CAPÍTULO 8 Conflitos regionais, socialismo e descolonização

Os espaços geográficos são muito importantes para o desenvolvimento das sociedades. O espaço sobre o qual um Estado exerce sua soberania, delimitado por fronteiras políticas, é denominado território.

Vários territórios são alvos de disputas entre diferentes grupos sociais. Há pessoas ligadas por laços étnicos, históricos e culturais que lutam para ocupar um território e se organizar nele de fórma livre e independente. Isso ocorre, por exemplo, com o povo palestino, no Oriente Médio, desde a segunda metade do século vinte.

Em vários momentos da história, grupos sociais tiveram de lutar para usufruir dos mesmos direitos que os demais. Isso ocorreu, por exemplo, na África do Sul, durante o apartheid, um regime de segregação racial implementado no país entre 1948 e 1994.

Fotografia. No primeiro plano, pessoas em uma manifestação na rua. Carregam cartazes amarelos com palavras de ordem em inglês pendurados ao corpo.
Manifestação contra o apartheid em Nova Iorque, Estados Unidos. Foto de 1991. Nos cartazes está escrito: “África do Sul livre”.
Fotografia. No primeiro plano, mulheres reunidas em manifestação de rua. Elas carregam cartazes e sinalizadores com fumaça vermelha. Algumas usam máscara de proteção facial. A mulher à frente usa um lenço encobrindo parcialmente a cabeça. Nos cartazes, palavras de ordem escritas em inglês.
Protesto pela libertação da Palestina após o aumento da violência do Estado de Israel, em Londres, Reino Unido. Foto de 2021. No cartaz do lado esquerdo da imagem, está escrito: “Acabe com o apartheid”.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que as manifestações retratadas nas imagens têm em comum?
  2. Como as reivindicações dos manifestantes se relacionam ao espaço?
  3. Em sua opinião, por que o termo apartheidainda é utilizado para denunciar fórmas de segregação? Cite um exemplo estudado por você em que esse termo poderia ser aplicado.
Respostas e comentários

Abertura

Na abertura do capítulo, aborda-se o tema da construção do espaço permeada por relações de poder e assimetrias que configuraram práticas de segregação, como o regime do apartheid, na África do Sul, e disputas, como o conflito árabe-israelense. A fórma como indivíduos e coletividades produzem o espaço e estabelecem relações diversas, envolvendo economia, política, cultura e direito de autodeterminação, é o elo entre os diversos temas do capítulo.

Atividades

1. Embora as imagens refiram-se a contextos históricos distintos, ambas as manifestações expressam o desejo pelo fim da segregação (apartheid): na África do Sul e na Palestina. Essas temáticas serão exploradas ao longo do capítulo.

2. A primeira imagem diz respeito à luta contra a segregação racial – mais especificamente, contra o apartheid na África do Sul. O conflito entre Israel e Palestina é constantemente veiculado pelos diversos meios de comunicação e a questão judaico-palestina foi introduzida no capítulo 1, quando foram tratados o final da Primeira Guerra Mundial e suas consequências. Naquele momento, também foram abordados o sionismo e a reivindicação da criação de um Estado judaico na Palestina. Por isso, é provável que os estudantes saibam relacionar a segunda imagem a essa questão, que se mantém desde a criação do Estado de Israel, em 1948. Em ambos os casos, as imagens estão relacionadas ao uso e ao contrôle dos espaços e territórios, vinculados às relações de poder e às fórmas de segregação locais.

3. Embora os estudantes ainda não tenham estudado o apartheid, podem ter tido acesso prévio a filmes, livros e séries a respeito desse regime ou da vida de Nelson Mandela. Hoje, o conceito de apartheid é utilizado para designar diversos movimentos de segregação. Como já foi tratada no capítulo 7 a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, essa noção não é totalmente desconhecida por eles. O conceito também pode ser mobilizado no estudo da questão judaico-palestina e do colonialismo israelense em territórios palestinos.

A questão judaico-palestina: passado e presente

Desde a segunda metade do século vinte, uma das regiões mais disputadas e potencialmente explosivas do planeta é o chamado Oriente Médio. As disputas políticas, econômicas, religiosas e fronteiriças na região são marcas de um processo histórico que remonta do final do século dezenove ao fim da Primeira Guerra Mundial.

Até o final da primeira metade do século vinte, a região foi controlada pelo Reino Unido sob a fórma de um protetorado, como você estudou no capítulo 1. Com o final da Segunda Guerra Mundial, e o anúncio da saída dos britânicos da região, a Organização das Nações Unidas (ônu) apresentou um plano para a divisão da Palestina em 1947.

A proposta original da ônu de 1947 previa a criação de dois Estados na região: um árabe (Palestina) e outro judaico (Israel).

Os palestinos e a Liga Árabe (organização formada por países vizinhos, de maioria islâmica) não aceitaram essa divisão. Diante disso, em 1948, os judeus criaram unilateralmente o Estado de Israel, desencadeando uma série de guerras entre judeus e árabes, que se configuram como uma das grandes feridas históricas do Oriente Médio.

Desde sua criação, o Estado de Israel adotou uma política expansionista, avançando sobre territórios reservados aos palestinos na proposta original da ônu.

Demografia na Palestina – 1800-1947

Ano

Judeus

Árabes

Total

1800

6.700

268.000

274.700

1880

24.000

525.000

549.000

1915

87.500

590.000

677.500

1931

174.000

837.000

1.011.000

1936

400.000

800.000

1.200.000

1947

630.000

1.310.000

1.940.000

FONTE: Séla, S. D. C. A. (edição). The continuum political encyclopedia of the Middle East. New York: Continuum, 2002. página 446.

Israel e territórios palestinos – 1946-2017

Mapa. Israel e territórios palestinos, 1946 a 2017. Destaque para a região da Palestina. Mapa em cinco momentos distintos. Mapa 1. 1946. Legenda. Laranja: Território palestino. Amarelo: Território judaico. Território palestino: ocupa quase toda a região destacada, incluindo a cidade de Jerusalém. Território judaico: algumas pequenas regiões em amarelo, espalhadas pelo território. Mapa 2. 1947. Legenda. Laranja: Proposta da ONU para o Estado Palestino. Amarelo: Proposta da ONU para o Estado Judaico. Proposta da ONU para o Estado palestino: região central do território destacado, incluindo a cidade de Jerusalém, uma pequena área ao norte e uma faixa que se estende da região da Faixa de Gaza a quase metade da fronteira com o Egito, além de um pequeno ponto no litoral do Golfo de Aqaba. Proposta da ONU para o Estado judaico: parte das regiões norte, central e sul do território destacado, incluindo boa parte do território na fronteira com a Jordânia. Mapa 3. 1948. Legenda. Laranja: Território palestino. Amarelo: Território israelense. Marrom: Plano de partilha da ONU. Território palestino: Faixa de Gaza e região da Cisjordânia, incluindo a cidade de Jerusalém. Território israelense: parte das regiões norte, central e sul do território destacado, incluindo boa parte do território na fronteira com a Jordânia. Plano de partilha da ONU: pequena área ao norte, faixa que se estende por quase metade da fronteira com o Egito e regiões ao redor da Cisjordânia, ocupados por Israel e que, pela proposta da ONU, seriam territórios palestinos. Mapa 4. 1967. Legenda: Laranja: Território ocupado. Amarelo: Território israelense. Território ocupado: Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo a cidade de Jerusalém. Território israelense: engloba o território israelense do plano de partilha da ONU mais as áreas ocupadas no norte do território, ao redor da Cisjordânia e na fronteira com o Egito, além da região das Colinas de Golã, território sírio. Mapa 5. 1967-2017. Legenda. Laranja: Território palestino. Amarelo: Territórios controlados por Israel, incluindo as zonas ocupadas. Território palestino: Faixa de Gaza e pequenos pontos da Cisjordânia. Territórios controlados por Israel, incluindo as zonas ocupadas: engloba quase todo o território destacado, incluindo boa parte da Cisjordânia, incluindo a cidade de Jerusalém, e o território das Colinas de Golã. No canto direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 90 quilômetros.

FONTES: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 103; báutsmen, A. êti ól (edição). Atlas géopolitique mondial. Monaco: Éditions du Rocher, 2019. página 47.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analisando o quadro e o mapa, considerando o que você estudou anteriormente, cite pelo menos um motivo para o aumento da população judaica na Palestina durante a primeira metade do século vinte e para o apôio da ônu à criação do Estado de Israel em 1948.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: Além do movimento sionista, cujos integrantes, no final do século dezenove, reivindicavam a criação de um Estado judaico na Palestina, é possível citar a perseguição aos judeus pelo regime nazista nos anos 1930 e 1940, o que elevou a população que migrou para a região fugindo da política de extermínio. É importante destacar o fato de que os debates sobre a criação de um Estado judaico na Palestina são anteriores ao Holocausto. No entanto, este foi um elemento fundamental para mobilizar a opinião pública internacional em favor da criação do Estado de Israel.

Objetivos do capítulo

Descrever o processo histórico no qual se constituiu o conflito árabe-israelense, destacando a questão palestina.

Caracterizar a Revolução Chinesa, abordando a importância do Partido Comunista Chinês e de máo tsé tung para a estruturação política, cultural e econômica da China na segunda metade do século vinte.

Caracterizar o movimento dos países não alinhados e sua importância para a compreensão do conceito de terceiro-mundismo.

Compreender o processo histórico de luta contra o colonialismo europeu na Ásia e na África durante o século vinte.

Analisar os conceitos de desobediência civil e de negritude, assim como correntes de pensamento como o pan-africanismo, identificando suas influências nos processos de descolonização asiático e africano.

Analisar a política sul-africana do apartheid, indicando suas consequências sobre a população local, bem como os diversos movimentos de resistência que se formaram no país.

Caracterizar a África contemporânea, indicando parte dos desafios enfrentados pelo continente no final do século vinte e no início do século vinte e um.

Justificativa

Os objetivos desse capítulo visam sensibilizar os estudantes para os diversos poderes e interesses culturais, políticos e econômicos que permearam a ocupação e as disputas de territórios asiáticos e africanos ao longo do século vinte, especialmente aqueles relacionados aos processos de descolonização. Por meio da análise de temáticas como as lutas contra o colonialismo europeu, as resistências à política do apartheid e a caracterização da África contemporânea, pretende-se destacar a agência histórica dos grupos asiáticos e africanos, incentivando os estudantes a produzir um conhecimento plural e descentralizado de noções culturais e políticas europeias.

Bê êne cê cê

Ao possibilitar a análise diacrônica da distribuição territorial de Israel e da Palestina entre os anos 1940 e 2010, com base em uma representação cartográfica, o boxe “Se liga no espaço!” contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 5 e nº 7 e das Competências Específicas de História nº 1, nº 3 e nº 5.

Guerras árabe-israelenses

A Primeira Guerra Árabe-Israelense ocorreu entre 1948 e 1949. O conflito envolveu o recém-criado Estado de Israel e uma liga de países árabes, representados por Egito, Síria, Iraque, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita. Com a vitória no conflito, Israel ampliou significativamente seu território. Como consequência, pelo menos 711 mil palestinos se refugiaram em outros países, segundo estimativas da ônu.

Em 1956, o presidente do Egito, Ábdel Násser, promoveu a nacionalização do Canal de Suez – principal ponto de ligação entre o Mar Mediterrâneo e os oceanos Índico e Pacífico. Em razão disso, o Reino Unido e a França, que tinham interesses econômicos na região, apoiados por Israel, invadiram a Península do Sinai para garantir a livre navegação em Suez, iniciando a Segunda Guerra Árabe-Israelense.

Diante desses conflitos, em 1964 fundou-se a Organização para a Libertação da Palestina (ó éle pê), tendo como um dos principais líderes Iásser Arafát. Grupos vinculados à ó éle pê passaram a atuar de fórma paramilitar e a organizar a luta pelos interesses dos árabes na região.

Em 1967, o Egito bloqueou alguns portos de Israel. Isso motivou o início da Terceira Guerra Árabe-Israelense, ou Guerra dos Seis Dias. Com apôio dos Estados Unidos, Israel rapidamente invadiu o Egito, a Síria e a Jordânia, passando a controlar os territórios do Sinai e da Faixa de Gaza (ao sul) e das Colinas de Golã (ao norte).

Com esses conflitos, criou-se um clima de tensão na região, e, em 1973, teve início a Quarta Guerra Árabe-Israelense, ou Guerra do iôn kipúr. O conflito terminou mais uma vez com a vitória de Israel, que manteve o contrôle sobre as regiões que havia conquistado (analise novamente o mapa da página anterior).

Fotografia em preto e branco. Multidão de pessoas se descolando, atravessando um curso de água. As pessoas carregam malas e outros objetos pessoais.
Palestinos que foram obrigados a deixar suas casas em busca de refúgio após a Primeira Guerra Árabe-Israelense, entre 1948 e 1949.

Dica

FILME

Promessas de um novo mundo

Direção: B. Z. gôldbérg e Justíne Chapiro. Israel e Estados Unidos, 2001. Duração: 85 minutos

O documentário trata do conflito entre o Estado de Israel e os palestinos pela perspectiva de crianças palestinas e israelenses.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre refugiados palestinos foram retirados de: UNITED NATIONS. General progress report and supplementary report of the United Nations Conciliation Commission for Palestine: covering the period from 11 Dec.1949 to 23 Oct. 1950. New York: United States, 1951. página 24.

