavam entre as atrações preferidas de uma cultura do divertimento, como mostrado na pintura de Renoar. As descobertas científicas (como a da radioatividade) e a aplicação de tecnologia ao ambiente urbano – com a instalação de linhas de bonde, trem e metrô e de energia elétrica – reforçaram a noção de superioridade do mundo industrializado propagada no período. Assim, muitos acreditavam que as conquistas dessa civilização branca, burguesa e afrancesada deveriam ser mostradas ao mundo. Para isso, organizaram-se as chamadas exposições universais, como a de Paris.

A Paz Armada e o sistema de alianças

O período anterior ao início da Primeira Guerra Mundial foi marcado pelo forte desenvolvimento da indústria bélica e pela crescente tensão nas relações internacionais. Por isso, a aparente estabilidade entre os países europeus ficou conhecida como Paz Armada. Nesse cenário tenso, as rivalidades entre as grandes potências – principalmente entre o Reino Unido, a França e os impérios Alemão e Russo – agravaram-se.

Desde sua unificação, no século dezenove, o Império Alemão exigia a redivisão dos territórios coloniais europeus nos continentes africano e asiático. Tais territórios eram controlados, sobretudo, pela França e pelo Reino Unido.

Além disso, o nacionalismo alemão foi um ingrediente importante dessa disputa. Desde o final do século dezenove, clubes patrióticos e militares difundiam seus ideais de superioridade da suposta raça germânica e endossavam os planos de expansão do Segundo Reichglossário .

Assim, com o objetivo de aumentar sua influência no cenário internacional e pressionar as demais potências europeias, o Império Alemão investiu na criação de um grande parque industrial. O desenvolvimento da indústria alemã, especialmente a de armamentos, e a ampliação de sua marinha mercante e de guerra constituíam uma ameaça à hegemonia britânica na Europa.

Cartaz. Caricatura de Guilherme segundo, homem de olhos claros, bigode avermelhado e um capacete preto com o emblema de uma águia na frente. Ele está com a boca aberta, abocanhando o globo terrestre que segura com as mãos.
Cartaz. Ilustração de dois homens jogando futebol usando o globo terrestre como bola. O homem à frente tem cabelos escuros e um longo bigode preto. Veste um casaco com três listras horizontais nas cores preto, branco e vermelho. Atrás, o outro homem é careca, com bigode cheio e branco, contornando a boca. Ele veste uma blusa com uma listra amarela e uma preta, com o emblema de uma ave ao centro. Ao fundo, pessoas observam.
Cartazes italianos produzidos na década de 1910, no contexto do início da Primeira Guerra Mundial.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em uma das imagens, o imperador alemão Guilherme segundo é representado abocanhando o globo terrestre, acompanhado da legenda “O ganancioso”. Na outra, Guilherme segundo e Francisco José, o imperador austro-húngaro, são representados jogando futebol com o globo terrestre. Na parte de baixo da ilustração está escrito: “Como o mundo é pequeno!”. A movimentação dos países em busca de acordos e alianças militares era acompanhada pelos cartunistas do período. Essas imagens fizeram parte importante da propaganda política vinculada ao conflito. Por meio delas, os governos tentavam convencer a opinião pública de que a culpa pelo início da guerra era do inimigo.

As disputas entre o Reino Unido e o Império Alemão eram acompanhadas de perto pela França. Nesse país, fomentava-se um forte sentimento de revanche contra os alemães, incentivado pela derrota na Guerra Franco-Prussiana e pela consequente perda da região da Alsácia-Lorena (rica em carvão). Esse episódio feriu gravemente o orgulho dos franceses, para os quais era uma questão de honra recuperar esses territórios.

O Império Russo e o Império Austro-Húngaro, por sua vez, tinham muito interesse pela região dos Bálcãs, na Europa. Isso os colocava em campos opostos e – somado às rivalidades e tensões internacionais do período – explica a formação de dois grandes blocos de aliança na Europa.

A formação dos lados do conflito

O primeiro passo decisivo em direção à guerra foi dado pelas chamadas potências centrais, com a formação da Tríplice Aliança, um acordo militar firmado em 1882 entre o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro e a Itália.

Como resposta, a França aproximou-se do Império Russo e estabeleceu com ele a Aliança Franco-Russa, em 1892. Algum tempo depois, em 1904, britânicos e franceses deram origem à Entente Cordiale e, em 1907, os britânicos firmaram com os russos a Convenção Anglo-Russa. Isso significa que não havia um acordo militar formal entre a França, o Reino Unido e o Império Russo como o que existia entre os integrantes da Tríplice Aliança.

No entanto, pelos tratados bilaterais estabelecidos, em caso de guerra, tais potências estariam do mesmo lado. Foi por essa lógica que o arranjo entre elas ficou conhecido como Tríplice Entente.

Europa: sistema de alianças – 1914

Mapa. Europa: Sistema de alianças, 1914. Destaque para o território europeu. Legenda. Lilás: Tríplice Aliança. Verde: Tríplice Entente e aliados. Branco: Países neutros. Quadrado vermelho: Região dos Bálcãs. Tríplice Aliança: Império Alemão; Império Austro-Húngaro; Bulgária; Império Turco-Otomano. No mapa: Tríplice Entente e aliados: Império Russo; Reino Unido; Bélgica; França; Portugal; Itália; Montenegro; Romênia; Sérvia; Grécia. Países neutros: Noruega; Islândia; Suécia; Dinamarca; Países Baixos; Espanha; Suíça; Albânia. Região dos Bálcãs: quadrado de linha vermelha que cerca parte da Romênia, Bulgária, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Estreito de Bósforo e Estreito de Dardanelos. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 470 quilômetros.

FONTES: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas stratégique. Paris: Complexe, 1988. página 34; enciclopédia BRITANNICA DO BRASIL. Atlas histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise a representação, no mapa, de dois blocos de aliança antagônicos e responda: de que fórma a posição geográfica do Império Alemão poderia comprometer o país em uma guerra disputada entre os integrantes desses dois blocos?

A questão dos Bálcãs

Entre o fim do século dezenove e o início do século vinte, toda a região dos Bálcãs se tornou alvo da disputa imperialista europeia. A perda do contróle do Império Turco-Otomano sobre esses territórios possibilitou a formação de várias nações independentes.

