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3º ANO – Brincadeiras e jogos
TEMA 1 – Brincadeiras e jogos da cultura popular brasileira
Tabela: equivalente textual a seguir.
Prepare-se para as aulas |
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Objetivos |
Reconhecer e vivenciar as brincadeiras e os jogos populares do Brasil como patrimônio cultural, bem como suas variações. Experimentar brincadeiras e jogos populares do Brasil de matriz indígena e africana. Refletir sobre deficiências físicas por meio de uma variação do jogo da queimada. |
Habilidades da BNCC |
EF35EF01, EF35EF02, EF35EF03 e EF35EF04 |
Número de aulas |
8 |
Materiais |
Bolas de meia ou de plástico (que não machuquem), duas bandeiras (ou pedaços de tecidos, garrafas PET, bonés, cones), giz, duas bolas, petecas, tampinhas plásticas de garrafas, pedrinhas arredondadas (ou copos), dispositivo eletrônico para reprodução de música e tiras de tecido. |
Sequência de atividades |
Peça aos alunos que identifiquem quais brincadeiras são representadas na obra de Ivan Cruz. A seguir, nas próximas aulas, realize as atividades propostas na seção “Experimentação e Fruição”. |
Sensibilização |
Após as atividades anteriores, realize as propostas da seção “Construção de valores”. |
Avaliação |
Verifique se os alunos percebem que as brincadeiras e os jogos vivenciados por eles fora do contexto escolar são considerados populares no país. Acompanhe a variação da queimada ou do pique-bandeira recriada pelos alunos. |
Para começar
Há muitos jogos e brincadeiras realizados em diferentes locais do Brasil que têm estrutura igual ou semelhante, tendo nome e/ou regras diferentes. Muitas vezes, ao conversar com um colega, é possível perceber que existem semelhanças e diferenças entre um mesmo jogo ou uma mesma brincadeira. Reconhecer esses jogos permite que os alunos ressignifiquem a importância cultural dessas práticas. A tela Várias brincadeiras II , de Ivan Cruz, retrata diferentes brincadeiras infantis que são reconhecidas pelas crianças em todos os cantos do país.
Leve para a aula uma cópia ampliada e, se possível, colorida da obra da página seguinte (ou impressão da internet). Solicite aos alunos que identifiquem quais brincadeiras são representadas na tela. Ao citar cada uma, peça-lhes que expliquem algumas de suas características e pergunte se os demais a conhecem da mesma forma ou se verificam algumas diferenças.
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LEGENDA: Várias brincadeiras II , 2006. Ivan Cruz. Acrílica sobre tela, 1,30 × 1,70 m. Brincadeiras: barquinho de papel, bolinha de gude, bilboquê, bambolê, pula-sela, pião, ciranda, rola-arco, patinete, amarelinha, corda, balão, pipa, cata-vento, pé de lata, subir em árvore, perna de pau, estrelinha, puxar lata. FIM DA LEGENDA.
Concluída a observação, retome com eles as brincadeiras já vivenciadas na escola e proponha a realização daquelas que ainda não foram executadas nesse espaço.
Em outro momento, apresente aos alunos os jogos queimada e pique-bandeira, praticados em várias regiões do país com regras que variam bastante. Depois, procure saber quem já participou desses jogos, em que espaço eles foram realizados e como foi a experiência deles. Peça-lhes também que expliquem as regras desses jogos e, se for o caso, algumas de suas variações.
Análise e Compreensão
A queimada
A queimada é um jogo popular brincado na rua e tem sido muito praticada nas escolas brasileiras. Por ser adorada pelos alunos, com adaptações ou não, ela é utilizada para alcançar diferentes objetivos pedagógicos e até mesmo como um jogo pré-desportivo para o ensino de algumas modalidades, como o handebol.
Assim como os demais jogos, devido à diversidade cultural, podemos ter uma grande variedade de nomes que caracterizam a queimada: baleado (Bahia), baleada ou queimada (Paraíba), bola queimada (Paraná), caçador (Paraná e Rio Grande do Sul), mata-mata (Santa Catarina), queimado (Pernambuco), carimba (Ceará), carimbada (Uberlândia-MG) e guerra (interior de São Paulo). Suas regras também são bastante variáveis, permanecendo inalterado o objetivo de acertar a bola em alguém.
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Muito praticada nos Estados Unidos, a queimada é regulamentada e considerada um esporte, recebendo o nome de dodgeball.