Classificação indicativa de Promessas de um novo mundo: 12 anos.

É importante retomar a questão do sionismo e esclarecer aos estudantes outros termos fundamentais para a compreensão crítica da disputa. O judaísmo engloba uma religião, uma cultura e um povo. Há diversas correntes religiosas judaicas, inclusive as que defendem o Estado laico. A questão dos povos árabes, em geral, é etnolinguística, não religiosa. Há árabes cristãos, judeus e muçulmanos, por exemplo. Já o termo palestino é utilizado para designar especificamente árabes habitantes da Palestina, enquanto israelense diz respeito ao pertencimento ao Estado de Israel. Há também o termo sionista, usado para designar o defensor da existência do Estado de Israel e sua importância para a continuidade do povo judeu.

O sionismo, como movimento, teve início no fim do século dezenove como estratégia de defesa diante da perseguição sofrida por judeus na Europa. No entanto, ao longo de décadas, sua atuação ocorreu com base na premissa de dar uma “terra sem povo para um povo sem terra” – argumento discutível, visto que a terra em questão era habitada por populações de maioria árabe havia vários séculos. Assim, a lógica da ocupação não era simplesmente de retorno à terra, mas de colonização.

Vale ressaltar o fato de que nem todo judeu é sionista. Da mesma fórma, há setores, mesmo no judaísmo, contrários ao modelo político que constitui o Estado de Israel, por enxergar nele uma estrutura que perpetua a violência. Esses grupos são chamados de antissionistas. É frequente o antissionismo ser retratado por sionistas como uma corrente antissemita. O antissemitismo, porém, é o ódio étnico e religioso aos judeus, ao passo que o antissionismo é um posicionamento político-ideológico. São aspectos distintos que podem, ou não, coexistir. Vale lembrar que povos árabes e judeus apresentam origem semita e que o antissemitismo, por muito tempo, englobou populações árabes e muçulmanas.

Curadoria

Lemon Tree (Filme)

Direção: Erôn Ríclis. Alemanha, Israel e França, 2008. Duração: 108 minutos.

Esse filme trata da vida de uma viúva palestina, Salmá Zidâm, que se transforma quando o ministro de Defesa de Israel se muda para a casa ao lado da dela. Os limões colhidos em seu quintal são a fonte de subsistência de Salmá, que, com eles, produz compotas, mas o ministro israelense decide que, para a segurança dele, os limoeiros de Salmá, plantados há décadas por seu pai, devem ser derrubados.

Na década de 1980, iniciou-se uma forte resistência palestina ao contrôle cada vez maior da região por Israel. Formaram-se as chamadas intifadas: revoltas populares caracterizadas por conflitos entre as fôrças militares de Israel e a população civil palestina, geralmente armada com pedaços de pau e pedras.

Somente em 1993, as negociações de paz avançaram e deram origem ao Acordo de Oslo, assinado pelo então primeiro-ministro israelense ítzác rábin e por Iásser Arafát, líder da ó éle pê. Ao assinar o acordo, que foi intermediado pelo então presidente dos Estados Unidos, bil clínton, os palestinos reconheciam o Estado de Israel e os israelenses se comprometiam a retirar seus exércitos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, aceitando o direito dos palestinos a um Estado livre e autônomo na região.

A paz, no entanto, durou pouco. Na década de 2000, a tensão voltou a crescer com atentados comandados por grupos terroristas palestinos, como o ramás. Em 2002, com a justificativa de proteger-se dos atentados, o govêrno de Israel deu início à construção de um muro na divisa do país com a Cisjordânia, separando o território judaico do palestino.

Em 2018, o govêrno de dônald tramp, nos Estados Unidos, reconheceu Jerusalém, objeto de disputa entre palestinos e israelenses, como a capital de Israel, transferindo para a cidade a embaixada estadunidense, antes fixada em tél avívi. O episódio gerou enfrentamentos que resultaram em 55 pessoas mortas e pelo menos duas mil feridas. Até 2022, nenhuma das negociações de paz para a região havia acarretado o fim da violência e das disputas territoriais.

Fotografia. Em primeiro plano, mulher no alto, observa as casas e prédios em ruínas. No centro da imagem, algumas pessoas estão entre os escombros, observando o que restou do local.
Famílias palestinas diante dos escombros de suas casas, em Beit Hanoun, Gaza, após o cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O conflito entre o Estado de Israel e o povo palestino expõe a população civil a escaladas de violência. Em maio de 2021, por exemplo, uma onda de violência entre o govêrno de Israel e o grupo ramás atingiu a região. Uma das principais razões para o início do conflito foi a decisão dos tribunais israelenses de expulsar famílias palestinas que viviam no bairro de cheiqui djárrá, localizado na parte leste de Jerusalém, região reivindicada por grupos de colonos judeus. Após onze dias de violência e mortes que atingiram principalmente a população civil palestina, um cessar-fogo simultâneo, mediado pelo Egito, foi acordado entre Israel e o grupo ramás.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre vítimas de conflito na Palestina foram retirados de: MAIS de 50 palestinos mortos em protestos contra transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém; entenda. bê bê cê News Brasil, 14 maio 2018. Disponível em: https://oeds.link/5vyXKo. Acesso em: 8 abril 2022.

Bê êne cê cê

Ao tratar da criação do Estado de Israel e dos deslocamentos da população palestina, o conteúdo se relaciona às Competências Específicas de História nº 2 e nº 5.

Por meio do panorama do conflito na região da Palestina, é possível compreender a formação da conjuntura de violência que afeta principalmente a população palestina e o quadro contemporâneo de crise humanitária. Quando se entende esse processo, percebem-se as ambiguidades dos diversos agentes, inclusive das organizações internacionais, e os problemas gerados pelo sectarismo e pela intolerância, bem como sua instrumentalização para garantir o contrôle político e territorial.

O termo árabe Nácba, que significa “catástrofe”, refere-se a 15 de maio de 1948, um dia depois da declaração de independência de Israel, marco da expulsão da população palestina da região. O processo, que já ocorria antes disso, passou a ser sistemático, intensificando-se ao longo das décadas. Com base nesse conceito, movimentos palestinos e antissionistas de diversas vertentes reivindicam o retorno dos palestinos aos territórios dos quais suas famílias foram expulsas. Há diversas abordagens. As mais conhecidas são as que envolvem atentados terroristas, sobretudo pelas alas extremistas do partido Hamas. Uma das que mais ganhou força nos últimos anos foi a tática do boicote a Israel, ligada também ao conceito de sumud (valor de resiliência e resistência diante das adversidades).

Curadoria

Vocabulário da ocupação da Palestina (Artigo)

Jade Lopes. Sul21, 13 outubro 2016. Disponível em: https://oeds.link/ybKzXH. Acesso em: 7 junho 2022.

O artigo de Jade Lopes apresenta informações sobre termos como Nácbasamáde outros ligados ao tema. O texto também contém reflexões sobre o aspecto simbólico da mudança dos topônimos de origem árabe para outros de origem hebraica nas regiões em disputa (como Iáfa Telavivee

A Revolução Chinesa

Na época em que a ônu propôs o plano de partilha da Palestina, estava em curso, na China, a primeira grande revolução liderada por um partido comunista fóra da União Soviética.

Oficialmente, a Revolução Popular Chinesa teve início em 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, assim que as tropas japonesas se retiraram do território do país. No entanto, a origem desse processo é mais antiga e está relacionada a uma série de disputas internas e à luta dos chineses contra a presença imperialista na região.

Você se recorda do que estudou sobre o imperialismo no 8º ano? Pois bem, desde a segunda metade do século dezenove, o território chinês foi cobiçado por países como Reino Unido, França, Estados Unidos e Japão. Em linhas gerais, a presença estrangeira era aceita e, até certo ponto, incentivada pela dinastia Qin, que governou a China por mais de 260 anos.

Em 1911, o império passou a sofrer forte oposição do Partido Nacionalista Chinês (cuomintâng). O que começou como uma revolta na cidade de Utiã, nas proximidades de Wuhan, logo se intensificou, provocando a deposição do imperador pu í, em 1912. A Revolução Chinêi, como ficou conhecida, instaurou a república na China, mas não resolveu os diversos conflitos internos que assolavam o país.

Nesse contexto, incentivado pelos acontecimentos da Revolução Russa de 1917, teve origem o Partido Comunista Chinês (pê cê cê). Fundado em 1921, ele disputou nas décadas seguintes o comando da China com o cuomintâng. Em 1925, o pê cê cê passou a ser fortemente perseguido pelos nacionalistas, tendo os seus integrantes de se retirar para o interior do país.

Em 1934, essa perseguição se transformou em campanha militar aberta contra os comunistas. Estes, liderados por iniciaram a retirada para o norte da China, conhecida como Longa Marcha.

Fotografia em preto e branco. Mao Tsé-Tung, senhor oriental de boina sentado em um cavalo. Homens armados estão a pé, ao redor dele. Um deles puxa as rédeas do cavalo.
máo tsé tung(a cavalo) e outros comunistas durante a Longa Marcha, na China. Foto de cêrca de 1935.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Longa Marcha aconteceu entre outubro de 1934 e outubro de 1935. Participaram dela aproximadamente 100 mil pessoas, que percorreram mais de 10 mil quilômetros enfrentando fome, frio e muitas batalhas. Durante esse percurso, os comunistas difundiram suas ideias entre os camponeses e conquistaram adeptos, o que foi importante para a efetivação da revolução.

Dica

LIVRO

Uma vida chinesa, deLi Cunú e Filipe Otiêi. São Paulo: dáblio ême éfe Martins Fontes, 2017.

Essa trilogia em quadrinhos conta a vida de uma família tendo como pano de fundo a história da China desde a criação da República Popular, sob o govêrno de máo tsé tung.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a Longa Marcha foram retirados de: Tiã, C.; Váum, E. Mao Zedong as poet and revolutionary leader: social and historical perspectives. Lanham: Lexington Books, 2002. página 65.

Interdisciplinaridade

O conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero nove gê ê zero oito “Analisar transformações territoriais, considerando o movimento de fronteiras, tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, na Ásia e na Oceania”.

Como se nota ao longo do capítulo, os efeitos do movimento comunista e socialista internacional foram significativos. O caso da Revolução Chinesa e o da Revolução Cubana são os mais evidentes, mas os movimentos de independência das colônias da Ásia e da África também foram marcados por esses processos históricos. Em razão disso, para contextualizar a Revolução Chinesa, retome os conteúdos relativos à Revolução Russa (capítulo 3) e ao stalinismo no período entreguerras (capítulo 4).

Curadoria

Revoluções (Livro)

Máicol Lôui (organizador). São Paulo: Boitempo, 2009.

Nesse livro, diversas revoluções dos séculos dezenove e vinte são comentadas com base em registros fotográficos. Há um capítulo dedicado à Revolução Chinesa. Acompanhada de uma cronologia e de breves análises, a seleção de fotografias abarca o período entre 1911 e 1949. O livro pode contribuir para aprofundar o trabalho com a análise de imagens em sala de aula.

Os comunistas chegam ao poder

No início do século vinte, a China passou por uma violenta guerra civil em que se enfrentaram o cuomintâng, liderado por chiân cái chéqui, que dominava uma parte do território, e o pê cê cê, que controlava a outra parte.

As disputas entre nacionalistas e comunistas foram temporariamente suspensas em 1937, quando o território chinês foi invadido pelo Japão, que o dominou ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial. No momento da invasão em 1937, as tropas de chiân cái chéqui, que se concentravam no sul da China, tiveram baixas significativas. Já os comunistas, concentrados no norte do país, não tiveram muitas perdas e seus exércitos ganharam o apôio da população, principalmente dos camponeses, conseguindo se organizar de fórma mais rápida e eficiente do que as tropas nacionalistas. Assim, pouco tempo depois da expulsão dos japoneses, em janeiro de 1949, o Exército de Libertação Popular (comunista) tomou Pequim e outras regiões sem muito esforço.

A revolução teve forte caráter popular e, em outubro de 1949, Máo proclamou a República Popular da China, com características socialistas. chiân cái chéqui e seus seguidores fugiram para a Ilha de taiuã, onde fundaram a República Nacionalista da China. Durante a Guerra Fria, enquanto a China de Máo se alinhou à União Soviética, o govêrno instaurado em taiuã recebeu apôio dos Estados Unidos.

Ao longo da década de 1950, a China recebeu o apôio da União Soviética, mas empreendeu uma via socialista independente, com base no incentivo à educação da população, na reforma agrária e na organização de cooperativas de camponeses. Em 1960, desavenças políticas entre a União Soviética e o govêrno chinês contribuíram para o afastamento da China do bloco socialista soviético.

