UNIDADE 1 O MUNDO NA PASSAGEM DO SÉCULO dezenove PARA O vinte

A história e você: segurança em primeiro lugar

Nesta unidade, você estudará a Primeira Guerra Mundial, o início do governo republicano no Brasil e as revoluções mexicana e russa. Esse período, compreendido entre as últimas décadas do século dezenove e o início do século vinte, foi marcado por muita euforia.

As inovações tecnológicas que então se difundiam, como a luz elétrica, o cinema, o telefone e o automóvel, transformaram o cotidiano dos centros urbanos. Diante de tantas novidades, parte da população mundial passou a ter uma crença inabalável no progresso, como se a humanidade caminhasse cada vez mais rápido em direção a um futuro melhor. Por isso, essas décadas ficaram conhecidas como Belle Époque (termo francês que significa “Bela Época”). Ao longo da unidade, porém, você perceberá que o futuro esperado não foi assim tão promissor e que o progresso não chegou para todos da mesma fórma.

Uma das novidades que mais afetaram a vida das pessoas foi o veículo motorizado. O automóvel, que era muito caro, tornou-se símbolo de státus social elevado e também de poder, pois quem dirigia um se impunha sobre as pessoas que transitavam a pé.

Com o passar do tempo, o automóvel ficou mais acessível e o aumento da frota trouxe alguns efeitos negativos para as grandes cidades, como poluição sonora e do ar, congestionamentos e acidentes de trânsito – muitos deles fatais.

Hoje, as consequências do tráfego de veículos motorizados podem ser percebidas não apenas nas grandes vias de circulação, mas também nas periferias das grandes cidades e em localidades menores.

Fotografia em preto e branco. Avenida Rio Branco, larga e extensa com grandes edifícios e árvores. No meio dela alguns veículos e pessoas.
Avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro. Foto da década de 1910.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No início do século vinte, apesar de haver poucos carros no Rio de Janeiro, a então capital do Brasil passou por uma reforma urbana para adequá-la à circulação de automóveis, com a abertura de largas avenidas que a deixassem parecida com as cidades da Europa.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A proposta de produção de um projeto de intervenção urbana visando à melhoria da locomoção das pessoas incentiva o protagonismo e a autoria dos estudantes na vida coletiva, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 4, nº 5 e nº 7, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2, nº 3 e nº 6 e da Competência Específica de História nº 1.

Temas Contemporâneos Transversais

Ao tratar dos meios de transporte utilizados no cotidiano e propor intervenções para a melhoria da mobilidade urbana, do ambiente e do bem-estar coletivo, a atividade da abertura contribui para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Educação para o trânsito, Educação ambiental e Saúde.

Interdisciplinaridade

Na medida em que incentiva a proposição de soluções para resolver problemas ambientais e da comunidade, a atividade contribui para o desenvolvimento da habilidade de Ciências ê éfe zero nove cê ih um três – ”Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.”

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 1 (“A Primeira Guerra Mundial”), 2 (“A Primeira República no Brasil”) e 3 (“México e Rússia no início do século vinte”) do volume.

O tema escolhido para a atividade de abertura foi a mobilidade urbana. Ela se relaciona com a valorização do progresso e das máquinas durante a Belle Époque, tema tratado no capítulo 1, e com as reformas urbanas do Rio de Janeiro, tratadas no capítulo 2, as quais priorizaram os automóveis no lugar das pessoas. A atividade incentiva reflexões sobre o modelo de mobilidade urbana das grandes cidades, criado no século vinte e cada vez mais criticado.

Como a maioria das pessoas se locomove no município onde você mora? Existem meios de transporte coletivos? Se existem, são de boa qualidade e seguros? As pessoas são incentivadas a usá-los?

A fim de compreender os modos como as pessoas se deslocam no município em que moram e contribuir para melhorá-los, você e os colegas produzirão um mural artístico sobre esse tema. Para isso, verifique as etapas a seguir.

Organizar

  • Reúna-se em grupo com quatro colegas.
  • Escolham um local da região em que moram onde haja muita circulação de veículos motorizados.
  • Procurem na internet ou em jornais impressos fotografias, com diferentes perspectivas (vertical, frontal, lateral etcétera.), do local escolhido. Copiem, salvem ou imprimam as imagens.
  • Se possível, visitem o local escolhido e identifiquem as dificuldades enfrentadas pelas pessoas ao circular por lá a pé, de transporte público ou de carro.
  • Discutam esta questão: que mudanças na infraestrutura do local contribuiriam para torná-lo mais acessível e seguro para as pessoas?

Produzir

  • No computador, usando um programa de edição, façam alterações nas fotografias selecionadas inserindo elementos que poderiam melhorar o deslocamento das pessoas e até de animais no local (como placas de sinalização, cobertura de pontos de ônibus, aumento no número de barcos para transporte, instalação de cercas ou barreiras nas margens das pistas das rodovias ou passagens subterrâneas para os animais etcétera). Vocês também podem recriar as fotografias por meio de desenhos.
  • Produzam um ou mais cartazes com essas imagens, acompanhadas de uma lista dos benefícios decorrentes das intervenções propostas.

Compartilhar

  • Criem um grande mural com os projetos de todos os grupos e exponham o resultado em um local visível da escola.
  • No centro do mural, insiram um mapa do município ou da região em que moram, com a localização de todas as intervenções propostas.
Ilustrações atuais representando diferentes meios de transporte: embarcação fluvial, veículos em avenida de uma cidade e tráfego em uma rodovia. Nas imagens estão representados equipamentos e sinalização de segurança nesses diferentes meios de transporte e vias.
Respostas e comentários

Atividade

Para iniciar a atividade, pergunte aos estudantes: “Quais meios de transporte vocês utilizam para vir à escola?”, “Se pudessem escolher, utilizariam outro?”. Aproveite as respostas para problematizar a hegemonia do automóvel como meio de transporte particular e o simbolismo que ele possui na sociedade contemporânea. Contraponha essa imagem aos prejuízos que provoca ao meio ambiente, à saúde humana e à mobilidade urbana.

Se considerar necessário, pré-selecione os locais que irão servir de objeto das intervenções, sugerindo-os para os grupos. Seria interessante que um desses locais fosse o entorno da escola.

Reserve uma aula para a leitura do texto de abertura e a proposição da primeira etapa (“Organizar”).

Feita a seleção dos locais pelos grupos, auxilie-os na pesquisa de imagens. Caso a cidade possua rios navegáveis, reforce a importância do transporte hidroviário, praticamente abandonado na maior parte das cidades no Brasil, com exceção da região Norte. Bicicletas, patinetes, bondes, ônibus, trólebus e metrô são alguns exemplos de transportes alternativos aos carros, mas exigem intervenções urbanas, como a construção de ciclovias, pontos e estações, a instalação de semáforos, trilhos e redes aéreas de distribuição de energia etc. O transporte a pé também exige, em muitos casos, adequações infraestruturais, como alargamento das calçadas, aumento do número de faixas de pedestres, rampas etcétera. Todas essas mudanças devem ser previstas pelos estudantes, que também devem considerar a acessibilidade a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

Se possível, fóra do horário de aula, organize uma caminhada pelos locais selecionados, apontando as dificuldades enfrentadas por pedestres e usuários de veículos não motorizados (falta de espaços adequados à sua circulação, problemas na sinalização, desrespeito por parte dos motoristas etcétera.). Organize a caminhada de modo que um responsável esteja à frente da turma e outro ao final, acompanhando o grupo, atentando-se para o respeito aos sinais de trânsito e a segurança do grupo. Problematize o entendimento do “trânsito” como a circulação de veículos motorizados, atentando para o fato de que existem muitas outras fórmas de deslocamento pela cidade.

Na segunda etapa (“Produzir”), a edição digital das fotografias pode ser feita na sala de informática, com o auxílio do professor responsável. Caso a escola não disponha desse recurso, os projetos de intervenção podem ser feitos manualmente, na fórma de desenhos, em sala de aula ou como tarefa de casa. Seja qual for a opção, reserve um tempo da aula seguinte para supervisionar e revisar os projetos, sugerindo-lhes mudanças se necessário. Dê especial atenção aos benefícios que a intervenção urbana sugerida pode proporcionar. Além dos ganhos ambientais e de mobilidade urbana, a redução da circulação de automóveis promove melhorias à saúde dos cidadãos, com a diminuição do estresse provocado pelo trânsito e o aumento da prática de atividade física, principalmente no caso dos transportes ativos, como a bicicleta e a caminhada. Ressalte também os ganhos sociais, tais como a diminuição dos acidentes de trânsito, o aumento da sensação de segurança e o surgimento de novas fórmas de sociabilidade.

Na terceira etapa (“Compartilhar”), não deixe de conversar com a turma sobre a realização da atividade. Discuta também o caminho que deve ser percorrido para que seus projetos sejam colocados em prática. 

CAPÍTULO 1  A Primeira Guerra Mundial

Quando imaginam uma guerra de grandes proporções, as pessoas podem pensar em imagens de soldados marchando, cidades em ruínas, líderes e governos tomando decisões enérgicas ou importantes...

Esses são elementos centrais de uma guerra, mas há outros que devem ser considerados, como a reação da população diante dos horrores do conflito e o apôio ou o boicote às decisões dos governantes. As imagens desta página foram produzidas para sensibilizar a população do Reino Unido durante uma guerra. Analise-as.

Cartaz. Homem vestindo terno sentado em uma poltrona com uma menina no colo. Ela segura um livro aberto. No chão um menino brinca com pequenos bonecos.
Cartaz elaborado em 1915 sob encomenda da Comissão Parlamentar de Recrutamento do Reino Unido.
Cartaz. Mulher de vestido preto e um casaco longo rosa por cima, está com um dos braços levantados. Usa um lenço nos cabelos na mesma cor do casaco. Ao fundo, outras mulheres e um militar na porta.
Cartaz elaborado em 1916 pelo Ministério de Munições britânico.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No cartaz de 1915 está escrita a seguinte pergunta: “Papai, o que VOCÊ fez na Grande Guerra?”. No de 1916, há duas inscrições: “Estas mulheres estão fazendo sua parte” (no alto do cartaz) e “Aprenda a fazer munições” (no canto inferior direito).

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que é representado nos cartazes?
  2. Que estratégias foram utilizadas para mobilizar a população em favor da guerra?
  3. Em sua opinião, ainda ocorrem mobilizações da população em favor de uma guerra ou conflito? Justifique.
Respostas e comentários

Abertura

Com base no cartaz de 1916, pode-se relacionar o tema da Grande Guerra ao da Segunda Revolução Industrial, explorado no capítulo 9 do volume do 8o ano desta coleção. Como apontado pelo historiador Nicolau SEVITCHENCO, a Primeira Guerra Mundial pode ser tomada como a apoteose bélica desse processo de industrialização.

Atividades

1. O cartaz de 1915 apresenta um homem sentado em uma poltrona (pai), com uma menina no colo e um menino a seus pés (filhos). Na parte de baixo do cartaz está escrita a pergunta “Papai, o que VOCÊ fez na Grande Guerra?”, que pode ser atribuída à garota. Na imagem de 1916, é representado um galpão de uma indústria de munições (sugerido ao fundo), com trabalhadoras. À porta do estabelecimento, há um soldado partindo para o campo de batalha. Em primeiro plano, uma trabalhadora veste uma capa de proteção para se engajar no esforço de produção de armamentos, incentivada pelas duas frases de ordem presentes no cartaz: “Essas mulheres estão fazendo a sua parte. Aprenda a fazer munições”.

2. Os cartazes incentivavam a participação civil na guerra. A ideia de que os acontecimentos ficariam registrados nos anais da história é fundamental para a interpretação do cartaz de 1915, direcionado aos homens, que prenuncia um período pós-guerra: ao questionar o pai sobre sua participação no conflito, os filhos tocam na questão da reputação do personagem. A pergunta não tem resposta, mas nota-se a expressão reflexiva do pai, provavelmente envergonhado por não ter se alistado na guerra. Já no cartaz de 1916, direcionado às mulheres, uma trabalhadora veste a capa de proteção para entrar na fábrica de munições. As frases inseridas em ambos os cartazes fazem parte de uma lógica do dever e destacam a importância da participação civil na guerra, mesmo fóra do campo de batalha.

3. As imagens demonstram que uma guerra não se trava apenas nos campos de batalha. Ela envolve também a produção de imagens e propagandas que convençam a população da importância do conflito. Enfatize para os estudantes que a distância temporal produziu muitas transformações, especialmente em relação à valorização da guerra, hoje compreendida por quase todos como algo ruim. Mesmo assim, ainda são produzidas propagandas com o objetivo de mobilizar os civis para ingressar ou apoiar uma guerra ou conflito.

