CAPÍTULO 2  A Primeira República no Brasil

No fim do século dezenove, após a proclamação da república, houve uma modificação nas pautas políticas do país e iniciou-se um debate fundamental a respeito do futuro da nação. Como deveria ser o Brasil?

As respostas a essa questão variavam muito e mobilizaram pessoas com ideias e propostas, muitas vezes, contraditórias: homens e mulheres negros, indígenas, trabalhadores do campo e da cidade, artistas, intelectuais, militares e latifundiários.

Como você estudará neste capítulo, a construção da ordem republicana no Brasil ocorreu em meio a disputas pelo poder e ao silenciamento de boa parte da população. Pensando nisso, analise a pintura e responda às questões.

Pintura. Mulheres em uma sala costurando uma enorme bandeira do Brasil. A bandeira está esticada no chão, sobre o mastro, que está com uma das pontas sobre uma cadeira. À frente, um bebê deitado em um travesseiro no chão tem parte do corpo coberto com a bandeira. Ele brinca com uma das estrelas que será fixada na bandeira. À esquerda, duas mulheres sentadas no chão, uma delas está costurando e a outra amamentando. Ao fundo, uma mulher no canto costura uma das pontas da bandeira. No centro, uma criança em pé, abraçada a parte do tecido da bandeira e uma mulher sentada na cadeira costurando. Atrás dela, uma mulher com uma criança no colo. Ao lado dela, um senhor sentado.
A pátria, pintura de Pedro Bruno, 1919.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que está representado na pintura? De que fórma o artista fez essa representação?
  2. Em sua opinião, por que o pintor representou crianças próximas à bandeira?
  3. Não há personagens negros ou indígenas na obra. O que essa ausência pode revelar sobre os primeiros anos da república no Brasil?

A crise do império e a proclamação da república

Na década de 1870, vários grupos sociais faziam oposição ao regime imperial no Brasil. As críticas ao imperador tinham três focos principais: o dos abolicionistas, o dos cafeicultores e o do exército.

Os abolicionistas, espalhados por todo o país, criticavam a demora do processo de abolição da escravidão. O Poder Moderador e o centralismo monárquico desagradavam muitos cafeicultores, principalmente os paulistas, que estavam preocupados com o fim da escravidão sem indenização. O exército, por sua vez, que tinha sido vitorioso na Guerra do Paraguai (ocorrida entre 1864 e 1870), solicitava mais participação política.

As críticas à monarquia também eram fortalecidas pelo contexto do final do século dezenove: na América Latina, a maioria das nações independentes havia adotado a república como fórma de govêrno. Na América do Norte, apesar da Guerra Civil, que ocorreu entre 1861 e 1865, os Estados Unidos mantinham o modelo republicano, e sua influência sobre o continente aumentava cada vez mais. Nesse contexto, o Brasil monárquico era exceção.

O início da república

O declínio da imagem pública de dom Pedro segundo foi um dos pontos centrais para o fim da monarquia no Brasil. No final da década de 1880, em meio a debates, polêmicas e desgastes, o imperador já não tinha bases para se manter no governo.

Na manhã de 15 de novembro de 1889, sob o comando, ainda hesitante, do marechal Deodoro da Fonseca, tropas rebeladas decretaram a prisão do visconde de Ouro Preto, chefe do Conselho de Ministros, e desfilaram pelo centro da cidade do Rio de Janeiro anunciando que a república estava sendo instituída no Brasil. Entre os principais articuladores do movimento encontravam-se figuras como Benjamin Constã, Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva e Francisco Glicério.

Muitas pessoas pensaram que era um desfile militar. A sensação da população ficou imortalizada no texto do jornalista Aristides Lobo, publicado no Diário Popular: “O povo assistiu àquilo bestializadoglossário , atônitoglossário , surpreso, sem conhecer o que significava”.

Sem mobilização popular, o processo de proclamação da república teve como protagonistas o exército e o grupo dos cafeicultores.

Ilustração. Capa da Revista Illustrada. Na parte superior o título e outras informações. No centro da capa a imagem de um senhor de barba longa dormindo na poltrona com o jornal sobre as pernas.
Representação de dom Pedro segundo em caricatura de Angelo Agostini publicada na Revista Ilustrada, em 1887.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nos anos que antecederam o fim da monarquia no Brasil, o papel da imprensa foi importante para enfraquecer a imagem pública de dom Pedro segundo, alvo constante dos jornais satíricos do período. Na caricatura de 1887, o imperador foi representado dormindo, rodeado de jornais com notícias sobre as dificuldades pelas quais o país passava.

Analisando o passado

Articulado por diferentes profissionais urbanos e fazendeiros, principalmente de São Paulo, o Manifesto Republicano foi publicado no jornal A República, no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1870. Esse documento contribuiu para a fundação de diversos jornais, revistas, clubes, partidos e associações que apoiaram as ideias republicanas e contribuíram para o fim da monarquia no país. Leia os trechos desse documento reproduzidos a seguir e, depois, faça o que se pede.

“É a voz de um partido a que se alçaglossário glossário hoje para falar ao país. reticências

Só à opinião nacional cumpre acolher ou repudiarglossário glossário essa aspiração. Não reconhecendo nós outra soberania mais do que a soberania do povo, para ela apelamos. Nenhum outro tribunal pode julgar-nos: nenhuma outra autoridade pode interpor-se entre ela e nós.

Como homens livres e essencialmente subordinados aos interesses da nossa pátria, não é nossa intenção convulsionar a sociedade em que vivemos. Nosso intuito é esclarecê-la. reticências

Fortalecidos, pois, pelo nosso direito e pela nossa consciência, apresentamo-nos, perante os nossos concidadãos, arvorandoglossário glossário resolutamente a bandeira do Partido Republicano Federativo.

Somos da América e queremos ser americanos.

A nossa fórma de govêrno é, em sua essência e em sua prática, antinômicaglossário glossário e hostil ao direito e aos interesses dos Estados americanos.

A permanência dessa fórma tem de ser forçosamente, além da origem de opressão no interior, a fonte perpétua da hostilidade e das guerras com os povos que nos rodeiam.

Perante a Europa passamos por ser uma democracia monárquica que não inspira simpatia nem provoca adesão. Perante a América passamos por ser uma democracia monarquizada, onde o instinto e a fôrça do povo não podem preponderar ante o arbítrio e a onipotência do soberano.

Em tais condições pode o Brasil considerar-se um país isolado, não só no seio da América, mas no seio do mundo.

O nosso esforço dirige-se a suprimir este estado de coisas, pondo-nos em contato fraternal com todos os povos, e em solidariedade democrática com o continente de que fazemos parte. reticências.”

MANIFESTO Republicano (1870). Apud: MELO, A. B. de A. Os programas dos partidos e o Segundo Império. São Paulo: Typ. de Jorge Seckler, 1878. página 59-85.

Fotografia. Capa do jornal A República. Na parte superior o título, abaixo quatro colunas com texto.
Capa do jornal A República com o Manifesto Republicano, publicado em 1870.

Responda no caderno.

  1. A quem esse texto é dirigido?
  2. Quais eram os objetivos políticos dos autores do texto?
  3. Como os autores do documento enxergavam a situação política brasileira no fim do século dezenove?
  4. Que argumentos os autores do manifesto utilizaram para indicar o isolamento do Brasil na América?
  5. Qual foi a proposta política oferecida pelos autores do texto para romper esse isolamento?

A construção da ordem republicana

Assim que a república foi proclamada, formou-se no país uma junta provisória de govêrno, comandada pelo marechal Deodoro da Fonseca, com o objetivo central de acabar com as instituições monárquicas e iniciar a construção de outra ordem política.

A troca de regime foi acompanhada por uma série de mudanças, como a extinção do Senado vitalício, do Conselho de Ministros e do Poder Moderador e a separação entre Estado e Igreja. O govêrno republicano também instituiu os registros civis (de nascimento, de casamento e de morte) e aprovou a naturalizaçãoglossário de estrangeiros, legalizando a situação de milhares de pessoas no Brasil.

Todas essas medidas foram oficializadas pela Constituição de 1891, votada por uma Assembleia Nacional. Por meio dela, o país foi organizado como uma república presidencialista e federalista, com três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Essa organização aumentou a descentralização política, ampliando a autonomia dos estados e o espaço de atuação de suas oligarquias.

Foi instituído também o sufrágio universal no lugar do sistema censitário. Entretanto, algumas restrições ao direito de voto permaneceram: podiam votar somente os brasileiros maiores de 21 anos, do sexo masculino, que soubessem ler e escrever. Além disso, estava proibido o voto das pessoas em situação de rua, dos praçasglossário e dos membros de ordens religiosas que vivessem em clausuraglossário .

A Constituição não mencionava explicitamente a proibição do voto feminino (essa foi uma questão que ficou em aberto), mas na prática as mulheres não exerciam esse direito.

Com a Constituição promulgada, o marechal Deodoro da Fonseca foi eleito – de fórma indireta pelo Congresso Nacional – o primeiro presidente do Brasil. O cargo de vice ficou com o marechal Floriano Peixoto. Na época, os candidatos disputavam a Presidência e a Vice-presidência de fórma separada e nem sempre tinham as mesmas posições partidárias ou pertenciam aos mesmos grupos políticos.