Com a formação de novos países e a reorganização das fronteiras, algumas potências, como o Império Russo e o Império Austro-Húngaro, manifestaram interesse pelo domínio da região.

O interesse mais imediato do Império Russo estava relacionado à possibilidade de controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos (analise o mapa na página anterior) e, por meio da anexação desses territórios, encontrar uma saída para o Mar Mediterrâneo.

A justificativa utilizada pelo Império Russo contrariava os diversos movimentos nacionalistas atuantes na Europa Oriental (denominados pan-eslavistas), que buscavam, de um lado, a união dos povos eslavos do Leste Europeu e, de outro, a autonomia desses povos em relação aos impérios centrais da Europa, particularmente o Império Austro-Húngaro.

Em 1908, os austríacos anexaram a região da Bósnia-Herzegovina. Isso frustrou os objetivos da Sérvia e de grande parte das sociedades nacionalistas formadas no local. Essas organizações, em sua maioria constituídas com base em uma lógica expansionista e militarizada, idealizavam a formação de uma Grande Sérvia. Foi, portanto, nesse cenário tenso, repleto de disputas locais, que se encontrou o pretexto para o início da guerra mundial.

No dia 28 de junho de 1914, um grupo nacionalista sérvio conhecido como Mão Negra decidiu agir e manifestar sua insatisfação contra o domínio austríaco: em saraiêvo, capital da Bósnia-Herzegovina, o estudante nacionalista sérvio Gavrilo príncip assassinou a tiros o príncipe herdeiro do trono Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, e sua esposa, Sofia, quando eles visitavam a cidade.

Fotografia em preto e branco. Casal descendo uma escadaria na direção de um carro com a capota aberta. Ela usa um longo vestido e chapéu grande. Ele usa uniforme militar e usa um chapéu com plumagem. Ao redor deles, na escadaria homens observam, alguns deles batendo continência.
Francisco Ferdinando e Sofia, em saraiêvo, alguns minutos antes do atentado. Foto de 28 de junho de 1914.
Ilustração. Capa do jornal LE PETIT JOURNAL. Grupo de pessoas saudando militares armados. As pessoas erguem chapéus e os braços. No centro uma bandeira nas cores vermelha, azul e branca.
Gravura sinalizando o conflito entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia, publicada no Le Petit Journal, em 9 de agosto de 1914. Na parte de baixo da gravura está escrito: “O conflito entre a Áustria e a Sérvia: a população sérvia aplaude as tropas”.

O início da Grande Guerra

O atentado ao príncipe austríaco funcionou como disparador do sistema de alianças formado na Europa. Assim, um mês depois do ocorrido, em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia.

Os russos, aliados dos sérvios, mobilizaram suas tropas em defesa daquele país. Poucos dias depois, o Império Alemão, a França e o Reino Unido também mobilizaram seus exércitos e honraram os compromissos assumidos anteriormente. Começou, assim, a Grande Guerra.

O desenrolar da guerra

No início do conflito, a situação do Império Alemão era particularmente desfavorável: como o território do país estava entre o da França e o do Império Russo, os alemães seriam obrigados a combater em duas frentes de batalha. Por isso, rapidamente, colocaram em prática o chamado Plano Chilifem: derrotar logo a França antes que os russos pudessem mobilizar suas tropas em direção ao país. Desse modo, evitariam lutar simultaneamente nas duas fronteiras. Para alcançar o território francês, o exército alemão invadiu a Bélgica – país que havia declarado neutralidade no conflito.

Com a movimentação das tropas alemãs na Bélgica, os britânicos declararam guerra ao Império Alemão, honrando compromissos assumidos no acordo da Tríplice Entente. A Itália, que até aquele momento integrava a Tríplice Aliança, mudou de lado, em 1915, seduzida pelas promessas do Reino Unido de concessões territoriais ao final do conflito.

Aos aliados iniciais, somaram-se o Império Turco-Otomano e a Bulgária (ao lado da Tríplice Aliança) e o Japão, a Itália e a Bélgica (ao lado da Tríplice Entente). Nos anos seguintes, por motivos diferentes, também ingressaram no confronto, ao lado da Entente, Estados Unidos, Portugal, Grécia, Romênia e Brasil.

Cartaz. Duas ilustrações separadas compõem o cartaz. À esquerda, representação de famílias em uma vila em um dia ensolarado. À direita, representação de uma cidade em ruínas em um dia nublado. Cada uma das ilustrações é acompanhada de mensagens em inglês.
Cartaz britânico de recrutamento para a guerra produzido em 1914.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nesse cartaz, o autor compara a realidade do Reino Unido à da Bélgica durante a guerra. Acima e abaixo da primeira cena, estão escritas as seguintes frases: “Um pouco da Inglaterra. Nossos lares estão seguros. Nossas mães e esposas a salvo. Nossas crianças ainda brincam e não temem nenhum mal”. Acima e abaixo da segunda, está escrito: “Um pouco da Bélgica. Seus lares estão destruídos. Suas mulheres foram assassinadas ou pior. Suas crianças estão mortas ou são escravas”. Na parte inferior do cartaz, em letras maiores, está a frase: “Apoie os homens que salvaram você”.

Dica

sáite

100 anos: Primeira Guerra Mundial

Disponível em: https://oeds.link/ZodJWx. Acesso em: 28 março 2022.

Série de reportagens publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo em 2018, ano do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial.

Os combates da Primeira Guerra Mundial

Com o início dos combates, logo se desfez na Europa a convicção de que a guerra seria curta, pois as forças dos países em conflito se equilibravam. Além disso, os exércitos construíram trincheiras, dentro das quais os soldados ficavam até o momento de atacar o inimigo. Elas ocupavam centenas de quilômetros, cortando o território europeu de norte a sul e impedindo os exércitos alemão, francês e britânico de avançar. Esse recurso militar contribuiu para que a Grande Guerra entrasse para a história como um conflito estático, desgastante e letal.

