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Unidade 4. Herança cultural
LEGENDA: Templo maia construído em Chichén Itzá, em homenagem à divindade da serpente emplumada em Yucatán, México, 2020. FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Antigo templo dos faraós em Naqa, no Sudão, no continente africano, 2018. FIM DA LEGENDA.
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Boxe complementar:
Vamos conversar
- Observe as imagens. O que os lugares retratados nas fotografias têm em comum? Como você acha que eles foram construídos?
- Você acha que as pessoas que os construíram imaginavam que eles durariam tanto tempo?
Fim do complemento.
LEGENDA: Muro das Lamentações e a Cúpula da Rocha ao fundo, na cidade velha de Jerusalém, Israel, 2018. FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Anfiteatro nas encostas da Acrópole em Atenas, Grécia, 2020. FIM DA LEGENDA.
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Capítulo 1. A humanidade e o tempo
A percepção da passagem do tempo organiza nosso cotidiano. Mesmo sem relógios e calendários, somos capazes de perceber que depois do dia vem a noite, as mudanças de fase da Lua, os ciclos de plantio e de colheita, as estações do ano, o desenvolvimento de plantas e de animais e até mesmo as fases da vida de um ser humano.
Ao observar a natureza, os seres humanos aprenderam a identificar fenômenos que indicam a passagem do tempo. Com base nessas observações, foram criados instrumentos para marcar o tempo decorrido entre um evento e outro.
LEGENDA: No relógio de sol, a sombra de uma vareta fixada no centro de um disco é utilizada para registrar o movimento aparente do Sol. Namíbia, 2017. FIM DA LEGENDA.
Como percebemos o tempo?
Um dos primeiros instrumentos para a medição do tempo foi o relógio de sol, provavelmente criado pelos egípcios há mais de 4 mil anos. Mais tarde, os seres humanos criaram outros tipos de relógio, como a ampulheta e o relógio de água. Essas invenções para medir a passagem do tempo reduziram a necessidade de observação da natureza, por exemplo, para marcar as horas.
Antes da utilização dos relógios, a quantidade de horas trabalhadas no campo, por exemplo, era determinada pelo nascer e pelo pôr do sol.
A nossa percepção do tempo pode fazer uma hora parecer mais lenta ou mais acelerada, dependendo da atividade. Quando estamos nos divertindo, por exemplo, o tempo parece passar mais rapidamente do que quando fazemos algo de que não gostamos. Isso não faz com que uma hora dure mais ou menos, mas mostra que nem sempre percebemos a passagem do tempo da mesma forma.
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- De que maneira podemos medir o tempo com base na observação da natureza? Cite dois exemplos.
- O relógio de sol é uma das maneiras mais antigas que conhecemos para medir o tempo. Em grupo, sigam as instruções a seguir para produzir um relógio de sol.
- Vocês precisarão de: um prato de papel, um canudo (ou varet a), canetas hidrocor, régua, lápis, tachas ou alfinetes, uma base para apoiar o relógio (caixa de papelão ou placa de isopor) e um relógio para conferir os horários.
- Coloquem o prato virado para baixo sobre a base escolhida e prendam-no com tachas ou alfinetes. Com o lápis, façam um furo no centro do prato, encaixando nele o canudo (ou a vareta).
- Façam uma marca na borda do prato. Depois, com a régua, desenhem uma linha do centro do prato até a marca. Escolham um local que receba a luz do Sol durante todo o dia e instalem ali o relógio.
- Disponham o prato de forma que a sombra do canudo ou da vareta coincida com o risco que vocês fizeram. Acompanhem o movimento da sombra no prato guiando-se por um relógio. A cada hora, façam uma marca sobre a sombra no prato e anotem o horário. Façam isso até completar todo o ciclo. Ao final, pintem e decorem o relógio de sol.
LEGENDA: Relógio de sol em Gatchina, Rússia, 2018. FIM DA LEGENDA.
- De que maneira você percebe a passagem do tempo em seu cotidiano? Converse com um adulto de sua família sobre a percepção de vocês da passagem do tempo no cotidiano. Escreva um texto registrando suas impressões. Depois leia para os colegas em sala de aula.
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Calendários
Outra forma de observar a passagem do tempo é por meio do calendário. Esse sistema mede a passagem dos dias e, por isso, é usado para calcular períodos de tempo mais longos. Muitas sociedades antigas construíram seus próprios calendários, baseados nos ciclos solares ou lunares, para organizar a passagem do tempo. Alguns desses povos observavam os astros como uma forma de perceber outros ciclos temporais, como as estações do ano, e assim nasceu a Astronomia, uma ciência que estuda os corpos celestes no espaço e no tempo.
Formas de medir o tempo: sumérios, egípcios e maias
A observação da natureza e o desenvolvimento da Astronomia foram muito importantes para o estabelecimento dos calendários. Os sumérios, que habitavam a região da Mesopotâmia, estabeleceram um sistema de medição do tempo dividido em 12 meses, com base nos ciclos lunares.
Os egípcios desenvolveram seu primeiro calendário solar há cerca de 5 mil anos. Ele foi criado de acordo com a observação do nascer e do pôr do sol e dos ciclos de cheias e secas dos rios. Para os egípcios, que dependiam da água do rio Nilo para produzir alimentos, era muito importante saber o momento certo de preparar o solo e fazer o plantio e a melhor época para a colheita. Desenvolver um calendário com o qual era possível entender os ciclos da natureza possibilitou aos egípcios controlar a produção de grãos e de frutas.
Os povos que viviam no continente americano também elaboraram diversos calendários. Os maias criaram um calendário bastante preciso fundamentado nas fases da Lua: um ano equivalia a 18 meses, cada mês tinha 20 dias, além de um intervalo mais curto, de 5 dias, somando, 365 dias.
LEGENDA: Observatório astronômico “O caracol”, da civilização maia, construído há cerca de 1.100 anos. Yucatán, México, 2018. FIM DA LEGENDA.
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- Observe a imagem a seguir e reflita: na sua opinião, a observação da natureza contribuiu para a criação dos calendários pelos egípcios na Antiguidade?
LEGENDA: Campos de cultivo próximos ao rio Nilo, onde ficava parte do Egito antigo. Hoje, a região é compartilhada pelo Sudão e pelo Egito. Fotografia de 2016. FIM DA LEGENDA.
- Leia o texto e responda às questões.
Outro acontecimento cíclico [...] era o ciclo da Lua, cujas fases – nova, crescente, cheia e minguante – se repetem a cada 29 dias [...]. Para medir a passagem do tempo ao longo do ciclo solar, ou seja, ao longo do ano, os egípcios utilizavam os ciclos da Lua, arredondados para 30 dias. Assim, foi criado o mês. Um ciclo do Sol contém aproximadamente 12 ciclos da Lua, surgindo daí o ano de 12 meses. [...] Essa contagem apresentava um erro de 5 dias por ano [...].