Ilustração. Bandeira retangular com listras finas verdes e amarelas intercaladas horizontalmente; são sete listras verdes e seis amarelas. No canto superior esquerdo um pequeno quadrado azul com vinte e uma estrelas brancas, com quatro linhas contendo quatro estrelas, e uma linha contendo cinco estrelas.
Ilustração atual representando a bandeira provisória do Brasil produzida no início do período republicano.
Ilustração. Bandeira do Brasil. Retângulo verde com um losango amarelo no centro. Dentro dele um círculo azul. Uma faixa branca horizontal passa pelo centro do círculo. Nela estão as palavras: ORDEM E PROGRESSO. Acima da faixa, na metade de cima do círculo uma estrela. Abaixo, 26 estrelas.
Ilustração representando a bandeira atual do Brasil.
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Com o início da república, uma nova bandeira teve de ser criada. Várias propostas foram rejeitadas. Uma delas foi a da primeira imagem, inspirada na bandeira dos Estados Unidos. O projeto que prevaleceu e se mantém até hoje (contendo um losango amarelo sobre um retângulo verde, com uma esfera azul no centro e o lema “ordem e progresso”) foi desenvolvido por Raimundo Teixeira e Miguel Lemos e teve concepção artística de Décio Villares.

O govêrno de Deodoro da Fonseca

Apesar da vitória política, o marechal Deodoro da Fonseca sofreu forte oposição do Congresso Nacional, e seu govêrno foi marcado por muitas dificuldades internas. Isso ocorreu porque, em muitas ocasiões, ele ignorou o Poder Legislativo. Entre os problemas enfrentados pelo marechal, destacaram-se o Encilhamentoglossário e a Primeira Revolta da Armada, ocorrida em 1891.

O Encilhamento foi uma grave crise econômica que teve início com uma política adotada pelo então ministro da Fazenda Rui Barbosa. A ideia era facilitar a oferta de crédito para investidores com a emissão de papel-moeda.

O resultado, no entanto, foi um desastre. A moeda, impressa sem lastroglossário , desvalorizou-se rapidamente, gerando muita inflação. Os preços dos produtos subiram assustadoramente e, com eles, o custo de vida. Muitos especuladoresglossário buscaram lucrar com a situação fundando empresas fantasmas – que não existiam de fato, mas tinham ações negociadas na bolsa de valores por altos preços. Tudo isso gerou uma bolha financeira que explodiu no início de 1891. O valor das ações despencou e o país mergulhou em uma grave crise financeira.

Já a Primeira Revolta da Armada foi um desdobramento da disputa entre o marechal Deodoro da Fonseca e o Congresso. Em novembro de 1891, os parlamentares aprovaram a Lei de Responsabilidades, que reduzia o poder do presidente e abria espaço para um possível processo de cassação. A resposta do Executivo foi imediata: fechou o Congresso e decretou estado de sítioglossário .

A reação mais enérgica veio da marinha, então chamada de armada, que direcionou canhões de navios ao Rio de Janeiro e ameaçou bombardear a cidade. Com medo de uma guerra civil, Deodoro da Fonseca renunciou à Presidência da República no dia 23 de novembro. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto.

Pintura. À esquerda, mulher branca sentada em uma estrutura elevada. Ela usa colar de brilhantes, blusa larga sem mangas e uma longa saia vermelha com adornos dourados na barra. Com uma das mãos segura um pergaminho e a outra está esticada na direção do mastro de uma bandeira carregada por um militar. Senhor de barba comprida e grisalha, veste uniforme escuro com adornos dourados nos ombros e botões. O chapéu é semioval, escuro com adornos amarelos. Carrega uma espada longa pendurada na cintura. Com uma das mãos ele segura o mastro da bandeira, e com a outra, segura uma coroa. Atrás dele, outros militares. À direita, duas mulheres negras conversam. Usam saias longas e turbantes na cabeça. Ao fundo, pessoas na janela de um prédio e famílias em um deck perto do mar. No mar, dois grandes navios.
Alegoria à proclamação da república e à partida da família real, pintura do final do século dezenove.
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Na pintura, a república é representada por uma figura feminina com trajes da época da República Romana. Em pé estão homens fardados. Um deles é Deodoro da Fonseca, que segura a coroa (símbolo da monarquia) e entrega a bandeira republicana à figura. Ao fundo, no cais do porto, a família real é representada deixando o Brasil.

O govêrno de Floriano Peixoto

Apesar de ter o apôio de parte das forças armadas e do Partido Republicano Paulista, o segundo presidente brasileiro também enfrentou muita resistência. No início, não havia consenso sobre a legalidade de seu govêrno. Isso porque, de acordo com a Constituição, se o cargo de presidente ficasse desocupado antes de dois anos do mandato, deveriam ser convocadas novas eleições. Como o mandato de Deodoro da Fonseca tinha começado em 1891, não havia se passado nem um ano desde sua eleição indireta.

Enfrentando essa polêmica, assim que assumiu o poder, Floriano Peixoto restituiu o Congresso. Além disso, reduziu o valor dos aluguéis e tabelou o preço de alimentos como a carne, o feijão e o pão, em alta desde o Encilhamento. Essas medidas lhe renderam bastante popularidade, principalmente entre os setores mais pobres da população.

No entanto, por causa da discordância sobre a legalidade do govêrno, houve rebeliões em várias partes do Brasil. Em 1893, ocorreu a Segunda Revolta da Armada, conduzida por integrantes da marinha, que apontaram canhões para a capital e exigiram a renúncia do presidente. Forças ligadas ao marechal conseguiram expulsar do Rio de Janeiro parte dos rebeldes, que fugiram para o sul do país e se reuniram aos participantes da Revolução Federalista.

Ocorrida entre 1893 e 1895, a Revolução Federalista teve início no Rio Grande do Sul após uma disputa entre os membros do Partido Republicano Rio-grandense (conhecidos como pica-paus) e os do Partido Federalista (conhecidos como maragatos). O primeiro era comandado por Júlio de Castilhos, presidente da província, e o segundo era liderado por Gaspar da Silveira Martins. O conflito foi uma das piores guerras civis ocorridas no país, deixando 10 mil mortos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Durante a intervenção do govêrno federal, as tropas legalistas, lideradas por Júlio de Castilhos, dominaram Desterro, em Santa Catarina. A cidade, antes comandada pelas forças rebeldes, foi bombardeada e teve seu nome trocado para Florianópolis. Esse gesto simbólico traduziu bem a alcunhaglossário dada a Floriano Peixoto de Marechal de Ferro. Essa revolução também ficou conhecida como Revolta da Degola, pois boa parte dos rebeldes capturados foi decapitada.

Em 1894, com o fim do mandato, Floriano Peixoto não conseguiu eleger um sucessor. O vencedor foi o candidato dos fazendeiros paulistas, Prudente de Morais, que se tornou o primeiro presidente civil da república.

Fotografia em preto e branco. Homens atrás de uma trincheira alta, feita entre edifícios.
Trincheira erguida durante a Revolução Federalista, em Bagé Rio Grande do Sul. Foto de cêrca de 1893-1894.

República e pós-abolição da escravatura: mecanismos de inclusão e exclusão social

Ao analisar a pintura reproduzida no início deste capítulo, você deve ter notado que na representação da pátria o pintor Pedro Bruno não incluiu boa parte da população do Brasil. Pardos, negros, ex-escravizados e seus descendentes, por exemplo, não foram representados no quadro. Essa ausência revela o racismo presente no Brasil desde os primeiros anos da república.

Depois de séculos de escravidão, os dirigentes republicanos pretendiam integrar o país ao grupo das nações consideradas por eles civilizadas e modernas. Para isso, acreditavam ser necessário apagar não apenas o estigmaglossário da escravidão, mas também sua marca mais visível: a população negra do país, que era a maioria. Para isso, promoveram uma política de silenciamento e marginalização dessa população e incentivaram a entrada maciça de europeus no Brasil.

Nas últimas décadas do século dezenove, porém, muitos negros, sozinhos ou em grupos, criaram redes de apôio e promoveram manifestações contra essa política racista por meio da imprensa, da arte e da literatura. Apesar dos problemas, da violência e das perseguições que enfrentaram, os textos e a produção artística dessas pessoas ficaram conhecidos em várias partes do Brasil republicano.

Em cidades como São Paulo, Campinas e Piracicaba, a imprensa negra era formada por jornais como A Pátria, O Baluarte, O Propugnador, A Pérola, O Combate, O Patrocínio, O melelíc, A Liberdade e O Cósmos. Nessas publicações, que circularam entre 1889 e 1924, Deocleciano Nascimento, Abílio Rodrigues, Joaquim Domingues, Frederico Baptista de Souza e outros representantes de clubes e associações negras expunham suas ideias sobre os rumos do país.

Nas artes, o pintor Arthur Timótheo da Costa, nascido em 1882 no Rio de Janeiro, foi amplamente premiado. Em muitas de suas telas, os personagens centrais são homens e meninos negros.

Pintura. Homem negro sorrindo com os lábios fechados. Tem o cabelo cacheado, os olhos grandes e sobrancelhas arqueadas. O bigode é fino e pouca barba. Tem marcas de expressão no canto da boca. A moldura do quadro é dourada.
Retrato de homem, pintura de Arthur Timótheo da Costa, cêrca de 1894-1920.
Pintura. Menino negro de expressão séria, olhando fixamente para frente. O cabelo é curto, testa larga, olhos pequenos e lábios grossos. A moldura da pintura é dourada.
Retrato de menino, pintura de Arthur Timótheo da Costa, 1928.
Fotografia em preto e branco. Arthur Timótheo da Costa, rapaz negro, cabelo curto penteado de lado. Tem a testa larga e olhos grandes. Tem bigode. Veste roupa social e usa um anel na mão esquerda.
Arthur Timótheo da Costa em Paris, França. Foto de cêrca de 1907.
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Imagens em contexto!

Pintor e cenógrafo, Arthur Timótheo da Costa estudou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro com seu irmão, João Timótheo da Costa, também pintor. Em muitas de suas obras, ele retratou o Brasil que a elite republicana procurou apagar das representações oficiais da pátria.