A Europa antes da guerra

No dia 28 de julho de 1914, teve início a Primeira Guerra Mundial. Poucos dias depois, o escritor tcheco Frans Cáfica anotou em seu diário: “A Alemanha declarou guerra à Rússia – natação à tarde”. Ele não acrescentou análises nem comentários a esse importante evento. Como boa parte das pessoas da época, Cáfica apostava que a guerra declarada seria curta e teria pequenas proporções. Isso porque fazia quase um século que não havia um conflito envolvendo todas as grandes potências da Europa. Entre 1871 (ano em que acabou a Guerra Franco-Prussiana) e 1914, não houve nenhuma grave disputa armada.

Além disso, em razão das transformações geradas pela Segunda Revolução Industrial, havia no continente um clima de otimismo e esperança, sobretudo na ciência, na técnica e no progresso da civilização. Não por acaso, esse período ficou conhecido como Belle Époque.

Nos quatro anos que se seguiram, no entanto, a Primeira Guerra Mundial abalou todas as convicções dos europeus e pôs à prova um continente que se considerava o centro do mundo civilizado.

Cartaz. Ilustração da Torre Eiffel em destaque. Ao redor uma grande praça e alguns edifícios. No cartaz há algumas informações em francês.
Cartaz sobre a Exposição Universal realizada em Paris, França, em 1889.
Fotografia. Marie Curie, senhora de vestido escuro em um laboratório. Ela manuseia dois frascos de vidro. Ao seu lado, uma bancada com outros frascos e equipamentos.
A cientista franco-polonesa Marrí Kurrí em seu laboratório em Paris, França. Foto de 1925. Ela elaborou a teoria da radioatividade e foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel.
Pintura. Homens e mulheres reunidos em uma área arborizada. As mulheres usam vestidos longos e os homens roupa social e chapéu. À frente, um grupo está sentado, com copos sobre a mesa. Há luminárias entre as árvores.
O baile no moulin de la Galette, pintura de Piérr-Oguíste Renoar, 1876.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Bél lêpóc europeia foi marcada por mudanças nas fórmas de pensar e viver. Passeios públicos, jardins e cinemas estavam entre as atrações preferidas de uma cultura do divertimento, como mostrado na pintura de Renoar. As descobertas científicas (como a da radioatividade) e a aplicação de tecnologia ao ambiente urbano – com a instalação de linhas de bonde, trem e metrô e de energia elétrica – reforçaram a noção de superioridade do mundo industrializado propagada no período. Assim, muitos acreditavam que as conquistas dessa civilização branca, burguesa e afrancesada deveriam ser mostradas ao mundo. Para isso, organizaram-se as chamadas exposições universais, como a de Paris.

Respostas e comentários

Citação deFrans Cáfica foi retirada de: ANOTAÇÃO do diário de Cáfica de 2 de agosto de 1914. In: Cáfica, F. Diários. Lisboa: Relógio d’Água, 1990. página 332.

Objetivos do capítulo

Compreender as relações entre o nacionalismo, o imperialismo, a política de alianças e o início da Primeira Guerra Mundial na Europa.

Refletir sobre os perigos de um conflito em escala global como a Primeira Guerra Mundial.

Avaliar o impacto das tecnologias aplicadas à indústria bélica e seus efeitos devastadores no contexto da guerra.

Reconhecer a participação dos Estados Unidos na guerra e sua atuação para o desfecho do confronto.

Identificar os impactos da guerra sobre o continente africano e a participação de soldados africanos e asiáticos em batalhas na Europa, destacando eventos tradicionalmente menos abordados sobre a guerra.

Analisar os acordos de paz do pós-guerra e a reconfiguração política da Europa com o fim do confronto.

Justificativa

Os objetivos desse capítulo têm a importante função de sensibilizar os estudantes para os contextos e jogos de poder que caracterizaram a Primeira Guerra Mundial, destacando o papel central que a ciência, por meio da tecnologia bélica, exerceu para a difusão e o crescimento do conflito. Ao trabalhar os impactos da guerra sobre africanos e asiáticos, incentivam-se os procedimentos de identificação e contextualização, o que ocorre por meio da análise da importância desses soldados no conflito e a caracterização das práticas imperialistas sobre o continente africano. O trabalho com essas temáticas tem ainda o objetivo de incentivar o desenvolvimento de um conhecimento histórico plural, que atente à agência histórica de outros grupos humanos para além dos europeus.

É importante lembrar que nem todos viviam em um clima de euforia e bem-estar. Apesar dos esforços despendidos nas exposições universais, com o intuito de apresentar o desenvolvimento científico e tecnológico dos países europeus, tidos como modernos e progressistas, os problemas sociais não foram solucionados: as cidades europeias continuavam a enfrentar graves crises.

As conferências de paz multiplicaram-se pelo continente após a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Em Haia, entre 1899 e 1907, políticos e diplomatas do mundo discutiram e organizaram os primeiros tratados internacionais sobre crimes de guerra, apontando a importância da resolução pacífica das controvérsias internacionais. Esses encontros deram fôrça ao multilateralismo nas relações internacionais: os países deveriam atuar de fórma conjunta para solucionar determinados temas e problemas globais.

A Paz Armada e o sistema de alianças

O período anterior ao início da Primeira Guerra Mundial foi marcado pelo forte desenvolvimento da indústria bélica e pela crescente tensão nas relações internacionais. Por isso, a aparente estabilidade entre os países europeus ficou conhecida como Paz Armada. Nesse cenário tenso, as rivalidades entre as grandes potências – principalmente entre o Reino Unido, a França e os impérios Alemão e Russo – agravaram-se.

Desde sua unificação, no século dezenove, o Império Alemão exigia a redivisão dos territórios coloniais europeus nos continentes africano e asiático. Tais territórios eram controlados, sobretudo, pela França e pelo Reino Unido.

Além disso, o nacionalismo alemão foi um ingrediente importante dessa disputa. Desde o final do século dezenove, clubes patrióticos e militares difundiam seus ideais de superioridade da suposta raça germânica e endossavam os planos de expansão do Segundo Reichglossário .

Assim, com o objetivo de aumentar sua influência no cenário internacional e pressionar as demais potências europeias, o Império Alemão investiu na criação de um grande parque industrial. O desenvolvimento da indústria alemã, especialmente a de armamentos, e a ampliação de sua marinha mercante e de guerra constituíam uma ameaça à hegemonia britânica na Europa.

Cartaz. Caricatura de Guilherme segundo, homem de olhos claros, bigode avermelhado e um capacete preto com o emblema de uma águia na frente. Ele está com a boca aberta, abocanhando o globo terrestre que segura com as mãos.
Cartaz. Ilustração de dois homens jogando futebol usando o globo terrestre como bola. O homem à frente tem cabelos escuros e um longo bigode preto. Veste um casaco com três listras horizontais nas cores preto, branco e vermelho. Atrás, o outro homem é careca, com bigode cheio e branco, contornando a boca. Ele veste uma blusa com uma listra amarela e uma preta, com o emblema de uma ave ao centro. Ao fundo, pessoas observam.
Cartazes italianos produzidos na década de 1910, no contexto do início da Primeira Guerra Mundial.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em uma das imagens, o imperador alemão Guilherme segundo é representado abocanhando o globo terrestre, acompanhado da legenda “O ganancioso”. Na outra, Guilherme segundo e Francisco José, o imperador austro-húngaro, são representados jogando futebol com o globo terrestre. Na parte de baixo da ilustração está escrito: “Como o mundo é pequeno!”. A movimentação dos países em busca de acordos e alianças militares era acompanhada pelos cartunistas do período. Essas imagens fizeram parte importante da propaganda política vinculada ao conflito. Por meio delas, os governos tentavam convencer a opinião pública de que a culpa pelo início da guerra era do inimigo.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar de alguns antecedentes da Primeira Guerra Mundial, do movimento dos países na Paz Armada e do sistema de alianças, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero e da Competência Específica de História nº 1.

O otimismo da Belle Époque mascarou muitos problemas e disputas entre os países europeus no período. É importante comentar com os estudantes que, apesar dos esforços internacionais na criação de mecanismos para a resolução pacífica de conflitos, como as Convenções de Haia, os movimentos pacifistas não representavam o pensamento da totalidade da Europa. Ressalte que artistas, intelectuais, militares, estadistas e cidadãos comuns, em diversos lugares da Europa, acreditavam na guerra como a solução para problemas que iam além da economia e da política. Essas percepções difusas da guerra e da paz, acompanhadas por uma série de rivalidades políticas e pelo clima de exacerbação nacionalista, justificaram a formação de alianças militares que originaram o conflito.

Os dois cartazes foram produzidos na Itália na década de 1910. Eles dialogam diretamente com a posição assumida pelo país durante a Primeira Guerra Mundial. Apesar de compor a Tríplice Aliança (1882), a Itália manteve posição de neutralidade no início dos confrontos e, em 1915, entrou na guerra ao lado da Tríplice Entente. Nessas imagens – produzidas quando o governo italiano negociava sua entrada na guerra – procurou-se construir a ideia de que o pacto firmado entre a Alemanha e a Áustria-Hungria era violento e responsável pelo início da guerra.

Ampliando

O trecho abaixo refere-se ao período que ficou conhecido como Paz Armada.

“[...] às vésperas da Primeira Guerra Mundial, quase todo europeu qualificado do sexo masculino em idade militar tinha uma carteira de identidade militar entre seus papéis pessoais, informando onde apresentar-se em caso de mobilização geral. Os almoxarifados dos regimentos estavam abarrotados de uniformes e armas sobressalentes para os reservistas; até mesmo os cavalos nos campos das fazendas estavam listados para serem requisitados em caso de guerra.”

Quígan, J. Uma história da guerra. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006. página 43-44.

As disputas entre o Reino Unido e o Império Alemão eram acompanhadas de perto pela França. Nesse país, fomentava-se um forte sentimento de revanche contra os alemães, incentivado pela derrota na Guerra Franco-Prussiana e pela consequente perda da região da Alsácia-Lorena (rica em carvão). Esse episódio feriu gravemente o orgulho dos franceses, para os quais era uma questão de honra recuperar esses territórios.

O Império Russo e o Império Austro-Húngaro, por sua vez, tinham muito interesse pela região dos Bálcãs, na Europa. Isso os colocava em campos opostos e – somado às rivalidades e tensões internacionais do período – explica a formação de dois grandes blocos de aliança na Europa.

A formação dos lados do conflito

O primeiro passo decisivo em direção à guerra foi dado pelas chamadas potências centrais, com a formação da Tríplice Aliança, um acordo militar firmado em 1882 entre o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro e a Itália.

Como resposta, a França aproximou-se do Império Russo e estabeleceu com ele a Aliança Franco-Russa, em 1892. Algum tempo depois, em 1904, britânicos e franceses deram origem à Entente Cordiale e, em 1907, os britânicos firmaram com os russos a Convenção Anglo-Russa. Isso significa que não havia um acordo militar formal entre a França, o Reino Unido e o Império Russo como o que existia entre os integrantes da Tríplice Aliança.

No entanto, pelos tratados bilaterais estabelecidos, em caso de guerra, tais potências estariam do mesmo lado. Foi por essa lógica que o arranjo entre elas ficou conhecido como Tríplice Entente.

Europa: sistema de alianças – 1914

Mapa. Europa: Sistema de alianças, 1914. Destaque para o território europeu. Legenda. Lilás: Tríplice Aliança. Verde: Tríplice Entente e aliados. Branco: Países neutros. Quadrado vermelho: Região dos Bálcãs. Tríplice Aliança: Império Alemão; Império Austro-Húngaro; Bulgária; Império Turco-Otomano. No mapa: Tríplice Entente e aliados: Império Russo; Reino Unido; Bélgica; França; Portugal; Itália; Montenegro; Romênia; Sérvia; Grécia. Países neutros: Noruega; Islândia; Suécia; Dinamarca; Países Baixos; Espanha; Suíça; Albânia. Região dos Bálcãs: quadrado de linha vermelha que cerca parte da Romênia, Bulgária, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Estreito de Bósforo e Estreito de Dardanelos. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 470 quilômetros.

FONTES: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas stratégique. Paris: Complexe, 1988. página 34; enciclopédia BRITANNICA DO BRASIL. Atlas histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise a representação, no mapa, de dois blocos de aliança antagônicos e responda: de que fórma a posição geográfica do Império Alemão poderia comprometer o país em uma guerra disputada entre os integrantes desses dois blocos?

