CAPÍTULO 5 A Era Vargas (1930-1945)

Alguém já lhe disse que trabalha com carteira assinada? Você sabe o que isso significa? O termo é utilizado para se referir a um emprego formal, no qual os trabalhadores contam com a garantia, por lei, de direitos como jornada diária de oito horas, descanso semanal, férias remuneradas e licença-maternidade. Esses direitos foram regulamentados no Brasil na década de 1940.

No entanto, no início de 2022, por exemplo, mais de 40% dos trabalhadores brasileiros ocupavam vagas informais de trabalho.

Fotografia. Mão de uma pessoa segurando um celular. Na tela um aplicativo de fundo azul com emblema e escritos em branco.
Pessoa utilizando aplicativo de Carteira de Trabalho Digital em smartphone, em Londrina Paraná. Foto de 2020.
Fotografia. Entregador de comida em bicicleta. Ele carrega uma mochila grande e vermelha às costas que contém um isopor. O entregador usa touca e capa de chuva. O asfalto está molhado. Ao fundo as luzes da rua desfocadas.
Entregador de comida pedida por aplicativo na cidade de São Paulo São Paulo. Foto de 2019.
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Muitas pessoas que realizam serviços de entregas nas grandes cidades encontram-se na situação de informalidade. Existem riscos associados a diversos tipos de trabalho. Contudo, se ficarem doentes e tiverem de se afastar do emprego, trabalhadores com carteira assinada têm direito a receber o salário durante a licença médica. Já os informais recebem apenas pelo trabalho realizado.

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Além daqueles mencionados nesta página, que outros direitos trabalhistas você conhece?
  2. Cite algumas diferenças entre trabalho formal e informal.
  3. Qual é a relação desse assunto com o tema deste capítulo?

Getúlio Vargas no poder: o govêrno provisório

Os historiadores costumam dividir o período em que Getúlio Vargas foi presidente da república em três fases: a do govêrno provisório (1930-1934), instalado após a chamada Revolução de 1930 – que você estudou no capítulo 2 –, a do govêrno constitucional (1934-1937) e a da ditadura do Estado Novo (1937-1945).

Neste capítulo, você vai estudar alguns dos acontecimentos que marcaram cada uma dessas fases, especialmente os relacionados às agitações políticas e à movimentação de trabalhadores e grupos populares na luta pela consolidação ou pela ampliação de seus direitos.

Assim que chegou ao poder como chefe do govêrno provisório, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas adotou uma série de medidas para enfraquecer as oligarquias contrárias a seu govêrno. Para isso, fortaleceu a autoridade do Estado e adotou uma política centralizadora.

Vargas suspendeu a Constituição vigente e, inicialmente, comandou o país por meio de decretos. Ele afastou os governadores dos estados e, no lugar deles, nomeou interventoresglossário . Além disso, dissolveu as Assembleias Legislativas estaduais e o Congresso Nacional. Com essas ações, ele pretendia desarticular as oligarquias dissidentesglossário e concentrar o poder de decisão em suas mãos ou nas de pessoas de sua confiança.

Essa política intervencionista desagradou muita gente, especialmente os integrantes da elite do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e de São Paulo. Entre os paulistas, o sentimento de contrariedade deu origem a um movimento armado que terminou em uma guerra civil.

Charge. Na capa, na parte superior, o título da revista: CARETA. No centro, charge representando dois militares perto de um obelisco. Nele estão penduradas argolas. À direita, três homens a cavalo levantam os chapéus. Ao fundo, o morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
O fim da jornada revolucionária, charge de Istorni publicada na capa da revista Careta, em 8 de novembro de 1930.
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A charge representa o fim do movimento armado que levou Vargas à Presidência. Para simbolizar a tomada do poder, ao chegarem ao Rio de Janeiro, os gaúchos amarraram seus cavalos no obelisco localizado na Avenida Rio Branco. Na charge, o general Augusto Tasso Fragoso, membro da junta governativa provisória que entregou o poder a Vargas, exclama: “Apeiemglossário -se companheiros, que o obelisco chega para todos!”. Getúlio Vargas (de azul) o cumprimenta.

A revolta dos paulistas

Boa parte dos integrantes de grupos da elite contrários ao govêrno entendia o processo de centralização política implementado por Vargas como uma ameaça aos princípios federativos. Eles desejavam autonomia para comandar o estado em que viviam e acreditavam que o govêrno provisório poderia dar início a uma ditadura sem prazo para terminar, em que Vargas concentraria cada vez mais poderes.

Assim, em São Paulo, no comêço de 1932, o Partido Democrático (pê dê) e o Partido Republicano Paulista (pê érre pê) formaram a Frente Única Paulista para exigir a realização de eleições presidenciais e a elaboração de uma nova Constituição para o Brasil. Também incomodava os paulistas a nomeação do tenente pernambucano João Alberto Lins de Barros como interventor do estado de São Paulo.

Para tentar conciliar-se com eles, Vargas nomeou Pedro de Toledo, civil e paulista, como interventor do estado, mas isso não foi suficiente para conter os apelos pela constituinte. Houve manifestações nas ruas da capital paulista. Em uma delas, em 23 de maio de 1932, quatro jovens – Mário Martins, Cláudio Miragaia, Dráusio Marcondes e Américo Camargo – foram mortos pela polícia. Para homenageá-los, o movimento passou a se chamar ême ême dê cê (sigla formada com as iniciais de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo).

Em 9 de julho do mesmo ano, teve início uma revolta armada contra o govêrno federal que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932. Os revoltosos paulistas tinham recebido como promessa o reforço de tropas vindas do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, mas ela não foi cumprida. Então, com um exército pequeno e mal equipado, acabaram derrotados pelas fôrças armadas e pela polícia de outros estados.

No ano seguinte, contudo, o govêrno provisório convocou eleições para a Assembleia Constituinte, principal demanda do movimento.

Cartaz. Ilustração de homem de barba cheia, chapéu longo, calça larga e botas. Ele tem um mosquete em uma das mãos e, com a outra, segura um boneco representando Getúlio Vargas, homem calvo, pequeno de roupa social. Atrás dele um militar segura a bandeira paulista. Há palavras de ordem no cartaz.
Cartaz. Ilustração de busto de militar de capacete preto. Tem olhos grandes e testa franzida. Está com o dedo indicador apontado para frente. Atrás dele, a bandeira de São Paulo. Ao redor da imagem, palavras de ordem.
Cartazes do govêrno paulista produzidos durante a Revolução Constitucionalista de 1932, com as mensagens: “Abaixo a ditadura” e “Você tem um dever a cumprir. Consulte a sua consciência! ême ême dê cê”.
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Ao longo da mobilização para a revolta, que contou com apôio popular significativo, os símbolos regionais foram acionados. Nos cartazes, as cores da bandeira do estado de São Paulo e a figura do bandeirante foram usadas para convocar os paulistas a lutar. Além desses símbolos de uma cultura cívica regional muito difundida, foram empregadas nos cartazes imagens semelhantes às usadas durante a Primeira Guerra Mundial para associar a luta dos soldados a um dever cívico.

A conquista do direito ao voto pelas mulheres

Durante o govêrno de Getúlio Vargas, mais especificamente após a publicação do Código Eleitoral do Brasil (ou Código Eleitoral de 1932), o voto das mulheres foi instituído de maneira formal no país.

Essa importante conquista, fruto de um longo processo de luta e mobilização das mulheres, estava diretamente associada aos esforços de associações e movimentos, como a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (éfe bê pê éfe), organização em que se destacou a cientista e ativista Bertha Lútis, que buscou articular o movimento brasileiro pelo voto feminino ao internacional, dando-lhe mais legitimidade e visibilidade.