Dica

sáite

Museu Afro Brasil

Disponível em: https://oeds.link/n1Mdtm. Acesso em: 7 abr. 2022.

Nesse site, é possível fazer uma visita virtual ao Museu Afro Brasil, localizado na cidade de São Paulo São Paulo. O museu é dedicado à valorização da arte e das culturas africanas e afro-brasileiras. Em seu acervo, há obras de Arthur Timótheo da Costa.

O caráter oligárquico da república

Como você estudou, os dois primeiros presidentes do Brasil eram oficiais do exército, instituição que exercia muita influência no cenário político nacional. No entanto, a partir do govêrno de Prudente de Morais, que era civil, o grupo dos cafeicultores passou a ter cada vez mais importância.

Entre as oligarquias cafeeiras mais poderosas do país estavam as dos estados de São Paulo e Minas Gerais e as do Distrito Federal (então, a cidade do Rio de Janeiro), que, por meio de alianças e arranjos políticos com outros estados e seus representantes no Congresso, conseguiram garantir a defesa de seus interesses até 1930.

Esses arranjos políticos das oligarquias eram mantidos principalmente por meio de fraudes em várias fases do processo das eleições, como na do alistamento dos eleitores e na da verificação de poderes, ou seja, no momento de reconhecimento dos candidatos eleitos.

Havia vários tipos de fraude. Nas salas de votação, por exemplo, era comum a falsificação de assinaturas dos eleitores e a adulteração das cédulas. Essas e outras práticas semelhantes deram origem ao termo eleição de bico de pena, pois envolviam a escrita.

Outro tipo de fraude era o voto controlado pelos chefes políticos. O eleitor votava em quem o chefe determinava por medo ou em troca de favores. Por causa do contrôle exercido pelo político sobre o eleitor, essa fraude ficou conhecida como voto de cabresto – o cabresto é um tipo de arreio usado para controlar animais como cavalos e burros.

Havia ainda outra fórma fraudulenta de obter votos. No dia da eleição, os chefes políticos contratavam pessoas para vigiar os eleitores em um barracão até a hora em que fossem votar. Quando chegava o momento, eles já recebiam o voto em um envelope fechado e deviam depositá-lo na urna. Essa prática ficou conhecida como curral eleitoral.

Charge em preto e branco. À esquerda, homem baixo, com a barriga saliente. É calvo e está com a testa franzida. Segura um pedaço de papel e estende para frente. À direita, guardas de uniforme e quepe.
Na Guarda Civil – antes da eleição, charge publicada na revista O Malho, em 1906.
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Imagens em contexto!

Na charge, o inspetor-geral da Guarda Civil (à esquerda) segura um papel em frente aos guardas, seus subordinados (à direita), em que está escrito: “Vota ou rua!”. No período, o voto no Brasil não era secreto, de fórma que o inspetor exige: “Votem a descoberto na chapa que eu lhes dei! Tragam-me os recibos das mesas, do contrário, demito-os! Comigo não se brinca! Ouviram bem?”. Ao que os guardam respondem: “Ouvimos, sim, senhor. vossa senhoria não é de brincadeiras e nós não temos agora outro emprego reticências”.

Os presidentes da Primeira República – 1889-1930

Linha do tempo vertical. Os presidentes da Primeira República, de 1889 a 1930.
De 1889 a 1891: Deodoro da Fonseca (Alagoas).
De 1891 a 1894: Floriano Peixoto ( Alagoas).
De 1894 a 1898: Prudente de Morais (são Paulo).
De 1898 a 1902: Campos Sales (São Paulo).
De 1902 a 1906: Rodrigues Alves (São Paulo).
De 1906 a 1909: Afonso Pena (Minas Gerais).
De 1909 a 1910: Nilo Peçanha (Rio de Janeiro).
De 1910 a 1914: Hermes da Fonseca (Rio Grande do Sul).
De 1914 a 1918: Wenceslau Braz (minas Gerais).
De 1918 a 1919: Delfim Moreira (Minas Gerais).
De 1919 a 1922: Epitácio Pessoa (Paraíba).
De 1922 a 1926: Arthur Bernardes (Minas Gerais).
De 1926 a 1930: Washington Luís (São Paulo).
Representação artística sem proporção para fins didáticos.

Vamos pensar juntos?

Antes de continuar a estudar o tema das oligarquias, que tal refletir sobre um aspecto fundamental do exercício da democracia no Brasil?

De acordo com o artigo 14 da Constituição Federal de 1988, o voto deve ser direto e secreto, com igual valor para todos os cidadãos brasileiros. Essa garantia da inviolabilidadeglossário do voto, porém, nem sempre existiu no país.

Na Constituição de 1891, por exemplo, não havia essa exigência e era possível identificar o voto das pessoas. Você imagina que problemas isso trazia para o exercício da democracia?

Para refletir sobre essa questão, analise a charge de Alfredo Istorni.

Charge. Mulher de vestido sem mangas, com uma faixa amarela na barra escrito SOBERANIA. Usa um barrete frígio e um sapato de salto amarelos. Estende uma das mãos na direção de um grande vaso sobre uma base quadrada. Do outro lado do vaso, um homem de paletó cinza, no qual está escrito POLÍTICO, e calça amarela. Usa chapéu cinza e óculos. Ele segura um burro cabisbaixo na coleira. O burro está em pé, sobre as patas traseiras usando sapatos. Veste roupa social amarela com a palavra ELEITOR na manga.
As próximas eleições... “de cabresto”, charge de Alfredo Istorni publicada na revista Careta, em 1927.

No início do período republicano, essa charge foi usada pela imprensa para denunciar o voto de cabresto, que caracterizou muitas disputas eleitorais no Brasil no início do século vinte.

Nessas disputas, o voto era usado em barganhas políticas e funcionava para manter os privilégios dos grupos que se mantinham sempre no poder, sem representar, de fato, um instrumento democrático.

O voto secreto não é uma garantia infalível de expressão da vontade popular, mas pode e deve funcionar como um instrumento para evitar a pressão sobre os eleitores e a prática da coerçãoglossário , como ocorria, por exemplo, durante a Primeira República.

Responda no caderno.

  1. Identifique os personagens representados na charge.
  2. Explique o que era o voto de cabresto, relacionando essa prática com a caracterização da figura do eleitor na charge.
  3. A obrigatoriedade do voto secreto e a votação eletrônica foram instituídos no país para evitar fraudes. Em sua opinião, como esses mecanismos contribuem para a democracia?

O coronelismo e a Política dos Governadores

Durante a Primeira República, as eleições estavam relacionadas a uma lógica política que os historiadores chamam de coronelismo. O posto de coronel era o mais alto na hierarquia da Guarda Nacionalglossário , e quem o ocupava dominava o local onde vivia. Assim, o termo coronelismo passou a designar o sistema de negociação entre esses chefes políticos locais e as esferas estaduais (governos dos estados) e federal (Presidência da República).

O coronel controlava a população do local em que vivia em troca do apôio que dava ao govêrno na fórma de votos. Para garantir esses votos, ele oferecia aos eleitores favores e benefícios, como a admissão em cargos públicos (de delegado de polícia, de professor etcétera) e a prestação de serviços básicos, como atendimento hospitalar ou construção de escolas.

Outra prática comum foi chamada de Política dos Governadores, que consistia em acordos entre integrantes das esferas municipais, estaduais e federal: com a ajuda dos coronéis, os governos dos estados elegiam para a Assembleia Legislativa deputados favoráveis ao govêrno federal. Este, por sua vez, apoiava os governos estaduais sem nenhuma restrição, dificultando a oposição.

A Política do Café com Leite

Para alguns historiadores, a Política dos Governadores deu origem à chamada Política do Café com Leite. Como você estudou, as oligarquias mais poderosas do Brasil eram as de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que controlavam grande parte da produção cafeeira do país.

Por isso, elas tinham influência política na escolha dos ocupantes dos cargos do Executivo, principalmente o de presidente. Por meio de acordos e de apôio ao mesmo candidato, os grupos de São Paulo e Minas Gerais alternaram-se no poder, elegendo ora um presidente paulista, ora um mineiro. Apesar de predominarem, esses acordos não foram aceitos por todas as oligarquias estaduais e não funcionaram de fórma constante durante todo o período.

Charge. À esquerda, homem de cabelo preto vestindo uniforme militar e quepe, montado em um burro cinza. À sua frente, uma placa fincada no chão escrito MINAS. À direita, senhor de óculos, casaco e cartola, barba e cabelos brancos, montado em um burro magro branco. À sua frente, uma placa fincada no chão escrito SÃO PAULO. No centro, o nó formado nas caudas dos burros. Acima a frase: OPINIÃO PÚBLICA.
Opinião pública, charge de Alfredo Istorni sobre as eleições presidenciais publicada na revista O Malho, em 1909.
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A imagem satiriza a disputa eleitoral entre o militar Hermes da Fonseca (à esquerda, diante da placa com a inscrição “Minas”) e o civil Rui Barbosa (à direita, diante da placa com a inscrição “São Paulo”). Na Política do Café com Leite havia rompimentos e conflitos. No centro da imagem, o nó formado nas caudas dos animais montados pelos candidatos é identificado como “opinião pública”.

Economia: o Brasil além do café

Do ponto de vista econômico, os primeiros anos da república foram marcados pelo aumento da exportação de pelo menos dois produtos, além do café: o cacau e a borracha.

No fim do século dezenove, o cacau passou a ocupar papel de destaque no Nordeste, sobretudo na Bahia. Além de mobilizar muitos trabalhadores, o produto fez dos coronéis do cacau homens ricos, temidos e poderosos.