A Revolução Chinesa – 1949

Mapa. A Revolução Chinesa, 1949. Destaque para o território chinês.
Legenda: 
Áreas comunistas: 
Amarelo: Em 1945.
Verde: Em julho de 1948.
Laranja: Em dezembro de 1949.
Rosa: Territórios controlados depois de 1949.
Seta vermelha: Ofensiva dos comunistas em 1949.
Nacionalistas: 
Quadrados e círculos pretos: Cidades ocupadas pelos nacionalistas em 1946.
Linha vermelha: Área dos nacionalistas.
Seta lilás: Retirada nacionalista.
Lilás: Região sob controle nacionalista em 1950.
No mapa.
Áreas comunistas em 1945: regiões ao norte, no centro e no nordeste do país, incluindo as cidades de Tianjin, Qingdao e Jinan.
Em julho de 1948: regiões ao redor das áreas anteriormente descritas, incluindo as cidades de Changchun e Shenyang.
Em dezembro de 1949: regiões sudeste e sul do território chinês, incluindo as cidades de Pequim, Nanquim, Xangai, Wuhan, Chongqing e Cantão.
Territórios controlados depois de 1949: sul e oeste do território chinês, incluindo as regiões de Sinkiang, Tibete, Qinghai, Sichuan e Yunnan, além da Ilha de Hainan.
Ofensiva dos comunistas em 1949: saindo da região central do país em direção a oeste, ao centro, ao sul, ao sudeste e à Ilha de Formosa, atual Taiwan.
Cidades ocupadas pelos nacionalistas em 1946: Changchun, Shenyang, Pequim, Tianjin, Qingdao, Jinan, Nanquim, Xangai, Wuhan, Chongqing e Cantão.
Área dos nacionalistas: área que circunda a região sudeste do país, além de um pequeno trecho da Ilha de Hainan.
Retirada nacionalista: saída de Nanquim em direção à Ilha de Formosa, atual Taiwan.
Região sob controle nacionalista em 1950: Ilha de Formosa, atual Taiwan.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 380 quilômetros.

FONTE: VICENTINO, C. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 150.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Entre 1946 e 1949, as fôrças lideradas por máo tsé tung ampliaram consideravelmente o território sob seu domínio. O exército comunista contou com forte mobilização dos camponeses, que, organizados, pressionaram o Partido Comunista a incorporar a suas pautas políticas um programa agrário. Com isso, conseguiram o fim do direito de propriedade e a distribuição de terras entre associações de camponeses pobres. Isso explica, em parte, por que as fôrças nacionalistas ficaram isoladas nas grandes cidades, enquanto a popularidade de máo tsé tung crescia nas áreas rurais da China.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a luta dos chineses contra a presença imperialista do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih um quatro. Ao explorar, por meio da linguagem cartográfica, a movimentação de grupos nacionalistas e comunistas no território chinês durante o processo revolucionário, o conteúdo envolve o raciocínio espaçotemporal, relacionado à Competência Específica de Ciências Humanas nº 7. A discussão sobre a aproximação e o posterior distanciamento pelo govêrno chinês da União Soviética e do bloco socialista contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih dois oito.

Destaque a importância do contexto do alinhamento inicial da China à União Soviética e seu afastamento, em 1960, com a instauração de um comunismo de caráter agrário no país.

Curadoria

A Revolução Chinesa (Livro)

Vladimir Pomar. São Paulo: Editora Unésp, 2004. (Coleção Revoluções do século 20).

Na obra, o autor analisa a revolução desde o início, n os anos 1940, até as reformas e as aberturas promovidas pelo govêrno chinês no final do século vinte, fazendo um balanço da experiência socialista chinesa.

Grande Salto para a Frente

Com a saída do bloco, a China deixou de receber apôio econômico e tecnológico da União Soviética. Entre 1958 e 1960, o govêrno de máo tsé tungcolocou em prática um plano de desenvolvimento econômico chamado de Grande Salto para a Frente. O objetivo do govêrno era transformar a China em uma nação desenvolvida, com distribuição de riquezas, no menor prazo possível.

Para tanto, o govêrno apostou em programas de reforma agrária e coletivização do campo e também na industrialização urbana. No entanto, com o afastamento entre China e União Soviética, essa campanha não obteve bons resultados.

O saldo desse plano de desenvolvimento nacional foi a escassez generalizada de alimentos, que se deveu ao processo forçado de coletivização das terras e ao deslocamento de camponeses para as cidades a fim de trabalhar na produção de ferro e aço. Com isso, de 15 a 55 milhões de chineses morreram de fome, aumentando as insatisfações sociais e a oposição ao govêrno de máo tsé tung.

Fotografia em preto e branco. Vista de um campo aberto com pessoas preparando o solo para o plantio.
Camponeses da Comuna de Tan Tiá, em Lóqui, na China, fertilizando um campo de trigo. Foto de 1960.
A Revolução Cultural Chinesa

Na segunda metade dos anos 1960, máo tsé tung se convenceu de que, para atingir uma mudança radical na sociedade, era necessário desburocratizar e fortalecer o Estado. Em sua perspectiva, era preciso defender a revolução dos resquícios do sistema capitalista como fórma de colocar a China no rumo do comunismo.

Assim, o líder chinês lançou, em 1966, a chamada Revolução Cultural. Mobilizando a população do país, particularmente os estudantes, ele passou a perseguir os opositores do govêrno e a incentivar o culto a sua personalidade. Por meio da Guarda Vermelha, as ideias maoistas eram popularizadas em escolas, universidades e aldeias.

Diante das críticas aos antigos costumes chineses e ao mundo ocidental, milhares de pessoas passaram a destruir produtos ocidentais em atos públicos e a perseguir os suspeitos de não viver de acordo com os costumes comunistas. Nesse contexto, o Livro vermelho – composto de citações nas quais máo tsé tung criticava, entre outros aspectos, os supostos inimigos da revolução e ressaltava a importância da fidelidade ao govêrno – passou a ser venerado, assim como o líder, chamado a partir daquele momento de O Grande Timoneiro.

Cartaz. Na parte direita da imagem, ilustração de menino chinês sorridente. Tem olhos estreitos, nariz largo e boca pequena. Está sorrindo. Usa um quepe com uma estrela vermelha. Carrega uma arma pendurada nas costas. À esquerda, jovens chineses enfileirados. No começo da fila, uma menina segura um megafone e um folheto.
Cartaz de propaganda política chinesa durante a Revolução Cultural, produzido em 1975.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O cartaz faz referência ao garoto Pem Dônzi, protagonista do filme chinês Estrela vermelha cintilante, lançado em 1974. Pem é filho de um oficial do exército comunista, e o filme enaltece a bravura do garoto na luta contra Ru Rânsam, um burguês que incendeia a casa de Pem e causa a morte de sua mãe.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre vítimas da fome na China foram retirados de: , X.; Tirrã, N.; Iáréd, P. The Institutional Causes of China’s Great Famine. Review of Economic Studies, número 82, página 1573, abril 2015.

Ampliando

O filósofo francês Alã Badiú comenta a Revolução Cultural, identificando-a como o primeiro processo revolucionário em que se questionaram as fórmas de atuação internas do partido-Estado (ou seja, de um partido comunista que liderou a tomada do poder e passou a governar o Estado, fundindo-se a ele) e sua burocratização.

“A Revolução Cultural foi uma referência viva e constante da ação militante em todo o mundo, e em particular na França, ao menos entre 1967 e 1976. Ela fez parte da nossa história política, fundou a corrente maoísta, única criação verdadeira dos anos 1960 e 1970. reticências

A Revolução Cultural é o exemplo-tipo reticências de uma experiência que satura a fórma do partido-Estado. reticências é a última sequência política significativa ainda interna ao partido-Estado (nesse caso, o comunista chinês) e que fracassa nele. Maio de 1968 e suas consequências são uma coisa um pouco diferente. O movimento polonês ou o Tiápas é uma coisa diferente. A organização política é uma coisa completamente diferente. Mas sem a saturação dos anos 1960 e 1970 não haveria nada imaginável fóra do espectro

Badiú, A. A última revolução? In: Badiú, A. A hipótese comunista. São Paulo: Boitempo, 2012. página 63-65. (Coleção Estado de sítio).

Ao apresentar a Revolução Cultural de 1966, articula-se sua realização à perda de apôio da população pelo pê cê cê, estudando também o papel da Guarda Vermelha e do Livro Vermelho no processo de veneração da figura de Máo.

Na abordagem do maoismo, pode-se destacar o culto à personalidade do líder, característica presente na maior parte dos regimes socialistas do período. Podem-se estabelecer relações entre o maoismo e o culto à figura de Istálin na União Soviética, por exemplo. Nos países capitalistas, a propaganda ideológica sobre o regime também era maciça, conforme estudado no capítulo 7, porém tinha enfoque em elogiar e idealizar o sistema mais do que a seus governantes.

A China pós-Máo: abertura econômica e repressão política

máo tsé tung faleceu em 1976. Durante o período em que esteve à frente da República Popular da China, a mortalidade infantil no país foi reduzida, a população duplicou e as matrículas nas escolas aumentaram a níveis nunca vistos. Em contrapartida, seu govêrno foi responsável pela morte de milhões de pessoas.

Em 1978, a liderança da China foi assumida por dãn chiáo pín, que iniciou um processo de “desmaoização” da sociedade, repudiando o período da Revolução Cultural e o culto à personalidade demáo tsé tung.

chiáo pín também deu início a um período de abertura econômica ao lançar um programa de modernização focado na agricultura, na indústria, na defesa, na ciência e na tecnologia. Com isso, alcançou excelentes resultados, atraindo muitos investimentos externos, além de se aproximar diplomaticamente dos Estados Unidos. Em 1971, a China foi admitida na ônu.

No entanto, a estrutura de govêrno, comandada pelo pê cê cê, não foi modificada. As medidas colocadas em prática por chiáo pín, como a adoção da economia de mercado e a integração da China ao capitalismo globalizado, contrastavam com a falta de liberdade política. Diante dessa situação, em 1989, ocorreram vários protestos em Pequim. Os manifestantes, em sua maioria estudantes, ocuparam a Praça da Paz Celestial exigindo liberdade de expressão e de manifestação.

O govêrno reprimiu duramente os protestos, matando e ferindo milhares de manifestantes. Durante esse episódio, conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial, foi registrada uma das cenas mais marcantes do século vinte: um indivíduo, sozinho e desarmado, se coloca em frente a uma fileira de tanques de guerra que se dirigiam aos protestos.

Fotografia. Pessoa parada em pé, no meio da rua, obstruindo a passagem de tanques de guerra.
Manifestante no caminho dos tanques de guerra que se dirigiam à Praça da Paz Celestial para reprimir os protestos, em Pequim, China. Foto de 1989.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique como foi fundado o Estado de Israel e por que sua criação desencadeou uma série de conflitos.
  2. O que foi a Revolução Cultural chinesa? Justifique sua resposta analisando as medidas adotadas para sua efetivação.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

As atividades demandam o estabelecimento de relações entre eventos e de relações de causalidade, processo já exercitado pelos estudantes. Valorize as respostas segundo o grau de elaboração das relações tecidas de maneira mais ou menos autônoma. Uma boa maneira de organizar essas respostas é criar mapas conceituais para estruturar a conexão entre os eventos, os processos e os conceitos.

Agora é com você!

1. Em 1947, a ônu apresentou um plano de divisão da Palestina que previa a criação de dois Estados: um árabe (Palestina) e outro judaico (Israel). A proposta não foi aceita e, em 1948, o Estado de Israel foi criado unilateralmente pelos líderes judeus, o que desencadeou uma série de conflitos. A partir de então, Israel adotou uma política expansionista, tentando dominar territórios que, no plano previsto pela ônu, estavam destinados aos palestinos.

2. Na China, com o objetivo de desburocratizar o govêrno e fortalecê-lo, máo tsé tung iniciou, em 1966, a Revolução Cultural, destinada a perseguir os opositores ao govêrno e a promover o culto a sua personalidade. Por meio da Guarda Vermelha, composta principalmente de estudantes, as ideias maoístas eram popularizadas em escolas, universidades e pequenas aldeias. Espalhavam-se também as críticas aos antigos costumes chineses e ao mundo ocidental. Em razão disso, milhares de pessoas saíam às ruas para praticar atos fervorosos de destruição de produtos ocidentais e perseguir os suspeitos de não viver de acordo com os costumes comunistas. Nesse contexto, o Livro Vermelho, composto de críticas ao burocratismo e aos inimigos do regime, assim como de exaltação à fidelidade ao govêrno, passou a ser venerado, assim como Máo, chamado então o Grande Timoneiro.

Curadoria

O último dançarino de Mao (Filme)

Direção: bruce béresford. Austrália, 2009. Duração: 117 minutos.

A obra, baseada na história real de um jovem aldeão pobre que persegue o sonho de dançar balé, dialoga com o contexto da China na Revolução Cultural. Destacando-se nas companhias de dança de Pequim, ele tem a oportunidade de integrar grupos nos Estados Unidos, mas sofre com o cerceamento das liberdades do govêrno chinês, decorrente das tensões políticas entre os dois países.

O terceiro-mundismo

No capítulo 7, você estudou a Revolução Cubana. Após a consolidação do novo govêrno na ilha, o plano de Fidel Castro foi tirar os estrangeiros do comando das finanças de Cuba e priorizar os cubanos na tarefa de controlar o país, nacionalizando fazendas e bancos que tinham como principais acionistas os estadunidenses.

Como resposta, os Estados Unidos impuseram um embargo econômico à ilha, vigente até a atualidade, proibindo os outros países do continente americano de comercializar com Cuba, sob a ameaça de cortar relações diplomáticas com eles.