As condições dos soldados nas trincheiras eram péssimas. Esses espaços insalubres eram infestados de piolhos e bactérias, e extremamente úmidos. Por causa disso, os soldados contraíam diversas doenças, e a rotina deles era transformada em um martírio.

Guerra de trincheiras

Ilustração. Guerra de trincheiras. Área plana escavada e dividida em porções. Os caminhos escavados na terra formam um labirinto. No canto inferior esquerdo, uma construção de madeira, semelhante a uma sala. Espalhadas pelo terreno, estruturas de madeira e suportes de arame farpado. Na ilustração, três boxes de contorno azul e fundo branco com texto. No primeiro, no alto à esquerda, o texto: Madeiras, sacos de areia e cercas de arame farpado eram usados para reforçar as laterais das trincheiras. Esses materiais também estavam presentes na chamada 'terra de ninguém', espaço que separava trincheiras inimigas. No segundo, no canto inferior esquerdo, o texto: Escavadas abaixo das trincheiras ficavam as bases subterrâneas, onde eram realizadas, por exemplo, reuniões dos comandantes das operações de guerra. No terceiro, no canto inferior direito, o texto: As trincheiras eram cavadas acompanhando o formato do terreno para dificultar a ação do adversário que tentasse tomá-las. Geralmente eram estreitas, tinham 2 metros de profundidade e eram divididas em três linhas.

FONTE: MESQUITA, J. A guerra. São Paulo: Terceiro Nome, 2002. volume 1, página 154.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

A expressão guerra suja de trincheiras é com frequência utilizada pelos historiadores para se referir aos combates da Primeira Guerra Mundial. Como as trincheiras contribuíram para tornar o espaço dos campos de batalha ainda mais desgastante e mortal?

Fases do conflito

As potências que formavam a Tríplice Aliança, como já apontado, tiveram de atuar em duas frentes de batalha: na Ocidental, depois que os alemães declararam guerra à França, e na Oriental, para impedir o avanço das tropas russas. Em linhas gerais, a Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em três fases.

  • Primeira fase (entre agosto e novembro de 1914): entendida como uma guerra de movimento em virtude da movimentação das tropas envolvidas no confronto, no período anterior à construção do complexo de trincheiras que dividia especialmente a França e o Império Alemão.
  • Segunda fase (do final de 1914 até 1917): caracterizada pela organização do que os historiadores costumam chamar de guerra de posição (ou, mais popularmente, guerra de trincheiras).
  • Terceira fase (1918): marcada pelo uso de tanques de guerra, retomando a guerra de movimento.
Fotografia em preto e branco. Soldados sorrindo e jogando bola em uma área aberta. No centro dois deles disputam a bola, no alto.
Soldados inimigos jogando futebol na chamada “terra de ninguém”, no Natal de 1914.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No início da Primeira Guerra Mundial, um episódio se tornou símbolo dos movimentos de contestação à guerra na Europa: a chamada trégua do Natal de 1914. Ela ocorreu na Frente Ocidental, em uma região de trincheiras entre a Bélgica e o Império Alemão, e envolveu soldados alemães e britânicos. Por um momento, os tiros cessaram e as partes em confronto puderam celebrar juntas a noite de Natal. No dia seguinte, ocorreu uma partida de futebol entre exércitos inimigos.

Tecnologia e destruição

A tecnologia contribuiu para fazer da guerra um cenário de horrores. Pela primeira vez na história, utilizou-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventaram o tanque de guerra. Já os alemães empregaram lança-chamas e armas químicas, como o gás mostarda, que provocavam graves queimaduras. Os soldados foram, então, obrigados a usar máscaras para se proteger da guerra química travada entre exércitos inimigos.

De todas as invenções bélicas, o grande trunfo alemão foi o submarino. Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transportavam alimentos, as fôrças alemãs causaram muitos danos à população civil. Apesar da utilização do avião e do submarino, o conflito foi travado sobretudo em terra, e o uso das metralhadoras causou muitas mortes.

A Primeira Guerra Mundial foi um evento em que o passado e o presente coexistiram de fórma muito evidente: no mesmo cenário de batalhas em que armas químicas eram utilizadas, os cavalos continuaram a ser empregados em grande escala, como ocorreu no século dezenove. Milhões deles morreram no decorrer do conflito.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que é possível afirmar que a Primeira Guerra Mundial colocou à prova um continente que se considerava o centro do mundo civilizado?
  2. Descreva o sistema de alianças firmadas na Europa no início do século vinte.
  3. De que modo a tecnologia foi usada durante a guerra?

Cruzando fronteiras

Em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou na Europa, Djón rrônald Reuel Tolkien, mais conhecido como J. R. R. tólquin, tinha 22 anos e estudava literatura e língua inglesa na Universidade de óxfórd, no Reino Unido. Como boa parte dos jovens escritores de sua geração, ele participou ativamente das batalhas que se seguiram.

Em 1916, o futuro criador da trilogia literária O senhor dos anéis foi convocado para lutar na Batalha do sôme, ocorrida na França. Durante esse confronto, mais de 1 milhão de pessoas morreram, ficaram feridas ou desapareceram.

tólquin sobreviveu aos meses de confronto com os alemães e seus aliados, mas a experiência da guerra o marcou para sempre. Segundo o próprio escritor, enquanto estava internado no hospital para se recuperar da febre das trincheiras, ele criou a chamada Terra-Média, local fantástico onde se passa a narrativa de O senhor dos anéis.

Apesar de negar em diversos momentos a relação direta de sua obra com o contexto da guerra, tólquin reelaborou em sua narrativa parte dessa tragédia humana, reservando grande parte de sua trilogia para a descrição de guerras travadas entre seres fantásticos.

O horror da guerra é pressentido e experienciado em todo o romance. No entanto, isso não significa que os personagens e histórias criados por tólquin sejam um reflexo puro e simples de suas experiências como soldado ou testemunha dos massacres.

Cena de filme. Soldados de manto, escudos, lanças e um capacete longo, encobrindo parcialmente a cabeça e o rosto. Alguns deles carregam flâmulas, que tremulam ao vento.
Cena do filme O retorno do rei, de 2003, parte da trilogia O senhor dos anéis. Com o tempo, as obras de tólquin se tornaram clássicos da literatura infantojuvenil.

