APRESENTAÇÃO

Caro professor, cara professora,

Em 2017, foi homologada a Base Nacional Comum Curricular (Bê êne cê cê) da Educação Infantil e do Ensino Fundamental e, em 2018, a do Ensino Médio. Esse conjunto de documentos, como sabem os educadores brasileiros, estabelece conhecimentos, competências e habilidades que o estudante deve desenvolver ao longo das etapas da escolaridade básica. Comprometida com o que denomina “educação integral”, a Bê êne cê cê (BRASIL, 2018) defende práticas pedagógicas atentas à progressão e ao desenvolvimento pleno do estudante e voltadas para a concepção de que ele é ser integrante e protagonista de ações sociais nos vários campos em que atua (“campos de atuação”).

Nesta coleção nos alinhamos integralmente às propostas apresentadas na Bê êne cê cê. Em primeiro lugar, porque partilhamos a concepção de acôrdo com a qual uma educação que busca promover o desenvolvimento integral dos estudantes não deve privilegiar uma única dimensão; é necessário desenvolver competências que mobilizem, como preconiza o documento,

reticências conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socio­emocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018, página 8).

Em segundo lugar, porque também entendemos, tal qual a Bê êne cê cê, que o mundo contemporâneo exige novas competências para

reticências aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. (BRASIL, 2018, página 14).

Por isso, é necessário contemplar, na escola, sistematicamente e articulados com as competências e as habilidades indicadas na Base, os chamados Temas Contemporâneos Transversais (tê cê tês). Em terceiro lugar, porque constatamos no texto da Bê êne cê cê o diálogo com propostas oficiais consistentes anteriores a ela e com estudos recentes de grande importância, como as competências socioemocionais, o pensamento computacional e as metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Em quarto lugar, porque dialogamos com a visão segundo a qual é papel da escola formar jovens autônomos, moral e intelectualmente, críticos e autocríticos, considerando suas dimensões social, física, emocional, histórica e cultural (e não só a acadêmica). E, por fim, em quinto lugar, porque reconhecemos a importância desse documento pioneiro, que norteia (mas não restringe) os currículos e as propostas pedagógicas das escolas do Brasil, respeitando as realidades distintas que caracterizam nosso complexo e diverso país.

Não obstante, embora os alunos brasileiros já estejam frequentando cursos norteados pela Bê êne cê cê desde 2019, momento em que chegaram às salas de aula as coleções didáticas alinhadas com esse documento, como educadores defendemos que ainda é preciso considerar um período de transição para que o conjunto de orientações dispostas na Base seja colocado em prática em sua completude. Há que se considerar, portanto, que a efetivação das propostas feitas na Bê êne cê cê ainda estará em processo de aprimoramento, sendo necessários ajustes, retomadas, reiterações etcétera, sobretudo no que tange a tópicos como a cultura digital, em suas várias dimensões, o uso das metodologias ativas, o pensamento computacional, o trabalho com projeto de vida.

Ainda considerando este momento de consolidação da Bê êne cê cê, optamos, nesta parte e nas várias comunicações com você, realizadas nas bordas das páginas do Livro do Estudante (éle Ê) – no chamado “manual em U” (“U”), parte integrante deste Manual do Professor (ême pê) –, por citar ou parafrasear trechos do documento, além de lista, na parte específica deste documento, relacionados aos capítulos que compõem este volume, os números e códigos das competências e habilidades mobilizadas pelas atividades propostas.

Como educadores, precisaremos nos familiarizar com o texto da Base e, ainda que você já o conheça há alguns anos e esteja acostumado a recorrer a ele nas discussões sobre sua prática e na elaboração de seus cursos, acreditamos que não é demais mencioná-lo de fórma constante para que nos apropriemos cada vez mais dele. Também desejamos que você acompanhe e entenda as opções metodológicas da coleção, para que possa colocar as atividades em prática com segurança ou realizar as adaptações que considere pertinentes a seu grupo e a sua realidade.

No “U”, também há orientações específicas para o desenvolvimento das atividades. Nele, você poderá encontrar, em alguns momentos, sugestões complementares e alternativas para o caso de sua escola não possuir, por exemplo, determinados recursos tecnológicos para realizar as atividades apresentadas ou sugestões que podem enriquecer seu trabalho (parcerias interdisciplinares com colegas de outros componentes e áreas, criação de eventos envolvendo a escola etcétera). Sugerimos que você tenha contato com essas orientações com certa antecedência, para que possa organizar suas práticas e orientar seus alunos.

Ainda na parte “U” deste ême pê, constam, apenas quando necessário, alguns comentários breves sobre conhecimentos prévios desejáveis para a exploração de determinados tópicos explorados na seção Falando sobre a nossa língua, ou sobre relações entre assuntos em estudo e outros posteriores, assim como a indicação de leituras de textos teóricos a que recorremos para definir recortes de conteúdo. Em alguns momentos, mostramos a você que ocorreram avanços nos estudos e explicamos por que optamos pela incorporação ou não deles àquilo que vamos explorar com os estudantes.

Em alguns momentos, as ilustrações podem dialogar com a linguagem dos cartuns, com os quais os alunos já estão mais familiarizados. Em outros, as ilustrações têm inspiração no universo dos mangás (histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês) e animes (quando animadas para tê vê ou cinema), por se tratar de um gênero bastante apreciado pelos estudantes dessa etapa do desenvolvimento. Outra inspiração para os desenhos que compõem as páginas é a técnica de colagens – nossa experiência tem mostrado que estudantes adolescentes apreciam a ideia de uma arte em construção, possível de ser feita ou refeita por eles, acessível. São bastante comuns nessa fase os cadernos personalizados, os adesivos, as sobreposições, os grafismos etcétera Nas ilustrações que habitam as páginas, procuramos dialogar, ainda, com o universo das agá quês e das charges, ampliando ainda mais o repertório dos alunos e explorando as possibilidades da construção da argumentação e do humor.

Por meio de estudos teóricos consistentes e de nossa prática de quase trinta anos em sala de aula, procuramos produzir uma coleção conectada com as culturas juvenis, atualizada e arejada, que possa interessar aos estudantes de várias maneiras. Essa preocupação se traduz inclusive no projeto gráfico desenvolvido para a coleção. Cada cor, cada elemento gráfico, vinheta, ilustração, cartaz (de filme, peça de teatro), reprodução de obra de arte (pintura, fotografia, grafite), cena de filme, vídeo ou peça teatral foram pensados minuciosamente para dialogar com os pré-adolescentes e adolescentes e com seu universo.

Também na seleção dos textos (verbais, não verbais e multissemióticos1nota de rodapé ), nas atividades propostas, nas abordagens teóricas e na organização do conteúdo, procuramos criar um trabalho marcado pela precisão conceitual e pela progressão, sem deixar de ser prazeroso. Levamos isso em consideração quando procuramos, por exemplo, equilibrar intencionalmente atividades mais densas e complexas com outras mais simples ou de realização mais ágil; ou quando definimos as muitas atividades que dialogam com o universo lúdico, com a cultura do pré-adolescente e do adolescente e com a digital, todos de forte apelo para essa faixa etária e igualmente produtivos como ponto de partida das reflexões. Entendemos que uma obra didática instigante e múltipla não é um fator de dispersão, mas um meio de dialogar com as novas práticas de comunicação – não só dos estudantes –, hipertextuais e hipermidiáticas.

Nessa mesma direção, nossa coleção prioriza o protagonismo dos estudantes. Ao propor atividades e experiências de naturezas diversas, esperamos ter criado o ensejo para que habilidades distintas sejam mobilizadas, possibilitando que todos os estudantes, com seus potenciais diversos, atuem individual ou conjuntamente para o alcance de um objetivo.

Em consonância com a Bê êne cê cê, entendemos que os estudantes não podem estar em sala de aula submetidos a uma recepção passiva de conhecimentos, que não propicia seu desenvolvimento pleno e mitiga seu interesse pelo prosseguimento dos estudos e pelo envolvimento em práticas saudáveis e cidadãs, como as relativas à vida pública ou ao compartilhamento artístico.

No caminho do que defende a Competência Geral 9 da Base2nota de rodapé , queremos deles a participação ativa e a colaboração na realização de projetos, para que possam exercitar sua empatia e cooperação, bem como ampliar sua autoestima, capacidade de diálogo, responsabilidade e resiliência. Nossa experiência e muitos estudos na área de educação mostram que ter alunos protagonistas, com atitudes investigativas e engajados em atividades que façam sentido para eles, é também um fator protetivo quando se fala em saúde mental de crianças e adolescentes.

Você perceberá que, progressivamente, muitas atividades deixarão de ser feitas em conjunto pela turma e com sua mediação e passarão a ser desenvolvidas em grupos menores, em situações dentro ou fóra da sala de aula, mas sem seu gerenciamento direto. Pretendemos com isso construir situações em que estudantes de diferentes perfis possam exercitar a resolução de conflitos e a flexibilidade, bem como definir e seguir lideranças, o que contribui não só para o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual e o autoconhecimento, como também para a formação para o trabalho em equipe (cooperativo), competência essencial para este século vinte e um e para a próxima etapa em que os alunos ingressarão, o (Novo) Ensino Médio.

Consideramos relevante também destacar o fato de que os estudantes que utilizarão estes livros a partir de 2024 terão passado por uma pandemia3nota de rodapé . Tal fenômeno perpassou, ainda que com diferentes pesos, os anos de 2020, 2021 e 2022 e impactou a educação de milhões de brasileiros. Pensando nesse contexto ímpar, esta coleção – norteada pelo objetivo de fomentar nos estudantes a leitura e a atitude investigativa, pelas práticas sistemáticas de pesquisa – oferece várias oportunidades de revisão, retomadas e resgates de aprendizagens que eventualmente tenham sido prejudicadas nesse período.

Este ême pê está dividido em nove grandes seções. Na primeira, “A Bê êne cê cê e esta coleção”, tratamos brevemente desse documento oficial sob a perspectiva dos autores desta coleção. Na segunda, “Adolescência: esse universo complexo”, expandimos, por meio da inserção da visão de estudiosos, as abordagens da Base e mostramos de que fórma os temas relativos à adolescência, ao projeto de vida, à saúde mental na escola e à contemporaneidade são vistos pelos autores e contemplados nesta coleção. Na terceira seção deste ême pê, “O componente Língua Portuguesa”, apresentamos a abordagem teórico-metodológica que subsidia esta coleção dentro da disciplina Língua Portuguesa (que faz parte da área de Linguagens). Na quarta seção, “Práticas de ensino-aprendizagem”, tratamos de avaliação, competências e habilidades, metodologias ativas e pensamento computacional. Na quinta seção, “Estrutura geral da coleção”, apresentamos quadros explicativos com a organização global da coleção. Na sexta, “Tempo de planejar”, propomos uma distribuição dos volumes em bimestres, trimestres e semestres. Na sétima seção, em “Orientações específicas”, apresentamos o percurso de cada um dos oito capítulos que compõem este 6º ­volume, além de, como já mencionado, quadros com as competências gerais, as específicas da área e do componente Língua Portuguesa e habilidades nas sequências didáticas propostas. Na oitava parte, estão as referências bibliográficas ­comentadas e, finalmente, na nona, sugestões de leitura, também comentadas.

Agradecemos pela escolha e nos colocamos à disposição para futuras contribuições, críticas e debates sobre os quatro volumes desta coleção, que só se transformam efetivamente em livros de verdade quando estão em suas mãos e nas de seus alunos.

SUMÁRIO

I. A BNCC e esta coleção oito

II. Adolescência: esse universo complexo nove

Os conceitos de adolescência nove

O trabalho com projeto de vida com pré-adolescentes e adolescentes doze

Refletir sobre quem somos para descobrir o que queremos ser treze

Formação identitária, atitudes e valores dezesseis

Saúde mental na adolescência dezessete

Violência autoprovocada dezoito

Bullying vinte

Compreender para interferir na realidade — os TCTs vinte e um

Experienciar o mundo vinte e três

III. O componente Língua Portuguesa vinte e cinco

Linguagem: esse objeto tão complexo vinte e cinco

Princípios teórico-metodológicos gerais vinte e seis

Leitura/escuta vinte e seis

Produção de textos trinta e um

Oralidade trinta e quatro

Análise linguística e semiótica trinta e cinco

Gêneros digitais quarenta e um

Interdisciplinaridade Arte quarenta e quatro

Mais interdisciplinaridade quarenta e cinco

Modelos de trabalho interdisciplinar quarenta e cinco

IV. Práticas de ensino-aprendizagem quarenta e oito

A importância de avaliar quarenta e oito

Avaliação e pandemia cinquenta e sete

1. Eixo leitura/escuta – Domínio de vocabulário cinquenta e oito

2. Eixo leitura/escuta – Compreensão de informações cinquenta e oito

3. Eixo leitura/escuta – Poemas cinquenta e oito

4. Eixo leitura/escuta – Expressão de ideias cinquenta e oito

5. Eixo da produção de textos – Texto expositivo cinquenta e oito

6. Eixo da produção de textos – Apresentação oral cinquenta e nove

Grade de critérios relativos ao uso da língua cinquenta e nove

Competências e habilidades sessenta e um

Práticas de pesquisa sessenta e três

O ESTUDANTE COMO PROTAGONISTA DE SUAS APRENDIZAGENS: AS METODOLOGIAS ATIVAS sessenta e quatro

Metodologias ativas: aprofundamento sessenta e cinco

Sala de aula invertida (flipped classroom) sessenta e seis

Instrução por pares (peer instruction) sessenta e seis

Ensino sob medida (just-in-time teaching) sessenta e seis

Aprendizagem baseada em problemas (problems-based learning – PBL) LXVI

Painel integrado (jigsaw classroom) sessenta e sete

Gamificação sessenta e oito

Pensamento computacional sessenta e oito

V. Estrutura geral da coleção setenta e um

Seções setenta e um

Boxes setenta e quatro

OUTRAS ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR setenta e cinco

VI. Tempo de planejar setenta e seis

Cronograma bimestral setenta e seis

Cronograma trimestral setenta e seis

Cronograma semestral setenta e seis

Outros modos de apresentação e ordenação de conteúdos setenta e sete

VII. Orientações específicas setenta e oito

Introdução setenta e oito

Minha canção setenta e oito

Capítulo 1 – O registro do eu no mundo setenta e oito

Proposta de produção de texto extra – Diário oitenta

Capítulo 2 – Imagens e palavras em ação oitenta

Proposta de produção de texto extra – História em quadrinhos oitenta e dois

Capítulo 3 – Traduzir saberes oitenta e dois

Proposta de produção de texto extra – Verbete oitenta e quatro

Capítulo 4 – Para contar o que aconteceu oitenta e cinco

Proposta de produção de texto extra – Relato de experiência oitenta e seis

Capítulo 5 – Contar e mostrar oitenta e seis

Proposta de produção de texto extra – Conto oitenta e oito

Capítulo 6 – Vender produtos e ideias oitenta e oito

Proposta de produção de texto extra – Anúncio e outros gêneros publicitários noventa

Capítulo 7 – Um eu poético noventa

Proposta de produção de texto extra – Poema noventa e dois

Capítulo 8 – Opinar com responsabilidade noventa e três

Proposta de produção de texto extra – Comentário de leitor noventa e quatro

VIII. Referências bibliográficas comentadas dezcento e cinco

XIX. Sugestões de leitura cento e três

PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

I. A Bê êne cê cê e esta coleção

Como antecipamos no texto de apresentação, esta proposta didática está articulada à Bê êne cê cê, oficializada, para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, em dezembro de 2017. A proposição de uma Base já estava prevista desde a Constituição Federal em 1988, sendo corroborada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e nos documentos oficiais subsequentes (Parâmetros Curriculares Nacionais e Diretrizes Curriculares Nacionais [BRASIL, 1998]).

São consideradas orientadoras deste material didático as premissas da Bê êne cê cê referentes à promoção da equidade na educação, por meio do estabelecimento de aprendizagens essenciais a serem desenvolvidas pelos estudantes ano a ano no decorrer da Educação Básica. Na Base, tais aprendizagens são organizadas de acôrdo com competências e habilidades que direcionam a formação integral dos estudantes em suas variadas dimensões (intelectual, afetiva, ética, física, sociopolítica etcétera).

Certamente, um material didático não dá conta de desenvolver sozinho tais aspectos, mas nos orientamos fortemente por essas premissas para a construção deste projeto, buscando sempre preservar a autonomia docente. Lembramos, nesse sentido, que a Bê êne cê cê não é um currículo, mas um documento que orienta a construção de currículos e projetos político-pedagógicos das escolas, bem como de materiais didáticos.

O componente curricular Língua Portuguesa insere-se na área de Linguagens, juntamente com Arte e Educação Física, no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, somando-se ao componente Língua Inglesa, nos Anos Finais. O documento considera que

reticências as atividades humanas realizam-se nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente, digital. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações, estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos. (BRASIL, 2018, página 63).

Nessa perspectiva, com a qual dialogamos como professores e como autores, a interação é o princípio constitutivo da linguagem, concepção mais bem discutida neste ême pê nos itens adiante.

Considerando essa concepção enunciativo-discursiva de linguagem, defendida também por outros documentos oficiais anteriores, e o compromisso com a educação integral, assumido pela Bê êne cê cê, entendemos a necessidade de articulação entre as competências gerais que organizam a Educação Básica e as competências específicas da área de Linguagens e do componente curricular Língua Portuguesa (BRASIL, 2018).

Na Bê êne cê cê, relembramos, propõem-se eixos de aprendizagem, constituídos por práticas de linguagem (oralidade, leitura/escuta, produção textual e análise linguística/semiótica), vinculados a campos de atuação4nota de rodapé : campo da vida cotidiana (somente no Ensino Fundamental – Anos Iniciais), campo artístico-literário, campo das práticas de estudo e pesquisa, campo jornalístico/midiático e campo de atuação na vida pública. Na Base, cada campo apresenta determinados gêneros, práticas, atividades e procedimentos ligados a ele.

Neste material, os gêneros textuais funcionam como elementos estruturantes – mas não os únicos – de cada um dos oito capítulos que compõem os quatro volumes, sempre orientados às práticas de linguagem, o que possibilita o planejamento de ações e a seleção de determinados textos como objetos de ensino, considerando os campos de atuação a que se vinculam. Isso não significa, contudo, que nosso objetivo seja transformar o gênero em um mero conteúdo a ser ensinado, tal qual acontecia com o ensino de gramática no passado. Antes, ele é um importante elemento organizador do trabalho docente, sob a perspectiva de uma espiral: ampliam-se e aprofundam-se as competências e habilidades relativas à leitura e produção textual a partir do contato do estudante com cada novo gênero e/ou com a revisitação dele. A transição entre os Anos Iniciais e os Finais no Ensino Fundamental decorre desta noção: da ampliação de determinadas vivências presentes em diferentes campos de atuação humana a partir dos gêneros tomados como foco em cada capítulo.

Tendo como finalidade possibilitar que os estudantes participem de diferentes práticas de linguagem, a Bê êne cê cê também contempla a cultura digital imbricada na questão dos multiletramentos (rôjo, 2012 e rôjo, 2013), o que significa compreender o texto em sua multiplicidade semiótica e cultural. A cultura digital, portanto, está presente em práticas de linguagem que exploram os textos multimodais ou multissemióticos contemporâneos, em sua maioria digitais, que implicam novos procedimentos e capacidades de leitura e produção textual, já que articulam, de modo indissociável, a linguagem verbal com fotografias, diagramas, gráficos e infográficos, vídeos, áudios, gifs, memes etcétera

Na terceira parte deste ême pê (“O componente Língua Portuguesa”), expandiremos a concepção de linguagem com a qual esta coleção dialoga, bem como descreveremos o trabalho proposto para cada prática de linguagem, buscando apresentar os subsídios necessários para o desenvolvimento e acompanhamento das atividades propostas nestes quatro volumes.

A seguir, apresentaremos algumas reflexões teóricas sobre temas que atravessam, de fórma direta ou indireta, a coleção ou que são próprios do universo discente nessa etapa de desenvolvimento dos alunos que integram o Ensino Funda­mental – Anos Finais.

II. Adolescência: esse universo complexo

Está presente na Bê êne cê cê a ideia de que, de fórma geral, os estudantes do Ensino Fundamental – Anos Finais

reticências inserem-se em uma faixa etária que corresponde à transição entre infância e adolescência, marcada por ­intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocionais. Nesse período de vida, como bem aponta o Parecer cê êne Ê/sébnorteº 11/2010, ampliam-se os vínculos sociais e os laços afetivos, as possibilidades intelectuais e a capacidade de raciocínios mais abstratos. Os estudantes tornam-se mais capazes de ver e avaliar os fatos pelo ponto de vista do outro, exercendo a capacidade de descentração, “importante na construção da autonomia e na aquisição de valores morais e éticos” reticências. (BRASIL, 2018, página 60).

Esse documento também nos lembra de que

As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do adolescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferenciadas, capazes de contemplar suas necessidades e diferentes modos de inserção social. (BRASIL, 2018, página 60).

A Bê êne cê cê enfatiza a ideia de que é papel da escola assumir sua responsabilidade na educação das “juventudes” que por ela passam, formando “sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis” (BRASIL, 2018, página 463), preparados para lidar com os “novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais)” (BRASIL, 2018, página 463). Mas o que significa exatamente ser um adolescente? O que caracteriza essa etapa do desenvolvimento humano? Que desafios temos como educadores quando decidimos trabalhar com estudantes que estão nessa etapa?

Para dialogar com mais qualidade com a Bê êne cê cê ao tratar da escola que acolhe “juventudes”, abordaremos, nesta seção, conceitos de adolescência e os desafios que, em geral, estão ligados à formação de jovens.

Os conceitos de adolescência

Como educador, você já deve ter lido algumas obras que tratam da adolescência, seja do ponto de vista pedagógico, seja do ponto de vista psicanalítico, sociológico, político ou neuro­lógico. São inúmeras as publicações dedicadas a explorar o universo que envolve isso que chamamos de adolescência, fenômeno relativamente recente na história humana.

No livro A adolescência (2009), Contardo Calligaris – um psicanalista e observador atento dos fenômenos humanos contemporâneos – procura definir o que significa ser um adolescente. Segundo ele, é alguém que

  1. já conseguiu assimilar um conjunto de valores banais ou complexos de uma comunidade, por exemplo conceitos de felicidade, de sucesso financeiro, ideais amorosos entre outros;
  2. tem um corpo cuja maturação, em tese, já daria conta de realizar as mesmas tarefas esperadas de um adulto;
  3. guardadas as diferenças de classe social, tem, por alguns anos, a “tolerância” de sua comunidade em relação às responsabilidades que um adulto precisa ter; o adolescente, ser em conflito, vive entre o ideal da construção de uma autonomia moral (que se espera ansiosamente dele) e a permanência de sua dependência, garantida por uma espécie de “moratória” que a comunidade concede a ele;
  4. é caracterizado por sentimentos conflituosos e comportamentos reativos e se mostra, em geral, rebelde em relação à “moratória” concedida (ou imposta) a ele; os adultos, por sua vez, frequentemente relembram os adolescentes submetidos à sua autoridade que estes não são adultos ainda;
  5. carrega a obrigação de ser feliz, sobretudo porque vive uma etapa do desenvolvimento humano bastante idealizada – e até mesmo desejada – pelos adultos que o cercam;
  6. não tem a mais remota ideia de quando termina a sua “moratória”, momento em que deixará de ser adolescente para se tornar finalmente um adulto.

Outras áreas do conhecimento, como a neurociência, também têm se dedicado a responder a essas perguntas. Os inúmeros avanços no estudo do cérebro humano possibilitaram, entre outros benefícios, entender melhor de que fórma os alunos aprendem e o que caracteriza cada etapa do desenvolvimento humano do ponto de vista da maturação cerebral.

Um dos mais importantes estudiosos desse assunto é o professor clínico de Psiquiatria da Escola de Medicina da Califórnia, em los angêlis, nos Estados Unidos (iuciélei), Daniel jota Siguel. Há muitas décadas, zíguel se dedica a estudar comportamentos, emoções e memória no âmbito familiar e, sobretudo, o desenvolvimento cerebral da fase infantil e da adolescência.

Biblioteca do professor

. Cérebro adolescente: o grande potencial, a coragem e a criatividade da mente dos 12 aos 24 anos. Tradução Ana Claudia Hamati. São Paulo: êne vérssus, 2016.

Recomendamos com ênfase a leitura na íntegra dessa obra. Para compreendê-la, não é necessário ser um neurologista ou neuropsicólogo. O autor, Daniel jota Siguel, escreve em uma linguagem bastante acessível e examina o conceito de adolescência, apresenta noções da estrutura cerebral, sobretudo dos adolescentes, além de fornecer orientações práticas e preciosas para familiares e educadores.

Em seus estudos específicos sobre a adolescência, zíguel (2016) desfaz aquilo que ele considera três “mitos” (ou estereótipos) “perigosos” que cercam estas etapas do desenvolvimento.

  1. Ao contrário do que outros especialistas (como Contardo ­Calligaris) defendem, zíguel considera falsa a ideia de que “hormônios em fúria fazem com que jovens ‘enlouqueçam’ ou ‘percam a cabeça’” (zíguel, 2016, página 7). Segundo o estadunidense, “o que os adolescentes experimentam é, basicamente, o resultado de alterações no desenvolvimento do cérebro” (zíguel, 2016, página 7, grifos nossos). Ele não ignora, sem dúvida, que a puberdade traz uma série de alterações, entretanto credita muito mais ao cérebro do que aos hormônios a grande crise pela qual o adolescente passa.
  2. Com base em seus estudos, zíguel também questiona a ideia de que a adolescência “não passa de uma época de imaturidade, e que os adolescentes precisam ‘crescer’” (zíguel, 2016, página 8) para se tornarem pessoas interessantes. Ele critica a visão de alguns adultos segundo a qual a adolescência precisa ser apenas tolerada porque vai passar. O médico defende, ao contrário, que “os adolescentes não precisam apenas sobreviver à adolescência; eles podem prosperar por causa desse importante período de suas vidas” (zíguel, 2016, página 8, grifos nossos).
  3. O terceiro mito que ele combate, com base em suas pesquisas, é a ideia de que “crescer durante a adolescência exige passar da ­dependência para a total independência dos adultos” (zíguel, 2016, página 8). zíguel considera que o movimento saudável para a vida adulta se faz por meio da interdependência, e não do isolamento total do ‘faça você mesmo” (zíguel, 2016, página 8, grifos nossos).

Mas quando, exatamente, se inicia e é finalizada a adolescência? Baseando-se em seus estudos sobre as mudanças cerebrais, zíguel circunscreve a adolescência aproximadamente entre os 12 e os 24 anos de idade, momento em que essas alterações do cérebro ganham outro ritmo e novos contornos. Seguindo essa perspectiva, o Ensino Fundamental – Anos Finais, de modo geral, seria habitado fundamentalmente por pré-adolescentes, no 6º ano, e adolescentes, no 7º, 8º e 9º anos5nota de rodapé .

Segundo o estudioso, as “alterações cerebrais durante os primeiros anos da adolescência estabelecem quatro qualidades da mente” (zíguel, 2016, página 12-14):

  • a “busca por novidades”, explicada pelo “reticências aumento do desejo por gratificação do cérebro adolescente, criando a motivação interior para tentar algo novo e sentir a vida de maneira mais plena reticências”;
  • o “engajamento social”, que “reticências aumenta a conexão entre os adolescentes e cria novas amizades reticências”;
  • o “aumento da intensidade emocional”, que “reticências dá uma vitalidade maior à vida reticências”;
  • a “exploração criativa”, pela qual “reticências o raciocínio abstrato e o novo pensamento conceitual do adolescente permitem o questionamento do istátus quó, abordando os problemas com estratégias inovadoras reticências”.

zíguel destaca, ainda, que essas quatro “qualidades” proporcionadas pelas alterações que se processam nos cérebros dos adolescentes trazem com elas aspectos positivos e negativos que precisam ser analisados com cuidado por mães, pais, educadores e tutores.

Elaboramos o quadro a seguir para sintetizar esses aspectos.

QUALIDADE DA MENTE

ASPECTOS POSITIVOS

ASPECTOS NEGATIVOS

Busca por novidades

Abertura para mudanças e enorme fascínio pela vida.

Comportamentos arriscados e ações praticadas sem qualquer reflexão e/ou análise de risco.

Engajamento social

Busca da criação de relações de apoio.

Aderência excessiva ao grupo e consequente rejeição dos adultos de referência.