FONTE: Marcos José Chiquetto. Breve história da medida do tempo . São Paulo: Scipione, 1996. p. 22-23.
LEGENDA: Eclipse lunar em junho de 2020 na lua cheia. Fotografia tirada no espaço profundo, Treviso, Itália. FIM DA LEGENDA.
- Segundo o texto, que ciclos da natureza os egípcios observavam para medir o tempo?
- Qual era a importância dos ciclos lunares para os antigos calendários?
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O tempo para os iorubás
Entre os povos africanos trazidos para o Brasil durante o período da escravidão estavam os iorubás. Antes de serem obrigados a adotar o calendário europeu, os iorubás reconheciam os ciclos lunares, mas lhe davam pouca importância. Eles dividiam a semana em quatro dias, cada um deles dedicado a uma divindade. Além disso, marcavam a passagem do ano pela repetição das estações.
As fases agrícolas e as estações do ano também serviam de marco para as festas religiosas. Os eventos reconhecidos por toda a comunidade, como o nascer do Sol, o entardecer e o cantar do galo, marcavam a duração dos períodos do dia.
O calendário Suyá
Muitos povos indígenas que vivem no Brasil atualmente também utilizam a observação e o modo como se relacionam com a natureza para marcar a passagem do tempo.
O calendário que você vê nesta página foi feito por Thiayu Suyá, do povo Suyá. Esse calendário tem formato circular e não mostra os dias nem as semanas. Ele é dividido em doze partes, que representam os meses do ano. Em cada uma dessas partes há um desenho. Em alguns meses, os desenhos mostram fenômenos da natureza, como o período da cheia dos rios (fevereiro). Em outros meses, os desenhos mostram as atividades relacionadas ao trabalho, como a pesca (abril), o plantio (setembro) e a colheita (janeiro, março, outubro e dezembro).
LEGENDA: Calendário indígena feito por Thiayu Suyá. In: Geografia indígena: Parque indígena do Xingu. São Paulo: Instituto Socioambiental, 1995. p. 55. FIM DA LEGENDA.
Boxe complementar:
Hora da leitura
• Contos da floresta, de Yaguarê Yamã. São Paulo: Peirópolis, 2012.
Nesta obra, o escritor indígena Yaguarê Yamã reconta lendas e mitos do povo Maraguá, que vive no estado do Amazonas.
Fim do complemento.
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O desenho pode representar também um evento importante na aldeia. Observe que, em agosto, há um desenho de um tronco de árvore enfeitado. Isso significa que, nesse mês, os Suyá realizam o Kuarup, um ritual em homenagem aos mortos.
LEGENDA: Indígenas da etnia Waurá da aldeia Piyulaga durante o ritual do Kuarup, no Parque Indígena do Xingu, município de Gaúcha do Norte, Mato Grosso, 2019. FIM DA LEGENDA.
- Responda às questões a seguir sobre o calendário feito por Thiayu Suyá.
- Qual é o formato desse calendário? Como ele divide o tempo de um ano?
- O que foi representado nos diferentes períodos do ano? Cite um exemplo.
- Leia o texto e responda às questões.
A duração de cada período de tempo era marcada por eventos experimentados e reconhecidos por toda a comunidade. Assim, um dia começava com o nascer do Sol, não importando se às cinco ou às sete horas, em nossa contagem ocidental, e terminava quando as pessoas se recolhiam para dormir [...], o que podia ser às oito da noite ou à meia-noite em nosso horário. Essas variações, importantes para nós, com nosso relógio que controla o dia, não o eram para eles.
FONTE: Reginaldo Prandi. O candomblé e o tempo. Concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais , São Paulo, v. 16, n. 47, p. 46-47, 2001.
- Segundo o texto, que eventos os iorubás utilizavam para marcar a passagem de um dia?
- A divisão do dia pelas horas do relógio era importante para esses povos? Explique.
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Boxe complementar:
Você sabia?
Os diversos povos indígenas do Brasil desenvolveram muitos conhecimentos em Astronomia. Com a observação do céu e do movimento dos astros, eles definiam a contagem dos dias, dos meses e dos anos, o tempo de colheita, a chegada das chuvas e identificaram inúmeras constelações. O físico e pesquisador brasileiro Germano Bruno Afonso estudou esse tema, investigando e conversando com famílias indígenas sobre seus conhecimentos em Astronomia. Saiba mais sobre isso no texto a seguir.
Durante nossas pesquisas em etnoastronomia tupi-guarani, tivemos diálogos informais e realizamos observações do céu com pajés de todas as regiões brasileiras. Além disso, utilizamos documentos históricos que relatam diversos mitos, constelações e a importância da astronomia no cotidiano das famílias indígenas. [...]
As observações do céu que realizamos com os indígenas permitiram localizar a maioria das constelações tupinambá e de diversas outras etnias da família tupi-guarani. Verificamos que etnias diferentes – distintas culturalmente, como seria de esperar – possuem um conjunto muito semelhante de conhecimentos astronômicos, utilizados para materializar tanto o calendário como os sistemas de orientação. Esse conjunto comum se refere, principalmente, ao Sol, Lua, Vênus, Via Láctea, e às constelações do Cruzeiro do Sul, Plêiades e das regiões do céu onde se situam Órion e Escorpião, constelações ocidentais que surgem, respectivamente, no verão e no inverno, no Hemisfério Sul.
[...]
Os tupis-guaranis, em virtude da longa prática de observação da Lua, conhecem e utilizam suas fases na caça, no plantio e no corte da madeira. Eles consideram que a melhor época para essas atividades é entre a lua cheia e a lua nova (lua minguante), pois entre a lua nova e a lua cheia (lua crescente) os animais se tornam mais agitados devido ao aumento de luminosidade. Certa noite de lua crescente estava observando as constelações com os guaranis na ilha da Cotinga, Paraná.
LEGENDA: Constelação de Órion no espaço profundo. FIM DA LEGENDA.
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De repente, um deles me disse que seria melhor observarmos quando não houvesse Lua. Rapidamente, com meu conhecimento ocidental, respondi que estava de acordo, pois o brilho da Lua ofuscava o brilho das estrelas, embora conseguíssemos enxergar bem a Via Láctea. Ao que ele retrucou dizendo que, na realidade, o que o incomodava era a quantidade de mosquitos, muito menor quando não há Lua. Nunca havia percebido essa relação, que de fato existe, entre as fases da lua e a incidência de mosquitos.
Os guaranis que atualmente habitam o litoral também conhecem a relação das fases da Lua com as marés. Além disso, associam a Lua e as marés às estações do ano (observação dos astros e dos ventos) para a pesca artesanal. Segundo eles, o camarão é mais pescado entre fevereiro e abril, na maré alta de lua cheia, enquanto a época do linguado é no inverno, nas marés de quadratura (lua crescente e lua minguante).