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: Por se localizar entre a França e o Império Russo, a Alemanha seria obrigada a lutar em duas frentes de batalha, dividindo seus soldados e equipamentos bélicos.

Bê êne cê cê

Ao propor a análise e a interpretação de um mapa que apresenta a formação de dois blocos de aliança antagônicos, a atividade do “Se liga no espaço!” auxilia no desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

Interdisciplinaridade

A análise do mapa no “Se liga no espaço!” permite construir relações com a geografia, em sua habilidade ê éfe zero nove gê ê zero oito – “Analisar transformações territoriais, considerando o movimento de fronteiras, tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, na Ásia e na Oceania”.

A Itália, apesar de fazer parte da Tríplice Aliança, manteve-se neutra até 1915, quando entrou na guerra ao lado de britânicos, franceses e russos. Além de um forte sentimento antiaustríaco, nutrido desde a unificação do país, a Itália tinha pretensões territoriais em relação ao Império Austro-Húngaro. Esperava, ao final do conflito, obter os territórios de Trento, o porto de Trieste e as províncias de Bolzano-Bozen, Ístria e Dalmácia.

O nacionalismo estava presente entre o final do século dezenove e o comêço do século vinte. No início da guerra, jovens de toda a Europa endossaram o esforço bélico e ingressaram nas fileiras dos exércitos nacionais. Em Berlim, as pessoas marchavam ao lado dos soldados; a grande maioria entoava hinos e gritava palavras de confiança e louvor à nação. A proximidade de um confronto armado disseminava por todo o continente, sobretudo na Alemanha, uma espécie de êxtase social.

A questão dos Bálcãs

Entre o fim do século dezenove e o início do século vinte, toda a região dos Bálcãs se tornou alvo da disputa imperialista europeia. A perda do contróle do Império Turco-Otomano sobre esses territórios possibilitou a formação de várias nações independentes.

Com a formação de novos países e a reorganização das fronteiras, algumas potências, como o Império Russo e o Império Austro-Húngaro, manifestaram interesse pelo domínio da região.

O interesse mais imediato do Império Russo estava relacionado à possibilidade de controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos (analise o mapa na página anterior) e, por meio da anexação desses territórios, encontrar uma saída para o Mar Mediterrâneo.

A justificativa utilizada pelo Império Russo contrariava os diversos movimentos nacionalistas atuantes na Europa Oriental (denominados pan-eslavistas), que buscavam, de um lado, a união dos povos eslavos do Leste Europeu e, de outro, a autonomia desses povos em relação aos impérios centrais da Europa, particularmente o Império Austro-Húngaro.

Em 1908, os austríacos anexaram a região da Bósnia-Herzegovina. Isso frustrou os objetivos da Sérvia e de grande parte das sociedades nacionalistas formadas no local. Essas organizações, em sua maioria constituídas com base em uma lógica expansionista e militarizada, idealizavam a formação de uma Grande Sérvia. Foi, portanto, nesse cenário tenso, repleto de disputas locais, que se encontrou o pretexto para o início da guerra mundial.

No dia 28 de junho de 1914, um grupo nacionalista sérvio conhecido como Mão Negra decidiu agir e manifestar sua insatisfação contra o domínio austríaco: em saraiêvo, capital da Bósnia-Herzegovina, o estudante nacionalista sérvio Gavrilo príncip assassinou a tiros o príncipe herdeiro do trono Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, e sua esposa, Sofia, quando eles visitavam a cidade.

Fotografia em preto e branco. Casal descendo uma escadaria na direção de um carro com a capota aberta. Ela usa um longo vestido e chapéu grande. Ele usa uniforme militar e usa um chapéu com plumagem. Ao redor deles, na escadaria homens observam, alguns deles batendo continência.
Francisco Ferdinando e Sofia, em saraiêvo, alguns minutos antes do atentado. Foto de 28 de junho de 1914.
Ilustração. Capa do jornal LE PETIT JOURNAL. Grupo de pessoas saudando militares armados. As pessoas erguem chapéus e os braços. No centro uma bandeira nas cores vermelha, azul e branca.
Gravura sinalizando o conflito entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia, publicada no Le Petit Journal, em 9 de agosto de 1914. Na parte de baixo da gravura está escrito: “O conflito entre a Áustria e a Sérvia: a população sérvia aplaude as tropas”.
Respostas e comentários

O nacionalismo e o imperialismo são temas que se relacionam à política europeia de alianças, à corrida armamentista do início do século vinte e a seu impacto direto na deflagração do conflito mundial. Esse amplo contexto de disputas e crescente tensão nas relações internacionais se intensificou com o conflito nos Bálcãs e com uma questão, a princípio, local – o assassinato de Francisco Ferdinando, em saraiêvo, capital da Bósnia-Herzegovina –, que foi capaz de dar início a uma das maiores e mais impactantes guerras da história.

Curadoria

Quem era Príncip? (Reportagem)

Arthur Macedo e Norman Prange. Jornal da púqui, 30 abr. 2014. Disponível em: https://oeds.link/RFAZco. Acesso em: 9 maio 2022.

A reportagem apresenta informações e a visão de historiadores sobre Gavrilo Princip, o nacionalista sérvio que matou o príncipe austro-húngaro e sua esposa.

O início da Grande Guerra

O atentado ao príncipe austríaco funcionou como disparador do sistema de alianças formado na Europa. Assim, um mês depois do ocorrido, em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia.

Os russos, aliados dos sérvios, mobilizaram suas tropas em defesa daquele país. Poucos dias depois, o Império Alemão, a França e o Reino Unido também mobilizaram seus exércitos e honraram os compromissos assumidos anteriormente. Começou, assim, a Grande Guerra.

O desenrolar da guerra

No início do conflito, a situação do Império Alemão era particularmente desfavorável: como o território do país estava entre o da França e o do Império Russo, os alemães seriam obrigados a combater em duas frentes de batalha. Por isso, rapidamente, colocaram em prática o chamado Plano Chilifem: derrotar logo a França antes que os russos pudessem mobilizar suas tropas em direção ao país. Desse modo, evitariam lutar simultaneamente nas duas fronteiras. Para alcançar o território francês, o exército alemão invadiu a Bélgica – país que havia declarado neutralidade no conflito.

Com a movimentação das tropas alemãs na Bélgica, os britânicos declararam guerra ao Império Alemão, honrando compromissos assumidos no acordo da Tríplice Entente. A Itália, que até aquele momento integrava a Tríplice Aliança, mudou de lado, em 1915, seduzida pelas promessas do Reino Unido de concessões territoriais ao final do conflito.

Aos aliados iniciais, somaram-se o Império Turco-Otomano e a Bulgária (ao lado da Tríplice Aliança) e o Japão, a Itália e a Bélgica (ao lado da Tríplice Entente). Nos anos seguintes, por motivos diferentes, também ingressaram no confronto, ao lado da Entente, Estados Unidos, Portugal, Grécia, Romênia e Brasil.

Cartaz. Duas ilustrações separadas compõem o cartaz. À esquerda, representação de famílias em uma vila em um dia ensolarado. À direita, representação de uma cidade em ruínas em um dia nublado. Cada uma das ilustrações é acompanhada de mensagens em inglês.
Cartaz britânico de recrutamento para a guerra produzido em 1914.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nesse cartaz, o autor compara a realidade do Reino Unido à da Bélgica durante a guerra. Acima e abaixo da primeira cena, estão escritas as seguintes frases: “Um pouco da Inglaterra. Nossos lares estão seguros. Nossas mães e esposas a salvo. Nossas crianças ainda brincam e não temem nenhum mal”. Acima e abaixo da segunda, está escrito: “Um pouco da Bélgica. Seus lares estão destruídos. Suas mulheres foram assassinadas ou pior. Suas crianças estão mortas ou são escravas”. Na parte inferior do cartaz, em letras maiores, está a frase: “Apoie os homens que salvaram você”.

Dica

sáite

100 anos: Primeira Guerra Mundial

Disponível em: https://oeds.link/ZodJWx. Acesso em: 28 março 2022.

Série de reportagens publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo em 2018, ano do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial.

Respostas e comentários

A declaração de guerra da Áustria-Hungria à Sérvia não foi imediata. O Império Austro-Húngaro fez, antes, uma série de exigências, como o contrôle dos grupos nacionalistas sérvios, o fechamento de publicações antiaustríacas no país e a participação de oficiais austro-húngaros nas investigações do crime. Mas, para os sérvios, a proposta, endossada no plano internacional pela Alemanha, feria a soberania nacional. Diante dessa recusa, a guerra foi declarada. Assim, seguiu-se uma reação em cadeia. A Rússia mobilizou suas tropas em defesa dos sérvios. A Alemanha, ao se comprometer com o Tratado da Tríplice Aliança, declarou guerra à Rússia e à França. Com a movimentação das tropas alemãs na Bélgica, os britânicos declararam guerra à Alemanha, honrando os compromissos do acordo da Tríplice Entente.

Considerando o cartaz de 1914 e os demais cartazes e imagens reproduzidos até aqui, pode-se discutir a aceleração da comunicação de massa que acompanhou o avanço da industrialização e a consolidação das comunidades nacionais. De fato, a Primeira Guerra Mundial não foi o primeiro momento de forte propaganda nacionalista, mas a expansão dos meios técnicos, como a imprensa ilustrada (por exemplo, na reprodução da capa do Le Petit Journal na página 18), permitiu movimentar os apelos sentimentais por meio da visualidade.

Os combates da Primeira Guerra Mundial

Com o início dos combates, logo se desfez na Europa a convicção de que a guerra seria curta, pois as forças dos países em conflito se equilibravam. Além disso, os exércitos construíram trincheiras, dentro das quais os soldados ficavam até o momento de atacar o inimigo. Elas ocupavam centenas de quilômetros, cortando o território europeu de norte a sul e impedindo os exércitos alemão, francês e britânico de avançar. Esse recurso militar contribuiu para que a Grande Guerra entrasse para a história como um conflito estático, desgastante e letal.

As condições dos soldados nas trincheiras eram péssimas. Esses espaços insalubres eram infestados de piolhos e bactérias, e extremamente úmidos. Por causa disso, os soldados contraíam diversas doenças, e a rotina deles era transformada em um martírio.

Guerra de trincheiras

Ilustração. Guerra de trincheiras. Área plana escavada e dividida em porções. Os caminhos escavados na terra formam um labirinto. No canto inferior esquerdo, uma construção de madeira, semelhante a uma sala. Espalhadas pelo terreno, estruturas de madeira e suportes de arame farpado. Na ilustração, três boxes de contorno azul e fundo branco com texto. No primeiro, no alto à esquerda, o texto: Madeiras, sacos de areia e cercas de arame farpado eram usados para reforçar as laterais das trincheiras. Esses materiais também estavam presentes na chamada 'terra de ninguém', espaço que separava trincheiras inimigas. No segundo, no canto inferior esquerdo, o texto: Escavadas abaixo das trincheiras ficavam as bases subterrâneas, onde eram realizadas, por exemplo, reuniões dos comandantes das operações de guerra. No terceiro, no canto inferior direito, o texto: As trincheiras eram cavadas acompanhando o formato do terreno para dificultar a ação do adversário que tentasse tomá-las. Geralmente eram estreitas, tinham 2 metros de profundidade e eram divididas em três linhas.

FONTE: MESQUITA, J. A guerra. São Paulo: Terceiro Nome, 2002. volume 1, página 154.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

A expressão guerra suja de trincheiras é com frequência utilizada pelos historiadores para se referir aos combates da Primeira Guerra Mundial. Como as trincheiras contribuíram para tornar o espaço dos campos de batalha ainda mais desgastante e mortal?

Respostas e comentários

Resposta do Se liga no espaço!: A trincheira, uma espécie de vala cavada no chão com aproximadamente 2 metros de profundidade,contribuiu muito para a letalidade da guerra. Os constantes bombardeios durante a guerra dificultaram o desenvolvimento das batalhas, com a criação de crateras que revolviam a terra e acumulavam corpos putrefatos, transformando a região entre trincheiras inimigas em uma no man’s land (“terra de ninguém”). A chuva e a neve transformavam esses locais em lodaçais. Os soldados, obrigados a permanecer muito tempo nesses espaços, acabavam enfermos e muitas vezes morriam em decorrência das doenças contraídas nas trincheiras, e não em razão de algum ferimento sofrido em confronto direto contra o exército inimigo, por exemplo.