Aumento da intensidade emocional

Vida repleta de energia e alegria.

Impulsividade, possível risco de depressão e comportamento reativo.

Exploração criativa

Capacidade de transformar o ordinário em extraordinário.

Crise de identidade motivada pela busca exagerada pelo sentido da vida.

Fonte: zíguel, 2016, página 14-15.

É importante destacar também que não há outra etapa dentro da trajetória de uma vida – pensando na contemporaneidade – em que se conviva tanto com iguais. Em geral, crianças convivem com crianças e com adultos; adultos convivem com adolescentes, crianças e com outros adultos; adolescentes, por sua vez, convivem, na maior parte do tempo, com adolescentes, o que pode ser bastante interessante, mas eventualmente arriscado.

zíguel explica que durante a adolescência

reticências há um aumento na atividade dos circuitos neurais utilizando a dopamina, um neurotransmissor importante na criação do impulso por gratificação. Começando nos primeiros anos e atingindo o máximo na metade da adolescência, essa liberação aumentada de dopamina faz com que os adolescentes gravitem em torno de experiências estimulantes e sensações revigorantes. (zíguel, 2016, página 66-67).

Isso talvez explique uma certa sensação de tédio que os adolescentes demonstram ter quando não estão envolvidos em realizar atividades desafiadoras, ou seja, que não liberam dopamina. Segundo o especialista, esse fenômeno cerebral explicaria, além da impulsividade típica dos jovens, um mecanismo denominado hiper-racionalidade.

A hiper-racionalidade é, segundo zíguel, um comportamento “moldado pelos impulsos elevados de gratificação do cérebro” (zíguel, 2016, página 68). O raciocínio hiper-racional é um processo cognitivo que advém “de um cálculo do ­cérebro que dá maior peso ao resultado positivo e não muito peso aos possíveis resultados negativos” (zíguel, 2016, página 69).

Além disso, essa “escala tendendo para o positivo pode ser ativada especialmente quando os adolescentes andam com outros adolescentes ou quando acreditam que seus amigos, de alguma fórma, verão suas ações” (zíguel, 2016, página 69).

Para tornar concreta essa ideia, suponha que um adolescente do 9º ano tenha sido convidado para ir a uma festa, mas para isso ele precisará faltar a determinada aula, na qual serão trabalhados alguns temas complexos da área de Ciências da Natureza. Sem dúvida, ele até tem consciência de que esses temas serão mais bem aprendidos se ensinados pelos seus professores, mas, utilizando o raciocínio hiper-racional, tenderá a “dar mais importância aos benefícios calculados de uma ação [a alegria da festa, o prazer de estar com os amigos] do que aos riscos em potencial daquela ação [o prejuízo que virá com a avaliação sobre o assunto abordado na aula]” (zíguel, 2016, página 69). Pensando que adolescentes convivem predominantemente com adolescentes, certamente um potencializaria o mecanismo de hiper-racionalidade do outro, o que representa um grande risco para todos.

Os estudos de zíguel podem ser interessantes para quem trabalha com a educação de jovens justamente porque o médico defende que “o desenvolvimento da adolescência não deve ser sentido como uma guerra entre gerações” (zíguel, 2016, página 22) e que a adolescência é

reticências uma época de enorme expansão de limites, que pode ser desafiadora e criar catástrofes; mas essa propensão para avançar também pode ser uma parte notavelmente positiva e essencial de nossas vidas. (zíguel, 2016, página 26-27).

zíguel dá uma importante contribuição ao debate sobre formação de adolescentes porque valoriza de fórma especial as experiências pelas quais uma pessoa nessa etapa do desenvolvimento deve passar se quiser ser um adulto crítico, criativo, autônomo e responsável, como deseja a Bê êne cê cê (e todos nós – educadores, mães e pais e outros adultos que educam jovens), preparado para lidar com os tais “novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais)” (BRASIL, 2018, página 463). A adolescência, na concepção desse especialista, é uma etapa bastante extensa e preciosa e cabe à escola oferecer espaço àqueles que têm, como mostra zíguel, o “ímpeto de criar um novo mundo” (zíguel, 2016, página 31).

Biblioteca do professor

ÚLTIMAS conversas. Direção de Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: ­VideoFilmes, 2015. 89 minutos.

No instigante documentário póstumo Últimas conversas, Eduardo Coutinho entrevista estudantes da rede pública do Rio de Janeiro para contarem sobre suas existências e sonhos para o futuro.

Temos plena consciência de que inúmeros fatores – ­sobretudo os de ordem socioeconômica – influenciam o fenô­meno da adolescência e de que, dentro de uma sala de aula, predomina a heterogeneidade, mesmo com alunos de idades semelhantes e pertencentes às mesmas classes sociais. Falar em adolescência, portanto, não significa defender a homogeneidade. Entretanto, defendemos que essa etapa é um período especial e primordial para a formação dos alunos, daí considerarmos que é nosso papel promover vivências específicas para os estudantes dessa faixa etária.

Acreditamos que um dos propósitos desta coleção é contribuir para o desenvolvimento saudável desse ser que, em geral, aprecia novidades, almeja o engajamento social, é intenso emocionalmente, se coloca em situações de risco e vive uma das fases humanas mais criativas. Para isso, todos os capítulos da coleção são organizados de modo a possibilitar que os pré-adolescentes e adolescentes do Ensino Fundamental – Anos Finais desenvolvam suas aprendizagens por meio de um conjunto de experiências6nota de rodapé – sobretudo aquelas ligadas ao componente Língua Portuguesa e, sempre que possível, situadas dentro da área de Linguagens (englobando, em alguns momentos, possibilidades de comunicação do componente Língua Portuguesa com outros).

Em consonância com a Bê êne cê cê e com o Edital pê êne éle dê/2024-2027 (BRASIL, 2022), esta coleção dialoga diretamente com os pré-adolescentes e adolescentes que a utilizarão, inclusive na fórma como apresenta os conhecimentos selecionados para compor os livros de Língua Portuguesa; ou seja, pensando na maneira como os estudantes da contemporaneidade aprendem, optamos por produzir uma coleção didática em que não têm destaque os extensos recortes teóricos7nota de rodapé ensinados de fórma transmissiva.

A título de exemplos de como os pré-adolescentes e adolescentes são contemplados nesta coleção, dentro de uma perspectiva que convida à experiência, à ação e ao protagonismo, podemos citar o capítulo que abre este volume do 6º ano, "O registro do eu no mundo". Nele, após os alunos lerem e analisarem com profundidade passagens de dois diários de autoras com aproximadamente a mesma faixa etária deles (um diário pessoal de uma menina brasileira e outro diário, publicado, de uma garota estrangeira, islata filipovitchi), entram em contato com a seção Meu diário na prática. Nela, os alunos vão escrever algumas páginas de diário. A ideia é que eles passem a relatar, em três dias, suas experiências e sentimentos: como é entrar nesta nova fase de aprendizagem, o Ensino Fundamental – Anos Finais? Que situações merecem ser relatadas: o momento em que encontrou a turma e entrou na sala? Alguma atitude de colega ou do professor? Como se sentem em relação à nova turma? E à antiga? Que expectativas têm? Essas questões de estímulo serão escolhidas para relatar situações que tenham sido mais marcantes para os alunos. As páginas serão guardadas pelos coordenadores e retomadas no final do 9º ano. Nessa mesma sequência didática, na seção E se a gentereticências fizesse um diário alternativo?, ainda pensando nas vivências dessa nova fase, os alunos serão convidados a produzir um diário com um tema específico ou usar elementos de outros gêneros para relatar suas expectativas, alegrias ou frustrações diárias. Isso poderá ocorrer a partir “de listas”, “de recortes”, “de agradecimentos” ou “de emoções”. Outra fórma de lidar com a adolescência

é por meio da arte. Nesse caminho, na penúltima seção do primeiro capítulo, Conversa com arte, os alunos são convidados a realizar uma intervenção urbana. Para isso, na Etapa 1 analisarão o conjunto de esculturas Monumento ao Trabalhador do Asseio e Conservação e Limpeza Urbana, de autoria de Murilo Sá Toledo. Depois, na Etapa 2, os alunos debaterão se a intervenção urbana é uma fórma de arte legítima ou simples vandalismo, como algumas pessoas defendem. Finalmente, na Etapa 3, depois de se familiarizarem com esse tipo de arte visual e de debaterem sobre ela, os estudantes experimentarão realizar, a partir de um conjunto de orientações, uma intervenção urbana, perto da escola em um final de semana. A Etapa 4 proporá aos alunos que documentem todas as etapas (a construção, a obra pronta e a reação do público) por meio de fotografias. Na “Etapa 5: Avaliando”, os grupos mostrarão suas fotografias para a turma e compartilharão suas experiências com os demais colegas.

Biblioteca do professor

PEREIRA, Antonio Carlos Amador. O adolescente em desenvolvimento. São Paulo: Harbra, 2005.

Nesta obra, o autor defende que a adolescência é uma fase da vida caracterizada, em geral, por uma crise psicológica na qual o desenvolvimento físico assume uma importância singular, já que em um período curto de tempo ocorre uma série de transformações no corpo que se estendem para a cognição, para os comportamentos, sentimentos e relacionamentos interpessoais. O tema central da adolescência é a descoberta de si mesmo, e, portanto,

reticências os adolescentes devem aprender a conhecer um corpo novo, com seus potenciais de emoções e de comportamentos, ajustando-os à sua autoimagem. Devem também buscar o lugar que ocuparão na sociedade adulta. Isso implica uma progressiva autopercepção, uma consciência de si próprio. (PEREIRA, 2005, página 8).

O trabalho com projeto de vida com pré-adolescentes e adolescentes

Como se sabe, é enfática na Bê êne cê cê do Ensino Médio a defesa de que a escola deve tratar do projeto de vida de seus adolescentes, sobretudo nos três últimos anos da Educação Básica. A ideia de que o projeto de vida deve fazer parte dos programas curriculares dos adolescentes é defendida, direta ou indiretamente, em diversos momentos na Bê êne cê cê, e de fórma mais direta nas competências gerais (cê gê) 6, 7, 8, 9 e 10. Entretanto, o documento homologado um ano antes, em 2017, e que estabelece as bases para a formulação dos currículos do 6º ao 9º ano, já antecipava a importância do papel da escola na elaboração do projeto de vida dos pré-adolescentes e adolescentes:

reticências no Ensino Fundamental – Anos Finais, a escola pode contribuir para o delineamento do projeto de vida dos estudantes, ao estabelecer uma articulação não somente com os anseios desses jovens em relação ao seu futuro, como também com a continuidade dos estudos no Ensino Médio. Esse processo de reflexão sobre o que cada jovem quer ser no futuro, e de planejamento de ações para construir esse futuro, pode representar mais uma possibilidade de desenvolvimento pessoal e social. (BRASIL, 2018, página 62).

Em geral, os educadores têm consciência de que trabalhar com o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual dos adolescentes, no sentido que Jean Piagê (1896-1980) dá a esse termo, contempla, entre outras ações, convidá-los a refletir sobre o que projetam para suas vidas dentro e fóra da escola e sobre o impacto que suas ações têm sobre o outro e sobre o mundo que os cérca. Tal qual a Bê êne cê cê nos lembra, durante o Ensino Fundamental – Anos Finais, a “maior desenvoltura e a maior autonomia nos movimentos e deslocamentos [dos adolescentes] ampliam suas interações com o espaço” (BRASIL, 2018, página 58) e a

reticências afirmação de sua identidade em relação ao coletivo no qual se inserem resulta em fórmas mais ativas de se relacionarem com esse coletivo e com as normas que regem as relações entre as pessoas dentro e fóra da escola, pelo reconhecimento de suas potencialidades e pelo acolhimento e pela valorização das diferenças. (BRASIL, 2018, página 58).

Ainda que nada disso seja inédito para os professores que trabalham com estudantes que estão saindo da infância, a novidade, muito bem-vinda a nosso ver, é que passa a ser dever dos professores, segundo orientação oficial da Bê êne cê cê, trabalhar na construção da autonomia e com projeto de vida dos alunos de fórma sistematizada, organizada e mediada8nota de rodapé , da mesma maneira que constroem aprendizados essenciais dentro de componentes de inegável importância para a formação dos estudantes, como é o caso de Arte, Língua Portuguesa, Educação Física, Matemática ou História.

A Bê êne cê cê destaca a importância de a escola contemplar em suas práticas a discussão de um projeto de vida dos adolescentes que responda às suas aspirações atuais e àquelas que serão projetadas para o futuro. Esse documento reforça, ainda, que, como já destacamos, é necessário que a escola considere que “juventudes” (no plural) habitam suas salas de aula, o que implica assegurar a elas uma formação que se comunique com seus percursos e particularidades e com seus diferentes projetos, tanto para a próxima etapa escolar (o Ensino Médio) como para a vida futura.

Sabemos, evidentemente, que quando se fala em projeto de vida com pré-adolescentes do 6º ano, por exemplo, a abordagem deve assumir uma perspectiva diferente da adotada para tratar desse mesmo tópico com alunos do 9º ano. Trabalhar com projeto de vida com pré-adolescentes de 11, 12 anos significa muito mais desenvolver suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação – essenciais ao desenvolvimento da autonomia pessoal, intelectual e política –; significa muito mais abrir espaço para que esses estudantes possam explicitar seus valores e suas atitudes (para eventualmente revê-los) e estimular seu protagonismo do que falar em profissões a serem seguidas. Nessa mesma direção, temos consciência de que, ainda que as reflexões sobre projeto de vida devam atravessar a vida escolar dos pré-adolescentes e adolescentes do Ensino Fundamental – Anos Finais, elas não ocuparão o mesmo espaço simbólico – e concreto – que têm quando propostas para estudantes do Ensino Médio.

A Bê êne cê cê se preocupa em deixar claro que falar em projeto de vida e em escolha profissional, mesmo nos Anos Finais da Educação Básica, não significa incentivar uma “profissionalização precoce dos jovens” (BRASIL, 2018, página 465), mas sim “promover o desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes inserir-se de fórma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais complexo e imprevisível” (BRASIL, 2018, página 465). Essa tarefa não é simples, por isso a insistência da Base em que a escola assuma para si essa responsabilidade é tão importante para a educação integral dos jovens brasileiros e para a garantia de um futuro promissor e saudável para eles.

Vale também destacar que, tal qual sinalizam as já mencionadas cê gê 6, 7, 8, 9 e 10 (BRASIL, 2018, página 9), o trabalho escolar com projeto de vida precisa necessariamente contemplar o “exercício da cidadania”, o autoconhecimento, a autovalorização, a “autocrítica”, a capacidade de lidar com o outro com respeito, valorizando o “diálogo” e a “diversidade”; significa, enfim, aprender a ser “responsável”, “flexível”, “resiliente” e determinado.

Finalmente, os temas relacionados ao projeto de vida, contemplados pela Bê êne cê cê, nos lembram da necessidade de os estudantes serem capazes de gerir e planejar os próprios objetivos e projetos pessoais. Os alunos devem valorizar e apropriar-se de conhecimentos e experiências para compreender o mundo e fazer escolhas alinhadas com a cidadania e com seus projetos de vida pessoal, tudo isso com autonomia, pensamento crítico, liberdade e responsabilidade.

Refletir sobre quem somos para descobrir o que queremos ser

Sabemos que lidar com pré-adolescentes e adolescentes de diferentes perfis em plena ebulição de emoções – sonhadores, desejantes, inquietos – é fascinante, mas está longe de ser uma tarefa fácil, como nos alertam os estudiosos Calligaris e zíguel. Como vimos no tópico anterior, ao mesmo tempo que os adolescentes lutam pela sua independência, mostrando que têm opiniões formadas sobre (quase) tudo, que “sabem” como funciona o mundo, que já “podem” lidar com sua vida sozinhos, eles são, na verdade, frágeis, emotivos, angustiados, inseguros e muito mais heterônomos do que autônomos. Consideramos ser também função nossa, dos educadores (dentro dos limites de nosso papel), lidar com esses conflitos e contradições, por meio do estabelecimento de uma mediação qualificada e atenta com os alunos na difícil tarefa de planejar a vida presente e futura deles.

Em princípio, pode parecer estranha a proposta de pensar em projetar passos em um terreno tão instável como é a vida, sobretudo em um país complexo como o nosso. Entretanto, muitos estudiosos têm se debruçado sobre esse tema e defendem – com dados e pesquisas – que, independentemente da pluralidade e da diversidade que caracterizam o fenômeno humano, é sim possível refletir sobre quem desejamos ser no mundo, sobre como queremos ser vistos pelos outros, sobre que mundo queremos construir e sobre como queremos nos relacionar com as pessoas.

Pesquisadores brasileiros e estrangeiros como dâquiuôrf (2016), duéqui (2017), ériquissôn (1968), rârchifíld (2011), ­JUSTO (2010), câmi (2010), croguêrus (2017), LARA (2005)9nota de rodapé , entre outros, mostram em seus inúmeros estudos que é muito importante pensarmos sobre quem somos, neste exato momento da vida, e pensarmos sobre quem desejamos ser no futuro próximo e no futuro distante.

Nossa experiência educando adolescentes nessas quase três décadas mostra que abrir espaço em aula para projetar a vida propicia que, desde o Ensino Fundamental – Anos Finais, alunos – independentemente de seus diferentes perfis – se permitam sonhar, depois transformar seus sonhos em possibilidades, seus desejos em realidade e já consigam vislumbrar, no final do Ensino Básico, caminhos para transformar anseios e vontades em profissões e trajetórias concretas e possíveis.

Também temos convicção de que é necessário desenvolver determinadas habilidades e competências para que os alunos tenham condições de planejar e gerenciar a própria vida, de refletir sobre seus desejos, aprender a se organizar, estabelecer metas, planejar e alcançar com determinação, resiliência, esforço, persistência e autoconfiança seus objetivos, relacionados ao presente e ao futuro. A Bê êne cê cê muito bem nos lembra de que os alunos devem desenvolver a capacidade de utilizar seus potenciais (suas competências socioemocionais) e também ter consciência daquilo que podem melhorar a fim de que superem desafios e alcancem aquilo que almejam, lidando com estresse, frustração e eventuais adversidades, tão comuns no mundo real.

Caberá a nós educadores contribuir para que os estudantes reflitam de fórma contínua sobre o próprio desenvolvimento, sobre como se preparam para lutar pelo que desejam, sobre o valor do trabalho como uma fórma não só de realização pessoal, mas também de transformação social e sobre as consequências de suas ações e escolhas.

Um dos principais objetivos desta coleção é dialogar de fórma produtiva com as culturas juvenis, respeitando os lugares simbólicos que elas ocupam, e, de fórma transversal (dentro dos limites impostos pelas etapas de desenvolvimento em que os alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais se encontram), trabalhar com os projetos de vida dos estudantes.

Nesse sentido, além das atividades propostas em seções como Leitura, meu ou minha [nome do gênero] na prática, fóra da caixa, Conversa com arte, Minha canção, Preparando terreno, E se a gentereticências etcétera, você poderá planejar, em parceria com seus colegas de outros componentes e áreas, um conjunto de aulas específicas dedicadas ao projeto de vida. Esse trabalho pode ser dividido em quatro etapas e pode perpassar os quatro anos que compõem o Ensino Fundamental – Anos Finais. Você poderá adaptá-lo pensando na realidade de sua escola e de suas turmas.

Etapa 1 — 6º ano

Listas de desejos

Aproveite o começo das aulas do 6º ano, início do Ensino Fundamental – Anos Finais, para convidar os estudantes a escrever listas de desejos por meio das quais possam expressar seus sonhos e expectativas futuras. Essas listas poderão ser lidas e discutidas em grupo. Peça aos alunos que as registrem em um caderno específico (que comporá uma espécie de portfólio deles).

Histórias de gente

Faça uma curadoria de histórias coletadas do espaço virtual Museu da Pessoa (https://oeds.link/47Korj; acesso em: 9 junhoponto 2022) e, se possível, peça aos estudantes que assistam aos relatos do acervo dessa instituição ou os ouçam e discutam elementos que chamaram a atenção neles. Depois, peça-lhes que registrem suas percepções das histórias em seus portfólios.

Linhas do tempo

Solicite aos estudantes que entrevistem seus familiares para posterior elaboração de linhas do tempo ou de árvores genealógicas. Essa atividade será importante para resgatar as histórias dos alunos e valorizá-las. As linhas do tempo podem conter textos verbais e não verbais e devem ser inseridas nos portfólios.

Rodas de entrevistas

Programe entrevistas coletivas com familiares dos alunos e outros membros da comunidade que tenham profissões que possam interessar aos grupos. Peça a esses convidados que contem suas histórias e as razões que os fizeram escolher o que fazem. Solicite aos estudantes que registrem o que consideraram importante nos relatos e insiram esse material nos portfólios.

Etapa 2 — 7º ano

Nós mudamos, nossos desejos também

Peça aos alunos que resgatem suas listas de desejos e que as atualizem pensando nessa nova etapa em que estão agora. Eles deverão riscar desejos que não fazem mais sentido e inserir outros nos portfólios.

Nossas histórias

Faça uma nova curadoria de histórias coletadas do Museu da Pessoa (https://oeds.link/47Korj; acesso em: 9 junho 2022). Depois, peça aos estudantes que, inspirados nas histórias que ouviram, contem as suas para grupos menores e as registrem, por escrito, em seus portfólios ou, se for possível, que as gravem e as armazenem em algum espaço virtual criado por você.

Escrevendo certo em linhas tortas

Solicite aos estudantes que troquem suas linhas do tempo e, em duplas ou trios, contem para os colegas por que selecionaram os fatos que escolheram inserir nesse material.

Nossa comunidade tem história para contar

Programe entrevistas coletivas com outros professores e com outros membros da equipe do Ensino Fundamental – Anos Finais. Nesses encontros, os educadores e demais funcionários falarão ­sobre suas escolhas profissionais. Peça aos estudantes que registrem o que consideraram interessante nos relatos das pessoas com quem convivem todos os dias e insiram esse material nos portfólios.

Etapa 3 — 8º ano

Desejos podem ser projetos

Peça novamente aos estudantes que revisitem suas listas de desejos e que interfiram nela, riscando o que não faz mais sentido e acrescentando novos sonhos. Nessa terceira etapa, eles poderão também indicar sonhos que já foram realizados e começar a pensar de fórma mais objetiva em passos necessários para alcançar esses desejos. Peça-lhes que mantenham seus portfólios atualizados, anotando neles esses passos que foram pensados.

Histórias da minha turma

Exiba ou leia para os alunos – desde que previamente combinado e autorizado por eles – as histórias que contaram, escreveram ou registraram por vídeo no 7º ano. Peça-lhes que comentem respeitosamente o que chamou a atenção nas histórias dos amigos. Posteriormente, solicite à turma que registre, por escrito, nos portfólios, suas impressões sobre os relatos.

Linhas que mudam

Peça aos alunos que retomem suas linhas do tempo e as atualizem. Proponha um momento para eles olharem para esse material, refletindo sobre o que mudou neles desde o 6º ano quando produziram essas linhas pela primeira vez.

Entrevistas inspiradoras

Selecione um conjunto de entrevistas em pódikests que contenham histórias profissionais inspiradoras. pódikests como Roda vida, uól Entrevista, Discoteca básica póde kést, Minha canção, Betoneira, Daria um livro, Você pode mudar o mundo, Mano a mano, entre outros, podem oferecer material interessante pela abrangência dos entrevistados. Peça que os alunos ouçam esse material e tomem nota nos portfólios do que chamou a sua atenção.

Etapa 4 — 9º ano

Desejos precisam virar projetos

Nesta etapa, peça aos alunos que enfoquem em sua lista de desejos especificamente os sonhos que têm para os próximos três anos, que comporão o Ensino Médio. Depois, requisite novamente que anotem um passo a passo necessário para realizar esses sonhos. Por fim, solicite aos alunos que registrem essas novas listas em seus portfólios.

Histórias que poderiam ser as minhas

Se possível, peça aos alunos que assistam com você a um destes documentários:

  • ÚLTIMAS conversas. Direção de Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: VideoFilmes, 2015. 89 minutos.
  • NUNCA me sonharam. Direção de Cacau rródan. São Paulo: Maria Farinha Filmes, 2017. 85 minutos.
  • PRO DIA nascer feliz. Direção de João Jardim. Rio de Janeiro: Ravina Filmes; Tambellini Filmes; Globo Filmes, 2006. 87 minutos.

Solicite a eles que escolham um dos personagens que protagonizam esses longas-metragens e proponham o que esse personagem poderia ter feito para alcançar o que almejava. Peça, ainda, que registrem esse material em seus portfólios.

Fim/início de linha

Peça aos estudantes que completem suas linhas imaginando o que ocorrerá nos próximos três anos.

Novos tempos, novas escolhas

Convide alunos que estão no 3º ano do Ensino Médio para apresentar aos colegas do 9º ano como funcionam os itinerários formativos que eles terão de escolher na próxima etapa escolar. Peça que expliquem que elementos utilizaram para decidir seus itinerários e contem aspectos positivos e negativos dessas escolhas. Depois, convide professores do Ensino Médio que representem cada uma das áreas do conhecimento para conversar com a turma sobre elas. Finalmente, solicite aos estudantes que simulem essas escolhas e converse com eles sobre isso em rodas de conversa.

Biblioteca do professor

duéqui, Carol. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São ­Paulo: ­Objetiva, 2017.

Carol duéqui, motivada a compreender como alunos em idade escolar lidam com desafios e dificuldades, pesquisou quais eram as estratégias utilizadas por eles para resolver uma série de quebra-cabeças complexos. Ela observou que, enquanto alguns demonstraram apreço ao desafio e reagiram de maneira positiva, outros enxergaram a atividade, mesmo tentando pouco ou nada, como um fracasso e como algo pouco estimulante. Ao longo de mais de vinte anos de pesquisa, a psicóloga conduziu diversos estudos nessa linha e concluiu que não somos ensinados a pensar sobre as nossas habilidades para aprender e que a opinião que alguém constrói a respeito de si mesmo afeta a fórma como a sua vida será encaminhada. Ela constatou também que há duas fórmas diferentes de lidar com o erro, de se conectar com as pessoas, de olhar para as próprias habilidades e de se relacionar com as situações diárias, inclusive aquelas ligadas ao aprendizado: pela “mentalidade fixa” ou pela “mentalidade de crescimento”.

Na mentalidade fixa, há a crença de que as nossas qualidades e as dos outros são fixas, ou seja, vemos os traços de personalidade como imutáveis. As dificuldades encontradas no percurso são sentidas como vergonhosas e um convite à desistência. Essa mentalidade limita o aprendizado, pois não há espaço para falhas.

Já na mentalidade de crescimento considera-se que os traços de personalidade podem ser desenvolvidos e aprimorados por meio da combinação de orientação, esforço e prática. Adolescentes com essa mentalidade, por exemplo, enxergariam, segundo duéqui, esse período da vida como uma época de oportunidades, de aprender novos conteúdos, de descobrir do que gostam e de pensar no que querem se tornar no futuro.

Desenvolver um projeto de vida, como já mencionamos, envolve também ajudar o adolescente a se organizar para realizar suas tarefas, desenvolver métodos de estudo e, posteriormente, transpor esse saber para outros âmbitos da vida.

A título de exemplo de como esse trabalho é desenvolvido, no Capítulo 2 do volume do 9º ano, “O coletivo em primeiro plano”, os alunos analisam criticamente argumentos apresentados em um vídeo, depois estudam dois materiais: uma carta aberta em que mulheres lactantes solicitam constituir um grupo prioritário para receber imunizantes e uma petição on láine em que pessoas com Síndrome de dáun fazem o mesmo pedido – materiais que convidam ao reconhecimento do valor da alteridade e da empatia10nota de rodapé . Posteriormente, na perspectiva de uma educação ativa e investigativa, realizam uma enquete em sua comunidade para pesquisar os principais problemas ligados à saúde pública que poderiam ser evitados. Esse material é base para a confecção autoral de uma carta aberta produzida pelos alunos, que será distribuída na comunidade com o objetivo de alterar esse quadro – atividade que contribui para o desenvolvimento de uma postura cidadã e republicana. Finalmente, os alunos pesquisam plataformas digitais de participação social a fim de que possam entrar em contato com outras fórmas de atuação.

Biblioteca do professor

dâquiuôrf, Angela. Garra. São Paulo: Intrínseca, 2016.