No mesmo período, a borracha adquiriu importância internacional com o início da produção da indústria automobilística. A exploração desse produto passou a ser significativa no Brasil a partir de 1880. O primeiro ciclo da borracha concentrou-se na região amazônica, rica em seringueiras (árvores das quais se extrai o látex, matéria-prima para a fabricação da borracha).

Apesar dessas atividades, como você pode verificar no quadro, o café continuou a ser o principal produto de exportação brasileiro. No entanto, a comercialização desse grão começou a apresentar sinais de desgaste, pois a procura internacional não acompanhava o ritmo de produção. Essa diferença entre a procura e a oferta gerou uma crise de superprodução e a queda do preço do café.

Para salvar o lucro dos cafeicultores e manter os preços do café no mercado internacional, em 1906, os governos de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro firmaram o Convênio de Taubaté com o objetivo de comprar e estocar toda a produção excedente. Essa política de valorização do café só foi possível por causa dos empréstimos bancários contraídos pelos governos estaduais no exterior.

Brasil: participação dos principais produtos no total de exportações (%) – 1889-1929

Período

Café

Açúcar

Cacau

Borracha

Algodão

1889-1897

67,6

6,5

1,5

11,8

2,9

1898-1910

52,7

1,9

2,7

25,7

2,1

1911-1913

61,7

0,3

2,3

20,0

2,1

1914-1918

47,4

3,9

4,2

12,0

1,4

1919-1923

58,8

4,7

3,3

3,0

3,4

1924-1929

72,5

0,4

3,3

2,8

1,9

FONTE: FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: , 1998. página 292.

Fotografia em preto e branco. Homem descalço sentado na porta de uma estrutura feita com longas folhas. Lá dentro, muita fumaça. Ele segura nas mãos uma haste, na ponta dela uma estrutura circular esfumaçada.
Trabalhador defumando uma bola de borracha em seringal na região amazônica. Foto decêrca de 1890-1923.
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Em vários seringais o regime de semiescravidão era comum: os fazendeiros submetiam os seringueiros a jornadas árduasglossário glossário de trabalho, sem condições mínimas de dignidade.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Liste as principais mudanças ocorridas no Brasil no início da república.
  2. Explique como era o exercício do voto nos anos iniciais da república. Por que se pode afirmar que ele era utilizado como moeda de troca?
  3. Caracterize duas estratégias de resistência contra o racismo e a segregação adotadas por indivíduos ou grupos negros no início do período republicano.

Modernidade excludente: a reforma urbana do Rio de Janeiro

Durante o govêrno de Rodrigues Alves, quinto presidente do Brasil, foram colocados em prática um projeto de reforma do Rio de Janeiro e uma política sanitáriaglossário glossário para a cidade, que, em 1900, abrigava cêrca de 700 mil habitantes.

Na capital da república, a população sofria constantemente com epidemias. Isso representava um obstáculo para os projetos de modernizar o Brasil. Por esse motivo, Rodrigues Alves decidiu acabar com os focos de doenças e embelezar a cidade. Para essas tarefas, convocou o médico sanitaristaglossário glossário osvaldo Cruz e o engenheiro Pereira Passos, que era também prefeito da capital.

Para transformar a capital da república em uma cidade moderna e cosmopolitaglossário , era preciso construir largas avenidas e belos bulevares. Era necessário também cuidar dos edifícios públicos, implementar sistemas de transporte coletivo, redes de esgoto e abastecimento de água e demolir as habitações precárias que faziam parte da paisagem carioca.

Pode-se afirmar que a intenção do govêrno era tornar o Rio de Janeiro uma espécie de vitrine para os interesses estrangeiros. O prefeito conhecia o projeto para a modernização de Paris, na França, elaborado pelo barão de ausmân, e tomou como ponto de partida e inspiração o modelo de reforma adotado na capital francesa.

As obras de remodelamento do Rio de Janeiro foram executadas entre 1902 e 1906. A principal consequência desse projeto foi a expulsão da população mais pobre que habitava a região central. Com a demolição de casas, cortiços e hotéis baratos, boa parte da população foi obrigada a se deslocar para os subúrbios e morros da cidade.

Fotografia em preto e branco. Vista do alta, à frente, praça arborizada com um monumento no centro. À esquerda, rua larga que se estende até a praia ao fundo. À direita, grande edifício e mais árvores pelas ruas.
Praça quinze de Novembro, na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 1907.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

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Responda no caderno.

Durante o período colonial, a Praça quinze de Novembro era chamada de Largo do Carmo. No local, havia um importante chafariz público. Durante a reforma da cidade, foi construído na região um mercado municipal. Analisando a fotografia, é possível identificar na paisagem traços da Bél lêpóc europeia estudada no capítulo 1. Quais são eles? Por que com esse projeto urbanístico o governo procurava apagar alguns traços do passado brasileiro?

fórmas de resistência no campo e na cidade

O projeto republicano implantado no Brasil, que excluiu a população pobre, era central para o perfil de nação imaginado pela elite do país. A população marginalizada, contudo, encontrou fórmas de resistir e de sobreviver às duras condições de injustiça social.

Houve diversas fórmas de resistência tanto em regiões rurais (caso de Canudos e do cangaço) quanto em grandes centros urbanos, onde a população se mobilizou para lutar por melhores condições de vida e trabalho.

Messianismo: as guerras de Canudos e do Contestado

Ocorrida entre 1896 e 1897, a Guerra de Canudos foi um dos episódios mais violentos do início da república e mobilizou o exército contra os moradores de um povoado localizado às margens do Rio Vaza-Barris, na Bahia.

O líder de Canudos, Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, exerceu diversas profissões até 1893, quando fundou Belo Monte, o núcleo do arraial de Canudos.

Em pouco tempo, a comunidade cresceu de fórma surpreendente: estima-se que, da chegada de Conselheiro e seus seguidores até o fim da guerra, entre 10 e 25 mil pessoas tenham vivido no povoado, que se tornou um dos núcleos mais populosos da Bahia. Por que Canudos atraiu tanta gente?

Na época, a seca, a fome, o desemprego crônico, a violência dos coronéis e a carestia afligiam os sertanejos da região. O desenvolvimento de um modo de vida comunitário, pautado na autoridade de Conselheiro, representou a esperança de condições de vida melhores para milhares de pessoas.

Canudos, entretanto, combinava a luta pela posse da terra com traços religiosos, vinculados ao messianismoglossário . Isso incomodou o govêrno, a Igreja e os grandes proprietários de terras, pois o arraial representava uma organização social e territorial independente do sistema de poder constituído. A autoridade religiosa de Antônio Conselheiro não dependia do reconhecimento da Igreja, e Canudos não estava submetido nem aos proprietários de terras nem aos chefes políticos da região.

Fotografia em sépia. Pessoas em frente a uma igreja. A construção tem partes destruídas e muitas marcas de tiro. À frente, pessoas em pé e sentadas ao redor de uma grande cruz de madeira.
Igreja de Santo Antônio, em Canudos Bahia . Foto de 1897.
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A Igreja de Santo Antônio, conhecida como Igreja Velha, foi construída no arraial de Canudos por Antônio Conselheiro e pelos habitantes do povoado. Ela foi bombardeada e destruída pelo exército em 24 de agosto de 1897.

A guerra e o fim do arraial de Canudos

O conflito entre o poder local e os habitantes de Canudos começou por causa de um boato. Comerciantes de Juazeiro não entregaram a quantidade de madeira que os moradores do arraial compraram para a construção de uma igreja. O atraso deu origem a rumores de que um bando se preparava para pegar a madeira à fôrça em Juazeiro.

Diante disso, em novembro de 1896, formou-se a primeira expedição contra o arraial, liderada pelo tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Contra-atacada de surpresa pelos moradores de Canudos, a expedição foi rapidamente derrotada. Além dessa, até março de 1897, outras duas incursões militares foram contidas pelos conselheiristas. A repercussão da terceira derrota foi enorme. No Rio de Janeiro, os jornais divulgavam notícias falsas sobre Canudos e Antônio Conselheiro.

Foi nesse clima de incompreensão que se formou a quarta e última expedição contra o arraial. Participaram dessa incursão inicialmente 5 mil soldados fortemente armados.

Como o envio de tropas recebeu atenção nacional, os principais jornais mandaram correspondentes para noticiar o conflito. Um dos jornalistas enviados à região foi Euclides da Cunha, intelectual ligado ao jornal O Estado de . Seu relato deu origem a um dos livros mais importantes da literatura brasileira: Os sertões, publicado no ano de 1902.

Apesar da grande quantidade de soldados e de armas, a quarta expedição demorou meses para tomar o povoado. Em outubro de 1897, o exército garantiu aos conselheiristas que quem se rendesse sobreviveria. No entanto, o acordo não foi cumprido, e muitos dos homens, mulheres e crianças que se entregaram foram degolados.

No dia 5 de outubro de 1897, o exército invadiu, queimou e destruiu o arraial com a explosão de dinamite. De acordo com o discurso republicano, Canudos era resquícioglossário de um Brasil ultrapassado e violento que devia ser eliminado da história para servir de exemplo ao restante da nação.

Fotografia em sépia. Vista das ruínas de uma igreja com a estrutura totalmente danificada.
Igreja de Bom Jesus, em Canudos Bahia . Foto de 1897.
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A madeira encomendada pelos conselheiristas em Juazeiro era destinada à construção da Igreja de Bom Jesus, também conhecida como Igreja Nova. Durante o conflito, o local se tornou a base da resistência do povoado. Em 6 de setembro de 1897, depois de um bombardeio que durou horas, suas torres caíram. O corpo de Antônio Conselheiro, que morreu no conflito dias depois, em 22 de setembro de 1897, foi sepultado próximo ao local.