Ampliando

A reorganização espacial das fronteiras europeias com o uso de trincheiras interferiu diretamente nos rumos da guerra. Como assinala o historiador britânico Eric róbisbáum no trecho a seguir.

“Essa era a ‘Frente Ocidental’, que se tornou uma máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história da guerra. Milhões de homens ficavam uns diante dos outros nos parapeitos de trincheiras barricadas com sacos de areia, sob as quais viviam como – e com – ratos e piolhos. De vez em quando seus generais procuravam romper o impasse. Dias e mesmo semanas de incessante bombardeio de artilharia – que um escritor alemão chamou depois de ‘furacões de aço’ (Ernest Jünger, 1921) – ‘amaciavam’ o inimigo e o mandavam para debaixo da terra, até que no momento certo levas de homens saíam por cima do parapeito, geralmente protegidos por rolos e teias de arame farpado, para a ‘terra de ninguém’, um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvores calcinadas, lama e cadáveres abandonados, e avançavam sôbre as metralhadoras, que os ceifavam, como eles sabiam que aconteceria.”

róbisbáum, E. J. A Era dos extremos: o breve século vinte, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 33.

Ampliando

O livro Nada de novo no front é um dos relatos mais impressionantes sôbre as trincheiras, a tecnologia e a mortandade da Primeira Guerra Mundial. A seguir, a frase inicial da obra.

“Este livro não pretende ser um libelo nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que se deram face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra.”

Remarque, E. M. Nada de novo no front. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2017. página 8.

Foi na Frente Ocidental que a guerra de trincheiras se impôs como realidade – e como um dos maiores horrores do conflito. O ano de 1916 foi particularmente difícil, especialmente na região fronteiriça entre França e Alemanha, com as batalhas de Vêrdun e do sôme. Estima-se que só no primeiro dia de batalhas na campanha do sôme morreram mais de 30 mil soldados britânicos.

Fases do conflito

As potências que formavam a Tríplice Aliança, como já apontado, tiveram de atuar em duas frentes de batalha: na Ocidental, depois que os alemães declararam guerra à França, e na Oriental, para impedir o avanço das tropas russas. Em linhas gerais, a Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em três fases.

  • Primeira fase (entre agosto e novembro de 1914): entendida como uma guerra de movimento em virtude da movimentação das tropas envolvidas no confronto, no período anterior à construção do complexo de trincheiras que dividia especialmente a França e o Império Alemão.
  • Segunda fase (do final de 1914 até 1917): caracterizada pela organização do que os historiadores costumam chamar de guerra de posição (ou, mais popularmente, guerra de trincheiras).
  • Terceira fase (1918): marcada pelo uso de tanques de guerra, retomando a guerra de movimento.
Fotografia em preto e branco. Soldados sorrindo e jogando bola em uma área aberta. No centro dois deles disputam a bola, no alto.
Soldados inimigos jogando futebol na chamada “terra de ninguém”, no Natal de 1914.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No início da Primeira Guerra Mundial, um episódio se tornou símbolo dos movimentos de contestação à guerra na Europa: a chamada trégua do Natal de 1914. Ela ocorreu na Frente Ocidental, em uma região de trincheiras entre a Bélgica e o Império Alemão, e envolveu soldados alemães e britânicos. Por um momento, os tiros cessaram e as partes em confronto puderam celebrar juntas a noite de Natal. No dia seguinte, ocorreu uma partida de futebol entre exércitos inimigos.

Tecnologia e destruição

A tecnologia contribuiu para fazer da guerra um cenário de horrores. Pela primeira vez na história, utilizou-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventaram o tanque de guerra. Já os alemães empregaram lança-chamas e armas químicas, como o gás mostarda, que provocavam graves queimaduras. Os soldados foram, então, obrigados a usar máscaras para se proteger da guerra química travada entre exércitos inimigos.

De todas as invenções bélicas, o grande trunfo alemão foi o submarino. Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transportavam alimentos, as fôrças alemãs causaram muitos danos à população civil. Apesar da utilização do avião e do submarino, o conflito foi travado sobretudo em terra, e o uso das metralhadoras causou muitas mortes.

A Primeira Guerra Mundial foi um evento em que o passado e o presente coexistiram de fórma muito evidente: no mesmo cenário de batalhas em que armas químicas eram utilizadas, os cavalos continuaram a ser empregados em grande escala, como ocorreu no século dezenove. Milhões deles morreram no decorrer do conflito.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que é possível afirmar que a Primeira Guerra Mundial colocou à prova um continente que se considerava o centro do mundo civilizado?
  2. Descreva o sistema de alianças firmadas na Europa no início do século vinte.
  3. De que modo a tecnologia foi usada durante a guerra?
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Explicar e descrever são habilidades precedidas pela identificação e organização das informações. Assim, retome com os estudantes os procedimentos a seguir:

reler as seções do capítulo identificando as informações;

anotar as informações no caderno;

• estabelecer relações entre as informações arroladas;

elaborar respostas provisórias por escrito ou oralmente com a ajuda de um colega;

registrar as respostas elaboradas;

se necessário, reescrever tendo em vista respostas mais autônomas em relação ao texto-base.

Agora é com você!

1. Um pouco antes do início da Grande Guerra disseminou-se na Europa um clima de otimismo e esperança. Entre 1871 e 1914 não houve nenhuma disputa armada em que exércitos cruzassem alguma fronteira hostil, de modo que temores de um conflito pareciam distantes do continente. Além disso, as transformações geradas pela Segunda Revolução Industrial permitiram importantes avanços na ciência. Com a eclosão do conflito e a consequentes perdas humanas e materiais, as certezas depositadas na ciência e na civilização europeia ruíram.

2. A Tríplice Aliança foi um acordo militar formal firmado em 1882 entre os impérios Alemão e Austro-Húngaro e a Itália. Já a Tríplice Entente foi a aliança militar que confirmou acordos bilaterais anteriores entre França, Império Russo e Reino Unido. Esses acordos e arranjos podem ser considerados um dos principais fatores de origem da Primeira Guerra Mundial.

3. O uso da tecnologia para o desenvolvimento de novas armas transformou a guerra num cenário de horrores. O avião foi usado pela primeira vez como arma bélica, foram inventados o tanque de guerra, o lança-chamas, as armas químicas (como o gás mostarda) e os submarinos, esses últimos utilizados pelos alemães para afundar navios mercantes, o que causou muitos danos à população civil.

Curadoria

Diôni vai à guerra (Filme)

Direção: Dalton Trumbo. Estados Unidos, 1971. Duração: 111 minutos

O filme é baseado no romance homônimo do próprio diretor do filme, Dalton Trumbo. É um drama de guerra sobre a vida de djou, que foi ferido gravemente em uma explosão na Primeira Guerra Mundial: ele perdeu os braços, as pernas e o rosto; não vê, não fala, não ouve e não sente cheiros.

Cruzando fronteiras

Em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou na Europa, Djón rrônald Reuel Tolkien, mais conhecido como J. R. R. tólquin, tinha 22 anos e estudava literatura e língua inglesa na Universidade de óxfórd, no Reino Unido. Como boa parte dos jovens escritores de sua geração, ele participou ativamente das batalhas que se seguiram.

Em 1916, o futuro criador da trilogia literária O senhor dos anéis foi convocado para lutar na Batalha do sôme, ocorrida na França. Durante esse confronto, mais de 1 milhão de pessoas morreram, ficaram feridas ou desapareceram.

tólquin sobreviveu aos meses de confronto com os alemães e seus aliados, mas a experiência da guerra o marcou para sempre. Segundo o próprio escritor, enquanto estava internado no hospital para se recuperar da febre das trincheiras, ele criou a chamada Terra-Média, local fantástico onde se passa a narrativa de O senhor dos anéis.

Apesar de negar em diversos momentos a relação direta de sua obra com o contexto da guerra, tólquin reelaborou em sua narrativa parte dessa tragédia humana, reservando grande parte de sua trilogia para a descrição de guerras travadas entre seres fantásticos.

O horror da guerra é pressentido e experienciado em todo o romance. No entanto, isso não significa que os personagens e histórias criados por tólquin sejam um reflexo puro e simples de suas experiências como soldado ou testemunha dos massacres.

Cena de filme. Soldados de manto, escudos, lanças e um capacete longo, encobrindo parcialmente a cabeça e o rosto. Alguns deles carregam flâmulas, que tremulam ao vento.
Cena do filme O retorno do rei, de 2003, parte da trilogia O senhor dos anéis. Com o tempo, as obras de tólquin se tornaram clássicos da literatura infantojuvenil.
Respostas e comentários

Dado sobre os envolvidos na Batalha do sôme foi retirado de: REINO UNIDO e França lembram 100 anos da Batalha do sôme. DW, 1º julho. 2016. Disponível em: https://oeds.link/uXXygM. Acesso em: 6 julho. 2022.

Cruzando fronteiras

Um dos participantes dessa batalha foi o escritor J. R. R. tólquin. Para muitos especialistas, os traumas decorrentes de sua participação na guerra inspiraram parte das histórias narradas na trilogia O senhor dos anéis. Nessa seção, analisa-se a relação da vida e da obra do filólogo e escritor britânico J. R. R. tólquin com a Primeira Guerra Mundial. O texto associa a concepção do espaço ficcional da trilogia de O senhor dos anéis com as experiências do autor na guerra. A ideia central não é analisar os personagens e as histórias da trilogia como reflexo puro e simples da experiência do autor como soldado na Primeira Guerra Mundial, mas demonstrar que a obra contém uma reflexão profunda sobre as esperanças depositadas na tecnologia e na modernidade no início do século vinteponto

Interdisciplinaridade

Ao analisar a trilogia O senhor dos anéis à luz das experiências do autor com o contexto da Primeira Guerra Mundial, bem como traçar relações entre a obra e sua adaptação cinematográfica mais recente, a seção relaciona-se com o componente curricular língua portuguesa, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades ê éfe seis sete éle pê dois sete – “Analisar, entre os textos literários e entre estes e outras manifestações artísticas (como cinema, teatro, música, artes visuais e midiáticas), referências explícitas ou implícitas a outros textos, quanto aos temas, personagens e recursos literários e semióticos” – e ê éfe seis nove éle pê quatro quatro – “Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos fórmas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção”.

Na composição de O senhor dos anéis, há uma reflexão profunda sobre as esperanças depositadas na tecnologia e na modernidade. O lado perverso da história, representado pelos orques (espécie de monstros) liderados por sóron, tenta destruir a Terra-Média usando a tecnologia bélica. Trata-se de uma visão bastante pessimista do papel dos avanços científicos ocorridos na Europa entre o fim do século dezenove e o início do século vinte.

A viagem de Frôdo, personagem protagonista, pela Terra-Média marca o fim de um modo de vida integrado à natureza, que é representada pelos hobbits (espécie de humanos pequenos de pés grandes e peludos) e pelos elfos (seres fantásticos, com orelhas pontudas, que se parecem com humanos, mas são sempre jovens e bonitos).

O desfecho da história, à primeira vista, parece um típico happy endglossário , mas não é. O tom da narrativa é de tristeza por um mundo que foi destruído e/ou superado pelos acontecimentos recentes – da guerra –, refletindo um sentimento muito semelhante ao que tomou conta das pessoas após o fim da Grande Guerra.

Cena de filme. Homem de cabelo castanho comprido e ondulado. Está sorrindo e com a testa franzida, olhando fixamente para um anel dourado em suas mãos.
Cena de filme. Gollum, personagem careca com apenas alguns fios de cabelo. Tem a cabeça oval, olhos grandes e claros. O corpo é magro e pequeno. Está encolhido sobre uma pedra, olhando de lado.
Cenas do filme O retorno do rei, de 2003, em que o personagem Ismígol (homem segurando o anel) se transforma em Gólum.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O sucesso dessa trilogia literária, lançada na década de 1950, foi favorecido pelas adaptações cinematográficas dirigidas por píter Djéksôn: A sociedade do anel, de 2001, As duas torres, de 2002, e O retorno do rei, de 2003. No último filme, observa-se a transformação do personagem Ismígol em Gólum, chamado também de a criatura, um monstro que vive isolado contemplando seu precioso anel. A sequência da mudança do personagem o torna símbolo da desumanização e da perda de inocência provocada pela ambição do anel.

Responda no caderno.