FONTE: Germano Bruno Afonso. Mitos e estações no céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil (Edição Especial: Etnoastronomia), v. 14, p. 46-55. 2006.
LEGENDA: Via Láctea vista na região do Afluente Azul, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, município de Alto Paraíso de Goiás, Goiás, 2015. FIM DA LEGENDA.
Ainda de acordo com o físico Germano Bruno Afonso, os povos tupis-guaranis também se baseiam em observações do Sol, determinando, por exemplo, o meio-dia solar, os pontos cardeais e as estações do ano. Isso é feito com o relógio solar vertical, constituído de uma haste cravada verticalmente em um terreno horizontal. Por meio desse instrumento, é possível observar a sombra projetada pelo Sol. A haste vertical aponta para o ponto mais alto do céu. O relógio solar vertical foi também usado por outros povos, como no Egito, na China e na Grécia antiga.
Fim do complemento.
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Para ler e escrever melhor
Agora você vai conhecer dois pontos de vista sobre os vestígios do passado. Compare as opiniões registradas nos textos a seguir escrito pelo filósofo francês Denis Diderot no século XVIII, e pela historiadora Françoise Choay, nos dias de hoje.
Os vestígios e a ação do tempo
As ideias que as ruínas me despertam são grandes. Tudo se aniquila, tudo perece , tudo passa. Só fica o mundo. Somente o tempo perdura. Como é velho este mundo! Caminho entre duas eternidades. De qualquer parte para onde lanço o olhar, os objetos que me rodeiam me anunciam um fim e me resignam àquele que me espera. Que é minha existência efêmera , comparada com a deste rochedo que cai, deste vale que se aprofunda, desta floresta que vacila, destas massas suspensas acima de minha cabeça e que me abalam? Uma torrente arrasta as nações umas sobre as outras para o fundo de um abismo comum; eu, eu só, pretendo parar na margem e atravessar a corrente que corre a meus lados!
FONTE: Denis Diderot (1713-1784). Citado em: Jean Starobinski. As máscaras da civilização . São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 203.
LEGENDA: Vista das ruínas do Templo dos Obeliscos, construído há cerca de 3 600 anos, na cidade fenícia de Biblos, Líbano, 2019. FIM DA LEGENDA.
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[...] em que se compraz a alma romântica, quando ela transforma em estigma as marcas deixadas pelo tempo nas construções dos homens. Entendidas como símbolos do destino humano, estas adquirem um valor moral: emblema duplo da arché criadora e da transitoriedade das obras humanas. A ruína medieval, menos antiga, mais difundida e familiar, é uma testemunha mais dramática que a ruína antiga. O castelo fortificado reduzido a muralhas, a igreja gótica da qual resta apenas o esqueleto revelam, mais do que se estivessem intactos , o poder fundador que os mandou construir; mas os musgos corrosivos , as ervas daninhas que desmantelam os telhados e arrancam as pedras das muralhas [...] lembram que a destruição e a morte são o término desses maravilhosos inícios.
FONTE: Françoise Choay. A alegoria do patrimônio . São Paulo: Estação Liberdade, 2001. p. 133.
LEGENDA: Ruínas de um castelo medieval em Tynemouth, Inglaterra, 2019. FIM DA LEGENDA.
- Com base na leitura que você fez dos dois textos, procure identificar qual palavra descreve melhor o sentimento expresso pelo filósofo Denis Diderot: tristeza, alegria, paixão ou vergonha?
- O que são as ruínas a que o autor se refere? Por que o filósofo teria esse sentimento diante delas?
- Que elementos da natureza são usados no segundo texto para indicar a passagem do tempo sobre os vestígios, como o castelo e a igreja?
- Escreva um pequeno texto apresentando os elementos que são comuns a Denis Diderot e a Françoise Choay.
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Capítulo 2. Descobrindo a História
Ao analisar uma fotografia antiga, é possível notar que, em outros tempos, alguns elementos do cotidiano eram diferentes dos atuais. As roupas, a postura das pessoas, as técnicas usadas para fotografar e até mesmo as relações familiares podem ter traços em comum e outros diferentes dos atuais. Todos esses elementos podem ser analisados em uma pesquisa histórica, por isso, existem muitos tipos de documentos históricos que possibilitam descobrir informações sobre as formas de viver no passado.
Documentos históricos
As fontes históricas são classificadas como materiais ou imateriais, mas existem também outras formas de considerá-las. Por exemplo, as leis e os tratados que foram criados por governantes e que orientaram regimes políticos são chamados de documentos oficiais, porque apresentam as informações do ponto de vista de quem estava no poder no momento em que foram produzidos. Mas existem também os documentos não oficiais, que são assim considerados porque expressam pontos de vista de pessoas que não estavam necessariamente no poder. Os jornais, as esculturas, as pinturas, as construções arquitetônicas, a música, o cinema, as cartas, os mapas e os livros de gêneros diversos, incluindo a literatura, são considerados documentos não oficiais.
LEGENDA: Página da Constituição Política do Império do Brasil, promulgada em 1824. FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Mercado caipira, obra de Oscar Pereira da Silva, produzida em 1937. Óleo sobre tela, 26 cm x 38 cm. FIM DA LEGENDA.
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O passado também pode ser estudado por meio dos vestígios arqueológicos, isto é, por meio de objetos que foram produzidos por grupos humanos no passado e que ficaram depositados em determinados locais, nos chamados sítios arqueológicos.
LEGENDA: Arqueólogos realizam escavações em sítio arqueológico na Província de Van, na Turquia, em 2020.FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Fragmentos de objetos do acervo do Centro de Arqueologia de São Paulo, município de São Paulo, estado de São Paulo, 2016. FIM DA LEGENDA.
- Observe o retrato de família tirado nos anos 1940 e descreva as diferenças que você identifica entre essa fotografia e as fotografias atuais.
LEGENDA: Família fotografada nos anos 1940, município de Diamantina, estado de Minas Gerais. FIM DA LEGENDA.
- Explique o que são documentos oficiais e não oficiais. Dê exemplos.
- Observe as fotografias preservadas em sua casa junto com um familiar. Escolham uma fotografia significativa para ser analisada como documento histórico em sala de aula com os colegas e o professor.
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Estudos e técnicas
Historiadores e arqueólogos trabalham a partir de fragmentos diversos para estudar sinais do passado e suas relações com o presente. Eles buscam pistas de outros tempos e, ao encontrá-las, procuram estabelecer relações com diversos campos de conhecimento.