Fotografia em preto e branco. Mulher vestindo camisa, saia e chapéu. Está em pé com as mãos apoiadas sobre uma bancada.
Bertha Lútis (em pé) na Conferência de sân Francisco, nos Estados Unidos. Nesse encontro foram discutidos os princípios de fundação da Organização das Nações Unidas (ônu). Foto de 26 de junho de 1945.

A éfe bê pê éfe promovia congressos e debates públicos, divulgando a causa em meios de comunicação de massa, dialogando com políticos e assessorando juridicamente as mulheres que desejavam se alistar como eleitoras. O fato de a Constituição de 1891 não vetar expressamente a participação feminina no processo eleitoral fornecia-lhes importante argumento jurídico.

Em 1926, a distinção entre os gêneros para o exercício do voto foi abolida no Rio Grande do Norte. Com essa medida, todo o sistema eleitoral foi pressionado. Em 1929, uma mulher – Alzira Soriano – foi eleita prefeita de Lajes, município localizado no mesmo estado.

As demandas femininas pelo direito ao voto foram incluídas na legislação eleitoral de 1932. O Código Eleitoral da época considerava eleitor, sem distinção de gênero, o cidadão maior de 21 anos. Entretanto, até 1946 o voto era obrigatório apenas para pessoas do sexo masculino, demonstrando que o exercício da cidadania por homens e mulheres ainda era percebido em níveis diferentes.

Fotografia em preto e branco. Mulher sorridente, de vestido claro e chapéu, coloca um pedaço de papel dentro de uma urna. Homens sentados observam a cena.
Almerinda Farias Gama, primeira mulher a votar nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 1933.
Fotografia. Reprodução de um documento formado por uma folha grande com textos, uma foto pequena e uma digital.
Título de eleitora de Paula Horta, emitido em 17 de fevereiro de 1933, após a regulamentação do voto feminino pelo Código Eleitoral de 1932.
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Além da luta pelo voto feminino no Brasil, a atuação de Bertha Lútis, junto a outras mulheres latino-americanas, como diplomata na Conferência de sân Francisco é reconhecida como fundamental para a inserção da igualdade de direitos entre homens e mulheres na Carta das Nações Unidas de 1945.

O govêrno constitucional

Em 1933, realizaram-se as eleições para os deputados que atuariam na Assembleia Nacional Constituinte com inovações importantes previstas no Código Eleitoral, como o voto feminino e a instituição da Justiça Eleitoral. Esse órgão passou a ser responsável, entre outros aspectos, pela organização das eleições e pelo cumprimento do voto secreto.

A disputa foi intensa: .1040 candidatos, dos quais apenas 19 eram mulheres, concorreram às 214 vagas destinadas à eleição direta. Delegados apontados pelos sindicatos de trabalhadores e patronaisglossário escolheram outros quarenta deputados.

Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição consolidou mudanças importantes que correspondiam aos desejos de modernização do país: incorporou direitos trabalhistas, como a fixação de um salário mínimo, de férias anuais remuneradas e da jornada máxima de oito horas de trabalho por dia, instituiu o ensino primário gratuito e obrigatório e proibiu a existência de órgãos de comunicação dirigidos por estrangeiros. Além disso, restringiu a imigração e procurou evitar a concentração de imigrantes em uma mesma região.

Com essa constituição, o Poder Judiciário foi centralizado, sendo instituída a Justiça do Trabalho. Além disso, Vargas concentrou atribuições, especialmente na condução das políticas econômicas e sociais, e negociou intensamente para favorecer seus interesses. Um deles era o de permanecer no poder após o fim do govêrno provisório.

Assim, de acordo com a Constituição, a primeira eleição presidencial após sua promulgação seria indireta, decidida pelo voto dos deputados da Assembleia Constituinte. Vargas foi, então, eleito presidente por sufrágio indireto, em julho de 1934, para um mandato que se encerraria em 1938.

Fotografia aérea. Prédio longo horizontalmente e curvo. Todo revestido por vidro escuro. À frente, no gramado, três estruturas semicirculares.
séde do Tribunal Superior Eleitoral (tê ésse é), em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2020.
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Com a instituição da Justiça Eleitoral, as eleições no país foram organizadas, garantindo rapidez e transparência a esse importante processo democrático.

Conflitos sociais e políticos

Talvez você suponha que, com o início do govêrno constitucional, tudo tenha caminhado de fórma mais tranquila no Brasil, mas não foi o que aconteceu. Você se recorda do que estudou sobre a crise de 1929 e os efeitos dela na economia brasileira?

Com a crise capitalista global, os salários se desvalorizaram e os ganhos de proprietários rurais e industriais diminuíram, contribuindo para acirrar os conflitos políticos e sociais no Brasil.

No plano político, formaram-se duas organizações rivais, das quais participavam membros das forças armadas e da classe média urbana: a Ação Integralista Brasileira (á í bê ), fundada em 1932, e a Aliança Nacional Libertadora (á êne éle), criada em 1935. Esses agrupamentos políticos estavam relacionados a princípios e experiências, como os do fascismo e os do comunismo, que marcaram a Europa logo após a Primeira Guerra Mundial.

Ação Integralista Brasileira

A á í bê era inspirada no fascismo italiano, e seus integrantes propunham a instauração de um regime antidemocrático, totalitário e sustentado no corporativismo. Para os integralistas, o Estado deveria abrigar, controlar e direcionar todas as atividades da sociedade por meio da organização de corporações, correspondentes aos grupos profissionais e de proprietários de cada ramo econômico.

O movimento integralista conquistou adeptos na classe média urbana e na elite militar e religiosa, chegando a ter de 100 mil a 200 mil adeptos no país. Parte de sua estratégia política era baseada na criação de símbolos com forte apelo ao nacionalismo.

Como você estudou no capítulo 4, os nazistas e os fascistas realizavam marchas uniformizados e incorporavam em seus discursos parte do que imaginavam ser um passado grandioso que deveria ser restaurado. Os integralistas fizeram coisas semelhantes no Brasil: organizaram marchas e comícios em que seus membros usavam uniformes com camisas verdes, apostaram em gestos marciaisglossário , como a saudação em que levantavam o braço direito e falavam a palavra tupi Anauê! (que significa “você é meu parente”). Utilizavam, também, braçadeiras e bandeiras com o sigmaglossário , entoavam hinos patrióticos e realizavam outros rituais políticos.

Capa de revista. Ilustração de homem de camisa verde entalha a letra sigma com o auxílio de um martelo e um ponteiro. Atrás o mapa do Brasil. No alto, o título da revista.
Capa da revista Anauê!, utilizada para propaganda do movimento integralista, de maio de 1935.
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A camisa verde utilizada pelos integralistas fazia alusão às cores nacionais, e a saudação em tupi era uma referência ao indigenismo romântico. A á í bê foi uma das organizações fascistas mais atuantes no Brasil. Seu principal líder era o intelectual e escritor Plínio Salgado.

Aliança Nacional Libertadora

A á êne éle foi organizada para combater a extrema direita e, no plano internacional, formar frentes populares de combate ao nazifascismo. Essa aliança não reunia apenas comunistas, mas também representantes de outras correntes políticas, como socialistas, democratas e católicos progressistas.

O programa da á êne éle atraía trabalhadores, intelectuais, profissionais liberais e militares em razão da luta não apenas contra o fascismo e o imperialismo, mas também contra a miséria e a favor da reforma agrária. Os aliancistas promoveram comícios e fortaleceram a organização de sindicatos e associações, chegando ao número aproximado de 100 mil filiados. Sob a liderança de Luís Carlos Prestes, a á êne éle assumiu um discurso que incluía a insurreição contra Vargas e a formação de um govêrno popular.

A Intentona Comunista e o Plano Couén

A Constituição de 1934 previa eleições diretas para a Presidência em 1938. No entanto, antes do processo eleitoral, Vargas deu um golpe de Estado. Como isso foi possível?