  1. Levando em consideração o contexto imediatamente anterior ao início da Primeira Guerra Mundial, explique a que se refere o trecho: “as esperanças depositadas na tecnologia e na modernidade”.
  2. Elabore um pequeno texto relacionando a obra de J. R. R. tólquin à Primeira Guerra Mundial.
  3. Junte-se a dois colegas e avaliem as informações expostas no texto da seção, ou na narrativa de Tolkien (caso vocês conheçam os filmes). Depois, pesquisem – em sites e em jornais e revistas impressos especializados em cinema críticas da época e dados de bilheteria de cinemas do mundo todo sobre os filmes baseados na obra de J. R. R. tólquin que foram lançados na década de 2000. Anotem suas descobertas para uma segunda rodada de conversa em sala de aula, quando discutirão com os demais colegas as seguintes questões: por que essas obras seduziram o público nos anos 2000? As mudanças climáticas que ameaçam a Terra ou os constantes conflitos com uso de tecnologia avançada podem contribuir para que o público se conecte a uma narrativa passada em um mundo fictício?
Respostas e comentários

Classificação indicativa dos filmes de 2001 e 2002: 12 anos; do filme de 2003: 14 anos.

Atividades

1. Na segunda metade do século dezenove, muitas áreas do conhecimento floresceram. A criação de associações científicas possibilitou o lançamento de jornais e revistas que popularizaram a ciência. Organizou-se na Europa da Belle Époque um modo de vida pautado pelos princípios da racionalidade, da objetividade e da técnica. As esperanças depositadas na ciência, no contexto imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial, baseavam-se na lógica de que esse conhecimento poderia levar a humanidade a patamares cada vez mais altos de bem-estar e civilização.

2. É possível que os estudantes apontem a narrativa de O senhor dos anéis como um diagnóstico que ilustra a apreensão diante desse momento histórico permeado por medos e privações.

A perda da fantasia e da inocência dá o tom da narrativa da trilogia, que pode ser interpretada como um lamento por um mundo que foi destruído ou superado, semelhante ao experienciado pela Europa do pós-guerra.

3. A proposta de prática de pesquisa de estudo de recepção de produtos da indústria cultural tem como base a trilogia literária de J. R. R. tólquin. O objetivo é analisar a receptividade dos filmes, a partir da observação das críticas da época e dos dados das bilheterias da trilogia. O faturamento bruto mundial do filme O senhor dos anéis: A sociedade do anel (2001) foi de ..898094742 dólares; o do seguinte, O senhor dos anéis: As duas torres (2002), foi de ..947896241 dólares, e o do último, O senhor dos anéis: O retorno do rei (2003), foi de ...1146436214 dólares.

É importante que os estudantes observem quanto foi investido em cada filme (em torno de 93 milhões de dólares) e percebam que o lucro foi grande para os produtores. Vale também pesquisar as críticas na época em que os filmes foram lançados. Em geral, os filmes da trilogia dirigidos pelo diretor píter Djéksôn são bem avaliados e foram bem recebidos no comêço dos anos 2000, tanto pelo telespectador comum quanto pela crítica especializada, vencendo juntos 17 estatuetas do Oscar. Os filmes são repletos de efeitos especiais e boas atuações e prendem a atenção dos telespectadores, apesar de serem considerados longos (mais de 2 horas em cada). Muitas críticas elogiam as adaptações feitas dos livros para os filmes, que conseguiram transmitir a complexidade da narrativa literária. Os filmes não tratam apenas da luta dicotômica entre bem e mal, mas mostram também que todos os personagens, mesmo os “heróis”, são tentados pelo poder. Tanto a narrativa dos livros quanto a dos filmes tratam de dilemas da sociedade, como: a tecnologia que cria armas de destruição (os Urucais) a partir da destruição de florestas; a corrupção exercida pelo poder sobre as pessoas e a importância das intenções (rejeição dos fins justificando os meios). Essas e outras análises e críticas dos filmes podem auxiliar os estudantes na compreensão do motivo de tanto sucesso, talvez por tratarem de temas de fórma fantasiosa, mas que fazem parte de nossa realidade e nosso cotidiano. Dados numéricos sobre a bilheteria dos filmes retirados da base de dados sobre cinema, TV, música e jogos í ême dê bê (Internét Múvi Databêise). Disponível em: https://oeds.link/h7AkA8. Acesso em: 11 maio 2022.

A entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia

Antes do início dos conflitos na Europa, havia muita afinidade política e cultural entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Com o desenrolar da guerra, essa afinidade se intensificou, e empresas estadunidenses passaram a fornecer armas e alimentos para a Entente.

Em janeiro de 1917, os alemães colocaram em prática um ousado plano de atacar as embarcações que fornecessem mantimentos e armas para os britânicos. No trajeto pelo Oceano Atlântico em direção à Europa, boa parte desses recursos era transportada por navios estadunidenses, que começaram a ser alvejados por submarinos alemães.

O naufrágio de sete navios mercantes intensificou as manifestações públicas nos Estados Unidos favoráveis à guerra. Assim, no dia 6 de abril de 1917, o Congresso desse país declarou oficialmente guerra ao Império Alemão.

Poucos meses depois, em outubro de 1917, a Revolução Russa, que você estudará no capítulo 3, mudou novamente os rumos da guerra. Em dezembro daquele ano, o govêrno, de orientação socialista, acatou a vontade da população, desgastada pelos anos de confronto, e anunciou a retirada do país do conflito. O custo dessa decisão, no entanto, foi alto para a Rússia, que teve de ceder vários territórios ao Império Alemão.

Com a saída dos russos, os alemães puderam concentrar suas fôrças na Frente Ocidental. Mesmo assim, na segunda metade de 1918 a Tríplice Aliança começou a acumular derrotas nas batalhas contra a Entente.

Fotografia em preto e branco. Anna Louise Strong, mulher de rosto arredondado, olhos grandes e boca pequena. Está sorrindo com os lábios fechados. O cabelo está amarrado, com alguns fios frouxos e bagunçados.
A jornalista e ativista Anna Luí Istrôngui , líder da União Americana contra o Militarismo, em Seattle, Estados Unidos. Foto do início do século vinte.
Charge em preto e branco. Trabalhadores com os braços levantados e unidos, formando um único e grande punho cerrado. Com a outra mão, alguns seguram ferramentas. Ao fundo indústrias com chaminés soltando fumaça.
A mão que governará o mundo – uma grande união, charge publicada nos Estados Unidos em 1917.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na charge, de 1917, os trabalhadores do mundo todo são convocados a se posicionar contra a guerra e, principalmente, contra a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os movimentos de oposição à guerra se espalharam pela Europa e pelos Estados Unidos. Deles participaram, sobretudo, grupos de intelectuais e operários de orientação socialista.

Respostas e comentários

Como lembra o historiador Chan Púrdi, professor de História dos Estados Unidos na Universidade de São Paulo (úspi), o presidente estadunidense Woodrow Uílson declarou que a Primeira Guerra Mundial assumiu a feição de uma guerra pela “democracia e liberdade”. A linguagem da liberdade já tinha sido usada pelos Estados Unidos em suas campanhas imperialistas na América e no Pacífico e foi mais uma vez reivindicada nos campos de batalha europeus. Era repleta de noções como a da superioridade da raça anglo-saxônica e a da necessidade de o capitalismo estadunidense conquistar mercados e matérias-primas fóra do país. De alguma fórma, esse traço característico do discurso político estadunidense antecipava parte das pretensões desse país no cenário internacional. O presidente Uílson montou ainda o Comitê de Informação Pública e encheu o país com propaganda em favor da guerra. O patriotismo em nome da democracia e a liberdade além-mar (contra a Alemanha) dominaram o discurso oficial do governo. A combinação do patriotismo estreito, cultivado em tempos de guerra, com as preocupações em relação à crescente popularidade das ideias socialistas desencadeou, entre 1918 e 1919, uma das mais intensas repressões da história estadunidense: a chamada “caça aos vermelhos”. O Espionage Act (Lei de Espionagem), de 1918, restringiu a liberdade de expressão, censurou jornais e proibiu qualquer atividade contrária aos objetivos do govêrno na guerra. Centenas de ativistas políticos, como os líderes socialistas Iudíni Débs e Kate rixárdis O’Hare, e a jornalista Anna Luí Istrôngui foram presos. Além disso, o Congresso autorizou a deportação de imigrantes radicais, incluindo a anarquista lituana Êma Gôldmen.

Para os grupos socialistas da Europa e dos Estados Unidos, a guerra representava um dilema do ponto de vista ético e ideológico. O internacionalismo socialista vinculava-se à união de trabalhadores do mundo todo contra o capitalismo. O advento da guerra na Europa colocava em xeque esse princípio, difundido especialmente após a Segunda Internacional. A guerra colocava os operários, como lembra o historiador italiano Luciano Cânfora, em trincheiras contrapostas: trabalhadores italianos lutavam contra austríacos; trabalhadores franceses combatiam alemães. Para mais informações sôbre o assunto, consulte: Cânfora, L. 1914. São Paulo: êduspi, 2014. página 141-142.

Versões em diálogo

As imagens a seguir são representações de um dos personagens mais simbólicos da história dos Estados Unidos: o Tio sém.

Ilustração em preto e branco. Tio Sam, homem de rosto fino, cabelos lisos, grandes e brancos. Tem o cavanhaque comprido. Veste uma roupa com listras e estrelas. Está de perfil, observando o globo terrestre com uma lupa.
Tio sém, ilustração produzida por frênqui Leslie, em 1898, no contexto da Guerra Hispano-Americana.
Cartaz. Ilustração de Tio Sam, homem de casaco azul, gravata borboleta vermelha, cartola branca com uma faixa azul ilustrada com estrelas brancas. Ele está apontando para frente, com o olhar fixo. Na parte inferior do cartaz a informação: I WANT YOU FOR U.S. ARMY. NEAREST RECRUITING STATION.
Cartaz de recrutamento produzido por Diêimis Flég, nos Estados Unidos, em 1917.

As primeiras representações do Tio sém foram criadas na década de 1850 pelo ilustrador frênqui Bellew. Nas décadas seguintes, cartunistas fizeram uso maciço dessa alegoria em charges políticas. frênqui Leslie, por exemplo, continuou a desenvolver o personagem, caracterizando-o com as listras e as estrelas da bandeira estadunidense.

Entre o fim do século dezenove e o início do século vinte, diante do aumento da influência dos Estados Unidos na América, o personagem passou por outras modificações: o ancião caricato, quase sedentário e, em muitos casos, desenhado com gestos e expressões pacíficas, começou a ganhar uma face cada vez mais ameaçadora.

Nesse ponto reside a importância das ilustrações de Diêimis Flég: ele foi o responsável pela popularização de um Tio sém cada vez mais ativo e autoritário, com gestos intimidadores. Em diversas situações, Flég representou o personagem com as mangas arregaçadas e com a aparência física menos debilitada e rejuvenescida.

Finalmente, em 1917, com base em um cartaz produzido em 1914 pelo ilustrador britânico Alfred Leete, Flég publicou sua versão final do Tio sém. No contexto da Primeira Guerra Mundial, o govêrno dos Estados Unidos utilizou a imagem para um cartaz de recrutamento que se tornou famoso. Nele, o Tio sém aparece com o dedo em riste, dizendo: “I want you for U.S. Army” (“Eu quero você para o exército dos Estados Unidos“).

Responda no caderno.

  1. Descreva o personagem na ilustração de frênqui Leslie, de 1898.
  2. Compare a ilustração de frênqui Leslie com a de Diêimis Flég e indique duas mudanças na caracterização desse personagem.
  3. Em sua opinião, por que no cartaz de recrutamento foi utilizada a versão do Tio sém feita por Flég, e não a de Leslie?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da análise da imagem da figura do Tio sém no final do século dezenove, assim como a mudança das caracterizações do personagem nos cartazes que foram utilizados para convocar soldados estadunidenses para lutar durante a Primeira Guerra Mundial, a seção “Versões em diálogo” contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7 e da Competência Específica de História nº 3.

Versões em diálogo

Espera-se que os estudantes analisem os cartazes para compreender a historicidade da formação no imaginário popular do personagem Tio sém. A primeira alusão ao personagem em um contexto de guerra ocorreu em 1812, durante a Guerra Anglo-Americana. O folclore atribui sua origem a uma anedota envolvendo Sêmiuél Uílson, comerciante da cidade de Trói, em Nova iórque, que recebeu do govêrno estadunidense um contrato de fornecimento de carne durante a guerra. As carnes eram despachadas por Uílson dentro de barris marcados com as iniciais “u ésse” (de United States), que os soldados diziam pertencer ao Uncle Sam (referência ao comerciante). A brincadeira dos soldados caiu no gosto popular e acabou criando a alegoria dos Estados Unidos que, em pouco tempo, passou a disputar espaço com Columbia (representação feminina da nação estadunidense abordada na página 214 do capítulo 10 do volume do 8º ano desta coleção).