Para fazer suas pesquisas, os historiadores costumam consultar arquivos e bibliotecas. Se a pesquisa é feita em jornais e revistas, o historiador pode frequentar uma hemeroteca, local em que esses materiais são arquivados. Nos arquivos, os pesquisadores consultam fundos documentais que reúnem coleções de documentos que têm uma origem comum. É preciso também aprender a interpretar imagens, pois os documentos muitas vezes são fotografias ou obras de arte. A essa habilidade chama-se leitura iconográfica. As fontes pesquisadas também podem ser manuscritas (feitas à mão) ou impressas .
Os arqueólogos precisam lançar mão de conhecimentos técnicos bastante complexos para investigar o passado por meio de objetos encontrados nos sítios arqueológicos. O terreno desses locais que foram ocupados por antepassados humanos é cercado e escavado; apenas a equipe de arqueólogos pode ter acesso a eles para que nada seja danificado; os objetos são cuidadosamente separados e analisados e tem-se o cuidado de procurar fragmentos de peças eventualmente quebradas.
LEGENDA: Pesquisas recentes usam fotografias produzidas em escavações para propor catalogações de vestígios arqueológicos, trabalho que é desenvolvido, por exemplo, pelo arqueólogo Sergio Monteiro, da Universidade Federal de Pernambuco. Fotografia de 2000. FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Arqueólogos em escavação em Münster, Alemanha, em 2019. FIM DA LEGENDA.
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Os arqueólogos também estudam sítios arqueológicos nas cidades e no fundo do mar (trata-se da Arqueologia subaquática). Antes da realização de grandes obras públicas, como construção de metrôs, pontes e viadutos, esses profissionais são acionados.
Por meio de entrevistas, observação de campo com os grupos e o estudo dos costumes, dos mitos, das línguas e das crenças, os antropólogos também investigam as configurações sociais. A pesquisa em Antropologia relaciona-se com os estudos históricos e é muito importante para a compreensão das sociedades do passado e do presente.
- Observe a imagem e descreva como são feitos os estudos de Arqueologia.
LEGENDA: Arqueólogos trabalhando na restauração de urna funerária no sítio arqueológico Altos de São José, município de São José dos Campos, estado de São Paulo, 2016. FIM DA LEGENDA.
- Quais são as semelhanças e as diferenças entre os pesquisadores das áreas da História e da Arqueologia?
- Reúna-se com um colega. Leiam as adivinhas a seguir e procurem descobrir as respostas para cada uma delas, tomando como base as dicas que aparecem nos quadros na cor cinza, logo abaixo. Anotem as respostas no
caderno
e verifiquem se as demais duplas da turma chegaram às mesmas conclusões.
Quadros cinza: Hemeroteca; Leitura iconográfica; Fundo documental; Fonte manuscrita
O que é, o que é?
Análise de imagens como fotografias e obras de arte.
O que é, o que é?
Documentos que foram escritos à mão.
O que é, o que é?
Local onde são arquivados jornais e revistas.
O que é, o que é?
Coleção de documentos que têm a mesma origem.
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Capítulo 3. Marcos de memória
A memória é um conceito que pode significar muitas coisas, mas não é sinônimo de história. Essas noções se relacionam, mas não são a mesma coisa. A memória se nutre da história e de seus processos, mas a ultrapassa. Quando usamos essa palavra – memória –, normalmente estamos considerando-a equivalente à lembrança. Caso perguntem a você: “Onde passou as últimas férias?”, depois de pensar, você encontrará a informação em sua memória.
Existe também outro significado para memória, que diz respeito a hábitos que herdamos culturalmente. Isso ocorre quando percebemos que não chegamos a viver em determinado tempo, quando certo costume foi inventado, mas ele chegou até nós. Isso quer dizer que existe uma memória coletiva sobre esse hábito, que foi praticado de geração em geração e passado oralmente às pessoas. Há vários exemplos disso: uma forma de fazer uma comida que se aprendeu com a família; um tipo de bordado que as famílias de certa região praticam; hábitos de cura por meio de uso de chás ou medicina natural.
Também podemos dizer que existe uma memória que é construída com a mobilização e o uso de processos históricos para fins determinados. Por exemplo: se algum grupo político fez questão de esconder determinados fatos da população, aqueles que se sentiram prejudicados podem se mobilizar para reivindicar a memória histórica coletiva que se tentou apagar.
LEGENDA: Placa da Avenida Rebouças no município de São Paulo, estado de São Paulo. O nome da avenida presta homenagem ao engenheiro e abolicionista negro André Rebouças. Fotografia de 2017. FIM DA LEGENDA.
Boxe complementar:
Hora da leitura
• Nossa rua tem um problema, de Ricardo Azevedo. São Paulo: Ática, 2019.
O livro apresenta os diários de duas crianças: Clarabel e Zuza. Cada personagem trata dos mesmos fatos do cotidiano, ocorridos na rua em que vivem, mas sob diferentes pontos de vista. Com texto leve e sensível, a obra aborda as relações entre as pessoas e a importância do convívio com as diferenças.
Fim do complemento.
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Por outro lado, pode acontecer também de um grupo político querer valorizar sua proposta de governo, recorrendo ao passado e destacando figuras ou momentos significativos – heróis, grandes batalhas – que podem evidenciar algum aspecto do projeto que ele divulga. Trata-se, nesse caso, da tentativa de construção de uma memória histórica usando o passado para alcançar um objetivo. Esse tipo de memória está muito relacionado às homenagens e comemorações.
Boxe complementar:
Você sabia?
Geralmente, os nomes que são dados às ruas ou às grandes avenidas dos municípios brasileiros são homenagens a pessoas que já morreram, sejam elas personalidades ligadas à história local, à cultura ou a outro aspecto histórico relevante para determinada localidade. Muitas dessas escolhas seguem critérios políticos.
Fim do complemento.
- Observe a imagem, leia a legenda e responda à questão.
LEGENDA: Na tradição africana, o griot é aquele que transmite os saberes, informações e cultura de seu povo por meio da narração de histórias, práticas culturais e tradições que são passadas de geração em geração pela oralidade. Mulher griot no Mali, África, 2008. FIM DA LEGENDA.
- Que tipo de memória é constituída e transmitida pelos griots?
- Como a memória pode se relacionar a formas de homenagens e comemorações?
- Registre uma lembrança pessoal que compõe a sua memória individual.
- Converse com um adulto da sua família sobre uma lembrança que compõe a memória familiar. Depois conte aos colegas em sala de aula.
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O mundo que queremos
Mulheres que fazem história
Caminhamos diariamente por ruas, vielas, pontes, praças e avenidas e, muitas vezes, não percebemos que os nomes desses lugares por onde passamos têm muita história. Em geral, a maior parte dos nomes de ruas e avenidas é homenagem a pessoas ou eventos significativos para a história do Brasil, do estado ou do município em que vivemos. O texto a seguir traz alguns exemplos disso, mais especificamente no município de São Paulo.