O pique-bandeira
Trata-se de um jogo tradicional muito praticado nas ruas. Atualmente sua vivência é mais comum nas aulas de Educação Física em razão da perda do espaço da rua. Segundo alguns autores, esse jogo foi criado, no início do século XX, por escoteiros interessados em desenvolver estratégias de trabalho em equipe.
Assim como outros jogos tradicionais, o pique-bandeira é conhecido por diferentes nomes: bandeirinha ou bandeirinha guerreou (Maranhão e Belém-PA), bandeirinha-estourada (Minas Gerais), barra-bandeira (Pernambuco), salva-bandeira (Florianópolis-SC). Nos Estados Unidos, ele é chamado capture the flag (capturar a bandeira).
Há alguns anos, no Rio de Janeiro, o pique-bandeira era um jogo tão popular entre as crianças que chegou a ser comum a realização de campeonatos entre as ruas de alguns bairros.
Experimentação e Fruição
1. Pula-sela
PROFESSOR
Objetivos: Vivenciar o jogo pula-sela. Reconhecer o pula-sela como um jogo da cultura popular.
Procedimentos
Para trabalhar com uma das brincadeiras apresentadas na tela de Ivan Cruz, sugerimos o pula-sela. Diga aos alunos que a brincadeira é conhecida em diferentes regiões do país e, dependendo do local, recebe outros nomes, como mão na mula, mula corrida, unha na mula, entre outros.
Organize a turma em trios. Peça a dois alunos que se posicionem um atrás do outro a uma distância de 2 metros entre eles, com o tronco flexionado e com as mãos apoiadas nos joelhos. O terceiro aluno deve saltar sobre esses dois e ficar na mesma posição deles. Essa parada é o sinal para o último da fila iniciar os saltos.
LEGENDA: Pula-sela. FIM DA LEGENDA.
Observação: Converse com os alunos sobre os cuidados necessários durante a brincadeira para não forçar as costas do colega e não bater com os pés em alguma parte do corpo dele.
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2. Queimada
PROFESSOR
Objetivos: Vivenciar a queimada e suas variações. Reconhecer a queimada como um jogo da cultura popular.
Materiais: bola de meia ou de plástico (que não machuque) e giz
Procedimentos
Organize os alunos em dois times e explique a eles que o objetivo do jogo é queimar todos os adversários da outra equipe, ou seja, acertar a bola neles por meio de um arremesso.
Peça aos alunos que o ajudem a fazer as marcações do campo incentivando o protagonismo deles.
Quando o campo estiver demarcado, oriente cada time a ocupar uma metade do espaço de jogo. Do lado de fora da linha que limita o fim de cada campo há uma área onde ficam os jogadores queimados de cada time.
LEGENDA: Demarcações do espaço destinado ao jogo queimada. FIM DA LEGENDA.
No começo da atividade, um jogador de cada equipe deve ficar na área de “queimados” oposta ao seu campo, ou seja, atrás das linhas adversárias, esperando a saída da bola para poder pegá-la. Esses jogadores só podem tentar queimar os do outro time depois que o primeiro companheiro de sua equipe for para a área de “queimados”. Quando essa situação ocorrer, eles podem tentar queimar os adversários ou passar a bola para o seu time tentar fazê-lo.
Combine com os alunos as partes do corpo consideradas frias, ou seja, nas quais a bola pode bater sem que eles sejam “penalizados”. Geralmente essas partes são a cabeça e as mãos.
Ressalte que um jogador não é queimado quando a bola bate no chão ou em qualquer objeto antes de acertá-lo ou quando a bola o acerta e ele (ou um companheiro de equipe) consegue segurá-la, impedindo-a de tocar no chão. O jogador que inicia na área de queimados vai ao campo quando restar apenas um de sua equipe sem ser queimado e tem “três vidas”, ou seja, pode ser queimado três vezes. Na quarta, é eliminado.
O jogo termina quando todos os jogadores de um determinado time forem queimados.
Como a queimada possui muitas variações, consideramos interessante que os alunos também as conheçam. Algumas delas são apresentadas a seguir.
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3. Queimada abelha-rainha
Objetivo: Vivenciar a variação queimada abelha-rainha.
Material: bola de meia ou de plástico (que não machuque)
Procedimentos
Antes de iniciar o jogo, cada time deve escolher um colega para ser a abelha-rainha, revelando o nome dele somente a você.
Durante o jogo, a abelha-rainha deve ser protegida, pois vence a equipe que queimar primeiro a abelha-rainha do adversário.