Na composição de O senhor dos anéis, há uma reflexão profunda sobre as esperanças depositadas na tecnologia e na modernidade. O lado perverso da história, representado pelos orques (espécie de monstros) liderados por sóron, tenta destruir a Terra-Média usando a tecnologia bélica. Trata-se de uma visão bastante pessimista do papel dos avanços científicos ocorridos na Europa entre o fim do século dezenove e o início do século vinte.

A viagem de Frôdo, personagem protagonista, pela Terra-Média marca o fim de um modo de vida integrado à natureza, que é representada pelos hobbits (espécie de humanos pequenos de pés grandes e peludos) e pelos elfos (seres fantásticos, com orelhas pontudas, que se parecem com humanos, mas são sempre jovens e bonitos).

O desfecho da história, à primeira vista, parece um típico happy endglossário , mas não é. O tom da narrativa é de tristeza por um mundo que foi destruído e/ou superado pelos acontecimentos recentes – da guerra –, refletindo um sentimento muito semelhante ao que tomou conta das pessoas após o fim da Grande Guerra.

Cena de filme. Homem de cabelo castanho comprido e ondulado. Está sorrindo e com a testa franzida, olhando fixamente para um anel dourado em suas mãos.
Cena de filme. Gollum, personagem careca com apenas alguns fios de cabelo. Tem a cabeça oval, olhos grandes e claros. O corpo é magro e pequeno. Está encolhido sobre uma pedra, olhando de lado.
Cenas do filme O retorno do rei, de 2003, em que o personagem Ismígol (homem segurando o anel) se transforma em Gólum.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O sucesso dessa trilogia literária, lançada na década de 1950, foi favorecido pelas adaptações cinematográficas dirigidas por píter Djéksôn: A sociedade do anel, de 2001, As duas torres, de 2002, e O retorno do rei, de 2003. No último filme, observa-se a transformação do personagem Ismígol em Gólum, chamado também de a criatura, um monstro que vive isolado contemplando seu precioso anel. A sequência da mudança do personagem o torna símbolo da desumanização e da perda de inocência provocada pela ambição do anel.

Responda no caderno.

  1. Levando em consideração o contexto imediatamente anterior ao início da Primeira Guerra Mundial, explique a que se refere o trecho: “as esperanças depositadas na tecnologia e na modernidade”.
  2. Elabore um pequeno texto relacionando a obra de J. R. R. tólquin à Primeira Guerra Mundial.
  3. Junte-se a dois colegas e avaliem as informações expostas no texto da seção, ou na narrativa de Tolkien (caso vocês conheçam os filmes). Depois, pesquisem – em sites e em jornais e revistas impressos especializados em cinema críticas da época e dados de bilheteria de cinemas do mundo todo sobre os filmes baseados na obra de J. R. R. tólquin que foram lançados na década de 2000. Anotem suas descobertas para uma segunda rodada de conversa em sala de aula, quando discutirão com os demais colegas as seguintes questões: por que essas obras seduziram o público nos anos 2000? As mudanças climáticas que ameaçam a Terra ou os constantes conflitos com uso de tecnologia avançada podem contribuir para que o público se conecte a uma narrativa passada em um mundo fictício?

A entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia

Antes do início dos conflitos na Europa, havia muita afinidade política e cultural entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Com o desenrolar da guerra, essa afinidade se intensificou, e empresas estadunidenses passaram a fornecer armas e alimentos para a Entente.

Em janeiro de 1917, os alemães colocaram em prática um ousado plano de atacar as embarcações que fornecessem mantimentos e armas para os britânicos. No trajeto pelo Oceano Atlântico em direção à Europa, boa parte desses recursos era transportada por navios estadunidenses, que começaram a ser alvejados por submarinos alemães.

O naufrágio de sete navios mercantes intensificou as manifestações públicas nos Estados Unidos favoráveis à guerra. Assim, no dia 6 de abril de 1917, o Congresso desse país declarou oficialmente guerra ao Império Alemão.

Poucos meses depois, em outubro de 1917, a Revolução Russa, que você estudará no capítulo 3, mudou novamente os rumos da guerra. Em dezembro daquele ano, o govêrno, de orientação socialista, acatou a vontade da população, desgastada pelos anos de confronto, e anunciou a retirada do país do conflito. O custo dessa decisão, no entanto, foi alto para a Rússia, que teve de ceder vários territórios ao Império Alemão.

Com a saída dos russos, os alemães puderam concentrar suas fôrças na Frente Ocidental. Mesmo assim, na segunda metade de 1918 a Tríplice Aliança começou a acumular derrotas nas batalhas contra a Entente.

Fotografia em preto e branco. Anna Louise Strong, mulher de rosto arredondado, olhos grandes e boca pequena. Está sorrindo com os lábios fechados. O cabelo está amarrado, com alguns fios frouxos e bagunçados.
A jornalista e ativista Anna Luí Istrôngui , líder da União Americana contra o Militarismo, em Seattle, Estados Unidos. Foto do início do século vinte.
Charge em preto e branco. Trabalhadores com os braços levantados e unidos, formando um único e grande punho cerrado. Com a outra mão, alguns seguram ferramentas. Ao fundo indústrias com chaminés soltando fumaça.
A mão que governará o mundo – uma grande união, charge publicada nos Estados Unidos em 1917.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na charge, de 1917, os trabalhadores do mundo todo são convocados a se posicionar contra a guerra e, principalmente, contra a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os movimentos de oposição à guerra se espalharam pela Europa e pelos Estados Unidos. Deles participaram, sobretudo, grupos de intelectuais e operários de orientação socialista.

Versões em diálogo

As imagens a seguir são representações de um dos personagens mais simbólicos da história dos Estados Unidos: o Tio sém.

Ilustração em preto e branco. Tio Sam, homem de rosto fino, cabelos lisos, grandes e brancos. Tem o cavanhaque comprido. Veste uma roupa com listras e estrelas. Está de perfil, observando o globo terrestre com uma lupa.
Tio sém, ilustração produzida por frênqui Leslie, em 1898, no contexto da Guerra Hispano-Americana.
Cartaz. Ilustração de Tio Sam, homem de casaco azul, gravata borboleta vermelha, cartola branca com uma faixa azul ilustrada com estrelas brancas. Ele está apontando para frente, com o olhar fixo. Na parte inferior do cartaz a informação: I WANT YOU FOR U.S. ARMY. NEAREST RECRUITING STATION.
Cartaz de recrutamento produzido por Diêimis Flég, nos Estados Unidos, em 1917.