O livro da psicóloga estadunidense Angela dâquiuôrf apresenta os resultados das pesquisas desenvolvidas por ela, que culminaram na conclusão de que esforço e perseverança são mais determinantes que talento e inteligência para o sucesso profissional.

Identity: youth and crisis. Nova iórque: Norton, 1968.

Este livro de érique ériquissôn aborda diversos conceitos fundamentais relacionados ao desenvolvimento da identidade do adolescente.

Dictionary of Holland Occupational Codes. terceira edição Lutz: PAR, 1996.

Este livro apresenta os principais conceitos formulados pelos professores guéri gótfrédisson e djôn rólandi, dois dos maiores teóricos mundiais da chamada orientação profissional.

Annals of the New York Academy of Sciences, Nova iórque, volume 1235, página 30-43, 2011. Disponível em: https://oeds.link/tfz61e. Acesso em: 9 junho 2022.

Texto que ajuda a refletir sobre o eu do futuro como uma extensão do eu de agora, mostrando os impactos dessas projeções antecipadas para a vida do sujeito que se percebe capaz de se projetar em longo prazo.

JUSTO, Ana Paula. O desafio da escolha profissional. ín: LIPP, Marilda. O adolescente e seus dilemas: orientação para pais e educadores. Campinas: Papirus, 2010.

O livro contempla os principais desafios enfrentados pelos jovens ao longo da adolescência, e o capítulo de Justo considera os temas que baseiam a escolha de uma profissão.

camei, élder irókiFlow: o que é isso? Um estudo psicológico sobre experiências ótimas de fluxo na consciência sob a perspectiva da Psicologia Positiva. 2010. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social e do Trabalho) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2010. Disponível em: https://oeds.link/iQu5u4. Acesso em: 4 julho 2022.

Texto que esclarece a necessidade de reconhecermos quais são as atividades ou experiências que nos estimulam verdadeiramente, de maneira a nos mantermos motivados.

crogérus maiquel, tchápelêr RômamThe decision book: fifty models for strategic thinking: W. W. Norton, 2017.

O livro reúne uma série de modelos de tomada de decisão que podem ser aplicados pelo leitor de fórma prática e dinâmica.

LARA, Luciane Dianin de êti áli. O adolescente e a escolha profissional: compreendendo o processo de decisão. Arquivos de Ciências da Saúde da unipar, Umuarama (Paraná), volume 9 (1), janeiro a abril, página 57-61, 2005. Disponível em: https://oeds.link/Jc8tnJ. Acesso em: 4 julho 2022.

O texto discute as contingências que influenciam o processo de tomada de decisão de um adolescente quanto à escolha de uma profissão.

Esta coleção como um todo procura desenvolver a autonomia moral e intelectual dos jovens por meio de inúmeras atividades que os convidam ao protagonismo, à postura investigativa, à capacidade de dialogar utilizando argumentos consistentes, ao planejamento, à adequada e produtiva comunicação oral e escrita, à criatividade, ao cuidado físico, ao reconhecimento do valor da alteridade, à empatia, a uma cultura de paz11nota de rodapé e à responsabilidade sobre as próprias escolhas, sem os quais, pensando nas demandas deste complexo século vinte e um, é impossível planejar, projetar sonhos e transformá-los em realidade.

Formação identitária, atitudes e valores

O psicólogo e pesquisador estadunidense Uiliam Deimon (2009) conceitua projeto de vida como “uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que ao mesmo tempo é significativo para o eu e gera consequências no mundo além do eu” (dêimon, 2009 ápud ARAÚJO ARANTES, PEREIRA, 2020). Em diálogo com essa perspectiva, como professores, acreditamos (conforme afirmamos nos tópicos anteriores) que a escola é o espaço social ideal para o adolescente investigar quem ele é, o que deseja, que projetos se comunicam com seu desejo, ao mesmo tempo que ele precisa ser convidado a refletir sobre como esses objetivos e essa fórma de estar no mundo impactam na vida da coletividade.

Defendemos que um livro didático, sobretudo do componente Língua Portuguesa, tem a função de contribuir para a constituição identitária dos alunos, que é indissociável do seu projeto de vida (ARAÚJO e outros, 2020), uma vez que ambos estão ligados ao auto­conhecimento e à percepção do papel que cada um tem na construção da sociedade em que está inserido.

Falar em constituição da identidade significa também trabalhar com atitudes e valores. Nessa direção, é essencial mapear quais atitudes e valores12nota de rodapé os adolescentes já detêm quando chegam à sala de aula, para que se possa, se for o caso, problematizá-los e propor reflexões críticas sobre eles. Um procedimento interessante para contribuir com esse mapeamento é o trabalho sistemático com o boxe Fala aí!, presente em toda a coleção.

Por exemplo, no Capítulo 8 deste volume do 6º ano, Opinar com responsabilidade, um dos Fala aí! convida os alunos à seguinte reflexão: Você concorda com o ponto de vista de que os atletas que perderam as partidas devem ser deixados em paz? Por quê?, outro boxe desse tipo, neste mesmo volume, propõe o seguinte problema: Há situações em que pessoas irritadas têm atitudes inaceitáveis para um bom convívio social, como cuspir em algo ou em alguém para se vingar de uma reclamação. Você conseguiria indicar outros casos em que algo parecido pode ocorrer? Por que ações assim são condenáveis?.

Por meio desses boxes, os alunos são convidados, respectivamente, a refletir criticamente acerca da responsabilidade de especialistas sobre o que estudam e divulgam; sobre a posição que têm a respeito de fêique níus; sobre como lidam com dinheiro; sobre investimentos financeiros na exploração de viagens espaciais; acerca da necessidade de haver mecanismos de checagem de fatos. Note que, ainda que sejam de naturezas bem diferentes, as discussões apresentadas nesses boxes, que sempre convidam a uma exposição oral, têm em comum o fato de provocarem os estudantes a expor uma opinião pessoal, que revela seus valores. Sugerimos que proceda da seguinte maneira na condução desse trabalho com atitudes e valores:

  1. Propicie que todos os estudantes se expressem livremente, desde que se coloquem de fórma respeitosa e adequada, esperando sua vez de falar.
  2. Organize as falas pedindo aos alunos que levantem a mão para se inscrever antes de proferir posições. Esteja atento aos estudantes que apresentam atitudes desrespeitosas com o grupo e aponte-as educadamente e, se for possível, em particular, depois do debate.
  3. Ouça atentamente cada um dos estudantes e combine que toda a turma deverá fazer isso também.
  4. Peça que um aluno comente a opinião do outro, estabelecendo, de fórma adequada, argumentos e contra-argumentos consistentes e situados dentro dos limites da convivência republicana.
  5. Verifique se há discordâncias e reforce a importância de o debate ser realizado de maneira democrática e pacífica.
  6. Se algum aluno revelar atitudes e valores que desrespeitem direitos humanos, por exemplo, problematize e apresente contra-argumentos que levem à reflexão crítica. Por exemplo, se um estudante defende que é direito de um cidadão propagar fêique níus em suas redes sociais em nome da liberdade de expressão, convide-o a refletir sobre os limites das ações humanas, o que determinam as leis brasileiras e sobre os impactos que uma desinformação pode ter na coletividade.

7. Anote na lousa as ideias mais importantes e procure chegar a alguns consensos.

Se a sua turma for muito numerosa (por exemplo, com mais de 45 alunos), reúna-os em pequenos grupos de discussão, antes de abrir para o debate coletivo. Dessa fórma, cada grupo apresentará à turma as principais ideias debatidas em pequenos comitês. O mais importante é você não perder seu papel de mediador quali­ficado. Não se trata de convencer estudantes sobre posições pessoais do educador, mas de mostrar que determinados valores vão de encontro a uma convivência republicana, à democracia e aos direitos humanos, por isso precisam ser revistos. Procure apresentar pluralidade de pontos de vista, desde que todos eles estejam embasados nas ciências humanas ou naturais e em debates acadêmicos qualificados.

Planeje um conjunto de quatro ou cinco aulas logo no início do ano letivo para mapear atitudes e valores que os alunos já trazem e utilize outros Fala aí! e as atividades que compõem as sequências didáticas dos capítulos para trabalhar esses aspectos. O trabalho com atitudes e valores é realizado na coleção em vários contextos, e não somente por meio dos boxes Fala aí!.

Pensando ainda na construção da identidade do aluno do Ensino Fundamental – Anos Finais, além de trabalhar com atitudes e valores, é primordial, no caminho do que defende a cê gê 9, que ele exercite “a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação” (BRASIL, 2018, página 10). Esta coleção tem como um dos principais focos essa tarefa essencial para a construção de um projeto de vida saudável.

É nessa direção que, por exemplo, na seção Nossa campanha publicitária na prática (que compõe a sequência didática do Capítulo 6 deste volume, "Vender produtos e ideias"), após os alunos analisarem alguns gêneros impressos e digitais da esfera publicitária, serão convidados a produzir, em grupos, anúncios (cujo suporte será o cartaz), ispótis e filmes para uma campanha publicitária. A ideia é que essa campanha possa persuadir colegas de escola e outros jovens a modificar um comportamento que prejudica a sociedade. Os alunos poderão convencer seu público-alvo a não sujar o transporte público, não pisar nas plantas dos jardins da cidade, não grudar chicletes nos móveis da escola, não escutar música alta sem fones de ouvido, entre outras atitudes prejudiciais à boa convivência social. Por sua temática, a produção se alinha a um exercício de cidadania e envolve princípios éticos e democráticos, além de indicar a utilização da linguagem para a promoção de ações que minimizem conflitos e promovam a revisão crítica de comportamentos inadequados.

Lembramos, ainda, que a literatura é uma das fórmas de arte mais privilegiadas para desenvolver a empatia, seja para o leitor, que se depara com as alteridades construídas pelos autores, seja para o autor, que precisa construir personagens mergulhando, sem preconceitos, em seus universos singulares. É nessa direção que, no Capítulo 5 deste volume do 6º ano, "Contar e mostrar", após lerem o comovente conto “Trem Fantasma”, de Moacyr Scliar (em que o narrador, um menino de dez anos, ajuda a mãe de um amigo de apenas nove anos que sofre de leucemia a preparar uma surpresa para o filho), os estudantes são convidados, na seção Meu conto na prática, a produzir um conto autoral cujo enredo deverá focalizar um ou uma jovem trabalhador que vende flores em uma avenida de uma cidade grande brasileira e que se vê em uma situação crítica: o calor forte colocará em risco suas flores e elas poderão murchar antes de serem vendidas, o que o fará perder o dinheiro que gastou para adquiri-las.

Esses são apenas alguns exemplos que mostram, concreta­mente, como o trabalho com atitudes, valores, empatia, alteridade e cultura da paz13nota de rodapé é desenvolvido nesta coleção.

Especialmente as produções textuais feitas pelos alunos nas seções meu ou minha [nome do gênero] na prática são também importantes para mapear os valores que os alunos trazem. Outras seções e boxes, como E se a gentereticências?, Conversa com arte,fórada caixa, Minha canção, Biblioteca cultural em expansão, são, igualmente, excelentes oportunidades para desenvolver um trabalho sistemático e consistente com a formação da identidade de adolescentes de diferentes perfis e com a construção de sua percepção de ser social.

Biblioteca do professor

la taili, ive de. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.

ívi de lá tái é um psicólogo e pesquisador especialista em Psicologia Moral (área que estuda os processos mentais que ­levam o sujeito a legitimar ou não determinadas regras, princípios e valores morais). Segundo ele, o que diferencia moral de ética é que o primeiro conceito relaciona-se ao fenômeno social, ­enquanto o segundo é a reflexão filosófica ou científica sobre ele.

As abordagens de Jean Piagê e laurense côlberg dos conceitos de moral e ética foram fundamentais para as pesquisas e reflexões sobre o tema feitas por lá tái nesse livro. piagê foi um dos pioneiros na condução de estudos psicológicos sobre o desenvolvimento do juízo moral, servindo como referencial para grande parte dos estudos subsequentes. Ele defende que há um desenvolvimento do juízo moral infantil que não se restringe a uma interiorização passiva do que deve ser feito, mas sim que resulta de construções endógenas nas quais a criança, ao ter contato com o meio social, constrói novos significados dos valores, princípios e regras que são apresentados. Tal processo, por sua vez, é depen­dente das estruturas mentais já consolidadas pela criança. Assim, para piagê, há três estágios que caracterizam a moral da criança: anomia, heteronomia e autonomia.

Saúde mental na adolescência

Como enfatizamos, a Bê êne cê cê nos lembra de que os alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais “inserem-se em uma faixa etária que corresponde à transição entre infância e adolescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas,

psicológicas, sociais e emocionais” (BRASIL, 2018, página 60), e, de acôrdo com o que discutimos neste ême pê, nessa etapa do desenvolvimento, os estudantes são complexos: amam e odeiam intensamente, sofrem, riem, choramreticências

Como vimos com Calligaris (2009), esses jovens vivem sob uma espécie de “moratória”, têm sentimentos conflituosos e comportamentos reativos e carregam uma certa obrigação de ser felizes; vimos também com zíguel (2016) que não são os “hormônios em fúria [que] fazem com que [essas pessoas de 12 a 24 anos] ‘enlouqueçam’ ou ‘percam a cabeça’”, mas “o resultado de alterações no desenvolvimento do cérebro” (zíguel, 2016, página 7) e, segundo o psiquiatra, essas “alterações cerebrais durante os primeiros anos da adolescência estabelecem quatro qualidades da mente” (zíguel, 2016, página 12): “busca por novidades”, “engajamento social”, “aumento da intensidade emocional”, que “dá uma vitalidade maior à vida”, e “exploração criativa” (zíguel, 2016, página 13-14).

Para lidar com esse turbilhão complexo, a escola precisa ser um ambiente seguro e saudável que privilegie a promoção do bem-estar de crianças, adolescentes, educadores e demais funcionários. É essencial, por isso, que estejamos todos atentos à saúde mental de nossos pré-adolescentes e adolescentes, sobretudo neste contexto em que os alunos ainda estão bastante afetados psicologicamente pela pandemia da covid-19, iniciada em 202014nota de rodapé .

Saúde mental na pandemia de côvid dezenóve

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância Brasil (UNICEF BRASIL, 2021),

reticências calcula-se que, globalmente, mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária”. (UNICEF BRASIL, 2021).

De acôrdo com a diretora executiva do unicéfi, Henrietta Fore,

Foram longos 18 meses para todos nós – especialmente para as crianças e adolescentes. Com lockdowns nacionais e restrições de movimento relacionados à pandemia, as meninas e os meninos passaram anos indeléveis de sua vida longe da família, de amigos, das salas de aula, das brincadeiras – elementos-chave da infância. (UNICEF BRASIL, 2021).

Fatores protetivos

O Fundo considera como fatores protetivos que podem reduzir o risco de transtornos mentais de crianças e adolescentes “cuidadores amorosos, ambientes escolares seguros e relacionamentos positivos com colegas” (UNICEF BRASIL, 2021, grifos nossos). O unicéfi reforça a necessidade de haver investimento em

reticências serviços públicos de qualidade reticências, incluindo programas parentais que promovem cuidados responsivos e de atenção integral, e garantia de que as escolas apoiem a saúde mental por meio de serviços de qualidade e relacionamentos positivos reticências. (UNICEF BRASIL, 2021, grifos nossos).

Além disso, é necessário haver preparo de “pais, familiares, cuidadores e educadores para abordar o tema da saúde mental como parte da saúde integral” (UNICEF BRASIL, 2021, grifos nossos).

A entidade ainda destaca que é necessário

Quebrar o silêncio em torno da saúde mental, fomentar a cultura da escuta sem julgamentos – escuta empática – promovendo uma melhor compreensão da saúde mental e levando a sério as experiências de crianças, adolescentes e jovens. (UNICEF BRASIL, 2021).

Mas, afinal, o que significa promoção de saúde mental? A ­Organização Mundial de Saúde (ó ême ésse) define como saúde mental o estado de bem-estar no qual o sujeito é capaz de usar suas próprias habilidades para recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com sua comunidade (ESTANISLAU; ­BRESSAN, 2014). A saúde mental está ligada a diferentes dimensões humanas: ao pensamento, aos sentimentos e à afetividade, à capacidade criadora, às condições e às manifestações desses aspectos na vida. A promoção de saúde está relacionada a uma concepção de bem-estar geral, de qualidade de vida, de acesso às condições básicas da existência – o que é um enorme desafio em nosso país.

As práticas e atitudes de promoção de saúde e prevenção ao sofrimento psíquico, no que tange ao combate a fenômenos como a violência autoprovocada (automutilação e suicídio) e ao búlin, envolvem cuidados e propostas de atividades dirigidas a todos os atores que compõem a instituição escolar. Nessa perspectiva, é importante considerar que estudantes, professores, coordenadores, diretores, colaboradores administrativos, assistentes de pátio, profissionais da limpeza, da cantina e da portaria fazem parte desse sistema e devem ser considerados agentes e receptores de qualidade de vida e de bem-estar na escola.

Violência autoprovocada

A ó ême ésse subdivide a violência autoprovocada em dois tipos: comportamento suicida e agressão autoinfligida (ESTANISLAU; BRESSAN, 2014). O comportamento suicida inclui pensamentos suicidas, tentativas de suicídio e suicídios propriamente ditos. A agressão autoinfligida ou autoagressão inclui os atos de automutilação.

O suicídio é uma questão de saúde pública e de relevância mundial. Ao contrário do que se pode pensar, construir programas e ações de prevenção, abordar o tema e falar sobre ele são fatores protetivos do comportamento suicida. Portanto, ações preventivas na escola promovem um ambiente favorável ao desenvolvimento da saúde emocional das crianças e dos jovens.

A automutilação ou cutting (do verbo cortar, em inglês) é uma prática que consiste em ferir o próprio corpo. É mais comum que tal comportamento ocorra na adolescência. Os córtes são geralmente feitos em regiões do corpo ocultadas pelas roupas, como barriga, coxas e braços.

Em geral, jovens que cometem automutilação podem sofrer violências recorrentes (bullying, cyberbullying – sobre os quais trataremos adiante) e apresentar transtornos mentais (ansiedade, depressão), e é comum narrarem que o sofrimento físico advindo dos córtes “alivia” a dor emocional e a angústia. Machucar-se e criar cicatrizes são compreendidos como uma fórma de se expressar.

A Lei nº 13.819, promulgada em 26 de abril de 2019, institui, no artigo 2º, a “estratégia permanente do poder público para a prevenção desses eventos e para o tratamento dos condicionantes a eles associados” (BRASIL, 2019a, página 1). A regulamentação da política nacional brasileira de prevenção da automutilação e do suicídio determinou a oferta de serviço de atendimento telefônico gratuito e sigiloso destinado a pessoas em sofrimento psíquico.

A perspectiva preventiva está relacionada ao contrôle dos fatores de risco que antecedem o problema. Segundo Estanislau e Bressan (2014), a prevenção atua em diferentes fases: prevenção primária − um conjunto de ações que visam evitar a ocorrência; prevenção secundária − ações que promovem a interrupção de alguns casos evidentes; prevenção terciária − após a situação instalada, são tomadas ações de tratamento e providências15nota de rodapé .

As ações de prevenção primária são essenciais no contexto escolar, em que se deve priorizar promoção de saúde mental e construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento dos estudantes. As ações de prevenção secundária e terciária, por sua vez, ocorrem na intervenção em casos de violência autoprovocada (automutilação e suicídio). São fórmas de abordar individual ou coletivamente alunos que vivenciaram situações dessa natureza.

Pode falar

Com o objetivo de contribuir para a saúde mental e o bem-­estar dos adolescentes e jovens brasileiros, o unicéfi lançou o Pode ­falar, destinado a pessoas de 13 a 24 anos. Esse canal conta com a parceria de organizações da sociedade civil e empresas especializadas em saúde mental. Ele funciona de fórma segura (anônima e ­gratuita) por meio de um chatbot, acessado em: https://oeds.link/9N7RhJ (acesso em: 30 abril 2022). O Pode falar oferece conteúdo confiável, como depoimentos de adolescentes e jovens que superaram situações complexas, e espaço de acolhimento individual.

O que o professor e a escola podem fazer em relação ao tema do suicídio?

A ó ême ésse estabelece uma série de orientações de prevenção ao suicídio e editou um manual para nortear a prática de atenção primária: Prevenção ao suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária16nota de rodapé . Nesse documento, há orientações para prevenção e ressalta-se a ideia de que o contato inicial com a pessoa que fala em suicídio é muito importante.

Todas as pessoas que compõem a comunidade escolar precisam estar conscientes da importância das atitudes de cuidado. Não banalizar a fala do aluno que expressa algum sofrimento é o primeiro ato de prevenção a esse tipo de violência autoprovocada. Por exemplo, quando o estudante disser: “Eu estou cansado da vida” ou “Não há mais razão para eu viver”, ele precisará ser acolhido e ouvido, jamais ignorado. Se o professor não se sentir confortável para tal tarefa, deverá pedir ajuda e encaminhar essa conversa para alguém da escola que julgue mais capaz, como um coordenador ou o diretor.

O manual da ó ême ésse descreve atitudes importantes no contexto da comunicação com uma pessoa que apresenta a chamada “ideação suicida”: ouvir atentamente; ficar calmo; empatizar com os sentimentos da pessoa; dar mensagens não verbais de aceitação e respeito; expressar respeito pelas opiniões e valores da pessoa; conversar honestamente e com autenticidade; mostrar preocupação, cuidado e afeição; focalizar nos sentimentos da pessoa (ó ême ésse, 2000, página 14).

O material também lista atitudes que devem ser evitadas ao se comunicar com a pessoa que apresenta “ideação suicida”: interromper com frequência; ficar chocado ou muito emocionado; dizer que está ocupado; tratar a pessoa de maneira que a coloque em uma posição de inferioridade; fazer comentários invasivos e pouco claros; fazer perguntas indiscretas (ó ême ésse, 2000, página 14).

Após intervir por meio de uma conversa inicial, dependendo da gravidade, em caráter de urgência, o professor ou outro profissional da escola deverá encaminhar o aluno para ser atendido por profissionais de saúde em ambulatórios especializados, como o Centro de Atenção Psicossocial (cápis) e as Unidades Básicas de Saúde (U bê ésse) e para o Conselho Tutelar – segundo estabelece a Lei nº 13.819 (BRASIL, 2019a). Além disso, deve-se relatar a situação para a família do estudante e garantir que ele não fique em desamparo. É importante que o professor acompanhe e mantenha vínculo e postura de apôio. Conversar com o estudante em intervalos regulares, estabelecendo combinados que possam aliviar estresse, é um fator protetivo importante. Você poderá também rever formatos e períodos de avaliação.

Quando houver uma situação extrema, em que um estudante cometa suicídio, é necessário que a escola também atue com os demais alunos. O conjunto de ações realizadas nessa situação é denominado posvenção. Tal termo foi introduzido no Brasil a partir dos estudos de Karen Scavacini (2011-2018).

A posvenção consiste em um conjunto de atividades, intervenções, suportes e assistências apropriadas após o suicídio cometido, com o objetivo de auxiliar os estudantes, ou seja, apoiar as pessoas com a vida afetada pela tragédia. A ideia é intervir nos amigos, irmãos, pais, professores, colegas da escola e buscar estratégias para desenvolver resiliência e postura de enfrentamento de problemas para que eles possam viver com menos estresse e maior produtividade (Scavacini, 2018).

Além da promoção de um ambiente favorável à saúde mental, os professores e a escola devem propor atividades que privilegiem fatores protetivos e desenvolvam competências socioemocionais: autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável, em diálogo com o que preconiza a Bê êne cê cê.

Biblioteca do professor

sáite do Centro de Valorização da Vida (cê vê vê). Disponível em: https://oeds.link/YFtLeI. Acesso em: 3 maio 2022.

O cê vê vê presta serviço voluntário e gratuito de apôio emocional e prevenção ao suicídio a todas as pessoas que precisam conversar, sob ­total sigilo e anonimato, pelo telefone 188 ou pessoalmente.

Bullying

Infelizmente, a violência na escola faz parte da vida de muitos educadores e alunos. Conflitos interpessoais, danos ao patrimônio público e ações criminosas são algumas fórmas de violência. As ações violentas às vezes extrapolam a competência da instituição escolar e devem ser sanadas com auxílio de outras instituições, como o Conselho Tutelar e até mesmo intervenção policial.

A prática de violência denominada bullying, palavra da língua inglesa sem termo equivalente na língua portuguesa, diz respeito a um conceito bem complexo e passou por diversas reflexões desde as décadas de 1970-1980, sobretudo com os estudos de den ouvêious, psicólogo sueco-norueguês, professor-pesquisador na Universidade de bêrguen (Noruega).

Atualmente, o bullying é definido como ato de intimidação sistemática ocorrida principalmente na esfera escolar. A prática de bullying envolve um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, sem motivação evidente, tomadas por um ou mais alunos contra seu colega ou seus colegas, causando dor e sofrimento ao outro.

Na maioria das vezes, o bullying envolve os seguintes atores: autores (agressores), alvos (vítimas) e espectadores (plateia) dessa agressão. As professoras Tognetta e Vinha (2008) defendem que os termos autores e alvos são mais precisos para definir os envolvidos nos processos de bullying do que agressores e vítimas, uma vez que tanto um personagem como outro precisam ser ajudados.

Em muitos casos, os autores escolhem seus alvos utilizando como critério a desigualdade de poder (diferenças socioeconômicas, culturais, religiosas, de idade etcétera). Essa escolha também pode se dar por características físicas e psicológicas específicas, como a timidez do alvo, especificidades na fluência verbal (gagueira, por exemplo), etnia, peso, altura, modo de se vestir, entre outras.

As humilhações praticadas pelos autores contra seus alvos podem vir tanto de meninas como de meninos e, em geral, manifestam-se de fórmas diferentes. É mais fácil de identificar quando há meninos autores de bullying, pois a interação costuma ser evidente, sendo mais agressiva, baseada em xingamentos, gritos, empurrões, violência física etcétera Já as meninas, de maneira geral, costumam manifestar o bullying de fórma mais sutil, com boatos, olhares, risadas e exclusão social (LOPES NETO, 2005).

Não é incomum que os alvos se tornem autores quando encon­tram alguém mais frágil do que eles. Tal mecanismo costuma ocorrer porque o alvo pode buscar uma compensação psicológica e um desejo de pertencer a determinado grupo de autores. A hostilidade costuma ser cíclica e, em alguns casos, torna-se uma fórma de relação social entre jovens de determinados grupos.

No bullying, os espectadores também são considerados autores da violência. Tognetta e Vinha (2008) apontam que eles podem ser classificados de duas fórmas: ativos ou passivos. Os ativos se tornam uma espécie de plateia que contribui para a agressão, ­expressando incentivo ao bullying por meio de palavras, risadas e olhares. Os passivos, diferentemente, são silenciosos e não têm iniciativa para manifestar oposição nem concordância. O silêncio da plateia pode ocorrer por razões como o medo de ser o próximo alvo dos autores, a falta de empatia ou simplesmente a não percepção de que o ato é uma violência ou injustiça.

Com a popularização dos meios digitais, a prática de intimidação sistemática tem ocorrido com frequência também por meio da internet. Essa modalidade virtual, o cyberbullying, ocorre majoritariamente pelos smartphones, aparelhos que possibilitam acesso às redes sociais. Como se sabe, esses dispositivos móveis costumam conter uma série de aplicativos, além de enviar mensagens instantâneas e de possuir câmeras fotográficas e filmadoras.

O cyberbullying expõe muito mais o alvo ao cenário público e extrapola o ambiente institucional da escola. Os estudos sobre bullying foram significativamente ampliados após o surgimento dessa modalidade de violência virtual. A legislação brasileira, por meio da Lei nº 13.185, promulgada em 6 de novembro de 2015, instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying).

O bullying é um assunto emergente que exige atitudes de cuidado por parte de toda a comunidade escolar. Prevenção e intervenção são essenciais, apresentam interfaces e importante intersecção. Trabalhos que atravessam as práticas pedagógicas cotidianas aliados ao desenvolvimento de uma cultura de paz são meios de promoção de um ambiente saudável dentro do espaço escolar. Nessa concepção, em lugar de programas de intervenção que privilegiam a reação ao bullying, a escola pode investir em ações preventivas. Com isso, tanto o comportamento violento dos alunos como suas consequências podem ser evitados.

A perspectiva preventiva está relacionada ao contrôle dos fatores de risco que antecedem o problema. Como visto anteriormente, segundo Estanislau e Bressan (2014), a prevenção atua em diferentes fases: primária, secundária e terciária.