Atividades

1. O personagem porta em uma das mãos uma lupa e a projeta sobre o globo terrestre, em alusão ao interesse territorial estadunidense pelas Filipinas, no contexto da Guerra Hispano-Americana. O Tio sém é representado como um ancião com gestos e expressões pacíficos, apesar do interesse territorial.

2. Djeimes Flég foi o responsável pela popularização de um Tio sém mais ativo e autoritário, com gestos cada vez mais intimidadores. O ancião de semblante delicado foi substituído por um Tio sém com o dedo em riste, expressão inquisitorial e aparentemente mais jovem.

3. Espera-se que os estudantes relacionem a segunda representação do Tio sém como mais adequada ao contexto da guerra: um Tio sém mais ativo, autoritário e intimidador.

A guerra na África e a presença de africanos e asiáticos na Europa

Em novembro de 2018, completou-se o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Longe de celebrar o heroísmo da guerra, boa parte dos eventos que ocorreram na ocasião encaixou-se na lógica do co-memorar (“lembrar de fórma conjunta”) uma das grandes feridas da humanidade.

Muitos livros e filmes foram produzidos com base na ideia de que a guerra deve ser lembrada para nunca mais se repetir. Nessas diferentes produções sobre a guerra, uma lógica narrativa prevaleceu: as cenas de batalha lembradas tinham acontecido na Europa.

Do que se deve lembrar? O que se deve esquecer? Essas perguntas são fundamentais quando se pretende narrar um acontecimento do passado ou refletir sobre ele.

Boa parte dos países envolvidos na guerra – o Reino Unido, a França, o Império Alemão, a Bélgica e Portugal – havia participado ativamente da Conferência de Berlim e tinha, portanto, colônias na África e na Ásia.

Em 1914, ano em que teve início a guerra, com exceção da Etiópia e da Libéria, que eram independentes, o continente africano encontrava-se ocupado e dividido por potências europeias. Por que se sabe tão pouco sobre os impactos da guerra na África, por exemplo?

Estima-se que mais de 2 milhões de africanos tenham se envolvido no conflito, dentro e fóra de seus países de origem, como soldados, carregadores, cozinheiros, informantes ou enfermeiros. A versão da história que se narra, porém, é, em muitos casos, a escrita por historiadores europeus. Trata-se, portanto, de uma interpretação parcial e colonialista desse conflito.

Fotografia em preto e branco. Soldados atrás de uma trincheira feita de pedras. Empunham armas de cano longo sobre a trincheira.
Tropa colonial do Reino Unido em combate no local correspondente ao atual território de Camarões durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918.

Dica

FILME

Mosquito

Direção: João Nuno Pinto.

Portugal, Brasil, França, 2020.

Duração: 122 minutos.

O filme conta a história de Zacarias, um jovem português que sonha em viver grandes aventuras. Por isso, alista-se no exército durante a Primeira Guerra Mundial e é enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. A partir de então, começa sua jornada de sobrevivência e amadurecimento.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a participação de africanos na guerra foram retirados de: PIRES, A. P.; Fogartí, R. S. África e a primeira guerra mundial. Ler História, Portugal, número 66, página 71, 2014.

Classificação indicativa de Mosquito: 14 anos.

Interdisciplinaridade

Ao analisar o lugar das colônias europeias na África, bem como a participação de suas populações no conflito, o conteúdo se relaciona à geografia em sua habilidade ê éfe zero nove gê ê zero um – “Analisar criticamente de que fórma a hegemonia europeia foi exercida em várias regiões do planeta, notadamente em situações de conflito, intervenções militares e/ou influência cultural em diferentes tempos e lugares”.

Como lembra a antropóloga moçambicana Maria Paula Menêzes, ao longo da campanha da África Oriental – talvez a mais longa e mortífera frente de guerra no continente –, as tropas britânicas, alemãs e portuguesas dependeram dos carregadores africanos (na proporção de quatro carregadores para um soldado, muitos dos quais mulheres) para se deslocar. Aos carregadores cabia não apenas transportar o equipamento militar, mas também cozinhar, limpar e recolher informações, assegurando parte importante da logística de guerra. E, tal como os soldados envolvidos em uma guerra de guerrilha, esses africanos sofreram, ao longo de quatro dolorosos anos, a exaustão, a desnutrição e as doenças comuns em um campo de batalha. Para maiores informações, acessar: Menêzes, M. P. Guerras e seus silenciamentos. Atores africanos na frente de Moçambique durante a primeira Guerra Mundial. Universidade de Coimbra. Disponível em: https://oeds.link/dLVBbs. Acesso em: 11 maio 2022.

Curadoria

A África na sala de aula: visita à história contemporânea (Livro)

Leila Leite ernândes. São Paulo: Selo Negro Edições, 2008.

Nessa obra, há destaque para a história dos países do continente africano no período contemporâneo. Assim, é possível encontrar conteúdo sôbre o decurso da Primeira Guerra Mundial.

Entre o final do século dezenove e o início do século vinte a África se tornou uma região essencial para a política e a economia europeias. Um ano antes da guerra, em 1913, o continente africano representava 7% do total do comércio externo do Reino Unido e 10% do da França. Nesse sentido, apesar de a maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o envolvimento do continente africano na Grande Guerra foi muito relevante.

As zonas de conflito concentraram-se, sobretudo, em duas regiões: a da África Oriental (maior e mais demorada) e a da África Ocidental (com duas operações militares, relativamente pequenas, destinadas a desmantelarglossário as colônias alemãs de Togo e de Camarões).

A campanha da África Oriental consistiu em uma série de batalhas e ações de guerrilha, executadas por forças militares alemãs, que afetaram diretamente porções do território de Moçambique, Rodésia do Norte (atual Zâmbia), África Oriental Britânica (que compreende aproximadamente o território do Quênia), Uganda e Congo Belga.

Nessas regiões, os efeitos do recrutamento em massa de carregadores fizeram-se sentir rapidamente nas atividades agrícolas. Sem pessoas para trabalhar no campo, a produção de alimentos caiu e foi insuficiente. Houve fome generalizada em todo o continente africano. Em Uganda, por exemplo, entre 1918 e 1919, um em cada quatro habitantes morreu de fome. Estima-se que cêrca de 100 mil africanos que residiam nos territórios do protetorado britânico da África Oriental e foram convocados para a guerra não voltaram para casa. Mas quase não existem informações sobre essas pessoas, pois por muito tempo elas foram excluídas das narrativas sobre o conflito.

Em relação à participação das colônias asiáticas na guerra, é importante ressaltar a contribuição significativa da Índia para o Império Britânico. Tropas indianas atuaram em diversos campos de batalha na Europa e na África, sendo consideradas o maior exército de voluntários do conflito, com uma fôrça total de aproximadamente 1,5 milhão de homens, dos quais 1,1 milhão participaram diretamente dos conflitos ou forneceram assistência para as operações militares.

Fotografia em preto e branco. Soldados de uniforme, capacete e armas sobre o ombro. Estão marchando em filas.
Soldados africanos convocados pelo Reino Unido, na Batalha de Verdun, na França, durante a Primeira Guerra Mundial. Foto de 1916.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Soldados das colônias, como os da imagem, combateram no território europeu. Além disso, as colônias africanas não eram apenas áreas periféricas de uma guerra europeia; eram parte integrante da economia de guerra dos países europeus, fornecendo matérias-primas, alimentos e soldados para a frente de batalha.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a participação dos indianos na guerra foram retirados de: Sâminer, I. The Indian Army 1914-1947. Oxford: Osprey Publishing, 2001. página 3.

Bê êne cê cê

Ao tratar da participação de africanos e de asiáticos na Primeira Guerra Mundial, tanto em solo europeu como na África e na Ásia, dos impactos econômicos e sociais do conflito sôbre esses continentes, assim como da parcialidade dos historiadores que costumam esquecer a presença desses sujeitos no conflito, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um zero e ê éfe zero nove agá ih um quatro e das Competências Específicas de História nº 1, nº 2, nº 4 e nº 5.

Como explica o jornalista português Manuel Carvalho, a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial foi vista como uma oportunidade para as tribos africanas mais organizadas recuperarem suas lutas por libertação. Quando os alemães invadiram Moçambique, por exemplo, encontraram nas tribos do norte do país, principalmente entre os macondes e os ajauas, apôio para desenvolver sua guerra de guerrilha contra os portugueses, que continuou após o armistício assinado nos últimos dias de novembro de 1918. Esses movimentos africanos de resistência à presença colonial europeia podiam ser observados também no norte da África, entre as populações muçulmanas, onde a deflagração do conflito estimulou o desenvolvimento do nacionalismo e o início de guerras religiosas contra a Europa. Essas fórmas de resistência foram muito importantes no Marrocos e na Líbia. A guerra se manifestava, portanto, como uma oportunidade para as populações africanas nativas se revoltarem contra o imperialismo europeu.

• Explique que um protetorado é um território ou país que, apesar de se manter como Estado independente, tem sua política externa controlada por outro. Em alguns casos, esse contrôle estende-se ao govêrno, bem como ao Poder Judiciário.

As mulheres e a Primeira Guerra Mundial

Há muitos textos sobre homens que atuaram como soldados, generais, algozes e libertadores na Primeira Guerra Mundial, mas as mulheres não são mencionadas. No entanto, é importante reconhecer que elas estiveram no centro do esforço de guerra, com papéis diversificados, em todas as nações europeias envolvidas no conflito.

Durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres estiveram à frente dos trabalhos até então desempenhados quase exclusivamente por homens. Com o recrutamento em massa dos homens para os campos de batalha, elas assumiram funções importantíssimas na agricultura, no comércio, na indústria e no setor de serviços.

Estima-se que em 1916, na França, por exemplo, 44% das granjas eram comandadas por mulheres. No início de 1918, aproximadamente quatrocentas mil operárias trabalhavam nas indústrias francesas. No Reino Unido, o crescimento do número de operárias foi ainda maior: aproximadamente metade do trabalho no país era feito por mulheres.

Além do trabalho nas indústrias (inclusive nas de armamentos), muitas se envolveram nas frentes de batalha diretamente, atuando como enfermeiras, auxiliares do exército, mecânicas de aviões, motoristas de caminhões e ambulâncias ou cozinheiras.

Esse aumento da atividade feminina em áreas até então dominadas por homens foi acompanhado por uma série de conquistas sociais e políticas. As mulheres se organizaram em movimentos e associações políticas distintas, como a União Social e Política das Mulheres (dáblio ésse pê u – sigla do nome em inglês, Women’s Social and Political Union), fundada por Emmeline Pankhurst. Assim, além de conseguirem melhores condições de trabalho, elas conquistaram o direito de frequentar universidades e de votar no Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1920.

Fotografia em preto e branco. Mulheres trabalhando em uma fábrica. À frente duas delas manuseiam um molde cilíndrico de ferro, pendurado em uma corda encaixada em uma roldana. Abaixo dele um cubo com a boca afunilada. Atrás delas uma mulher perto de uma bancada com vários cilindros.
Trabalhadoras de fábrica de munições, nos arredores de líverpul, Reino Unido. Foto de 1917.
Fotografia em preto e branco. Duas mulheres empurrando um barril deitado. Ao redor delas outros barris no chão.
Mulheres trabalhando na carga e descarga de produtos de uma companhia de trens comerciais na França. Foto de 1916.
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a participação das mulheres na guerra foram retirados de: Síman, B. War experiences in rural Germany: 1914-1923. Oxford: New York: Berg, 2007. página 217.

Bê êne cê cê

Ao questionar as narrativas feitas apenas do ponto de vista masculino, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Geral da Educação Básica nº 1, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 4.

Se possível, retome o cartaz de 1916 reproduzido na abertura do capítulo. Informe aos estudantes que uma das questões suscitadas na sociedade da época, quando fábricas de armamento e munição empregavam mulheres, dizia respeito a uma suposta perda de feminilidade decorrente da execução de serviços considerados masculinos. Por isso, em boa parte das peças publicitárias produzidas pelos governos envolvidos no conflito visando angariar mulheres no esforço de guerra, apela-se ao patriotismo para enfatizar esse trabalho como um serviço prestado ao país.

É possível questionar os estudantes sobre a presença de mulheres em reportagens de jornais e programas de televisão atualmente: “Como elas aparecerem, como coadjuvantes ou personagens principais?”, “ Será que esse aspecto se transformou positivamente com o passar dos anos?”. Esses são questionamentos que colaboram para ampliar as reflexões sobre o tema.