As primeiras representações do Tio sém foram criadas na década de 1850 pelo ilustrador frênqui Bellew. Nas décadas seguintes, cartunistas fizeram uso maciço dessa alegoria em charges políticas. frênqui Leslie, por exemplo, continuou a desenvolver o personagem, caracterizando-o com as listras e as estrelas da bandeira estadunidense.

Entre o fim do século dezenove e o início do século vinte, diante do aumento da influência dos Estados Unidos na América, o personagem passou por outras modificações: o ancião caricato, quase sedentário e, em muitos casos, desenhado com gestos e expressões pacíficas, começou a ganhar uma face cada vez mais ameaçadora.

Nesse ponto reside a importância das ilustrações de Diêimis Flég: ele foi o responsável pela popularização de um Tio sém cada vez mais ativo e autoritário, com gestos intimidadores. Em diversas situações, Flég representou o personagem com as mangas arregaçadas e com a aparência física menos debilitada e rejuvenescida.

Finalmente, em 1917, com base em um cartaz produzido em 1914 pelo ilustrador britânico Alfred Leete, Flég publicou sua versão final do Tio sém. No contexto da Primeira Guerra Mundial, o govêrno dos Estados Unidos utilizou a imagem para um cartaz de recrutamento que se tornou famoso. Nele, o Tio sém aparece com o dedo em riste, dizendo: “I want you for U.S. Army” (“Eu quero você para o exército dos Estados Unidos“).

Responda no caderno.

  1. Descreva o personagem na ilustração de frênqui Leslie, de 1898.
  2. Compare a ilustração de frênqui Leslie com a de Diêimis Flég e indique duas mudanças na caracterização desse personagem.
  3. Em sua opinião, por que no cartaz de recrutamento foi utilizada a versão do Tio sém feita por Flég, e não a de Leslie?

A guerra na África e a presença de africanos e asiáticos na Europa

Em novembro de 2018, completou-se o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Longe de celebrar o heroísmo da guerra, boa parte dos eventos que ocorreram na ocasião encaixou-se na lógica do co-memorar (“lembrar de fórma conjunta”) uma das grandes feridas da humanidade.

Muitos livros e filmes foram produzidos com base na ideia de que a guerra deve ser lembrada para nunca mais se repetir. Nessas diferentes produções sobre a guerra, uma lógica narrativa prevaleceu: as cenas de batalha lembradas tinham acontecido na Europa.

Do que se deve lembrar? O que se deve esquecer? Essas perguntas são fundamentais quando se pretende narrar um acontecimento do passado ou refletir sobre ele.

Boa parte dos países envolvidos na guerra – o Reino Unido, a França, o Império Alemão, a Bélgica e Portugal – havia participado ativamente da Conferência de Berlim e tinha, portanto, colônias na África e na Ásia.

Em 1914, ano em que teve início a guerra, com exceção da Etiópia e da Libéria, que eram independentes, o continente africano encontrava-se ocupado e dividido por potências europeias. Por que se sabe tão pouco sobre os impactos da guerra na África, por exemplo?

Estima-se que mais de 2 milhões de africanos tenham se envolvido no conflito, dentro e fóra de seus países de origem, como soldados, carregadores, cozinheiros, informantes ou enfermeiros. A versão da história que se narra, porém, é, em muitos casos, a escrita por historiadores europeus. Trata-se, portanto, de uma interpretação parcial e colonialista desse conflito.

Fotografia em preto e branco. Soldados atrás de uma trincheira feita de pedras. Empunham armas de cano longo sobre a trincheira.
Tropa colonial do Reino Unido em combate no local correspondente ao atual território de Camarões durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918.

Dica

FILME

Mosquito

Direção: João Nuno Pinto.

Portugal, Brasil, França, 2020.

Duração: 122 minutos.

O filme conta a história de Zacarias, um jovem português que sonha em viver grandes aventuras. Por isso, alista-se no exército durante a Primeira Guerra Mundial e é enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. A partir de então, começa sua jornada de sobrevivência e amadurecimento.

Entre o final do século dezenove e o início do século vinte a África se tornou uma região essencial para a política e a economia europeias. Um ano antes da guerra, em 1913, o continente africano representava 7% do total do comércio externo do Reino Unido e 10% do da França. Nesse sentido, apesar de a maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o envolvimento do continente africano na Grande Guerra foi muito relevante.

As zonas de conflito concentraram-se, sobretudo, em duas regiões: a da África Oriental (maior e mais demorada) e a da África Ocidental (com duas operações militares, relativamente pequenas, destinadas a desmantelarglossário as colônias alemãs de Togo e de Camarões).

A campanha da África Oriental consistiu em uma série de batalhas e ações de guerrilha, executadas por forças militares alemãs, que afetaram diretamente porções do território de Moçambique, Rodésia do Norte (atual Zâmbia), África Oriental Britânica (que compreende aproximadamente o território do Quênia), Uganda e Congo Belga.

Nessas regiões, os efeitos do recrutamento em massa de carregadores fizeram-se sentir rapidamente nas atividades agrícolas. Sem pessoas para trabalhar no campo, a produção de alimentos caiu e foi insuficiente. Houve fome generalizada em todo o continente africano. Em Uganda, por exemplo, entre 1918 e 1919, um em cada quatro habitantes morreu de fome. Estima-se que cêrca de 100 mil africanos que residiam nos territórios do protetorado britânico da África Oriental e foram convocados para a guerra não voltaram para casa. Mas quase não existem informações sobre essas pessoas, pois por muito tempo elas foram excluídas das narrativas sobre o conflito.

Em relação à participação das colônias asiáticas na guerra, é importante ressaltar a contribuição significativa da Índia para o Império Britânico. Tropas indianas atuaram em diversos campos de batalha na Europa e na África, sendo consideradas o maior exército de voluntários do conflito, com uma fôrça total de aproximadamente 1,5 milhão de homens, dos quais 1,1 milhão participaram diretamente dos conflitos ou forneceram assistência para as operações militares.

