CAPÍTULO 3 México e Rússia no início do século vinte

O direito à vida, ao corpo, à terra e ao trabalho é garantido em documentos, códigos e leis de diversos países. Na prática, porém, muitos direitos são negados a grande parte da população mundial. Diante dessa situação, vários grupos organizam movimentos para lutar por justiça social e acesso à plena cidadania, como os que participaram das manifestações registradas nas imagens desta página.

Fotografia. Grupo de homens e mulheres em uma manifestação na rua. Alguns usam máscara facial. Carregam cartazes com os dizeres: AGROECOLOGIA JÁ NÃO É UMA ALTERNATIVA, É A ÚNICA POSSIBILIDADE e AGROECOLOGIA CONTRA O RACISMO AMBIENTAL.
Manifestação de integrantes do ême ésse tê em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2022.
Fotografia. Indígenas reunidos em um protesto. Alguns usam cocares sobre a cabeça. À frente, um grande cartaz vermelho com os dizeres: SANGUE INDÍGENA, NENHUMA GOTA A MAIS.
Protesto de grupos indígenas em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (ême ésse tê), responsável pela manifestação retratada na foto de 2022, é uma organização de ativismo político e social que tem como foco a resolução de problemas enfrentados pelos camponeses. Também no campo são comuns conflitos que afetam os mais diversos povos indígenas. Um exemplo disso são as constantes tensões envolvendo seus territórios.

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Que relação é possível estabelecer entre os movimentos sociais e os processos revolucionários?
  2. Em sua opinião, por que as revoluções acontecem?
  3. Uma revolução pode ter como motivo o retorno a uma situação anterior ou sempre está ligada à ideia de mudança para algo novo? Justifique.
Respostas e comentários

Abertura

Na abertura, é estabelecida uma relação entre movimentos sociais e processos revolucionários. As imagens atuais servem de convite a uma reflexão histórica sobre a noção de revolução.

Atividades

1. Movimentos sociais são ações coletivas e organizadas para lutar, por exemplo, por pautas como o direito à terra, ao trabalho, à moradia, ao corpo, à vida e à preservação do meio ambiente. Objetivam transformar a ordem social, econômica, cultural ou política vigente. Fazem parte de regimes democráticos, mas, em situações específicas, podem dar origem a processos revolucionários. Os dois casos que os estudantes verão neste capítulo – as Revoluções Mexicana e Russa – contaram com a participação efetiva de trabalhadores urbanos e rurais organizados em movimentos sociais.

2. Espera-se que os estudantes vinculem processos revolucionários a uma série de aspirações políticas e sociais. Revoluções geralmente se apresentam como momentos de inflexão do processo histórico, sinalizando rupturas. É possível que os estudantes apontem diversas motivações políticas (autoritarismo dos reis), econômicas (crises financeiras) ou sociais (desigualdades e privilégios) como a origem das revoluções.

3. O conceito de revolução já foi explorado nos capítulos 1 e 4 do volume do 8º ano desta coleção, com a abordagem dos processos revolucionários dos séculos dezessete e dezoito. Relembre aos estudantes que, até o início da Idade Moderna, o termo estava associado à ideia de retorno (movimento dos corpos celestes). Sua identificação com grandes transformações políticas se consolidou após os eventos revolucionários na França do século dezoito. É possível indicar processos revolucionários que se iniciaram com o desejo de restauração de uma ordem anterior (como a Revolução Gloriosa, por exemplo) e, depois, indicar a Revolução Francesa como uma quebra de paradigma no entendimento desse conceito.

Bê êne cê cê

Ao mobilizar o conceito histórico de revolução, o conteúdo da abertura contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6.

A Revolução Mexicana

Entre 1910 e 1917, o México foi palco da primeira revolução do século vinte. Esse movimento colocou em evidência alguns dos problemas da América Latina: a luta pelo direito à terra, o autoritarismo político e os conflitos étnicos.

Homens e mulheres camponeses, trabalhadores urbanos e rurais, muitos deles indígenas ou descendentes de indígenas, que até aquele momento se viam excluídos pelo govêrno mexicano, ocuparam o centro do debate político no país.

Embora não tenha sido exclusivamente popular, a Revolução Mexicana deu origem a uma nova relação entre o Estado e os setores da sociedade historicamente excluídos. Frutos de debates e lutas ocorridos no período, as leis do México pós-revolução foram as primeiras do mundo a incluir direitos trabalhistas e a prever um amplo programa de reforma agrária.

O porfiriato

Entre o final do século dezenove e o início do século vinte, viviam no México aproximadamente 14 milhões de pessoas. O país estava passando por um acelerado processo de urbanização, mas a maior parte da população vivia no campo. Na época, o presidente da república era Porfirio Díaz, um veterano das guerras civis que assolaram o país na segunda metade do século dezenove. Seu govêrno, chamado porfiriato, durou mais de três décadas e foi marcado por muitas tensões políticas e sociais.

Fotografia em sépia. Porfirio Díaz, senhor de cabeça arredondada, cabelos curtos brancos, olhos pequenos e bigode branco e longo. Veste farda militar com ombreiras e broches.
Porfírio Dias na Cidade do México, cêrca de1910.
Pintura. Grupo de pessoas reunidas. À direita, mulheres e homens não armados. No centro, homens armados, usando grandes chapéus e carregando cartucheiras penduradas no corpo.
Detalhe do mural Do porfirismo à revolução: o povo em armas, de Deivid Alfaro Siqueiros, produzido entre 1957 e 1966.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Deivid Alfaro Siqueiros foi um dos principais participantes do muralismo mexicano, movimento artístico que começou após a Revolução Mexicana. Com temática fortemente social, os muralistas produziram obras em que camponeses, indígenas e trabalhadores eram os protagonistas. Na parte do mural Do porfirismo à revolução: o povo em armas reproduzida na imagem são representados os vários exércitos envolvidos na Revolução Mexicana.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a população mexicana foram retirados de: PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. página 103.

Objetivos do capítulo

Analisar as características políticas, econômicas e sociais do México e do Império Russo antes dos processos revolucionários.

Caracterizar os diversos atores e interesses políticos em confronto durante a Revolução Mexicana.

Analisar os desdobramentos da revolução no México e as novidades introduzidas pela Constituição de 1917.

Relacionar a participação russa na Primeira Guerra Mundial aos eventos políticos, econômicos e sociais que contribuíram para a queda do quizarismo em 1917.

Caracterizar as dissidências políticas entre os participantes da Revolução de 1917, com destaque às pautas de mencheviques e bolcheviques.

Analisar as propostas políticas do governo bolchevique a partir da Revolução de Outubro e os impactos da guerra civil decorrente desse processo revolucionário.

Caracterizar as disputas políticas entre Trotsky e Stálin após a morte de Lênin, em 1924.

Justificativa

Os objetivos desse capítulo almejam sensibilizar os estudantes para a importância que os movimentos de contestação social, política e econômica possuem no desenvolvimento de processos revolucionários, demonstrando os contextos e as transformações causadas por duas revoluções do século vinte, com impactos que foram sentidos mundialmente e efeitos que podem ser percebidos ainda hoje. A caracterização dos diversos grupos envolvidos nas disputas pelo poder incentiva o desenvolvimento de procedimentos como o de identificação e contextualização, assim como a autonomia de pensamento, uma vez que incentiva os estudantes a compreender que os indivíduos e as coletividades agem no mundo em que vivem sempre inseridos em tempos e contextos específicos.

A obra artística de Deivid Alfaro Siqueiros está intrinsecamente relacionada à sua atividade política. Com 15 anos ele se mudou para a Cidade do México para estudar arte na Escola Nacional Preparatória e na Academia de São Carlos. Um ano depois se alistou no Exército Constitucionalista sob as ordens do general Manuel Diêgues, retomando seus estudos em 1917. Durante a década de 1920 executou seus primeiros murais no Colégio Chico da Escola Nacional Preparatória, época em que foi preso diversas vezes devido à sua participação em lutas sindicais. Depois de produzir algumas de suas obras mais importantes, como o mural Do Porfirismo à revolução, foi preso novamente na década de 1960, e, após ser liberado, produziu suas maiores obras, como A Marcha da Humanidade.

Modernização e contradições no México de Porfírio

Durante o porfiriato, em razão do investimento de capitais e empresas estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos, ocorreu grande desenvolvimento econômico no México. Milhares de quilômetros de ferrovias foram construídos no país. Além disso, o crescimento do comércio exterior e a exploração de petróleo e de metais como o cobre, o chumbo e o zinco impulsionaram a industrialização.

Entretanto, o processo de expansão das linhas ferroviárias e da agricultura de exportação foi marcado por concentração de riquezas e expropriação dos camponeses de suas terras. Em 1906, oito pessoas eram donas de mais de 10% das terras mexicanas. Nesse cenário, os trabalhadores rurais foram obrigados a deixar o campo ou a trabalhar como peões nas fazendas agroexportadoras.

Porfirio e o autoritarismo

Porfírio Dias comandava o país de fórma autoritária. Reprimia com violência as contestações organizadas por trabalhadores urbanos e do campo, além de agir para desarticular a oposição política. Em 1910, momento em que o México se preparava para celebrar seu centenário de independência, Porfírio Dias apresentou-se novamente como candidato à Presidência da República. Ele estava no poder desde 1884 e somava seis mandatos consecutivos.

O candidato da oposição era Francisco Madero. Embora ligado a setores latifundiários do norte do México não alinhados ao govêrno, Madero contava com o apôio e a simpatia de muitos mexicanos descontentes com a situação política do país.

As eleições estavam marcadas para julho de 1910. No entanto, um pouco antes do processo eleitoral, Madero foi preso por ser acusado de incentivo à rebelião. días foi eleito mais uma vez e Madero, posto em liberdade condicional. Com ajuda de ferroviários simpatizantes de sua causa, ele cruzou clandestinamente a fronteira do México com os Estados Unidos e se instalou em sân Antonio, no Texas. De lá, começou a organizar uma rebelião armada.

Fotografia em preto e branco. Pessoas reunidas em frente a um prédio. Eles observam alguns homens na sacada, no andar de cima.
Trabalhadores do setor têxtil durante greve emRio Blanco, no estado de Veracruz, México. Foto de 1907.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O grande crescimento observado em algumas cidades mexicanas era acompanhado da alta constante nos preços de alimentos. Diante desse cenário e das condições precárias de trabalho, jornais e publicações anarquistas promoveram a organização dos operários no México, no início do século vinte.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre concentração de terras no México em 1906 foram retirados de: PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. página 102-104.

Bê êne cê cê

Ao tratar da modernização mexicana avançando sobre os territórios dos trabalhadores rurais, que precisaram deixar o campo ou trabalhar em fazendas agroexportadoras, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 5.

Ampliando

Leia o texto sobre a questão das demarcações de terra.

“Depois que Porfírio Dias assumiu o poder, acentuaram-se as medidas para a ampliação legal da propriedade privada da terra. Na década de 1880, as chamadas leis de colonização dos ‘baldios’ (terras devolutas do Estado) provocaram uma grande concentração da terra em mãos de poucos proprietários. Esse processo foi comandado por companhias que ‘demarcavam’ extensas porções de terras, alegando que elas pertenciam ao Estado. Essas companhias tinham, por contrato, o direito de ficar com boa parte das terras consideradas devolutas.”

PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. página 102-104.

Explicite a relação entre modernização econômica – entendida aqui como a construção de ferrovias e estradas para facilitar o escoamento da produção e o crescimento das terras destinadas à agricultura de exportação – e a intensificação das revoltas e levantes indígenas no México, indicando que esse processo ocorreu grosso modo por toda a América Latina no mesmo período. Um paralelo a ser estabelecido seria com o Brasil imperial: a expansão da cafeicultura e das ferrovias promoveram a depopulação e a extinção de povos originários no sudeste do país.

É importante refletir sobre o papel dos trens durante a Revolução Mexicana: foram símbolos do porfiriato e fundamentais no deslocamento das tropas e exércitos rebeldes nos conflitos.

A ausência de legislação trabalhista no México fazia com que as relações de trabalho assalariado ficassem sujeitas a todo tipo de abusos e arbitrariedades na exploração da mão de obra, levando eventualmente a conflagração de greves, como a do operariado têxtil de Rio Blanco. Os trabalhadores da indústria são um dos novos atores sociais derivados da modernização econômica mexicana que vão crescer em importância com o avanço do século vinte.

Cabe destacar aos estudantes que as medidas de privatização da terra de Porfírio Dias estavam associadas à eliminação gradual das terras comunais. Isso é importante para compreender a grande participação de camponeses, de origem indígena, no processo revolucionário mexicano.

O início da revolução

Você já imaginou uma revolução com dia e hora certos para começar? Pois foi o que aconteceu no México! No exílio, Madero escreveu um manifesto convocando todos os mexicanos para pegar em armas e derrubar o porfiriato no dia 20 de novembro de 1910, às 6 horas da tarde.

Diferentes setores da sociedade mexicana atenderam ao chamado. Ocorreram, então, revoltas em todo o país. Diante da situação, em 1911, Porfírio Diasrenunciou e Francisco Madero foi eleito presidente.

As muitas faces da revolução

O gatilho da revolução foi acionado por uma questão eleitoral, porém foram as demandas sociais, especialmente as do campo, que lhe deram sustentação. Nesse aspecto reside uma das características mais importantes da Revolução Mexicana: ela foi um movimento plural, formado por diferentes líderes, com expectativas distintas.

Para o círculo mais imediato de Madero, a revolução significava o restabelecimento de eleições periódicas. Com a renúncia de Porfírio Dias, era chegado o momento de deixar as armas e retornar à normalidade.

Mas uma parte considerável dos mexicanos acreditava que o processo revolucionário não devia ser interrompido. Era o caso de um grupo de trabalhadores rurais do estado de Morélos. Seu líder, Emiliano Zapata, homem de origem indígena para quem a garantia do direito à terra era central, manteve suas forças mobilizadas mesmo sem o consentimento de Madero.

Fotografia em preto e branco. Emiliano Zapata ao centro, sentado de pernas cruzadas. Veste camisa clara e um terno escuro aberto. Usa um grande chapéu redondo. Sentados ao lado dele um militar e um homem de bigode e chapéu grande.  Ao redor deles, em pé, outros homens de chapéu. Alguns seguram armas.
Emiliano Zapata (sentado ao centro) e outros combatentes durante a Revolução Mexicana. Foto de 1914.
Fotografia. Jornais antigos sobrepostos. Na parte superior o título. Abaixo colunas com textos.
Exemplares do jornal mexicano La Regeneración, publicados em 1914.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em 25 de novembro de 1911, Zapata, com ajuda de um professor chamado Otilio Montaño, redigiu o Plano de Ayala. No texto, ele exigia a recuperação imediata das terras tomadas dos camponeses durante o porfiriato. Percebem-se na liderança de Zapata princípios do anarquismo mesclados a tradições indígenas locais, como a posse comunitária da terra e a autogestão. Ideias como essas circulavam pelo México por meio da imprensa.

Respostas e comentários

O Plano de Ayala representa a circulação de ideias e o papel da imprensa no México revolucionário. Foi um manifesto de camponeses com acesso precário às letras, mas que se apropriaram de parte do repertório político de intelectuais urbanos da Cidade do México e o decodificaram. Sua linguagem política, embora imersa no mundo rural, extrapolava o universo camponês. Zapata percorreu povoados vizinhos e leu o plano para outras lideranças locais. Uma cópia do texto, enviada para a Cidade do México, foi publicada em jornais, e as tiragens se esgotaram rapidamente. Jornais como La patria, comandado por Irineo Paz, avô do poeta mexicano Otávio Paz, definiram Zapata como “o tristemente celebrado Átila do Sul”, em referência ao personagem histórico, associando-o à barbárie e à violência. Para obter mais informações sobre o assunto, leia: Cráuse, E. Os redentores: ideias e poder na América Latina. São Paulo: Benvirá, 2011. página 154.

No Exército Libertador do Sul, liderado por Zapata, não havia uma elite militar, e as decisões eram pautadas na lógica do pueblo, com participação direta da comunidade. Os uniformes eram de algodão cru, vestimentas próprias dos camponeses do centro-sul do México. Com esse projeto camponês de revolução, os zapatistas pretendiam recuperar prerrogativas que haviam se perdido em face da modernização orquestrada pelo govêrno de O que estava em jôgo, portanto, era a recuperação de antigas fórmas de vida ameaçadas pelo Estado liberal mexicano.

Ampliando

O texto dos historiadores Carlos Alberto Sampaio Barbosa e Maria Aparecida de Souza Lopes apresenta os diferentes objetivos dos participantes da Revolução Mexicana.

naite identifica quatro programas ideológicos que estiveram em disputa desde o princípio da revolução até a construção do Estado pós-revolucionário: o velho regime sustentado por figuras como Porfírio Diase ; os civis liberais representados por Francisco Madero; os movimentos populares liderados por Francisco vila e Emiliano Zapata; e a síntese nacional na qual se destacaram Venustiano Carranza, Álvaro Obregôn e Plutarco

BARBOSA, C. A. S.; LOPES, M. A. de S. A historiografia da Revolução Mexicana no limiar do século vinte e um: tendências gerais e novas perspectivas. História, São Paulo, volume 20, página 187, 2001.

Violência e pacificação no México revolucionário

Em 1913, Madero sofreu um golpe de Estado e foi fuzilado. Viquitoriano Uêrta, com apôio direto dos Estados Unidos, assumiu o govêrno e promoveu o retorno ao poder de grupos ligados ao porfiriato. Contra ele, outras lideranças se insurgiram. No norte do país, destacaram-se as forças comandadas por Pancho Villa, que reunia milhares de pessoas (militares e trabalhadores rurais e urbanos), e as de Venustiano Carranza, representantes dos grandes fazendeiros.

A união entre Zapata, Villa e Carranza derrotou as forças de . Em 1914, esses líderes se reuniram na cidade de Aguascalientes para discutir o futuro político do México. Carranza esperava ser aclamado presidente, mas foi desautorizado por vila e Zapata, cada vez mais próximos por causa de objetivos comuns, como a reforma agrária.

Apesar da aliança inicial, vila e Zapata também se desentenderam. Isso abriu espaço para o projeto de Carranza, que, com a ajuda de Álvaro Obregôn, consolidou sua autoridade sobre o México.

Entre 1915 e 1916, Obregón perseguiu e reprimiu a oposição, levando à morte milhares de pessoas, incluindo vila e Zapata.

Fotografia em preto e branco. Grupo de mulheres na parte baixa de uma colina. Estão empunhando e apontando armas de cano longo para o alto, à direita.
Grupo de soldaderas conhecido como Las Adelítas, durante a Revolução Mexicana. Foto de 1911.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Durante a revolução, as mulheres desempenharam papel fundamental nos campos de batalha, como soldadas, ou atuaram como cozinheiras e auxiliares das tropas. Muitas indígenas, mestiças e camponesas endossaram a luta por terra e a reforma agrária no México. Na foto foi retratado um grupo de soldaderas. Apesar de ocupar cargos subalternos na hierarquia militar, nos exércitos zapatistas elas chegaram a desempenhar funções como a de coronel.

Dica

póde kést

Mulheres e relações de gênero na América Latina do século dezenove, com Stella Maris Franco (úspi)

Canal Hora Americana, 9. Brasil, 3 outubro 2020. Duração: 55 minutos Disponível em: https://oeds.link/Xdphgz. Acesso em: 6 abril 2022.

Nesse podcast, abordam-se aspectos da Revolução Mexicana e a participação das mulheres em processos revolucionários e políticos da América Latina.

Respostas e comentários

Em 1º de janeiro de 1994, houve uma mudança na Constituição mexicana: foi eliminada parte das conquistas sociais garantidas por meio do processo revolucionário que culminou no documento de 1917. Isso foi feito para possibilitar a entrada do México no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (náfta), bloco econômico formado com o Canadá e os Estados Unidos. Nesse mesmo ano, utilizando a figura mitificada de Zapata, formou-se o movimento zapatista, liderado pelo Subcomandante Marcos, que contestava a injustiça social, o ataque aos direitos indígenas e as mudanças constitucionais ocorridas no México. O movimento se originou no estado de Tiápas, o de maior número de indígenas e, de acordo com dados divulgados em 2021 pela ôngui México Social, que entre outras funções monitora as condições de vida em diferentes regiões do México, o mais pobre do país.

Curadoria

México insurgente (Livro)

djôn ríd. São Paulo: Boitempo, 2010.

Essa edição comemora os 100 anos da Revolução Mexicana. Trata-se da reportagem de djôn ríd, publicada como livro pela primeira vez em 1914. O autor passou quatro meses acompanhando diretamente o processo revolucionário.

A Constituição de 1917 e o fim da revolução

Em setembro de 1916, Venustiano Carranza convocou eleições para um Congresso Constituinte. Também procurou atrair trabalhadores urbanos e rurais com propostas de leis trabalhistas para o campo e para a cidade. Assim, em 1917, a Revolução Mexicana teve um desfecho institucional: a elaboração da Constituição de 1917.

O documento determinou a volta de um sistema democrático com eleições periódicas, instituiu um Poder Executivo forte e interventor e incorporou demandas sociais importantes da revolução. Foi a primeira carta constitucional do mundo a incluir leis trabalhistas regulamentando o trabalho infantil, o feminino, e o direito de greve. Além disso, determinou jornada de oito horas, descanso obrigatório aos domingos e instituiu o salário mínimo. Também instituiu o ensino laico e obrigatório, retirando da Igreja as prerrogativas sobre a educação. Seus artigos previam ainda a realização de uma grande reforma agrária e o pleno contrôle do Estado sobre as riquezas do subsolo, como os minerais e o petróleo. A reeleição para presidente da república foi proibida.

Apesar das conquistas alcançadas, o conflito armado no México se estendeu até pelo menos 1920. Nesse ano, Carranza foi assassinado. As circunstâncias do crime nunca foram esclarecidas. Em seu lugar, Álvaro Obregôn assumiu a Presidência e governou o México entre 1920 e 1924. Ao final de dez anos de revolução, o país contava um saldo de quase 1 milhão de pessoas desaparecidas. Muitas foram mortas em razão da guerra; outras tantas, pela incidência de doenças como o tifo e a febre amarela.