Dica

LIVRO

Os sertões: a luta, de Euclides da Cunha. Adaptado por: Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa. São Paulo: Quadrinhos na Companhia, 2019.

Essa obra é uma adaptação em quadrinhos de Os sertões, de Euclides da Cunha, sobre a violenta repressão aos seguidores de Antônio Conselheiro.

Fotografia. Capa do Livro Os sertões: a luta. Na parte superior, o título e outras informações. Preenchendo a página, a ilustração de um homem vestindo uma bata cobrindo todo o corpo e segurando um cajado. Ele está em pé, na ponta de uma rocha. Abaixo, pessoas reunidas segurando ferramentas agrícolas, como foices e enxadas. Uma delas segura uma cruz. A vegetação ao redor é seca. O céu é avermelhado.
Capa de Os sertões: a luta, de 2019.
A Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado, entre 1912 e 1916, recebeu esse nome porque ocorreu em uma região disputada pelos estados do Paraná e de Santa Catarina, que era dominada por ricos fazendeiros de erva-mate e comerciantes de madeira.

Em 1908, o empresário estadunidense Percival Fárcuar, fundador da empresa ferroviária Brasil Rêiouei Cômpany, ganhou do govêrno brasileiro a concessão de um imenso território na região para a construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande.

Esse território, porém, era ocupado por posseiros que viviam em situação de extrema pobreza. A empresa, com a ajuda de fazendeiros locais, promoveu a desapropriaçãoglossário das terras por meio de violência. As pessoas foram obrigadas a deixar o local em que viviam sem receber nenhuma indenização.

Com a finalização das obras e a conclusão da ferrovia, Fárcuar despediu milhares de trabalhadores, que se juntaram aos camponeses sem terra da região.

Em 1912, um homem chamado Miguel Lucena de Boaventura, que atendia pelo nome de José Maria, passou a anunciar a essas pessoas em situação de miséria a existência de uma possível justiça divina. Com fama de conselheiro e curandeiro, ele foi considerado uma espécie de messias, reunindo um grupo de seguidores e fundando um arraial em Taquaruçu, Santa Catarina. Nessa comunidade, José Maria não permitia a propriedade de terras nem a cobrança de impostos.

Não demorou muito para os fazendeiros da região tentarem destruir o arraial. O govêrno federal enviou expedições militares para atacar o povoado, que resistiu até 1916. As constantes epidemias de tifo e a fome, além da truculência do govêrno, derrotaram os últimos focos rebeldes. Naquele ano, os sobreviventes fugiram da região, e o govêrno estabeleceu limites precisos entre os estados do Paraná e de Santa Catarina. Mais uma vez, o discurso elitista da civilização contra a barbárie se impôs nos horizontes brasileiros.

Brasil: Guerra do Contestado – 1912-1916

Mapa. Brasil: Guerra do Contestado, de 1912 a 1916. Destaque para o estado de São Paulo e os estados da região Sul do Brasil. Legenda. Laranja: Região disputada entre Paraná e Santa Catarina. Laranja listrado: Região da Guerra do Contestado. Linha preta com pequenos traços perpendiculares: Estrada de ferro São Paulo-Rio Grande. Linha preta composta de pontos grandes e pequenos.  Divisas atuais entre os estados. No mapa: Região disputada entre Paraná e Santa Catarina: território da região centro-oeste do atual estado de Santa Catarina, abrangendo as cidades de Porto União, Caçador, Videira, Campos Novos e Curitibanos. Região da Guerra do Contestado: trecho destacado da região central do atual estado de Santa Catarina, abrangendo as cidades de Porto União, Caçador, Videira, Campos Novos e Curitibanos. Estrada de ferro São Paulo-Rio Grande: sai de São Paulo, passa por Itararé, no estado de São Paulo; Ponta Grossa, no estado do Paraná (a oeste de Curitiba); Porto União, Caçador e Videira, no estado de Santa Catarina (a oeste de Florianópolis); e Passo Fundo e Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul. Nesta última, se bifurca para leste até Porto Alegre, e para oeste, até Uruguaiana. Divisas atuais entre os estados: linhas dividindo os territórios dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No canto inferior direito, legenda com os itens descritos acima. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 130 quilômetros.

FONTE: MACHADO, P. P. Tragédia anunciada. Revista de História da Biblioteca Nacional, número 85, página 19, outubroponto 2012.

Fotografia em preto e branco. Famílias reunidas no campo. Há muitos homens, mulheres e crianças vestindo roupas simples. Ao fundo, perto da vegetação, militares.
Famílias sertanejas rendidas durante a Guerra do Contestado, em Canoinhas Santa Catarina. Ao fundo, os militares que negociaram a rendição. Foto de 1915.

O cangaço

Entre 1900 e 1940, um fenômeno social que ficou conhecido pelo nome de cangaço chegou ao auge. No sertão e no agreste nordestino, os cangaceiros, que se organizavam em bandos armados, sobreviviam por meio de saques e pilhagens.

Entre os cangaceiros mais famosos, destacaram-se Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Ângelo Roque e Jararaca. Nenhum deles, porém, ganhou a notoriedade de Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião.

A fama dele e de seu bando atraiu muitos jovens sertanejos, que ingressaram no cangaço em busca de liberdade, prestígio e fortuna. Por volta de 1920, ele se tornou o principal nome do cangaço.

Em sua trajetória, Lampião enganou e venceu as forças policiais tantas vezes que se tornou lenda. Conseguiu essa façanha porque contava com uma complexa rede de fornecedores, protetores e informantes, chegando a negociar com fazendeiros, autoridades públicas e até mesmo chefes políticos locais.

A ação dos cangaceiros estava relacionada ao sistema político, jurídico, econômico e social do Nordeste. De fórma geral, a miséria, intensificada pelas secas constantes, somada à ausência do poder público, às rivalidades entre famílias, aos códigos de honra e à truculência da polícia, criou um contexto propício para a atuação dos cangaceiros.

Lampião foi capturado em 1938. Ele, sua esposa Maria Bonita e alguns de seus homens foram mortos em combate contra a polícia e decapitados. As cabeças foram embaladas e enviadas para Salvador, na Bahia. Lá, ficaram expostas no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues até serem enterradas em 1969.

Fotografia em preto e branco. Cangaceiros perfilados, usam casaco, calça comprida, botas e um chapéu no formato de meio círculo. Carregam armas de cano longo. Na ponta direita, uma mulher de vestido claro.
Lampião (o primeiro à esquerda) e seu bando no sertão nordestino próximo ao Rio São Francisco. Na outra ponta da imagem, à direita, estão Luís Pedro, tenente do bando, e Nenê, esposa dele. Foto de 1936.
Fotografia. Reprodução de página de cordel. Na parte superior, informações. Embaixo a ilustração de um homem de rosto pequeno e óculos. Usa um chapéu grande e camisa de manga comprida.
Visita de Lampião a Juazeiro, cordel de José Cordeiro, publicado em Juazeiro do Norte Ceará , 1977.
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O cangaço e a figura de Lampião foram representados de diversas fórmas na arte visual e na literatura. Na literatura, as façanhas do cangaceiro e seu bando foram contadas principalmente em cordéis, e na arte visual, nas xilogravuras.

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A Revolta da Vacina

Como você estudou, a reforma urbana do Rio de Janeiro alterou a vida da população carioca, sobretudo a mais desfavorecida. Nesse contexto, foram aplicadas na cidade as políticas de saneamento conduzidas pelo médico sanitarista osvaldo Cruz. Uma das medidas tomadas por ele foi a realização de uma campanha de vacinação contra a varíola.

Naquela época, a vacina era uma invenção recente e, no Brasil, havia pouca informação sobre seus resultados. Além disso, grande parte da população era analfabeta e não havia meios de comunicação de massa como os que existem hoje para demonstrar a importância da vacinação. Além do receio sobre os efeitos da vacina, a população se revoltou contra a fórma autoritária adotada por osvaldo Cruz para promover a campanha.

Em junho de 1904, o govêrno retomou uma antiga lei que tornava obrigatória a vacinação. De acordo com essa lei, os que se recusassem a tomar a vacina pagariam multas e teriam direitos suspensos. Quando essa notícia se tornou pública, ocorreu uma das maiores revoltas urbanas do Rio de Janeiro.

A agitação começou em 10 de novembro e se estendeu por pelo menos seis dias. Movida pela incompreensão generalizada, a população destruiu meios de transporte, depredou edifícios e atacou agentes de saúde.

O govêrno reagiu com violência: decretou estado de sítio, suspendeu direitos constitucionais e prendeu centenas de pessoas. Ao final da revolta, trinta pessoas morreram, 945 foram presas, 110 ficaram feridas e 454 foram deportadas para o recém-incorporado estado do Acre.

Charge. À direita, populares armados com vassouras, utensílios domésticos e panelas, dentre outros, avança sobre um grupo de homens à esquerda. Eles usam chapéu branco com uma cruz vermelha e uniforme cinza. Alguns estão montados em seringas. Pessoas nas janelas atiram objetos, dentre eles, um grande serrote. Ao fundo, um estandarte vermelho escrito VACCINA OBRIGATORIA com o desenho de dois crânios na parte de baixo.
Charge de Leonidas sobre a Revolta da Vacina publicada na revista O Malho, em 1904.
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Acompanhados de gritos de ordem contra a vacina, os confrontos entre a fôrça policial e os manifestantes causaram muita destruição na cidade do Rio de Janeiro. Como relatou o jornal da época Gazeta de Notícias, a cidade virou um campo de batalha, com tiros, brigas, engarrafamentos, comércio fechado, assaltos no transporte público – que foi incendiado – e lampiões da rede de iluminação pública destruídos a pedradas.