Sem aliados comerciais e com o risco de fracassar, o govêrno cubano passou a fazer amplas reformas – na distribuição das terras, na educação e na saúde – e a perseguir membros da antiga administração de Fulgencio Batista, conter os movimentos contrarrevolucionários e censurar a imprensa.

Ao mesmo tempo, Cuba passou a ser vista por muitas lideranças de esquerda da América Latina como exemplo a ser seguido e ganhou apôio popular, principalmente por causa das reformas que favoreceram a população mais pobre. A ilha também se tornou referência ao posicionar-se como país do terceiro mundo e aproximar-se especialmente de nações africanas. Nesse momento, portanto, pareceu manter-se ao lado do que se convencionou chamar de países não alinhados.

O movimento dos não alinhados era composto, principalmente, de países asiáticos e africanos que tinham alcançado havia pouco tempo a independência das antigas potências imperialistas, enfraquecidas após a Segunda Guerra Mundial, como você estudará a seguir.

De acordo com esse movimento, o mundo dividia-se em países ricos e pobres, de modo que os capitalistas e desenvolvidos foram considerados de primeiro mundo, os socialistas foram incluídos na denominação segundo mundo, sendo os demais classificados como de terceiro mundo, por não estarem alinhados aos anteriores.

A ideia de terceiro-mundismo foi uma alternativa para que esses países pudessem dialogar com os dois polos da Guerra Fria, buscando superar a condição de antigas colônias e alcançar o desenvolvimento segundo as próprias estratégias.

Fotografia. No primeiro plano, três pessoas passando em uma calçada. No segundo plano, um mural representando, à direita, três homens sorridentes e, à esquerda, pessoas aglomeradas carregando uma bandeira de Cuba. No centro do mural, uma frase cuja tradução é Viva Cuba livre...
Mural com desenhos sobre revolução em Havana, Cuba. Foto de 2018.
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Imagens em contexto!

Nas décadas de 1960 e 1970, Cuba passou a representar o ideal da América Latina na luta contra o imperialismo, a injustiça e o atraso social. Pessoas comuns e intelectuais celebraram-na como a realização da utopia, desconsiderando, muitas vezes, os problemas internos do país, como a censura e a perseguição política.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Eric róbisbáum analisa alguns dos desafios comuns aos países entendidos como de “Terceiro Mundo”.

“Descolonização e revolução transformaram de modo impressionante o mapa político do globo. O número de Estados internacionalmente reconhecidos como independentes na Ásia quintuplicou. Na África, onde havia um em 1939, agora eram cérca de cinquenta. Mesmo nas Américas, onde a descolonização no início do século dezenove deixara atrás umas vinte repúblicas, a de então acrescentou mais uma dúzia. Contudo o importante nelas não era seu número, mas seu enorme e crescente peso demográfico, e a pressão que representavam coletivamente.

reticências

É importante iniciar qualquer história do Terceiro Mundo com alguma consideração acerca de sua demografia, uma vez que a explosão demográfica é o fato central de sua existência. reticências Esse era um dos motivos para continuarem pobres.

reticências

O desenvolvimento, controlado ou não pelo Estado, não era de interesse imediato para a grande maioria dos habitantes do Terceiro Mundo que viviam cultivando sua própria comida Em regiões férteis e não demasiado densamente povoadas, como grande parte da África negra, a maior parte das pessoas teriam ficado muito bem se deixada em paz. A maioria dos habitantes não precisava de seus Estados, em geral fracos para fazer grandes estragos, e que, se começassem a criar muito caso, podiam ser contornados por uma retirada para a autossuficiência da aldeia. reticências Isso não os manteve inteiramente fóra do âmbito de uma revolução econômica global, que chegava mesmo às pessoas mais isoladas, sob a fórma de sandálias de plástico, latas de gasolina, caminhões velhos e – claro – repartições de governo cheias de papelada, mas que tendiam a dividir a humanidade, reticências entre os que operavam dentro e através do mundo da escrita e das repartições e o resto

róbisbáum, E. J. Era dos extremos: o breve século vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página337-338, 344-345.

Pintura. Silhuetas de pessoas celebrando, tocando instrumentos, dançando, discursando. Ao fundo, focos luminosos, plantas e construções.
Aspectos da vida do negro: da escravidão à reconstrução, pintura de Aaron Douglas, 1934.
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Nas décadas de 1920 e 1930, nos Estados Unidos, artistas como Aaron Douglas buscaram recriar a imagem do negro estadunidense. O orgulho racial e a valorização de raízes africanas passaram a ser os principais temas de sua pintura. A produção de Douglas demonstrou que a cultura podia incentivar uma importante reflexão sobre a valorização da identidade negra e das raízes africanas na América. Houve intensa movimentação de intelectuais e artistas negros também no Caribe, com forte presença africana. Nomes como o do intelectual estadunidense Uílham Du Boá e o do jamaicano Márcus Gárvise destacaram no período e são ícones do movimento pan-africano.

O fim dos impérios coloniais na Ásia e na África

Ao longo do século vinte, sobretudo após as guerras mundiais, as colônias europeias na África e na Ásia passaram a reivindicar a independência política e o direito de autodeterminação.

Alguns países, como o Reino Unido, utilizaram a descolonização como estratégia para manter as ex-colônias em sua zona de influência. Outros, como a França, travaram violentos conflitos contra as fôrças de libertação nacional. Houve também países, como Portugal, que fizeram o possível para adiar a independência das colônias na África por meio da guerra.

A devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial impediu a Europa de conter os movimentos nacionalistas que desejavam a emancipação. Ao mesmo tempo, a participação de africanos e asiáticos nessa guerra incentivou correntes de pensamento como a pan-africanista e a da negritude, que desde o final do século dezenove se opunham à segregação racial e à dominação colonial dos africanos.

O pan-africanismo

Na primeira metade do século vinte, os idealizadores do pan-africanismo e da negritude passaram a expressar a busca por uma identidade compartilhada entre os negros da América e os da África na luta contra todas as fórmas de opressão racial.

Principalmente após o Quinto Congresso Pan-Africano, realizado em 1945 em Manchester, no Reino Unido, a solidariedade racial e a luta contra o colonialismo passaram a ser os principais temas do movimento que se expandia internacionalmente. Nessa ocasião, falou-se abertamente pela primeira vez em independência, com a apresentação de propostas políticas e econômicas, tornando o pan-africanismo a base ideológica dos movimentos pela independência das colônias africanas.

Muitos africanos que eram parte da elite intelectual de seus países e que naquele momento viviam em outros locais – como o ganês cuâme nicrúma, o queniano Diômo Queniata, o senegalês leopôld sângôr e o congolês Patríce Lumúmba – assumiram depois desse encontro a liderança do movimento pela independência e o governo dos Estados recém-libertados do domínio colonial.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar dos processos de descolonização nos continentes africano e asiático, o conteúdo possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih três um. A abordagem da descolonização contribui para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº1 e nº 7.

O painel de Aaron Douglas se encontra no Centro Chômburg de Pesquisa em Cultura Negra, situado no Harlem. Arturo Alfonso Chômburg foi um bibliófilo e intelectual negro, nascido em Porto Rico, que teve papel destacado no Renascimento do Harlem. Sua biblioteca, com coleções de documentos e de arte, deu origem ao acervo do centro, que é uma das mais importantes instituições dedicadas à memória, à história e à cultura afro-americana.

Retome o Renascimento do Harlem, estudado no capítulo 4. Se possível, analise com os estudantes a pintura Aspectos da vida do negro: da escravidão à reconstrução, de 1934. Comente que, além da musicalidade e de aspectos estilizados da natureza africana, a obra retrata a luta contra a segregação racial. No canto esquerdo da imagem, foram representados cavaleiros da Cu Clús Clã, em pose muito parecida com a do pôster de divulgação do filme O nascimento de uma nação, dirigido por D. W. Grífit e lançado em 1915.

Pode ser interessante sugerir aos estudantes que analisem os outros três murais de Aaron Douglas que completam o painel Aspectos da vida do negro: O negro em um cenário africano, Um idílio do sul profundo e A canção das torres. Além da beleza das pinturas, é possível divisar uma concepção da história afro-americana que destaca quatro processos: a vida na África; o tempo da escravidão, principalmente no sul dos Estados Unidos; a reconstrução, que sucedeu o fim da escravidão; a participação dos afro-americanos na modernização estadunidense. As imagens estão disponíveis no site da Biblioteca Pública de Nova iórque: https://oeds.link/ElUSqy. Acesso em: 7 junho 2022.

Interdisciplinaridade

A análise do mural de Éron Douglas pode contribuir para o desenvolvimento das habilidades do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero um “Pesquisar, apreciar e analisar fórmas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético – e ê éfe seis nove á érre zero dois “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço”.

A Conferência de bandúngui

A ônu também contribuiu de maneira significativa na luta de países africanos e asiáticos contra as antigas metrópoles ao defender os princípios de autodeterminação dos povos e de defesa dos direitos humanos. Todas essas questões confluíram, em 1955, na realização da Conferência de bandúngui, na Indonésia.

No polarizado contexto da Guerra Fria, líderes de 29 países independentes firmaram compromisso contra todas as fórmas de colonialismo, contra o racismo e contra o alinhamento aos Estados Unidos ou à União Soviética. Eles conceberam, dessa fórma, a noção de terceiro mundo como um grupo de países que se declaravam não alinhados ao capitalismo estadunidense nem ao socialismo soviético e rejeitavam, portanto, a lógica bipolar característica das relações internacionais do período. Essa conferência fortaleceu os processos de descolonização na Ásia e, sobretudo, na África.

Fotografia em preto e branco. Homens reunidos em um grande salão. Estão em cadeiras dispostas em longas fileiras.
Delegados reunidos na Conferência de bandúngui, na Indonésia. Foto de 1955.
Fotografia. No primeiro plano, homens de túnica branca e de terno vistos de lado, andando em uma rua. No segundo plano da imagem, um mural colorido com o retrato de 5 homens e a informação em inglês cuja tradução é: Comemoração da 60° Conferência Asiática-Africana.
Delegados de nações asiáticas e africanas em frente ao outdoor produzido para celebrar os 60 anos da Conferência de bandúngui, na Indonésia. Foto de 2015.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nos anos que se seguiram à primeira conferência realizada na Indonésia, diversos países africanos e asiáticos alcançaram independência em relação às suas metrópoles europeias.

A descolonização na Ásia

Na Ásia, boa parte dos territórios coloniais europeus alcançou a independência logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que países como a França e o Reino Unido estavam fragilizados em virtude dos conflitos na Europa.

O Líbano se libertou da França em 1943. Pouco tempo depois, entre 1946 e 1948, teve fim o Mandato Britânico da Palestina, com a independência da Transjordânia (atuais Jordânia e Síria) e da Palestina (com a criação do Estado de Israel). Índia e Paquistão, territórios coloniais britânicos, tornaram-se independentes em 1947.

Já a Indochina teve a independência reconhecida pela França apenas em 1954, resultando na formação de três países no Sudeste Asiático – Vietnã, Camboja e Laos –, como você estudou no capítulo 7.

O processo de independência da Índia e do Paquistão será abordado na sequência.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, Maria iêda Linhares apresenta uma reflexão a respeito do uso do termo descolonização.

“Depois de ter colonizado, o ‘europeu descoloniza. Era-lhe indispensável manter a iniciativa’, assim se refere Jáque Arnú (Du colonialisme au socialisme, Paris, 1966) ao fato de que na palavra descolonização está implícita a ‘vontade’ do país colonizador de abrir mão de seus direitos adquiridos num determinado momento. Outros autores também veem aí, na adoção do termo, uma interpretação eurocêntrica da História. Enquanto a colonização resultou de uma ação europeia consciente com o objetivo de conquista, a descolonização, como processo, adveio do seu contrário, ou seja, da revolta contra o Ocidente. Ela se apresenta, historicamente, como produto dos movimentos nacionais, e não como a resultante de uma iniciativa do colonizador. Assim, da visão eurocêntrica deveríamos passar a uma interpretação asiocêntrica ou afrocêntrica da História.”

LINHARES, M. Y. A luta contra a metrópole: Ásia e África: 1945--1975. São Paulo: Brasiliense, 1981. página 23-24.

Curadoria

Intelectuais africanos e pan-africanismo: uma narrativa pós-colonial (Artigo)

Gustavo de Andrade Durão. Tempo e Argumento, Florianópolis, volume 10, número 25, página 212-242, julho a setembro 2018.

Nesse artigo, o autor analisa algumas perspectivas sobre o conceito de pan-africanismo e propõe reflexões acerca do debate iniciado por intelectuais africanos no contexto pós-colonial.

O processo de independência da Índia

A Índia, até 1947, foi um dos territórios coloniais mais importantes do vasto Império Britânico por ser um grande centro consumidor de manufaturas e tecidos do Reino Unido.

Em 1885, foi fundado o Congresso Nacional Indiano, organização que lutava pela independência política da Índia. Seus líderes, entre eles Mahatma Gandhi, pregavam a não violência e a desobediência civil como estratégias de resistência. Dessa fórma, para protestar contra a dominação, realizavam boicotes aos produtos britânicos e greves, deixavam de pagar impostos e desobedeciam às leis britânicas na Índia.