A prevenção primária consiste em um conjunto de iniciativas que têm como objetivo evitar a ocorrência de bullying:

  • promoção de um ambiente de escuta respeitosa entre os estudantes que privilegie uma cultura de paz;
  • utilização de sequências didáticas em que se privilegie a vivência e a apreciação de diferentes linguagens artísticas (como as que propomos, por exemplo, nas seções Conversa com arte e Minha canção);
  • criação dos chamados “círculos de qualidade17nota de rodapé , tipo de assembleia que consiste em promover a identificação, análise e resolução de um problema comum. Faça um levantamento com a turma de um problema que atinja toda a comunidade escolar e sugira, em um segundo momento, a análise dessa questão e a proposição de fórmas de resolução dela. Incentive o envolvimento de todos os alunos. Divida a turma em pequenos grupos e peça que analisem o problema detectado. Os estudantes, nesse momento, produzem um documento, enumerando ações práticas para a resolução do problema comum. Depois, abra para um debate, lendo para todo o grupo as ideias produzidas. Finalize estabelecendo combinados e ações para solucionar a questão posta pelo grupo;

criação de agremiações de estudantes.

A prevenção secundária consiste em ações que promovem a interrupção de casos evidentes: trabalho com textos e filmes/séries com temas que envolvam conflitos e disputas; planejamento de sequências didáticas e aulas com temas que envolvam bullying e cyberbullying; promoção da Ajuda entre Iguais ou Sistema de apôio entre Iguais/ésse á í – formação de um grupo de crianças ou adolescentes que atuem como conselheiros e ajudem seus pares que sofrem bullying, acolhendo-os em suas dificuldades (­TOGNETTA, VINHA, 2008, página 17).

A prevenção terciária é um conjunto de ações de tratamento e providências promovidas após a situação instalada: intervenção social; intervenção nos autores (atividades que estimulem a cooperação dos estudantes nos espaços de convivência, como as propostas nas seções fóra da caixa, Minha canção e Conversa com arte); intervenção nos alvos (propostas de estratégias de desenvolvimento da assertividade para vítimas e exercícios de habilidades sociais que podem reforçar a autoestima das vítimas para que elas se defendam de seus agressores).

Biblioteca do professor

muscát, Malvina Ester. Guia prático de mediação de conflitos em famílias e organizações. São Paulo: Summus Editorial, 2007.

A autora apresenta uma série de propostas bem simples e acessíveis para a mediação de conflitos no contexto escolar.

Como esta coleção foi inteiramente concebida para falar com e sobre os pré-adolescentes e adolescentes, há nela, como já mencionamos, uma série de oportunidades para a promoção de debates e de bate-papos (em Fala aí!, E se a gentereticências?, Conversa com arte, fóra da caixa, por exemplo), estratégias importantes para a promoção de uma escuta ativa e respeitosa por parte dos estudantes e para a realização de ações colaborativas, ligadas à expressão artística e cidadã. Sugerimos que você não deixe de utilizar esses momentos para garantir um espaço de bem-estar que contribua para a instauração da saúde mental de todos. A escola precisa ser um espaço em que o aluno tenha certeza de que vai encontrar justiça, diálogo, lazer, arte e debate.

Um exemplo de como concretamente esta coleção pode contribuir para a saúde mental dos adolescentes, pensando na qualificação do tempo deles e na proposta de engajamento e construção de senso de pertencimento, no Capítulo 7 deste 6º ano, "Um eu poético", na seção E se a gentereticências fizesse um evento de troca de livros?, os alunos são convidados a realizar um evento de troca de livros, por meio do qual poderão trocar impressões de leitura com os colegas. Outro exemplo está na seção Minha canção, que abre e fecha este volume do 6º ano. Em um primeiro momento, os alunos são convidados a fazer um vídeo, que poderá ser retomado no 9º ano, com fotos espontâneas da turma; em um segundo momento, os estudantes ouvem uma canção que convida a viver a vida de fórma mais consciente e presente. Depois, são convidados a produzir uma campanha publicitária em que tentam convencer seus colegas adolescentes a não evadir da escola (fenômeno, infelizmente, bastante presente na realidade brasileira, intensificado no contexto da pandemia, sobretudo em 2020 e 2021).

Compreender para interferir na realidade — os tê cê tês

Como se sabe, a primeira cê gê da Educação Básica da Bê êne cê cê propõe que os conhecimentos historicamente construídos pelos estudiosos das quatro áreas do conhecimento estejam a serviço do entendimento e da explicação da realidade. O mesmo se dá com a primeira e a segunda cê e éle , que defendem que a compreensão do funcionamento das diferentes linguagens sirva para a significação da realidade dos alunos e que o conhecimento e a exploração dessas práticas de linguagem contribuam concre­tamente para os aprendizes ampliarem sua participação na vida social, interferindo na construção de uma sociedade melhor para todos, ou seja, mais democrática, justa e inclusiva.

O fato de serem essas as competências que abrem os quadros de competências gerais e específicas da Base já sugere a vocação desse documento: garantir que os currículos das escolas brasileiras se conectem de fórma direta com o mundo, com a realidade que cérca os alunos e seus professores.

A Bê êne cê cê também reforça que não basta os estudantes adquirirem saberes (conhecimentos, habilidades e valores); é necessário que eles saibam o que fazer com esses saberes, ou seja, que ­sejam capazes de mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para trabalhar, de fórma cidadã, na resolução de questões complexas da vida. A Base defende, portanto, que a escola não fique apartada da vida real. Ela precisa formar alunos motivados e engajados18nota de rodapé , que se sintam capazes de atuar sobre suas realidades e sobre a realidade do mundo porque as conhecem e as discutem cotidianamente com seus colegas e professores nas aulas.

Para tratar da realidade de fórma significativa, é necessário que o currículo das escolas contemple, nas várias áreas do conhecimento, temas contemporâneos. Nessa direção, a Base defende que

reticências cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de fórma transversal e integradora. (BRASIL, 2018, página 19).

No documento Temas Contemporâneos Transversais na Bê êne cê cê – Proposta de Práticas de Implementação (BRASIL, 2019b) defende-se que é essencial que

reticências a abordagem dos Temas Contemporâneos Transversais (tê cê tês) permita ao estudante compreender questões diversas, tais como cuidar do planeta, a partir do território em que vive; administrar o seu dinheiro; cuidar de sua saúde; usar as novas tecnologias digitais; entender e respeitar aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres como cidadão, contribuindo para a formação integral do estudante como ser humano reticências. (BRASIL, 2019b, página 4).

Esse mesmo documento organiza os tê cê tês em seis macroáreas temáticas, devidamente articuladas pela Coordenação-Geral de Educação Ambiental e Temas Transversais da Educação Básica, no Ministério da Educação, da seguinte fórma:

Esquema. Seis quadros dispostos ao redor de um quadro central em que está escrito 'Temas contemporâneos transversais. BNCC'. Conteúdo dos quadros:  quadro 1: 'Meio ambiente: Educação ambiental; Educação para o consumo'; quadro 2: 'Economia: Trabalho; Educação financeira; Educação fiscal'; quadro 3: 'Saúde: Saúde; Educação alimentar e nutricional'; quadro 4: 'Cidadania e civismo: Vida familiar e social; Educação para o trânsito; Educação em direitos humanos; Direitos da criança e do adolescente; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso'; quadro 5: 'Multiculturalismo. Diversidade cultural: Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras'; quadro 6: 'Ciência e tecnologia. Ciência e tecnologia'.

Nesta coleção, que parte da proposta de vivências concretas de experiências pelos alunos por meio da ou do mobilização/desenvolvimento de competências e habilidades, as cê e éle 1, 2, 3 (que se articulam com as cê gê 1, 2, 3) são desenvolvidas, de fórma transversal, produtiva e contextualizada como propõe o documento Temas Contemporâneos Transversais na Bê êne cê cê – Proposta de Práticas de Implementação (2019b).

Corroborando a ideia de que um livro didático só tem sentido na atualidade se ele se comunica com o mundo real, por meio das experiências propostas por esta coleção, os estudantes que utilizarem este volume do 6º ano poderão entrar em contato com os tê cê tês listados a seguir.

TCTS

Capítulo 1
O registro do eu no mundo

• Direitos da criança e do adolescente
• Educação em direitos humanos
• Saúde

Capítulo 2
Imagens e palavras em ação

• Trabalho
• Diversidade cultural
• Ciência e tecnologia
• Educação ambiental
• Saúde
• Educação em direitos humanos
• Direitos da criança e do adolescente
• Vida familiar e social

Capítulo 3
Traduzir saberes

• Diversidade
• Ciência e tecnologia

Capítulo 4
Para contar o que aconteceu

• Ciência e tecnologia
• Vida familiar e social

Capítulo 5
Contar e mostrar

• Ciência e tecnologia
• Vida familiar e social
• Saúde

Capítulo 6
Vender produtos e ideias

• Saúde
• Vida familiar e social
• Educação para o trânsito
• Educação ambiental
• Educação para o consumo

TCTS

Capítulo 7
Um eu poético

• Diversidade cultural
• Educação para o consumo

Capítulo 8
Opinar, mas com responsabilidade

• Vida familiar e social

Com isso, os estudantes são capazes de mobilizar “reticências conhecimentos reticências, habilidades reticências, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, página 8), como preconiza a Base.

Experienciar o mundo

Parte significativa do documento da Bê êne cê cê se ocupa de defender que as escolas têm o papel de garantir que os jovens sejam protagonistas de seu próprio processo de ensino-aprendizagem. Para isso, no Ensino Fundamental – Anos Finais, “reticências é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes reticências” (BRASIL, 2018, página 60). Também é recorrente na Base a ideia de que é necessário que os professores proporcionem experiências e processos que garantam essas “aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas” (Bê êne cê cê, 2018, página 463). A Base ainda afirma que a escola precisa ser um ambiente em que os alunos estejam “reticências abertos às percepções e experiências, mediante a capacidade de imaginar e ressignificar os cotidianos e rotinas.” (BRASIL, 2018, página 482).

Pensando no pré-adolescente que ingressa no 6º ano e no adolescente que finaliza, no 9º ano, o Ensino Fundamental, a Bê êne cê cê, como já afirmamos, nos lembra da singularidade e das especificidades do estudante dessa etapa de desenvolvimento e de como a escola deve considerar, em suas práticas, tais complexidades. Nessa direção, a Bê êne cê cê defende que é

reticências no ambiente escolar que os jovens podem experimentar, de fórma mediada e intencional, as interações com o outro, com o mundo, e vislumbrar, na valorização da diversidade, oportunidades de crescimento para seu presente e futuro. (BRASIL, 2018, página 473, grifo nosso).

Nota-se, portanto, que a ideia de experiência tem primeiro plano na Base e no novo tipo de educação a que ela propõe que os adolescentes brasileiros tenham acesso. Abordaremos a seguir o conceito de experiência com o qual dialogamos e, mais adiante, explicaremos a fórma como ele se concretiza nesta coleção.

Em 2001, o professor Jorge Larrosa Bondía (Universidade de Barcelona, Espanha) proferiu, no primeiro Seminário Internacional de Educação de Campinas, uma conferência que já se tornou um clássico entre os educadores brasileiros. Em “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, Larrosa investiga o termo experiência e dá pistas importantes para os educadores sobre a relevância desse modo de viver. Segundo o educador espanhol, sobretudo na contemporaneidade tão inundada pela informação, nem toda vivência pode ser considerada uma experiência. “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.” (LARROSA, 2002, página 21), porque ela tem o poder de nos atravessar de maneira intensa e, eventualmente, de transformar nosso olhar ou nossa postura no mundo. A experiência, dessa fórma, “não [é] o que se passa, não [é] o que acontece, ou o que toca” (LARROSA, 2002, página 21). O ato de experienciar, para Larrosa como se vê, é absolutamente pessoal, jamais impessoal.

A escola, instituição inserida em um mundo cada vez mais acelerado, tem proporcionado, sabemos, escasso tempo de parada, de suspensão, de reflexão e, sobretudo, de escuta ativa. Muitas vezes, o estudo de um conto em uma aula de Língua Portuguesa, por exemplo, serve apenas para ensinar determinados elementos estáveis do gênero textual e não há espaço para que os estudantes construam uma relação afetiva com o que leram, falem sobre o que leram, escrevam sobre o que pensaram, ou não há tempo para que eles dividam com seu professor e colegas os temas do texto que os atravessaram e que os ajudam a entender quem eles são no mundo. Ler literatura, nesse caso, restringe-se apenas a decodificar e classificar. Isso não é uma experiência, na visão de Larrosa (tampouco na dos autores desta coleção).

O contato dos alunos com a riqueza de uma peça de teatro, em uma aula de Língua Portuguesa, para citar outro exemplo, pode ser tão superficial que o máximo que eles aprendem – para esquecer na semana seguinte – é que um texto teatral é estruturado em cenas e atos, nele há rubricas e falas e conta com atores para interpretar os personagens criados pelo autor.

Algo muito diferente de o aluno ler, como farão neste volume do 6º ano, no Capítulo 7, "Um eu poético", produções variadas como “Para reparar”, de Arnaldo Antunes, “O aeroplano”, de Ivan Junqueira, “Viagem”, de Lázaro Ramos, não apenas para resgatar e sistematizar características do gênero textual poema, mas para discutir o valor do que é, muitas vezes, invisível; para descobrir como fórmas de arte tão diferentes como o poema e a escultura podem tratar do mesmo tema; para resgatar a importância da infância e da imaginação; para analisar o poder da linguagem figurada e brincar com os sentidos das palavras por meio de desenhos; para produzir um poema autoral visual animado digitalmente e até para poder estruturar uma espécie de feira de troca de livros. Posteriormente, os alunos ainda têm a oportunidade de pesquisarem o trabalho de uma diversidade de poetas brasileiros que escrevem para o público infantojuvenil e preparar um seminário para dividir o resultado dessa investigação com os colegas.

Nessa direção, Larrosa nos lembra de que

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a deli­- cadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos

acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2002, página 24).

Acreditamos que os estudantes só desenvolverão determinadas competências e habilidades em uma escola verdadeiramente aberta à experiência, que possibilite que os alunos se “exponham”. Larrosa chama a nossa atenção para este fato:

Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “o-posição” (nossa maneira de opormos), nem a “im-posição” (nossa maneira de impormos), nem a “pro-posição” (nossa maneira de propormos), mas a “ex-posição”, nossa maneira de “ex-pormos”, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “ex-põe”. (LARROSA, 2002, página 25).

É nessa direção que, no já citado Capítulo 5 deste volume, por exemplo, o aluno se “ex-põe”, convidado pelo boxe Fala aí!, contando aos amigos como se sentiu ao final da leitura do emocionante conto “Trem Fantasma”, do escritor gaúcho Moacyr Scliar.

As competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental (BRASIL, 2018, página 65) sugerem que a escola precisa criar oportunidades para que os alunos possam exercitar sua autoria, por meio da “expressão de subjetividades” (cê e éle 1), do partilhamento e expressão de “experiências, ideias e sentimentos” (cê e éle 3), da participação de “práticas diversificadas, individuais e coletivas” (cê e éle 5) e do desenvolvimento de “projetos autorais e coletivos” (cê e éle 6). Essas noções, em nosso entender, estão diretamente ligadas à ideia de experiência. O aluno só se torna autor de seus projetos se pode, ainda que mediado por um professor, experienciá-los também de fórma individual, particular, autônoma.

Nessa direção, Larrosa afirma que

reticências o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal. Se a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e de alguma maneira impossível de ser repetida. (LARROSA, 2002, página 27).

A escola precisa, por isso, ser o espaço da coletividade, mas sem perder de vista o individual, pois “reticências o saber da experiência não pode beneficiar-se de qualquer alforria, quer dizer, ninguém pode aprender da experiência de outro, a menos que essa experiência seja de algum modo revivida e tornada própria” (LARROSA, 2002, página 27).

Para garantir essa autoria, a coleção é atravessada por seções e boxes como E se a gentereticências?, Conversa com arte, fóra da caixa, Minha canção, Fala aí!, Desafio da linguagem, A língua nas ruas, Investigue, Biblioteca cultural em expansão. Neste volume, por exemplo, como já citamos, no Capítulo 1, "O registro do eu no mundo", os alunos estudarão intervenções urbanas e debaterão as polêmicas em torno dessa fórma de fazer arte para poderem propor a sua própria intervenção coletiva perto da escola, o que pode constituir uma verdadeira experiência.

Relembramos, também, na esteira das concepções de Larrosa, que em uma escola devem conviver os experimentos (que simulam as práticas científicas) e a experiência, cada um com seus ganhos, porque, segundo o autor,

Se o experimento é genérico, a experiência é singular. Se a lógica do experimento produz acôrdo, consenso ou homogeneidade entre os sujeitos, a lógica da experiência produz diferença, heterogeneidade e pluralidade. Por isso, no compartir a experiência, trata-se mais de uma heterologia do que de uma homologia, ou melhor, trata-se mais de uma dialogia que funciona heterologicamente do que uma dialogia que funciona homologicamente. Se o experimento é repetível, a experiência é irrepetível, sempre há algo como a primeira vez. Se o experimento é preditível e previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza que não pode ser reduzida. Além disso, posto que não se pode antecipar o resultado, a experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer”. (LARROSA, 2002, página 28).

Reforçamos, ainda, que até mesmo os títulos dos capítulos do livro foram intencionalmente planejados já se pensando em uma perspectiva de convite do aluno à experiência. Assim, um capítulo como o 8 deste volume não tem como objetivo primordial fazer com que o estudante seja um “profissional” na arte de produzir comentários de leitor, embora esse gênero esteja em foco na sequência. Esse capítulo, sugestivamente intitulado "Opinar com responsabilidade", propõe um conjunto de reflexões e ações, sempre ancoradas nas inúmeras potencialidades da linguagem, que serão vividas pelos alunos para aprenderem a argumentar de fórma adequada, consistente, coerente, ética e responsável. É por isso que escolhemos agrupar esses conjuntos de experiências dentro das sequências didáticas sob títulos convidativos como "O registro do eu no mundo" (Capítulo 1), "Vender produtos e ideias" (Capítulo 6), entre outros exemplos deste volume.

Outro exemplo que pode ilustrar de que fórma as experiências concorrem para que os alunos protagonizem e problematizem a sua própria realidade na coleção é o Capítulo 6 do 9º ano, que, novamente, não tem como objetivo central fazer com que os estudantes aprendam a escrever com perfeição um conto psicológico. Esse capítulo, intitulado provocativamente “O mundo de dentro”, intenciona que um conto como “Medo”, de João Anzanello Carrascoza, seja caminho para trabalhar a subjetividade por meio da exploração da linguagem. Nesse sentido, a sequência de atividades propostas nas seções e nos boxes convida os estudantes a gravar um áudiobúqui com os próprios recortes interpretativos do que leram; a acessar um webinar sobre adolescência e saúde mental para tomar notas e fazer esquemas com os dados apresentados pelas palestrantes; a relacionar o tema desse vídeo com o conto de Carrascoza; a retextualizar a narrativa, elaborando e representando um texto teatral para refletir acerca da situação vivida pelo personagem, tendo em vista mais de uma perspectiva.

Em outro momento da sequência, os alunos leem mais um ­conto psicológico, dessa vez “Tentação”, de Clarice Lispector, e são convidados a explorar a representação do tempo na narrativa, aspecto muito relevante no subgênero que está em foco; posteriormente, estudam as orações adjetivas, importante recurso linguístico para a caracterização. Depois, os estudantes são convidados a acessar “o mundo de dentro” deles por meio de uma produção textual que enfoca uma situação típica do universo adolescente. Por fim, entram em contato com outra fórma de arte que, assim

como o conto, pode abrir possibilidade de uma “leitura” de seu interior a partir dos elementos exteriores, a escultura.

Larrosa Bondía

Jorge Larrosa Bondía é doutor em Pedagogia pela Universidade de Barcelona (Espanha), onde atualmente é professor titular de Filosofia da Educação. Publicou diversos artigos em periódicos brasileiros e tem dois livros traduzidos para o português: Imagens do outro (Vozes, 1998) e Pedagogia profana (Autêntica, 1999).

III. O componente Língua Portuguesa

Linguagem: esse objeto tão complexo

Diferentes concepções de língua e linguagem sustentaram e sustentam as diversas perspectivas do ensino de língua na escola ao longo do tempo. Para que você, professor, conheça melhor a atual proposta de ensino de língua materna e nela se reconheça, lembraremos algumas considerações feitas por Soares (1988) e outros teóricos sobre essas diferenças de abordagem.

É sabido que até os anos 1960 predominou a visão de linguagem como um sistema, de acôrdo com a qual o ensino da língua materna (português) teria como função, fundamentalmente, possibilitar aos alunos o (re)conhecimento das regras de funcionamento das variedades urbanas de prestígio. Esse reconhecimento se dava, quase sempre, exclusivamente pelo ensino de gramática e pelo contato com textos literários nos quais se buscava, predominantemente, reconhecer estruturas linguísticas. Ressalte-se que a realidade histórica em que essa concepção de língua e linguagem se fazia presente e o ensino do português nela inspirado não eram, segundo Soares (1988), incoerentes tampouco inadequados a uma escola que se destinava, predominantemente, a alunos das camadas privilegiadas da população, isto é, àqueles que de certo modo já dominavam os padrões culturais e linguísticos (a variante socialmente prestigiada) valorizados na instituição escolar.

A segunda maneira de conceber a linguagem, ainda conforme Soares, desenvolveu-se entre os anos 1960 e 1970 e perdurou até a década de 1980. Nessa visão, a linguagem era compreendida como instrumento de comunicação, e a escola tinha como principal objetivo de ensino da língua materna favorecer o desenvolvimento, por parte dos estudantes, das habilidades de expressão (emissão e codificação) e compreensão (recepção e decodificação) das mensagens. Nesse novo contexto, a gramática perdeu seu prestígio – surgiu a polêmica sobre ensiná-la ou não na escola – e foi, de certo modo, substituída pela “teoria da comunicação”. Ainda de acôrdo com Soares, “reticências já não se trata mais de levar ao conhecimento do sistema linguístico – ao saber a respeito da língua – mas ao desenvolvimento das habilidades de expressão e compreensão de mensagens – ao uso da língua” (Soares, 1998, página 57). Para Clare (2002, página 3), nesse momento histórico a proposta educacional passou a ser condizente com a expectativa de fornecimento de recursos humanos que possibilitassem ao govêrno realizar a pretendida expansão industrial. E, segundo Barros-Mendes (2005), os objetivos se tornaram utilitários: tratava-se de desenvolver e aperfeiçoar os comportamentos do aluno como emissor e receptor de mensagens, por meio do uso e compreensão de códigos diversos – verbais e não verbais. Nessa época, a denominação da disciplina “Português” ou “Língua Portuguesa” transformou-se em “Comunicação e Expressão” nas séries iniciais e em “Comunicação em Língua Portuguesa” nas séries seguintes do então 1º grau (Lei nº 5.692; BRASIL, 1971).

Tal concepção de língua deixou de encontrar apôio na segunda metade da década de 1980, tanto no contexto político e ideológico, agora marcado pelo processo de redemocratização do país, como nas novas teorias linguísticas em voga. A denominação da disciplina “Comunicação em Língua Portuguesa” foi abandonada e retomou-se o “Português”. Os livros didáticos, que já tinham incorporado o texto para o ensino da língua, ampliaram seu referencial teórico e passaram a se orientar por uma nova concepção de linguagem:

reticências uma concepção que vê a língua como enunciação, discurso reticências, que, portanto, inclui as relações da língua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que é utilizada, com as condições sociais históricas de sua utilização. (Soares, 1998, página 59).

Essa mudança significativa de abordagem passou a se refletir nas principais leis e documentos oficiais do período. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998) demarcaram tais mudanças ao propor o texto, materializado em diferentes gêneros textuais, como objeto de ensino. Nesse novo paradigma, o texto tornou-se o ponto de partida e de chegada no ensino da língua materna, com o propósito de possibilitar aos alunos realizar análises e reflexões das condições sociais efetivas de produção e de recepção, reconhecidas nos usos reais da língua (Batista, 2004).

Tal fundamentação se articula à teoria dos gêneros proposta pelo pensador russo Mirraíl Baquitín, primeiramente em 1929, depois em 1953-1954 (ver quadro adiante), e as releituras dessa teoria feitas por outros estudiosos, entre os quais marcusqui (2008) e córh e Elias (2010).

Segundo marcusqui (2008), os gêneros textuais são dinâmicos, de complexidade variável, e não é possível contá-los todos, pois são sócio-históricos e variáveis. Em diálogo com ele, as autoras córh e Elias (2009) defendem que

todas as nossas produções, quer orais, quer escritas, se baseiam em fórmas-padrão relativamente estáveis de estruturação de um todo denominado gêneros reticências. Longe de serem naturais ou resultado da ação de um indivíduo, essas práticas comunicativas são modeladas/remodeladas em processos interacionais dos quais participam os sujeitos de uma determinada cultura. (córh; ELIAS, 2009, página 55).

É também na compreensão de linguagem como interação oriunda da perspectiva enunciativo-discursiva que a Bê êne cê cê se fundamenta. Considerando essa concepção, nesta coleção compreendemos a interação como princípio constitutivo da linguagem, entendida como uma multiplicidade de práticas verbais (orais ou escritas), visual-motoras ou multissemióticas que se concretizam nas relações sociais estabelecidas cotidianamente.

Os sujeitos participam de variadas atividades humanas (ir ao parque, trabalhar, ler um livro, assistir a uma aula, postar um

­comentário etcétera), organizadas por distintas práticas sociais de linguagem, nas quais eles se constituem ao assumir diferentes papéis na interação com o outro e ao estabelecer os usos efetivos da linguagem. Essas relações sociais estão em constante transformação, de acôrdo com o tempo e a cultura de dado espaço. E é por meio da linguagem, em suas variadas possibilidades de materialização (verbal – oral ou escrita, visual-motora – libras, corporal, sonora, digital etcétera), que agimos para marcar nosso posicionamento no mundo, constituímos vínculos, estabelecemos pactos e compromissos, entre outros aspectos impossíveis sem a linguagem.

Tendo como objeto de ensino o texto em diferentes gêneros textuais, conforme orienta a Bê êne cê cê, as práticas de linguagem (leitura/escuta, produção de textos, oralidade e análise ­linguística/semiótica) configuram-se como eixos de aprendizagem, que se vinculam aos campos de atuação (artístico-literário, das práticas de estudo e pesquisa, jornalístico/midiático e de atuação na vida pública), estabelecendo relações com os usos reais da linguagem, o que permite a contextualização do conhecimento e a promoção de contextos significativos de aprendizagem dos estudantes, como também a construção de projetos integradores/interdisciplinares.

Algumas palavras sobre Báquitin

Parte considerável da popularização do pensador russo micail micaélovítch báquitin (1896-1975) no ocidente se deve às suas teorias do gênero textual e do romance, cujos estudos se iniciaram nos anos de 1930. Báquitin defende que cada gênero é adaptado para dar conta de somente alguns aspectos da realidade melhor do que os outros. Por isso, as pessoas necessitam aprender continuamente novos gêneros à medida que ampliam suas experiências. Cada gênero, portanto, implica um modo específico de abordar as muitas experiências humanas. O autor acredita que iniciamos nosso aprendizado dos gêneros do discurso desde a primeira vez que falamos. Para ele, conhecer uma linguagem significa dominar um repertório dos seus gêneros do discurso19nota de rodapé .

O pensador resume a organização geral dos gêneros textuais afirmando que estes se compõem de um tema (o que se quer dizer em determinada situação de comunicação), de uma fórma de composição ou estrutura (como organizar e estruturar o que se quer dizer: em versos ou em parágrafos, por exemplo) e de um estilo (que, entre outros fatores, envolve a maneira de dizer e o modo de estabelecer a seleção vocabular, para auxiliar na elaboração do sentido do que o locutor quer dizer).

Para o estudioso russo, os gêneros são fórmas relativamente estáveis de enunciados/discursos em dados contextos e situações específicas de comunicação. Segundo ele, as pessoas podem até dominar satisfatoriamente uma língua (em relação ao vocabulário, sintaxe e outras categorias “linguísticas”), mas ainda assim podem se sentir incompetentes em certas esferas da comunicação porque, na prática, jamais se pode dominar os gêneros textuais de todas as esferas.