A Revolta da Chibata

Poucos anos depois da Revolta da Vacina, em 1910, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de uma rebelião de marinheiros que estavam em embarcações na Baía de Guanabara. Eles reagiram à aplicação de castigos físicos, principalmente das chibatadas. Essa punição foi herdada da marinha portuguesa e, associada à escravidão, tornou-se ainda mais pesada no Brasil.

A Revolta da Chibata expôs a violência do Estado contra a população pobre, o racismo e a crueldade comuns nas forças armadas. Segundo o pensamento e as leis do período, o castigo físico tinha o poder de “quebrar o mau gênio” dos rebeldes.

O início da revolta ocorreu no dia 16 de novembro de 1910, quando a cidade do Rio de Janeiro se organizava para festejar a posse do marechal Hermes da Fonseca na Presidência da República. O clima de comemoração foi interrompido quando alguns navios de guerra da marinha brasileira foram tomados pelo movimento rebelde. No maior desses navios – o encouraçadoglossário Minas Gerais –, a rebelião começou após o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes ser condenado a receber 250 chibatadas, com recolhimento à prisão e sem direito a tratamento médico.

Além do encouraçado Minas Gerais, os marinheiros tomaram o encouraçado São Paulo, o navio de guerra Bahia e outra embarcação menor, utilizada para patrulha, chamada Deodoro. Os canhões dos navios foram acionados contra a capital e, com alguns tiros de advertência, os marinheiros enviaram um ultimato ao govêrno: se não acabassem os castigos corporais, a cidade do Rio de Janeiro seria bombardeada.

O govêrno cedeu e, pelo menos inicialmente, anistiou os marinheiros revoltosos. As embarcações foram, então, devolvidas à marinha brasileira.

Poucos dias depois, no entanto, o governo voltou atrás e agiu com violência: 22 marinheiros foram presos, acusados de conspiração e enviados para a Ilha das Cobras, uma base da marinha no Rio de Janeiro. Após serem torturados, apenas dois sobreviveram. Um deles foi o marinheiro João Cândido, principal líder da rebelião, que recebeu da imprensa da época o título de Almirante Negro, transformando-se em herói popular.

Fotografia em preto e branco. Marinheiros, em sua maioria negros, reunidos num local aberto. Alguns estão de uniforme. Outros carregam bacias. Um deles segura um cartaz com a frase: VIVA A LIBERDADE.
Marujos a bordo do encouraçado São Paulo durante a Revolta da Chibata, na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 1910.
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A abolição da escravidão não pôs fim à mentalidade escravista e racista no Brasil. A república herdou do império uma estrutura social e econômica caracterizada pela marginalização dos negros e pela violência contra eles. Os castigos físicos aplicados pelos oficiais da marinha aos marinheiros de patente mais baixa, que geralmente eram homens negros, revelava essa estrutura.

O movimento operário

No final do século dezenove, teve início um processo de industrialização em algumas cidades brasileiras, principalmente nas do centro-sul do país. Por causa da Primeira Guerra Mundial, o govêrno brasileiro precisou adotar uma política de substituição das importações, ou seja, diminuiu a compra de mercadorias feitas no exterior, incentivando a produção local. Isso favoreceu a expansão do comércio e da pequena indústria. Com o aumento da atividade industrial, o número de comerciantes, artesãos, industriais e operários cresceu.

A maioria dos trabalhadores das indústrias era formada por migrantes de outras regiões do país e estrangeiros, especialmente em São Paulo, onde os italianos representavam parte significativa da mão de obra empregada nas fábricas. De acordo com dados estatísticos do início do século vinte, 60% das pessoas empregadas nas fábricas paulistas de fiação e tecidos eram italianas e grande parte delas era do sexo feminino.

A absorção do trabalho feminino era pautada por uma lógica machista: as mulheres trabalhavam de 10 a 14 horas diárias e recebiam salários mais baixos que os dos homens. Na visão da sociedade da época, isso se justificava pelo fato de elas realizarem atividades para as quais não era necessário ter especialização técnica ou utilizar fôrça física. Além disso, nas fábricas, as mulheres sofriam ameaças de todos os tipos, sendo constantemente assediadas por patrões e supervisores.

Em razão disso, muitas mulheres se levantaram contra a opressão. No início do século vinte, as chamadas libertárias ou anarcofeministasglossário foram responsáveis pela organização de sindicatos, pela convocação de greves e por discussões públicas sobre educação sexual, maternidade livre e fórmas de opressão existentes até no movimento operário, como a relação hierárquica entre homens e mulheres.

Teresa Cari, Tecla Fábri e Maria Lopes, entre outras, utilizaram a imprensa anarquista para denunciar a exploração do trabalho feminino e uma visão de mundo caracterizada pela inferiorização e pela estigmatização das mulheres.

Fotografia em preto e branco. No centro, mulheres sentadas ao redor de uma bancada de tecelagem de estrutura alta com hastes suspensas esticando os fios.
Operárias em tecelagem na cidade de São Paulo São Paulo. Foto dos anos 1920.
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A partir de 1880, com a aceleração da produção industrial no Brasil, principalmente das tecelagens, foi necessário contratar cada vez mais trabalhadores. As mulheres foram fundamentais nesse processo, mas nunca tiveram as mesmas condições de trabalho e de salário que os homens.

Luta sindical e greves

As primeiras décadas da república foram marcadas pela formação de sindicatos e de agremiações políticas. Nessas organizações eram discutidas as reivindicações dos trabalhadores, que também ganharam espaço em periódicos como O Amigo do Povo, A Voz do Trabalhador, A Terra Livre, A Plebe, Ispártacus e A Lanterna.

A greve foi a principal arma de mobilização social usada pelos trabalhadores no período. Em 1917, destacou-se um movimento iniciado pelas operárias das fábricas têxteis dos bairros da Mooca e do Ipiranga, na cidade de São Paulo, que reivindicavam melhores salários e redução das jornadas de trabalho.

O movimento ampliou-se em 9 de julho, quando soldados abriram fogo contra os manifestantes, matando o sapateiro José Martinez. Menos de uma semana depois, as forças policiais decretaram prisões e invasões de sindicatos e residências, e a greve se alastrou por outros municípios em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Além de aumento de salário e do fim do trabalho para os menores de 14 anos, os integrantes do movimento exigiam o direito de manifestação. cêrca de 100 mil trabalhadores participaram da paralisação, que continuou nos dias seguintes e ficou conhecida como Greve Geral de 1917.

A pressão dos operários paulistas foi parcialmente vitoriosa: eles alcançaram 20% de aumento nos salários e a promessa de que as autoridades fiscalizariam as fábricas e a situação de trabalho de mulheres e crianças. No entanto, as manifestações posteriores foram cada vez mais reprimidas pela polícia. Vários trabalhadores imigrantes foram expulsos do país, e muitos brasileiros acabaram espancados e presos.

A partir dos anos 1920, a forte repressão policial aos trabalhadores reduziu a possibilidade de greves e enfraqueceu os sindicatos. Em 1922, porém, com a criação do Partido Comunista Brasileiro (pê cê bê), o movimento operário no Brasil voltou a se fortalecer.

Fotografia em preto. Reprodução da capa do jornal O AMIGO DO POVO. Na parte superior o título. Abaixo, colunas de texto.
Fotografia em preto. Reprodução da capa do jornal A PLEBE. Na parte superior o título. No centro, uma imagem. Abaixo, colunas de texto.
Capas de edições dos jornais anarquistas O Amigo do Povo, de 1902, que era editado em português, espanhol e italiano, e A Plebe, de 1917.
Fotografia em preto e branco. Homens posando para foto com diversos exemplares do jornal Spartacus em cima de uma mesa grande. Um deles usa uniforme militar. Os outros usam roupas sociais e chapéus.
Apreensão do jornal anarcocomunista Ispártacus pela polícia no Rio de Janeiro. Foto de 1919.
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O jornal Ispártacus circulou entre 1919 e 1920. Seu nome é um tributo ao gladiador romano que liderou uma revolta de escravizados na Roma antiga e à Liga Espartaquista, movimento revolucionário alemão liderado por Rosa Luxemburgo. A sexta edição desse jornal, assim como uma tiragem do periódico A Plebe, foi apreendida pela polícia em 1919.

O movimento sufragista

No início do século vinte, havia um sentimento de decepção com os rumos da república. A promessa de um país moderno esbarrava em uma estrutura política que não contemplava grande parte da população. Nesse contexto, as participantes do movimento feminista iniciaram campanhas pelo direito de participação política das mulheres. Destacaram-se nesse movimento Bertha Lútis e Leolinda Daltro.

Bióloga, diplomata e ativista, Bertha Lútis foi uma das mais conhecidas feministas brasileiras. Ela fundou e organizou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, em 1919, o Primeiro Congresso Feminista do Brasil, em 1922, e a União Universitária Feminina, em 1929. Além disso, lutou pelo direito ao voto e pela ampliação do acesso das mulheres ao ensino superior e ao mercado de trabalho.

Leolinda Daltro foi professora, feminista e indigenista brasileira. Ela fundou o Partido Republicano Feminino, em 1910, e foi uma das precursoras da defesa dos direitos dos povos indígenas, além de idealizadora de um projeto de alfabetização sem vínculo religioso para as comunidades indígenas.