O fim da guerra e os acordos de paz

Como já mencionado, a partir de 1918 a Tríplice Aliança começou a acumular derrotas: enquanto soldados alemães e austríacos sofriam com a fome e a falta de recursos, a Entente recebia ajuda material e militar dos Estados Unidos.

Em setembro de 1918, os alemães começaram a perder aliados (Bulgária, Império Turco-Otomano e Império Austro-Húngaro), que saíram da guerra após uma série de revesesglossário . Problemas internos, relacionados à situação de carestiaglossário provocada pela guerra, também ameaçavam o Império Alemão: em várias cidades ocorriam greves e manifestações contrárias ao imperador Guilherme segundo.

Diante do caos instaurado na Europa, o Império Austro-Húngaro entrou em colapso e se desfez, dividindo-se em quatro Estados independentes: Áustria, Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia (Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos). Outra parte importante do território austro-húngaro foi incorporada pela Polônia.

No Império Alemão, uma revolução de inspiração socialista comandada por Rosa Luxemburgo e Cal Libiquinét, com ajuda de liberais descontentes, contribuiu para a queda do Segundo Raich. O imperador Guilherme segundo abdicou do trono e a monarquia cedeu espaço a uma república parlamentarista, conhecida pelo nome de República de Weimar. Sem condições de prosseguir no conflito, o novo governo decidiu desistir da guerra e assinou um armistícioglossário em 11 de novembro de 1918.

Com o fim do conflito, o presidente estadunidense Woodrow Wilson propôs, ainda em 1918, catorze pontos que deveriam orientar os acordos entre as nações europeias para evitar uma paz punitiva, pautada na vingança. Apesar dessa iniciativa, o forte revanchismo francês tornou as condições da rendição extremamente severas para os alemães.

Em 28 de junho de 1919, a paz com a Alemanha se materializou no Tratado de Versalhes. A Alemanha, considerada a única culpada pela guerra, teve de pagar pesadas indenizações aos países vitoriosos e renunciar a boa parte dos territórios em disputa ou sob seu contrôle.

Fotografia em preto e branco. Homem de terno e chapéu martelando capacetes. Alguns com um furo no centro estão empilhados à direita. Ao fundo, outros materiais aglomerados.
Destruição de capacetes e outros materiais de uso militar alemães após a assinatura do Tratado de Versalhes. Foto de 1919.
Respostas e comentários

BNCC

Ao tratar do fim da guerra e suas consequências, como a fome e a falta de recursos dos soldados alemães, o colapso do Império Austro-Húngaro, a revolução na Alemanha que levou à criação da República de Vaimar e o Tratado de Versalhes, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um zero.

Ampliando

O texto a seguir trata da participação direta das mulheres no front.

“[...] dóróti pegou na bicicleta e pedalou até à Frente Ocidental de guerra, em Calais, França. reticências Quando chegou à frente de combate, o acesso aos soldados e aos momentos mais mundanos da vida na frente de combate foi-lhe recusado – não só por ser jornalista, mas também por ser mulher. reticências Com a conivência de alguns soldados e depois de ter conseguido roubar uma farda, disfarçou-se de homem e assumiu o nome Denis Ismíf. reticências mas acabou por se entregar e revelar a fraude por receio de ser descoberta e prejudicar os colegas que a tinham encoberto. reticências

Tal como Dóroti Lóurence, também Milunca Sáviti fingiu ser um homem para se alistar no exército. reticências Quando a carta do exército sérvio chegou à casa dos Savić a exigir a presença imediata do irmão de Milunca na defesa da Sérvia na 2a Guerra dos Balcãs, decidiu que ia tomar o seu lugar, rapou o cabelo, vestiu roupa de homem e arranjou uma maneira de ocultar o peito. Na altura em que descobriram que era, na verdade, uma mulher, já era sargento.”

FERNANDES, ême Espias, cientistas, ativistas ou criptoanalistas: as histórias de 10 mulheres que marcaram a primeiro Guerra Mundial. Observador, 10 novembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/J60BbP. Acesso em: 11 maio 2022.

Curadoria

Tanques, aviões e rajadas de balas: terminada há cem anos, Primeira Guerra Mundial trouxe avanços inéditos de máquinas de destruição (Reportagem)

André Bernardo. BBC News Brasil, 11 novembro2018. Disponível em: https://oeds.link/PuXkm6. Acesso em: 11 maio 2022.

Nessa reportagem, André Bernardo trata das novas armas utilizadas na Primeira Guerra Mundial que, inovando tecnologicamente o cenário bélico, provocaram uma destruição até então inédita.

Outras consequências da guerra

Obedecendo a apenas um dos catorze pontos defendidos no plano internacional pelo presidente Woodrow Uílson, o Tratado de Versalhes e outros assinados na sequência deram margem à criação da Liga das Nações, instituição que a partir daquele momento deveria assegurar a paz internacional. A eficácia de sua atuação, entretanto, foi limitada: a imposição de tratados humilhantes alimentou movimentos nacionalistas em toda a Europa, principalmente na Alemanha.

Dos países envolvidos diretamente na guerra, apenas os Estados Unidos saíram fortalecidos. Sem um território para reconstruir e com suas indústrias preservadas, os estadunidenses entraram em um período de efervescência cultural e crescimento econômico.

Países como a Bélgica e a Sérvia, por sua vez, foram muito destruídos, e a França perdeu aproximadamente 18% de sua população no conflito. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. As estimativas variam entre 7 e 17 milhões de pessoas. Os feridos ultrapassaram os 20 milhões.

Nenhuma outra guerra até aquele momento havia alterado tanto o mapa da Europa. Quatro impérios desapareceram com o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Turco-Otomano e o Russo. Com eles, quatro importantes dinastias também caíram: a dos Roenzólen, a dos rábisburgo, a dos otomanos e a dos romanóv.

Os alemães perderam muitos territórios: todas as suas colônias, o território da Alsácia-Lorena (que voltou ao contrôle da França) e parte da antiga Prússia (cedida à Polônia, país fronteiriço). Além disso, o militarismo alemão sofreu forte abalo: o exército nacional foi reduzido drasticamente e a fronteira com a França (Renânia) foi desmilitarizada. Os alemães estavam ainda proibidos de ter marinha, aviação de guerra ou recrutamento militar.

Fotografia. Cemitério em uma área plana e verde. Cada túmulo tem uma cruz branca e flores vermelhas. Ao fundo, algumas árvores.
Museu e Memorial da Primeira Guerra Mundial, em Verdun, França. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O local mostrado nesta imagem abriga um cemitério onde o corpo de muitos soldados mortos na Batalha de Verdun está sepultado. Além disso, estão conservadas trincheiras e objetos usados pelos combatentes, com o objetivo de manter viva a memória do horror causado por uma guerra.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as vítimas na guerra foram retirados de: International Encyclopedia of the First World War. Disponível em: https://oeds.link/9vAr3g. Acesso em: 29 março 2022.

Atividade complementar

Explique aos estudantes que os soldados que lutaram a Primeira Guerra Mundial passaram muitos anos longe de seus entes queridos. Assim, uma fórma de tentar se reaproximar dessas pessoas, que esperavam o término da guerra para poderem se reencontrar, foi a troca de cartas. A correspondência foi uma maneira de os militares sobreviverem e amenizarem a distância e a saudade dos que ficaram em casa. Se possível, leve-os também a pensar sobre a situação dos refugiados, que na atualidade estão muitas vezes longe de seus familiares em razão de conflitos e guerras. Peça que pesquisem sobre algum conflito contemporâneo. Por fim, proponha aos estudantes que se coloquem no lugar dos indivíduos desse conflito e que escrevam uma carta contando para uma pessoa querida sobre o conflito, em que país se refugiaram e como estão vivendo.

• Na parte final do capítulo, as reflexões se voltam para a participação estadunidense no confronto e para os palcos de batalha fóra da Europa, particularmente na África, tema usualmente marginalizado no estudo da Primeira Guerra Mundial. Essa questão é abordada a partir de uma breve reflexão sobre história e memória. Além de abordar o impacto da guerra sobre o continente africano, o texto explora a relação direta do conflito com a conquista feminina de alguns direitos políticos e sociais, como o direito ao voto e ao ingresso nas universidades. Em seguida, as reflexões se voltam para o fim da guerra e a reorganização política da Europa no período pós-confronto, explorando as iniciativas dos Estados Unidos na criação de uma “paz sem vencedores nem vencidos” (os catorze pontos de Uílson) e as discussões que levaram à assinatura da paz com a Alemanha, materializada no Tratado de Versalhes.

É possível pedir aos estudantes que façam uma pesquisa sobre o Tratado de Versalhes, buscando informações sobre o conteúdo do documento e observando como alguns países saíram do conflito muito prejudicados, apesar de o fim da guerra proposto por Uílson ser de uma paz sem vencedores ou vencidos.

Muitas das posses territoriais do Império Turco-Otomano na África e no Oriente Médio passaram para o domínio britânico e francês. Entre as possessões otomanas estava a região da Palestina. Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos fizeram incursões na Península Arábica com o objetivo de conseguir o apôio dos povos árabes na luta contra o Império Turco-Otomano. Esse apôio militar contribuiu muito para o sucesso do Reino Unido nas campanhas no Oriente Médio contra os otomanos.

Nos anos finais do conflito, os britânicos, que contavam com o apôio dos árabes nas lutas no Oriente Médio, aproximaram-se do movimento sionistaglossário judaico. Em troca de ajuda financeira, o govêrno britânico prometeu aos sionistas que facilitaria o estabelecimento na região de um Estado judaico após vencer a guerra e controlar a Palestina. Assim, em 1917, os britânicos assinaram a Declaração de Balfour, obtendo o apoio da comunidade judaica internacional ao esforço de guerra e às pretensões britânicas de controlar áreas no Oriente Médio.

Dessa fórma, ao fim da Primeira Guerra Mundial, após a Palestina tornar-se um protetorado do Reino Unido, os britânicos tiveram de administrar demandas de árabes e de judeus sobre o território, mas não obtiveram sucesso. Atentados e rebeliões de ambos os lados ocorreram na Palestina. Anos depois, em 1948, os britânicos deixaram a região e foi proclamado o Estado de Israel. O conflito entre árabes e judeus na região (denominado Questão Palestina), porém, dura até os dias de hoje.

Europa após a Primeira Guerra Mundial

Mapa. Europa após a Primeira Guerra Mundial. Destaque para o continente europeu. Legenda. Verde: Rússia soviética. Laranja: Perdas do Império Russo. Roxo: Alemanha, Vermelho: Perdas do Império Alemão. Rosa: Áustria. Amarelo: Perdas do Império Austro-Húngaro. No mapa. Rússia Soviética: território da Rússia pós-revolução. Perdas do Império Russo: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e pequeno trecho ao leste da Romênia. Alemanha: território da Alemanha pós-primeira guerra. Perdas do Império Alemão: Alsácia-Lorena e Corredor polonês, território da Polônia entre os dois trechos do território alemão. Áustria: território da Áustria pós-primeira guerra. Perdas do Império Austro-Húngaro: Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, pequeno trecho ao norte da Itália e boa parte do território da Romênia, no oeste deste país. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 550 quilômetros.
 

FONTE: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. É possível afirmar que a guerra afetou outros continentes além do europeu? Justifique.
  2. Descreva o papel das mulheres envolvidas nos conflitos da Primeira Guerra Mundial.
  3. Qual foi a proposta de Woodrow Uílson para os acordos de paz ao final da guerra? Esse plano foi colocado em prática? Justifique.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Sim, pois países envolvidos na guerra tinham colônias na África e Ásia, e parte da guerra ocorreu na África. Estima-se que mais de 2 milhões de africanos tenham se envolvido no conflito, dentro e fóra de seus países de origem, como soldados, carregadores, cozinheiros, informantes ou enfermeiros. Os efeitos do recrutamento em massa fizeram-se sentir nas comunidades locais, especialmente nas atividades agrícolas. 

2. As mulheres estiveram no centro dos esforços de guerra. Elas desempenharam funções importantíssimas na agricultura, no comércio e no setor de serviços e se envolveram nas frentes de batalha, atuando como enfermeiras, motoristas, auxiliares do exército, mecânicas de aviões ou cozinheiras.