Em 1920, Gandhi assumiu a liderança do movimento e conduziu uma campanha maciça de não pagamento de impostos e boicote aos produtos e às instituições britânicas. As primeiras campanhas se estenderam até o ano de 1922. Nesse período, foram organizadas pelo menos 396 greves, envolvendo aproximadamente 600 mil trabalhadores. Houve também o abandono em massa de escolas e faculdades britânicas na Índia, e pelo menos 30 mil indianos foram presos por motivos políticos, entre eles Gandhi.

Fotografia em preto e Branco. Mahatma Gandhi, senhor de óculos, mago, careca, com o corpo envolto em um tecido claro. Está descalço. Se apoia em um cajado. Atrás dele, homens e mulheres.
Marrátma Gândi e seus seguidores durante um protesto pacífico na Índia. Foto de 1930.

Além do Congresso Nacional Indiano, outros movimentos nacionalistas tiveram destaque, como o da Liga Muçulmana, liderada por Muhammad Ali Jinnah, que defendia a criação de um Estado independente para a minoria muçulmana na região (cérca de 30% da população).

O Reino Unido tentou, sem sucesso, enfraquecer os movimentos pela independência, incentivando os conflitos entre hindus e muçulmanos, prendendo líderes políticos, reprimindo violentamente greves e ações de boicote. Pressionado pelo desenrolar da Segunda Guerra Mundial e pelos movimentos de resistência, porém, o Reino Unido teve de ceder e, em 1947, reconheceu formalmente a independência da Índia e iniciou um plano de partilha que deu origem ao Paquistão.

Charge em preto e branco. À esquerda da imagem, homem de casaco e nariz grande está na porta de uma cela. Dentro dela, preso, está Gandhi. O homem na porta olha para a direita, na direção de uma multidão, composta por incontáveis homens parecidos com Gandhi.
O dilema de , charge de , 1933.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A foto de 1930 mostra um protesto liderado por Gândi contra a lei que obrigava os indianos a consumir exclusivamente o sal importado do Reino Unido. No protesto, nomeado como Marcha do Sal, Gândi percorreu quase 400 quilômetros a pé em direção ao mar, atraindo, durante a caminhada, milhares de pessoas.

Ao longo de sua luta pela independência da Índia, Gândi foi preso diversas vezes por insubordinação. Da cadeia, continuou a liderar o movimento. Na charge de 1933, o dilema de Lóde Uílindan, governador-geral e vice-rei da Índia, entre 1931 e 1936, estava no fato de que, ao prender o líder hindu, acabou provocando uma reação em massa, fazendo surgir diversos outros personagens como ele.

Respostas e comentários

Dados numérico sobre as campanhas pela independência na Índia foram retirados de: Tálbet, I.; Gur rárpal, S. The partition of India. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. página 90.

Bê êne cê cê

Ao abordar a luta pela independência na Índia contra o colonialismo britânico, considerando a desobediência civil e a não violência, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um quatro e ê éfe zero nove agá ih três um. O estudo da descolonização da África e da Ásia, por meio de exemplos como os da Índia e da Argélia, mobilizam as Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 7.

Ampliando

No texto a seguir Marrátma Gândi aborda a distribuição equitativa de renda na sociedade.

“A implicação real da distribuição equitativa é que cada homem tenha o necessário para suprir suas necessidades naturais e nada mais. reticências

reticências O primeiro passo é que aquele que fez desse ideal parte de sua existência realize as mudanças necessárias em sua vida pessoal. Quando fizer tudo o que é possível em sua própria vida, somente então estará em condição de pregar esse ideal entre seus colegas e vizinhos.

reticências os ricos são depositários da riqueza supérflua que possuem. Isso porque, de acordo com a doutrina, eles não podem possuir uma rúpia a mais do que seus vizinhos. Como isso pode ser realizado? Ao homem rico será deixada sua riqueza, da qual usará o reticências necessário para satisfazer suas necessidades pessoais e será o depositário do restante a ser usado para a sociedade. reticências

Contudo, se reticências os ricos não se tornarem guardiões dos pobres reticências e estes forem cada vez mais espezinhados e morrerem de fome, o que se deve fazer? Na tentativa de encontrar uma solução ressaltei a não cooperação não violenta e a desobediência civil como meios corretos e infalíveis. Os ricos não podem acumular riqueza sem a cooperação dos pobres na sociedade

GANDHI, M. Distribuição equitativa através da não violência (1940). In: ichêi, Micheline R. (organizador). Direitos humanos: uma antologia: principais escritos políticos, ensaios, discursos e documentos desde a Bíblia até o presente. São Paulo: Edusp: NEV, 2006. página 575-577.

Curadoria

Ríndi Suaráji: autogoverno da Índia (Livro)

Marrátma Gândi. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2010.

Na fórma de um diálogo entre um leitor e um editor, Mahatma Gandhi apresentou nesse livro os argumentos em favor da independência indiana e os métodos que acreditava que deviam ser usados contra o imperialismo. Escrito pelo líder indiano em 1909, o livro foi banido pelo governo britânico na Índia. O termo Swaraj, que significa “governo próprio” ou “autogoverno”, se tornou um modo de referir-se à luta da Índia pela independência.

A divisão política do subcontinente indiano

Com a formação de dois Estados independentes – a República da Índia, de maioria hindu, e a República do Paquistão (em suas porções ocidental e oriental), de maioria muçulmana –, houve um dos maiores deslocamentos populacionais de que se tem notícia. Aproximadamente 15 milhões de muçulmanos migraram para o Paquistão. Durante o processo, pelo menos quinhentas mil pessoas morreram. Pouco tempo depois, em 1948, Gândi foi assassinado por um nacionalista hindu, crítico de sua visão conciliadora em relação aos muçulmanos.

Divisão da Índia e rota de deslocamento – 1947

Mapa. Divisão da Índia e rota de deslocamento, 1947. Destaque para região do subcontinente indiano, para os países Paquistão,Índia e Bangladesh e para a região da Caxemira. Legenda. Linha dupla vermelha: Fronteira da Índia em 1945. Seta vermelha: Movimento dos refugiados hindus. Seta verde: Movimento dos refugiados muçulmanos. Fronteiras da Índia em 1945: território dos atuais Paquistão, Índia e Bangladesh, incluindo a região da Caxemira. Movimento dos refugiados hindus: do Paquistão e de Bangladesh em direção à Índia. Movimento dos refugiados muçulmanos: da Índia em direção ao Paquistão e a Bangladesh. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 550 quilômetros.

FONTE: CHALIAND, G.; RAGEAU, J. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 154.

Em 1971, o govêrno indiano apoiou a independência do território oriental do Paquistão, originando um novo país: bãngladéch. As tensões entre hindus e muçulmanos na região ainda são intensas e se potencializam na disputa do território da Caxemira, região norte do subcontinente indiano, de maioria muçulmana, que abriga as nascentes dos rios Ganges e Indo, principais fontes de recursos hídricos dos dois países. Essa região está, hoje, dividida entre Índia, Paquistão e China.

No cenário atual, a Índia é caracterizada como uma potência emergente, pois apresenta elevadas taxas de crescimento econômico e grande investimento no setor de Tecnologia da Informação (tê Í), sendo considerada em 2021 a sexta maior economia do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (éfe ême í).

Essa prosperidade econômica, contudo, não se reflete em benefício para a maioria de sua população, pois a Índia é um dos países com maior taxa de desigualdade em distribuição de renda do mundo, segundo dados do Laboratório sobre Desigualdade Mundial de 2018, e muitos indianos vivem em condição de extrema pobreza.

Fotografia. No primeiro plano da imagem, moradias de baixa renda, inacabadas e sem manutenção. Ao fundo, grandes prédios.
Vista de Mumbai, na Índia. Foto de 2019. Na imagem é perceptível a presença de extremos sociais nos mesmos espaços.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Que aspecto representado no mapa motiva as tensões territoriais no subcontinente indiano?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a Índia foram retirados de: World Inequality Database. Disponível em: https://oeds.link/gSKBk5. Acesso em: 12 abril 2022.

Resposta do “Se liga no espaço!”: Espera-se que os estudantes ressaltem, com base no fluxo de deslocamento representado no mapa, o aspecto religioso como motivo para as tensões territoriais no subcontinente indiano, percebendo que a população muçulmana migrou do território indiano para regiões onde se formaram países cuja religião oficial é o islamismo: Paquistão e bãngladéch.

Bê êne cê cê

Ao possibilitar questionamentos, formulação de hipóteses e de interpretações sobre as tensões territoriais no subcontinente indiano em meados do século vinte por meio de uma representação cartográfica temática, o boxe “Se liga no espaço!” contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 3. Além disso, a Competência Específica de História nº 5 pode ser desenvolvida com base na análise dos deslocamentos populacionais decorrentes da formação da República da Índia e da República do Paquistão.

Interdisciplinaridade

O conteúdo se relaciona às habilidades do componente geografia ê éfe zero oito gê ê zero cinco – “Aplicar os conceitos de Estado, nação, território, govêrno e país para o entendimento de conflitos e tensões na contemporaneidade, com destaque para as situações geopolíticas na América e na África e suas múltiplas regionalizações a partir do pós-guerra” e ê éfe zero nove gê ê zero oito “Analisar transformações territoriais, considerando o movimento de fronteiras, tensões, conflitos e múltiplas regionalidades na Europa, na Ásia e na Oceania”.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao explorar os processos de libertação africana e asiática, tratando criticamente da dominação colonial e imperialista nos dois continentes, os conteúdos abordados neste capítulo estão relacionados ao Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.

A descolonização na África

Os processos de independência na África seguiram, grosso modo, caminhos semelhantes aos observados na Ásia. A emancipação dos territórios coloniais do Reino Unido ocorreu majoritariamente de fórma gradual e negociada entre 1957 e 1965.

Com exceção da independência das colônias do país na África Oriental Britânica (atuais Tanzânia, Quênia e Uganda), não houve enfrentamento significativo entre as fôrças locais e a metrópole. A estratégia de manter laços diplomáticos e econômicos com as ex-colônias resultou no fim do Império Britânico na África entre os anos de 1957 e 1965.

Na África Ocidental Francesa, a independência de países como o Marrocos, em 1956, a Tunísia, em 1956, e a Guiné, em 1958, ocorreu de fórma negociada e sem muitos enfrentamentos. Na Argélia, porém, a violenta guerra de independência entre o exército francês e a Frente de Libertação Nacional vitimou cêrca de trezentas mil pessoas. Após anos de confronto, a França assinou, em 1962, o Acordo de Evian, estabelecendo o cessar-fogo e uma votação popular que garantiu a independência da Argélia.

Conflitos violentos também ocorreram no Congo, de colonização belga, onde os movimentos de libertação, comandados por Patríce Lumúmba, obrigaram a retirada das fôrças de ocupação colonial em junho de 1960. Dezesseis outros países africanos alcançaram a independência em 1960, que ficou, em razão disso, conhecido como o Ano da África.

África: independência das colônias europeias – 1936-1990

Mapa. A descolonização da África, de 1936 a 1990. Destaque para o continente africano. Legenda. Verde escuro: de 1936 a 1955. Verde: de 1956 a 1957. Verde claro: de 1958 a 1960. Amarelo: de 1961 a 1970. Laranja claro: de 1971 a 197. Laranja escuro: de 1977 a 1980. Vermelho: Territórios dependentes. Cinza: Territórios não colonizados. No mapa. Colônias africanas que conquistaram a independência: de 1936 a 1955: Líbia, Egito; de 1956 a 1957: Marrocos, Tunísia, Sudão, Gana; de 1958 a 1960: Mauritânia, Senegal, Guiné, Costa do Marfim, Mali, Burkina Fasso, Níger, Chade, Nigéria, Togo, Benin, Camarões, República Centro-Africana, Gabão, Congo, Zaire, Somália, Madagascar; De 1961 a 1970: Argélia, Serra Leoa, Guiné Equatorial, Uganda, Quênia, Ruanda, Burundi, Tanzânia, Zâmbia, Malauí, Botsuana, Suazilândia, Lesoto, África do Sul; De 1971 a 1976:  Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Saara Ocidental, Seychellles, Comores, Gâmbia, Guiné-Bissau, Cabo Verde; De 1977 a 1990: Namíbia, Zimbábue, Djibut. Territórios dependentes: Ilha da Madeira, Ilhas Maurício. Territórios não colonizados: Etiópia, Libéria. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e a escala de 0 a 750 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 219.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a descolonização da África foram retirados de: Rórni, A. A Savage War of Peace: Algeria 1954-1962. New York: New York Review of Books, 2006.página 358.

Bê êne cê cê

Ao abordar os processos de luta por independência dos povos africanos em relação aos países europeus, destacando casos como o da Argélia, o conteúdo possibilita o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um quatro e ê éfe zero nove agá ih três um. Esse conteúdo contribui também para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº1, uma vez que instrumentaliza os estudantes a compreender relações de poder e transformações de estruturas sociais decorrentes de processos históricos, como o de libertação dos países africanos.