Fotografia em preto e branco. Soldados de uniforme, capacete e armas sobre o ombro. Estão marchando em filas.
Soldados africanos convocados pelo Reino Unido, na Batalha de Verdun, na França, durante a Primeira Guerra Mundial. Foto de 1916.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Soldados das colônias, como os da imagem, combateram no território europeu. Além disso, as colônias africanas não eram apenas áreas periféricas de uma guerra europeia; eram parte integrante da economia de guerra dos países europeus, fornecendo matérias-primas, alimentos e soldados para a frente de batalha.

As mulheres e a Primeira Guerra Mundial

Há muitos textos sobre homens que atuaram como soldados, generais, algozes e libertadores na Primeira Guerra Mundial, mas as mulheres não são mencionadas. No entanto, é importante reconhecer que elas estiveram no centro do esforço de guerra, com papéis diversificados, em todas as nações europeias envolvidas no conflito.

Durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres estiveram à frente dos trabalhos até então desempenhados quase exclusivamente por homens. Com o recrutamento em massa dos homens para os campos de batalha, elas assumiram funções importantíssimas na agricultura, no comércio, na indústria e no setor de serviços.

Estima-se que em 1916, na França, por exemplo, 44% das granjas eram comandadas por mulheres. No início de 1918, aproximadamente quatrocentas mil operárias trabalhavam nas indústrias francesas. No Reino Unido, o crescimento do número de operárias foi ainda maior: aproximadamente metade do trabalho no país era feito por mulheres.

Além do trabalho nas indústrias (inclusive nas de armamentos), muitas se envolveram nas frentes de batalha diretamente, atuando como enfermeiras, auxiliares do exército, mecânicas de aviões, motoristas de caminhões e ambulâncias ou cozinheiras.

Esse aumento da atividade feminina em áreas até então dominadas por homens foi acompanhado por uma série de conquistas sociais e políticas. As mulheres se organizaram em movimentos e associações políticas distintas, como a União Social e Política das Mulheres (dáblio ésse pê u – sigla do nome em inglês, Women’s Social and Political Union), fundada por Emmeline Pankhurst. Assim, além de conseguirem melhores condições de trabalho, elas conquistaram o direito de frequentar universidades e de votar no Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1920.

Fotografia em preto e branco. Mulheres trabalhando em uma fábrica. À frente duas delas manuseiam um molde cilíndrico de ferro, pendurado em uma corda encaixada em uma roldana. Abaixo dele um cubo com a boca afunilada. Atrás delas uma mulher perto de uma bancada com vários cilindros.
Trabalhadoras de fábrica de munições, nos arredores de líverpul, Reino Unido. Foto de 1917.
Fotografia em preto e branco. Duas mulheres empurrando um barril deitado. Ao redor delas outros barris no chão.
Mulheres trabalhando na carga e descarga de produtos de uma companhia de trens comerciais na França. Foto de 1916.

O fim da guerra e os acordos de paz

Como já mencionado, a partir de 1918 a Tríplice Aliança começou a acumular derrotas: enquanto soldados alemães e austríacos sofriam com a fome e a falta de recursos, a Entente recebia ajuda material e militar dos Estados Unidos.

Em setembro de 1918, os alemães começaram a perder aliados (Bulgária, Império Turco-Otomano e Império Austro-Húngaro), que saíram da guerra após uma série de revesesglossário . Problemas internos, relacionados à situação de carestiaglossário provocada pela guerra, também ameaçavam o Império Alemão: em várias cidades ocorriam greves e manifestações contrárias ao imperador Guilherme segundo.

Diante do caos instaurado na Europa, o Império Austro-Húngaro entrou em colapso e se desfez, dividindo-se em quatro Estados independentes: Áustria, Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia (Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos). Outra parte importante do território austro-húngaro foi incorporada pela Polônia.

No Império Alemão, uma revolução de inspiração socialista comandada por Rosa Luxemburgo e Cal Libiquinét, com ajuda de liberais descontentes, contribuiu para a queda do Segundo Raich. O imperador Guilherme segundo abdicou do trono e a monarquia cedeu espaço a uma república parlamentarista, conhecida pelo nome de República de Weimar. Sem condições de prosseguir no conflito, o novo governo decidiu desistir da guerra e assinou um armistícioglossário em 11 de novembro de 1918.

Com o fim do conflito, o presidente estadunidense Woodrow Wilson propôs, ainda em 1918, catorze pontos que deveriam orientar os acordos entre as nações europeias para evitar uma paz punitiva, pautada na vingança. Apesar dessa iniciativa, o forte revanchismo francês tornou as condições da rendição extremamente severas para os alemães.

Em 28 de junho de 1919, a paz com a Alemanha se materializou no Tratado de Versalhes. A Alemanha, considerada a única culpada pela guerra, teve de pagar pesadas indenizações aos países vitoriosos e renunciar a boa parte dos territórios em disputa ou sob seu contrôle.

Fotografia em preto e branco. Homem de terno e chapéu martelando capacetes. Alguns com um furo no centro estão empilhados à direita. Ao fundo, outros materiais aglomerados.
Destruição de capacetes e outros materiais de uso militar alemães após a assinatura do Tratado de Versalhes. Foto de 1919.

Outras consequências da guerra

Obedecendo a apenas um dos catorze pontos defendidos no plano internacional pelo presidente Woodrow Uílson, o Tratado de Versalhes e outros assinados na sequência deram margem à criação da Liga das Nações, instituição que a partir daquele momento deveria assegurar a paz internacional. A eficácia de sua atuação, entretanto, foi limitada: a imposição de tratados humilhantes alimentou movimentos nacionalistas em toda a Europa, principalmente na Alemanha.

Dos países envolvidos diretamente na guerra, apenas os Estados Unidos saíram fortalecidos. Sem um território para reconstruir e com suas indústrias preservadas, os estadunidenses entraram em um período de efervescência cultural e crescimento econômico.