Pintura. À esquerda, estudante de perfil, com uma mochila nas costas e camiseta azul, está com a boca aberta e o braço direito esticado para frente, com o dedo indicador apontando. Atrás dele, outro estudante, de camiseta amarela, está com o braço esticado e o dedo indicador apontando para frente. Ao fundo, grupo de estudantes. Entre eles um cartaz com dizeres em espanhol cuja tradução é: Educação sem discriminação.
Pintura mural em defesa da educação para todos, com a inscrição “Educação sem discriminação”, na Cidade do México, México. Foto de 2016.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Apesar de garantir muitos direitos e de ser inovadora para o período de sua promulgação, a Constituição de 1917 não solucionou os problemas sociais do México, principalmente os relacionados à desigualdade socioeconômica e à pobreza. Esses problemas atingem até hoje vários grupos sociais, como o dos camponeses e o dos indígenas, que continuam a lutar pela garantia de seus direitos.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique as contradições que se desenvolveram na sociedade mexicana antes da revolução.
  2. Que grupos se envolveram na Revolução Mexicana e quais eram seus interesses?
  3. Liste os principais pontos da Constituição de 1917 do México.
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre pessoas desaparecidas no México após o fim da revolução foram retirados de: PRADO, M. L.; PELLEGRINO, G. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. página 103.

Bê êne cê cê

Ao tratar dos diferentes movimentos sociais e suas reivindicações na Revolução Mexicana, incluindo a demanda por uma nova Constituição, assim como ao destacar as conquistas sociais e trabalhistas incorporadas na Constituição de 1917, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih zero nove e da Competência Específica de História nº 1.

Orientação para as atividades

Além das orientações de estudo do texto-base, sugira aos estudantes que façam:

um quadro comparativo dos programas revolucionários;

uma cronologia da Revolução Mexicana.

Ambos os procedimentos podem ajudar nas respostas.

Agora é com você!

1. Durante o govêrno de houve grande desenvolvimento econômico no México, assim como o crescimento do comércio exterior, o aumento de ferrovias e da industrialização. No entanto, isso não refletiu em melhorias na vida de trabalhadores rurais e urbanos, que eram explorados. No campo, o aumento da agricultura de exportação levou à concentração de riquezas nas mãos de poucos e à expulsão de comunidades inteiras. Camponeses e comunidades indígenas foram expropriados de suas terras, de modo que muitas pessoas tiveram que deixar o campo ou se empregar em grandes fazendas de exportação.

2. Os grupos que se envolveram na Revolução Mexicana eram: os defensores do porfiriato, representados por figuras como Porfírio Diase Viquitoriano Uêrta; os opositores do porfiriato, representados por Francisco Madero, que desejavam o restabelecimento de eleições periódicas; os movimentos populares, liderados porPântio Vilha e Emiliano Zapata, que entendiam a reforma agrária como central; e os representantes de grandes fazendeiros que defendiam uma nova Constituição para o país, como Venustiano Carranza e Álvaro Obregôn.

3. A Constituição de 1917 determinou a volta do sistema democrático; incluiu leis trabalhistas como a jornada de 8 horas, o descanso obrigatório aos domingos, a regulamentação do trabalho feminino e infantil, o direito de greve e o salário mínimo; instituiu o ensino laico e obrigatório; previa a realização de uma grande reforma agrária, assim como o pleno contrôle do Estado sobre as riquezas do subsolo; proibiu a reeleição para presidente da república.

O Império Russo e a dinastia Romanov

No começo do século vinte, com 22 milhões de quilômetros quadrados, o território da Rússia imperial ocupava quase um sexto da superfície da Terra. Viviam nesse território aproximadamente 130 milhões de pessoas, o que equivalia à soma dos habitantes do Reino Unido, da França e da Alemanha. Apesar desses números grandiosos, a densidade populacional do país era uma das mais baixas da Europa e 80% dos russos viviam no campo, em condições de miséria. Além disso, apenas 20% deles eram alfabetizados na virada do século dezenove para o vinte.

No plano político, o império era governado por um czarglossário . Os czares baseavam seu státus no fato de se considerarem herdeiros legítimos do Império Bizantino. Desde 1894, quem ocupava a posição de czar era Nicolau segundo, da dinastia romanóv, que governava a Rússia desde o século dezessete.

Pintura. Nicolau II de coroa e manto vermelho em pé. Ao redor dele sua mulher, quatro filhas e um filho. Todos têm uma auréola atrás da cabeça.
Pintura do século vinte representando a família de Nicolau dois com símbolos da Igreja Ortodoxa, no Mosteiro da Trindade-São Sérgio, em Sêrguif Póssád, Rússia.

Império Russo: formação – 1689-1900

Mapa. Império russo: formação de 1689 a 1900. Destaque para o território russo. Legenda: Amarelo: A Rússia em 1689. Expansão do império Russo. Amarelo escuro: De 1689 a 1725. Laranja: De 1726 a 1800. Rosa: De 1801 a 1815. Vermelho: De 1816 a 1860. Marrom: De 1861 a 1900. Verde: Estados submissos. Linha cinza: Limites do Império Russo em 1900. No mapa: A Rússia em 1689: território ao norte da Ásia, banhada em sua maioria pelo Oceano Glacial Ártico. Expansão do Império Russo: De 1689 a 1725: território de Kamtchatka, abrangendo a cidade de Petropavlovsk; região de São Petersburgo e pequeno território ao sul. De 1726 a 1800: região da Bessarábia, abrangendo a cidade de Odessa; pequeno trecho ao norte de São Petersburgo e ao sul da Rússia. De 1801 a 1815: região do Cáucaso, abrangendo a cidade de Baku, no Mar Cáspio; pequeno trecho a oeste da Bessarábia; região da Polônia, abrangendo a cidade de Varsóvia; e a Finlândia. De 1816 a 1860: pequenos trechos na região do Cáucaso; região de Khabarovsk, na região sudeste; norte da Ilha Sacalina; e região do Canato Cazaque, abrangendo a cidade de Kuriev. De 1861 a 1900: pequenos trechos na região do Cáucaso, abrangendo a cidade de Batumi, no Mar Negro; pequeno trecho a oeste da Bessarábia; regiões ao sul da Rússia, incluindo as cidades de Merv e Kokand; e sul da Ilha Sacalina. Estados submissos: região do Uzbequistão, abrangendo a cidade de Khiva. Limites do Império Russo em 1900: linha cinza que abrange todo o território descrito acima. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 600 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial Paris: Larousse, 2003. página 149.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa. O território do Império Russo em 1900 englobava áreas que hoje correspondem à Finlândia, à Polônia, à Ucrânia e ao Cazaquistão, entre outros países. Todos esses lugares eram habitados por populações que tinham língua e costumes diferentes dos russos. Que características esse mapa revela sobre o Império Russo?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre população da Rússia imperial foram retirados de: CARTER, M. Os três imperadores: três primos, três impérios e o caminho para a Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Objetiva, 2013.página 80.

Resposta do “Se liga no espaço!”: Espera-se que, ao analisar o mapa, os estudantes percebam que o processo de expansão do Império Russo em 1900 foi paulatino e submeteu diferentes povos, formando, portanto, um império multiétnico e multicultural.

Bê êne cê cê

A atividade do boxe “Se liga no espaço!” contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7, uma vez que os estudantes terão a oportunidade de analisar as transformações do território russo entre 1689 e 1900.

Interdisciplinaridade

Quando se apresenta a extensão territorial do Império Russo, sua imensa população – majoritariamente rural – e o comêço e os efeitos da industrialização, são abordadas temáticas da geografia, relacionadas especialmente às habilidades ê éfe zero nove gê ê zero oito – “Analisar transformações territoriais, considerando o movimento de fronteiras, tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, na Ásia e na Oceania” – e ê éfe zero nove gê ê um zero – “Analisar os impactos do processo de industrialização na produção e circulação de produtos e culturas na Europa, na Ásia e na Oceania”.

Por se considerar herdeira legítima do Império Bizantino, a monarquia russa mobilizava uma série de narrativas úteis em seu plano de expansão territorial pela Europa, como a da reconquista de Constantinopla para a cristandade, que garantiria a salvaguarda dos povos eslavos dos Bálcãs diante do avanço do Império Otomano.

Até o início do século vinte, o poder da monarquia russa era ilimitado, o que fazia do império uma autocracia. Com essa política que mesclava religião e concentração de poder, o govêrno autocrático russo pensava ser possível afastar qualquer movimento que propusesse mudanças, como as ocorridas em outros países da Europa, que se processaram após a eclosão de revoluções liberais.

O governo de Nicolau segundo

A Rússia foi governada de fórma absolutista pela dinastia romanóv. O govêrno de Nicolau segundo herdou de seus antecessores boa parte dos focos de conflito e tensão observados no país. Eles estavam ligados principalmente a uma massa de camponeses, recém-saída da servidão, e a uma classe operária em formação nos grandes centros urbanos. Diferentemente do que aconteceu no México, a oposição ao govêrno vinha, sobretudo, do movimento operário, e não do campo.

Assim como nos países da Europa Ocidental, as condições de trabalho nas fábricas russas eram precárias. Salários baixos, riscos de acidente e longas jornadas de trabalho estavam entre os problemas mais comuns dos operários. Em razão disso, muitas vozes descontentes começaram a se organizar em cidades como Quiévi, São Petersburgo e Moscou. Nesses locais, alguns grupos formaram partidos políticos. Entre os mais importantes estavam o Partido Operário Social-Democrata Russo, fundado em 1898, e o Partido Socialista Revolucionário, de 1902.

Em 1903, o Partido Operário Social-Democrata Russo dividiu-se em dois grandes agrupamentos políticos: o dos bolcheviques (termo que significa “maioria” em russo), liderados por Vladimir íliti ulianóv (conhecido como Lênin), que defendiam a revolução imediata, com o apôio camponês, e o dos mencheviques (“minoria” em russo), liderados por Iulí Ocipovíti Tiderbáum (conhecido pelo pseudônimo Július Mártóf), que apoiavam a passagem lenta e democrática para o socialismo, por meio de eleições parlamentares.

Esses grupos de oposição ao quizarismo foram duramente reprimidos e, em 1905, a situação de enfrentamento político atingiu níveis alarmantes: houve revolta social no campo e nas cidades, especialmente em São Petersburgo, capital do império. Lá, começaram a se formar os primeiros sovietes, conselhos de trabalhadores urbanos que coordenavam as greves e os movimentos antiquizaristas. Apesar da forte repressão do exército, fiel ao czar, a situação se tornou incontrolável.

A mais imediata fonte dos protestos que levaram ao movimento de 1905 foi a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), quando os japoneses ocuparam a Manchúria (atual China) e consolidaram sua influência no Oriente, contrariando os interesses do Império Russo.

Ilustração. Pássaro com um rosto humano oriental com as patas cravadas nas costas de um grande urso branco. O pássaro segura um boneco e uma espada ensanguentada, e usa farda e quepe militares. O urso está com os olhos baixos e a língua de fora. Está caído sobre um caçador. Ele tem nas mãos uma lança e uma arma.
Ilustração que satiriza a Guerra Russo-Japonesa publicada no periódico francês Le Rire, em março de 1904.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os russos foram representados na imagem como um urso-polar, animal presente em seu território, derrotado e abatido (perceba a expressão do animal com a língua para fóra). Apesar de o urso ser maior (assim como o território do Império Russo era muito maior que o japonês), é derrotado pelo surú (pássaro). Essa vitória japonesa foi um grande golpe na confiança russa, que seria ainda mais prejudicada com o advento da Primeira Guerra Mundial, como você estudou no capítulo 1.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por demonstrar a situação da Rússia pré-revolucionária, cuja população era majoritariamente camponesa e recém-saída da servidão, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um um.