O golpe começou a se desenrolar alguns anos antes e estava relacionado ao que se chamou de ameaça comunista ou “perigo vermelho”. Em 1935, Vargas utilizou a recém-aprovada Lei de Segurança Nacional, que permitia enquadrar os movimentos de oposição como criminosos, para fechar as sedes da á êne éle.

Fotografia. Cartaz antigo apresentando pequenas manchas e rasgos. Nele a informação: PELA LIBERDADE! A ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA CONVIDA O POVO A COMEMORAR O 13 DE MAIO. COMICIO MONSTRO. NO ESTADIO BRASIL. FEIRA DE AMOSTRAS. ÀS 20 HORAS. ENTRADA LIVRE.
Cartaz de anúncio de comício promovido pela á êne éle na cidade do Rio de Janeiro, em 1935, para celebrar o 13 de maio, data da abolição da escravidão no Brasil.

Apesar da proibição, parte dos aliancistas continuou atuando na clandestinidade. Em novembro do mesmo ano, algumas células da á êne éle organizaram revoltas com o objetivo de constituir governos populares no Brasil. O levante, que foi chamado pela imprensa de Intentona Comunista, durou poucos dias. No entanto, foi utilizado por Vargas para decretar estado de sítio no país.

Em 1936, o Congresso aprovou a criação da Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo. Com o pretexto de combater um suposto perigo comunista, o govêrno demitiu, cassou e prendeu servidores públicos e políticos. Nesse clima de repressão, em setembro de 1937, a imprensa divulgou um plano de tomada do poder supostamente arquitetado pela Internacional Comunista.

Na verdade, o que se chamou de Plano Couén era um embusteglossário montado pelo integralista e capitão do exército Olímpio Mourão Filho. A farsa foi utilizada por Vargas para intensificar a perseguição à oposição e, em 10 de novembro de 1937, instaurar uma ditadura: a do Estado Novo.

Fotografia em sépia. Homens de casaco largo em filas. Alguns usam fardamento militar e capacete.
Rebeldes que lutaram na Intentona Comunista encaminhados para presídio em Ilha Grande, Angra dos Reis Rio de Janeiro. Foto de 1935.
A Frente Negra Brasileira

A polarização política em torno da á í bê e da á êne éle e a chamada “caça aos comunistas” promovida pelo govêrno Vargas não refletiam todas as tensões sociais do período. Reivindicações de grupos que lutavam pelos direitos da população negra no país eram anteriores ao embate entre á í bê e á êne éle. Desde 1931, a Frente Negra Brasileira (éfe êne bê) atuava em São Paulo e, depois, em outros estados.

Esse tipo de associação não era novidade no Brasil. A organização do movimento negro, sobretudo por meio da imprensa, de clubes recreativos e de sociedades de ajuda mútua, já existia no século dezenove. No entanto, nas décadas de 1930 e 1940, a luta contra o racismo e por igualdade ganhou novo impulso.

Uma das estratégias da éfe êne bê era denunciar e boicotar estabelecimentos comerciais e públicos que vetavam a entrada de negros. Além de produzir o jornal A Voz da Raça, que circulou entre 1933 e 1937, de promover atividades culturais, como teatro e bailes, e de prestar atendimento odontológico e médico à população afrodescendente, a éfe êne bê organizou uma escola.

A organização se ramificou, fundando núcleos em outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, e se tornou partido político em 1936.

No cenário brasileiro, um partido fundado pelo movimento negro era uma novidade, que foi interrompida com o fechamento dos partidos políticos e das organizações consideradas antinacionais em 1937, durante a ditadura varguista do Estado Novo.

Fotografia. Pessoas na rua em um protesto. Usam máscara de proteção facial. Carregam cartazes feitos a mão. À frente faixa com os dizeres:  MOVIMENTO ANTIRRACISTA SOROCABANO.
Protesto antirracista na cidade de Sorocaba São Paulo, exigindo justiça pelas pessoas negras vítimas do racismo. Foto de 2020.
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Apesar da luta histórica do movimento negro, permanecem no país problemas relacionados à desigualdade de direitos entre negros e brancos. Isso demonstra que o combate ao racismo no Brasil continua sendo necessário.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva duas ações de Getúlio Vargas durante o govêrno provisório que podem ser caracterizadas como marcas do processo de centralização política no país.
  2. Defina os objetivos de uma das organizações políticas brasileiras fundadas na década de 1930, relacionadas ao fascismo ou ao comunismo.
  3. Explique as principais estratégias da éfe êne bê para lutar por igualdade e contra o racismo.

Cruzando fronteiras

Provavelmente, alguém já lhe disse que os brasileiros não são racistas, pois o Brasil é formado por uma mistura de povos, em que pessoas de diversas “raças” convivem de fórma harmoniosa.

Pense nestas questões: quantos intelectuais, escritores, cientistas, juízes, médicos, políticos ou empresários negros você conhece? Quantos protagonistas negros há em filmes, novelas e séries? Há bem menos negros do que brancos em posição de destaque. Mas isso não reflete a composição da sociedade brasileira, em que a proporção de negros é maior que a de brancos e de pessoas de outras etnias.

Brasil: distribuição da população segundo as classes de percentual de pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar per cápita – 2018

Gráfico de barras. Brasil: distribuição da população segundo as classes de percentual de pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar per capita, 2018. No eixo vertical, as informações: Total da população. Até 10% com os menores rendimentos. Mais de 10% até 20%. Mais de 20% até 30%. Mais de 30% até 40%. Mais de 40% até 50%. Mais de 50% até 60%. Mais de 60% até 70%. Mais de 70% até 80%. Mais de 80% até 90%. Mais de 90% com os maiores rendimentos. No eixo horizontal, a legenda. Barra vermelha: branca e outras; barra azul: negra. No gráfico. Total da população: branca e outras, 43,1; negra, 55,8. Até 10% com os menores rendimentos: branca e outras, 23,7; negra, 75,2. Mais de 10% até 20%: branca e outras, 26,4; negra, 72,5. Mais de 20% até 30%: branca e outras, 31,6; negra, 67,4. Mais de 30% até 40%: branca e outras, 35,3; negra, 63,8. Mais de 40% até 50%: branca e outras, 39,3; negra, 59,9. Mais de 50% até 60%: branca e outras, 42,5; negra, 56,6. Mais de 60% até 70%: branca e outras, 48,5; negra, 50,5. Mais de 70% até 80%: branca e outras, 53,6; negra, 45,5. Mais de 80% até 90%: branca e outras, 59,9; negra, 38,7. Mais de 90% com os maiores rendimentos: branca e outras, 70,6; negra, 27,7.

FONTE: í bê gê É. Desigualdades sociais por côr ou raça no Brasil. Estudos e Pesquisas: Informação Demográfica e Socioeconômica, Rio de Janeiro: IBGE, número 41, página 5, 2019.

Brasil: distribuição dos deputados federais, deputados estaduais e vereadores eleitos (%) – 2016-2018

Gráfico de barras. Brasil: distribuição dos deputados federais, deputados estaduais e vereadores eleitos em porcentagem, de 2016 a 2018. No eixo vertical, as informações: Deputados federais. Deputados estaduais. Vereadores. No eixo horizontal, a legenda. Barra vermelha: branca e outras. Barra azul: negra. No gráfico: Deputados federais: branca e outras, 75,6 por cento; negra, 24,4 por cento. Deputados estaduais: branca e outras, 71,1 por cento; negra, 28,9 por cento. Vereadores: branca e outras, 57,9 por cento; negra, 42,1 por cento.

FONTE: í bê gê É. Desigualdades sociais por côr ou raça no Brasil. Estudos e Pesquisas: Informação Demográfica e Socioeconômica, Rio de Janeiro: í bê gê É, número 41, página 11, 2019.