Interdisciplinaridade

O conteúdo sobre a descolonização da África tem forte relação interdisciplinar com geografia. Considerando as habilidades do 8º e 9º ano desse componente, destacam-se: ê éfe zero oito gê ê zero cinco – “Aplicar os conceitos de Estado, nação, território, govêrno e país para o entendimento de conflitos e tensões na contemporaneidade, com destaque para as situações geopolíticas na América e na África e suas múltiplas regionalizações a partir do pós-guerra”; ê éfe zero nove gê ê zero um – “Analisar criticamente de que fórma a hegemonia europeia foi exercida em várias regiões do planeta, notadamente em situações de conflito, intervenções militares e/ou influência cultural em diferentes tempos e lugares” e ê éfe zero nove gê ê um cinco – “Comparar e classificar diferentes regiões do mundo com base em informações populacionais, econômicas e socioambientais representadas em mapas temáticos e com diferentes projeções cartográficas”.

Curadoria

A Batalha de Argel (Filme)

Direção: Dilo Pontecorvo. Argélia e Itália, 1966. Duração: 121 minutos.

Empregando técnicas documentais e de ficção e contando com a atuação de atores amadores argelinos como estratégia para tornar o filme mais orgânico, A Batalha de Argel retrata a guerra entre Argélia e França. O foco é a discussão sobre o uso da violência tanto pelo exército francês, que empregou amplamente técnicas de tortura, quanto pela Frente de Libertação Nacional, que utilizava técnicas de guerrilha. Lançado poucos anos após o desfecho da guerra, o filme não foi bem-aceito pelos franceses à época.

A independência das colônias portuguesas

Na década de 1960, quando boa parte das colônias francesas e britânicas na África havia se tornado independente, nada parecia mudar nas colônias portuguesas. Territórios como os de Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde foram os últimos a alcançar o státus de Estados independentes. Nesses locais, a luta por independência política se estendeu até meados dos anos 1970 e foi marcada por intensos e violentos conflitos, que chegaram a consumir até 40% do orçamento nacional português.

Para os portugueses, esses territórios eram estratégicos para a exploração das plantações de cana-de-açúcar, milho, café e amendoim e de recursos naturais, como o ferro e as valiosas minas de diamantes de Angola.

As rebeliões africanas contra a presença e o contrôle português eram frequentes. Em 1953, diante dos rumores de uma conspiração de trabalhadores em São Tomé, as tropas coloniais portuguesas mataram, segundo fontes locais, pelo menos mil trabalhadores. O episódio, conhecido como Massacre de Batepá, foi considerado um dos eventos fundadores do nacionalismo africano em território colonial português.

Para organizar o movimento nacionalista, na primeira metade dos anos 1950, formou-se em Lisboa o Centro de Estudos Africanos, liderado por um grupo de jovens universitários, como Amílcar Cabral, da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade, de Angola, e Francisco Tenreiro, de São Tomé e Príncipe.

Ilustração. PORTUGAL NÃO É UM PAÍS PEQUENO. Mapa da Europa com destaque para Portugal, na costa oeste. Em vermelho, sobrepostos a boa parte da Europa, os mapas de Angola, Moçambique e outros territórios africanos.
Gravura, produzida por volta de 1935, que compara o tamanho de Portugal ao de suas colônias na África.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Portugal, durante todo o período que abrangeu o processo de emancipação política das colônias africanas, viveu sob o regime salazarista, vigente no país desde 1932, quando Antonio de Oliveira Salazar assumiu o poder. O govêrno de Salazar alinhava-se ao de Francisco Franco, na Espanha, ao da Itália fascista e ao da Alemanha nazista até o fim desses regimes.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a economia em Portugal foram retirados de: RODRIGUES, I. Descolonizar a fantasmagoria. Uma reflexão a partir do “Massacre de 1953” em São Tomé e Príncipe. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, página 29-50, 1o maio 2018.

Bê êne cê cê

A análise das lutas de independência nos países africanos colonizados por Portugal contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih um quatro e ê éfe zero nove agá ih três um.

É importante destacar a postura insistente de Portugal na manutenção de seus territórios coloniais, relacionando-a com o regime ditatorial e autoritário do salazarismo. Outro ponto importante é a dependência por parte de Portugal dos recursos naturais de suas colônias, grande fonte de sua riqueza. A perda desses territórios representava um golpe maior para os portugueses do que para outros colonizadores, como o Reino Unido e a França. Embora esses países também tenham protagonizado episódios de descolonização violenta em territórios africanos, em alguns casos buscaram a saída gradual e negociada para manter os vínculos e a influência na região.

A gravura Portugal não é um país pequeno deve ser analisada como uma peça ideológica da propaganda imperialista. Nela, a grandeza de Portugal é relacionada diretamente às posses coloniais. Dessa fórma, um dos menores países da Europa Ocidental se tornaria o maior se fosse considerado seu império colonialista. Essa narrativa afronta o fato de o país ter perdido relevância no contexto europeu e mundial nos séculos anteriores, deixando de ser uma das potências hegemônicas.

Curadoria

Revolução Africana: uma antologia do pensamento marxista (Livro)

Jones Manoel e Gabriel Landi Fácio (organizador). São Paulo: Autonomia Literária, 2019.

Para conhecer alguns dos revolucionários africanos, suas ideias e programas políticos, indica-se essa coletânea. Nela são reunidas traduções inéditas de textos sobre as lutas por independência e pela implantação do socialismo no continente africano. Caso julgue oportuno, selecione trechos para discutir com os estudantes os processos de cada país e o pensamento de algumas de suas lideranças.

Essa geração de intelectuais africanos formada no exílio ficou conhecida como a Geração de 50 e foi duramente perseguida pela polícia política do regime salazarista. Entre o final dos anos 1950 e o início da década de 1960, esses intelectuais retornaram para a África e lideraram movimentos de libertação em seus países de origem.

Em Angola, a resistência foi organizada sob a liderança de Agostinho Neto, que, em 1956, criou o Movimento Popular para a Libertação de Angola (ême pê éle a). Havia ainda dois outros agrupamentos políticos: a Frente de Libertação Nacional (éfe êne éle a), liderada por Ôlden Roberto, e a União Nacional para a Independência de Angola (Unita), liderada por Jonas Savímbi. Apesar da coexistência dos três grupos políticos, foi a ême pê éle a de Agostinho Neto que proclamou a República Angolana, em novembro de 1975.

Já em Moçambique, o movimento de libertação se fortaleceu em 1962, com a criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), sob a liderança de Eduardo Mondlane e Samôra Machél. Este se tornou o primeiro presidente moçambicano, em 1975, quando o país alcançou formalmente a independência. No mesmo período, entre 1974 e 1975, foi a vez de Guiné-Bissau e Cabo Verde se tornarem independentes.

Em Portugal, o salazarismo, desgastado pela mudança geopolítica ocorrida após o fim da Segunda Guerra Mundial, ficava cada vez mais enfraquecido e isolado internacionalmente com a ascensão dos movimentos pela independência na África.

O golpe fatal no colonialismo português no continente africano foi dado em 1974: em 25 de abril desse ano, um grupo de jovens oficiais das fôrças armadas – a maioria dos quais havia lutado nas guerras coloniais –, contando com forte apôio popular, derrubou o regime autoritário vigente, no episódio conhecido como Revolução dos Cravos. Essa revolução provocou grandes mudanças em Portugal e impulsionou ainda mais a luta pela emancipação das colônias. Após esse episódio e o fim da ditadura, o govêrno português renunciou à política colonial e reconheceu a independência das diversas colônias da África portuguesa.

Fotografia. Soldados de uniforme e chapéu. Tem cravos vermelhos nos bolsos dos uniformes e nos canos das armas.
Soldados com flores recebidas durante a Revolução dos Cravos, em Lisboa, Portugal. Foto de 1974.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Durante os eventos que levaram ao fim do regime salazarista em Portugal, a população saiu às ruas de Lisboa portando cravos e distribuindo-os aos soldados. Essas flores se tornaram um dos principais símbolos da revolução.

Dica

LIVRO

Terra sonâmbula, de Mia Couto. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

No Moçambique pós-independência, mergulhado em uma devastadora guerra civil, o velho Tuahir e o menino Muidinga empreendem uma viagem recheada de fantasias míticas.

Respostas e comentários

Vivendo sob a ditadura civil-militar no Brasil, em 1975, Chico Buarque compôs “Tanto mar”, canção em que saudava os portugueses pela derrubada da ditadura de Antonio Salazar e Marcelo Caetano na Revolução dos Cravos, em Portugal. A canção foi censurada inicialmente no Brasil, sendo lançada somente em 1978, com a letra modificada, no álbum Chico Buarque, pelas gravadoras /Philips. Pode-se analisar a letra e a música com os estudantes, estabelecendo relações entre o contexto dos dois países.

Outra canção que pode ser analisada com os estudantes é “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso. Lançada em 1971 no álbum Cantigas do maio, pela gravadora portuguesa Orfeu, a canção foi a escolhida pelo Movimento das fôrças Armadas () de Portugal para dar início à ação que derrubou a ditadura.

As duas canções estão disponíveis em sites e em plataformas de compartilhamento de vídeos da internet.

Atividade complementar

No século vinte e um, diversos escritores de países africanos de língua portuguesa ganharam destaque no Brasil, com a maior difusão de suas obras. Além do moçambicano Mia Couto, mencionado no boxe “Dica”, destacam-se Pepetela (Angola), José Agualusa (Angola), Ondjék (Angola), Paulina Chiziane (Moçambique), Noêmia de Sousa (Moçambique), Dina Salústio (Cabo Verde) e Manuel Lopes (Cabo Verde), entre outros.

Peça aos estudantes que se organizem em grupos e escolham um escritor de um país africano de língua portuguesa. Em seguida, peça-lhes que pesquisem, na internet ou em fontes impressas, as relações entre a obra desse escritor e o contexto de independência e de pós-independência de seu país. Organize a seleção dos grupos para não haver pesquisas repetidas e abranger uma diversidade maior de autores e autoras. Os grupos devem reunir informações básicas sobre os autores e relacionar sua biografia à história do país, destacando, sobretudo, o período de descolonização. Outro caminho é selecionar um livro do escritor escolhido para analisar. Os grupos devem produzir uma apresentação do trabalho para compartilhar suas descobertas com a turma.

A luta contra o apartheid na África do Sul

A África do Sul é uma nação plural, caracterizada pela diversidade cultural, religiosa, social e linguística. Você sabia que nesse país há onze línguas oficiais? Uma delas é o africânder, de matriz europeia. É desse idioma o termo apartheid. Inicialmente aplicado ao contexto específico sul-africano, hoje ele é utilizado de fórma mais ampla para designar fórmas de segregação em diversas épocas e lugares.

No fim do século dezenove, depois de vencer os colonos holandeses (boêres), que dominavam a região, o Reino Unido assumiu o contrôle e fundou, em 1910, a União Sul-Africana. Pouco tempo depois, britânicos e africâneres (descendentes de holandeses nascidos na África) se reconciliaram e fecharam o primeiro acordo para a criação de leis segregacionistas contra a população negra, mestiça e asiática. Pelo Native Land Act (“Lei de Terras Nativas”), aprovado em 1913, aproximadamente 90% das terras disponíveis ficaram sob contrôle da minoria branca.

Os negros eram vistos por essa elite branca como obstáculos ao que ela entendia como progresso da civilização. Esse pensamento racista passou a fazer parte das leis do país a partir de 1948. Com a chegada ao poder do Partido Nacional, a África do Sul desenvolveu uma das políticas de discriminação mais violentas que o mundo conheceu.

Entre as diversas medidas tomadas então pelo govêrno estavam:

  • a proibição da participação política de negros, que foram impedidos de votar e de se candidatar a cargos públicos;
  • a obrigação de negros viverem em bairros separados dos brancos ou nos chamados bantustões (reservas tribais);
  • a obrigação de trabalhadores negros possuírem autorização para circular nas áreas reservadas aos brancos sul-africanos;
  • a proibição de casamentos inter-raciais;
  • o uso separado de espaços públicos, como praias, bibliotecas, parques, escolas e sistemas de transporte.
Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, mulheres negras em um protesto. Carregam diversos cartazes com dizeres e palavras de ordem.
Sul-africanas protestando na Cidade do Cabo contra a obrigação de portar cartões de identificação, chamados pass law, que funcionavam como uma espécie de ficha policial. Foto de 1956.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Lei do Passe (no inglês, pass law) obrigava homens e mulheres negros sul-africanos a portar um documento semelhante a um passaporte. Nele, havia um conjunto de informações pessoais – fotografia, impressões digitais, endereço residencial – e profissionais – nome do empregador e da empresa de trabalho, tempo de serviço etcétera O documento funcionava como um mecanismo de contrôle indicando os lugares em que esses indivíduos poderiam circular. Muitos sul-africanos violavam os limites espaciais estabelecidos nesses documentos, à procura de emprego ou de ajuda médica para seus familiares. No entanto, ao fazerem isso, podiam ser presos ou assediados por autoridades locais. Nos cartazes estão escritas as frases: “Mulheres não querem passes”, “Com passes, nós somos escravas”, “Unidas contra a Lei do Passe” e “A Carta da Liberdade diz: abaixo a Lei do Passe”.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre terras na África do Sul foram retirados de: cólins, R. O.; Bârnis, J. M. . Câmbrídge Câmbrídge Iuniversiti Prés, 2007. página 346.