A trajetória da cidade de São Paulo está diretamente ligada ao papel da mulher paulistana. Para dar destaque a elas, escolhemos alguns exemplos de personagens icônicas que dão nome a ruas, praças, locais e espaços públicos. Sejam elas personalidades, militantes ou ícones intelectuais de nossa sociedade, nascidas aqui ou “apaulistadas”.
São mulheres que deixaram de alguma forma suas marcas na cidade ao longo do tempo e que até hoje enchem a cidade de orgulho a cada esquina. Vamos a elas.
LEGENDA: Fotografia da pintora Anita Malfatti em São Paulo, em 1955. FIM DA LEGENDA
Rua Anita Malfatti (Casa Verde)
Anita Malfatti (1889-1964) foi uma artista plástica nascida em São Paulo. A mostra expressionista da pintora realizada em São Paulo na Exposição de Pintura Moderna foi um marco para a renovação das artes plásticas no Brasil. [...]
Avenida Anália Franco (Tatuapé)
Escritora, professora e jornalista, Anália Franco Bastos nasceu em Resende em 1º de fevereiro de 1856. Colaborou em jornais literários e na imprensa feminista. Em 1901, criou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo, preocupando-se com a miséria e a erradicação do analfabetismo. [...]
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Largo Dona Ana Rosa (Vila Mariana)
Ana Rosa de Araújo Marcondes, nascida em 1786, natural de São Paulo, é filha de Manoel Antonio de Araujo e dona Joaquina de Andrade. [...] Sua vida foi dedicada exclusivamente às obras de caridade. [...]
LEGENDA: A atriz Cacilda Becker durante uma entrevista em São Paulo, estado de São Paulo, em 1968.
Rua Cacilda Becker (Itaim Bibi)
Cacilda Becker é considerada uma das maiores atrizes de palco do Brasil. Em 30 anos de carreira, Cacilda encenou 68 peças, fez dois filmes e uma telenovela, além de outras participações em teleteatros na televisão. [...]
FONTE: Mulheres que dão nome a ruas, avenidas e praças de São Paulo. São Paulo São , 30 mar. 2020. Disponível em: http://fdnc.io/guV. Acesso em: 17 mar. 2021.
- O texto que você acabou de ler mostra as origens de alguns nomes de vias públicas na cidade de São Paulo. O que os nomes das vias públicas citadas no texto têm em comum?
- Há, no município em que você vive, vias públicas cujos nomes prestam homenagem a mulheres? Identifique esses casos e faça uma pequena pesquisa sobre a história de vida das mulheres homenageadas. Apresente suas descobertas em uma roda de conversa com os colegas e o professor. Comente também em que bairros do seu município ficam as ruas com nomes de mulheres que você pesquisou. Ouça com atenção a exposição dos colegas e identifique semelhanças e diferenças nas informações coletadas por vocês.
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Marcos de memória: história oral
Por meio de pesquisas de variados tipos pode-se estudar como grupos oprimidos lutaram para difundir suas vozes na sociedade e para que fossem lembrados historicamente. Nesses casos, são estudos que valorizam os protestos pela preservação da memória coletiva. O historiador pode buscar suas fontes de pesquisa em arquivos, bibliotecas e hemerotecas ou mesmo estudar a memória das pessoas que ainda estão vivas, por meio de entrevistas, em uma vertente que se chama história oral.
Durante a pesquisa em história oral são realizadas entrevistas com pessoas que vivenciaram determinados acontecimentos ou que tiveram alguma experiência em comum que estão sendo estudadas. As entrevistas depois são transcritas (transformadas em texto), para que possam ser analisadas. Muitas vezes, o que é narrado em uma entrevista se repete em outra, com algumas mudanças. Isso quer dizer que, apesar de os dados narrados estarem nas memórias individuais, eles fazem parte também de uma dimensão coletiva.
LEGENDA: Estudante realizando entrevista com moradora do município de São Paulo, estado de São Paulo, 2016. FIM DA LEGENDA
Boxe complementar:
Você sabia?
Para realizar um trabalho de história oral é necessário realizar entrevistas com uma rede de pessoas que tenham relação com o tema estudado. Para isso, usam-se gravadores e microfones, bem como um roteiro de entrevista, que é seguido pelo entrevistador. O roteiro é focado em aspectos da vida pessoal do entrevistado para resgatar aspectos de sua memória. Os entrevistadores devem deixar a pessoa falar livremente sobre sua vida e seu passado. É importante que o entrevistado seja questionado se sua identidade pode ser revelada ou se ele prefere o anonimato. Nesse último caso, usa-se um pseudônimo.
Fim do complemento.
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A história é filha de seu tempo?
Independentemente da maneira de pesquisar a memória, é importante saber que os temas e as abordagens escolhidos nas pesquisas revelam muito sobre o momento em que o historiador vive. O historiador é uma figura que vive o seu tempo (e não está à frente dele), que reflete sobre as ansiedades e projeções de seu presente, com base nas questões que o afetam. Assim, quando lemos livros de antigos historiadores, é possível perceber alguns motivos os levaram a escrever daquela maneira.
Isso mostra que o conhecimento histórico não é único. Ele muda com o tempo e de acordo com as leituras que os historiadores fazem do passado. A essa forma que cada geração de historiadores entendeu a história damos o nome de historiografia, que é a análise de como a história foi escrita de certa maneira, em determinado tempo.
- O que é a história oral?
- O que é historiografia?
- Reúna-se com dois ou três colegas e escolham uma pessoa que vive próxima a todos para ser entrevistada.
- Elaborem um roteiro com perguntas como nome, idade e profissão; depois, perguntem qual foi o período mais marcante da vida dessa pessoa e deixe que ela fale livremente.
- Apresentem um resumo da entrevista aos colegas de turma.
LEGENDA: Estudante durante entrevista com uma idosa. Município de São Paulo, estado de São Paulo, 2016. FIM DA LEGENDA
Boxe complementar:
Hora da Leitura
• A África explicada aos meus filhos, de Alberto da Costa e Silva. São Paulo: Nova Fronteira, 2016.
Escrito com linguagem simples e agradável para jovens leitores, este livro apresenta um interessante exercício de análise da historiografia produzida sobre o continente africano.
Fim do complemento.
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Como as pessoas faziam para...
Produzir e divulgar conhecimento histórico
A produção de conhecimento histórico acontece nos centros de pesquisa e universidades, que oferecem oportunidades para estudantes e professores desenvolverem projetos de construção de conhecimento.
Para que um trabalho acadêmico seja produzido, existem diversos passos a seguir.
LEGENDA: Professor e estudante, 2016. FIM DA LEGENDA.