Brasil: taxa de homicídios de negros e de não negros por 100 mil habitantes – 2007-2017

Gráfico de linhas. Brasil: taxa de homicídios de negros e de não negros por 100 mil habitantes, de 2007 a 2017.  No eixo vertical, as informações: 0, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45 e 50. No eixo horizontal, os anos: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. No canto direito, a legenda: linha azul: negros. Linha vermelha: não negros. No gráfico. Linha azul, que representa os negros, inicia entre 30 e 35, em 2007, e termina em 2017 entre 40 e 45 homicídios por 100 mil habitantes. A linha se manteve em crescimento durante todo o período, com uma pequena baixa entre 2014 e 2015. Linha vermelha, que representa não negros, segue estável durante todo o período, na faixa de 15 homicídios por 100 mil habitantes.

FONTE: ipéa; FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA organização. Atlas da violência 2019. Brasília: Rio de Janeiro: ipéa; São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019. página 49.

Analise os dados nos gráficos. Com base na análise de estatísticas como essas, intelectuais, como o advogado e filósofo brasileiro Silvio Luiz de Almeida, afirmam que o racismo no Brasil é estrutural, e não excepcional. Isso significa que ele está na base das relações estabelecidas na sociedade brasileira, podendo ser entendido como um processo que confere sentido à estrutura política, econômica, social e cultural do país.

Você se recorda de que no início deste texto foi mencionada a ideia de que o Brasil é um país multicultural e de convivência harmoniosa entre as diversas “raças”? Esse é o elemento de ligação do assunto tratado nesta seção com a Era Vargas.

Em 1933, durante o govêrno provisório, foi publicado no Brasil o livro Casa-grande & senzala, de Gilberto Freire. Nessa obra, Freire argumentou que a cultura brasileira era formada pelas matrizes culturais portuguesa e africana, com alguma influência indígena. Antes dele, muitos pensadores racistas consideravam negativamente essa origem de povo mestiço. Já Freire propôs a ideia da miscigenação por meio do entrecruzamento de culturas distintas como algo positivo, que formou uma sociedade original. Essa hipótese, diferente das teorias racistas que circulavam na época, foi bem recebida e aceita por muitos intelectuais.

A proposta de Gilberto Freire, porém, escondia as diferenças existentes entre as culturas, a violência e a continuidade do racismo como traço característico da sociedade brasileira.

As diversas leituras que o livro Casa-grande & senzala recebeu ao longo do tempo contribuíram para afirmar o mito da democracia racial: a crença de que o Brasil teria transcendido o racismo e escapado da discriminação racial que se evidenciava em países como os Estados Unidos.

Fotografia. 1. Tais Araújo, mulher negra. Tem o cabelo curto e cacheado. Tem o rosto fino e os olhos pequenos. Fotografia. 2. Maria Júlia Coutinho, mulher negra. Tem o cabelo curto e cacheado. Tem o rosto arredondado, olhos grandes e sorriso largo. Fotografia. 3. Djamila Ribeiro, mulher negra. Tem o cabelo longo em tranças. O rosto é arredondado e usa óculos. Fala ao microfone.
A atriz Taís Araujo em cena de produção audiovisual nacional, foto de 2021; a jornalista Maria Júlia Coutinho apresentando telejornal, foto de 2019; e a filósofa Djamila Ribeiro em entrevista, foto de 2018.
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Apesar de o racismo estrutural – cruel sobretudo com as mulheres – integrar a organização da sociedade brasileira, a luta histórica do movimento negro produz mudanças de paradigmas sociais. Atualmente é muito mais comum encontrar mulheres negras ocupando lugares centrais na mídia de alcance nacional do que há uma década, por exemplo.

Responda no caderno.

  1. Analise os gráficos apresentados e responda:
    1. Qual é a porcentagem de negros no grupo que apresenta o maior rendimento domiciliar per cápita no Brasil?
    2. É correto afirmar que os negros são a maioria no Poder Legislativo? Justifique a sua resposta.
    3. Pode-se afirmar que no período compreendido entre 2007 e 2017 o número de homicídios no Brasil se estabilizou? Justifique sua resposta.
  2. Defina, com suas palavras, democracia racial e racismo estrutural.
  3. Escreva um texto confrontando a ideia de que o Brasil não é um país racista. Em sua argumentação, utilize os dados estatísticos analisados na atividade 1 e as definições de democracia racial e racismo estrutural que você elaborou na atividade 2.

O Estado Novo

Ao se manter no govêrno por meio de um golpe, Getúlio Vargas apropriou-se da função legislativa decretando o fechamento do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas estaduais, o que foi acompanhado de censura à imprensa, da nomeação de interventores nos estados e do contrôle das polícias estaduais pelo exército.

Os partidos políticos foram extintos, ficando a atividade política concentrada no govêrno federal. Os comandantes militares e parte significativa da elite política apoiaram o regime, que se autodenominava Estado Novo.

No dia do golpe, 10 de novembro de 1937, foi outorgada uma Constituição elaborada previamente para legitimar o govêrno autoritário de Vargas. Isso significa que a instituição do Estado Novo vinha sendo preparada havia algum tempo. Em seu discurso, Vargas dizia que tinha a missão de instaurar uma nova época na política brasileira.

Você já leu algo parecido com esse discurso e essas características neste livro, não é? Ele foi inspirado no nazifascismo europeu. A Constituição de 1937, redigida pelo jurista autoritário Francisco Campos, foi inspirada na Carta del Lavoro italiana, sobretudo na parte que trata da organização corporativa das relações de trabalho, e na Constituição Polonesa – por isso, recebeu o apelido de Polaca.

Houve, porém, certa distância entre o govêrno autoritário de Vargas e as experiências realizadas na Itália e na Alemanha, de modo que muitos historiadores classificam o Estado Novo como um regime autoritário, mas não totalitário. Não havia, por exemplo, um culto exagerado à personalidade do líder vinculado a um partido político específico tão evidente como nos regimes fascista e nazista. Em vez disso, a política continuou sendo feita regionalmente pelos interventores, que se mantiveram fiéis a Vargas e aos princípios da centralização política.

Fotografia em preto e branco. No centro da imagem, uma mulher de saia comprida e reta, casaco e chapéu claros, coloca uma bandeira dentro de um recipiente alto. Ao redor, diversos homens vestidos socialmente observam a cena.
Cerimônia de queima das bandeiras estaduais na cidade do Rio de Janeiro, então séde do govêrno federal. Foto de 1937.
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Para construir a ideia de unidade nacional, semanas após o golpe, Vargas promoveu uma cerimônia cívica em que as bandeiras dos estados brasileiros foram queimadas, pois a nova Constituição só previa o uso da bandeira nacional. Estavam presentes na cerimônia ministros de Estado, diplomatas, imprensa, autoridades civis e militares. Após uma missa campal, a queima das bandeiras foi feita ao som do hino nacional, tocado por diversas bandas e cantado por milhares de estudantes, regidos pelo maestro Heitor Villa-Lobos. No mastro onde estavam as bandeiras estaduais, foram hasteadas 22 bandeiras do Brasil.

Dica

SÉRIE

Propaganda e repressão: Rio de Janeiro, 1942

Direção: Arthur Fontes. Brasil, 2010. Duração: 26 minutos.

Misto de ficção e documentário, o episódio Propaganda e repressão, da série Histórias do Brasil, é composto da dramatização de uma conversa entre jornalistas durante o período Vargas mesclada com o depoimento, verídico, de especialistas no assunto, como as historiadoras Ângela de Castro Gomes e Marieta de Moraes Ferreira.

Política, propaganda e repressão

Assim como outros regimes ditatoriais, o Estado Novo era autoritário. Não havia espaço oficial para a organização e a representação autônoma de indivíduos ou grupos. A Lei de Segurança Nacional, que já havia sido empregada na repressão aos comunistas e à á êne éle, continuou a ser usada como instrumento de repressão política.