Seria pertinente comentar com os estudantes como as teorias se distanciam das práticas sociais, tomando o exemplo do caso russo. Um dos pontos que alimentava discussões entre os marxistas era a possibilidade, ou não, de se implementar o socialismo num país agrário. Pensava-se que a revolução deveria ser proletária e, portanto, acontecer em países industrializados com a classe operária organizada, como Reino Unido e Alemanha. Essa discussão, por certo, também estava presente entre bolcheviques e mencheviques. Porém, como será analisado, o primeiro país a implantar o socialismo foi a Rússia – fortemente agrária, com a maioria da população recém-saída da servidão – que depôs do poder uma dinastia com mais de 300 anos (romanóv, 1613-1917). O país, assim, de maneira inesperada, tornou-se o centro de atenção do mundo, destacando-se como a alternativa comunista ao Ocidente capitalista.

Interdisciplinaridade

Ao tratar da Guerra Russo-Japonesa, da redefinição das fronteiras do Império Russo e da presença acentuada do Japão no continente, mobilizam-se parcialmente as habilidades da geografia relacionadas aos conflitos territoriais e a própria delimitação Ocidente/Oriente: ê éfe zero nove gê ê zero um – “Analisar criticamente de que fórma a hegemonia europeia foi exercida em várias regiões do planeta, notadamente em situações de conflito, intervenções militares e/ou influência cultural em diferentes tempos e lugares” – e ê éfe zero nove gê ê zero oito – “Analisar transformações territoriais, considerando o movimento de fronteiras, tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, na Ásia e na Oceania”.

A revolta no inverno de 1905

Em 9 de janeiro de 1905, uma grande manifestação pacífica ocorreu em frente ao Palácio de Inverno, com o objetivo de entregar uma petição ao czar. As forças de Nicolau segundo, no entanto, reagiram atirando contra os manifestantes, ferindo e causando a morte de centenas deles. Esse episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento e despertou ondas de protesto em todo o país.

Um onda de greves maciças e manifestações eclodiu por todo o império, articulada por sovietes (conselhos de trabalhadores), como o de Petrogrado. Ações como a da tripulação do encouraçado pôtenquín, que se amotinou contra seus oficiais, tornaram-se famosas. No campo, trabalhadores também protestaram: arrendatários exigiam aluguéis mais baixos e pequenos proprietários rurais pediam mais terras. Durante os protestos, houve ocupação e invasão de terras, além de pilhagem e incêndio de grandes propriedades.

Diante das pressões, Nicolau segundo tomou medidas para tornar o regime menos autoritário, com a implantação de um Parlamento, a Duma. Com essas concessões, o govêrno quizarista pretendia acabar com os movimentos e ganhar tempo para contornar o problema. No entanto, a adoção de um regime supostamente constitucional não se concretizou. As Dumas eleitas entre 1905 e 1912 não tinham a autonomia que se esperava e não ofereceram solução para as crises políticas e econômicas que atingiram o Império Russo.

O descontentamento cresceu ainda mais com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Em 1915, os problemas enfrentados pelo czar Nicolau segundo pareciam insuperáveis. Diante da crise econômica e social, das derrotas sucessivas para a Alemanha e da violenta repressão política exercida pelo govêrno, a Rússia chegou a uma situação extrema. Assim, nada pareceu menos surpreendente e inesperado do que a Revolução de 1917, que derrubou a monarquia e foi universalmente saudada por trabalhadores e movimentos políticos progressistas como uma alternativa ao modelo político e econômico do capitalismo.

Ilustração. Região com o chão claro com manchas vermelhas. O céu é vermelho. No centro um símbolo de um 9 sobreposto a uma cruz e inscrições em russo.
Ilustração sobre o Domingo Sangrento publicada na capa do jornal satírico russo Nagática, em 1906, um ano após o massacre do inverno de 1905.
Cartaz de filme. Destaque para um marinheiro com a boca aberta, testa franzida e olhos cerrados. Ao fundo, um marinheiro no topo de uma estrutura semelhante a um canhão, e outro caindo no mar. Entre eles uma bandeira vermelha.
Cartaz do filme soviético O encouraçado pôtenquín, do cineasta Serguei Isenstím, lançado em 1925.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Representando a rebelião ocorrida em Odessa, em 1905, o filme O encouraçado pôtenquín, de 1925, foi utilizado como propaganda revolucionária, mobilizando a simpatia dos espectadores para a causa dos marinheiros amotinados. Anos depois, os eventos ocorridos em 1905 foram interpretados, principalmente por líderes da Revolução Russa como Lênin, como uma espécie de ensaio geral do que ocorreria em 1917. É importante entender, porém, que, em 1905, nenhum dos envolvidos tinha dimensão do curso que os eventos tomariam na Rússia.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a situação da Rússia no início do século vinte, sua participação na Primeira Guerra Mundial e a mobilização dos trabalhadores (greves, ocupações, levantes até a Revolução de 1917), o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um zero e ê éfe zero nove agá ih um um.

O Encouraçado pôtenquín (1925), de Isenstím, foi produzido para celebrar os 20 anos da Revolução de 1905 e tornou-se marco do cinema soviético e um clássico mundial. Nele, é narrada a rebelião dos marinheiros do pôtenquín como primeiro sinal da revolução socialista de 1917. O navio é representado como microcosmo da sociedade russa da época: população maltratada, misérias e desmandos, corrupção das instituições, marcando a crise do quizarismo e abrindo espaço para a revolução que ocorreria 12 anos mais tarde.

Naquele momento, a indústria do cinema era incipiente. Para evidenciar os ganhos técnicos da área, seria interessante comentar com os estudantes que o cartaz colorido contrasta com o preto e branco do longa-metragem, em que as fotografias e enquadramentos meticulosamente pensados contam a narrativa do levante.

Ampliando

O trecho a seguir apresenta algumas das reivindicações dos manifestantes de janeiro de 1905.

“Em 1905, a revolução começou num domingo de inverno, 9 de janeiro. Uma grande manifestação reuniu-se, pacífica, para levar ao dizár, por meio de um manifesto, queixas e reivindicações. O tom geral era de Antigo Regime: os súditos reticências suplicavam ao tsar reticências atenção e proteção. Mas as reivindicações eram modernas: jornada de trabalho de oito horas, salário mínimo, eleições, assembleia representativa. Misturavam-se as épocas no que diziam e nas fórmas em que se manifestavam e se organizavam os trabalhadores, avançando em direção ao Palácio de Inverno em São Petersburgo, com suas mulheres, ícones e crianças.

O dizár não se dignou a recebê-los, nem estava no Palácio. A tropa disparou a metralhadora sobre a população indefesa reticências.

O massacre não intimidou. Gerou indignação e revolta, dando início à revolução.”

REIS FILHO, D. A. As Revoluções Russas e o Socialismo soviético. São Paulo: Editora Unesp, 2003. página 66. (Coleção Revoluções do século vinte).

A Revolução Russa

O Império Russo era repleto de contradições e focos de tensão social. Há pelo menos dois elementos importantes a serem considerados como gatilhos para a revolução. Um deles foi o agravamento da crise política, econômica e social ocorrida no país com a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial.

A estagnação econômica, consequência direta da guerra, gerava desemprego e um forte clima de tensão social. Greves e manifestações operárias se espalhavam pelo país, e nelas reside o segundo elemento importante: a centralidade da participação feminina nos eventos que deram origem à revolução.

As mulheres foram as principais responsáveis pela organização e pela articulação do movimento. Com o mundo em guerra e os homens no frôn, muitas delas assumiram postos na indústria e tornaram-se responsáveis pelo sustento da família.

Se em 1914 as mulheres representavam apenas 26,6% da fôrça de trabalho nas fábricas, em 1917 somavam 43,4% do operariado fabril. Eram elas que reivindicavam o direito ao pão, o fim da guerra e melhores condições de vida e trabalho, articulando trabalhadores de diferentes setores, como o da indústria têxtil e o da metalurgia.

Em fevereiro de 1917, a situação chegou a níveis extremos: pelas ruas de São Petersburgo espalhou-se o boato de que o trigo disponível na capital duraria apenas doze dias. Uma onda de pânico tomou conta da cidade e resultou em confrontos com a polícia.

O govêrno do czar desmoronou em 8 de março de 1917, quando uma manifestação de operárias se combinou com uma paralisação industrial, tornando-se uma greve geral, durante a qual a população invadiu o centro da capital para exigir pão. A fragilidade do regime se revelou quando as tropas do czar se recusaram a reprimir a multidão e passaram a confraternizar com ela. Nicolau segundo abdicou quatro dias depois, sendo substituído por um govêrno provisório.

Fotografia em preto e branco. Pessoas na rua, em sua maioria mulheres, em um protesto. Usam roupas escuras e carregam uma faixa com dizeres em russo.
Protesto das trabalhadoras da indústria têxtil em São Petersburgo, Rússia. Foto de 8 de março de 1917.
Pôster. À esquerda, mulher de blusa de mangas curtas e um lenço vermelho na cabeça, está com um dos braços estendidos para cima. Abaixo, em tamanho menor, grupo de pessoas. Ao fundo, fábricas. No alto, à direita, escritos em russo.
Pôster soviético da década de 1920 celebrando a participação das mulheres nos eventos de 8 de março (habitual “Dia da Mulher” do movimento socialista), que levaram à queda do czarismo na Rússia.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Além de se dirigir às portas das fábricas com o objetivo de convocar os operários para a greve, as mulheres russas compunham, durante a Primeira Guerra Mundial, boa parte da fôrça de trabalho urbana. Anos depois, o Estado bolchevique, dominado por homens, esforçou-se para esconder o protagonismo feminino na Revolução Russa. Somente com a Segunda Guerra Mundial, que você estudará no capítulo 6, o govêrno soviético voltou, por necessidade, a valorizar a participação feminina em eventos associados à política.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a participação das mulheres no operariado fabril russo no início do século vinte foram retirados de: Trúdel, M. As mulheres de 1917. Especial Revolução Russa. 14 junho 2017. Blog da Boitempo. Disponível em: https://oeds.link/WvNpy5. Acesso em: 14 junho 2022.

Bê êne cê cê

Ao apresentar a importância das mulheres em postos de trabalho no Império Russo nas primeiras décadas do século vinte, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Geral de Educação Básica nº 6.

Seria pertinente destacar que as mulheres cresceram em importância no mundo do trabalho durante a Primeira Guerra Mundial não só na Rússia, mas nos vários países em conflito. Elas passaram a exercer atividades tradicionalmente executadas por homens.

Nos anos posteriores à Revolução Russa, quando consolidou-se a União Soviética, todos os meios de comunicação, a música, a literatura, as artes plásticas e o teatro foram submetidos ao partido. E uma nova estética, o Realismo Socialista, foi imposta aos artistas. Segundo essa estética, o chamado “espírito burguês” devia ser abolido e a arte devia servir aos ideais socialistas. Enormes cartazes que reproduziam imagens de homens e mulheres radiantes e engajados no trabalho, convocavam a população a se juntar a eles na lida árdua (como no cartaz reproduzido nesta página). É pertinente, portanto, pedir aos estudantes que analisem os cartazes reproduzidos no capítulo, chamando a atenção para a arte revolucionária que aliava vanguarda artística à propaganda política. Em uma perspectiva comparativa, ela pode ser contraposta à função da propaganda no capitalismo. Para estabelecer essa conexão, é possível perguntar: “A que servem as propagandas hoje?”.