Escolha do tema e orientação
Escolher o tema é fundamental. O tema precisa ser inspirador, pois o pesquisador o estuda durante o período de um a quatro anos, dependendo do nível da pesquisa. Esse trabalho demanda uma supervisão: alguém mais experiente, que já fez muitas pesquisas e deve ajudar o novo pesquisador a conduzir o estudo.
LEGENDA: Músicos durante apresentação de reisado na comunidade quilombola de Inhanhum, no município de Santa Maria da Boa Vista, estado de Pernambuco, 2019. O reisado é considerado um patrimônio cultural. FIM DA LEGENDA.
Temas, tempos e espaços
Temos de definir o tema e escolher um período específico e um espaço geográfico a ser estudado. Os períodos e os espaços podem ser mais ou menos amplos, a depender de como o projeto é estruturado.
LEGENDA: Parque Memorial Quilombo dos Palmares, município de União dos Palmares, estado de Alagoas, 2015. FIM DA LEGENDA.
Fontes da pesquisa
Não existe trabalho de historiador sem fontes documentais. Os documentos históricos – manuscritos ou impressos, oficiais ou não – são guias da pesquisa. A análise desse material é que traz inovações interpretativas ao conhecimento histórico.
131
Leitura e teoria
Muitas vezes, não sabemos como analisar os documentos, pois eles mostram muitas coisas. Leituras teóricas, ou seja, reflexões mais amplas ajudam a definir caminhos. Também poderão ser estudadas as formas de pensar e de sentir dos homens e das mulheres em determinado contexto.
Problemas e objetivos
A história, em uma concepção mais moderna, não é um apanhado de fatos ordenados cronologicamente. As pesquisas são feitas para revelar uma nova interpretação sobre o passado, descobrir algo novo, que ilumine um campo ainda não estudado, e contestar leituras do senso comum. Assim, é preciso eleger questões que justifiquem a importância daquela pesquisa. Também é preciso saber o que o projeto pretende alcançar com a investigação.
A escrita do projeto
Depois dessas definições, é feito um documento com as intenções da pesquisa: o projeto. Nele, justificam-se a importância do estudo e as questões propostas, indicam-se o tema, os documentos, o período e o local que serão estudados e apresenta-se o apoio teórico utilizado.
LEGENDA: Palestra em Universidade, 2016. FIM DA LEGENDA.
Divulgação e publicação
O ideal é que o conhecimento produzido seja compartilhado. Por isso, existem os congressos, as revistas acadêmicas e também os livros. Esses são meios pelos quais é possível compartilhar o conhecimento histórico que foi construído durante a pesquisa.
- Refita sobre um tema histórico que você gostaria de estudar mais profundamente:
- Como você faria sua pesquisa? Quais fontes consultaria?
- Quais seriam os problemas e objetivos da sua pesquisa?
- Compartilhe sua reflexão com os colegas em uma roda de conversa.
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Capítulo 4. Registros de memória
Os povos antigos deixaram muitos legados. Já tivemos a oportunidade de conhecer alguns: a forma de organizar o tempo, o alfabeto, os números, as obras de arte, as ruínas, os bens arquitetônicos, a culinária e os aspectos da cultura religiosa.
O patrimônio cultural divide-se entre material e imaterial. Como já vimos, o de primeiro tipo é composto de materiais concretos, enquanto o segundo é considerado intangível, formado por práticas, podendo passar por mudanças ao longo do tempo. Esse conhecimento chega até nós trazendo marcas do passado e colaborando para formar a cultura do presente.
As obras arquitetônicas são exemplos de bens que fazem parte do patrimônio material e que são legados culturais. Um exemplo bastante característico é o Partenon, templo dedicado à deusa Atena e construído há 2 500 anos. A forma de construção das colunas foi especialmente desenvolvida pelos antigos gregos, e as colunas foram inspiração para a arquitetura ao longo da história. Às vezes, com fins políticos, para mostrar imponência e grandiosidade, como pode ser visto na construção do edifício da Suprema Corte dos Estados Unidos, sede do tribunal federal dos Estados Unidos.
LEGENDA: Partenon, em Atenas, Grécia, 2018. FIM DA LEGENDA.
LEGENDA: Suprema Corte, em Washington, Estados Unidos, 2021. FIM DA LEGENDA.
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LEGENDA: O acarajé é patrimônio brasileiro de origem africana. FIM DA LEGENDA
Além dos bens materiais, existem também os imateriais, e eles podem ser de diferentes tipos. A gastronomia é um deles. Um exemplo bastante conhecido é o acarajé. A receita é uma mistura das tradições africana e brasileira; esse prato é considerado um bem significativo da nossa cultura e foi declarado parte do nosso patrimônio imaterial.
As festividades e as celebrações também são bens imateriais. No estado do Maranhão, por exemplo, as celebrações do bumba meu boi são consideradas patrimônio imaterial do país. As celebrações e apresentações do bumba meu boi ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante as festividades juninas.
LEGENDA: Realização da festa popular do bumba meu boi, no município de São Luís, Maranhão, em 2019. FIM DA LEGENDA.
- Observe a imagem e responda às questões.
LEGENDA: Cinco diferentes tipos de coluna e de capitel demonstram um pouco da sofisticação da arquitetura grega antiga que continua a ser usada atualmente. Atenas, Grécia, 2017. FIM DA LEGENDA.
- Por que a maneira como os antigos gregos construíam colunas é considerada um legado cultural?
- Faça uma pesquisa sobre os tipos de colunas e capitéis mais comuns na Grécia antiga e descreva cada uma delas.
- Converse com um adulto da sua família sobre possíveis exemplos de patrimônios imateriais da cultura brasileira. Registre suas conclusões no caderno. Depois, compartilhe com os colegas em sala de aula.
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LEGENDA: Mosaico de pombas de Pompeia, na Itália. Produzido aproximadamente no século II a.C. FIM DA LEGENDA.
Patrimônios materiais
As ruínas da Antiguidade, com restos de construções que resistiram ao tempo, são consideradas
bens materiais. Algumas dessas construções ficaram preservadas por motivos diversos. Vamos conhecer um exemplo? No ano 76, o vulcão Vesúvio, localizado nas proximidades da atual cidade de Nápoles, em uma região da Itália conhecida como Campânia, entrou em erupção e soterrou as cidades de Pompeia, Herculano e Estábia. Do total de 36 mil habitantes de Pompeia, cerca de dois mil foram mortos. As cidades foram cobertas por cinzas e depósitos vulcânicos que atingiram a altura de seis a sete metros. No final do século XVI, as cidades soterradas foram descobertas. Afirma-se que as escavações feitas ali na primeira metade do século XVIII marcam o início da arqueologia moderna.
Boxe complementar:
Você sabia?