Essa lei de 1935 foi acionada na tentativa de golpe integralista, em maio de 1938, e contra as comunidades alemã, italiana e japonesa, impedidas de usar seus idiomas e símbolos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – que você estudará no capítulo 6 –, pois Vargas apoiou os Aliados no conflito após 1942.

Além da Lei de Segurança Nacional, o Estado Novo contava com outros mecanismos repressivos que já haviam sido instalados nos governos provisório e constitucional. Em 1933, por exemplo, foi criada a Delegacia Especial de Segurança Política e Social () para perseguir adversários do govêrno e, em 1936, instituído o Tribunal de Segurança Nacional. Esse tribunal era subordinado à justiça militar e tinha a atribuição de julgar sumariamente os adversários políticos do regime.

O govêrno também procurou obter a legitimação do Estado Novo por meio da propaganda política, intensificada com a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp), em 1939. O Díp exerceu a censura prévia à imprensa e alimentou os jornais com farto material de propaganda centrada na figura de Vargas e nas realizações do govêrno. Com a propaganda política e ideológica realizada pelo Díp, o govêrno buscava consolidar a imagem de Vargas como um líder carismático.

Gravura. No canto esquerdo da ilustração, homem de cabelo curto e escuro, vestindo terno e gravata, está com uma das mãos à frente do corpo. É observado por vários jovens com bandeiras do Brasil. No canto inferior esquerdo há a reprodução da página de uma carta manuscrita.
Gravura que integra a cartilha A juventude no Estado Novo, publicada pelo Díp entre 1937 e 1945, com ilustrações e trechos de discursos de Getúlio Vargas.
Fotografia em preto e branco. Mulher de rosto oval. Tem olhos claros e sobrancelhas finas. O cabelo está dividido ao meio e arrumado para trás.
Última foto de Olga Benário, militante comunista alemã de origem judaica, deportada pelo govêrno Vargas em 1936 e morta no campo de extermínio de Bernburg, na Alemanha, em 1942. A foto foi tirada na Gestapo (polícia secreta oficial da Alemanha Nazista).
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Olga Benário chegou ao Brasil em 1934, acompanhando Luís Carlos Prestes. A função de Olga era proteger o presidente da á êne éle e auxiliá-lo na organização de uma revolução armada no Brasil.

Pouco tempo depois de chegarem ao Brasil, Olga e Prestes iniciaram um romance. Em 1935, com a repressão aos levantes comunistas no país, os dois passaram a viver na clandestinidade. Acabaram presos em 1936, ano em que Olga foi deportada pelo govêrno Vargas para a Alemanha nazista. Olga estava grávida e teve sua filha, Anita, na prisão. Foi executada em 23 de abril de 1942, em uma câmara de gás.

A era do rádio

Além da mídia impressa, o rádio cumpriu um importante papel na construção da popularidade do govêrno Vargas. Desde 1938, as rádios transmitiam o programa Hora do Brasil, no qual eram divulgadas as realizações do govêrno, as celebrações cívicas, a música brasileira considerada boa pelo govêrno e a cultura popular regional.

Entre 1942 e 1945, acompanhando a estratégia de consolidação das leis trabalhistas, o ministro do Trabalho utilizou o programa para transmitir palestras dirigidas aos trabalhadores. A emissora radiofônica mais importante da época – a Rádio Nacional – foi apropriada pelo govêrno em 1940. Seus principais sucessos eram as telenovelas e os programas de auditório com vários cantores e cantoras populares.

A difusão de ritmos e sonoridades típicos da música de cada região do país por essa rádio contribuiu para unificar culturalmente o Brasil. O samba carioca se tornou um dos ritmos mais difundidos.

Em 1940, no Brasil, os índices de alfabetização e letramento eram muito baixos: apenas 41% dos homens e 32% das mulheres eram alfabetizados. Por isso, o rádio tornou-se o centro da indústria cultural nascente e peça-chave da política cultural do Estado Novo.

Fotografia em preto e branco. Rapaz de cabelos curtos, testa larga, olhos alongados e queixo oval. Veste terno e gravata.
Angenor de Oliveira, músico e compositor brasileiro, mais conhecido como Cartola. Foto da primeira metade do século vinte.
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As manifestações populares escolhidas como representativas da brasilidade (tudo que fosse considerado autenticamente brasileiro ou que supostamente manifestasse amor pelo Brasil) estavam associadas à cultura urbana e negra. No início dos anos 1940, compositores como Cartola se destacaram no cenário musical brasileiro.

Fotomontagem. 1. Carmen Miranda, mulher sorridente, com os braços abertos. Veste uma longa saia e um top brilhantes. Usa um adereço brilhante na cabeça.
2. Fotografia em preto e branco de um desfile de carnaval. Pessoas de chapéu aglomeradas ao redor de um dirigível, no qual está escrito GRAF ZEPPELIN.
3. Fotografia em preto branco. Senhor de cabelos grisalhos penteados para trás. Usa óculos e veste um roupão. Segura um lenço no rosto.
Fotomontagem com imagens de Carmen Miranda em 1940, de desfile do Carnaval carioca na década de 1930 e de Ary Barroso em 1963.
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Quem era o brasileiro? Que características definiam o Brasil como país? Essas duas perguntas estiveram no centro de um processo de valorização e ressignificação da cultura popular nas décadas de 1930 e 1940. Seguindo a lógica do Estado Novo, o sentido da nacionalidade poderia ser expresso pela música e outros produtos culturais.

Uma dessas expressões era o Carnaval do Rio de Janeiro, que passou a ser apoiado e disciplinado pelo Estado. No final dos anos 1930, os desfiles de escolas de samba tiveram de se submeter à obrigatoriedade de temáticas nacionais. Tendência semelhante se observou nas músicas chamadas sambas-exaltação, caracterizadas pela glorificação das belezas naturais e da cultura brasileira, como a canção Aquarela do Brasil, de Arí Barroso.

A questão do trabalho na Era Vargas

No período em que esteve no poder, Vargas combinou a política centralizadora e repressora com a ampliação da regulamentação dos hoje chamados direitos sociaisglossário . Fazendo uso de uma lógica paternalista, articulou o autoritarismo com a criação de políticas de proteção aos trabalhadores. Dessa fórma, desenvolveu-se o mito de Vargas como pai dos pobres e protetor dos trabalhadores.

É importante destacar o fato de que a cooptaçãoglossário do mundo do trabalho por Vargas foi característica de seu govêrno desde os anos iniciais. Em 1930, ainda durante o govêrno provisório, foi fundado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio para exercer a mediação entre patrões e empregados. Em 1931, a Lei de Sindicalização estabeleceu o modelo corporativo a ser adotado por sindicatos patronais e de trabalhadores, que se tornaram órgãos de colaboração com o Estado. Com essas medidas, o govêrno buscava, ao mesmo tempo, garantir direitos sociais básicos e controlar as associações dos trabalhadores.

No Estado Novo, a regulamentação do trabalho se intensificou. O salário mínimo já era previsto na Constituição de 1934, mas só foi instituído em 1o de maio de 1940. A Justiça do Trabalho, responsável por julgar os conflitos entre trabalhadores e patrões, também já era prevista na Constituição anterior, mas foi organizada somente em 1941.

Em 1943, foi decretada a Consolidação das Leis do Trabalho (cê éle tê), conjunto de leis que sistematizou a legislação trabalhista do período e acrescentou outras regulamentações e direitos, garantindo aos trabalhadores limitação da jornada de trabalho, pagamento de horas extras, descanso e férias remuneradas, licença-maternidade, condições mínimas de higiene e segurança, entre outros direitos.