Ampliando

O trecho do documento de 1917 registra o aumento de poder dos sovietes durante a Revolução Russa.

os habitantes de Petrogrado saíram às ruas para demonstrar seu descontentamento. reticências

reticências os soldados não quiseram agir contra o povo e se revoltaram contra o govêrno. Reunidos, apoderaram-se dos arsenais, dos fuzis e de importantes órgãos do poder.

reticências Ontem, 27 de fevereiro, formou-se um Soviete de deputados operários composto dos representantes das fábricas, das oficinas, dos partidos e organizações democráticos e socialistas. O Soviete, instalado na Duma, impôs-se como tarefa essencial para organizar as forças populares reticências.

reticências Convidamos toda a população a unir-se imediatamente ao Soviete

APELO do Soviete de Petrogrado à população da Rússia [27 de fevereiro de 1917]. In: FERRO, M. A revolução russa de 1917. São Paulo: Perspectiva, 1967. página 104-105.

A Revolução de Fevereiro

Os eventos que ocorreram no dia 12 de março de 1917 (27 de fevereiro pelo calendário julianoglossário , usado na Rússia naquele ano) ficaram conhecidos como Revolução de Fevereiro. O govêrno provisório era liderado por grupos políticos identificados com o movimento dos mencheviques, comandados naquele momento por Alequissânder Querênsqui. O govêrno provisório buscou apôio dos países capitalistas e não retirou os exércitos russos da Primeira Guerra Mundial. Além disso, decretou anistia aos presos políticos do regime czarista (incluindo antigos líderes bolcheviques) e concedeu liberdade à imprensa.

Com isso, em abril de 1917, Lênin retornou do exílio na Suíça imposto pelo regime czarista e publicou as Teses de Abril. Nesse texto, ele defendeu lemas como “todo poder aos sovietes” e “paz, terra e pão”. O líder bolchevique engrossava o coro daqueles que desejavam um govêrno controlado pelos trabalhadores e, sobretudo, a retirada imediata da Rússia da Grande Guerra.

Na mesma época, León Trótisqui, presidente do soviete de Petrogrado, organizou uma milícia popular conhecida como Guarda Vermelha, que foi fundamental para a consolidação do regime socialista nos anos que se seguiram.

A Revolução de Outubro

Em outubro de 1917 (levando em consideração, mais uma vez, o calendário juliano), Lênin convocou os operários a tomar o poder na Rússia e realizar uma revolução socialista. Os participantes da chamada Revolução de Outubro ocuparam pontos estratégicos de São Petersburgo e passaram a controlar o acesso a pontes, estradas e ferrovias. Em apenas dois dias, eles tomaram o Palácio de Inverno, utilizado como séde pelo govêrno provisório, marcando o início do govêrno socialista na Rússia.

Em 26 de outubro, já como líder do govêrno bolchevique, Lênin promulgou uma série de decretos com o objetivo de cumprir as promessas feitas meses antes, em suas Teses de Abril. Uma dessas promessas era a de assinar um armistício com a Alemanha e a Áustria-Hungria para sair da Primeira Guerra Mundial.

Ilustração. Homem de terno escuro e boina xadrez está varrendo o globo terrestre. Sobre o globo dois imperadores de coroa e manto vermelho. Um veste verde, está com os braços levantados, saltando. O outro veste azul e está descendo do globo, abaixado. Caídos do globo, um homem de túnica preta e chapéu comprido, e um homem de roupa social preta e cartola, segurando um saco de dinheiro.
Pôster revolucionário soviético da década de 1930, com a inscrição: “O camarada Lênin limpa a sujeira do planeta”.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Preste atenção aos personagens representados. Com uma vassoura, o líder dos bolcheviques empurra para longe do globo terrestre a monarquia (há dois imperadores representados na imagem), o clero (personagem vestido de preto, à esquerda) e o capitalismo (personagem de preto, à direita, com cartola e um saco de dinheiro).

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por tratar do processo inédito de tomada de poder pelos trabalhadores e da instituição de um govêrno organizado a partir dos sovietes, em contraposição à autocracia russa, o conteúdo auxilia no desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um um.

Nas Teses de Abril, Lênin defendeu, como programa para a ação bolchevique, a distribuição de alimentos à população, a saída imediata da Rússia da Primeira Guerra Mundial, a reforma agrária, a nacionalização dos bancos e a entrega do poder aos sovietes.

Após a Revolução de 1917, ocorreu o Congresso dos Sovietes, que formaram os Comitês de Comissários do Povo e aceitaram a liderança de Lênin. Com o líder bolchevique no poder, prometia-se não apenas a paz, com a saída da Rússia de um “conflito imperialista”, segundo afirmava nas Teses de Abril, mas também o direcionamento dos esforços à construção de um mundo novo, socialista. Nele, seria estabelecida uma “república dos sovietes” e o govêrno seria feito de “baixo para cima”. Vale a pena evidenciar aos estudantes que se trata do primeiro Estado socialista da história e marcar suas especificidades.

Curadoria

A revolução que mudou o mundo: Rússia, 1917 (Livro)

Daniel Aarão Reis Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Após cem anos da Revolução Russa, o historiador faz um balanço dos principais eventos da revolução e apresenta interpretações diversas e concorrentes sobre o momento revolucionário.

A tão desejada paz se concretizou em 1918, com o Tratado de Brêst Litôvisqui. Ao sair da Primeira Guerra Mundial, porém, a Rússia não estava em condições de ditar as regras da negociação ou exigir os termos da paz. Em razão disso, pelo acordo firmado, o país perdeu o domínio sobre vários territórios, como o da Finlândia, o da Estônia, o da Letônia, o da Lituânia, o da Polônia, o da Bielorrússia e o da Ucrânia. Nessas regiões, vivia aproximadamente um terço da população russa e se concentravam 50% de sua indústria e 90% de suas minas de carvão.

Fotografia em preto e branco. Homens reunidos em um salão amplo. Estão sentados em um grande círculo. Alguns usam roupas militares, outros, roupas sociais.
Assinatura do Tratado de Brêst Litôvisqui, na cidade de mesmo nome, atualmente chamada de Brêst , na Bielorrússia. Foto de 1918.

O govêrno bolchevique também cumpriu a promessa de confiscar indústrias e grandes propriedades rurais, distribuindo terra aos camponeses e repassando o contrôle das fábricas aos sovietes (conselhos operários).

Fotografia. Grande praça. À direita, muralha com uma grande torre. No centro dela dois grandes relógios e no topo uma estrutura verde e dourada em formato de cone.  À esquerda, catedral com diversas torres ornamentadas de dourado e cúpulas coloridas. Entre as duas construções, área aberta com muitas pessoas.
Praça Vermelha, na cidade de Moscou, capital da Rússia. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Praça Vermelha foi usada no período da revolução e depois dele para que líderes como Lênin discursassem ao povo. A vitória dos revolucionários bolcheviques transformou o cenário político do mundo todo, pois a Rússia se tornou referência para o movimento socialista mundial, como você estudará a seguir.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a economia da Rússia foram retirados de: róbisbáum, E. J. Era dos extremos: o breve século vinte: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 70.

Neste momento do capítulo, seria pertinente convocar os estudantes a estabelecer paralelos entre o processo revolucionário mexicano e russo. Quais são as semelhanças? Quais são as especificidades de cada um deles? São duas questões que podem aguçar a reflexão. Por exemplo, a importância dos camponeses na Revolução Mexicana pode ser comparada à atuação do operariado na Rússia agrária e a constituição dos sovietes, ligados ao poder central.

Curadoria

10 dias que abalaram o mundo (Livro)

djôn ríd. São Paulo: Companhia, 2010.

O jornalista estadunidense djôn ríd esteve na Rússia nos dias da Revolução de 1917. No calor do momento, entrevistou líderes como Lênin e trótisqui e acompanhou assembleias e manifestações de rua. Seu relato tornou-se mundialmente conhecido e inspirou o filme clássico Outubro (1927), de

O impacto da revolução socialista na Europa

A Revolução de Outubro foi reconhecida como um acontecimento que abalou o mundo, despertando ondas de simpatia, adesão e rejeição. Ela produziu, nas palavras do historiador francês Françuá Furré, uma espécie de feitiço universal na cultura moderna. Assim como a Revolução Francesa, do final do século dezoito, o movimento ocorrido na Rússia se converteu em símbolo da mudança mundial. Espalhados mundo afora, muitos operários saudaram os acontecimentos da Rússia bolchevique com entusiasmo e passaram a sonhar em replicar a revolução socialista. Em países como a Alemanha, houve grande mobilização da classe trabalhadora, guiada pelo desejo de uma revolução socialista nesse período.

Do início de 1918 até a década de 1930, o medo do chamado “perigo vermelho” se alastrou pela Europa. Governos, marcados pela instabilidade do pós-guerra, temiam o avanço do comunismo em seu território. Em razão disso, entre outras ações, perseguiram associações de trabalhadores, além de produzir e divulgar campanhas anticomunistas e antissocialistas.

Cartaz. Ilustração de um militar cravando uma lança em criatura grande e vermelha. Ela está com o braço esticado na direção de uma família. Na parte superior do cartaz, há uma mensagem em espanhol.
Cartaz de propaganda anticomunista, divulgado na Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola, em cêrca de 1937.
Cartaz. À direita, homem de rosto largo, barba e uniforme militar. Tem um sorriso sarcástico. Em seu quepe, uma foice e um martelo. Ao seu lado a palavra MOSCOU e o desenho de uma catedral. Ele manipula, à distância, fantoches de três homens de terno preto. Um carrega sacos de dinheiro, o do meio tem a barriga saliente, e o terceiro é bem magro e usa óculos. Ao lado dos três, uma palavra cuja tradução é França.
Cartaz de propaganda dos republicanos nacionais franceses contra a Frente Popular, influenciada pelo comunismo soviético, de cêrca de1936.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Considerada uma alternativa às injustiças do capitalismo pela classe operária, a revolução socialista foi encarada pelos governos dos países europeus como um mal a ser combatido em todo o continente. No cartaz de 1937, lê-se a palavra “jamais”. No cartaz de 1936, em que os políticos socialistas franceses são representados como fantoches, está escrito: “São os soviéticos que puxam as cordas da Frente Popular”.

Respostas e comentários

A referência ao historiador francês foi retirada de: firrê, F. El pasado de una ilusión: ensayo sobre la idea comunista en el siglo vinte. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1995. página 113.

Bê êne cê cê

Por tratar dos desdobramentos da Revolução Russa na Europa e no mundo – que pela primeira vez na história materializou os pressupostos marxistas –, da motivação dos operários e do temor dos governos capitalistas diante do chamado “perigo vermelho”, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um zero e ê éfe zero nove agá ih um um. Ao explorar as visões diferentes sobre o processo revolucionário, tanto no exterior quanto no interior do território russo, a Competência Específica de História nº 4 é trabalhada.