Segundo pesquisadores, na época da erupção do Vesúvio, a cidade de Pompeia contava com aproximadamente 12 mil habitantes no meio urbano e 24 mil habitantes no meio rural. Pompeia era cercada por diversas muralhas, e em seu interior havia uma rica vida urbana, marcada por uma variedade de construções: templos, lojas, banheiros públicos, casas de banho, residências, anfiteatros, entre outras.
A preservação de grande parte dessas construções e de muitos afrescos e mosaicos tornou possível a arqueólogos, historiadores e pesquisadores compreender o funcionamento da vida cotidiana dessa cidade do passado.
LEGENDA: Vestígios arqueológicos encontrados em Pompeia, Itália, 2015. FIM DA LEGENDA.
Fim do complemento.
135
LEGENDA: Pirâmides do norte do cemitério de Méroe, Núbia, Sudão, 2018. FIM DA LEGENDA.
Patrimônios materiais e intercâmbios
Muitas construções da Antiguidade são consideradas patrimônios materiais e reúnem tradições de diferentes tempos e origens. As pirâmides localizadas nas terras próximas ao rio Nilo, os túmulos de reis e rainhas de Méroe têm estruturas e elementos decorativos que remetem a outras culturas antigas, como as do Reino de Cuxe, do Egito, da Grécia e de Roma.
Há cerca de 2 300 anos, Méroe era a capital do Reino de Cuxe e tornou-se um grande entreposto de produtos vindos de vários pontos da África, do Mediterrâneo e do Oriente; os legados das artes e da tecnologia meroíta refletem esses intercâmbios e essas marcas do tempo.
LEGENDA: Anel em forma de escudo com cabeça de carneiro, encontrado em uma pirâmide de Méroe, Núbia. FIM DA LEGENDA.
- O que a descoberta das cidades encobertas pelas cinzas do Vesúvio representou para a ciência?
- Faça uma pesquisa sobre a cidade de Pompeia, após a erupção do Vesúvio, e escreva um resumo de suas descobertas.
Boxe complementar:
Hora da leitura
• Diário de Pilar na África, de Flávia Lins e Silva. São Paulo: Pequena Zahar, 2015.
Pilar e seus amigos viajam pelo continente africano e visitam diferentes países, da Nigéria a Angola. As crianças aprendem sobre a história e a cultura da África enquanto conhecem cidades, atravessam florestas e rios agitados.
Fim do complemento.
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Boxe complementar:
Você sabia?
As ruínas das cidades de Pompeia e Herculano e o sítio arqueológico de Méroe, que você conheceu nas páginas anteriores, fazem parte da lista do Patrimônio da Humanidade.
O termo Patrimônio da Humanidade é usado para designar os patrimônios culturais considerados de fundamental importância para toda a humanidade. O órgão responsável por classificar, divulgar e organizar os cuidados dos patrimônios é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Além dos bens classificados como materiais e imateriais, há os bens naturais (áreas de preservação ambiental, florestas, ecossistemas e estruturas geológicas, por exemplo). Em 2021, a lista de Patrimônio da Humanidade da Unesco contava com 1 121 bens, espalhados por todos os cantos do mundo. Conheça alguns desses bens a seguir.
Cidade de Potosí
Localizada na atual Bolívia, a cidade de Potosí situa-se em uma área em que houve intensa exploração de prata no século XVI e conta até hoje com importantes edificações do período.
LEGENDA: Vista da cidade de Potosí, na Bolívia. Fotografia de 2019. FIM DA LEGENDA.
Centro Histórico de São Luís
A cidade de São Luís, no estado do Maranhão, foi fundada no século XVII. Em seu centro histórico, bem preservado, podemos encontrar casarios e edifícios construídos entre os séculos XVII e XVIII.
LEGENDA: Casas coloniais no centro histórico de São Luís, estado do Maranhão. Fotografia de 2020. FIM DA LEGENDA.
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Parque Nacional Rapa Nui
O parque localiza-se na Ilha de Páscoa, situada no oceano Pacífico, a 3 700 km de distância da costa oeste do Chile, e conta com inúmeras estátuas construídas entre 1250 e 1500.
LEGENDA: Parque Nacional Rapa Nui, na Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico, que pertence ao Chile, 2020.
Muralha da China
A chamada Grande Muralha da China é constituída de uma série de fortificações de pedra, tijolo, terra compactada, madeira e outros materiais. Um dos trechos mais conhecidos da muralha foi construído entre 220 a.C. e 206 a.C.
LEGENDA: Grande Muralha da China, em Pequim, na China, 2020. FIM DA LEGENDA
Parque Nacional do Iguaçu
O parque está localizado próximo à cidade de Foz de Iguaçu, no estado do Paraná. Nele se encontra um impressionante conjunto de cataratas, chamadas Cataratas do Iguaçu. Esse é um exemplo de bem do patrimônio natural.
LEGENDA: Cataratas do Iguaçu no Parque Nacional do Iguaçu, Foz do Iguaçu, estado do Paraná, 2019.
Fim do complemento.
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LEGENDA: Busto de Platão (428 a.C.-347 a.C.), filósofo grego da Antiguidade. FIM DA LEGENDA
Filosofia como legado cultural
Ao lado de tantos outros filósofos da Grécia antiga, Platão, que viveu há 2 400 anos, compôs um corpo de ideias e reflexões sobre a vida e o mundo por meio da filosofia. Na obra A república, desenvolveu uma noção conhecida como alegoria da caverna para refletir sobre formas de conhecer a verdade e sobre as questões que impedem a percepção dela.
Imagine pessoas que vivem presas numa caverna e estão de costas para o mundo externo. Elas acompanham o que se passa do lado de fora apenas pelas sombras que se projetam na parede ao fundo da caverna onde vivem. Todo contato com a realidade se dá exclusivamente pelas sombras. Mas como seria, se essas pessoas saíssem para o mundo exterior? O que se passaria com elas? Como reagiriam as pessoas que permaneceram na caverna ao ouvir as histórias das que voltassem? O que tem maior valor: o conhecimento da realidade ou a representação dela, que é marcada por convenções sociais? Para Platão, a filosofia – palavra de origem grega que quer dizer amor (phílos) à sabedoria (sophia) – seria o meio de sair dessa caverna.
O pensamento filosófico pode ser considerado um legado cultural, pois esse modo de refletir procurou compreender o mundo e a natureza sem, necessariamente, recorrer aos deuses e mitos. Apesar disso, a filosofia e a religiosidade conviveram por muito tempo na Grécia antiga. As questões relacionadas à filosofia contribuem para a construção dos conhecimentos ao longo do tempo e instigam nossas reflexões até hoje.
LEGENDA: Ilustração representando a alegoria da caverna. FIM DA LEGENDA]
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Boxe complementar:
Você sabia?