Dica: Oriente os alunos a se manterem discretos em relação à abelha-rainha, pois, caso seja descoberta, ela será o alvo de todas as bolas arremessadas pela equipe adversária.
4. Queimada meteoro
Objetivo: Vivenciar a variação queimada meteoro.
Material: bolas de meia ou de plástico (que não machuquem)
Procedimentos
No decorrer do jogo queimada, mais bolas são distribuídas aos jogadores, tornando a atividade bem dinâmica. Essa variação deve ser introduzida quando os alunos já estiverem bem adaptados ao jogo tradicional, precisando de mais desafios.
5. Queimada russa
Objetivo: Vivenciar a variação queimada russa.
Material: bola de meia ou de plástico (que não machuque)
Procedimentos
Nesse jogo não há times e, portanto, todos jogam contra todos.
Peça aos alunos que se espalhem no espaço de jogo e diga a eles que você vai jogar a bola em uma direção qualquer. O aluno que a pegar não pode dar mais que três passos com ela. Enquanto ele não completar o terceiro passo, os demais podem correr pelo espaço e fugir. Ao completá-lo, todos devem ficar imóveis onde estiverem, podendo apenas se esquivar da bola, segurá-la ou rebatê-la sem sair do lugar.
Oriente o aluno queimado a ficar agachado no local em que foi atingido e a se lembrar de quem o queimou, pois ele só pode voltar ao jogo quando quem o queimou também for queimado.
A brincadeira termina quando um dos alunos conseguir queimar todos os outros ou depois de decorrido o tempo estipulado por você.
6. Pique-bandeira
Objetivos: Vivenciar o pique-bandeira e suas variações. Reconhecer o pique-bandeira como um jogo da cultura popular.
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Materiais: duas bandeiras (podem ser tecidos, garrafas PET, bonés, cones ou outro material qualquer) e giz
Procedimentos
Peça ajuda aos alunos para demarcar o campo de jogo. Depois, organize a classe em dois times, cada um com a mesma quantidade de jogadores, que precisam ficar posicionados no espaço de jogo que lhes corresponde. Cada equipe deve colocar a sua bandeira do lado de fora da linha que limita o seu campo.
LEGENDA: Demarcação do espaço e posicionamento das bandeiras no jogo pique-bandeira. FIM DA LEGENDA.
O objetivo de cada time é pegar a bandeira do oponente, trazendo-a para o seu campo, bem como evitar que a sua bandeira caia nas mãos do adversário.
O jogador que for tocado no campo do oponente fica “congelado” até que outro companheiro toque em qualquer parte de seu corpo para salvá-lo.
Se um jogador estiver com a bandeira do adversário e for tocado antes de chegar ao seu campo, ele a perde, e o jogo é reiniciado.
Durante a vivência dessa brincadeira, você pode fazer interrupções. Nesses momentos, discuta e reflita com os alunos sobre suas ações, estimulando-os a elaborar novas estratégias de ataque e de defesa.
Observação: Caso eles tenham dificuldade na realização dessa atividade, você pode mudar a regra do jogo e, por exemplo, sugerir que ele termine quando um dos times capturar a bandeira do adversário, não sendo necessário voltar com ela para o seu campo.
7. Pique-bandeira fut
PROFESSOR
Objetivo: Vivenciar a variação pique-bandeira fut.
Material: duas bolas
Procedimentos
O objetivo desse jogo é capturar uma bola em vez de uma bandeira. Os jogadores precisam conduzi-la com os pés e realizar ao menos dois passes no campo adversário antes de chutá-la para o próprio campo.
Discussão
Converse com os alunos sobre as atividades vivenciadas por eles. Incentive a participação deles por meio de perguntas: “A queimada e o pique-bandeira são jogos populares? Por quê?”, “Quais são os nomes das variações vivenciadas e as diferenças entre elas?”, “O trabalho em equipe é necessário para vencer os jogos? Por quê?”.
Para concluir a atividade explique a eles que determinados jogos são considerados populares por serem difundidos socialmente em diferentes localidades do Brasil. Ao conhecer esses jogos, os alunos se aproximam de práticas corporais relevantes no contexto nacional.
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Reforce a importância do trabalho em equipe para conseguir vencer alguns desafios de um jogo, como proteger o companheiro que não pode ser queimado, alertar quem estiver distraído, entre outras situações observadas durante a aula.