O conteúdo abre espaço para analisar os processos revolucionários como momentos de crise, nos quais grupos sociais múltiplos com expectativas políticas particulares disputam o futuro. O que já foi visto na primeira parte do capítulo sobre a Revolução Mexicana pode também ser trabalhado nesta parte sobre a Rússia. Aqui, as disputas acontecem também em nível internacional, dada a importância da Revolução de 1917 e sua reverberação mundial. Em ambos os processos de transformação social, o grupo político vitorioso acaba por impor seus anseios.

Nesse momento, é pertinente comparar os cartazes anticomunistas com os de difusão do socialismo, representados nas páginas anteriores. Os estudantes, assim, poderão verificar o uso de um mesmo mecanismo, a propaganda impressa, voltada a diferentes interesses políticos. Além disso, é interessante destacar que a centralidade dos cartazes, conformados com a combinação de elementos figurativos e frases convocatórias, apresenta traços de uma época marcada por forte trânsito nas ruas, em contraste com a contemporaneidade caracterizada pelos meios virtuais de comunicação e mídias digitais.

A guerra civil

Assim que os bolcheviques chegaram ao poder, forças contrarrevolucionárias se organizaram, formando o chamado Exército Branco, em oposição ao vermelho comunista. Financiados ou incentivados por países estrangeiros como Estados Unidos, França, Reino Unido e Japão, vários exércitos ingressaram em território russo e deram origem a uma violenta guerra civil, entre os anos de 1918 e 1921.

Nesse contexto tenso, marcado pela guerra civil e pelo levante de forças que desejavam o retorno do antigo regime czarista, a família romanóv foi executada na cidade de Ecaterimburgo, em julho de 1918.

Contra todas as expectativas, com o Exército Vermelho (originado da Guarda Vermelha, de trótisqui), os bolcheviques não apenas mantiveram o poder, como foram capazes de ampliá-lo. A guerra, entretanto, terminou apenas em 1921, deixando o país devastado e cêrca de 10 milhões de pessoas mortas.

Enquanto durou o conflito, o govêrno adotou o comunismo de guerra, com o contrôle do Estado sobre todos os meios de produção. Terras e cereais que haviam sido colhidos foram confiscados. A propriedade privada e a economia de mercado foram abolidas. Com o aumento do poder do Estado, liberdades individuais foram ameaçadas. Operários e camponeses resistiram a esse processo e se rebelaram. Para completar o quadro de crise, a fome, o tifo e a cólera ceifaram a vida de milhares de pessoas.

Fotografia em preto e branco. Pessoas em duas longas filas ao redor de um trem. À esquerda, elas recebem comida de uma pessoa em um dos vagões do trem. No centro da imagem, trilhos.
Distribuição de comida para a população faminta na região do Volga, na Rússia. Foto de 1921.
Fotografia em preto e branco. Soldados reunidos em uma grande área aberta e plana. Alguns estão perfilados no centro. Ao fundo, à esquerda, uma grande catedral com a fachada em arcos. A porta central é alta. No topo, uma cúpula.
Tropas do Exército Vermelho bolchevique concentradas na cidade russa de Ircútisqui, na Sibéria. Foto de 1920.
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as vítimas da guerra civil foram retirados de: Fórin intervenxióninsaiclopidia britânica. Disponível em: https://oeds.link/o1SU2Y. Acesso em: 3 março 2021.

Em 17 de julho de 1918, na cidade de Ecaterimburgo, a família imperial russa foi executada por tropas bolcheviques. O czar Nicolau segundo, sua esposa, a czarina Alexandra, e os cinco filhos do casal – Olga, Tatiana, Maria, Anastásia e Alêquissei – foram mortos a tiros de baioneta no porão da Casa Ipatív, local que hoje abriga a Igreja do Sangue, construída em memória dos romanóv. Além dos membros da família imperial, todos os que escolheram acompanhá-los no exílio tiveram o mesmo fim. Mais de um século depois, a memória do czarismo, particularmente de seu último representante, segue em disputa. Desde a queda do regime socialista na Rússia, em 1991, admiradores da família romanóv realizam uma vigília anual em frente ao local da execução (o edifício original foi demolido em 1977). Em 2003, foi construída a Igreja do Sangue. Desde o ano 2000, todos os membros da família romanóv executados pela revolução são considerados santos. O processo de canonização foi realizado pela Igreja Ortodoxa Russa, e o argumento utilizado pelos religiosos para considerar os Romanov santos foi a atitude resignada e corajosa que tiveram diante do destino que os aguardava. A santidade hoje reconhecida da família romanóv encerra um discurso que esconde as fissuras na imagem do último imperador russo. Alguns opositores do processo de canonização notaram as fraquezas do govêrno do czar, enfatizando a violência e o descontrole das ações de Nicolau segundo. Outros argumentaram que a canonização era absurda, uma vez que os romanóv não foram mortos por causa da fé religiosa.

Não foram apenas os contrarrevolucionários, representados pelos nacionalistas, czaristas e liberais russos – apoiados por forças capitalistas internacionais – que se rebelaram contra o govêrno. Anarquistas, sobretudo os das comunidades camponesas na Ucrânia, discordaram da maneira pela qual o processo revolucionário se realizava. A centralização de poder nas mãos dos bolcheviques era considerada por eles uma ameaça às autonomias locais. Lênin e seus aliados defendiam justamente o contrário: a centralização do poder seria condição para o sucesso da Revolução de 1917. Em 1920, os anarquistas foram definitivamente derrotados. É interessante propor aos estudantes que pesquisem mais sobre o assunto, buscando informações sobre Nestor Macnó e o Exército Negro (ou Exército Insurgente Macnovista).

A Nova Política Econômica

Em 1921, com o objetivo de superar a crise provocada por anos de guerra civil, o govêrno de Lênin adotou a Nova Política Econômica (népi). Para aumentar a produtividade do país, ele retomou elementos da economia capitalista, como a possibilidade da existência de propriedade privada, da criação de empresas e da tomada de empréstimos internacionais. Além da entrada de capitais estrangeiros, investidos, sobretudo, na expansão das indústrias de base, organizaram-se cooperativas agrícolas e comerciais que possibilitaram a retomada do comércio interno. Apesar das mudanças, o Estado continuou sendo o principal agente econômico, controlando setores estratégicos, como o bancário, o das indústrias de base, o de transportes e comunicações e o do comércio internacional.

Fotografia em preto e branco. Mulher de roupa escura despejando o conteúdo de um balde dentro de uma máquina. A outra usa roupa clara e tem as mãos sobre a máquina.
Mulheres em fazenda coletiva na União Soviética usando máquinas para limpar grãos. Foto de 1930.

Dessa fórma, as reformas na economia não influenciaram a política do Estado. O poder, que durante a guerra civil foi transferido das associações sindicais e dos sovietes para o partido bolchevique, continuou centralizado. Esse processo de centralização foi intensificado em 1922, quando Jôsef Istálin assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista (nova designação política dos bolcheviques). Nesse ano foi oficialmente criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (u érre ésse ésse). Além da Rússia, a Ucrânia, a Bielorrússia, a Transcaucásia (atuais Geórgia, Azerbaijão e Armênia), o Uzbequistão e o Turcomenistão passaram a integrar o bloco (consulte o mapa).

União Soviética: território – 1924

Mapa. União Soviética: território, 1924. Destaque para o território soviético. Sem legenda. Abrange República Federativa Socialista Soviética da Rússia, incluindo as cidades de Moscou, Leningrado e Vladvostok; República Socialista Soviética do Uzbequistão, incluindo a cidade de Tachkent; República Socialista Soviética do Turcomenistão, incluindo a cidade de Achkhabad; República Federativa Socialista Soviética da Transcaucásia, incluindo a cidade de Baku; República Socialista Soviética da Ucrânia, incluindo a cidade de Kiev; e a República Socialista Soviética da Bielorrússia. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 670 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 151.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao possibilitar a análise do mapa da União Soviética após a conclusão do processo revolucionário iniciado em 1917, o conteúdo permite o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

Neste momento, alguns comentários sobre as particularidades e debilidades da União Soviética podem ser esboçados: o poder do Estado sobre os indivíduos, alcançado com o fim da propriedade privada, quando o Estado passou a ser o único empregador, exigia uma ética orientada ao trabalho, que minimizava os interesses particulares. Outro ponto que pode ser desenvolvido é a centralização de poder no Partido Comunista Russo (Bolchevique), que se confundia com o govêrno e com o próprio Estado. O partido nomeava delegados (representantes) para congressos periódicos, que, por sua vez, elegiam o Comitê Central. Dessa fórma, o poder se concentrou num pequeno grupo. Os principais líderes revolucionários determinavam as políticas a serem adotadas, distribuíam as tarefas e nomeavam os principais funcionários.

Destaque os grupos políticos que assumiram o Estado russo após a guerra civil. Conteúdos importantes, como os sobre a népi, são abordados nesse momento e contribuem para que os estudantes entendam as consequências do processo revolucionário de 1917.

O pomo da discórdia entre Stálin e trótisqui residia na condução do processo revolucionário. Para trótisqui, o sucesso da revolução estava condicionado à sua disseminação pelo mundo. Uma vez que a classe trabalhadora era global, não faria sentido fazer a revolução em um único país. Assim, a União Soviética deveria apoiar processos revolucionários na Europa e em outros continentes, até mesmo para se proteger de opositores. trótisqui defendia que a revolução deveria ser permanente, enquanto para Istálin era necessário fortalecer a revolução na própria Rússia por meio da industrialização e da coletivização das terras.

Atividade complementar

Este capítulo analisa dois processos revolucionários em países predominantemente rurais e dominados por grupos políticos autocráticos.

Peça aos estudantes que, depois de relerem o capítulo e realizarem todas as atividades, escrevam um texto caracterizando a Revolução Mexicana e a Revolução Russa. O texto deve considerar os grupos e movimentos sociais envolvidos, as reivindicações relacionadas à desigualdade social e econômica, bem como avaliar os impactos de cada uma dessas revoluções mundialmente em seu tempo e até os dias de hoje.

O futuro da revolução e o comando da União Soviética: Istálin versus trótisqui

Em 1924, enquanto a népi e a reconstrução soviética estavam em andamento, Lênin morreu, o que desencadeou uma luta pelo poder. A disputa ocorreu entre duas das figuras mais importantes da revolução: trótisqui, líder do Exército Vermelho, eJôsef Istálin, secretário-geral do Partido Comunista. A grande questão que movimentava os dois lados em disputa era: qual deveria ser o futuro da revolução?

Para trótisqui, a União Soviética deveria difundir o movimento revolucionário no mundo todo. A internacionalização da revolução era ponto fundamental da ideologia marxista e, segundo ele, necessária para evitar o isolamento do país. Já Istálin era favorável à consolidação interna da revolução, identificada no lema “socialismo em um só país”.

Istálin venceu a disputa e consolidou sua liderança na estrutura partidária soviética. Com a justificativa de preservar a revolução, perseguiu violentamente dissidências políticas e calou vozes opositoras. trótisqui, derrotado, exilou-se na Turquia e depois no México, onde, em 1940, foi assassinado.

Um dos primeiros gestos de Istálin como ditador foi apagar a memória de trótisqui na revolução, adulterando fotos e retirando de fórma sistemática sua imagem dos documentos oficiais soviéticos. O período de ditadura stalinista, que durou longas décadas, pode ser classificado como um dos mais brutais do século vinte.