Ainda segundo Báquitin, a sociedade produz gêneros primários e secundários. Os gêneros primários são os mais simples, que surgem de situações cotidianas e espontâneas. Embora predominantemente orais, abarcam também fórmas mais prosaicas de escrita, como os bilhetes, os imêious e comentários pessoais em redes sociais. Os gêneros secundários, próprios das esferas públicas mais complexas (ciência, trabalho etcétera), seriam reelaborações dos gêneros primários, mas predominantemente escritos. São exemplos tanto os textos científicos (como uma tese de doutorado) como os debates públicos, que, apesar de orais, apoiam-se em estruturas menos espontâneas e mais complexas.

Princípios teórico-metodológicos gerais

Nesta coleção, como já mencionamos, apresentamos atividades que dialogam com uma perspectiva sociointeracionista e uma metodologia construtivo-reflexiva. Para isso, são propostas ao estu­dante atividades de análise e reflexão que o convidam a resgatar o que já sabe a respeito de um assunto, a ampliar seu repertório, a expor sua subjetividade de maneira criativa, a se expressar criticamente como cidadão, utilizando-se do potencial pleno de uma língua viva e real, e a gerenciar com autonomia o próprio aprendizado.

Não obstante, nossa experiência como professores atuantes em sala de aula e como autores de livros didáticos e nosso conhecimento das várias realidades das escolas brasileiras de Ensino Básico mostram que ainda é necessário sistematizar determinados saberes em certos espaços do livro, para que fiquem ao alcance do estudante sempre que deles precisar. Isso não significa que a perspectiva sociointeracionista sofra prejuízo.

Entendemos, ainda, que o uso dessa sistematização dependerá da realidade de cada turma e da fórma como o professor prefere conduzir o trabalho com ela. Por trás disso está o entendimento de que um livro didático não se coloca fechado; ele terá seu acabamento nas ressignificações que o professor (leitor) fará dele, levando em consideração sua realidade de formação e a de aprendizado de seus alunos.

Apresentaremos a seguir os princípios que norteiam a abordagem das práticas de linguagem nesta coleção.

Leitura/escuta

Como foi mencionado, partimos da visão de língua e linguagem como espaços de construção de sentidos, no jogo de interação entre sujeitos. Conforme observa Clêiman (2013, página 17), “a leitura é considerada um processo interativo, no sentido de que os diversos conhecimentos do leitor interagem em todo o momento com o que vem da página para chegar à compreensão”. Ou seja, a leitura é sempre um jogo interativo porque proporciona a partilha dos conhecimentos que os leitores mobilizam para interagir com o autor por meio das “pistas” colocadas no texto e, assim, ocorre a construção de significações próprias. Nos termos de Báquitin, é o leitor que, ao adotar uma atitude ativo-responsiva diante do que lê, determina o acabamento do texto, considerando uma dada realidade sócio-histórica.

Segundo Antunes (2003), os elementos gráficos (as palavras, os sinais) não podem ser desprezados na busca interpretativa, pois funcionam como verdadeiras instruções do autor para que o leitor descubra significações, elabore hipóteses, tire conclusões. Mesmo palavras que poderiam parecer menos importantes, como “até”, “ainda”, “já”, “apenas”, entre outras, são pistas significativas em que nos devemos apoiar para fazer nossos “cálculos interpretativos”.

No entanto, ainda segundo Antunes, tais instruções sobre a folha do papel não representam tudo o que é preciso saber para entender um texto. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando recuperar, interpretar e compreender o conteúdo apresentado pelo autor.

A maior parte do que conseguimos depreender de uma leitura pertence ao nosso conhecimento prévio, ou seja, é anterior ao que está escrito/dito, pois, como nos lembra Antunes (2003), um texto seria inviabilizado se seu autor precisasse explicitar tudo nele. Todo texto tem um percentual de maior ou menor grau de dependência dos conhecimentos do leitor anteriores ou exteriores a ele. Em outros termos, os sinais (entre eles as palavras) que estão na superfície do texto são elementos imprescindíveis para sua compreensão, mas não são os únicos. O que está no texto e o que constitui o saber prévio do leitor se completam nesse jogo de (re)construção do sentido.

Na mesma linha, rôjo (2004) aponta que o leitor que tem conhecimento do objetivo da leitura, do autor, do gênero do texto e do suporte em que ele se encontra consegue antecipar o conteúdo e, consequentemente, construir de fórma mais efetiva os sentidos do texto. Por fim, em consonância com rôjo, Cafiero (2010) nos lembra de que os textos são marcados pelo momento histórico em que são escritos, pela cultura que os gerou; por isso, ter acesso a essas informações no momento da leitura ajuda-nos a compreendê-los.

É nesse sentido que o trabalho do professor no ensino da leitura passa por saber reconhecer o que seu aluno é capaz de fazer ao deparar com determinado gênero textual. O domínio de habilidades básicas, como localizar dados, saber o sentido de palavras e ter informações extratextuais, é necessário para passar ao desenvolvimento de outras competências, entre as quais estabelecer relações de causa, consequência e finalidade, reconhecer uma crítica expressa, analisar a fôrça argumentativa do uso de certos recursos linguísticos, identificar ironia ou humor.

As atividades de leitura representam um dos principais eixos de trabalho da coleção e objetivam a formação de um leitor proficiente, investigativo e crítico. Para isso, propusemos um extenso e plural conjunto de atividades de leitura acionadas por textos e comandos (explicar, justificar, comparar etcétera) com diferentes graus de dificuldade, levando em consideração a progressão ao longo dos quatro anos que compõem a etapa final do Ensino Fundamental. A seleção dos gêneros teve por critérios o trabalho com as duas modalidades da língua (oral e escrita), a variação das linguagens e dos tipos textuais (narrar, relatar, argumentar, expor e descrever), os diferentes graus de formalidade, a maior ou menor relação deles com a cultura digital e as múltiplas semioses (diferentes linguagens), as práticas sociais envolvidas (formação escolar, defesa de direitos, expressão artística etcétera), entre outros fatores.

Além disso, por meio da proposição de diferentes gêneros textuais, há um trabalho articulado com as competências gerais propostas na Bê êne cê cê, considerando a valorização do conhecimento (cê gê 1), o pensamento científico, crítico e criativo (cê gê 2), o repertório cultural (cê gê 3), a comunicação (cê gê 4), a cultura digital (cê gê 5), o trabalho e projeto de vida (cê gê 6), a argumentação (cê gê 7), o autoconhecimento e autocuidado (cê gê 8), a empatia e cooperação (cê gê 9) e a responsabilidade e cidadania (cê gê 10)20nota de rodapé .

A abordagem do gênero textual em foco em cada capítulo inicia-se com a seção Leitura 1, composta de um texto selecionado. Em alguns momentos, essa seção é antecedida de outra, móvel, denominada E se a gentereticências?, que tem o objetivo de preparar o estudante para o estudo de determinado gênero, levando-o a refletir, por exemplo, sobre contexto de circulação, recepção, aspectos temáticos etcétera Após a Leitura 1, vêm as subseções Desvendando o texto e Como funciona um ou uma [nome do gênero]? (Como funciona um poema?, por exemplo). A primeira dessas duas seções tem como objetivo explorar a compreensão global do texto, enquanto a segunda direciona a leitura para observações relativas às características do gênero – etapas que, sabemos, não são estanques nem rígidas. Entendemos que os estudantes podem ter maior ou menor familiaridade com os gêneros textuais em estudo ou com gêneros próximos, isto é, dispõem de conhecimento prévio.

Assim, espontaneamente ou sob mediação (ações do professor e atividades propostas), os estudantes serão capazes de reconhecer e de relacionar, entre outros aspectos, o conteúdo temático, o objetivo, a construção composicional, os recursos estilísticos, o leitor previsto, os pontos de vista envolvidos e os usos e funções relacionados com as atividades típicas do campo de atuação, entendendo sua articulação na construção do sentido e suas implicações na recepção. Essa primeira etapa é finalizada com um boxe sintético, intitulado Da observação para a teoria, que sistematiza o que foi observado. Entendemos que, após analisar o texto e observar determinados elementos nele presentes, os alunos terão condições de depreender aspectos teóricos. Tudo isso de fórma não transmissiva.

Em alguns momentos, oferecemos uma segunda atividade de leitura de texto do mesmo gênero estudado na seção Leitura 1. Essa Leitura 2 é uma nova oportunidade de leitura global, agora feita por um aluno mais consciente dos recursos composicionais e estilísticos do gênero e de suas implicações. Na subseção Refletindo sobre o texto, propõem-se atividades que possibilitam observar novamente alguns aspectos e avançar na compreensão de novos elementos, que resultam, mais uma vez, no boxe Da observação para a teoria.

Cumpre lembrar que essas etapas não tomam o estudo da teoria sobre os gêneros como um fim em si mesmo e procuram considerar a interação ativa do leitor com o texto. É uma preocupação dos autores da coleção evitar, como já mencionado, a “gramaticalização” dos gêneros textuais, por isso nos afastamos de um tratamento descritivo, falha que tem sido observada no ensino da língua por gêneros (Baltar e outros, 2005). O trabalho prevê, em consonância com a Bê êne cê cê (2018, página 70 a 72, especialmente), o desenvolvimento de estratégias e procedimentos de leitura que recorram aos conhecimentos prévios, confirmem antecipações e inferências, ampliem o repertório linguístico, conduzam à reflexão crítica sobre as informações e os posicionamentos explícitos ou implícitos no texto e estimulem as apreciações estéticas, éticas, políticas e ideológicas, entre outras.

Para tanto, em Leitura 1, e eventualmente em Leitura 2, ­estudam-se em cada volume oito gêneros centrais, relacionados com os vários campos de atuação (artístico-literário, das práticas de estudo e pesquisa, jornalístico-midiático e de atuação na vida pública), os quais colocam o estudante na posição de leitor, ouvinte e espectador. Além desses gêneros, diversos outros são explorados nas demais seções, concorrendo para a revisitação constante do que foi estudado e para a progressão. Essa diversidade favorece que sejam contempladas todas as competências – as gerais, as de Linguagem e as de Língua Portuguesa – e todas as habilidades de Língua Portuguesa expostas na Bê êne cê cê, inclusive no que tange a seu diálogo com o conceito de multiletramentos, especialmente no ­reconhecimento da multiplicidade semiótica. Especificando aspectos citados anteriormente, explicamos que a abordagem dos gêneros prevê identificar e analisar efeitos de sentido decorrentes também de aspectos cinésicos e paralinguísticos; da escolha, formatação e sequenciação de imagens; dos efeitos sonoros e de sincronização etcétera

Para a exploração de algumas semioses, o ideal é que o professor tenha acesso a equipamentos para reproduzir sons e imagens e usar a internet. Sabemos, no entanto, que muitas escolas não dispõem desses recursos e que nem sempre é possível contar com equipamentos pessoais dos alunos. Por isso, procuramos, dentro dos limites do livro impresso, alternativas que proporcionassem a realização das atividades. No caso de texto oral, optamos pelas transcrições, sobre as quais voltaremos a tratar na seção Oralidade deste ême pêponto Em se tratando de texto multimidiático, incluímos também, sempre que possível, a reprodução de quadros dos vídeos, alguns deles em sequência. Sabemos que esses procedimentos não são suficientes para abarcar todos os aspectos cinésicos e paralinguísticos envolvidos na produção do texto oral, além dos aspectos relativos à disposição e transição de imagens, movimento de câmera, sincronização, entre tantos outros que compõem os textos multissemióticos. Ainda assim, é possível explorar as mídias, contando com o material que oferecemos e com a experiência prévia do grupo. São raros os casos em que consideramos inviável a adaptação ao material impresso; nessas situações pediremos a você que procure alguma solução possível (leia mais sobre o tema na seção Gêneros digitais, neste ême pê).

Trataremos agora da seleção dos textos ligados aos gêneros artístico-literários. Vale lembrar que a literatura ocupa um lugar de destaque na Bê êne cê cê, sendo contemplada na cê gê 3, na cê e éle 5 e na cê e éle pê 9, além de constituir um dos campos de atuação em que se organizam as habilidades. O foco dessas competências está no desenvolvimento do senso estético para a fruição como fórma de acesso ao lúdico e ao imaginário e como fórma de substituir uma eventual função utilitária da literatura por uma “dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora” (BRASIL, 2018, página 138), proposta pela Bê êne cê cê e em diálogo com o importante crítico literário Antonio Candido (ver a próxima Biblioteca do professor). Esta coleção propõe momentos de leitura e escuta de um conjunto significativo de textos pertencentes ao campo artístico-literário como prática articulada às demais práticas de linguagem, pois cremos que favorecem o desenvolvimento da capacidade crítica, da reflexão sobre os mais diversos temas e situações, bem como da autorreflexão, vinculando-se a possibilidades transforma­doras na expressão e formação dos sujeitos por meio de uma fôrça ­humanizadora a ela inerente.

Para efetivar os estudos literários, selecionamos textos que estruturam alguns dos capítulos de cada volume, inseridos nas seções Leitura; em outros momentos, a leitura literária também pode estar presente em outras seções do livro. Escolhemos para esse letramento literário textos de gêneros variados, com a preocupação de garantir democraticamente a existência das muitas vozes que a literatura tem e que, ao mesmo tempo, representa: [de] mulheres, homens, negros, indígenas, brancos, jovens, idosos, brasileiros, europeus, autores canônicos, escritores novos etcétera

Não deixamos de reforçar, nos volumes da coleção, os laços dos estudantes com referências importantes do cânone literário brasileiro, como Maria Clara Machado, Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Marina Colasanti, Moacyr Scliar, Carlos Drumôn de Andrade, entre outros autores consagrados pela academia. Além deles, os estudantes encontrarão nas páginas da coleção muitos autores contemporâneos e plurais, que se expressam nas mais diferentes mídias, como os poetas e multiartistas Arnaldo Antunes, Alice santana, Lázaro Ramos, Márcia uáina Kambeba, os prosadores Adriana Falcão e Jorge Luiz Calife, os quadrinistas Clara Gomes, Fernando Gonsales e Danilo beirute, os roteiristas de cinema dêivid côp e Luiz Villaça, o dramaturgo João Falcão, os chargistas Jarbas e Arionauro, os compositores do vasto cancioneiro brasileiro e representantes de várias gerações musicais, como Tulipa Ruiz, Mahmundi, Emicida, entre outros. Alguns autores estrangeiros relevantes também foram incluídos, como o grego Konstantinos Kaváfis, os irlandeses Oscar uáild e jdôn bóinã, o australiano xaun Tan. Essa diversidade de autorias dialoga com o que preconiza a Bê êne cê cê quando afirma que

reticências é importante contemplar [no Ensino Fundamental em Língua Portuguesa] o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de fórma a garantir uma ampliação de repertório de uma interação e trato com o diferente. (BRASIL, 2018, página 70).

É assim que, na sequência didática que abre este volume do 6º ano, o contato com O diário de isláta: a vida de uma menina na guerra levará o aluno para O diário coletivo da pandemia, que compila o relato de 62 adolescentes, de 15 países, sobre suas memórias dos primeiros meses da pandemia de covid-19, comparando-as com as suas próprias lembranças. Depois os alunos serão conduzidos ao já clássico O diário de én frênqui, um dos maiores símbolos do combate à intolerância e ao ódio, e ao romance que virou o filme Extraordinário, escrito por R. J. Palacio. Finalmente, os alunos serão convidados a ler outro clássico, mas desta vez brasileiro, A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, para conhecer uma menina em conflito com a família e consigo mesma, que esconde em sua bolsa três grandes vontades: crescer, ser garoto e tornar-se

escritora. Depois desse percurso, os alunos precisarão contribuir com uma sugestão de leitura para a turma. Essas sugestões poderão ser usadas para, por exemplo, incentivar a criação de um clube de leitura do Ensino Fundamental – Anos Finais.

Letramento literário

Professores de língua portuguesa sabem que não é incomum que a paixão das crianças e dos pré-adolescentes pela literatura comece a diminuir para alguns com a entrada deles na adolescência. Sabemos, entretanto, que essa resistência ao saber/sabor literário tende a ceder se o adolescente sente que o que está lendo comunica-se emocionalmente, em algum grau, com sua história pessoal, com seu universo, com os temas da contemporaneidade ou com temas existenciais que atravessam o fenômeno humano. Jouve (2002, página 19) denomina essa instância de leitura de “processo afetivo”. Para o teórico, o

reticências charme da leitura provém em grande parte das emoções que ela suscita. reticências As emoções estão de fato na base do princípio de identificação, motor essencial da leitura de ficção. É porque elas provocam em nós admiração, piedade, riso ou simpatia que as personagens romanescas despertam o nosso interesse. (JOUVE, 2002, página 19).

Esse “processo afetivo” da leitura também orientou nossas escolhas na curadoria.

Além disso, a chamada novíssima literatura contemporânea, diretamente influenciada pelo universo digital, também possibilita a leitura afetiva de que fala Jouve, por isso ela também tem presença garantida nesta coleção ao longo dos quatro volumes.

Clêiman (2013, página 12) nos lembra de que a leitura é mais do que um ato neurofisiológico, cognitivo, ela é um “ato social, entre dois sujeitos – leitor e autor – que interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados”. Acreditamos que seja função desta coleção didática e também a sua, educador, servir de mediadores entre esses dois sujeitos, separados muitas vezes pela distância e pelo tempo, facilitando/ possibilitando a comunicação entre eles.

Tomamos como princípio fundamental a ideia de que é papel da escola garantir o letramento literário de seus alunos. De acôrdo com Cosson (2009), se o objetivo do professor de literatura for, de fato, promover esse tipo de letramento, ele deve tomar alguns cuidados, e um dos mais importantes está relacionado à seleção dos textos. Nesse sentido, entendemos que o livro didático se apresenta também como um organizador dessa seleção textual, uma vez que é uma ferramenta privilegiada de auxílio ao professor, construído numa linha de trabalho didático-­pedagógica para responder às demandas de obtenção de conhecimentos pertinentes ao público a que se dirige.

Ainda segundo Cosson (2009),

reticências ser leitor de literatura na escola é mais do que fruir um livro de ficção ou se deliciar com as palavras exatas da poesia. É também se posicionar diante da obra literária, identificando e questionando protocolos de leitura, afirmando ou retificando valores culturais, elaborando e expandindo sentidos. Esse aprendizado crítico da leitura literária, que não se faz sem o encontro pessoal com o texto enquanto princípio de toda experiência estética, é o que temos denominado aqui letramento literário. (COSSON, 2009, página 120).

Os autores desta coleção concordam com a ideia de que cabe a um curso de Língua Portuguesa fornecer ferramentas para que o leitor (estudante) possa se “posicionar diante da obra literária”, e as atividades propostas nesta coleção concorrem para isso. Esse posicionamento dos alunos diante de um texto de ficção ou um poema é incentivado em seções, subseções e boxes como Desvendando o texto, Refletindo sobre o texto, Textos em conversa e Fala aí!.

Biblioteca do professor

CANDIDO, Antonio. Vários escritos. quarta edição Reorganizada pelo autor. São Paulo, Rio de Janeiro: Duas Cidades, Ouro sobre Azul, 2004.

Antonio Candido (2004), no ensaio “O direito à literatura” (página 169­‑191), defende que a arte das palavras é um direito humano, uma necessidade básica de todas as pessoas e que

reticências Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. (CANDIDO, 2004, página 174).

Candido associa, dessa fórma, a necessidade literária humana ao processo inconsciente de elaboração onírica, proposto pioneiramente por fróid em sua obra mais conhecida, A interpretação dos sonhos (1900). Para Antonio Candido,

reticências O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo [o da fabulação], independentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus ­níveis e modalidades, está presente em cada um de nós reticências. (CANDIDO, 2004, página 174).

Para a escolha dos demais gêneros, não literários, inseridos nos campos das práticas de estudo e pesquisa, jornalístico-midiático e de atuação na vida pública, consideramos a preocupação da Bê êne cê cê com a oferta de conhecimento para o melhor entendimento da sociedade, inclusive das práticas relativas aos direitos e deveres, e o objetivo de propiciar aos alunos condições de embasar seus trabalhos escolares e de prosseguir em seus estudos, de debater sustentando opiniões e reivindicações, de criar consenso e de avaliar a confiabilidade de fontes e informações, procedimento que ganha ênfase no contexto da pós-verdade (leia mais sobre o tema na seção Gêneros digitais, neste ême pê). São ações que concorrem para a efetivação das cê gê 5, 6 e 7 e cê e éle 3 e 6.

Da mesma fórma que fizemos em relação à seleção dos textos literários, procuramos, nos demais gêneros, observar a multiplicidade de culturas, como prevê o conceito de multiletramentos (rôjo, 2012). Assim, diversificamos a autoria, escolhendo autores e autoras de várias regiões do país; textos com diferentes graus de formalidade e diferentes expectativas de interação autor-leitor; textos mais prestigiados porque ligados a esferas institucionalizadas, como é o caso de um projeto de lei, ou menos, como um manifesto escrito por estudantes ou uma petição on láine. Também buscamos diversificar os textos provenientes das empresas de mídia, para favorecer o reconhecimento crítico de diferentes valores e ideologias.

Buscamos, igualmente, garantir que os textos desenvolvessem, pelo tema ou pelos encaminhamentos propostos na coleção, competências gerais essenciais defendidas pela Bê êne cê cê, sobretudo as que se relacionam ao autocuidado e ao autoconhecimento (cê gê 8), à empatia e à cooperação (cê gê 9) e à responsabilidade e cidadania (cê gê 10). É por isso que selecionamos textos como a agá quê Perfeição, no Capítulo 1 ou como os contos "Pega ladrão, Papai Noel" e "Trem fantasma", ambos no Capítulo 5, ou a carta de reclamação na seção "fóra da caixa" do Capítulo 6.

Valemo-nos aqui da percepção de que o estudante do Ensino Fundamental – Anos Finais, como indicam os documentos oficiais, está consolidando aprendizagens e se abrindo a novos olhares, em um momento em que se ampliam

reticências a autonomia intelectual, a compreensão de normas e os interesses pela vida social, o que lhes possibilita lidar com sistemas mais amplos, que dizem respeito às relações dos sujeitos entre si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente. (BRASIL, 2018, página 59).

O eixo da leitura continua sendo desenvolvido na seção intitulada Se eu quiser aprender mais. Mantém-se a exploração da leitura contextualizada, mas, para aprofundar a abordagem, privilegia-se determinado aspecto do gênero estudado que também se apresenta em outros. Trata-se de tópicos pontuais que foram, de modo ainda introdutório, abordados nas seções anteriores e são retomados por serem produtivos nas práticas de leitura e produção textual. Referimo-nos a aspectos como a divisão de frases e parágrafos, o uso de elementos de coesão e progressão, a manipulação de vozes no texto, a modalização, a intertextualidade, os procedimentos de argumentação e contra-argumentação, a articulação da linguagem verbal com outras, entre muitos outros. Como indica a Bê êne cê cê, o tratamento das práticas leitoras compreende, em inter-relação, as práticas de uso produtivo e reflexão (BRASIL, 2018, página 72); por isso, a seção se revela estratégica para aumentar a consciência dos alunos em relação ao uso da linguagem e concorre para uma interação cada vez mais instrumentalizada e ativa. A seção pode contar com a retomada de um ou dos dois textos estudados e com a ampliação para novos exemplos.

A seção Textos em conversa também está articulada ao eixo da leitura. Nela são apresentados textos que se comunicam com aqueles já estudados por seu tema ou contexto de produção. No volume de 9º ano, no Capítulo 6, “O mundo de dentro”, por exemplo, a leitura do conto psicológico “Medo”, de João Anzanello Carrascoza, é colo­cada em diálogo com uma uébinár em que psicólogas tratam da saúde mental de adolescentes. Já no volume do 8º ano, no Capítulo 3, “Direitos e deveres”, a leitura de parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (éca) conduz à leitura de gráficos sobre a educação no país, produzidos pelo Censo Escolar da Educação Básica. No livro do 7º ano, por sua vez, em seu Capítulo 1, “Quando o mundo fica estranho”, que tem como foco o gênero conto fantástico, há uma exploração do trabalho da escultora australiana Patricia pitchinini, baseado na criação de seres híbridos.

Como se nota, a seção Textos em conversa oferece aos alunos a oportunidade de entrar em contato com outros gêneros, além do central no capítulo, inclusive os não verbais ou multisse­mióticos, e favorece a ampliação do conhecimento sobre um tema, a comparação de práticas de linguagem, bem como de posicionamentos ideológicos e perspectivas, a reflexão sobre o papel social do produtor do texto etcétera Trata-se de uma seção propositalmente menos extensa, estruturada em questões que procuram estimular a leitura crítica, a inferência e contribuir para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes como leitores e investigadores do mundo que os rodeia.

Conforme já mencionado, associamos as práticas de leitura ao uso da língua e à reflexão sobre ela. Nesse sentido, a seção Falando sobre a nossa língua, destinada à análise linguística/semiótica, constitui mais uma etapa de construção da habilidade leitora. Os elementos linguísticos explorados nas atividades continuam contextualizados, oferecendo novas oportunidades de exploração do uso da língua para produção do sentido dentro dos vários projetos de dizer. Optamos por ações que respondem a comandos diversos, sendo a metalinguagem apenas um deles (leia sobre o tema na seção Falando sobre a nossa língua deste ême pê). Também aqui buscamos oferecer aos estudantes um conjunto amplo e significativo de gêneros e de linguagens, que incluem verbetes, fragmentos de textos em prosa (romance, conto, reportagem, resenha, artigo etcétera), poemas, transcrições de entrevista ou de cenas de filmes, memes, anúncios, agá quês etcétera Essa mesma lógica de trabalho com leitura de gêneros diversos se aplica à seção fóra da caixa, em que há exploração de textos e de publicações, por exemplo, em plataformas digitais. Essa seção será também abordada, neste ême pê, no tópico sobre meu ou minha [nome do gênero] na prática.

Nas seções Minha canção e Conversa com arte exploram-se outras práticas leitoras, ligadas à arte. Nelas, é proposto um trabalho com linguagens artísticas diversas, como música, pintura, fotomontagem, dança, arquitetura, cinema, escultura etcétera São seções que atendem ao objetivo de abordar as linguagens menos com a perspectiva do componente curricular e mais com a de área, como sugere a Bê êne cê cê. Nesse contexto, a leitura é vista como atividade ­ampla, que não diz respeito apenas à linguagem verbal e às linguagens a ela articuladas. Essas seções serão abordadas mais detidamente neste ême pê sob o título Linguagem: esse objeto tão complexo.

Reforçamos, ainda, que os gêneros e textos da coleção foram intencionalmente selecionados para demandar, progressivamente, processos mentais de leitura cada vez mais exigentes e sofisticados. Procuramos ampliar a complexidade do texto no que tange à temática, ao vocabulário e à estrutura sintática, aos recursos estilísticos, às relações com outros textos e outras linguagens.

Um exemplo de como a coleção lida com essa progressão na leitura, mesmo quando os alunos são convidados a revisitar textos de mesmo gênero, é o trabalho com contos. Neste volume de 6º ano, a leitura do conto possibilita que os estudantes retomem a estrutura básica da narrativa, com a qual estão, em geral, familiarizados; no 7º ano, é introduzida ao estudante a leitura de um subgênero, o conto fantástico, por meio do qual ele precisa lidar com a relação que o autor estabelece entre um mundo real e um universo fantasioso (é nesse momento que o conceito de verossimilhança ganha ­primeiro plano); no 8º ano, por sua vez, introduz-se um gênero derivado do conto, o miniconto, por meio do qual o estudante retoma a estrutura básica da narrativa, para observar outro projeto de formulação literária, caracterizado pela estrutura lacunar que necessita ser “preenchida” por um leitor mais experiente.

No 9º ano, finalmente, o aluno já está preparado para ser inserido no universo do conto psicológico, cuja estrutura é, em geral, convencional, mas a temática é bem mais complexa porque nesse subgênero há um jogo entre o mundo exterior dos personagens e o interior. Além disso, nesse último ano, o estudante entra em contato com a leitura de outro subgênero, o conto de ficção científica, que também tem, em geral, estrutura convencional, mas apresenta temática mais sofisticada porque está ligada à ciência, além de dialogar com a chamada cultura de fãs (presente no mundo juvenil). Dessa fórma, ainda que o aluno esteja – ano a ano – revisitando o mesmo gênero, neste caso o conto, ele o faz com diferentes objetivos e estratégias de leitura.