Fotografia em preto e branco. Multidão nas arquibancadas de um estádio. No centro dele, um grupo desfila com bandeiras e a imagem de Getúlio Vargas.
Comemoração do 1º de maio durante o govêrno Vargas, no estádio Vasco da Gama (São Januário), na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 1942.
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Durante o govêrno de Vargas, o 1º de maio, Dia do Trabalhador, foi transformado em uma espécie de festividade, com cerimônias no estádio Vasco da Gama nas quais o presidente anunciava a aprovação de leis trabalhistas, dando a entender que eram uma dádiva do governo e reforçando sua identificação com o povo.

Versões em diálogo

Entre as manifestações culturais ocorridas durante o Estado Novo, a música foi a mais utilizada pelo govêrno. Para o regime varguista, a música popular tinha o potencial de converter os considerados malandros em trabalhadores. Dessa fórma, o Díp incentivou os compositores a produzir letras que exaltassem o trabalho e a figura do trabalhador.

Leia a seguir letras de canções compostas por Uílson Batista, músico brasileiro bastante atuante nas décadas de 1930 e 1940, e o trecho de um texto escrito pelo historiador Adalberto de Paula Paranhos. Depois, faça as atividades.

TEXTO 1

reticências Lenço no pescoço reticências

Eu passo gingando


Provoco e desafio

Eu tenho orgulho

Em ser tão vadio.


Sei que eles falam

Deste meu proceder

Eu vejo quem trabalha

Andar no miserê reticências.”

LENÇO no pescoço. Intérprete: Sílvio Caldas. Compositor: Uílson Batista. In: Lenço no pescoço. Intérprete: Sílvio Caldas. [sem local], érre cê á Victor Brasileira,1933. 1 disco 78 érre pê ême, faixa 2.

TEXTO 2

“Quem trabalha é quem tem razão

Eu digo e não tenho medo de errar


O bonde São Januário

Leva mais um operário:

Sou eu que vou trabalhar.


Antigamente eu não tinha juízo

Mas resolvi garantir meu futuro

Veja você, sou feliz, vivo muito bem

A boemia não dá camisa a ninguém reticências.”

O BONDE de São Januário. Intérprete: Ciro Monteiro. Compositores: Uílson Batista e Ataulfo Alves. In: O bonde de São Januário. Intérprete: Ciro Monteiro. [sem local], érre cê á Victor Brasileira,1940. 1 disco 78 érre pê ême, faixa 1.

Fotomontagem. 1. Ilustração de notas musicais. 2. Fotografia em preto e branco de um casarão com muitas janelas. 3. Fotografia em preto e branco de um bonde cheio, com pessoas penduradas para fora. Na frente do bonde, a inscrição SÃO JANUÁRIO. 4. Fotografia em preto e branco de Getúlio Vargas, senhor de cabelo curto penteado para trás. Tem a testa larga, queixo oval e usa óculos. Usa terno escuro e gravata.
Ilustração atual representando a relação entre a música e o Estado Novo. Na imagem, Getúlio Vargas e o bonde de São Januário na década de 1940.

TEXTO 3

reticências Vale relembrar, de passagem, o episódio sobre a composição Lenço no pescoço de 1933, cantada malandramente por Sílvio Caldas. Seu autor, reticências Uílson Batista, dava os primeiros passos como compositor, ele que seria aclamado como dos mais destacados personagens da história do samba. Uílson, reticências nada íntimo do mundo do trabalho, se referia nesse samba a um determinado tipo de malandro, em tom de glorificação reticências.

A reação foi imediata. Orestes Barbosa, na sua pioneira coluna de rádio no jornal A Hora, estrilouglossário : ‘num momento em que se faz a higiene poética do samba, a nova produção de Sílvio Caldas, pregando o crime por música, não tem perdão’. E tanto não teve perdão entre os guardiões dos bons costumes que a comissão de censura da Confederação Brasileira de Radiodifusão vetou sua irradiação.

PARANHOS, A. de P. Os desafinados: sambas e bambas no “Estado Novo”. 2005. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2005. página 90-91.

Fotomontagem.
1. Ilustração de notas musicais. 
2. Fotografia em preto e branco. Três homens de terno e gravata reunidos. Um deles está com uma das pernas levantadas e um violão apoiado sobre ela. Outro segura um microfone.
3. Tambor com amarração de cordas.
4. Cavaquinho.
5. Fotografia em preto e branco. Homem sorridente. Tem o cabelo curto e olhos arregalados. O bigode é fino. Usa camisa clara com listras verticais.
6. Fotografia em preto e branco. Casarão com janelas em arco.
7. Pandeiro.
Ilustração atual representando a relação entre a música e o Estado Novo. Nas fotos, Sílvio Caldas, acompanhado de outros músicos em 1957, e Uílson Batista, em 1968.

Responda no caderno.

  1. Compare as duas letras de canção, apontando as ideias exaltadas em cada uma delas.
  2. Com base no texto escrito pelo historiador Adalberto de Paula Paranhos, indique um motivo utilizado na época para censurar a letra da canção ”Lenço no pescoço”.
  3. Explique como a imagem do trabalhador proposta na letra do samba “O bonde São Januário” dialoga com a política cultural do govêrno de Getúlio Vargas.

Industrialização e intervenção estatal

Do ponto de vista econômico, no período em que Getúlio Vargas se manteve no poder houve muita intervenção do Estado na economia. Algumas instituições foram criadas com o intuito de regular e fomentar a produção de setores considerados fundamentais. O passo mais importante foi dado no impulso rumo à industrialização.

O investimento nas chamadas indústrias de base, ou seja, aquelas que fornecem matérias-primas para outros setores, tornou-se característica fundamental desse govêrno. Durante o Estado Novo, foram fundadas as estatais Companhia Siderúrgica Nacional (cê ésse êne), em 1941, e a Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.

As duas empresas integraram o esforço de guerra brasileiro, uma vez que o país juntou-se aos Aliados e lutou na Segunda Guerra Mundial. A criação da cê ésse êne foi parte do jôgo diplomático no qual o govêrno brasileiro, apesar de sua simpatia pela Alemanha nazista, alinhou-se aos Estados Unidos, expondo a importância da política internacional e da diplomacia para o desenvolvimento econômico.

Fotografia aérea. Vista de indústria com muitas chaminés em área aberta. No primeiro plano, guindastes e montantes de elementos, provavelmente, minerais. Ao fundo, cidade e vegetação.
cê ésse êne, em Volta Redonda Rio de Janeiro. Foto de 2020.
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A primeira siderúrgica moderna brasileira foi a Companhia Siderúrgica Mineira, inaugurada em Sabará, em 1917. Algumas outras foram instaladas no país entre os anos 1920 e 1930, mas foi somente na década de 1940 que o setor siderúrgico nacional se expandiu, com a construção da cê ésse êne, financiada, em parte, pelos Estados Unidos.

O contexto da Segunda Guerra Mundial favoreceu os planos do govêrno ditatorial de promover a industrialização. Naquela época, além das razões econômicas, industrializar-se era um imperativo para a segurança nacional; por isso, os militares apoiaram e ajudaram a planejar as condições para a instalação da cê ésse êne e de outras indústrias de base. Após sua inauguração, a cê ésse êne se tornou a maior siderúrgica da América Latina.

A guerra expõe as controvérsias do Estado Novo

O contexto da Segunda Guerra Mundial e o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos revelou uma importante contradição: como poderia um govêrno autoritário, avesso às eleições democráticas, estar do lado das democracias no combate ao nazifascismo? Como um govêrno nacionalista e autoritário, cujas instituições eram inspiradas no fascismo italiano, poderia lutar contra esse tipo de política?

Esses questionamentos ganharam impulso com a preparação e o envio da fôrça Expedicionária Brasileira (féb) à Itália, em 1944, para se juntar aos Aliados na ocupação daquele território. Embora não muito numerosa, a mobilização de aproximadamente 25 mil homens foi significativa.