Bê êne cê cê

O estudo do tema da segregação racial imposta na África do Sul contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 6, que destacam o respeito à diferença, a busca por uma sociedade plural e a promoção do respeito aos direitos humanos.

Tema Contemporâneo Transversal

O estudo do regime do apartheid na África do Sul está relacionado ao Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.

Ao tratar do termo apartheid, podem ser recuperadas as discussões propostas na abertura deste capítulo. Reforce aos estudantes que, mesmo que a expressão apartheid não fosse utilizada ainda, as teses e as práticas racistas faziam parte da realidade do sul da África desde, ao menos, o final do século dezessete, quando os holandeses (bôeres) passaram a colonizar a região. Eles travaram numerosas guerras contra os britânicos ao longo do século dezenove pelo contrôle da Colônia do Cabo.

Para aprofundar as discussões sobre as manifestações de resistência, comente com os estudantes que no dia 21 de março de 1960, no bairro negro de chárpvil, localizado no subúrbio de Joanesburgo, centenas de africanos fizeram uma manifestação pacífica contra a Lei do Passe. O exército reprimiu violentamente a manifestação. A reação foi imediata e provocou marchas de protesto em todo o país.

Curadoria

A resistência das mulheres negras ao apartheid na África do Sul (Artigo)

Isadora Durgante e Karine de Souza Silva. Revista Transversos, Rio de Janeiro, número 21, abril 2021.

O artigo aborda a resistência das mulheres negras ao Apartháide na África do Sul e apresenta reflexões sobre as condições das mulheres na estrutura do regime racista. Além disso, apresenta alguns dos coletivos de mulheres sul-africanas, como a Federação de Mulheres Sul-Africanas (éfe e dê ésse a dáblio), suas reivindicações (como a instalação de creches, educação universal gratuita, igualdade de direitos) e suas táticas na luta pela libertação.

O endurecimento da segregação e do contrôle sobre a população não branca, com a criação de leis que vedavam direitos básicos aos negros, foi sempre acompanhado de muita contestação e resistência.

As primeiras manifestações contra as leis de segregação foram organizadas pelo Congresso Nacional Africano (cê êne á), partido que liderava atos de desobediência civil e resistência pacífica.

A África do Sul era independente desde a década de 1930, mas ainda reconhecia o monarca do Reino Unido como soberano. Isso mudou na década de 1960, quando foi proclamada a república. Com isso, o país radicalizou ainda mais seu regime de apartheid, o que levou também à intensificação dos movimentos de resistência. Nesse período, o Congresso Pan-Africano, cujo lema era “África para os africanos”, fortaleceu-se e passou a organizar várias campanhas de desobediência civil. Homens e mulheres negros passaram, por exemplo, a frequentar espaços proibidos, desrespeitando as leis racistas do país. Esses atos foram reprimidos, boa parte das vezes, com extrema violência.

Um dos líderes do cê êne á, o jovem advogado Nelson Mandéla, foi detido em 1962. Condenado à prisão perpétua por sua participação nos movimentos de resistência ao apartheid ele se tornou um dos principais símbolos da luta contra o racismo e a segregação na África do Sul. Mandela permaneceu preso até 11 de fevereiro de 1990, quando o cê êne á promoveu uma campanha, com forte apôio da opinião pública internacional, por sua libertação. Mandéla tinha então 72 anos.

Fotografia. Vista da entrada de uma cela. A porta é de grade e tem uma janela com grades. Dentro um pano no chão e um travesseiro.
Cela de Nelson Mandéla no presídio de segurança máxima em Robben Island, África do Sul. Foto de 2016.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Mandéla ficou encarcerado no presídio de segurança máxima na ilha de Robben Island por dezoito anos. O local fica a aproximadamente 20 minutos de barco da Cidade do Cabo e hoje é visitado por turistas do mundo todo, que recebem dos guias, alguns deles ex-detentos do local, informações sobre o regime do apartheid e o cotidiano no presídio.

Na época, o país era governado por Frêderric Vílem de Clérc, que, ao tomar posse, em 1989, havia prometido promover a conciliação nacional. Em 1992, ele convocou um plebiscito, no qual a população decidiu pelo fim do Apartháide. No ano seguinte, Mandéla e De Clérc receberam o Prêmio Nobél da Paz.

Em 1994, foram convocadas eleições multirraciais na África do Sul e Mandéla foi eleito presidente com 62% dos votos válidos.

Fotografia. No primeiro plano, Nelson Mandela, senhor negro, sorridente. Saudando uma multidão com o braço direito estendido para cima e o punho cerrado. Atrás dele dois homens.
Nelson Mandéla na Cidade do Cabo, África do Sul. Foto de 1995. 
Respostas e comentários

Comente com os estudantes que, entre 1893 e 1915, período em que viveu na África do Sul, Gândi lutou ativamente contra a discriminação racial nesse país.

Durante os anos 1970, Nelson Mandéla recusou uma revisão de pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada no país.

Atualmente, o Museu do Apartheid, em Joanesburgo, é um importante lugar de memória sobre esse período. Já na chegada os visitantes são surpreendidos com entradas diferentes para “brancos” e “não brancos”. Nos ingressos define-se qual será a entrada de cada pessoa, procurando incentivar reflexões sobre a vida sob o regime de segregação racial.

Curadoria

Sarafina! O som da liberdade (Filme)

Direção: Dérel Rut. África do Sul, Reino Unido, França e Estados Unidos, 1992. Duração: 117 minutos.

Essa obra do gênero musical trata das lutas contra o apartheid por meio da história de duas mulheres comuns – uma professora e uma adolescente. Dessa fórma, escapa do caminho tradicional de abordar o período com foco somente nas ações de Nelson Mandéla. A classificação etária do filme é 14 anos e a produção pode oferecer uma boa oportunidade para aprofundar e diversificar a abordagem do tema em sala de aula com os estudantes.

Desafios da África contemporânea

A dominação colonial e a descolonização deixaram marcas no continente africano que perduram até os dias de hoje. Em muitos países, por exemplo, as rivalidades entre lideranças e grupos locais se intensificaram no processo de emancipação, ocasionando diversas guerras civis.

Além disso, uma vez independentes, os Estados africanos tiveram de lidar com uma série de problemas, como a fragmentação político-territorial, o subdesenvolvimento econômico e a exploração de suas riquezas naturais por empresas estrangeiras.

Em razão desses e de outros fatores, o Produto Interno Bruto (Píbi) total da África corresponde a 1% do Píbi mundial. Esse cenário tem sido determinante na ampliação dos fluxos migratórios em direção aos países da Europa e aos Estados Unidos. Diante do número de africanos que têm deixado seus países de origem, muitos especialistas afirmam que está ocorrendo uma nova diáspora africana.

Com o objetivo de combater esses problemas foi formada, em 2002, na cidade de Durban, na África do Sul, a União Africana. Essa organização internacional é composta de 55 Estados comprometidos com a integração continental em diferentes áreas, como a política, a econômica e a cultural.

Os países da União Africana se esforçam para criar um Parlamento Pan-Africano e um sistema financeiro próprio, com instituições como o Banco Central Africano, além de promover a democracia e a defesa dos direitos humanos no continente.

Fotografia aérea. Vista de cidade com muitos prédios, de tamanhos variados e longas avenidas.
Centro financeiro da cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Pense por um momento nas informações que você tem sobre a África. Nos filmes, nas histórias em quadrinhos, nos seriados de tê vê e nos noticiários, o continente é representado sempre como um local exótico, com animais selvagens e uma população assolada pela fome, por epidemias, por guerras e por governos opressores. Em muitos filmes, os países do continente africano são representados majoritariamente como lugarejos e aldeias, reforçando a lógica de uma organização política primitiva. Como é possível notar na imagem, porém, a África é um continente plural, com diversas paisagens, que incluem grandes cidades.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. O que foi o movimento dos países não alinhados? Qual é a relação entre esse movimento e o chamado terceiro-mundismo?
  2. Qual foi o impacto da Segunda Guerra Mundial na luta contra a dominação colonial na Ásia e na África?
  3. Resuma a importância dos movimentos artísticos e intelectuais do pan-africanismo e da negritude.
  4. De que fórma ocorreu o processo de independência da Índia?
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o Píbi africano foram retirados de: CADERNOS do Terceiro Mundo, Buenos Aires, número 201, página 48, agosto 1997.

Orientação para as atividades

As atividades requerem a conexão entre eventos e processos, e a explicação de processos históricos. Considerando a apropriação da cronologia como instrumento de historicização, peça aos estudantes que componham cronologias paralelas dos processos de independência, do pan-africanismo e da independência da Índia. Isso os ajudará na elaboração de respostas temporalmente ordenadas e também na percepção da simultaneidade dos processos históricos nessa conjuntura.

Agora é com você!

1. Foi um movimento realizado por países asiáticos e africanos que haviam acabado de alcançar a independência e optaram por não se alinhar a nenhum dos blocos durante a Guerra Fria, recusando-se a ceder à divisão do mundo entre capitalistas e socialistas. Para eles, o mundo dividia-se entre países ricos e pobres, de modo que os capitalistas e desenvolvidos compunham o primeiro mundo, os socialistas formavam o segundo mundo e os demais eram do terceiro mundo.

2. A devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial foi um dos motivos que contribuíram para dificultar a contenção dos movimentos nacionalistas nos territórios dominados pelos europeus.

3. Na primeira metade do século vinte, os idealizadores do pan-africanismo e da negritude, estimulados pela consciência da diáspora e do exílio, passaram a expressar a busca por uma identidade compartilhada para aproximar negros da América e da África na luta contra a opressão racial. Principalmente após o Quinto Congresso Pan-Africano, realizado em 1945, no Reino Unido, a solidariedade racial e a luta contra o colonialismo passaram a ser os principais temas do movimento, que se expandiu internacionalmente.

4. Organizações como a Liga Muçulmana e o Congresso Nacional Indiano lutavam pela independência da Índia. Em 1920, Mahatma Gandhi assumiu a liderança do movimento e conduziu uma campanha maciça de não pagamento de impostos e de boicote aos produtos e às instituições britânicas em acordo com as estratégias de não violência e de desobediência civil como fórma de resistência. Nesse período, foram organizadas centenas de greves, houve o abandono em massa de escolas e faculdades britânicas na Índia e milhares de pessoas foram presas por motivos políticos. Os movimentos nacionalistas pressionavam o Reino Unido, que, enfraquecido pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial, reconheceu a independência da Índia em 1947.

Analisando o passado

A seguir, são reproduzidos trechos de uma palestra, feita pela escritora nigeriana chimamanda adiqui em 2009, que mais tarde se transformou no livro O perigo de uma história única. Leia o texto e depois faça o que se pede.

“SOU UMA CONTADORA DE HISTÓRIAS. Gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar de ‘o perigo de uma história única’. reticências

Sou de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor universitário e minha mãe era administradora. Tínhamos, como era comum, empregados domésticos que moravam em nossa casa e que, em geral, vinham de vilarejos rurais próximos. No ano em que fiz oito anos, um menino novo foi trabalhar lá em casa. O nome dele era Fáide. A única coisa que minha mãe nos contou sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe mandava inhames, arroz e nossas roupas velhas para eles. Quando eu não comia todo o meu jantar, ela dizia: ‘Coma tudo! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não têm nada?’. E eu sentia uma pena enorme deles.

Certo sábado, fomos ao vilarejo de Fáide fazer uma visita. Sua mãe nos mostrou um cesto de palha pintado com uns desenhos lindos que o irmão dele tinha feito. Fiquei espantada. Não havia me ocorrido que alguém naquela família pudesse fazer alguma coisa. Eu só tinha ouvido falar sobre como eram pobres, então ficou impossível para mim vê-los como qualquer coisa além de pobres. A pobreza era minha história única deles.

Anos depois, pensei nisso quando saí da Nigéria para fazer faculdade nos Estados Unidos. Eu tinha dezenove anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando respondi que a língua oficial da Nigéria era o inglês. Também perguntou se podia ouvir o que chamou de minha ‘música tribal’, e ficou muito decepcionada quando mostrei minha fita da Maraia Kéuri. Ela também presumiu que eu não sabia como usar um fogão.

O que me impressionou foi: ela já sentia pena de mim antes de me conhecer. Sua postura preestabelecida em relação a mim, como africana, era uma espécie de pena condescendente e bem-intencionada. Minha colega de quarto tinha uma história única da África: uma história única de catástrofe. Naquela história única não havia possibilidade de africanos serem parecidos com ela de nenhuma maneira; não havia possibilidade de qualquer sentimento mais complexo que pena; não havia possibilidade de uma conexão entre dois seres humanos iguais.”

Adichie, C. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. página 11, 14-17.

Responda no caderno.

  1. Segundo os argumentos utilizados por chimamanda adiqui, por que o cesto feito pela família de Fáide surpreendeu-a?
  2. De que maneira essa surpresa de Adichie explica o que ela chama de “história única”?
  3. De que fórma “o perigo de uma história única” se fez presente na vida de chimamanda adiquinos Estados Unidos?
  4. Em outro trecho dessa palestra, a escritora afirmou que a “consequência de uma única história é esta: ela rouba das pessoas sua dignidade”. Levando em consideração os temas estudados no capítulo, explique o significado dessa declaração.
Respostas e comentários

Analisando o passado

Na seção, são apresentados trechos de uma conferência em que a escritora nigeriana Chimamanda Adichie reflete sobre “o perigo de uma história única”, destacando seu potencial de reduzir seres e espaços complexos a estereótipos. A análise e interpretação do texto da seção é uma oportunidade de trabalho de leitura inferencial, uma vez que os estudantes são levados a pensar nas respostas das questões não apenas com base na interpretação do texto, mas também considerando seus conhecimentos prévios, inclusive associando o texto ao que foi estudado no capítulo.