Países como a Bélgica e a Sérvia, por sua vez, foram muito destruídos, e a França perdeu aproximadamente 18% de sua população no conflito. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. As estimativas variam entre 7 e 17 milhões de pessoas. Os feridos ultrapassaram os 20 milhões.

Nenhuma outra guerra até aquele momento havia alterado tanto o mapa da Europa. Quatro impérios desapareceram com o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Turco-Otomano e o Russo. Com eles, quatro importantes dinastias também caíram: a dos Roenzólen, a dos rábisburgo, a dos otomanos e a dos romanóv.

Os alemães perderam muitos territórios: todas as suas colônias, o território da Alsácia-Lorena (que voltou ao contrôle da França) e parte da antiga Prússia (cedida à Polônia, país fronteiriço). Além disso, o militarismo alemão sofreu forte abalo: o exército nacional foi reduzido drasticamente e a fronteira com a França (Renânia) foi desmilitarizada. Os alemães estavam ainda proibidos de ter marinha, aviação de guerra ou recrutamento militar.

Fotografia. Cemitério em uma área plana e verde. Cada túmulo tem uma cruz branca e flores vermelhas. Ao fundo, algumas árvores.
Museu e Memorial da Primeira Guerra Mundial, em Verdun, França. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O local mostrado nesta imagem abriga um cemitério onde o corpo de muitos soldados mortos na Batalha de Verdun está sepultado. Além disso, estão conservadas trincheiras e objetos usados pelos combatentes, com o objetivo de manter viva a memória do horror causado por uma guerra.

Muitas das posses territoriais do Império Turco-Otomano na África e no Oriente Médio passaram para o domínio britânico e francês. Entre as possessões otomanas estava a região da Palestina. Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos fizeram incursões na Península Arábica com o objetivo de conseguir o apôio dos povos árabes na luta contra o Império Turco-Otomano. Esse apôio militar contribuiu muito para o sucesso do Reino Unido nas campanhas no Oriente Médio contra os otomanos.

Nos anos finais do conflito, os britânicos, que contavam com o apôio dos árabes nas lutas no Oriente Médio, aproximaram-se do movimento sionistaglossário judaico. Em troca de ajuda financeira, o govêrno britânico prometeu aos sionistas que facilitaria o estabelecimento na região de um Estado judaico após vencer a guerra e controlar a Palestina. Assim, em 1917, os britânicos assinaram a Declaração de Balfour, obtendo o apoio da comunidade judaica internacional ao esforço de guerra e às pretensões britânicas de controlar áreas no Oriente Médio.

Dessa fórma, ao fim da Primeira Guerra Mundial, após a Palestina tornar-se um protetorado do Reino Unido, os britânicos tiveram de administrar demandas de árabes e de judeus sobre o território, mas não obtiveram sucesso. Atentados e rebeliões de ambos os lados ocorreram na Palestina. Anos depois, em 1948, os britânicos deixaram a região e foi proclamado o Estado de Israel. O conflito entre árabes e judeus na região (denominado Questão Palestina), porém, dura até os dias de hoje.

Europa após a Primeira Guerra Mundial

Mapa. Europa após a Primeira Guerra Mundial. Destaque para o continente europeu. Legenda. Verde: Rússia soviética. Laranja: Perdas do Império Russo. Roxo: Alemanha, Vermelho: Perdas do Império Alemão. Rosa: Áustria. Amarelo: Perdas do Império Austro-Húngaro. No mapa. Rússia Soviética: território da Rússia pós-revolução. Perdas do Império Russo: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e pequeno trecho ao leste da Romênia. Alemanha: território da Alemanha pós-primeira guerra. Perdas do Império Alemão: Alsácia-Lorena e Corredor polonês, território da Polônia entre os dois trechos do território alemão. Áustria: território da Áustria pós-primeira guerra. Perdas do Império Austro-Húngaro: Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, pequeno trecho ao norte da Itália e boa parte do território da Romênia, no oeste deste país. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 550 quilômetros.
 

FONTE: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. É possível afirmar que a guerra afetou outros continentes além do europeu? Justifique.
  2. Descreva o papel das mulheres envolvidas nos conflitos da Primeira Guerra Mundial.
  3. Qual foi a proposta de Woodrow Uílson para os acordos de paz ao final da guerra? Esse plano foi colocado em prática? Justifique.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Analise os mapas apresentados a seguir. Eles indicam as fronteiras políticas do continente europeu antes e depois da Primeira Guerra Mundial.

Mapa. 1914. Divisão política do território europeu em 1914. Países: Império Austro-Húngaro, Romênia, Espanha, Portugal, França, Itália, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Suíça, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido, Irlanda, Bulgária, Império Turco-Otomano, Império Alemão, Noruega, Islândia, Dinamarca, Suécia, Império Russo. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros. Mapa. 1914. Divisão política do território europeu em 1914. Países: Império Austro-Húngaro, Romênia, Espanha, Portugal, França, Itália, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Suíça, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido, Irlanda, Bulgária, Império Turco-Otomano, Império Alemão, Noruega, Islândia, Dinamarca, Suécia, Império Russo. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros.Mapa. 1918. Divisão política do território europeu em 1918. Países: Alemanha, Suécia, Finlândia, Rússia Soviética, Suíça, Hungria, Bélgica, Romênia, Itália, Portugal, Espanha, Bulgária, Noruega, Dinamarca, Polônia, França, Iugoslávia, Albânia, Turquia, Grécia, Áustria, Estônia, Letônia, Lituânia, Países Baixos, Alemanha (Prússia), Tchecoslováquia, Irlanda, Reino Unido, Islândia. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros.

FONTES: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52; Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas stratégique. Paris: Complexe, 1988. página 34; enciclopédia Britânica DO BRASIL. Atlas histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.