A sociedade civil questionava o autoritarismo e a ditadura brasileira mesmo antes de o país se juntar aos Aliados na guerra. Manifestações estudantis de apôio aos Aliados foram realizadas em 1942.

Fotografia em sépia. Quatro homens em um carro sem capota. Ao volante, um rapaz de quepe escuro. Ao seu lado, de terno claro e gravata escura, Franklin Roosevelt, homem de rosto comprido. Está com a cabeça inclinada para trás. Usa um chapéu claro. No banco de trás, um militar de uniforme e quepe brancos. Ao seu lado, Getúlio Vargas, de terno e chapéu claros e gravata escura. Todos estão rindo. Ao redor, outros homens de uniforme militar, observam a cena.
Getúlio Vargas (sentado no banco de trás do veículo) e o presidente estadunidense Frânclin Delano Rúsvelt (sentado à frente dele no carro) durante encontro em Natal Rio Grande do Norte, cidade onde, durante a Segunda Guerra Mundial, foi instalada uma base aérea dos Estados Unidos. Foto de 1943.

No ano seguinte, setores liberais da elite política, inclusive ex-apoiadores de Vargas, lançaram o que ficou conhecido como Manifesto dos Mineiros. No material, produzido e distribuído clandestinamente, eles defendiam a redemocratização do Brasil. Essa ação desencadeou outras manifestações semelhantes, como a declaração do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em 1945. Com a volta da féb e a vitória contra o nazifascismo, abria-se o caminho para a retomada da democracia no país. A questão era: como isso ocorreria?

Charge em preto e branco. Getúlio Vargas, homem de cabeça grande, cabelo penteado para trás. Tem a testa larga, nariz e queixo finos e pontiagudos. Anda para a esquerda com um livro sobre política internacional embaixo do braço. Atrás dele o personagem Juca Pato, homem careca de olhos arregalados. Usa óculos e um uniforme com uma faca na cinta. Carrega uma arma de cano longo no ombro.
O Brasil declarou guerra à Alemanha e Itália, charge de Belmonte publicada na Folha da Noite, em agosto de 1942.
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Na charge, Vargas é acompanhado pelo personagem Juca Pato, figura recorrente das charges de Belmonte. Representando “a voz do povo”, o personagem diz: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que eu vou!”. A fala sobre o envio de tropas para a guerra faz alusão ao processo da independência do Brasil, pois remete à frase que teria sido dita por dom Pedro primeiro no Dia do Fico.

O fim do Estado Novo

O debate sobre o fim da ditadura girou em torno da figura de Vargas. Para muitos, ele não deveria participar desse processo. Para outros, deveria ser um dos candidatos à eleição que encerraria o Estado Novo. Acabou prevalecendo a primeira vertente. Assim, com a crescente rejeição ao Estado Novo, o govêrno permitiu a reorganização partidária e convocou eleições para dezembro de 1945.

Com o prestígio alcançado pelas fôrças armadas na Segunda Guerra Mundial, dois candidatos militares concorreram à Presidência: o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Eurico Gaspar Dutra, então ministro da Guerra, apoiado por Getúlio Vargas.

Parte das oligarquias, dos liberais e dos ex-apoiadores do Estado Novo fundou a União Democrática Nacional . As oligarquias regionais, organizadas em torno dos interventores estaduais, fundaram o Partido Social Democrático (pê ésse dê). As lideranças trabalhistas integradas aos sindicatos corporativos, por sua vez, criaram o Partido Trabalhista Brasileiro (pê tê bê).

A u dê êne era francamente contrária a Getúlio Vargas e seu legado. Já o pê ésse dê e o pê tê bê seguiriam sustentando o legado varguista. Além desses, o Partido Comunista Brasileiro (pê cê bê), liderado por Luís Carlos Prestes, um dos presos políticos do Estado Novo, que foi anistiadoglossário em abril de 1945, acabaria por apoiar as pretensões de Vargas de continuar no poder.

Havia diversas fôrças políticas em torno de Vargas, mas foi o movimento popular que lhe garantiu apôio. De certa fórma, as medidas de proteção ao trabalho consolidadas na cê éle tê e a propaganda que estabelecia a conexão entre Getúlio Vargas e os grupos populares deram certo. Com o lema “Queremos Getúlio!”, a partir de maio de 1945, grupos populares organizados saíam às ruas exigindo a permanência do “pai dos pobres”. O queremismo, como ficou conhecido esse movimento, contou com o apôio de Prestes e dos comunistas.

Charge em preto e branco. Três bustos de Getúlio Vargas com a indicação de três anos diferentes.
À esquerda, busto de Vargas com o cabelo penteado de lado, óculos e um bigode pequeno e curto. Está com o braço direito levantado e a mão estendida, espalmada para baixo. Veste terno e gravata. Embaixo do busto, a inscrição: 1937: Führer Getúlio von Vargas.
No centro, busto de vargas com pouco cabelo, penteado para trás, sorridente, de óculos. O braço direito está parcialmente levantado, com o punho cerrado. Embaixo, a inscrição: 1941: Cidadão Getúlio Delano Vargas.
À direita, busto de Vargas de cabelos escuros, penteados para trás. Usa óculos e tem um grande bigode escuro. Está com o braço esquerdo levantado e o punho cerrado. Embaixo, a inscrição: 1945: Camarada Getúlio Vargasvitch.
Charge publicada no Jornal do Commercio, em meados do século vinte.
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A charge ironiza as diferentes facetas adotadas por Vargas conforme a conveniência política do momento. Na primeira ilustração, está apontada a simpatia dele pelo nazifascismo na década de 1930; na segunda, é representada sua aproximação aos Aliados após alianças com os Estados Unidos na década de 1940; na terceira, ele é caracterizado como um comunista em razão do apôio que recebeu do pê cê bê nas eleições de 1945.

Quando um ex-tenente e antigo interventor varguista no estado de São Paulo, João Alberto Lins de Barros, então chefe da polícia do Rio de Janeiro, proibiu um comício queremista, Vargas o substituiu por seu irmão Benjamin Vargas. Comandantes militares, então, usaram o episódio para forçar a renúncia do presidente, deposto em outubro de 1945. O Estado Novo acabava pela mão dos militares, que, em 1937, haviam ajudado a implantar o regime.

As mudanças ocorridas entre 1930 e 1945 foram duradouras. A centralização política, a aceleração da industrialização e da urbanização do Brasil, a presença relevante de grupos populares na política nacional, principalmente de trabalhadores, e o papel crescente dos militares na vida política perdurariam por muito tempo no país.

Fotografia em preto e branco. Homens aglomerados em uma manifestação. Carregam cartazes com os dizeres: NÓS QUEREMOS GETÚLIO COM OU SEM CONSTITUINTE. SALVE PRESIDENTE VARGAS e OS OPERÁRIOS QUEREM GETÚLIO, entre outras inscrições.
Manifestação queremista no Palácio da Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro. Foto de 20 de agosto de 1945.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Defina o Díp e sua importância para o govêrno de Getúlio Vargas.
  2. Como a legislação trabalhista foi empregada para legitimar o govêrno do Estado Novo e a figura de Getúlio Vargas?
  3. Explique o fim do Estado Novo e sua relação com a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial.

Dica

SITE

éfe gê vê cê pê dóc

Disponível em: https://oeds.link/1tkt3m. Acesso em: 11 abril 2022.

No site do acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (cê pê dóc), da Fundação Getulio Vargas (éfe gê vê), além de documentos como entrevistas, manuscritos e fotografias, você encontrará diversos verbetes com explicações sobre processos abordados neste capítulo. Eles podem servir de complemento a seus estudos.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. (enêm-Méqui – adaptado)

“O marco inicial das discussões parlamentares em torno do direito do voto feminino são os debates que antecederam a Constituição de 1824, que não trazia qualquer impedimento ao exercício dos direitos políticos por mulheres, mas, por outro lado, também não era explicitada quanto à possibilidade desse exercício. Foi somente em 1932, dois anos antes de estabelecido o voto aos 18 anos, que as mulheres obtiveram o direito de votar, o que veio a se concretizar no ano seguinte. Isso ocorreu a partir da aprovação do Código Eleitoral de 1932.”