Fotografia. Ambiente com paredes em tons de verde claro. O chão é vermelho. No canto direito, um móvel vertical comprido com gavetões, um abajur e uma mesinha. No canto esquerdo, duas mesinhas com objetos em cima. Na parede, uma estante com papéis. No centro, três mesas. Uma tem uma máquina de escrever e dois livros. A mesa do meio tem dois livros e a última mesa tem uma caixa e um livro. Ao fundo, uma porta dupla com vidro.
Fotografia. Escultura em pedra. Tem estrutura retangular disposta verticalmente. Nela o nome, LEON TROSTSKY e o desenho em baixo relevo de um martelo sobreposto a uma foice. Abaixo, na base, uma placa de bronze com os nomes LEON TROTSKY e NATALIA SEDOVA.
Cômodo preservado e mausoléu no Museu Casa de León Trótisqui, na Cidade do México, México. Fotos de 2020 e 2019.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique como os desdobramentos da Primeira Guerra Mundial impactaram a Revolução Russa de 1917.
  2. O que foi a chamada Revolução de Fevereiro e que medidas o governo provisório adotou diante da crise que se espalhava pela Rússia?
  3. Explique a importância de Lênin na organização da chamada Revolução de Outubro e liste as medidas adotadas pelo governo bolchevique.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Demanda-se, aqui, a relação entre dois acontecimentos (Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa) e a caracterização de dois programas políticos (govêrno provisório e govêrno bolchevique). Para fazer as atividades, sugira aos estudantes que elaborem um quadro distinguindo os grupos políticos e seus programas com os seguintes elementos: nome do grupo; tempo no poder; principais ideias e programas; principais personagens. Não deixe de discutir novamente o conceito de revolução.

Agora é com você!

1. Os descontentamentos com o govêrno de Nicolau segundo só cresceram com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Em 1915, os problemas enfrentados pelo czar pareciam insuperáveis. Diante da crise econômica e social, das sucessivas derrotas e da forte repressão política exercida por seu govêrno, a Rússia chegou a uma situação extrema. Assim, nada pareceu menos surpreendente e inesperado do que a revolução de 1917, que derrubou a monarquia e foi universalmente saudada por trabalhadores e movimentos políticos progressistas como uma alternativa ao modelo político e econômico do capitalismo. Em certo sentido, as crises que atingiram o país no contexto da guerra geraram o ambiente perfeito para a eclosão de uma revolução.

2. A Revolução de Fevereiro englobou os eventos políticos que derrubaram o govêrno de Nicolau segundo na Rússia e que, embora fundamentados na importante participação do soviete de Petrogrado, que havia realizado a greve geral e liderado as manifestações contra o czar, foram absorvidos pelo govêrno provisório. O novo govêrno era liderado por grupos políticos identificados com o movimento dos mencheviques, capitaneados naquele momento por alêquissânder . Eles buscaram apôio político e financeiro dos países capitalistas ricos e optaram por não retirar o exército russo da Primeira Guerra Mundial. Também decretaram a anistia para os presos políticos do antigo regime czarista e concederam liberdade de imprensa.

3. Em abril de 1917, Lênin retornou do exílio e publicou as Teses de Abril, defendendo lemas como “todo poder aos sovietes” e “paz, terra e pão”, além da nacionalização das propriedades privadas e dos bancos. Lênin desejava um governo controlado pelos trabalhadores e, sobretudo, a retirada imediata da Rússia da Grande Guerra. Em outubro de 1917, ele conclamou os operários a tomar o poder: foi a Revolução de Outubro. Já como líder do novo governo bolchevique, Lênin retirou definitivamente o país da Grande Guerra. O governo bolchevique também cumpriu a promessa de confiscar indústrias e grandes propriedades rurais, distribuindo terras aos camponeses e repassando o contrôle das fábricas aos sovietes (conselhos operários).

Cruzando fronteiras

Na segunda metade da década de 1940, o escritor e jornalista britânico Diórdi Or uél publicou duas de suas obras mais famosas: os romances A revolução dos bichos, em 1945, e 1984, no ano de 1949.

No primeiro livro, o escritor fez uma crítica contundente ao modo pelo qual a Revolução Russa (simbolizada na luta dos animais contra o fazendeiro) desembocou em autoritarismo e repressão. O conflito entre os porcos Bola de Neve e Napoleão é bem característico das disputas que envolveram trótisqui e Istálin na União Soviética. De acordo com o romance, após a tomada da fazenda, os animais publicaram um manifesto com as seguintes diretrizes:

Ilustração. Ilustração de um recorte de papel-cartão na cor bege no qual está escrito em preto, em forma de lista, o seguinte texto: Os sete mandamentos. 1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo. 2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo. 3. Nenhum animal usará roupas. 4. Nenhum animal dormirá em cama. 5. Nenhum animal beberá álcool. 6. Nenhum animal matará outro animal. 7. Todos os animais são iguais.

ôr-uél, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Globo, 1996. página 23.

Com o desenrolar da narrativa e das ações colocadas em prática por Napoleão, esses mandamentos foram sendo gradativamente alterados:

“Nenhum animal dormirá em cama com lençóis”; “nenhum animal matará o outro sem motivo”; “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.

ôr-uél, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Globo, 1996. página 52, 67, 93. Adaptado/Grifos nossos.

Quatro anos depois, Diórdi Or uél voltou a ter na história uma fonte de inspiração para suas ficções. No romance 1984, ele imaginou uma distopiaglossário em que a figura do Grande Irmão, por meio do Ministério da Verdade, falsificava notícias sobre o passado para conformá-lo ao presente. Personagens e eventos que caíssem em desgraça eram deliberadamente apagados nos “buracos da memória”; números eram adulterados e novas versões dos documentos eram fabricadas para que se registrasse apenas aquilo que interessava ao govêrno. Leia este trecho:

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar as intervenções de Stálin na documentação do processo revolucionário, a seção abre espaço para trabalhar com a crítica de fontes documentais, um dos procedimentos basilares da produção historiográfica, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 3 e nº 6 e da Competência Geral da Educação Básica nº 3.

Cruzando Fronteiras

Nessa seção, é explorado o diálogo da história com a arte e a língua portuguesa por meio da análise de trechos de duas obras do escritor britânico Diórdi Or uél: A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1949). Verifique se os estudantes já leram esses romances. Se não, seria interessante incentivá-los a ler, principalmente, A revolução dos bichos (que em traduções mais recentes também aparece intitulado como A fazenda dos animais), cuja linguagem é mais acessível que a de 1984. As atividades demandam dos estudantes o estabelecimento de relações entre as metáforas contidas no romance e o contexto revolucionário russo, que terminou na ditadura de Istálin. Isso é feito por meio da sugestão de análise de fotos adulteradas pelo estadista soviético com o objetivo de apagar trótisqui da memória da revolução.

Interdisciplinaridade

Por envolver a análise dos romances A revolução dos bichos e 1984, de Diórdi Or uél, aproximando-os do contexto revolucionário soviético, a seção contribui para o desenvolvimento de duas habilidades de língua portuguesa: ê éfe seis sete éle pê dois sete – “Analisar, entre os textos literários e entre estes e outras manifestações artísticas (como cinema, teatro, música, artes visuais e midiáticas), referências explícitas ou implícitas a outros textos, quanto aos temas, personagens e recursos literários e semióticos” – e ê éfe seis nove éle pê quatro quatro – “Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos fórmas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção”. A seção também promove o desenvolvimento da habilidade de arte ê éfe seis nove á érre três um – “Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética”.

“E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido – se todos os registros contassem a mesma história –, a mentira tornava-se história e virava verdade. ‘Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado’, rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fôra alterado. Tudo o que fosse verdade agora fôra verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória”.

ORWELL, G. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 47.

Tendo como ponto de partida as narrativas de Diórdi Or uél e o que você estudou neste capítulo, analise as imagens a seguir. Depois, faça as atividades propostas.

Duas fotografias em preto e branco. Em ambas, Lênin sobre um palanque de madeira. Ele usa terno e gravata. Segura o chapéu em uma das mãos. Ao redor, pessoas assistem. Na imagem da esquerda, há dois homens ao lado do palanque onde Lênin discursa. Na imagem da direita, a lateral do palanque está vazia.
Lênin discursando para uma multidão em Moscou, Rússia. Fotos de 1920.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na primeira imagem, nas escadas da tribuna, do lado direito, um pouco abaixo do púlpito onde se encontra Lênin, estão camenév e trótisqui, principais adversários políticos de Istálin. Note esse lugar na segunda imagem. Algo mudou, certo?

Responda no caderno.

  1. Como os eventos da Revolução Russa podem ter inspirado o escritor Diórdi Or uél a escrever o romance A revolução dos bichos?
  2. Como a mudança nos sete mandamentos em A revolução dos bichos pode estar relacionada a uma visão crítica da Revolução Russa? Em sua resposta, indique os possíveis sentidos do mandamento “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
  3. Que diferenças você consegue identificar entre as duas versões da foto apresentada?
  4. Levando em consideração o trecho do romance 1984, escreva um pequeno texto analisando as duas versões da foto. Explique como a narrativa do romance pode ser entendida à luz dos acontecimentos históricos na União Soviética.
Respostas e comentários

Istálin não disputou apenas a memória da revolução. Além de apagar seus opositores políticos, ele mudou o nome de Petrogrado – que já havia deixado de se chamar São Petersburgo no processo revolucionário – para Leningrado em 1924, ano da morte de Lênin, como uma homenagem a ele (e, assim, afirmando-se como seu sucessor “legítimo”). Após a queda da União Soviética e por decisão de um plebiscito, a cidade foi rebatizada de São Petersburgo. Esses acontecimentos evidenciam a disputa pelos marcos da memória nos momentos revolucionários e de transformação política.

Atividades

1. A pergunta pode ser respondida apenas pela leitura do texto da seção. Espera-se que os estudantes identifiquem o fato de que, na visão de ôr-uél, metaforizada no romance e nas ações de Napoleão, a revolução acabou por desembocar no autoritarismo e na repressão.

2. A mudança nos sete mandamentos reflete uma adaptação dos ideais revolucionários aos interesses de Napoleão, que se torna um líder autoritário. O mandamento reproduzido simboliza o modo como a enunciação da igualdade, uma das bandeiras do movimento, sofre distorções e é adaptada para a organização de um govêrno autoritário. Lembre aos estudantes que parte da retórica política soviética se construiu com base nos princípios da igualdade e da não divisão ou hierarquia de classes. No entanto, não foi exatamente o que ocorreu ao final do processo revolucionário na Rússia. A ditadura stalinista acabou por se mostrar uma das mais violentas da história.

3. A segunda imagem foi adulterada pelo govêrno de Istálin. Na foto original do discurso de Lênin (primeira imagem), aparecem dois importantes líderes do movimento revolucionário que se tornaram desafetos políticos de Istálin: trótisqui e camenév.