A questão indígena no início da república

Além de Leolinda Daltro, outras pessoas da época se envolveram com a questão indígena. Uma delas foi o marechal Cândido Rondon, encarregado de chefiar o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (ésse pê i éle tê êne), criado em 1910. Esse órgão devia prestar auxílio aos povos indígenas e, ao mesmo tempo, fundar colônias agrícolas em que os indígenas fossem empregados como trabalhadores rurais.

Em 1918, o ésse pê i éle tê êne passou a se chamar Serviço de Proteção aos Índios (ésse pê ih), com a missão de proteger a integridade física dos povos indígenas, respeitar suas culturas e reconhecer suas terras. Contudo, prevalecia na mentalidade brasileira do período a ideia de que os indígenas deviam incorporar os costumes dos não indígenas. Sob a direção do ésse pê ih foram criados postos para ensinar aos indígenas profissões que nada tinham a ver com o modo de vida deles. O órgão também autorizou o uso das terras de muitos povos para fins econômicos e a deportação de indígenas para outros locais.

Grafia dos nomes dos povos indígenas brasileiros

Nesta coleção, os nomes dos povos indígenas que vivem no Brasil foram grafados de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada em 1953 na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia:

sem flexão de número ou gênero;

• com inicial maiúscula quando usados como substantivo, sendo opcional quando usados como adjetivo.

Fotografia em sépia. Cândido Rondon, senhor de testa larga, cabelos brancos e nariz grande. Tem rugas no rosto. Usa uma camisa clara. Ele observa as mãos de um senhor indígena, que está à sua frente. Este último tem cabelos escuros e um pouco mais compridos e pele com rugas, e usa um tecido sobre os ombros.
Cândido Rondon e um líder dos borôro. Foto de cêrca de 1957.
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No fim da década de 1890, sob a liderança do marechal Cândido Rondon, foi realizado um mapeamento da região entre Cuiabá e a margem do Rio Araguaia para a instalação de linhas telegráficas. Nesse processo, Rondon e sua equipe entraram em contato com diversos povos indígenas, entre os quais os borôro. Anos depois, essa expedição deu origem ao ésse pê i éle tê êne.

Os anos finais da Primeira República

A década de 1920 trouxe novas perspectivas culturais e políticas para o Brasil. Além do movimento operário e do movimento feminista, outras vozes discordantes destacaram-se nessa década, como a dos artistas e intelectuais que participaram da Semana de Arte Moderna e os militares que promoveram o movimento tenentista.

A Semana de Arte Moderna

Quais eram as características do povo brasileiro? Que paisagens, episódios ou personagens da história representavam o Brasil? Desde as primeiras décadas do século dezenove, muitos artistas e intelectuais refletiram sobre essas questões relacionadas à identidade brasileira. Esse exercício de imaginação artística e intelectual ganhou fôlego nas primeiras décadas do século vinte não apenas por causa do início da república, mas também porque novos atores sociais entraram em cena.

De modo geral, até então, os artistas brasileiros procuravam seguir os padrões europeus. Com o objetivo de marcar uma ruptura nesse cenário e transformar os padrões artísticos tradicionais, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, alguns intelectuais e artistas promoveram a Semana de Arte Moderna, no Theatro Municipal de São Paulo.

Eles pretendiam renovar o ambiente artístico e cultural brasileiro adotando experiências estéticas de vanguarda que ocorriam na Europa – como o Futurismo, o Cubismo e o Expressionismo –, mas fazendo uso delas com base em uma perspectiva própria e brasileira.

Os escritores Mário de Andrade e osváld de Andrade, artistas plásticos como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Victor brêchêrê e o músico Heitor Villa­‑Lobos, entre outros, envolveram-se nessa empreitada.

A representação de um país culturalmente heterogêneo foi uma das obsessões dessa geração de artistas, que buscava romper com o passado e dar novas leituras às paisagens, às tradições e à população do Brasil.

Pintura. Personagens em traços longos e arredondados. Rapaz negro sentado tocando violão. Ao lado dele uma moça de olhos amendoados e nariz largo. Está sentada com os braços sobre os joelhos e o queixo apoiado em uma das mãos. À frente do homem, outra moça sentada. Ela está com uma das mãos no cabelo.
Roda de samba, pintura de Di Cavalcanti, 1929.
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Em suas obras, o artista modernista nascido no Rio de Janeiro Di Cavalcanti destacou as manifestações da cultura brasileira, as figuras do povo e os subúrbios das cidades. O pintor foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.

O movimento tenentista

O movimento tenentista, ou tenentismo, foi um conjunto de rebeliões militares que ocorreu entre o início da década de 1920 e os anos 1930. Liderados por jovens oficiais das forças amadas, especialmente do exército, os tenentes tinham como principais bandeiras o fortalecimento da instituição militar, a moralização da política e a construção de um Estado centralizado que pudesse modernizar o país e promover a industrialização.

Em 5 de julho de 1922, teve início a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Na ocasião, os tenentes rebelados tomaram o forte no Rio de Janeiro como fórma de manifestar sua insatisfação com o processo por meio do qual o candidato do govêrno, Arthur Bernardes, assumiu a Presidência da República.

Durante a campanha eleitoral, um jornal do Rio de Janeiro havia publicado cartas falsas, atribuídas ao presidente, atacando o exército e o marechal Hermes da Fonseca. Além disso, a impressão de que a candidatura de Bernardes se opunha à influência dos militares era corrente no exército.

Mesmo após a violenta repressão que sofreram no Forte de Copacabana – que foi bombardeado –, no dia seguinte alguns dos oficiais rebeldes decidiram confrontar as tropas legalistas, marchando em direção a elas na Praia de Copacabana. Dos dezoito rebeldes, apenas dois sobreviveram ao tiroteio que se seguiu.

Outras revoltas ocorreram em 1923, no Rio Grande do Sul, e em 1924, em São Paulo. Nesta, os tenentes revoltosos conseguiram obter o contrôle da cidade durante alguns dias.

Os que persistiram no movimento organizaram a chamada Coluna Prestes-Miguel Costa (ou Coluna Prestes), grupo formado pela união da Coluna Gaúcha, liderada por Luís Carlos Prestes, e pela Coluna Paulista, liderada por Miguel Costa.

A Coluna Prestes-Miguel Costa percorreu cêrca de 25 mil quilômetros com o propósito de divulgar seu ideário político: o voto secreto, a liberdade de imprensa, o equilíbrio na divisão de poder entre Executivo, Legislativo e Judiciário e o combate à fraude eleitoral e à corrupção. Em 1927, o grupo, em que restavam poucos integrantes, refugiou-se na Bolívia e depôs as armas.

Fotografia. Monumento com esculturas em bronze de soldados em combate. Alguns empunham armas, um está caído no chão. À esquerda, uma das esculturas está com o corpo inclinado para trás, como se tivesse sido baleado. Atrás do monumento, uma escadaria e um prédio com parte da estrutura oval revestida de vidros. Ao redor, muitas árvores.
Monumento aos Dezoito do Forte, escultura de Maurício Bentes diante do Memorial Coluna Prestes, obra de Oscar Niemáier localizada na Praça dos Girassóis, em Palmas Tocantins. Foto de 2019.

A Revolução de 1930

O golpe final contra a Primeira República ocorreu durante o govêrno do presidente uóshinton Luís. Embora tenha sido eleito por propor a modernização do país, seu mandato foi marcado por ações violentas e conservadoras. Reprimiu com violência o movimento operário e os focos que restaram do tenentismo, além de criar, em 1927, a Lei Celerada, que censurava a imprensa e o direito de reunião.

Durante o govêrno dele, ocorreu a crise de 1929, que você estudará no capítulo 4. Para entender um pouco melhor a situação, é preciso saber que os principais compradores do café brasileiro eram os Estados Unidos e o impacto da crise que se iniciou nesse país foi sentido imediatamente na economia brasileira, marcando o declínio da cafeicultura no Brasil.

Diante desse quadro de crise, o Partido Republicano Paulista lançou a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República, contrariando os interesses do Partido Republicano Mineiro e de outras oligarquias estaduais.

Em razão desse desacordo político, os oposicionistas formaram a Aliança Liberal e lançaram a candidatura de Getúlio Vargas, tendo como principais bandeiras a instituição do voto secreto e a criação de uma legislação trabalhista.

Embora populares, essas ideias não foram suficientes para Getúlio Vargas vencer as eleições de 1930. O esquema de fraudes eleitorais, que marcou todo o período, foi acionado por ambos os lados; no entanto, a máquina eleitoral paulista conseguiu confirmar a vitória apertada de Júlio Prestes.

Não reconhecendo os resultados das eleições, os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul deram início a um movimento armado que terminou em um golpe de estado: a chamada Revolução de 1930. Dessa maneira, depuseram o presidente uóshinton Luís e instauraram o govêrno provisório de Getúlio Vargas, que pôs fim à Primeira República.

Fotografia. Broche com retrato de Getúlio Vargas encimado por duas bandeiras do Brasil.
Broche com retrato de Getúlio Vargas utilizado na campanha eleitoral da Aliança Liberal, em 1929.
Fotografia em preto e branco. Homens de terno, gravata e chapéu, reunidos. Carregam faixas com os dizeres: PELO BRASIL TUDO! e ALIANÇA LIBERAL.
Início da campanha da Aliança Liberal na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 1929.
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Imagens em contexto!