Esperamos, assim, contribuir para que os estudantes selecionem – com competência, procedimentos de leitura adequados a seus objetivos e ancorados nas experiências anteriores de leitura – textos cada vez mais desafiadores. Desejamos que eles se coloquem diante dos textos como leitores ativos, que interagem de maneira crítica e se sintam seguros e estimulados para se posicionarem e compartilharem suas conclusões e impressões com outros leitores.

Produção de textos

Assim como a leitura/escuta, a produção de textos orais, escritos e multissemióticos é uma atividade interativa de expressão. Como aponta córh e Elias (2010), na concepção atual de língua e linguagem a escrita não é mais

reticências compreendida em relação apenas à apropriação das regras da língua, tampouco ao pensamento e intenções do escritor, mas, sim, em relação à interação escritor-leitor, levando em conta, é verdade, as intenções daquele que faz uso da língua para atingir o seu intento sem, contudo, ignorar que o leitor com seus conhecimentos é parte constitutiva desse processo. (córh; ELIAS, 2010, página 34).

É com a atenção nesse leitor, mesmo quando sua participação está resumida à audição ou à leitura, que o produtor do texto define o que vai falar ou escrever, materializa esse planejamento e reelabora o que julga ineficiente para se comunicar. Por isso, o estudo do texto não pode ser dissociado da consideração das práticas sociais em que surge.

Da mesma fórma, como demarca a Bê êne cê cê, o estudo do texto não pode se afastar das práticas de leitura e de análise linguística/semiótica, já que a produção de um texto em determinado gênero demanda a compreensão de suas características temáticas, composicionais e estilísticas estáveis, para que, a partir disso, ocorra o emprego produtivo de tais aspectos. Além disso, o desenvolvimento da linguagem demanda a participação em atividades que promovam a manifestação verbal de ideias, informações, intenções, crenças, sentimentos a partir da análise e compreensão de textos diversos.

O eixo de produção de textos, na coleção, desenvolve-se, principalmente, na seção meu ou minha [nome do gênero] na prática (por exemplo, Minha charge na prática), entendida como desdobramento das seções Leitura, Se eu quiser aprender mais e Falando sobre a nossa língua. Nela, os estudantes são orientados a produzir um texto do mesmo gênero estudado na seção ou nas seções Leitura do capítulo. Essa escolha de um gênero de foco se torna elemento organizativo da ação docente em sala de aula, proporcionando o acréscimo gradativo de diferentes fórmas de explorar a leitura e a produção textual oral, escrita e/ou multissemiótica.

Entendemos que produzir um texto supõe, como explica Antunes (2003), uma sequência de etapas interdependentes e intercomplementares, que se inicia com a “vontade do dizer” de certo produtor em dada situação de comunicação e interação (que lhe dará as condições de escolher e definir em qual gênero concretizará esse dizer), passa pelo planejamento e pela escrita/fala propriamente dita e chega ao momento posterior da revisão e da reelaboração. Por isso, a proposta de produção apresenta o objetivo da escrita e o contexto de circulação, seguidos por etapas que orientam a produção, a reescrita e a divulgação. Consideramos que em parte significativa dos capítulos os estudantes produzirão um texto do gênero pela primeira vez. Por isso, optamos por propostas que detalham os encaminhamentos para que eles possam delimitar o tema; selecionar, organizar e hierarquizar informações; identificar o nível de linguagem adequado; escolher o estilo em função de seu projeto de dizer; empregar os recursos linguísticos necessários à coesão, à progressão e aos efeitos de sentido desejados, entre outros.

A preocupação didática em detalhar os passos da produção textual – assumida nesta coleção – responde ao que defende (2010), inspirado em Chinêuli (2004). Segundo o ­autor, a explicação das condições de produção textual é que fornece a base a partir da qual devem e podem ser trabalhadas e ensinadas na escola as diferentes etapas do processo de produção. Gêneros primários, de uso mais cotidiano, dispensam ou, no mínimo, simplificam essas etapas de produção, enquanto a condição final dos gêneros secundários escritos e orais, dos quais se ocupa a escola, depende de como se respeitou cada uma das funções dessas etapas.

O processo de planejamento, exposto na subseção Momento de produzir, está dividido em etapas: Planejando meu ou minha [nome do gênero], Elaborando meu ou minha [nome do gênero] e Revisando meu ou minha [nome do gênero] (por exemplo, Planejando nossa ­charge, Elaborando nossa charge e Revisando nossa charge).

Na primeira subseção, é exposto um quadro sintético, em que se articulam observações teóricas e orientações práticas. A finalidade não é uma abordagem transmissiva, mas recuperar e organizar, na coluna referente à teoria, observações já construídas pelo estudante nas seções de leitura anteriores. Na segunda coluna, com orientações intencionalmente sintéticas, procuramos estimular a reflexão do aluno antes que ele inicie o processo de escrita/fala, chamando a atenção para pesquisas necessárias à abordagem temática e levando-o a considerações sobre a construção do sentido e a recepção (linguagem, efeito, fórma de circulação etcétera). Para escrever, falar ou articular linguagens, o sujeito deve, entre outros fatores, estar consciente dos objetivos que pretende alcançar, do lugar social que ocupa (ou assume), do leitor presumido, do veículo ou mídia de circulação, do campo de atividade em questão, como também dos aspectos composicionais e dos recursos estilísticos associados ao gênero.

Pensando na progressão da aprendizagem e nos gêneros que demandam maior repertório de informações, especificamente no 8º e 9º anos, introduzimos em parte dos capítulos uma seção denominada Preparando o terreno, que antecede meu ou minha [nome do gênero] na prática. Nela os alunos são orientados a realizar uma pesquisa, fazer uma entrevista etcétera com o objetivo de se apropriar de informações seguras que servirão para a produção textual que será feita na etapa seguinte. Assim, no Capítulo 4 do volume do 9º ano, “História de vida”, cujo foco central é o gênero biografia, os estudantes são orientados a como selecionar e abordar de fórma adequada um entrevistado, elaborar um roteiro de perguntas para a entrevista e efetuá-la. Esse material servirá para a produção de uma biografia.

Dando prosseguimento ao encaminhamento, na etapa Elaborando meu ou minha [nome do gênero], introduzimos comandos que orientam a escrita do texto, muitas vezes evidenciando a ordem de entrada das informações, as relações que devem ser estabelecidas entre elas e, também, os elementos linguísticos que devem ser mobilizados. Conduzir esse processo é menos um meio de levar o aluno ao sucesso no texto que produz e mais uma ferramenta de metacognição, destinada a criar ou consolidar procedimentos para a produção textual.

Na etapa Revisando meu ou minha [nome do gênero], de acôrdo com o que orienta a Bê êne cê cê, chamamos a atenção dos alunos para recursos produtivos para o gênero textual que está sendo produzido: aspectos da norma-padrão sobre os quais o estudante deve refletir para que possa decidir de fórma consciente acerca de seu uso ou não naquela situação comunicativa (por exemplo, retomada de regras da concordância verbal, importantes para a produção de um gênero textual mais formal), ou retomamos recursos relativos à coesão (uso de sinônimos e hiperônimos para evitar repetições sem efeito estilístico).

Essas etapas são sucedidas pela subseção Momento de reescrever/reelaborar, composta de orientações para avaliação e reescrita da produção. Na etapa Avaliando meu ou minha [nome do gênero], o aluno encontrará um quadro com critérios relativos ao cumprimento da proposta (rubricas de correção), que será usado por ele mesmo, um colega ou um grupo para analisar a produção, reconhecendo aspectos bem-sucedidos e dando sugestões para o aprimoramento dos demais. O principal objetivo dessa etapa é contribuir para que o estudante desenvolva habilidades de revisão e ganhe autonomia no reencaminhamento da própria produção. Nossa experiência de sala de aula mostra que ao analisar criticamente, com o devido distanciamento, um texto que não é dele o aluno também aprende a se autoavaliar.

O estudante passa, então, à etapa Reescrevendo meu ou minha [nome do gênero], na qual ocorre o processo de reescrita, resgatando os comentários feitos pelo colega ou pelos colegas e as soluções que observou nas produções dos demais e considerou produtivas também para o próprio texto. Como se vê, a orientação das produções de textos atende a algumas importantes habilidades citadas pela Bê êne cê cê em vários campos.

O processo de avaliação, revisão e reescrita do texto considera, ainda, os aspectos linguísticos/semióticos, sobretudo os pertinentes à apropriação da linguagem escrita. O aluno que avalia seu colega deve indicar equívocos relativos à segmentação, ortografia, concordância verbal etcétera, e a turma é orientada a consultar dicionários, gramáticas e o professor, em caso de dúvida. O aspecto linguístico, entretanto, não está incluído concretamente no quadro de critérios de avaliação (rubrica de correção), porque nossa experiência como professores de língua portuguesa mostra que, nessa etapa do desenvolvimento cognitivo, os estudantes, em geral, ainda não têm pleno domínio das orientações da norma-padrão nem das amplas e várias modificações que os falantes provocam nela nas diversas situações comunicativas. Entendemos que, neste momento, seja trabalho do professor de Língua Portuguesa, um especialista, analisar o uso da língua pelo produtor do texto e aceitar ou não, de acôrdo com seus objetivos pedagógicos, desvios em relação às regras, considerando não apenas aspectos relativos ao gênero produzido e à situação de comunicação em que se insere, como também particularidades do desenvolvimento da turma.

Atingimos, por fim, a etapa de divulgação (“publicação”) do texto, intitulada Momento de apresentar, na coleção. Ela retoma a orientação inicial e expõe orientações específicas para a ­elaboração do material: será uma coletânea impressa? Uma postagem em blógui? Um mural, uma roda de leitura, uma apresentação pública oral do texto?, entre outras várias fórmas de publicação de um texto no mundo atual. Nesse ponto, o professor contará com a ajuda de alunos que formarão equipes de “editores” responsáveis por recolher e organizar os textos feitos pelos colegas, produzir explicações da atividade e sumários, dar acabamento ao produto impresso ou deixar o material digital pronto para postagem. As equipes devem ser formadas a cada atividade, para que todos possam experimentar o lugar de editores.

Além do aprendizado linguístico, as etapas envolvidas na produção do texto promovem habilidades socioemocionais relativas às cê gê 9 e 10, principalmente. O aluno desenvolve habilidades como a resiliência e a autonomia no trato com a própria produção, quando tem a oportunidade de planejar efetivamente um texto, revisá-lo e aprimorá-lo. Também desenvolve o diálogo e a cooperação, ao avaliar um parceiro ou ser submetido à avaliação dele. Exercita novamente o diálogo e, muitas vezes, a empatia e/ou a alteridade, quando precisa entrevistar pessoas ou fazer pesquisas para desenvolver seus temas ou se colocar em outra posição a fim de construir seus narradores, sujeitos poéticos e personagens. Exercita, ainda, a responsabilidade e a flexibilidade quando fórma equipes de trabalho coletivo. Às competências citadas, acrescenta-se também a cê gê 8 se consideramos que os vários temas e propostas propiciam a oportunidade de o aluno ampliar sua consciência sobre si mesmo e sobre os outros sujeitos, aprendendo a lidar com as emoções, a agir com autocrítica, a rever preconceitos, a valorizar outras culturas e saberes, entre outros fatores.

Em consonância com competências definidas pela Bê êne cê cê (cê gê 5, cê e éle 6 e cê e éle pê 10), um dos objetivos da coleção é levar o aluno a compreender e utilizar tecnologias digitais da informação e comunicação. Por isso, em algumas produções, criamos situações em que os estudantes devem recorrer a softwares de edição de texto, imagem e/ou áudio para explorar recursos de mídia. Outro ponto fundamental relativo ao universo digital é a consideração de que as práticas de linguagem contemporâneas envolvem novas possibilidades de interação e de produção, inclusive pelo processo de réplica e remixagem (em sentido amplo). Como espaço, em tese, democrático, a internet favorece o acesso e a possibilidade de inclusão de conteúdos, mas em contrapartida exige o desenvolvimento de novas habilidades para uso ético e crítico (leia mais sobre esse ponto e o citado no parágrafo anterior na seção “Gêneros digitais”, neste ême pê). Não obstante, assim como ocorreu com o eixo da leitura/escuta, procuramos oferecer ao professor alternativas para a realização de propostas multimidiáticas quando supusemos dificuldades relativas aos equipamentos necessários.

Os temas e práticas propostos pela coleção foram definidos de acôrdo com o universo do estudante e/ou da comunidade em que ele se insere, buscando-se a interação do produtor com outros falantes, ou foram previstos com o fim de ampliar o universo de expectativas do aluno para torná-lo receptivo a novas práticas de linguagem. Cumpre lembrar, ainda, que os gêneros escolhidos inserem-se nos diversos campos de atuação, o que favorece ações variadas, como o desenvolvimento do senso estético, a ação cidadã, a defesa de pontos de vista, o uso crítico de tecnologias digitais de informação e comunicação, a qualificação das práticas de pesquisa etcétera, no que nos aproximamos das cê e éle 4, 5 e 6.

Oferecemos, ainda, a seção móvel E se a gentereticências?, por meio da qual são propostas atividades e/ou ações individuais ou coletivas de leitura e produção variadas (e de diversos tamanhos), como pesquisa, enquete, anotações, retextualização etcétera, dependendo do gênero em estudo. Em geral, essas propostas exigem atitude investigativa e protagonismo dos alunos. Em alguns momentos, ela serve para “aquecer” uma abordagem, sensibilizando o estudante; em outros, a seção tem a função de aprofundar ou retomar certas aprendizagens; ela pode, ainda, servir para realizar uma investigação de determinados universos ligados a um gênero em foco.

Assim, no Capítulo 1 do 7º ano, “Quando o mundo fica estranho”, a seção E se a gentereticências? convida os alunos a produzir, em grupos, um regulamento para um concurso de contos. Com isso, garante-se uma maior motivação dos estudantes na sua produção textual do gênero em foco (no caso, o conto fantástico), uma vez que eles produzirão um texto a ser inscrito em um concurso escolar de contos. No Capítulo 2 do 7º ano, “Registrar o que acontece”, por sua vez, os alunos precisarão analisar diversos jornais impressos mediados pelo professor e pela própria coleção, de modo que poderão recuperar seus conhecimentos prévios e ampliar sua familiarização com esse veículo antes mesmo de iniciar as leituras e a produção sobre o gênero notícia.

Outra seção que diversifica o processo de aprendizagem dos educandos é fóra da caixa, que aparece algumas vezes em cada um dos volumes. Seu objetivo principal é superar a fragmentação do conhecimento por meio da orientação de prática de pesquisas de campo21nota de rodapé ou de pesquisas bibliográficas realizadas em fontes abertas ou dirigidas. Em geral, são atividades feitas com o objetivo de qualificar a escolha dessas fontes, a avaliação das informações (inclusive combatendo as fêique níus) e o registro delas, respeitando as várias vozes e os direitos pela produção intelectual.

Também é propósito da seção o contato com documentos diversos, muitas vezes dos campos da lei e da ciência, com base nos quais propõem-se problemas que precisam ser analisados e resolvidos coletivamente. As atividades, que em algumas oportunidades adquirem características de miniprojeto, preveem leituras mais complexas e soluções que devem ser comunicadas ao grupo, à comunidade escolar ou a públicos maiores (quando se prevê, por exemplo, a divulgação em podcast) por meio de textos escritos, orais ou multissemióticos, de caráter artístico ou não, cuja efetivação como meio eficiente de comunicação será posta à prova.

Nessa seção, o aluno exercita a curiosidade intelectual e emprega diferentes linguagens, inclusive aquelas relativas ao campo digital, para disseminar informações, partilhar experiências, negociar e defender ideias, entre outras práticas. Os temas escolhidos estão alinhados às preocupações com a cidadania, promoção de direitos humanos, consciência socioambiental e consumo responsável. Comunicam-se, dessa fórma, com as competências gerais apresentadas pela Base. No Capítulo 3 do 7º ano, “Um bate-papo planejado”, após discutirem o tema do bullying envolvendo crianças e adolescentes e, portanto, já sensibilizados pelas questões relativas ao desrespeito a direitos e deveres, os alunos conhecem um fragmento do estatuto do idoso, pesquisam seu contexto de criação e, finalmente, produzem um podcast para divulgação de informações com o fim de esclarecer seus ouvintes quanto a essa importante questão social.

Como se nota, a seção mobiliza conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para se efetivar. Embora toda a coleção esteja orientada por esse princípio, vemos nela, especificamente, um espaço privilegiado para o desenvolvimento de competências que visam, como propõe a Bê êne cê cê,

reticências aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. (BRASIL, 2018, página 14).

Nas seções Minha canção e Conversa com arte, já mencionadas no tópico sobre leitura, o aluno também é convidado a produzir, novamente considerando contextos específicos de produção. Parte dessa produção é verbal, parte multissemiótica, como a criação de um vidding com cenas de filmes. Além disso, o aluno se expressará empregando outras modalidades de linguagem, como a escultura, que exemplifica as artes visuais, ou a coreografia, que exemplifica a linguagem da dança (leia mais sobre o tópico em “Linguagem: esse objeto tão complexo deste ême pê).

Os boxes Fala aí! e Desafio da linguagem também constituem momentos em que os estudantes terão de produzir textos orais e escritos. O primeiro propõe debates que, em geral, envolvem aspectos morais, éticos e estéticos, com a intenção de estimular a argumentação e a contra-argumentação relativa aos vários pontos de vista, temas e dilemas que se apresentam nos textos lidos. Trata-se de mais um instrumento para estimular a disposição à leitura ativa e à manifestação acerca dela e o engajamento em uma atividade que exige participação respeitosa. No Capítulo 1 do 9º ano, “História tem ­contexto”, por exemplo, depois de lerem e analisarem uma passagem do romance A máquina, de Adriana Falcão, os alunos são convidados a discutir oralmente os motivos que poderiam levar alguém a deixar sua terra natal, além de se posicionarem se gostariam ou não de migrar.

De maneira diferente, mas com parte dos objetivos em comum, o segundo boxe, Desafio da linguagem, propõe ao aluno alguma interferência em um dos textos estudados no capítulo, a produção de um pequeno texto recorrendo a um tópico gramatical em estudo ou a produção de um texto (verbal, esquema etcétera) com base em tema ou texto em estudo. O Desafio da linguagem, em geral, conta com orientações pontuais de organização de texto, inclusive no que tange à segmentação e ao uso de recursos de substituição e progressão. É uma oportunidade para que o trabalho com a escrita se torne ainda mais intencional e frequente, favorecendo a apropriação da linguagem escrita.

Como professores, sabemos da importância de situações de escrita mais sintéticas e pontuais para progressivamente ir desenvolvendo nos estudantes a busca de soluções expressivas e a capacidade de revisar o próprio texto e aprimorá-lo conforme escutam correções ou soluções encontradas por terceiros. Nossa experiência mostra, também, que não são poucos os alunos do Ensino Fundamental – e até do Ensino Médio – que têm dificuldade de produzir textos mais extensos; daí a importância de atividades como as propostas na atividade Desafio da linguagem. Ao longo destes quase trinta anos de sala de aula, percebemos concretamente o crescimento dos alunos na produção de textos complexos quando têm a oportunidade de trabalhar segmentação, recursos de substituição e progressão textual em produções menores.

Um exemplo de atividade desse tipo está no Capítulo 1 deste volume do 6º ano, "O registro do eu no mundo", em que os alunos serão convocados a criar um parágrafo imaginando-se no lugar de isláta e relatando a dificuldade de cuidar de um animal de estimação durante um conflito. Para isso, receberão instruções bastante objetivas como: "Identifique o melhor ponto do texto para incluir seu parágrafo, tomando cuidado para não interromper a exposição de uma ideia."; "Como você está dando continuidade ao texto, mantenha-se coerente com suas características: use a primeira pessoa e procure misturar fatos, impressões e opiniões, como faz isláta.".

Além das propostas de produções já apresentadas, menos ou mais formais, pertinentes às seções e boxes descritos, ainda devemos considerar a produção escrita ou oral feita nas várias seções presentes nos capítulos. Nelas, comandos diferentes propõem ao aluno a elaboração de respostas escritas com diferentes objetivos: transcrever, identificar, comparar, explicar, justificar, opinar etcétera

Incluímos ainda, em várias seções da coleção, especialmente no 7º e 8º anos, orientações voltadas à produção de esquemas para organização de informações disponíveis em textos lidos pelos alunos, entendendo que se trata de uma atividade que envolve hierarquização, síntese e relação entre dados, além de funcionar como ferramenta para os estudos.

Reforçamos ainda que, da mesma fórma que procedemos com a progressão em relação à leitura/escuta, criamos estratégias para que os alunos pudessem, gradativamente, do 6º ao 9º ano, desenvolver produções textuais cada vez mais complexas. Um exemplo disso é o trabalho realizado com a habilidade de Língua Portuguesa ê éfe seis nove éle pê dois três, ligada à “escrita de textos normativos”, ou seja, de “regimentos e estatutos de organizações da sociedade civil do âmbito da atuação das crianças e jovens (grêmio livre, clubes de leitura, associações culturais etcétera)” e de “regras e regulamentos nos vários âmbitos da escola – campeonatos, festivais, regras de convivência etcétera, levando em conta o contexto de produção e as características dos gêneros em questão” (BRASIL, 2018, página 147).

No 6º ano, no Capítulo 8, após estudarem os comentários de leitor, com ajuda do professor e coletivamente, os alunos produzem um regulamento para regrar os comentários no fórum do blógui da turma. Antes, no Capítulo 6, eles já tiveram oportunidade de ler um trecho do Código de Defesa do Consumidor para conhecer, de modo ainda inicial, a linguagem e a estrutura de textos legais.

No 7º ano, dando sequência ao que haviam feito no final do ano anterior, os estudantes, reunidos em grupos e com ajuda do professor, analisam um regulamento para concurso de redação. Em grupos, eles montam regulamentos para um concurso de contos a ser promovido na escola que resultará em um evento – mostra com fotomontagens para divulgação dos vencedores do concurso.

No 8º ano, por sua vez, os alunos estudam detidamente, como gêneros centrais em foco, um trecho de estatuto (no caso, do Estatuto da Criança e do Adolescente) e um regulamento para uso de biblioteca pública. Depois, criam um projeto para uso de alguma área da escola que seja de interesse da turma (local para clube de leitura, uso da quadra em momento em que está vazia, uso da cantina para aulas de culinária etcétera); analisam o regimento da escola; criam um regulamento para o uso que desejam fazer do espaço; apresentam o projeto a outras turmas; elegem um projeto para representar o grupo todo de estudantes; escrevem uma petição para mostrar o interesse deles; produzem e defendem o projeto junto à direção da escola, apresentando a petição e o regulamento finalizado.

Já no 9º ano, aproveitando o gênero charge, os estudantes refletem sobre o humor e memes. Depois, levando em conta tudo o que aprenderam nas experiências anteriores com a escrita de regulamentos, eles vão, finalmente, fazer o último regulamento do Ensino Fundamental. Para isso, vão ler mais um exemplo de regulamento – trata-se de um texto para concurso de microcontos de humor da cidade de Piracicaba. Daí elaboram o próprio regulamento para um concurso de charges e memes a ser realizado na escola.

Oralidade

O eixo de oralidade está integrado aos eixos Leitura/Escuta e Produção de textos, explorados anteriormente, e também ao da análise linguística/semiótica, que será tratado a seguir. Tivemos a preocupação de contemplá-lo em quase todas as seções e em inúmeros boxes espalhados ao longo das páginas. Seguindo o que aponta marcusqui (2002), entendemos que uma abordagem consistente da oralidade é fundamental para que os aprendizes tenham uma visão plena da heterogeneidade da língua e completem a aquisição dos procedimentos cognitivos necessários ao leitor/produtor de textos.

Na coleção são estudados formalmente gêneros textuais orais diversos, como o seminário, a palestra, a entrevista e o debate, por exemplo. Sua abordagem põe em destaque os diferentes processos de interação – interação frente a frente, fala para público sem interrupção, fala editada etcétera –, com base nos quais se discutem o papel do falante, a troca ou não de turnos e as relações entre tais fatores e a qualidade da interação.

Estudam-se também situações de oralização de textos em diferentes contextos, como a produção de pódikests, resenhas em vídeos e peças teatrais. As situações de oralidade apresentam-se inseridas nos diferentes campos de atuação.

A exploração das semelhanças e diferenças entre as modalidades oral e escrita, bem como sua articulação, ocorre em vários momentos, sendo objeto de destaque neste volume do 6º ano, em que a seção Falando sobre a nossa língua, do Capítulo 2, “Imagens e palavras em ação”, é dedicada ao estudo das marcas de oralidade nos textos, decorrentes principalmente do fator tempo de planejamento. A abordagem ao longo dos quatro anos converge para a percepção de que a construção de sentidos em textos orais está relacionada a elementos como entonação, pausas, qualidade da voz, ritmo e velocidade da fala, além de se vincular a outras semioses, como gestualidade, expressão corporal e facial e recursos multimidiáticos, por exemplo.

Temos consciência, porém, de que encontramos limites bastante concretos impostos pela natureza de um material impresso. A exploração plena da oralidade conta necessariamente com áudios e vídeos, logo com equipamentos de produção e reprodução que nem sempre estão à disposição de professores e alunos de todas as escolas. Por esse motivo, optamos por sugerir a você, sempre que possível, alternativas que atendam tanto aqueles que podem fazer esse uso sempre ou eventualmente como aqueles que não têm tal possibilidade.

Para tanto, valemo-nos de uma estratégia bastante útil: o uso de transcrições, um procedimento que vale a pena detalhar. Convém, a princípio, distinguir transcrição do procedimento da retextualização, abordado por marcusqui (2007). A retextualização caracteriza-se, segundo esse estudioso, por uma série de operações, de diferentes graus de complexidade, envolvidas no processo de adaptação de um texto da modalidade escrita para a oral e vice-versa. Entre essas operações, estão a eliminação de repetições e de marcas estritamente interacionais, a introdução da pontuação e da paragrafação, a reconstrução de estruturas truncadas. Esse procedimento, realizado correntemente nas práticas sociais, visto que muitos textos são produzidos oralmente e só depois adaptados para a fórma escrita, constitui, nas aulas de Língua Portuguesa, uma rica estratégia de ensino, pois evidencia as diferentes modalidades e leva o aluno a recorrer a diversos conhecimentos para efetuá-lo. Nesta coleção, a retextualização está presente em algumas atividades que propõem a transposição de material. Por exemplo, no Capítulo 4 do volume de 9º ano, “História de vida”, os alunos são orientados a fazer uma entrevista e posteriormente utilizar esse material para compor uma biografia. Outro exemplo está no volume do 8º ano, no Capítulo 4, “Investigar para aprofundar”, em que o estudante retextualiza sua reportagem filmada, transformando-a em uma reportagem escrita.

Para o tratamento de textos orais, no entanto, adotamos o uso das transcrições, termo que corresponde, nesta coleção, à ação de transpor para o papel o texto oral, mantendo parte significativa de suas marcas originais: repetições, hesitações, marcadores conversacionais, abandono de estruturas iniciadas, entre outras. Você notará que, em alguns momentos, informamos também as supressões de sílabas (ao grafar “tá” por “estar”, por exemplo) e ênfases, procurando, dentro do possível, sugerir alguns dos aspectos paralinguísticos.

Da mesma fórma, acompanhando as transcrições, incluímos imagens ou ilustrações que evidenciam, ainda esbarrando nos limites do texto impresso, aspectos cinésicos. Ao utilizar esse recurso, recuperamos parte das expressões faciais e do gestual do falante, permitindo que a atividade contemple parcialmente aspectos relativos à interação das várias semioses.

A despeito desse uso, recomendamos, por meio de orientações no éle Ê ou no “U”, que os textos (disponíveis gratuitamente na internet) sejam ouvidos e, quando for o caso, também vistos, já que assim são exploradas gamas mais amplas de elementos. Algumas sugestões de atividades complementares, pensadas para aproveitar produtivamente esses fatores, estão ali anotadas.

Concluímos alertando que, em alguns poucos casos, quando demandado pela habilidade prevista pela Bê êne cê cê, optamos por considerar que a atividade só poderia ser feita com o acesso ao texto original, por suas particularidades (um filme pertencente a campanha publicitária, por exemplo). Nesse caso, pedimos a você que busque uma fórma de acesso.