Atividades

1. Releia o trecho com a turma e, se julgar pertinente, proponha a elaboração prévia, oral e coletiva, da resposta, considerando as diferentes possibilidades de compreensão do texto. Segundo Adichie, a pobreza era sua história única sobre Fáide, de modo que o “cesto de palha pintado com uns desenhos lindos”, produzido por um familiar de Fáide, a surpreendeu.

2. Os estudantes podem responder que a surpresa está relacionada ao fato de que a pobreza era a “história única” de Adichie sobre a família de Fáide. A insistência em uma só imagem sobre essa família criou um estereótipo. Em razão dessa “história única”, ela nunca havia cogitado a ideia de que os familiares de Fáide pudessem criar algo.

3. No exemplo da visão estereotipada de sua colega de quarto sobre a África e os africanos. Segundo a escritora, havia na fala da colega uma posição-padrão em relação a ela como africana, um tipo de “pena condescendente e bem-intencionada”. Na concepção da colega, não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela. Solucione eventuais dúvidas sobre o vocabulário, destacando, por exemplo, o verbo presumir (“presumiu que eu não sabia usar um fogão”). Em seguida, pergunte aos estudantes quais são os efeitos de tirar conclusões antecipadas e como elas revelam estereótipos e preconceitos de quem as emite.

4. Além dos temas estudados no capítulo, os estudantes podem mencionar outros com base em seus conhecimentos prévios. Ao utilizar apenas uma história ou fonte de informação e ao reduzir uma pessoa e, até mesmo, toda uma população a apenas uma imagem, ignorando suas complexidades, cria-se um estereótipo que cristaliza e direciona a fórma de olhar, impedindo o reconhecimento de outras explicações que fujam das ideias preconcebidas. Nesse sentido, incentive os estudantes a dar exemplos de seu próprio cotidiano.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Analise as afirmações a seguir. Todas dizem respeito aos conflitos no Oriente Médio envolvendo fôrças árabes palestinas e israelenses. Em seguida, identifique, no caderno, as verdadeiras e as falsas.
    1. Em razão dos diversos conflitos no Oriente Médio, foi criada, em 1964, a ó éle pê, cujo principal líder foi Iásser Arafát.
    2. O plano de partilha da Palestina, proposto pela ônu em 1947, foi aceito pelos árabes palestinos e refutado por israelenses, que, unilateralmente, proclamaram o Estado de Israel em 1948.
    3. Em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, dônald tramp, reconheceu Jerusalém, objeto de disputa entre palestinos e israelenses, como a capital de Israel, transferindo a embaixada estadunidense para lá. O episódio foi o estopim para novos enfrentamentos, nos quais morreram 55 pessoas e pelo menos duas mil ficaram feridas.
    4. Em 1993, as negociações de paz avançaram na região e deram origem ao Acordo de Oslo, intermediado pelo então presidente dos Estados Unidos, bil clínton. Desde então, a convivência pacífica entre palestinos e judeus tem se fortalecido como política de Estado em ambos os lados.
  2. Sobre a independência da Índia, identifique, no caderno, as alternativas corretas.
    1. O processo de divisão política do subcontinente indiano no século vinte causou um enorme deslocamento populacional.
    2. Uma das fórmas de resistência indiana foi a de não colaboração com o colonizador, deixando de pagar impostos e boicotando produtos britânicos.
    3. O Reino Unido tentou impedir a independência, mas mudou de opinião com o crescimento do poder muçulmano na região, passando a apoiar os hindus.
    4. Atualmente, a Índia é um país rico, com igualdade na distribuição de renda entre a população, diferentemente do Paquistão, em que a distribuição de renda é muito desigual.

Aprofundando

3. (éfe gê vê-Rio de Janeiro – adaptado)

“A Palestina é nossa inesquecível pátria histórica. Só escutar seu nome resulta numa evocação poderosamente comovedora para nosso povo. Se Sua Majestade o Sultão nos concedesse a Palestina, nos comprometeríamos a sanear as finanças da Turquia. Para a Europa, formaríamos ali parte integrante do baluarte contra a Ásia: constituiríamos a vanguarda da cultura em seu combate contra a barbárie. Como Estado neutro, manteríamos relações com toda a Europa que, por sua parte, teria que garantir nossa existência reticências Nossa gente há de emigrar em grupos. Em grupos de famílias e de amigos. Ninguém está obrigado a juntar-se com o grupo do lugar em que tem vivido até agora reticências Possivelmente alguém opinará que existirá um enorme inconveniente por não possuirmos um idioma em comum. Temos de falar hebraico entre nós? Quem de nós sabe suficiente hebraico para pedir um bilhete de trem? reticências Apesar de tudo, o assunto é muito simples. Cada um conserva o seu próprio idioma, que é a pátria de seus pensamentos. A Suíça constitui um exemplo definitivo da possibilidade de um federalismo linguístico reticências O idioma que resulte mais útil na vida cotidiana se imporá, sem violência, como idioma principal.”

Rêrzel, Tê. La cuestón rudía. In: VIDAL, C. Textos para la Historia del pueblo judio Madri: Cátedra, 1995. página 259-260.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver o questionamento do significado da nomeação dos lugares no contexto colonial, a atividade 5 contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6. Como uma atividade de produção textual baseada na pesquisa, também está relacionada à Competência Específica de Ciências Humanas nº 6, bem como às Competências Gerais da Educação Básica nº 2 e nº 4.

Interdisciplinaridade

A produção de um texto argumentativo proposto na atividade 5 se relaciona à habilidade de língua portuguesa: ê éfe seis nove éle pê zero sete – “Produzir textos em diferentes gêneros, considerando sua adequação ao contexto produção e circulação – os enunciadores envolvidos, os objetivos, o gênero, o suporte, a circulação –, ao modo (escrito ou oral; imagem estática ou em movimento etcétera), à variedade linguística e/ou semiótica apropriada a esse contexto, à construção da textualidade relacionada às propriedades textuais e do gênero), utilizando estratégias de planejamento, elaboração, revisão, edição, reescrita/redesign e avaliação de textos, para, com a ajuda do professor e a colaboração dos colegas, corrigir e aprimorar as produções realizadas, fazendo córtes, acréscimos, reformulações, correções de concordância, ortografia, pontuação em textos e editando imagens, arquivos sonoros, fazendo córtes, acréscimos, ajustes, acrescentando/alterando efeitos, ordenamentos etcétera.”.

Atividades

Organize suas ideias

1. a) V; b) ; c) V; d) .

2. Alternativas a e b.

O texto citado foi publicado na Europa em 1890. Após a leitura, responda às questões propostas.
  1. A qual grupo étnico e religioso o texto faz referência?
  2. Em qual período histórico as reivindicações de téodor rérs (autor do texto) foram atendidas? Caracterize o contexto em que se deu a criação desse Estado.

4. No texto citado, que faz parte de um projeto iniciado, em 1964, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco) sobre a história da África, a Segunda Guerra Mundial é relacionada à política do apartheid na África do Sul. Leia-o e faça o que se pede.

“Em relação à questão racial na África Austral, podemos afirmar que a sub-região apresenta-se como o último grande campo de batalha do confronto racial no continente. Mas, como pano de fundo da evolução desta região africana, dissimula-se uma tragédia mundial, a estranha história da reencarnação de um demônio político. Se os anos compreendidos entre 1935 e 1945 marcaram o sucesso de uma luta mundial contra o fascismo e a perseguição racial na Europa, o ano de 1948 representa um marco no avanço de uma nova fórma de fascismo e de perseguição racial na África, modalidade esta que receberia o nome de apartheid Com a derrota de Rítler e de Mussolini, na primeira metade dos anos 1940, a ‘supremacia ariana’ e a política do genocídio haviam conhecido o revés decisivo na Europa. Em contrapartida, no ano de 1948, o triunfo do Nationalist Party, na África do Sul, foi uma vitória para a ‘supremacia branca’ e favoreceu a concretização de um genocídio no sul da África. O ritlerismo reencarnava-se em solo africano. ‘O Fuhrer está morto! Viva o Fuhrer!’

É evidente que os africanos não aceitariam este renascimento com resignação. A cruzada armada final contra o ‘fascismo’ e o ‘nazismo’, travada à época, reveste-se de um particular significado, associando a luta contra o apartheid à ação, todavia inconclusa, da Segunda Guerra Mundial.”

Mas rúi, A. A.; Uôndí, C. (edição). África desde 1935. segunda edição Brasília: unêsco, 2010. volume oito, página 297. (Coleção História Geral da África).

  1. Explique este trecho do texto: “O Fuhrer está morto! Viva o Fuhrer!”.
  2. O que foi a política do apartheid na África do Sul?
  3. De acordo com o texto, os africanos não aceitaram essa política resignadamente. Cite e explique um movimento de resistência ao apartheid na África do Sul.

5. Em abril de 2019, uma foto postada nas redes sociais do professor e ativista ugandês Milton Alimádi viralizou. Nela, o professor de história africana radicado nos Estados Unidos, em visita ao Reino Unido, colocou-se na figura do colonizador. Nomeando o Tâmisa, em Londres, de Rio Gulú, Alimádi propôs uma espécie de descobrimento às avessas. Sua ironia trouxe à tona uma discussão muito importante no continente africano: qual deve ser o espaço ocupado pela memória colonial? É importante entender que nomear significou tomar posse, pois há diferenças entre quem nomeia (aquele que domina) e quem é nomeado (aquele que é dominado). Assim, a presença europeia em continentes como a América, a Ásia e a África se fez à custa de um processo de encobrimento dos povos originários e de suas tradições, culturas, línguas e subjetividades. Refletindo sobre o ato do professor e o que você estudou neste capítulo, escreva um texto argumentativo dissertativo sobre o tema: “Por que a mudança dos nomes pode ser um gesto de descolonização”. Para enriquecer seu texto, pesquise nomes de países africanos que mudaram após o processo de independência, relacionando essa mudança à criação de uma identidade africana pós-colonial.

Respostas e comentários

Aprofundando

3. a) O texto está relacionado ao sionismo e faz referência aos judeus.

b) Os debates sobre a criação de um Estado judeu na Palestina são anteriores à Segunda Guerra Mundial. No entanto, o Holocausto mobilizou a opinião pública internacional sobre o tema. O plano de partilha foi proposto pela ONU em 1947 e a criação do Estado de Israel se oficializou em 1948.

4. a) A declaração é mobilizada para relacionar a política supremacista colocada em prática por Hitler na Europa ao apartheid sul-africano. O autor encara a política de segregação africana como a reencarnação de um “demônio político”. A luta contra racistas na Europa renascia, segundo sua ótica, no contexto pós-Segunda Guerra Mundial, na África do Sul.

b) Foi uma política oficial de Estado na África do Sul, implantada pelo govêrno do Partido Nacional a partir de 1948, para segregar a população branca de africanos negros, que determinava: a proibição da participação destes, impedindo-os de votar e de ser eleitos; a obrigação de viverem em bairros separados dos brancos e nos bantustões (reservas tribais); a obrigação de trabalhadores negros terem autorização para circular nas áreas reservadas aos brancos sul-africanos; a proibição de casamentos inter-raciais; o uso separado de espaços públicos, como praias, bibliotecas, parques, escolas e sistemas de transporte.

c) Os movimentos de resistência intensificaram-se na década de 1960, quando a África do Sul radicalizou ainda mais o regime de Apartháide. Os estudantes podem citar o Congresso Pan-Africano, que se fortaleceu e passou a organizar várias campanhas de desobediência civil. Homens e mulheres negros passaram a frequentar espaços proibidos, afrontando as leis racistas. Esses atos foram reprimidos com extrema violência.

5. Pretende-se, com essa atividade, promover o debate sobre a importância dos nomes para a efetivação do projeto colonial europeu na África. Comente com os estudantes que o país conhecido hoje pelo nome de Zimbábue foi durante boa parte de sua história chamado Rodésia do Sul, em homenagem a um explorador e homem de negócios britânico chamado Cícil Rôdes. Assim como o Zimbábue, dezenas de outros lugares na África receberam nomes associados aos países colonizadores. Por trás da ação de nomear, há um gesto simbólico. Reforce para os estudantes o fato de que o contrôle da narrativa é um aspecto central do processo de conquista imperialista. Essa atividade pode ser complementada com outras informações. Entre o Quênia, a Tanzânia e Uganda, por exemplo, existe o Lago Vitória, batizado em homenagem à rainha britânica. Em consonância com os movimentos globais e os atos antirracistas de questionamento dos lugares de memória associados às figuras do passado colonial, ativistas, advogados e movimentos sociais africanos têm pedido a substituição de nomes por outros que reflitam de fórma mais adequada a identidade das culturas locais, como parte da luta por dignidade e soberania.