4. Espera-se que os estudantes estabeleçam relações entre o trecho apresentado do romance (que indica a manipulação do passado para adaptá-lo ao presente) e as versões da fotografia. Lênin foi celebrado como herói na União Soviética stalinista, mas a memória dos desafetos políticos de Istálin foi deliberadamente apagada. As ações do ditador são permeadas pela lógica de que o contrôle sobre o passado é feito pelos grupos que detêm o poder no presente. São esses grupos que controlam a narrativa e o que deve ser lembrado ou esquecido.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Anote no caderno a resposta correta. A Revolução Mexicana de 1910, do ponto de vista social, caracterizou-se:
    1. pela intensa participação camponesa.
    2. pela aliança entre operários e camponeses.
    3. pela liderança de grupos socialistas.
    4. pelo apôio da Igreja aos rebeldes.
    5. pela forte presença de combatentes estrangeiros.
  2. (Unésp-São Paulo – adaptado)

“A Nação terá em qualquer tempo o direito de impor à propriedade privada as modalidades ditadas pelo interesse público reticências. Com esse objetivo serão determinadas as medidas necessárias ao fracionamento dos latifúndios reticências. Os povoados, vilarejos e comunidades que careçam de terras e águas ou não as tenham em quantidades suficientes para as necessidades de sua população terão direito a elas, tomando-as das propriedades vizinhas, porém respeitando, sempre, a pequena propriedade.”

Artigo 27 da Constituição mexicana de 1917. In: Équitor H. Brút. Revoluções na América Latina, 1988.

Anote no caderno a resposta correta. O artigo 27 da Constituição elaborada ao final da Revolução Mexicana dispõe sobre a propriedade de terra e:
  1. contempla parcialmente as reivindicações dos movimentos camponeses e indígenas, por distribuição de terras.
  2. representa a vitória dos projetos defendidos pelos setores operários e camponeses vinculados a grupos socialistas e anarquistas.
  3. expõe o avanço do projeto liberal burguês e de sua concepção de desenvolvimento de uma agricultura integralmente voltada à exportação.
  4. restabelece a hegemonia sociopolítica dos grandes proprietários rurais e da Igreja Católica, que havia sido abalada nos anos de luta.
  5. corresponde aos interesses dos grandes conglomerados norte-americanos, que se instalaram no país durante o período do porfirismo.
  1. Sobre a guerra civil na Rússia, identifique, no caderno, as alternativas verdadeiras e as falsas.
    1. No contexto dessa guerra, a família romanóv foi executada na cidade de Ecaterimburgo, em julho de 1918.
    2. A guerra durou de 1918 a 1921, deixando aproximadamente 10 milhões de mortos e o país destruído e em crise social e econômica.
    3. Apesar do comunismo de guerra, a propriedade privada e a economia de mercado não foram abolidas no país; apenas regulamentadas.
    4. O govêrno bolchevique adotou o comunismo de guerra, com o contrôle do Estado sobre todos os meios de produção, incluindo terras.
    5. Na guerra, enfrentaram-se o Exército Branco, liderado por contrarrevolucionários com ajuda de países estrangeiros, e o Exército Vermelho bolchevique, liderado por trótisqui e outros.

Aprofundando

4. (Unicamp-SP)

“A Primeira Guerra Mundial abalou profundamente todos os povos envolvidos, e as revoluções de 1917-1918 foram, acima de tudo, revoltas contra aquele holocausto sem precedentes, principalmente nos países do lado que estava perdendo. Mas em certas áreas da Europa, e em nenhuma outra mais que na Rússia, foram mais que isso: foram revoluções sociais, rejeições populares do Estado, das classes dominantes e do istátus quó.

Adaptado de Eric Hobsbawm. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. página 262-263.

  1. Relacione a Primeira Guerra Mundial e a situação da Rússia na época.
  2. Cite e explique um princípio da Revolução Russa de 1917.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar dois documentos com diferentes versões sobre um mesmo contexto histórico, solicitando que os estudantes trabalhem com diferentes interpretações, a atividade 6 contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 3, nº 4 e nº 6.

Atividades

Organize suas ideias

1. Alternativa a.

2. Alternativa aponto

3. a) V; b) V; c) F; d) V; e) V.

Aprofundando

4. a) A revolução na Rússia foi profundamente influenciada pelos acontecimentos gerados no país pela Primeira Guerra Mundial. De fato, a crise política, econômica e social que afetou o país nos primeiros anos do século vinte foi agravada com a participação russa no conflito. A situação de carestia e as várias derrotas estão na origem da movimentação dos trabalhadores russos no ano de 1917.

b) A Revolução Russa foi um movimento socialista, pautado no princípio da criação de uma ordem política e econômica contrária às injustiças do capitalismo. Nesse sentido, seu programa político previa o fim da propriedade privada e da exploração dos trabalhadores.

5. (Fuvésti-São Paulo – adaptado) Anote no caderno a resposta correta. Neste mural, o pintor mexicano retratou a morte de Emiliano Zapata. Observando a pintura, é correto afirmar que Rivera:

Pintura. Dois corpos enterrados embaixo de uma plantação. O corpo à esquerda é de um homem de bigode com o corpo todo enrolado em um tecido vermelho. O corpo à direita está parcialmente enrolado com um tecido vermelho.
Mural O sangue dos mártires revolucionários fertilizando a terra, de Diego Rivera, 1926-1927.
  1. foi uma rara exceção, na América Latina do século vinte, pois artistas e escritores se recusaram a relacionar arte com problemas sociais e políticos.
  2. retratou, no mural, um tema específico, sem semelhanças com a situação dos camponeses de outros países da América Latina.
  3. quis demonstrar, no mural, que, apesar da derrota armada dos camponeses na Revolução Mexicana, ainda permaneciam esperanças de mudanças sociais.
  4. representou, no mural, o girassol e o milharal como símbolos religiosos cristãos, próprios das lutas camponesas da América Latina.
  5. transformou-se numa figura única na história da arte da América Latina, ao abandonar a pintura de cavalete e fazer a opção pelo mural.

6. Emiliano Zapata se tornou um dos líderes mais importantes da Revolução Mexicana, sendo celebrado como herói ainda em vida. No entanto, sua imagem despertou desconfiança e medo em muitos setores da sociedade. Leia a seguir dois textos. O primeiro é a letra de uma música mexicana datada de 1934; o segundo foi extraído de uma notícia de jornal que circulou no Brasil em 1913.

“Enterraram Zapata

Em uma tumba profunda

Pois acreditavam que sairia

Para voltar a luta

Continuava vivo nos índios

A verdade de sua palavra:

‘A terra não pertence

Mais do que aquele que a trabalha’

Nove anos lutou Emiliano

Pelo ideal agrarista

E jamais tremeu a sua mão”

A MORTE de Emiliano Zapata.. In: DROMUNDO, B. Emiliano Zapatabiografía. Clásicos del ZapatismoSecretaria de Cultura, México, 2019. página 334. Tradução nossa.

“Entre os exércitos que se dilaceram no México, um existe, certamente, o mais estranho que se conhece encerrando o poder supremo do terror. Trata-se de um exército composto exclusivamente de soldados leprosos. É o exército do famoso general Zapata reticências. Sabe-se que a lepra no sul do México é uma moléstia comum, encontram-se lá leprosos com rostos horrivelmente mascarados de branco ou de vermelho ou de negro. Desses homens, reunidos, resolveu fazer uma fôrça o general revolucionário, que mantém em permanente terror e sobressalto o govêrno da convulsionada república.”

Texto publicado no jornal Minas Gerais, 15 julho 1913. Apud: DIAS, N. V. O Brasil no “espelho do México”: visões da Revolução Mexicana na imprensa brasileira (1910-1914). Revista Espaço Acadêmico, Maringá, número 114, novembro 2010, página 40.

  1. Como Emiliano Zapata é descrito no primeiro texto? Como seu exército é descrito no segundo texto?
  2. Com base no que você estudou até agora, elabore uma hipótese que justifique essas diferentes versões da imagem de Zapata.
  3. Em sua opinião, por que no texto do jornal brasileiro Zapata e seu exército são descritos de fórma pejorativa?
Respostas e comentários

5. Alternativa c.

6. A atividade incentiva a prática da análise de discurso por meio da leitura da letra de uma música sobre Zapata, de 1934, e de um trecho de um texto de 1913 publicado no jornal Minas Gerais. Demanda-se que os estudantes analisem diferentes discursos sobre os acontecimentos no México durante as primeiras décadas do século vinte. Para compor as respostas, é necessário que eles avaliem os interesses por trás da produção dos discursos, o contexto em que foram produzidos e as escolhas estruturais de cada texto. Além disso, a atividade trabalha com a leitura inferencial, incentivando os estudantes a primeiramente analisar os dois excertos para compreender o ponto de vista de cada autor, depois relacioná-los entre si agregando conhecimentos adquiridos com o estudo do capítulo para, de fórma comparativa, conseguir deduzir as razões para as diferentes visões dos autores dos documentos. Almeja-se, assim, também sensibilizar os estudantes para as diferentes apropriações simbólicas e discursivas de um mesmo evento histórico.

a) Para responder a primeira questão é importante refazer a leitura e localização de elementos explícitos nos textos. Assim, o primeiro excerto descreve Zapata como uma pessoa corajosa e de ideias imortais; é possível verificar a sua coragem em: “jamais tremeu a sua mão”; a imortalidade de suas ideias está presente no trecho: “Continuava vivo nos índios/A verdade de sua palavra”. Já no segundo excerto, o exército de Zapata é descrito como um exército de leprosos que aterrorizam a república.

b) A resposta à segunda questão demanda um nível mais avançado de leitura, pois o estudante deve articular a leitura e interpretação dos textos ao conteúdo que aprendeu em sala de aula. Ao ler o texto-base, os estudantes entraram em contato com as aspirações camponesas do exército zapatista. A luta pela terra foi um fator determinante para angariar adeptos às causas agraristas, como as de Zapata. Ao mesmo tempo que despertava esperanças, a figura do líder camponês gerava repulsa em setores da sociedade mexicana. Comente com os estudantes o fato de que parte da imprensa brasileira interpretava os acontecimentos no México à luz do cangaço e das experiências de luta popular como a de Canudos. Por isso, Zapata foi descrito no texto do jornal como uma moléstia social que precisava ser extirpada.

c) Espera-se que o estudante se posicione a respeito de uma questão que ultrapassa o texto do jornal. O estudante deverá ir além do que está explícito no trecho, fazendo a relação entre o que acontecia no México e no Brasil (como o cangaço). Nesse sentido, é possível que a resposta proponha que se trata de uma estratégia para desmoralizar, desacreditar e diminuir o exército de Zapata.

Glossário

Czar
: palavra derivada do termo latino caézar, título dado aos imperadores romanos.
Voltar para o texto
Calendário juliano
: calendário elaborado pelo astrônomo Sosígenes e instituído na Roma antiga por Júlio César, em 45antes de CristoDe acordo com os cálculos de Sosígenes, um ano tinha 365 dias e 6 horas. Ao formular o calendário solar, ele considerou um ano com 365 dias, divididos em 12 meses. Para corrigir o tempo que sobrava em cada ano (6 horas), criou o ano bissexto, com 366 dias, que se repetiria a cada intervalo de quatro anos com 365 dias. O calendário juliano foi usado na Europa Ocidental até 1582, sendo substituído pelo gregoriano, que é o utilizado no Brasil atualmente. O calendário juliano continua a ser usado pelos cristãos ortodoxos.
Voltar para o texto
Distopia
: nesse contexto, lugar hipotético onde se vive sob sistemas de privação, perda ou desespero; antiutopia.
Voltar para o texto