Análise linguística e semiótica

As atividades de reflexão sobre a língua estão presentes nas várias seções da coleção e seguem a mesma proposta de exploração ativa e de diversidade. No entanto, a análise linguística e semiótica se dá de fórma mais evidente em três momentos:

  1. no estudo dos gêneros, dentro das seções Leitura 1 e Leitura 2, em que são propostas explorações de recursos linguísticos que contribuem para a construção do sentido do texto;
  2. na etapa de revisão textual, dentro de meu ou minha [nome do gênero] na prática, em que são explorados sucintamente tópicos relativos ao uso consciente e produtivo da norma-padrão;
  3. no estudo de tópicos linguísticos, dentro da seção Falando sobre a nossa língua.

Sabemos que o estudo dos gêneros favorece a exploração de variados aspectos linguísticos e semióticos que se entrelaçam para a construção do sentido e, por isso, não perdemos a oportunidade de explorá-los. Entretanto, os textos analisados evidentemente impõem um limite de fenômenos que podem ser estudados. Essa contingência levou-nos a optar pela exploração da análise linguística e semiótica em uma seção específica, na qual um mesmo fenômeno é explorado a partir do gênero estruturante do capítulo, mas também explorado em textos de variados gêneros, em um movimento em que estes não perdem espaço, mas ganha destaque o estudo da fórma como determinados aspectos linguísticos são mobilizados nas várias construções. A seguir, vamos detalhar como essa segunda proposta se efetiva e com que linhas teóricas ela dialoga.

Na linha do que propõe rôjo (2004), entendemos que os eixos de Leitura/escuta e Produção de textos e da Análise linguística/semiótica são complementares. Segundo a estudiosa, o eixo de uso da linguagem abrange a exploração dos gêneros textuais desde a historicidade da língua e da linguagem em si, os aspectos do contexto de produção dos enunciados em leitura/escuta e de produção de textos orais e escritos, até as implicações na organização dos discursos e as implicações do contexto de produção no processo de significação.

Nessa mesma direção, Mendonça (2006) afirma que a análise linguística é uma alternativa complementar às práticas de leitura e produção de texto que possibilita a reflexão consciente sobre fenômenos gramaticais, textuais e discursivos que perpassam os usos linguísticos, seja no momento de ler/escutar, seja no de produzir textos ou no de refletir sobre esses mesmos usos da língua.

Ampliando essa visão, cabe ressaltar que, a partir da Bê êne cê cê, a prática de análise linguística reúne a análise dos processos de construção textual (oral, escrita ou multissemiótica), a reflexão sobre recursos linguísticos específicos, vinculados aos discursos mobilizados em diferentes textos, e a articulação entre as múltiplas semioses (usos da língua, sons, imagens, fotografias, vídeos etcétera), passando, portanto, a se constituir no eixo análise linguística/semiótica.

Ao apresentar os princípios dos quais partiu para definir tal eixo nos Anos Finais do Ensino Fundamental, o texto da Bê êne cê cê reforça, reiterando as práticas metodológicas de documentos curriculares anteriores,

reticências que estudos de natureza teórica e metalinguística – sobre a língua, sobre a literatura, sobre a norma-padrão e outras variedades da língua – não devem nesse nível de ensino ser tomados como um fim em si mesmo, devendo estar envolvidos em práticas de reflexão que permitam aos estudantes ampliarem suas capacidades de uso da língua/linguagens (em leitura e em produção) em práticas situadas de linguagem. (BRASIL, 2018, página 69).

Esta coleção segue esses princípios defendidos pela Bê êne cê cê, o que não significa que não existam momentos de sistematização, necessários ao ensino-aprendizado de qualquer língua. Como professores que atuam, na prática, com alunos reais, defendemos, assim como outros teóricos, que esses momentos de sistematização contribuem para a aprendizagem dos estudantes, favorecendo, entre outros aspectos, uma percepção mais consciente do uso pessoal que fazem da língua e uma tomada de decisão quanto a manter ou alterar, nos vários contextos de uso, as construções mais familiares. Além disso, a oportunidade de nomear determinados fenômenos linguísticos favorece, entre outros fatores, a análise e a compreensão deles, a comunicação do professor com os alunos nas correções que se fazem dos instrumentos avaliativos e até mesmo a aprendizagem de outras línguas por relação de comparação das estruturas.

Na seção Falando sobre a nossa língua, você notará que optamos por apresentar recortes teóricos, em geral breves, e momentos de resgate do conhecimento prévio dos estudantes sobre os fenômenos linguísticos em estudo. Isso não significa, em absoluto, que os estudos de natureza teórica que propomos ou de metalinguagem se tornaram fins em si mesmos, tampouco que engessaram ou tornaram técnica demais a lida com os fenômenos linguísticos, pois eles estão sempre envolvidos em práticas de reflexão com o objetivo de ampliar a capacidade de uso da língua e das demais linguagens, conforme a orientação dada em cada tópico.

Relembramos que, segundo Possenti (1996), há três perspectivas no ensino da língua: a normativa, a descritiva e a internalizada. O teórico defende que as três são úteis no ensino-aprendizagem desde que se privilegie a gramática internalizada, aquela que o falante já tem incorporada e viabiliza a interação. Segundo Possenti, a escola contribui para ela ao conduzir o aluno a “dominar efetivamente o maior número possível de regras” para que se “torne capaz de expressar-se nas mais diversas circunstâncias, segundo as exigências e convenções dessas circunstâncias” (POSSENTI, 1996, página 83). Caberia à gramática descritiva e à normativa secundar esse processo, e para isso a sistematização dos conceitos relativos à gramática não deve visar, primordialmente, à exposição de regras, mas à descrição e à discussão de fenômenos da língua, a fim de mostrar a flexibilidade daqueles diante das variadas instâncias de interação.

Nessa linha, reafirmamos que esta coleção tem como princípio a compreensão de que a metalinguagem e a aquisição da nomenclatura são recursos úteis para a organização e a exposição do pensamento sobre os fenômenos em estudo, sendo parte integrante, portanto, do processo que torna mais conscientes para o falante os conhecimentos que já têm internalizados e aqueles que está construindo, o que não implica a tomada desse conteúdo como o centro da aprendizagem. Concordamos com Banho (2009) quando afirma que a compreensão efetiva do fenômeno da linguagem deve ser “objeto e objetivo do ensino da língua” (Banho, 2009, página 16) e não acreditamos que, ao explorar esse conteúdo também em uma seção específica, estejamos contrariando tal orientação.

Assim como propõe a Bê êne cê cê em sua cê gê 2, entendemos que o aluno deve ser estimulado a recorrer “à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão e a análise crítica” para “investigar causas, elaborar e testar hipóteses”, como faz nos demais componentes curriculares. E, ainda citando a Bê êne cê cê, concordamos com a ideia de que nesta etapa da aprendizagem ocorre “o aprofundamento da reflexão crítica sobre os conhecimentos dos componentes da área, dada a maior capacidade de abstração dos estudantes”, e que a dimensão analítica pode se constituir em “práticas mais sistematizadas de formulação de questiona­mentos, seleção, organização, análise e apresentação de desco­bertas e conclusões” (BRASIL, 2018, página 62).

Nos textos cuidadosamente selecionados para as atividades de leitura/escuta e análise linguística/semiótica, privilegiamos as variedades urbanas de prestígio, considerando que cabe à escola oferecer ao aluno o convívio com as práticas de linguagem correntes nas situações sociais mais prestigiosas de fórma orgânica e sistemática. Acreditamos ser um direito dos estudantes ter acesso formal a elas para que possam acioná-las nas situações pertinentes e participar da maneira mais ampla e ativa das práticas sociais diversas. Assim, nos momentos de exposição didática e nos de construção de conhecimentos por meio das atividades, o aluno entra em contato com o que está previsto na norma-padrão e com sua efetivação real pelo grupo de prestígio nas variadas situações de interação (marcadas por diferentes graus de formalidade), o que lhe possibilita ampliar seu repertório e, simultaneamente, atentar para a flexibilidade da língua.

Com esse mesmo objetivo, propomos a observação de outras variedades linguísticas, abrindo a possibilidade de o estudante compreender a lógica que funda outras regras de funcionamento da língua, que podem, inclusive, ser as de sua própria comunidade e as utilizadas por ele nas mais variadas situações sociais. Tais variedades são tomadas como objeto de reflexão com abordagem semelhante à que se dá para as variedades urbanas de prestígio, de modo que o preconceito linguístico seja combatido. Concordamos, nesse ponto, com os estudos de Banho (2009), que lembra que

reticências uma educação linguística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar de diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos indivíduos particulares. (Banho, 2009, página 16).

Seguimos também a Bê êne cê cê quando propõe aos estudantes “compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos” (cê e éle pê 4) e “empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao interlocutor ou aos interlocutores e ao gênero do discurso/gênero textual” (cê e éle pê 5) (BRASIL, 2018, página 65).

Biblioteca do professor

Banho, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. quinquagésima edição São Paulo: Loyola, 2008.

Propomos a leitura dessa obra. Nela, Banho defende, entre outros pontos, que uma educação linguística precisa, para ser cidadã, considerar os modos de falar de diversos grupos sociais.

Nessa linha, a coleção procura associar os estudos da tradição às pesquisas mais recentes, respeitando sempre o grau de maturidade e de aprofundamento esperado para um aluno do Ensino Fundamental – Anos Finais. Em vários momentos, sinalizamos textualmente para você, no "U", que avanços há nos estudos e análises de aspectos da língua e justificamos nossa opção por apresentá-los ou não aos estudantes.

Do ponto de vista prático, a análise linguística e semiótica distribui-se ao longo de todos os capítulos, uma vez que a compreensão do sentido global de um texto também passa por ela. Ela é estimulada pelos comandos que conduzem as observações que devem ser feitas para atender a determinada atividade de leitura/escuta ou de produção.

Falando sobre a nossa língua, seção específica dedicada a essa análise, é iniciada por Começando a investigação, na qual o aluno é convidado a investigar de que fórma o fenômeno linguístico que será abordado no capítulo aparece no gênero textual em foco na sequência didática, por meio de atividades que recuperam conceitos e práticas já desenvolvidos em anos anteriores ou internalizados/intuitivos. A partir dessa reflexão inicial, desenvolvemos uma breve exposição didática, que se vale, conforme os propósitos do momento, de exemplos, esquemas ou quadros, bem como da problematização de alguns conceitos.

Um exemplo disso é o Capítulo 5 do volume de 9º ano, “Rir também é necessário”, em que o Falando sobre a nossa língua aborda o tópico “Pontuação”. O estudo se inicia com a subseção Começando a investigação, que convida o aluno a resgatar um texto que ele já estudou na seção Leitura 1. Trata-se da charge do artista Arionauro. Após essa investigação/retomada inicial, avança-se no estudo da pontuação, especialmente do emprego da vírgula, tema que já vem sendo tratado, mas que será, agora, alvo de sistematização. São explorados sinais que, embora presentes nos textos lidos e explorados em atividades, nem sempre são mobilizados nas produções dos estudantes. Pretende-se, com a explicitação das funções dos parênteses, do travessão e dos dois-pontos, estimular um uso consciente e produtivo desses recursos. No “U”, há o cuidado de informar que a exposição das relações entre aspectos melódicos e rítmicos dos enunciados e a pontuação, bem como das funções delas na estruturação semântica e sintática do texto escrito, é um tópico complexo para os estudantes do 9º ano e que, por isso, se optou, neste momento, por uma apresentação simplificada. Indica-se, ainda, uma leitura complementar sobre o assunto para enriquecer a Biblioteca do professor: a introdução do capítulo “Pontuação”, da Gramática escolar da Língua Portuguesa (2010, página 654 e 655), de Evanildo Bechara, para compreensão de alguns princípios gerais. Finalmente, na seção Investigando mais, o aluno entra em contato com textos de variados gêneros e suportes (notícia, postagem em blógui, poema, texto biográfico, trecho de reportagem etcétera) para que possa investigar o emprego das pontuações feito em produções que circulam em diferentes textos. Essa subseção conta, ainda, com os boxes Fala aí! e Biblioteca cultural, pensados para enriquecer as discussões propostas nesse segmento.

Note-se que parte significativa da aprendizagem se faz nessas atividades presentes em Investigando mais, que, propondo a leitura investigativa de textos de gêneros diversos, leva o estudante a articular o conhecimento que começou a mobilizar nas partes anteriores para entrar em contato com atividades que envolvem confirmação, ampliação e aprofundamento e estão focadas nos efeitos de sentido, na costura entre as partes do texto com vistas à retomada ou à progressão, na articulação das linguagens, no reconhecimento dos pontos de vista implícitos etcétera As atividades procuram destacar as opções linguísticas do produtor do texto, a fórma como as operou e o efeito que produziu. A exploração dos fenômenos gramaticais está, assim, inserida em um contexto de produção global de sentido e não em frases soltas, criadas artificialmente para a simples classificação dos fenômenos.

É importante reforçar que, para tais atividades, construímos um acervo de textos bastante variado, que inclui exemplos verbais, orais e multissemióticos e se estende de práticas mais situadas dentro da tradição àquelas relacionadas à cultura digital e à cultura juvenil.

Dois boxes complementam a seção de atividades. No já mencionado Desafio da linguagem, os alunos são convidados a recorrer ao que estudaram para “resolver” determinado “problema” por meio da produção de um pequeno texto. Em alguns momentos, essa atividade tem viés lúdico, mas sempre com clara intenção pedagógica.

Em A língua nas ruas, os estudantes são orientados a fazer uma pesquisa na mídia ou em sua comunidade para descobrir como determinado aspecto linguístico se efetiva nas práticas diárias. Neste volume do 6º ano, por exemplo, após retomar o estudo sobre sujeito simples, o aluno será convocado a prestar atenção nas falas das pessoas ao seu redor para verificar como é feita, na prática, a concordância entre o verbo e os sujeitos desse tipo. Depois, deverá anotar exemplos que chamem sua atenção e trazê-los para a aula. Ambos os boxes contam com orientações bastante objetivas para o professor tais como: “É provável que os estudantes tragam exemplos de orações em que há inadequações em relação ao que é previsto na norma-padrão. Anote algumas delas na lousa e, evitando o uso da palavra erro, discuta qual seria a fórma adequada a essa norma. Depois, explique a eles que, nas variedades populares, não é incomum que a ideia de plural seja expressa apenas por um dos termos, como ocorre em Os menino adora feijão-preto ou Nós pegou o ônibus errado. Reforce que o uso feito nas variedades urbanas de prestígio considera a concordância de todos os termos que podem ser flexionados no plural quando se deseja indicar esse número e que, como eles estão avançando em seus estudos, é interessante que se valham dessas fórmas que são prestigiadas. Não obstante, reafirme que não é correto considerar construções correntes nas variedades populares como inferiores ou precárias. A maior valorização de uma fórma em detrimento da outra, como eles já vêm estudando, reflete a maneira como a sociedade se estrutura”.

Vale destacar que optamos por retomar alguns aspectos como ortografia, acentuação, pontuação e algumas regras necessárias à aquisição da linguagem escrita ou à sua adequação aos contextos mais formais na etapa de revisão dentro da seção meu ou minha [nome do gênero] na prática. No processo de alfabetização, que se dá entre o final da Educação Infantil e ao longo do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o aluno é levado a perceber quais letras representam os sons da fala, ou seja, a compreender a relação fonema­‑grafema. Esse processo se desdobra na ortografização, que complementará o conhecimento da ortografia do português usado no Brasil. No Ensino Fundamental – Anos Finais, considera-se que esse processo está bem avançado, mas nossa experiência como professores tem mostrado que ainda são necessárias atividades que reforcem os conhecimentos dos elementos notacionais da escrita, relativos às regularidades e irregularidades ortográficas, ao uso dos acentos gráficos e ao emprego dos sinais de pontuação, sobretudo neste contexto pós-pandemia.

Por isso, ao longo dos volumes, como no Capítulo 3 do 9º ano, “Protagonizar”, por exemplo, na etapa Revisando nosso poema-protesto, o aluno é convocado a voltar ao poema que produziu a fim de revisar a escrita das palavras, prestando atenção, em especial, à acentuação. Para isso, retomam-se com o estudante, por meio de um boxe, informações como “Ocorre acento agudo no i e no u tônicos quando eles são a segunda vogal de um hiato e estão sozinhos na sílaba (ju-í-zo) ou são seguidos de s (fa-ís-ca). O acento não ocorre se a sílaba seguinte iniciar-se por êne agá (ra-i-nha) ou a anterior contiver ditongo (fei-u-ra).” e “Os ditongos éi, éu, ói, seguidos ou não de s, são acentuados nos monossílabos tônicos (céu) e nas sílabas tônicas das palavras oxítonas (len-çóis, a-néis).” No boxe É lógico!, ainda se conscientiza o aluno do pensamento computacional que está por trás da checagem de acentuação.

Enfatizamos, por fim, que procuramos seguir o agrupamento dos tópicos linguísticos previstos na Bê êne cê cê para o Ensino Fundamental – Anos Finais, o que significa que não estamos adotando uma sequência comumente ligada à tradição, segundo a qual se iniciam os estudos dos fenômenos linguísticos primeiramente pela abordagem das classes gramaticais, depois pela investigação da relação sintática entre elas. Dessa fórma, como preconiza a Base, procuramos associar as classes de palavras às suas funções sintático-semânticas e analisar o funcionamento delas percebendo a relação disso com fenômenos de concordância e regência, bem como com aspectos relativos à coesão, seja para efetivar retomadas, seja para garantir progressão textual.

Você perceberá, entretanto, que essa proposta não interfere nos conhecimentos que o aluno deve angariar no Ensino Fundamental – Anos Finais e que essa opção faz com que os saberes sejam aperfeiçoados e ensinados de modo mais produtivo. De qualquer fórma, optamos por inserir neste ême pê um quadro com os tópicos linguísticos que serão abordados em cada volume com o objetivo de familiarizar você com uma distribuição que pode parecer nova em um primeiro momento. Enfatizamos, ainda, que no quadro a seguir são identificados os momentos em que houve uma apresentação mais formal, de menor ou maior extensão, dos tópicos linguísticos em questão. Isso não significa que eles sejam abordados estritamente nas seções indicadas, já que são, como mencionamos anteriormente, o tempo todo objeto de investigação nas questões de leitura propostas aos alunos ao longo de toda a coleção. Lembramos, por fim, que as reflexões sobre linguagem, língua, variação linguística, adequação linguística e preconceito linguístico são a grande base dos livros que compõem esta coleção.

6º ANO

Capítulo

Falando sobre a nossa língua

Meu/minha [gênero] na prática

Se eu quiser aprender mais

1

• Comunicação, interação, linguagem e língua
• Linguagem verbal e linguagem não verbal

• Segmentação – parágrafos

• Segmentação – parágrafos

2

• Língua falada e língua escrita
• Turnos conversacionais
• Marcas típicas de oralidade
• Monitoração no uso da língua
• Termos referenciais e marcadores conversacionais

• Pontuação

3

• Variações linguísticas
• Preconceito linguístico

• Acentuação

• Segmentação – frases

4

• Frase, oração e período

• Conjunção

5

• Substantivo
• Adjetivo
• Numeral
• Artigo

• Concordância nominal

• Discurso direto e discurso indireto

6

• Verbo
• Verbo: tempo e modo

7

• Concordância verbal
• Sujeito

• Ortografia

• Denotação, conotação

8

• Substantivo
• Adjetivo

7º ANO

Capítulo

Falando sobre a nossa língua

Meu/minha [gênero] na prática

Se eu quiser aprender mais

1

• Sinônimos, antônimos, hiperônimos e hipônimos
• Denotação e conotação

• Segmentação – parágrafos

2

• Verbo
• Verbo: tempo e modo

• Verbo

3

• Predicado
• Verbos transitivos e intransitivos
• Complemento verbal

• Concordância verbal

4

• Pronome pessoal reto
• Pronomes pessoal oblíquo
• Pronome de tratamento

• Ortografia

5

• Advérbio
• Adjunto adverbial

• Pronome pessoal oblíquo como complemento verbal

6

• Pronome possessivo
• Pronome demonstrativo
• Pronome indefinido
• Adjunto adnominal
• Complemento nominal
• Concordância nominal

7

• Coordenação e subordinação – conceito
• Orações coordenadas assindéticas e sindéticas
• Conjunção

• Concordância nominal

• Paralelismo sintático

8

• Processos de formação de palavras – derivação e composição

• Conjunção

• Adjetivo
• Aposto

8º ANO

Capítulo

Falando sobre a nossa língua

Meu/minha [gênero] na prática

Se eu quiser aprender mais

1

• Figuras de linguagem – conceito
• Figuras de linguagem (metáfora, comparação, metonímia, sinestesia, gradação)

• Acentuação

2

• Figuras de linguagem (personificação/ prosopopeia, hipérbole, eufemismo, antítese, ironia)

• Vozes verbais e verbos pronominais

3

• Frase, oração e período
• Sujeito
• Concordância verbal

• Acentuação

4

• Vozes verbais e verbos pronominais

• Verbo: tempo e modo

5

• Preposição
• Verbo transitivo e verbo intransitivo
• Regência verbal
• Regência nominal
• Crase

• Pronome pessoal reto
• Pronome pessoal oblíquo

• Vocativo

6

• Pronome relativo
• Sinônimos, antônimos, hiperônimos e hipônimos

• Concordância verbal

• Substantivo
• Adjetivo
• Advérbio

7

• Coordenação e subordinação – conceito
• Conjunção
• Pronome relativo
• Orações coordenadas

8

• Processos de formação de palavras

• Conjunção

9º ANO

Capítulo

Falando sobre a nossa língua

Meu/minha [gênero] na prática

Se eu quiser aprender mais

1

• Variação linguística
• Formação do português brasileiro
• Gírias
• Estrangeirismo

• Concordância verbal

2

• Adequação da linguagem à situação de comunicação
• Preconceito linguístico

• Concordância verbal
• Voz passiva

3

• Linguagem formal e linguagem informal
• Pronomes como complementos verbais
• Regência verbal
• Colocação pronominal

• Acentuação

4

• Predicado nominal
• Verbo de ligação
• Predicativo do sujeito
• Predicativo do objeto

• Concordância verbal

• Advérbio

5

• Pontuação

• Pontuação

6

• Coordenação e subordinação – conceito
• Oração subordinada adjetiva
• Pronome relativo
• Pontuação

• Pronome pessoal reto
• Pronome pessoal oblíquo
• Sinônimos, antônimos, hiperônimos e hipônimos

7

• Orações subordinadas adverbiais
• Conjunção

• Concordância nominal

8

• Orações subordinadas reduzidas e orações subordinadas desenvolvidas

• Conjunção

Gêneros digitais

Têm destaque, no texto da Bê êne cê cê, inúmeras referências rela­tivas ao universo digital. Afirma-se a importância de o sujeito contemporâneo “atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais” (BRASIL, 2018, página 14), ideia que se desdobra e ganha especificidade especialmente na cê gê 5, cê e éle 6 e cê e éle pê 10. Atenta ao momento presente, a Base indica a importância de a escola experimentar novas práticas de produção, acrescentando ao ensino-aprendizagem da escrita e da oralidade novas ferramentas (tratamento de áudio, edição de vídeo e manipulação de recursos de diagramação, por exemplo), e de capacitar os alunos para uma análise crítica dos textos digitais em circulação.

Nesse sentido, a Bê êne cê cê atende às observações de vários estudiosos que já vinham apontando a insuficiência das práticas escolares de leitura/escrita de textos de gêneros digitais, mesmo quando se desconsideram os avanços das Tecnologias Digitais de Informação e da Comunicação (tê dê i cê). Para muitos especialistas, a escola se mostrava limitada quando centrava suas produções no texto verbal escrito, havendo pouca ênfase nos textos verbais orais e, menos ainda, nos textos híbridos (rôjo, 2012). Eram pouco frequentes as práticas que envolviam, por exemplo, a integração de um esquema a um texto escrito.

No contexto atual, sobretudo com a circulação das coleções de livros didáticos que já seguem as determinações da Bê êne cê cê, essa limitação começa a ser superada, e as práticas de linguagens efetivadas na escola passam a considerar que os novos textos são não apenas híbridos como também interativos e colaborativos. As novas tíc favorecem a ampliação da condição de autoria, com a facilidade na combinação de textos escritos com imagens está­ticas ou em movimento, com a possibilidade do acréscimo de ­música e voz, com a edição de vídeos e áudios, entre outras produções com diferentes graus de complexidade. Do mesmo modo, abrem espaço para fórmas diferentes de autoria, baseadas no diálogo e na remixagem (em sentido amplo). Ainda nessa linha, precisamos considerar mudanças significativas na fórma de recepção dos textos, que passam a envolver as práticas de curtir, comentar e redistribuir (“repostar”). Estabelece-se, desse modo, uma nova estética e uma nova ética (rôjo, 2012).

Dentro desse contexto positivo e democrático, surge um aspecto a que a escola – e a sociedade em geral – deve estar atenta: a urgência do desenvolvimento de técnicas que nos tornem aptos a lidar criticamente com a grande massa de informação que acessamos por opção ou de fórma automática (pelas redes sociais, por exemplo). É preciso ampliar as práticas que envolvem o tratamento das informações, contribuindo para a ampliação da leitura crítica e da filtragem (curadoria). É necessário, ainda, reforçar as práticas de diálogo e de respeito à alteridade para que os discursos violentos dos intolerantes possam ser vetados e os debates ocorram de fórma livre, ética e respeitosa.

Nesta coleção, colaboramos para a qualificação da comunicação nos meios digitais e para o tratamento adequado das informações provenientes da mídia ou em circulação nas redes sociais. Para isso, exploramos o gênero comentário de leitor e criamos situações-­problema, principalmente nas seções E se a gentereticências? e fóra da caixa, para que o estudante ganhe consciência acerca do contexto que produz e alimenta fenômenos contemporâneos como as fake news. Propusemos, nessas seções e em várias outras oportunidades (no boxe Fala aí!, em atividades relativas à leitura etcétera), o debate do “curtir” e do compartilhar e enfatizamos a necessária checagem das fontes e das informações e o modo de fazer isso antes de uma replicação (“repostagem”).

Consideramos, também, que a escolha e a fórma de exploração dos gêneros e dos vários textos utilizados nas atividades dialogam com a contemporaneidade, marcada pela multissemiose, e concorrem para a multiplicidade de culturas. Pensando nisso, criamos desafios para que os estudantes pudessem experimentar várias dessas práticas, como a produção de podcasts, memes ou viddings.

Como educadores e estudiosos, temos consciência, porém, de que ainda estamos em uma fase de transição no que tange ao mundo digital e que a familiaridade de todos – estudantes e professores – com os novos gêneros ligados a esse universo não é plena. Além de possíveis dificuldades relativas ao acesso, temos de considerar diferentes tratos com a informação, seja ela a midiática/jornalística, seja a de outros campos, inclusive o artístico, e a reduzida literatura teórica disponível sobre gêneros que têm natureza tão fluida e mutante. Tomar todos os sujeitos contemporâneos como seres igualmente imersos na cultura digital significa, em nossa visão, desconsiderar as várias realidades, sobretudo deste país. Estamos também cientes de que, embora a escola e os professores valorizem e estejam dispostos a lidar com o ensino-aprendizagem dos novos gêneros digitais, não é possível esperar desses atores uma resposta tão imediata e eficiente para a questão. Desse modo, procuramos considerar que, para alguns, a aproximação com os gêneros digitais, ou pelo menos a lida com eles como objeto de estudo, se faz a partir do contato com esta coleção e que, por isso, cabe a nós instrumentalizar a análise e o uso, contando com os diferentes saberes.

Com essa preocupação, apresentamos, adiante, tutoriais que contribuirão para a produção de blogs, podcasts e vídeos. Só não fomos precisos em alguns casos para não corrermos o risco de citar um produto específico – o que não nos pareceria adequado ou ético. Indicamos, no entanto, a existência dos aplicativos gratuitos, que podem ser acessados e baixados facilmente e, de modo geral, contêm orientações claras de uso. Preocupamo-nos em criar várias atividades digitais que poderão ser produzidas com o uso de um aparelho smartphone que contenha funções como gravar, fotografar etcétera, mas elas certamente poderão ser aperfeiçoadas com a utilização dos aplicativos. Seria interessante que os alunos os testassem ou que aprimorassem os usos que já fazem deles.