Se considerar oportuno, ensine aos alunos mais dois jogos populares no Brasil, um de origem indígena e outro afro-brasileiro: “peteca” e “escravos de Jó”.
8. Peteca
PROFESSOR
Objetivos: Vivenciar e reconhecer um jogo de matriz indígena.
Material: petecas
Procedimentos
A palavra peteca, de origem tupi, significa “bater com a mão”. Os indígenas confeccionam a peteca com espigas de milho e penas de aves. Ela é utilizada tanto como artefato recreativo quanto nos rituais e festas.
Leve para a aula, ou confeccione com os alunos, algumas petecas e incentive-os a manuseá-las. Depois, explique a eles como devem bater nelas para lançá-las ao ar. Em seguida, oriente-os a formar duplas e jogar a peteca um para o outro, sem deixá-la cair no chão. Eles também podem jogar em trios, quartetos, quintetos, e assim por diante.
9. Escravos de Jó
PROFESSOR
Objetivos: Conhecer um jogo de matriz afro-brasileira. Reconhecer a importância de jogar com outra pessoa.
Materiais: tampinhas plásticas de garrafas, pedrinhas arredondadas ou copos e dispositivo eletrônico para reprodução de música (reprodutor de CD ou DVD ; computador)
Procedimentos
Há várias histórias sobre a origem dessa brincadeira. Muitas delas indicam que foi criada pelos escravizados aqui no Brasil (ver texto indicado no “Para saber mais”).
Uma vez sentados no chão e dispostos em roda, cada aluno precisa ter na mão direita uma tampinha plástica de garrafa, que deve ser passada, ao ritmo da música, ao colega sentado à sua direita, deixando-a na frente dele.
Ensine a música aos alunos (coloque-a para tocar em um dispositivo eletrônico) e oriente-os sobre os movimentos que precisam ser realizados em cada verso da letra.
Escravos de Jó jogavam caxangá
(passar quatro tampinhas, uma de cada vez, para o colega sentado à direita)
Tira
(levantar a tampinha que está na sua frente)
Põe
(colocar a tampinha no lugar em que estava)
Deixa ficar
(fazer sinal de espera com as duas mãos)
Guerreiros com guerreiros
(passar duas tampinhas)
Fazem zigue
(levar a tampinha até o companheiro à direita)
Zigue
(voltar a mesma tampinha para a sua frente)
Zá
(passar novamente a tampinha para o companheiro)
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Enfatize que todos são importantes para que a atividade seja bem-sucedida.
Quando os alunos conseguirem cantar a música inteira com desenvoltura, bem como fazer os movimentos sem erros, desafie-os a realizar o jogo cantarolando “lá, lá, lá, lá…” no ritmo da música original e, depois, a fazer os movimentos em silêncio.
Dica: Caso os alunos apresentem muita dificuldade de entender a dinâmica do jogo, forme pequenos grupos, os quais podem ser ampliados até a formação de um único grupo.
Discussão
Ao final das atividades, reúna os alunos e converse com eles sobre suas vivências nas várias brincadeiras realizadas em aula. Procure saber se, em algum momento, eles tiveram dificuldades na realização delas. Aproveite essa oportunidade para estabelecer um diálogo com a turma sobre o respeito às diferenças entre as pessoas. Lembrando que cada um tem uma habilidade mais desenvolvida e tem resultados diferentes. Converse também sobre a experiência de reconhecer jogos e brincadeiras de matriz indígena e africana: “Vocês sabiam que a peteca e escravos de Jó são, respectivamente, jogos de matriz indígena e africana?”.
Construção de valores
Queimada inclusiva
PROFESSOR
Objetivos: Aprender mais uma variação do jogo da queimada. Refletir sobre deficiências físicas.
Materiais: bola de meia e tiras de tecido
Procedimentos
Nesta atividade, metade dos jogadores de cada equipe deve atuar com uma limitação física. Utilize as tiras de tecido para unir dois alunos pelos tornozelos, prender o braço de outro junto ao corpo e amarrar os braços de um dos jogadores. Oriente um aluno a jogar sentado e outro a brincar com uma perna flexionada.
Relembre as regras do jogo tradicional de queimada. Caso a atividade não seja dinâmica, peça aos alunos que proponham soluções para torná-la mais interessante, sem, contudo, modificar as limitações.
Discussão
Ao término da atividade, reflita com os alunos sobre a experiência de brincar de queimada com as limitações físicas a que eles foram submetidos: “A brincadeira foi menos divertida em razão das limitações de movimento? Por quê?”, “Todos participaram ativamente do jogo, mesmo os alunos que simularam alguma deficiência?”, “Pessoas com limitações físicas podem participar da queimada? Por quê?”.