3. No início de 1918, o presidente estadunidense Woodrow Uílson divulgou um plano com catorze pontos que deveria orientar o restabelecimento da paz entre as nações europeias. O lema objetivava evitar uma paz punitiva, que fosse pautada na lógica do revanchismo e da vingança. As ideias foram parcialmente colocadas em prática. Houve um esforço para criar a Liga das Nações, mas o revanchismo francês deu margem à assinatura do Tratado de Versalhes, um acordo considerado impositivo que relegava a Alemanha à posição de única culpada pela guerra.

Orientação para as atividades

Os processos exigidos, como discutir uma afirmação apresentando uma justificativa e explicar e definir um evento, já são conhecidos dos estudantes. Valorize as respostas de acordo com sua complexidade, tendo em vista o desenvolvimento diferencial do letramento. Note ainda que as atividades 1 e 3 demandam discutir uma proposição a ser acolhida ou refutada. Além disso, as atividades 1 e 2 tocam temas importantes para o questionamento de uma visão eurocêntrica e masculina da história. As atividades, portanto, desenvolvem elementos lógicos e éticos para uma história mais plural.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Analise os mapas apresentados a seguir. Eles indicam as fronteiras políticas do continente europeu antes e depois da Primeira Guerra Mundial.

Mapa. 1914. Divisão política do território europeu em 1914. Países: Império Austro-Húngaro, Romênia, Espanha, Portugal, França, Itália, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Suíça, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido, Irlanda, Bulgária, Império Turco-Otomano, Império Alemão, Noruega, Islândia, Dinamarca, Suécia, Império Russo. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros. Mapa. 1914. Divisão política do território europeu em 1914. Países: Império Austro-Húngaro, Romênia, Espanha, Portugal, França, Itália, Montenegro, Sérvia, Albânia, Grécia, Suíça, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido, Irlanda, Bulgária, Império Turco-Otomano, Império Alemão, Noruega, Islândia, Dinamarca, Suécia, Império Russo. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros.Mapa. 1918. Divisão política do território europeu em 1918. Países: Alemanha, Suécia, Finlândia, Rússia Soviética, Suíça, Hungria, Bélgica, Romênia, Itália, Portugal, Espanha, Bulgária, Noruega, Dinamarca, Polônia, França, Iugoslávia, Albânia, Turquia, Grécia, Áustria, Estônia, Letônia, Lituânia, Países Baixos, Alemanha (Prússia), Tchecoslováquia, Irlanda, Reino Unido, Islândia. No canto esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 570 quilômetros.

FONTES: Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52; Chalhán, G.; Rajô, J.-P. Atlas stratégique. Paris: Complexe, 1988. página 34; enciclopédia Britânica DO BRASIL. Atlas histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.

  • Com base nos mapas, explique pelo menos duas grandes transformações ocorridas na Europa após o término do conflito.
  1. Sobre a participação dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, copie no caderno a alternativa correta.
    1. Desde o início dos confrontos na Europa, o govêrno estadunidense mobilizou seu contingente militar em favor da Tríplice Aliança.
    2. Mesmo sendo parte da Tríplice Entente, até 1915 o govêrno estadunidense adotou uma posição de neutralidade no confronto.
    3. Em janeiro de 1917, o Império Alemão começou a afundar navios mercantes estadunidenses que cruzavam o Oceano Atlântico. Essa ofensiva precipitou a entrada dos Estados Unidos na guerra em abril do mesmo ano.
    4. Assim como os países europeus, os Estados Unidos foram alvo de numerosas batalhas e boa parte de seu território foi destruída.
    5. A participação dos Estados Unidos na guerra foi irrelevante em razão do baixo orçamento disponibilizado pelo govêrno.

Aprofundando

3. Analise o quadro a seguir, em que são representados os gastos militares das principais potências europeias entre o fim do século dezenove e o início do século vinte.

Gastos militares – 1880-1914*

Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Reino Unido, Império Russo, Itália e França

1880

132

1890

158

1900

205

1910

288

1914

397

* Em milhões de libras esterlinas.

FONTE: róbisbáum, E. J. A era dos impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. página 479.

  • Com base nos dados apresentados, explique a expressão Paz Armada.

4. No gráfico a seguir é indicado o número de mortos por país durante a Primeira Guerra Mundial. Analise-o e, em seguida, faça as atividades propostas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A atividade 6 mobiliza os procedimentos próprios da atitude historiadora, possibilitando o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 2, nº 7 e nº 8, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1, nº 4 e nº 5 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 3.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao questionar as desigualdades entre homens e mulheres na atualidade, combatendo os preconceitos em torno das condições e capacidades femininas, a atividade 6 pode ser relacionada ao Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.

Atividades

Organize suas ideias

1. Quatro impérios desapareceram com o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Otomano e o Russo. A Alemanha teve de ceder a Alsácia-Lorena (que voltou ao contrôle da França) e parte da antiga Prússia (à Polônia).

2. Alternativa c.

Aprofundando

3. A expressão Paz Armada faz referência ao período anterior à eclosão da Primeira Guerra Mundial, no qual não se verificou nenhum grande conflito na Europa nas últimas décadas, mas houve forte desenvolvimento da indústria bélica e crescente tensão nas relações internacionais. Os dados apresentados no quadro reforçam o aumento exponencial dos gastos militares pelos principais países envolvidos no conflito.

Perdas humanas na Primeira Guerra Mundial

Gráfico com barras vermelhas na horizontal. Perdas humanas na Primeira Guerra Mundial.  Alemanha: 1.808.500; Rússia: 1.700.000; França: 1.385.000; Áustria-Hungria: 1.200.000; Reino Unido: 947.000; Itália: 460.000; Sérvia: 360.000; Turquia: 325.000; Romênia: 250.000; Estados Unidos: 115.000.

FONTE: ríguelmân, W.; quínder, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 402.

  1. Que países sofreram mais perdas humanas durante a guerra?
  2. Com base no que você estudou, indique dois fatores que contribuíram para que esse número fosse tão alto.
  3. Levando em consideração os dados apresentados, explique o contexto político, econômico e social da França, do Reino Unido, da Rússia e dos Estados Unidos ao final do confronto.

5. Leia o texto e analise a imagem a seguir. Depois, faça o que se pede.

“Trata-se de um penny britânico com o elegante perfil do rei Eduardo sétimo, mas sua imagem foi alterada por um gesto que então consistia em um crime. Inscritas por toda a cabeça do rei estão as palavras VOTES FOR WOMEN [Votos para as mulheres]. Esta moeda sufragista simboliza todas as pessoas que lutaram pelo direito ao voto. reticências

reticências Desfigurar moedas era apenas uma dentre muitas táticas, mas a escolha do penny foi especialmente engenhosa: pennies de bronze de valores pequenos, com o mesmo diâmetro de uma moeda moderna de duas libras, eram grandes o suficiente para ostentar letras facilmente legíveis, mas numerosos demais para serem recolhidos pelos bancos, garantindo assim que a mensagem na moeda circulasse de modo amplo e indefinido.

reticências A campanha das sufragistas foi interrompida pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, mas a guerra em si ofereceu fortes argumentos, na verdade decisivos, para conceder às mulheres o direito ao voto. De súbito, as mulheres tiveram a oportunidade de pôr à prova sua capacidade em ambientes tradicionalmente masculinos reticências.”

MACGREGOR, N. A história do mundo em 100 objetos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. página 681-688.

Fotografia. Moeda com inscrições na borda e no centro o busto de perfil de um homem careca com barba e bigode cheios. Sobre a imagem a inscrição com a frase: VOTES FOR WOMEN.
Moeda (penny) de 1903 com a representação do busto do rei Eduardo sétimo e a inscrição “Votos para mulheres”.
  1. Como o movimento sufragista se apropriou da moeda britânica?
  2. Por que essa apropriação pode ser considerada altamente subversiva?
  3. Que relações podem ser estabelecidas entre a Primeira Guerra Mundial e a conquista do voto pelas mulheres?
  1. Junte-se a quatro colegas e pesquisem imagens de mulheres no período da Primeira Guerra Mundial. Podem ter relação direta com o conflito (por exemplo, na linha de montagem de fábrica de armamentos, motoristas de ambulâncias em campos de batalha etcétera) ou indireta (realizando atividades como alimentar fornos de carvão, trabalhar na construção civil ê tê cê ponto). Selecionem uma dessas duas categorias e reúnam cinco imagens. Produzam uma apresentação contextualizando as imagens (com indicação da fonte, da data aproximada e do local em que cada fotografia foi feita, descrição ê tê cê ponto). Depois da apresentação de todos os grupos, debatam as seguintes questões:
    • A difusão dessas imagens pode ter contribuído para que as mulheres alcançassem mais independência e direitos?
    • De que modo as mulheres são representadas hoje em dia ao executar tarefas como as das imagens?
    • Hoje em dia há profissões consideradas adequadas apenas para homens? Por quê?
    • O que vocês podem fazer para combater as ideias preconceituosas de que as mulheres são menos capazes que os homens para desempenhar certas tarefas?
Respostas e comentários

4. a) Alemanha, Rússia, França, Áustria-Hungria e Reino Unido.

b) O uso de trincheiras tornou o conflito estático, desgastante e potencialmente letal. Outro ponto importante foi o uso de tecnologia aplicada ao setor de armamentos.

c) França e Reino Unido, apesar de estarem do lado vencedor da guerra, saíram do conflito com boa parte de seus parques industriais e territórios atingidos e sofreram perdas humanas significativas. A Rússia, devastada pelo confronto, atravessou momentos de grave crise econômica e social em razão do ambiente de carestia provocado pelo conflito. Apenas os Estados Unidos saíram fortalecidos do confronto. Com seu parque industrial preservado, os estadunidenses ingressaram em um período de efervescência cultural e crescimento econômico.

5. a) As mulheres se apropriaram da moeda inscrevendo nela um slogan de protesto. O perfil do rei Eduardo sétimo foi alterado pela inscrição das palavras VOTES FOR WOMEN (Votos para as mulheres).

b) Porque as mulheres inscreveram seu slogan de protesto sobre a face do rei, em letras maiúsculas. Trata-se, simbolicamente, da desfiguração do rei. Além disso, a adulteração das moedas era, por si só, um crime.

c) Embora a campanha das sufragistas tenha sido interrompida pela eclosão da Grande Guerra, durante o conflito elas tiveram a oportunidade de atuar em ambientes tradicionalmente masculinos: da medicina aos campos de batalha, das fábricas aos trasportes. Ao fim da guerra, isso contribuiu favoravelmente para a conquista de direitos políticos.

6. A atividade solicita a pesquisa e a análise de imagens históricas, relacionando-as ao modo como as mulheres são representadas na atualidade. Além disso, essas questões podem articular um debate sobre as noções de inferioridade/superioridade de um gênero sobre o outro. Na primeira parte da atividade o professor deve se certificar de que os estudantes reuniram as informações sobre produção, local e publicação das imagens, salientando a importância de citar as fontes que são utilizadas nas pesquisas. Na segunda parte, que compreende o debate, auxilie-os a desenvolver diálogos baseados nas fontes pesquisadas e em habilidades como a empatia, a tolerância e o trabalho colaborativo. Incentive-os a pensar em como as mulheres são representadas como profissionais em novelas, seriados, revistas e anúncios publicitários. Por fim, para debater o combate às ideias que sustentam a inferioridade das mulheres na execução de certas atividades e profissões, mencione a importância de aspectos como a igualdade de oportunidades e de salários, assim como a necessidade de superar discursos que relacionam, por exemplo, a naturalidade dos homens como líderes e das mulheres como melhores nos afazeres de casa.

Glossário

Segundo Reich
: Segundo Império Alemão, que se configurou no período da unificação do país, em 1871, e se estendeu até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. A denominação deve-se à associação desse período com o do Primeiro Reich, termo usado para se referir ao Sacro Império Romano-Germânico, que teve início em 962 e se desintegrou em 1806. O termo pode ser traduzido por “império” ou “reino”.
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Happy end
: nesse caso, referência ao final feliz de livros e filmes, em que todos os personagens resolvem seus conflitos, ou seja, encontram uma solução para os problemas enfrentados durante a narrativa, alcançando a felicidade.
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Desmantelar
: desmontar, desfazer, desmanchar.
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Revés
: problema, impasse, dilema.
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Carestia
: escassez, falta, privação.
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Armistício
: cessar-fogo, suspensão da guerra.
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Movimento sionista
: cessar-fogo, suspensão da guerra movimento político que ganhou impulso em 1897, com a realização do primeiro Congresso Sionista Mundial na Basileia, na Suíça. O evento teve como inspiração as ideias do jornalista Theodor Herzl, que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado nacional judaico no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel.
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