Nas eleições de 1930, os votantes representavam apenas 5,6% da população brasileira. Mesmo assim, a campanha eleitoral mobilizou a participação popular em grandes comícios. A derrota da Aliança Liberal desencadeou o processo que pôs fim à chamada Primeira República no Brasil.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que é possível afirmar que a Revolta da Chibata expôs o racismo e a violência do Estado contra a população pobre e negra do país?
  2. Resuma as principais reivindicações dos participantes do movimento operário no Brasil no início do século vinte e as estratégias utilizadas para alcançá-las.
  3. Indique dois importantes movimentos políticos ou culturais da década de 1920 no Brasil.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. (enêm-Méqui – adaptado)

“A Revolta da Vacina (1904) mostrou claramente o aspecto defensivo, desorganizado, fragmentado da ação popular. Não se negava o Estado, não se reivindicava participação nas decisões políticas; defendiam-se valores e direitos considerados acima da intervenção do Estado.”

CARVALHO, J. M. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. (Adaptado)

Copie no caderno a alternativa correta. A mobilização analisada representou um alerta, na medida em que a ação popular questionava:
  1. a alta dos preços.
  2. a política clientelista.
  3. as reformas urbanas.
  4. o arbítrio governamental.
  5. as práticas eleitorais.

Aprofundando

2. Leia a seguir um episódio do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, que se passa na manhã de 15 de novembro de 1889. Depois, no caderno, indique a alternativa correta.

reticências era costume de Aires sair cedo a espairecer. reticências Desta vez foi ao Passeio Público. Chegou às sete horas e meia, entrou, subiu ao terraço e olhou para o mar. reticências

Enfim, cansou e desceu reticências passeou à toa Notou que a pouca gente que havia ali não estava sentada, como de costume, olhando à toa, lendo gazetas ou cochilando Estava de pé, falando entre si Ouviu umas palavras soltas, Deodoro, batalhões, campo, ministério etcétera reticências

Quando Aires saiu do Passeio Público, suspeitava alguma coisa, e seguiu até o Largo da Carioca. Poucas palavras e sumidas, gente parada, caras espantadas, vultos que arrepiavam caminho, mas nenhuma notícia clara e completa. Na Rua do Ouvidor soube que os militares tinham feito uma revolução, ouviu descrições das marchas e das pessoas, e notícias desencontradas. reticências

reticências não acreditou na mudança de regime que ouvira ao cocheiro de tílburiglossário e ao criado José. Reduziu tudo a um movimento que ia acabar com a simples mudança de pessoal.

– Temos gabinete novo, disse consigo.”

ASSIS, M. Esaú e Jacó. São Paulo: Pêngüim & Companhia das Letras, 2012. p. 163-166.

  1. O trecho do romance faz referência à expressiva participação popular na proclamação da república no Brasil.
  2. A reação do conselheiro Aires representa uma crítica ao protagonismo dos militares no processo de proclamação da república.
  3. O trecho do romance de Machado de Assis destaca as profundas rupturas sociais decorrentes da proclamação da república no Brasil.
  4. O trecho do romance pode ser associado à sensação de continuidade das disputas pelo poder político por parte das oligarquias do país, apesar da mudança de regime político.
  5. O modo como a proclamação da república é representada no trecho pode ser considerado uma crítica à ideia de que o povo teria apenas assistido aos eventos que deram fim ao império.

3. Ao longo deste capítulo, você estudou as estratégias utilizadas durante a Primeira República para manipular os processos eleitorais. Hoje, as eleições ocorrem de modo mais seguro com o uso das urnas eletrônicas. No entanto, as novas tecnologias também estimularam a criação de outras estratégias para manipular a opinião pública e as eleições. Uma delas é o disparo de mensagens eletrônicas em massa para a divulgação de fake news. Com base no que você sabe a respeito das fake news e no que estudou neste capítulo, produza um texto argumentativo-dissertativo sobre os danos provocados pela difusão de mensagens falsas nos processos eleitorais e no exercício da cidadania.

Converse com seus familiares e com membros da comunidade escolar sobre o modo como eles se informam a respeito de política. Algumas questões podem ajudá-lo nessa conversa:
  • Que meios de comunicação essas pessoas utilizam para se informar?
  • Elas costumam conferir as informações que recebem por esses meios? De que fórma? Para enriquecer seu texto, pesquise informações a respeito dos processos eleitorais mais recentes e das medidas adotadas pelo tê ésse é para coibir essas práticas no Brasil.

4. Analise as imagens a seguir. Depois, faça o que se pede.

Pintura. Djanira da Motta, mulher morena, cabelos compridos e pretos. Tem o rosto longo, olhos grandes, sobrancelhas arqueadas. Veste uma blusa vermelha. Ao fundo o retrato de uma menina.
Autorretrato, de Djanira da Motta e Silva, 1944.
Pintura. Grupo com cinco moças. À frente, moça branca, de cabelos escuros e curtos, usa vestido e chapéu azuis. Ao lado dela, moça negra de saia e camisa decorada com um flor. Usa um chapéu grande. Atrás delas, mais duas moças de vestido e chapéu. Uma delas está com uma sombrinha aberta. Ao fundo, a quinta moça, com o cotovelo apoiado no muro e o rosto apoiado na mão. Ela usa um chapéu claro.
Cinco moças de Guaratinguetá, pintura de Di Cavalcanti, 1930.
Junte-se a alguns colegas para identificar nas pinturas as principais características da arte modernista. Para isso, vocês deverão produzir uma revisão bibliográfica dos traços do Modernismo presentes nas pinturas seguindo estes procedimentos:
  • Façam um levantamento de fontes sobre o tema. Vocês podem pesquisar livros na biblioteca da escola, do município ou da região e artigos de divulgação científica em revistas impressas e na internet, conforme a orientação do professor.
  • Selecionem cinco fontes para o trabalho. Vocês devem organizar um quadro com a indicação das referências completas.
  • Leiam as fontes selecionadas e produzam fichas com informações sobre elas, contendo o título, o autor, o ano de produção e as principais ideias desenvolvidas em cada uma.
  • Produzam uma síntese das fichas, identificando as características modernistas mencionadas nas fontes que pesquisaram. Em seguida, respondam: quais delas estão relacionadas às obras reproduzidas?
  1. Ainda em grupo, organizem uma exposição na escola sobre o Modernismo para estudar os impactos das obras modernistas na sociedade atual. Para conduzir o estudo, sigam estes procedimentos:
    • Para a exposição, vocês podem selecionar obras de artistas plásticos, trechos de poemas, de romances ou de contos e músicas modernistas. Todos os materiais da exposição devem ser identificados e apresentar legendas explicativas.
    • Elaborem um questionário para aplicar ao público da exposição. Esse questionário pode conter perguntas como: de que obra você mais gostou? Que emoções essa obra despertou em você? O que mais chama sua atenção nessa obra?
    • No dia da exposição, apliquem o questionário e circulem pelo espaço observando e anotando as obras que mais chamaram a atenção das pessoas, como o público interagiu com elas, durante quanto tempo as pessoas contemplaram as obras etcétera. Dividam as tarefas entre os integrantes do grupo.
    • Depois da exposição, reúnam-se para analisar as informações coletadas nos questionários e nas observações, procurando compreender como as obras expostas foram recebidas pelo público.
    • Redijam um relatório apresentando as conclusões sobre os efeitos que as obras modernistas selecionadas por vocês causaram na comunidade escolar.

Glossário

Bestializado
: nesse contexto, paralisado; pasmo.
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Atônito
: espantado, admirado, confuso.
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Alçar
: erguer; levantar.
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Repudiar
: rejeitar; recusar; repelir.
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Arvorar
: nesse contexto, hastear a bandeira.
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Antinômico
: contrário; oposto.
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Naturalização
: ato pelo qual um indivíduo se torna cidadão de um país em que não nasceu, perdendo sua nacionalidade de origem.
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Praça
: oficial que ocupa os postos mais baixos da hierarquia militar (soldado ou cabo).
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Clausura
: regime de internato, vida em reclusão (como ocorre com alguns monges, por exemplo).
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Encilhamento
: ato de encilhar, ou seja, apertar a sela dos cavalos. A crise do Encilhamento recebeu esse nome por causa da associação entre o clima de especulação das apostas na bolsa de valores e as corridas de cavalo.
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Lastro
: garantia do valor do papel-moeda. Na lógica econômica, um país deve imprimir apenas a quantidade de papel-moeda equivalente a suas reservas de ouro, dólar ou riquezas.
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Especulador
: indivíduo que faz investimentos de acordo com as flutuações do mercado para obter altos lucros.
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Estado de sítio
: suspensão dos poderes Legislativo e Judiciário em situações emergenciais.
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Alcunha
: qualificativo, apelido, por vezes, utilizado de fórma negativa.
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Estigma
: marca, cicatriz ou sinal deixado por uma ferida. Nesse caso, o estigma está associado ao processo de exclusão social, marcado pela inferiorização da população negra no Brasil.
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Inviolabilidade
: qualidade ou caráter do que é inviolável, que não se pode violar.
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Coerção
: ato de obrigar, forçar, impor contrôle utilizando a fôrça.
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Guarda Nacional
: instituição militar criada na época do império. Com o início da república, ela perdeu aos poucos sua natureza militar, mas manteve sua influência sobre a esfera municipal.
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Árduo
: estafante; desgastante; difícil de suportar.
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Sanitário
: relativo à higiene e à saúde pública e individual.
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Sanitarista
: especialista em saúde pública.
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Cosmopolita
: próprio das grandes cidades.
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Messianismo
: fenômeno característico do catolicismo popular que tem como base a crença na vinda ou no retorno de um messias que libertaria um grupo ou povo oprimido.
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Resquício
: traço, vestígio, resto.
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Desapropriação
: privação da posse.
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Encouraçado
: navio de guerra de grande porte.
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Anarcofeminista
: integrante da vertente do movimento anarquista que luta contra a desigualdade de gênero e a estrutura do patriarcado.
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Tílburi
: veículo de duas rodas e dois assentos, puxado por um animal, usado como meio de transporte no período.
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