Nessa conversa, ajude os alunos a entender que uma pessoa com deficiência física pode participar do jogo de diferentes maneiras e que a modificação das regras pode auxiliar nessa inclusão, proporcionando diversão a todos.
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Boxe complementar:
Para saber mais
- Como fazer uma bola de meia. Disponível em: http://fdnc.io/dLq. Acesso em: 18 fev. 2021.
-
Escravos de Jó. Disponível em:
http://fdnc.io/dLp. Acesso em: 18
fev.
2021.
Esse artigo apresenta uma curiosidade sobre a origem da brincadeira e uma forma diferente de cantá-la e de brincar com ela.
Fim do complemento.
Avaliação e Registro
PROFESSOR
- Solicite aos alunos que, com o auxílio dos familiares, identifiquem um local fora do espaço escolar para realizar com amigos e parentes as brincadeiras e jogos tradicionais aprendidos. Na aula seguinte, peça a eles que digam qual foi o local escolhido e contem como foi a experiência.
- Pergunte aos alunos por que as brincadeiras e os jogos vivenciados por eles são considerados populares no Brasil. Espera-se que eles percebam que essas práticas são consideradas populares por serem conhecidas e vivenciadas por diversas gerações em diferentes localidades do país.
- Para finalizar a avaliação, peça-lhes que pensem e escrevam uma forma de variar o jogo da queimada ou do pique-bandeira.
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TEMA 2 – Jogos cooperativos
Tabela: equivalente textual a seguir.
Prepare-se para as aulas |
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Objetivos |
Entender as características dos jogos cooperativos e vivenciá-las. Conhecer os valores relacionados às atividades que prezam pela cooperação, e não pela competição. Refletir sobre as deficiências visual, auditiva e oral. |
Habilidades da BNCC |
EF35EF01, EF35EF02 e EF35EF03 |
Número de aulas |
6 |
Materiais |
Folhas de jornal (ou pedaços de papelão), paraquedas cooperativo (ou tecido grande), cesto, giz, bambolês, vendas para os olhos, algodão. |
Sequência de atividades |
Peça aos alunos que digam o que entendem por cooperação. A seguir, nas próximas aulas, realize as atividades propostas na seção “Experimentação e Fruição”. |
Sensibilização |
Após as atividades anteriores, realize as propostas da seção “Construção de valores”. |
Avaliação |
Verifique, por meio de um pequeno texto e de desenhos, se os alunos compreendem a diferença entre jogo cooperativo e jogo competitivo. |
Para começar
Inicie a conversa perguntando aos alunos o significado da palavra cooperação. Valorize as respostas deles para introduzir novas perguntas: “Qual deve ser o principal objetivo de um jogo realizado de maneira cooperativa?”, “Vocês conhecem ou já vivenciaram algum jogo desse tipo?”.
Oriente-se pelo quadro a seguir para apresentar aos alunos as características dos jogos cooperativos e dos competitivos, enfatizando a diferença entre eles.
Tabela: equivalente textual a seguir.
CARACTERÍSTICAS DOS JOGOS COOPERATIVOS E COMPETITIVOS |
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Jogos competitivos |
Jogos cooperativos |
O objetivo é evitar que o adversário atinja a mesma meta. |
O objetivo de todos é atingir a mesma meta. |
Somente um jogador ou um time é beneficiado. |
Todos os jogadores são beneficiados. |
Somente há trabalho em conjunto dentro da equipe. |
Todas as equipes trabalham em conjunto. |
Oposição direta. |
Ajuda mútua. |
Nem todos vencem. |
Todos vencem. |
Nem todos saem satisfeitos e vitoriosos. |
Todos saem satisfeitos e vitoriosos. |
Nem todos são envolvidos, excluindo os menos habilidosos. |
Todos são envolvidos nas tarefas, incluindo os menos habilidosos. |
Exemplos: Cinco Marias, elástico, amarelinha, queimada, pique-bandeira. |
Exemplos: dança das cadeiras cooperativa, paraquedas, travessia do rio, escravos de Jó, passando o bambolê. |
Fonte: Baseado em: BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: um exercício de com-vivência. São Paulo: Sesc, 1999.