São inúmeras as contribuições da filosofia para o desenvolvimento do pensamento ao longo da história. A ciência é um campo de saber diretamente influenciado pela filosofia. Podemos citar como exemplo o pensamento do filósofo grego Aristóteles, que foi aluno de Platão e que contribuiu para a construção dos conhecimentos científicos modernos. Para conhecer mais sobre esse assunto, leia o texto a seguir.
LEGENDA: Busto do filósofo grego Aristóteles (367 a.C.-347 a.C.). FIM DA LEGENDA
A segunda inovação de Aristóteles foi no campo da lógica. De acordo com o filósofo, determinar uma verdade comum a todos os componentes de um grupo de coisas é a condição para conceber um sistema teórico. [...]
Aristóteles [...] desenvolveu o sistema que ficou conhecido como silogismo. Ele consiste de três proposições – duas premissas e uma conclusão que, para ser válida, decorre das duas anteriores necessariamente, sem que haja outra opção.
Exemplo clássico de silogismo é o seguinte. Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Portanto, Sócrates é mortal.
Isso não basta, porém, para que a lógica se torne ciência. Um silogismo precisa partir de verdades, como as contidas nas duas proposições iniciais. Elas não se sujeitam a um raciocínio que as demonstre. Demonstram-se a si mesmas na realidade [...].
[...]
FONTE: Aristóteles: o defensor da instrução para a virtude. Nova Escola , ed. 1022, ago. 2015. Disponível em: http://fdnc.io/guW. Acesso em: 6 abr. 2021.
Fim do complemento.
4. Explique por que a filosofia pode ser considerada um legado cultural.
- Faça uma pesquisa sobre três filósofos da Antiguidade clássica e suas principais colaborações. Organize as informações, registre-as a seguir no caderno e exponha-as para a turma.
140
O que você aprendeu.
- Como o desenvolvimento da tecnologia impactou na percepção do tempo?
- Cite três formas de contagem do tempo desenvolvidas na Antiguidade.
- Descreva como os povos africanos iorubás organizavam suas atividades e marcavam a passagem do tempo antes de entrarem em contato com os europeus.
- O calendário do povo indígena Suyá, que você conheceu nesta unidade, está organizado de que maneira? Quais marcos definem a passagem do tempo nesse calendário?
- Observe as imagens a seguir. Quais são os tipos de documentos históricos ou técnicas de pesquisas retratados em cada uma delas? Componha um pequeno texto para cada uma das imagens.
LEGENDA: Arquivo histórico do Instituto Câmara Cascudo em Natal, estado do Rio Grande do Norte, 2014. FIM DA LEGENDA
LEGENDA: Parte de sítio arqueológico subaquático. Albânia, 2017. FIM DA LEGENDA
141
Avaliação processual
LEGENDA: MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, estado de São Paulo, 2017.FIM DA LEGENDA
LEGENDA: Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa, em Itaituba, estado do Pará, 2017. FIM DA LEGENDA
LEGENDA: Sítio arqueológico em São Miguel das Missões, estado do Rio Grande do Sul, 2016. FIM DA LEGENDA
LEGENDA: Jovem conduz entrevista durante a realização de pesquisa. FIM DA LEGENDA
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- Cite um exemplo de como é possível preservar a memória histórica.
- Explique o que é história oral.
- Leia, a seguir, o depoimento de um senhor chamado Ariosto. Observe a imagem e, depois, faça o que se pede.
Nasci na avenida Paulista, em 1900, numa travessa chamada Antônio Carlos, dia 20 de setembro. [...]
A avenida Paulista era bonita, calçamento de paralelepípedos, palacetes. As outras ruas eram semi calçadas, cobertas de árvores, de mata. De noite, os “lampioneiros” vinham acender os lampiões e de madrugada voltavam para apagar. Minha rua tinha poucas casas, uma aqui, outra a quinhentos metros. [...] a nossa [casa] tinha quintal com pés de laranja, [mexerica], ameixa e abacate. Minha mãe gostava muito de flores e plantava rosas, margaridas, violetas. Todo dia de manhã cedo ia regar as flores com seu regadorzinho. E eu ia atrás dela.
[...]
Naquela época não existiam brinquedos. Penso que eles começaram a surgir só depois de 1910, 1911, mas vinham de fora. Eu fazia carrinhos com rodas de carretel de linha e nós brincávamos o dia todo, livremente, nunca me machuquei porque a rua não tinha carros.
FONTE: In : Ecléa Bosi. Memória e sociedade : lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 154-155.
LEGENDA: Vista da avenida Paulista, no município de São Paulo, estado de São Paulo, em 2020. FIM DA LEGENDA
- Tanto o depoimento do senhor Ariosto como a fotografia desta página tratam da avenida Paulista. Qual fonte histórica (depoimento ou fotografia) trata da avenida no presente? E qual fonte histórica aborda aspectos da avenida no passado?
- Faça uma comparação entre o depoimento do senhor Ariosto e a fotografia, identificando semelhanças e diferenças entre as duas fontes históricas.
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- Observe a imagem, leia o texto e responda à questão.
Ofício das paneleiras de Goiabeiras
O saber envolvido na fabricação artesanal de panelas de barro foi o primeiro bem cultural registrado [...] no Livro de registro dos saberes , em 2002. O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, emprega técnicas tradicionais e matérias-primas provenientes do meio natural. A atividade [...] é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas [...]. As panelas continuam sendo modeladas manualmente, com argila sempre da mesma procedência e com o auxílio de ferramentas rudimentares. Depois de secas ao sol, são polidas, queimadas a céu aberto e impermeabilizadas [...] quando ainda quentes. Sua simetria, a qualidade de seu acabamento e sua eficiência como artefato devem-se às peculiaridades do barro utilizado e ao conhecimento técnico e habilidade das paneleiras, praticantes desse saber há várias gerações. A técnica cerâmica utilizada é reconhecida por estudos arqueológicos como legado cultural Tupi-guarani e Una [...]. O saber foi apropriado dos índios por colonos e descendentes de escravos africanos que vieram a ocupar a margem do manguezal, território historicamente identificado como um local onde se produziam panelas de barro.
FONTE: O ofício das paneleiras de Goiabeiras. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) . Disponível em: http://fdnc.io/guX. Acesso em: 18 mar. 2021.
LEGENDA: Artesã produzindo panela de barro no município de Vitória, Espírito Santo, 2018. FIM DA LEGENDA
- O ofício dessas artesãs pode ser considerado um patrimônio imaterial? Por quê?
- Nesta unidade, você conheceu alguns legados culturais da Antiguidade.
- Agora, com base em seus conhecimentos, registre no caderno um exemplo de legado cultural para cada um dos itens a seguir.
- Um exemplo de legado cultural egípcio.
- Um exemplo de legado cultural grego.
c) Um exemplo de legado cultural africano.