  • Com base nos mapas, explique pelo menos duas grandes transformações ocorridas na Europa após o término do conflito.
  1. Sobre a participação dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, copie no caderno a alternativa correta.
    1. Desde o início dos confrontos na Europa, o govêrno estadunidense mobilizou seu contingente militar em favor da Tríplice Aliança.
    2. Mesmo sendo parte da Tríplice Entente, até 1915 o govêrno estadunidense adotou uma posição de neutralidade no confronto.
    3. Em janeiro de 1917, o Império Alemão começou a afundar navios mercantes estadunidenses que cruzavam o Oceano Atlântico. Essa ofensiva precipitou a entrada dos Estados Unidos na guerra em abril do mesmo ano.
    4. Assim como os países europeus, os Estados Unidos foram alvo de numerosas batalhas e boa parte de seu território foi destruída.
    5. A participação dos Estados Unidos na guerra foi irrelevante em razão do baixo orçamento disponibilizado pelo govêrno.

Aprofundando

3. Analise o quadro a seguir, em que são representados os gastos militares das principais potências europeias entre o fim do século dezenove e o início do século vinte.

Gastos militares – 1880-1914*

Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Reino Unido, Império Russo, Itália e França

1880

132

1890

158

1900

205

1910

288

1914

397

* Em milhões de libras esterlinas.

FONTE: róbisbáum, E. J. A era dos impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. página 479.

  • Com base nos dados apresentados, explique a expressão Paz Armada.

4. No gráfico a seguir é indicado o número de mortos por país durante a Primeira Guerra Mundial. Analise-o e, em seguida, faça as atividades propostas.

Perdas humanas na Primeira Guerra Mundial

Gráfico com barras vermelhas na horizontal. Perdas humanas na Primeira Guerra Mundial.  Alemanha: 1.808.500; Rússia: 1.700.000; França: 1.385.000; Áustria-Hungria: 1.200.000; Reino Unido: 947.000; Itália: 460.000; Sérvia: 360.000; Turquia: 325.000; Romênia: 250.000; Estados Unidos: 115.000.

FONTE: ríguelmân, W.; quínder, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 402.

  1. Que países sofreram mais perdas humanas durante a guerra?
  2. Com base no que você estudou, indique dois fatores que contribuíram para que esse número fosse tão alto.
  3. Levando em consideração os dados apresentados, explique o contexto político, econômico e social da França, do Reino Unido, da Rússia e dos Estados Unidos ao final do confronto.

5. Leia o texto e analise a imagem a seguir. Depois, faça o que se pede.

“Trata-se de um penny britânico com o elegante perfil do rei Eduardo sétimo, mas sua imagem foi alterada por um gesto que então consistia em um crime. Inscritas por toda a cabeça do rei estão as palavras VOTES FOR WOMEN [Votos para as mulheres]. Esta moeda sufragista simboliza todas as pessoas que lutaram pelo direito ao voto. reticências

reticências Desfigurar moedas era apenas uma dentre muitas táticas, mas a escolha do penny foi especialmente engenhosa: pennies de bronze de valores pequenos, com o mesmo diâmetro de uma moeda moderna de duas libras, eram grandes o suficiente para ostentar letras facilmente legíveis, mas numerosos demais para serem recolhidos pelos bancos, garantindo assim que a mensagem na moeda circulasse de modo amplo e indefinido.

reticências A campanha das sufragistas foi interrompida pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, mas a guerra em si ofereceu fortes argumentos, na verdade decisivos, para conceder às mulheres o direito ao voto. De súbito, as mulheres tiveram a oportunidade de pôr à prova sua capacidade em ambientes tradicionalmente masculinos reticências.”

MACGREGOR, N. A história do mundo em 100 objetos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. página 681-688.

Fotografia. Moeda com inscrições na borda e no centro o busto de perfil de um homem careca com barba e bigode cheios. Sobre a imagem a inscrição com a frase: VOTES FOR WOMEN.
Moeda (penny) de 1903 com a representação do busto do rei Eduardo sétimo e a inscrição “Votos para mulheres”.
  1. Como o movimento sufragista se apropriou da moeda britânica?
  2. Por que essa apropriação pode ser considerada altamente subversiva?
  3. Que relações podem ser estabelecidas entre a Primeira Guerra Mundial e a conquista do voto pelas mulheres?
  1. Junte-se a quatro colegas e pesquisem imagens de mulheres no período da Primeira Guerra Mundial. Podem ter relação direta com o conflito (por exemplo, na linha de montagem de fábrica de armamentos, motoristas de ambulâncias em campos de batalha etcétera) ou indireta (realizando atividades como alimentar fornos de carvão, trabalhar na construção civil ê tê cê ponto). Selecionem uma dessas duas categorias e reúnam cinco imagens. Produzam uma apresentação contextualizando as imagens (com indicação da fonte, da data aproximada e do local em que cada fotografia foi feita, descrição ê tê cê ponto). Depois da apresentação de todos os grupos, debatam as seguintes questões:
    • A difusão dessas imagens pode ter contribuído para que as mulheres alcançassem mais independência e direitos?
    • De que modo as mulheres são representadas hoje em dia ao executar tarefas como as das imagens?
    • Hoje em dia há profissões consideradas adequadas apenas para homens? Por quê?
    • O que vocês podem fazer para combater as ideias preconceituosas de que as mulheres são menos capazes que os homens para desempenhar certas tarefas?

Glossário

Segundo Reich
: Segundo Império Alemão, que se configurou no período da unificação do país, em 1871, e se estendeu até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. A denominação deve-se à associação desse período com o do Primeiro Reich, termo usado para se referir ao Sacro Império Romano-Germânico, que teve início em 962 e se desintegrou em 1806. O termo pode ser traduzido por “império” ou “reino”.
Voltar para o texto
Happy end
: nesse caso, referência ao final feliz de livros e filmes, em que todos os personagens resolvem seus conflitos, ou seja, encontram uma solução para os problemas enfrentados durante a narrativa, alcançando a felicidade.
Voltar para o texto
Desmantelar
: desmontar, desfazer, desmanchar.
Voltar para o texto
Revés
: problema, impasse, dilema.
Voltar para o texto
Carestia
: escassez, falta, privação.
Voltar para o texto
Armistício
: cessar-fogo, suspensão da guerra.
Voltar para o texto
Movimento sionista
: cessar-fogo, suspensão da guerra movimento político que ganhou impulso em 1897, com a realização do primeiro Congresso Sionista Mundial na Basileia, na Suíça. O evento teve como inspiração as ideias do jornalista Theodor Herzl, que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado nacional judaico no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel.
Voltar para o texto