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Análise e Compreensão
Os jogos cooperativos
Os jogos cooperativos são atividades realizadas em grupo que promovem a colaboração como uma opção saudável e tangível, motivando a consciência solidária nas relações sociais ao proporcionar o auxílio mútuo entre as pessoas por meio de suas vivências.
Esses jogos contrapõem-se a uma sociedade que valoriza em demasia o comportamento individualista do ser humano e a competição agressiva e sem limites, que é considerada normal, sendo adotada como regra em quase todas as esferas da vida social (BROTTO, 1997) 1 .
Registros desses jogos foram encontrados em comunidades tribais. Os povos inuítes (Alasca), aborígenes (Austrália), tasaday (África), arapesh (Nova Guiné), os indígenas estadunidenses e os brasileiros celebravam a vida, dançavam, jogavam e realizavam outros rituais de maneira cooperativa (BROTTO, 1997) 2 . Ainda hoje essa cultura sobrevive.
Essas atividades exigem a participação em conjunto em que são utilizadas as habilidades de cada participante para atingir um objetivo comum. O fator mais importante é a colaboração que cada um pode oferecer para que o grupo atue com maior eficiência em propósitos predeterminados (AMARAL, 2004) 3 .
A estrutura alternativa dos jogos cooperativos permite que as pessoas joguem com as outras em vez de contra as outras, pois o outro é sempre visto como parceiro, e não como adversário.
O objetivo desses jogos não é derrotar o outro, mas superar desafios. Os fins exclusivos são deixados de lado, dando lugar à satisfação de metas comuns. Ocorre o fortalecimento da confiança pessoal e interpessoal, pois situações de derrota e de vitória são utilizadas como base para o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, diminuindo assim a pressão causada pela competição (BROTTO, 1997) 4 .
Segundo Brotto (1999) 5 , são características da cooperação: objetivos comuns ações compartilhadas → todos são beneficiados.
Como o objetivo desses jogos é criar situações em que os meios e os fins sejam humanizadores, uma maneira coerente e lógica de conter a agressividade é modificando os valores que os jogadores levam para dentro do jogo (seja no esporte, seja na vida), ou melhor, modificar o próprio jogo, como uma forma de desestimular a agressividade e o individualismo (ORLICK, 1989) 6 .
Para tratar os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física, é importante que, durante as vivências, todos os alunos participem deles, inclusive os que apresentam dificuldades e deficiências.
A turma deve ser incentivada a refletir sobre a importância da inclusão e sobre as diferentes estratégias que podem ser adotadas para que todos participem, aprendam e sintam prazer.
Nota de rodapé: 1. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar! Trindade: Projeto Cooperação, 1997. Fim da nota.
Nota de rodapé: 2. Op. cit. Fim da nota.
Nota de rodapé: 3. AMARAL, J. D. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004. Fim da nota.
Nota de rodapé: 4. Op. cit. Fim da nota.
Nota de rodapé: 5. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: um exercício de com-vivência. São Paulo: Sesc, 1999. Fim da nota.
Nota de rodapé: 6. ORLICK, T. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1989. Fim da nota.
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Além do que foi exposto, é fundamental que os alunos saibam dialogar e respeitar a opinião dos demais para que ocorram as transformações necessárias a fim de melhorar o jogo inicial (BROTTO, 1999) 7 .
Experimentação e Fruição
1. Agrupando
PROFESSOR
Objetivos: Refletir sobre a exclusão durante formação de grupos. Elaborar estratégias para que todos sejam incluídos na atividade.
Procedimentos
Solicite aos alunos que andem ou corram aleatoriamente pelo espaço destinado à aula e que fiquem atentos ao seu comando.
Quando eles estiverem entretidos, peça-lhes que formem grupos com determinado número de pessoas. Depois de cada formação, os alunos voltam a andar ou a correr aguardando outro comando. Sugestão de sequência da quantidade de alunos em cada grupo: 2, 5, 3, 7, 4, 12, 10, 6. Para trabalhar de forma interdisciplinar com Matemática, você pode pedir aos alunos que resolvam algumas operações e formem os grupos com o resultado delas, por exemplo: 3 + 3 = 6; 10 − 6 = 4; 2 × 5 = 10; 6 : 3 = 2.
Procedendo dessa maneira, haverá situações em que alguns alunos vão ficar sem grupo. Nesse momento, observe a reação deles e dos que conseguiram ficar em um dos grupos.
Depois de algumas rodadas, proponha aos alunos que busquem soluções para que ninguém fique de fora de algum grupo, estabelecendo esse critério como regra.