Disponível em: https://oeds.link/yjctS1. Acesso em: 14 maio 2018.

Copie no caderno a alternativa correta. Um dos fatores que contribuíram para a efetivação da medida mencionada no texto foi a
  1. Superação da cultura patriarcal.
  2. Influência de igrejas protestantes.
  3. Pressão do govêrno revolucionário.
  4. Fragilidade das oligarquias regionais.
  5. Campanha de extensão da cidadania.
  1. Analise as proposições que se referem ao período conhecido como Era Vargas. Depois, no caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. As leis trabalhistas, sistematizadas na cê éle tê durante o Estado Novo, não foram utilizadas pelo govêrno para legitimar a liderança de Getúlio Vargas como chefe da nação e protetor dos trabalhadores.
    2. O voto feminino no Brasil pode ser entendido como um benefício do Estado Novo, pois, antes de 1932, apesar de não serem formalmente proibidas, na prática, as mulheres eram impedidas de participar das eleições.
    3. Durante o govêrno constitucional de Vargas, diversos agrupamentos políticos se confrontaram no Brasil. Destacaram-se a á êne éle, que congregava setores políticos de esquerda, especialmente comunistas, e a á í bê , inspirada no nazifascismo.
    4. Assim que chegou ao poder, com a chamada Revolução de 1930, Getúlio Vargas adotou uma série de medidas centralizadoras com o objetivo de conter as oligarquias dissidentes. Entre as medidas adotadas, estavam a suspensão da Constituição e a nomeação de interventores para governar os diversos estados do Brasil.
    5. A Revolução Constitucionalista de 1932 pode ser considerada uma guerra civil, que envolveu as fôrças rebeldes de São Paulo contra o govêrno Vargas. Apesar de derrotados, os paulistas conseguiram pressionar o govêrno para a realização de uma reivindicação do movimento: a elaboração de uma nova Constituição, o que ocorreu em 1934.

Aprofundando

3. Entre o final dos anos 1930 e o início dos anos 1940, a censura foi elemento central da política adotada por Getúlio Vargas no Brasil. Sobre esse tema, leia atentamente o texto a seguir e, depois, junte-se a alguns colegas para debater as questões propostas.

A Constituição de 1937 regulamenta a censura à imprensa, reticências exercida pelo Estado por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp) reticências. Através de suas sucursais, os Departamentos de Imprensa e Propaganda (Dêipis), o Díp controlava a imprensa e emitia listas de assuntos proibidos.

Normalmente havia um censor em cada jornal reticências. O Díp e os Dêipis distribuíam material de propaganda do governo reticências. Outra atribuição desses órgãos era subornar jornalistas e os próprios donos de jornais. Durante a ditadura, muitos enriqueceram ilicitamente e os que se recusaram a colaborar tiveram seus meios de comunicação reticências fechados ou colocados sob a tutela do Díp.

LOPES, D. F. Contra o arbítrio, pela liberdade. Jornal da úspi, São Paulo, ano vinte e três, número 831, 2-6 junho 2008.

a. Por que governos autoritários e ditatoriais procuram censurar e controlar a produção e a difusão de informações?

  1. De que maneira a censura do Estado Novo afetou a imprensa?
  2. O que a Constituição Federal de 1988 determina sobre a liberdade de imprensa?
  3. Quais são os perigos da censura para a sociedade democrática?
  4. Qual deve ser a postura do cidadão diante das informações às quais tem acesso?

4. Durante a Era Vargas foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública. Uma das iniciativas mais importantes desse órgão foi a criação, em 1937, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Isfân), que instituiu a política do patrimônio histórico, iniciando o tombamentoglossário de uma série de bens culturais e artísticos em todo o Brasil. Sobre o tema, faça as atividades propostas.

  1. Reúna-se com os demais colegas em círculo para debater as seguintes questões:
    • Que bens patrimoniais existem no município em que moram?
    • Esses bens recebem o devido reconhecimento?
    • Quais desses bens vocês gostariam de visitar?
  1. Agora, vocês vão realizar uma atividade de campo: a visita a um dos bens patrimoniais mencionados no item anterior. Durante a visita, anote suas observações para produzir um relatório, que deve conter respostas às seguintes questões:
    • Qual é a relação da comunidade com esse bem?
    • Qual é o estado de preservação desse bem?
    • Esse bem é reconhecido oficialmente (tombado, registrado)? Caso seja, como foi o processo de reconhecimento desse bem? Caso não seja, por que ele deveria ser reconhecido?
    • O que poderia ser feito para divulgar esse patrimônio?
  1. Neste capítulo, você estudou o racismo como elemento estrutural da sociedade brasileira e as estratégias da Frente Negra Brasileira para combatê-lo. A fim de conhecer e documentar a luta antirracista na atualidade, junte-se a alguns colegas para produzir uma videorreportagem sobre os coletivos e as entidades da região onde vocês vivem que promovem a valorização dos grupos negros e lutam pela igualdade de direitos. Para isso, baseiem-se no roteiro a seguir.
    • Estudo de roteiro: analisem em casa diversas videorreportagens (como matérias veiculadas em telejornais ou em plataformas de compartilhamento de vídeos na internet) para identificar os padrões (ou seja, o que elas têm em comum). Analisem a estrutura das videorreportagens, verificando, por exemplo, a existência de vinhetas, a fórma de apresentação, o uso das imagens e da locução, entre outras características. Façam anotações, excluindo, posteriormente, as informações que não forem comuns a todas as reportagens.
    • Produção do roteiro: escrevam um roteiro que possa servir de base para qualquer videorreportagem. Para isso, produzam uma ficha na qual devem constar os padrões que vocês anotaram na etapa anterior, como: cumprimentar o espectador, iniciar o tema da reportagem, apresentar uma entrevista etcétera. Organizem esses padr ões em fórma de instruções numeradas e precisas.
    • Divisão de tarefas: dividam o projeto em tarefas menores, de mais fácil resolução; por exemplo: pesquisar os coletivos e entidades negras da região, definir o público-alvo, selecionar entrevistados, editar o vídeo etcétera.
    • Produção e apresentação da reportagem: utilizem o roteiro-padrão para produzir a videorreportagem com os resultados das pesquisas sobre os grupos e coletivos negros da região.

Glossário

Interventor
: indivíduo nomeado pelo chefe do Poder Executivo para assumir provisoriamente o governo estadual.
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Dissidente
: que se posiciona de fórma contrária a determinada opinião ou situação.
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Apear
: descer de um animal de montaria.
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Patronal
: relacionado aos proprietários de negócios. Um sindicato patronal representa, portanto, os empregadores.
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Marcial
: relativo a guerra.
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Sigma
: letra grega empregada nesse contexto para simbolizar a soma dos membros em uma unidade cujo lema era “Deus, pátria e família”.
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Embuste
: mentira; tentativa planejada de enganar alguém.
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Direitos sociais
: direitos básicos que devem ser garantidos a todas as pessoas, como o de acesso à saúde, à alimentação, à educação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, entre outros, de acordo com a Constituição de 1988.
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Cooptação
: ato de agregar, atrair, associar.
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Estrilar
: bradar, esbravejar.
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Anistiado
: que recebeu anistia, ou seja, teve condenações e perseguições políticas anuladas pelo poder público.
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Tombamento
: processo por meio do qual bens de interesse público (histórico, arqueológico, artístico, etnográfico etcétera) são colocados sob a guarda do govêrno para que sejam conservados e protegidos.
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