Acompanhe as soluções propostas pela turma. Se necessário, sugira que não fixem um número de integrantes em cada grupo, abrindo a possibilidade de que eles tenham de 4 a 8 pessoas, por exemplo.
Discussão
Ao final desta atividade, converse com os alunos sobre a importância de ninguém ficar de fora durante a formação dos grupos: “Como vocês se sentiram ao ver um colega excluído do grupo?”, “E quando vocês ficaram de fora, como se sentiram?”, “Ficou melhor brincar sabendo que ninguém estava excluído? Por quê?”.
2. Travessia do rio
PROFESSOR
Objetivos: Cooperar para atingir uma meta comum. Identificar os valores cooperativos nas atividades.
Material: folhas de jornal ou pedaços de papelão
Procedimentos
Organize a classe em duas equipes e distribua folhas de jornal a cada uma delas. Você pode dar uma folha a cada aluno ou em número menor aos integrantes de cada equipe. Peça a uma equipe que fique perto da linha lateral da quadra de futsal, mas do lado de fora. A outra equipe deve fazer o mesmo, posicionando-se no lado oposto.
Nota de rodapé: 7. Op. cit. Fim da nota.
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LEGENDA: Equipes posicionadas para a travessia do rio. Um dos participantes inicia a travessia colocando o “barquinho” na “água”. FIM DA LEGENDA.
Depois, solicite aos alunos que imaginem a seguinte situação:
Um povo indígena estava em busca de alimentos, porém, durante o seu deslocamento pela floresta, encontraram um rio difícil de atravessar. Ao olhar na direção da margem oposta, eles viram outro povo indígena que também não sabia como atravessá-lo…
Como esses dois povos conseguiram fazer a travessia?
Nesta atividade, a quadra será o rio; as folhas de jornal, pequenos barcos; e as duas equipes serão os povos indígenas. Desafie, então, as duas equipes a iniciar a “travessia do rio”, deixando claro que o objetivo é chegar à margem oposta de modo cooperativo. Ressalte que todos precisam seguir algumas regras para superar esse desafio:
a) Nenhuma parte do corpo pode tocar na “água”. As folhas de jornal devem ser usadas para evitar esse contato.
b) Nenhum aluno pode arrastar a folha. Ele pode apenas pisar sobre elas.
c) As duas equipes precisam finalizar a travessia.
Por não ser uma atividade competitiva, enfatize que as duas equipes precisam atravessar o rio. Ou seja, mesmo que uma equipe termine a tarefa primeiro, só será cumprido o desafio quando as duas equipes finalizarem a travessia.
Esse é um processo de tentativa e erro, portanto deixe que os alunos proponham soluções a fim de que as duas equipes superem o desafio.
Os alunos poderão enfileirar as folhas de jornal para passar um a um, mas logo perceberão que a quantidade de folhas é menor que o comprimento da travessia. Então, poderão emprestar as folhas do outro grupo e vice-versa ou passar trazendo a primeira folha para a frente e assim sucessivamente indo de uma margem a outra até que todos possam atravessar.
Dica: Como a distância de travessia pode ser grande, é provável que as equipes precisem unir esforços para que cada uma delas alcance a outra margem.
Discussão
Discuta com os alunos a importância da cooperação para a execução da atividade e ajude-os a assimilar os valores e os sentimentos que envolveram a travessia, como o de jogar com o outro, o de superar desafios em equipe, o de sentir satisfação ao alcançar metas comuns, o de ampliar a confiança pessoal e interpessoal e o de reconhecer que todos aprendem e são vencedores em jogos cooperativos.
Instigue a participação dos alunos por meio de perguntas, valorizando cada intervenção e reconhecendo o protagonismo deles: “Foi necessária a cooperação da outra equipe para concluir a atividade? Por quê?”, “Quais valores cooperativos foram fundamentais para a realização da travessia?”, “Como se sentiram quando conseguiram atravessar o rio?”, “Todos foram beneficiados ao final do jogo? Isso é bom ou ruim? Por quê?”.
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LEGENDA: Paraquedas cooperativo. FIM DA LEGENDA.
3. Paraquedas
PROFESSOR
Objetivos: Vivenciar o jogo de paraquedas cooperativo. Reconhecer a importância da cooperação para realizar as tarefas.
Materiais: paraquedas cooperativo ou tecido grande, cesto e giz
Procedimentos
O paraquedas é um material cooperativo, pois todos precisam fazer os movimentos para atingir o objetivo desejado. Além disso, ele chama muito a atenção dos alunos. Caso não tenha um em sua escola, você pode utilizar um tecido grande e leve para substituí-lo.
Inicie a atividade incentivando o contato dos alunos com o material. Cada um deles deve segurar a parte externa do paraquedas e, ao seu comando, realizar alguns movimentos, como fazer ondas por meio do balanço dos braços; correr em círculo segurando o paraquedas, ora para a esquerda, ora para a direita; levantá-lo e se deslocar até o centro dele sem soltá-lo; erguê-lo, entrar nele e sentar nas suas bordas também sem soltá-lo.
Depois de feitas essas diferentes manipulações, desafie os alunos a transportar uma bola ou bexiga (balão de festa) dentro do paraquedas. Eles devem sair de um ponto e chegar a outro sem deixar a bola cair no chão, bem como tentar colocá-la em um alvo desenhado no chão do espaço de aula (ou dentro de um cesto).
Na brincadeira “gato e rato”, um aluno é escolhido como rato e corre ao redor do paraquedas. Ao tocar nas costas de qualquer participante, este se transforma no gato e passa a perseguir o rato (o aluno que o escolheu), que, para escapar, precisa voltar ao lugar de onde saiu. Tanto o gato quanto o rato podem passar por dentro do paraquedas. Os demais alunos tentam ajudar o rato a fugir. Se for pego ou se cansar, o rato volta a segurar o paraquedas e o jogo recomeça.
Dica: Dependendo do número de alunos na turma, pode ser necessário o uso de mais de um paraquedas. Mesmo assim, estimule e enfatize o trabalho em conjunto.
Discussão
Peça aos alunos que estendam o paraquedas no chão e sentem-se sobre ele. Depois, converse com eles sobre as atividades realizadas: “Foi difícil transportar a bola com o paraquedas? Por quê?”, “Quais atitudes ajudaram o grupo a acertar o alvo?”, “O que dificultou essa tarefa?”, “É bom ou ruim participar de jogos sem ganhadores ou perdedores? Por quê?”, “Em quais situações da nossa vida podemos precisar de ajuda?”.
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Incentive os alunos a diferenciar os jogos cooperativos dos competitivos e a formular a própria definição para esses jogos e suas finalidades. Enfatize as características dos jogos cooperativos baseando-se no texto apresentado na seção “Análise e Compreensão”.
Construção de valores
Passando o bambolê
PROFESSOR
Objetivos: Realizar trabalho em equipe para alcançar um objetivo comum. Refletir sobre as deficiências visual, auditiva e oral.
Materiais: bambolês, vendas para os olhos e algodão para as orelhas
Procedimentos
Atribua a cada um dos alunos as seguintes limitações: não enxergar, não ouvir e não falar.
Forme um círculo com todos de mãos dadas e, antes de fechá-lo, coloque um bambolê entre os braços de dois alunos, os quais devem passar por todos na roda sem soltar as mãos.
Para aumentar a complexidade do jogo, adicione um bambolê a cada nova rodada.
Discussão
Converse com os alunos sobre a experiência deles com esta atividade. Incentive a discussão por meio de perguntas, valorizando as respostas deles para incrementar o debate: “Como vocês lidam com suas limitações?”, “Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas em razão das limitações que lhes foram atribuídas?”, “O que foi preciso fazer para cumprir a tarefa?”, “Quais atitudes vocês devem ter em relação às pessoas com deficiência?”.
Explique aos alunos as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência em seu dia a dia e o que elas fazem para superá-las. Fale também com eles da importância das ações voltadas para a inclusão dessas pessoas na vida social, ressaltando que todos têm o direito de trabalhar, estudar, brincar e de serem tratados com dignidade e respeito.
Boxe complementar:
Para saber mais
- BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar! Trindade: Projeto Cooperação, 1997.
- livro traz discussões sobre a competição e ressalta a importância da cooperação na atualidade.
- SOLER, R. Jogos com paraquedas. Rio de Janeiro: Sprint, 2009.
- Esse livro traz diferentes jogos com paraquedas pautados nos valores cooperativos.
Fim do complemento.
Avaliação e Registro
- Peça aos alunos que escrevam um pequeno texto sobre a importância da cooperação nos jogos e na vida diária de cada um.
- Para finalizar a avaliação, solicite a cada aluno um desenho de jogo cooperativo e outro de jogo competitivo. Eles devem identificar nos desenhos as principais diferenças entre esses jogos.