No caso da divulgação/circulação desses textos, consideramos, com ênfase, algumas limitações legais impostas pela média da faixa etária dos alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais. Não podemos, por exemplo, convidar alunos do 6º ano a interagir em redes sociais, cuja idade mínima para uso é, em geral, 13 anos, nem disponibilizar suas produções e imagens em áreas que possibilitam acesso e comentários de terceiros, os quais ­podem conter inadequações e riscos para esses pré-adolescentes. Também entendemos que não podemos sobrecarregar as empresas de mídia ou os espaços individuais digitais, como blóguis ou canais de vídeos “profissionais”, solicitando aos alunos que postem ali seus textos ou comentários, produzidos, muitas vezes, com objetivos pedagógicos. Assim, circuns­crevemos essas ações a situações muito específicas e encontramos como solução para a experiência de divulgação no universo digital a criação de um blógui da turma, ferramenta que pode parecer a alguns já ultrapassada, mas que, sabemos, pode ser controlada por um educador.

A seguir, oferecemos um tutorial para a criação desse blog e, para você não ficar sobrecarregado, pode contar com a ajuda dos estudantes, que, em comissões, organizarão o material produzido pelos colegas e criarão postagens. Desse modo, caberá a você apenas alimentar o blog com o material e acompanhar as intervenções dos alunos, que terão autorização para inserir comentários. É possível optar por blogs específicos para cada turma ou um único para todas suas turmas, o que é sempre interessante por ampliar a possibilidade de diálogo.

TUTORIAIS – Material digital

um Gravação e edição de vídeo

Para gravar um vídeo e publicá-lo em sites, blogs, redes sociais ou programa de compartilhamento, é necessário ter um ­smartphone que capte as imagens e sons. Já a edição pode ser feita pelo computador, com softwares de edição e conversão de vídeos, ou pelo smartphone, por meio de aplicativos específicos. Os ­softwares para computador, geralmente mais complexos e pesados, podem ser encontrados facilmente ao pesquisar na internet. Os aplicativos para aparelhos móveis, que muitas vezes são versões simplificadas de softwares, você encontra em lojas de aplicativos específicas dos sistemas operacionais de cada aparelho.

Pode acontecer de os softwares terem nomes diferentes para botões de mesma função. Atente a isso durante o trabalho e, se necessário, consulte os tutoriais do programa. Eles podem ser de grande utilidade e são bem intuitivos.

Em geral, para criar um vídeo são necessárias três etapas:

  1. Captação de imagens: capte as imagens com um smartphone. Se for necessário rodar a mesma cena mais de uma vez (tomada de vídeo), selecione as melhores tomadas para posterior edição e descarte o restante.
  2. Conversão do vídeo:
    1. Verifique se o formato do vídeo é compatível com seu editor. Se houver a necessidade de alterar o formato, pesquise na internet algum conversor on-line. Há vários disponíveis.
    2. Se for trabalhar em um computador, transfira o arquivo de vídeo de seu smartphone. Em aparelhos móveis, basta abrir o aplicativo de conversão e buscar o arquivo na biblioteca do smartphone.
    3. Para o procedimento de conversão, arraste ou abra o arquivo no conversor. Procure, na tela, o comando “Converter vídeo” ou semelhante.
    4. Escolha o formato de vídeo compatível com seu editor e selecione a opção “Converter”.
    5. Ao fim da conversão, será disponibilizado um arquivo para download. Baixe e salve o arquivo em seu computador ou smartphone; você o utilizará para fazer a edição.
  3. Edição:

Aparelhos smartphone costumam apresentar ferramentas básicas de edição de vídeo, como córte, ajuste e aplicação de filtros. Para outras funcionalidades, é recomendado baixar um aplicativo de edição.

  1. Abra seu editor de vídeo e selecione o arquivo a ser editado.
  2. Em geral, na parte de cima da tela fica uma caixa de vídeo que exibe a gravação. Na parte inferior ficam os trechos das cenas, separados. Isso o ajuda a ver o que cortará, o que ficará e o que editará.
  3. Selecione o trecho com a cena que vai utilizar.
  4. Para visualizar o trecho selecionado, dê “Play”: as imagens serão exibidas na caixa de vídeo, para que você possa conferir se essa é mesmo a cena que deseja utilizar.
  1. Você pode inserir efeitos, molduras e transições entre cenas. Procure, em seu editor, botões com títulos como: “Efeitos”, “Animações”, “Transições”.
  2. É possível incluir trilha sonora, voz ou efeitos de som no vídeo. Busque pela opção de inserir áudio ou efeito sonoro. Você deve ter os arquivos de áudio salvos no computador ou smartphone. Muitos aplicativos oferecem opções de efeitos sonoros e trilhas de áudio em licença aberta, ou seja, livres de direitos autorais. A alternativa é bastante adequada para publicações on-line, em blogs ou redes sociais, para evitar o bloqueio do áudio do seu vídeo.
  3. Para conferir como sua montagem está ficando, dê “Play”.
  4. Para realizar córtes no meio de uma cena, procure por “Cut” ou “Ferramenta de córte”. É nesse espaço que você fará a seleção dos trechos que vai cortar. Após selecioná-los, clique em “Salvar córte”. Em seguida, verifique a necessidade de inserir efeitos de transição e/ou efeitos sonoros entre as cenas.
  5. Quando tiver finalizado a edição, salve o vídeo em seu computador ou smartphone. Aplicativos costumam apresentar ferramentas de compartilhamento em suas interfaces, com opções de envio por e-mail, outros aplicativos de conversa, redes sociais etcétera

dois Gravação e edição de áudio

Para gravar um áudio, uma entrevista ou um podcast, por exemplo, é necessário ter: smartphone ou computador para captar o áudio; microfone; fone de ouvido, software de gravação e edição de áudio.

Pesquise, em fontes confiáveis da internet ou da loja de aplicativos de seu smartphone, um programa de gravação e edição de áudio. Há opções gratuitas e seguras que podem ser instaladas em computadores e smartphones. Se for utilizar programas diferentes, há programas que podem ser utilizados on-line para a etapa de edição. Em alguns programas, há uma variação dos nomes e dos termos empregados para determinadas funcionalidades, como “gravar” e “rec”. Atente a isso quando estiver gravando o áudio e, se necessário, procure o tutorial do aplicativo. Encontre a melhor opção para você e siga as instruções a seguir.

  1. Instale o programa em seu computador ou ismartifône.
  2. Abra o programa.
  3. Ative o microfone e o fone de ouvido.
  4. Antes de iniciar a gravação, faça testes de som. Grave um trecho de áudio, salve e ouça com atenção para garantir que ruídos externos, como uma janela aberta ou conversas paralelas, não comprometam a qualidade do material. Também é importante cuidar para que as vozes estejam em um tom audível.
  5. Inicie a gravação selecionando o botão “Gravar” ou “Rec”.
  6. Alguns programas pedem que você opte por modelos de salvamento de arquivo; em geral, o formato ême pê três é o compatível com um maior número de programas e plataformas de compartilhamento.
  7. Ao finalizar a gravação, salve uma cópia do arquivo em seu dispositivo. Atente ao tamanho do arquivo, salvando uma versão de qualidade média.
  8. Antes de editar áudio, verifique se o programa oferece a opção de salvar versões. Se não oferecer, faça uma cópia para a edição e mantenha a versão original. Com isso você terá a opção de recorrer a ela se precisar refazer o material.
  9. Inicie o editor de áudio. Em “Abrir”, selecione o arquivo a ser editado. Será exibida uma trilha de edição.
  10. Atente para o fato de que em alguns editores só é possível fazer a edição do áudio se ele estiver pausado.
  11. Existem diversos recursos que podem ser utilizados para a melhora do áudio. Busque por “Efeitos” e encontre ações como “Normalizar”, “Alterar tom”, “Alterar tempo”. Um recurso muito útil para qualquer edição de áudio é o de isolar e excluir ruídos indesejados a partir da exibição visual das ondas sonoras. Selecione as que forem mais úteis ao que pretende fazer em seu trabalho.
  12. Realize córtes no áudio selecionando o trecho a ser excluído e, posteriormente, selecionando a opção de “Cortar” ou “Delete”.
  13. Para incluir trilha sonora, voz ou efeitos de som, procure na linha de edição a opção “Abrir” ou “Inserir”; depois, basta selecionar o arquivo de áudio que deseja incluir. Assim como muitos editores de vídeo, é comum que aplicativos de edição de áudio ofereçam uma lista de opções de trilhas e efeitos sonoros de uso livre.

três Criação de blog

Para a divulgação de algumas produções de texto, indicamos a criação de um blog. Ele acompanhará os estudantes até o fim do ano letivo e servirá de laboratório de publicação digital e portfólio dessas produções, podendo ser exposto à comunidade escolar como um projeto de finalização de ciclo.

Como a internet possui conteúdos diversos, não necessaria­mente adequados à faixa etária dos estudantes do Ensino Fundamental – Anos Finais, é importante que você acompanhe a ­turma durante a realização dessas atividades. Antes de iniciar a criação do blog, apresente a proposta e enfatize que as regras desse ambiente são as mesmas da sala de aula: respeito ao próximo; respeito à ­produção dos colegas; não compartilhamento de imagens sem autorização dos envolvidos; não violência; ­respeito aos direitos humanos; colaboração e senso de coletividade.

Ressaltamos que o blog é um espaço restrito a convidados. Portanto, solicite aos estudantes que encaminhem os e-mails deles a você, que os convidará para ler, acompanhar e interagir com as postagens realizadas. Caso algum deles não tenha uma conta de e-mail, ajude-os a abri-la utilizando um provedor gratuito.

Para iniciar a familiarização, defina, com eles, o nome do blog.

Orientações:

  1. Utilize um provedor gratuito de e-mails, siga os passos indicados no site escolhido e abra uma conta que será utilizada na criação do blog. Ela é imprescindível.
  2. Pesquise na internet uma ferramenta gratuita de edição e gerenciamento de blogs. Considere uma plataforma que possibilite criar páginas responsivas para dispositivos móveis, como celulares e tablets. Isso facilitará o acesso da turma em sala de aula.
  3. Abra o navegador.
  4. Tenha em mãos o e-mail da turma; ele é essencial para a criação do blog.
  5. Analise os temas ou templates disponíveis e selecione o que mais se alinhar ao que você deseja. Pense se a cor de fundo dará leitura, por exemplo, e se é possível incluir imagens, vídeos e comentários.
  6. Preencha os campos que aparecerão para você. Escolha um nome e um endereço para o blog.
  7. Alguns editores de blog podem conter ligeiras diferenças; se tiver alguma dúvida, consulte o tutorial da plataforma escolhida ou busque em fontes confiáveis da internet dicas de como utilizá-la.
Reprodução de página da internet. Na parte superior, a informação: Lista de Blogs, Criar um novo blog. Título: Meu Blog. Endereço: endereçomeublog.blog.com. Tema: Estilos de layout da página para escolher. No fim, botões de criar blog e Cancelar.
  1. Faça uma primeira postagem para apresentar o blog à turma. Categorize a postagem utilizando palavras-chave; isso agrupará o conteúdo produzido por eixos temáticos e facilitará o trabalho ao longo do ano.
  2. Convide os estudantes para acompanhar as postagens.
  3. Leia, nas propostas de produção de texto que incluírem divulgação em blog, as orientações para a equipe de estudantes que naquela oportunidade serão os editores. Essa equipe será responsável por organizar o envio do conteúdo a você, professor, que fará a postagem.

Interdisciplinaridade — Arte

A Bê êne cê cê, seguindo o Parecer cê êne Ê/séb norteº 11/2010 (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO; CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA, 2010), organiza o Ensino Fundamental em cinco áreas com o fim de favorecer a comunicação entre conhecimentos e saberes diferentes, embora assinta com a preservação das especificidades e dos saberes próprios construídos e sistematizados nos diversos componentes (BRASIL, 2018, página 27). No contexto do Ensino Fundamental – Anos Finais, o componente Língua Portuguesa integra a área de Linguagens, que engloba também Arte, Educação Física e Língua Inglesa e prevê práticas relativas às diversas linguagens – verbal, corporal, visual, sonora e digital.

Esta é uma coleção estruturada por componente curricular, no caso, Língua Portuguesa. Fizemos opção, entretanto, por um diálogo interdisciplinar frequente com o componente Arte, que se evidencia ao longo dos capítulos e ganha ênfase nas seções Minha canção, que abre e fecha os volumes, e Conversa com arte. Essas duas seções se comunicam com os eixos da leitura e da produção de textos e ganham especificidade nos entrelaçamentos com as linguagens das artes visuais, dança, música e teatro, relativas ao componente Arte. Aproximar o estudante dessas práticas favorece a compreensão das linguagens – e, por desdobramento, da própria língua –, como “construção humana, histórica, social e cultural”, capaz de significar a realidade e exprimir subjetividades e identidades sociais e culturais, como indica a cê e éle 1.

As seções Minha canção e Conversa com arte, já mencionadas neste ême pê em outros contextos, criam oportunidades de os estudantes conhecerem algumas especificidades de linguagens artísticas em atividades introdutórias, participando das práticas sociais mais diversas, seja como espectadores (fruidores), seja como produtores, e nesse sentido aprimoram a observação, suscitam questionamentos, estimulam a escolha e qualificam considerações de ordem estética e ideológica. Entendemos que, assim como a literatura (arte das palavras), as artes visuais, a dança, a música e o teatro permitem um diálogo intercultural e pluriétnico de grande valor quando se pensa a formação de pré-adolescentes e adolescentes dispostos ao diálogo e à valorização da alteridade, assim como capazes de construir e valorizar sua própria identidade cultural.

A seção Minha canção oferece aos estudantes a oportunidade de entrar em contato com o rico cancioneiro brasileiro contemporâneo e com seus compositores e intérpretes. Há muito que estudiosos consistentes reforçam a importância da canção na formação da identidade brasileira. O professor de literatura e músico José Miguel Visníqui (1999), especialista no assunto, nos lembra de que

Meio e mensagem do Brasil, pela tessitura densa de suas ramificações e pela sua penetração social, a canção popular soletra em seu próprio corpo as linhas da cultura, numa rede complexa que envolve a tradição rural e a vanguarda, o erudito e o popular, o nacional e o estrangeiro, o artesanato e a indústria. (Visníqui, 1999, página 73).

Além de ler a letra e cantar uma canção (em que cifras inseridas junto aos versos ressaltam que canção não é somente letra), na seção Minha canção os alunos são convidados a refletir e apresentar sua opinião sobre o tema da produção, exprimir emoções diante de suas sugestões imagéticas ou produzir objetos apoiando-se nas várias linguagens artísticas. É assim que procedem, por exemplo, quando na abertura deste volume do 6º ano são orientados a tirar selfies da turma e produzir um vídeo para acompanhar a canção “Só eu sou eu”, de Marcelo Jeneci e Arthur nestróvisqui, ou, no 9º ano, são convidados a produzir uma campanha publicitária de combate à evasão escolar a partir da sensibilização promovida pela canção “A cada vento”, composta pelo rapper Emicida.

A seção Conversa com arte, por sua vez, tem como objetivo colocar o estudante em contato com a fotomontagem, a arquitetura, o teatro, o curta-metragem, a escultura, entre outras linguagens artísticas. Nela, o aluno é estimulado a refletir sobre um objeto artístico em foco, considerando sua materialidade, os sentidos construídos por ele, os possíveis efeitos e o contexto de produção. Pela conversa com os colegas, pela intervenção orientada do professor e pelos breves textos didáticos, ganha algumas referências para análise e valoração daquele objeto. Depois, o estudante é convidado a produzir um objeto autoral, apoiando-se em uma linguagem artística (produção de escultura, por exemplo) ou a divulgá-la (organização de um evento que reúne fotomontagens e concurso de contos fantásticos, por exemplo), ou ele é convidado, ainda, a investigar um objeto artístico e apresentar os resultados da pesquisa por meio de exposições (por exemplo, análise de como são compostas as placas explicativas utilizadas em exposições de museus para construir um objeto semelhante após pesquisar em fontes confiáveis). Essas ações envolvem a leitura, o que contribui para a formação de uma "biblioteca cultural" (explicaremos esse conceito mais adiante), repertório para compreender o mundo; a reflexão, que estimula a construção de argumentos sobre as interpretações; e a produção, que o aluno experimenta, de maneira intencional, quando transforma as ideias em materialidade.

No capítulo que abre este volume, "O registro do eu no mundo", na seção Conversa com arte, os alunos são convidados a entrar em contato com a manifestação artística “Intervenção urbana”, por meio de algumas obras de arte, depois debatem sobre essa arte, considerada controversa por alguns, e têm a oportunidade, dentro da perspectiva da experiência, de realizar uma intervenção autoral.

Já no volume do 9º ano, no Capítulo 1, “História tem contexto”, em Conversa com arte, estuda-se o teatro musical por meio do espetáculo As cangaceiras, guerreiras do sertão. No “U”, há outra sugestão de trabalho interdisciplinar com o professor de Arte. Finalmente, no tópico “Aprendendo mais sobre o teatro”, convida-se o aluno a, novamente, trabalhar com assuntos pertinentes à disciplina Arte (e ao projeto de vida), ou seja, uma investigação sobre os profissionais que fazem uma peça de teatro acontecer: diretores, cenógrafos, técnicos de som, iluminadores, preparadores vocais etcétera

Consideramos também importante destacar que acreditamos que é papel fundamental de um livro didático, sobretudo de uma coleção de Língua Portuguesa, fornecer aos seus alunos um conjunto de indicação de “exemplares” (livros, filmes, exposições, sites etcétera) para composição daquilo que o educador francês jon marrí gulemô (2009) chama de biblioteca cultural (ver Biblioteca do professor a seguir). Como estratégia para garantir a formação e/ou ampliação desse repertório, apresentamos ao longo dos volumes inúmeros boxes Biblioteca cultural comentados, relacionados, direta ou indiretamente, às experiências propostas nas sequências didáticas que compõem os capítulos. Enfatizamos, ainda, que esses boxes também podem servir, no caminho do que objetivam os boxes Biblioteca do professor, para ampliar a sua própria biblioteca cultural.

Biblioteca do professor

Biblioteca cultural é um conceito formulado por (2009). Esse educador defende que toda leitura é uma leitura comparativa. Quando lemos, construímos o sentido do texto a partir de uma biblioteca cultural interna, pessoal, ou seja, a leitura é como um jogo de espelhos em que reencontramos, nos novos livros, elementos que já conhecíamos. Assim, cada “nova” leitura passa a ser, ao mesmo tempo, familiar, porque conversa com outras leituras anteriores já conhecidas, e um novo “exemplar” a ser depositado nessa biblioteca cultural. Para o estudioso, “reticências assim como a biblioteca trabalha o texto oferecido, o texto lido trabalha em compensação a própria biblioteca. A cada leitura, o que já foi lido muda de sentido, torna-se outro. É uma fórma de troca. reticências” (gulemô, 2009, página 116).

Mais interdisciplinaridade

A Bê êne cê cê destaca a necessidade de os currículos decidirem

reticências sobre fórmas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem reticências. (BRASIL, 2018, página 16).

Isso demonstra a importância de integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização. O intuito dessa relação é promover a expansão da compreensão de mundo, de modo a, em lugar de ensinar os componentes curriculares de maneira isolada, isto é, voltados a si mesmos, ensinar os alunos a entender as relações entre eles e a sociedade, a vida e o mundo fóra dos muros da escola. Não se trata, portanto, segundo o que defende esse documento (com o qual concordamos), de garantir a associação temática entre diferentes disciplinas, mas de buscar unidade em termos de prática docente, ou seja, independentemente dos temas/assuntos tratados em cada disciplina de fórma isolada.

Essa prática docente comum está, portanto, em caráter permanente, voltada para o desenvolvimento de competências gerais e específicas de cada área do conhecimento articuladas às habilidades de cada componente curricular, apoiado na associação ensino-pesquisa e no trabalho com diferentes fontes expressas em diversas linguagens, que comportem distintas interpretações sobre os temas/assuntos trabalhados em sala de aula.

O interdisciplinar

Os pê cê ênemais (Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais) nos lembram de que

reticências o caráter interdisciplinar de um currículo escolar não reside nas possíveis associações temáticas entre diferentes disciplinas, que, em verdade, para sermos rigorosos, costumam gerar apenas integrações e/ou ações multidisciplinares. O interdisciplinar se obtém por outra via, qual seja, por uma prática docente comum na qual diferentes disciplinas mobilizam, por meio da associação ensino-pesquisa, múltiplos conhecimentos e competências, gerais e particulares, de maneira que cada disciplina dê a sua contribuição para a construção de conhecimentos por parte do educando, com vistas a que o mesmo desenvolva plenamente sua autonomia intelectual. Assim, o fato de diferentes disciplinas trabalharem com temas também diversos não implica a inexistência de trabalho interdisciplinar, desde que competências e habilidades sejam permanentemente mobilizadas no âmbito de uma prática docente reticências centrada na associação ensino-pesquisa reticências. (BRASIL, 2000, página 16).

Os pê cê ênemais mostram, como se vê, que a interdisciplinaridade ocorre por uma prática docente comum, na qual os componentes mobilizam/desenvolvem diversas habilidades e competências gerais e específicas centradas na associação ensino-pesquisa, e não necessariamente a partir de conteúdos ou temas comuns, como ocorre em grande parte das propostas que se autodenominam interdisciplinares. Ainda nessa direção, o estudioso Gonçalves (2007, página 65) explica que não se pode falar em “interdisciplinaridade sem a existência de disciplinas” e que a “interdisciplinaridade é ontologicamente dependente da disciplinaridade”.

Certamente, uma coleção didática disciplinar como esta não tem o poder de, sozinha, estabelecer de modo eficiente as práticas docentes interdisciplinares de que falamos. Elas pressupõem a construção de um currículo específico e de um trabalho integrado dos professores na construção de um projeto comum para seus alunos em cada instituição de ensino. Entendemos, ­porém, que podemos contribuir para esse processo com algumas propostas de parceria entre o componente Língua Portuguesa e Arte, como já exploramos no tópico anterior, e com outros componentes curriculares22nota de rodapé como História, Geografia, Ciências etcétera, que pertencem a outras áreas do conhecimento.

Modelos de trabalho interdisciplinar

Planejamento coletivo (que envolverá professores dos componentes Língua Portuguesa e Arte)

Pensando em um trabalho interdisciplinar que envolva dois dos componentes da área de Linguagens, Arte e Língua Portuguesa, em um cenário ideal os professores que ministram esses cursos podem planejar juntos aulas a partir das seções Conversa com arte e ­Minha canção, uma vez que elas propõem trabalhos com linguagens como artes visuais, teatro e música. Nossa experiência mostra que, para esse trabalho conjunto, os professores deverão se reunir (pelo menos) quinzenalmente por, no mínimo, uma hora e deverá haver uma organização de horário das aulas por parte da coordenação que leve em conta momentos em que esses profissionais estarão sozinhos em sala com as turmas e momentos em que eles deverão estar (preferencialmente) em duplas.

Tanto Conversa com arte como Minha canção são, em geral, seções estruturadas em etapas bastante procedimentais. Essa escolha metodológica é intencional, uma vez que facilita o trabalho conjunto dos professores desses dois componentes. A ideia é que o professor de Arte, um especialista, possa contribuir com seus conhecimentos para eventuais exposições teóricas mais complexas/completas sobre artes visuais, música, teatro etcétera (daí a importância das reuniões periódicas).

Sugerimos que esse profissional de Arte adote, como propõe a Bê êne cê cê, uma abordagem das linguagens que articule as seis dimensões do conhecimento que caracterizam a experiência artística: criação, crítica, estesia, expressão, fruição, reflexão.

Dentro dessa perspectiva, todas as seções Conversa com arte e Minha canção deverão ser planejadas, nas reuniões quinzenais, tendo em vista essas dimensões.

É importante reforçar que, ainda que seja possível realizar um trabalho muito sistemático e planejado com os professores de Arte (ou até mesmo com os de Língua Inglesa e Educação Física), mesmo assim os estudantes terão garantida, nesta coleção, a mobilização de competências específicas da área de Linguagens. Nunca é demais relembrar que a opção por estruturar os capítulos pensando nas experiências dialoga muito mais com a vida real dos adolescentes, uma vez que eles são atravessados diariamente, quase simultaneamente, por textos verbais escritos de variados gêneros, por filmes, trailers, memes, podcasts, debates, esculturas, cançõesreticências  

Planejamento coletivo (que envolverá professores dos componentes Língua Portuguesa e de outras áreas do conhecimento como História, Geografia e Ciências)

Também é possível realizar um trabalho interdisciplinar envolvendo outras áreas do conhecimento, como História e Geografia, por exemplo. Nesse caso, também serão necessárias reuniões, no mínimo, quinzenais para o planejamento das aulas. A seção fóra da caixa pode oferecer, em alguns momentos, possibilidades de diálogo com componentes de outras áreas além das Linguagens. Assim como Conversa com arte, essa seção é estruturada em etapas para que o trabalho interdisciplinar possa ser viável. Combine previamente com seus pares quais etapas serão realizadas pelos professores dos outros componentes.

Além disso, as seções Leitura (1 e 2) também podem ser utilizadas para a realização de um trabalho interdisciplinar consistente. Recomendamos que essas aulas sejam preparadas nas reuniões quinzenais e que, nesses encontros:

  • em conjunto com seu colega ou seus colegas, você selecione os textos que poderão ser explorados por outras disciplinas e áreas. No 6º ano, por exemplo, no Capítulo 1, “O registro do eu no mundo”, dentro de uma das seções Leitura, os alunos conhecem uma passagem do diário de isláta, que representa uma oportunidade interessante de um trabalho interdisciplinar com o componente História, e isso é devidamente sugerido para você, professor, no “U”: “Os dados apresentados junto do fragmento do diário de isláta para contextualização são suficientes, mas sugerimos que você mostre o capítulo ao professor de História para verificar se há possibilidade de uma abordagem interdisciplinar. Esse colega pode selecionar textos acessíveis acerca do conflito na ex-Iugoslávia para que os estudantes possam comparar o que é dito pela imprensa e/ou pelas autoridades àquilo que relata a adolescente isláta. Abordagens como essa contribuem para o desenvolvimento da quarta competência específica da Bê êne cê cê de História, que prevê a identificação de interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos sobre um mesmo contexto histórico”.;
  • você e seus colegas selecionem questões das subseções Desvendando o texto e Refletindo sobre o texto que serão trabalhadas em Língua Portuguesa e questões que serão exploradas pelos outros colegas nas aulas deles;
  • se estabeleçam estratégias para conduzir os boxes Investigue (em geral, de natureza interdisciplinar e relacionados às seções Leitura) e as seções de práticas de pesquisa Preparando o terreno (no 8º e 9º anos), sempre ligadas ao trabalho com produção de texto. No volume do 7º ano, por exemplo, no Capítulo 7, “Falar para muita gente”, os alunos serão convidados a pesquisar informações, na área de Ciências, sobre febre amarela, tuberculose, sarampo e outras doenças que são objeto de campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde, depois eles entrevistarão profissionais dos centros de saúde da região em que vivem para descobrir o real impacto dessas enfermidades na comunidade; posteriormente, apresentarão seminários sobre esse assunto e, por fim, produzirão um artigo de divulgação científica a fim de esclarecer a população local sobre eventuais problemas. Vale lembrar que os boxes Investigue apresentam orientações para pesquisas mais ágeis que se comunicam com outras áreas e que em algumas propostas de produção de texto os alunos são instruídos a realizar pesquisas que envolvem outros saberes, relacionados a outros componentes, devidamente indicados no éle Ê e no “U”. No volume do 9º ano, no Capítulo 1, “História tem contexto”, por exemplo, na seção E se a gente tivesse de decidir se quer ou não ler um romance?, depois de lerem uma passagem do romance A máquina, os alunos entram em contato com outro romance, O menino do pijama listrado, e são convidados a realizar, em Investigue, uma pesquisa sobre o extermínio dos judeus no contexto da Segunda Guerra Mundial, tópico que dialoga diretamente com o componente História. No “U”, explica-se de que fórma esse diálogo pode ser estabelecido: “A Bê êne cê cê determina o estudo da emergência do fascismo e do nazismo, da Segunda Guerra Mundial e do holocausto no 9º ano. Sugerimos que você apresente o trabalho com o romance para o professor de História e que compartilhem os planejamentos de modo a encontrar oportunidades de atividades interdisciplinares. Caso o professor prefira fazer essa abordagem posterior mente, apresente a proposta do boxe Investigue para que ele conduza a atividade com os estudantes: ouvir as informações que possuem e ajudá-los a verificar o que é verdadeiro. Esse contexto tem sido retomado em várias produções culturais, e alguns dos termos ligados a ele, como ‘nazista’ ou ‘genocídio’, têm sido aplicados em situações diversas, algumas vezes de modo impróprio. A atividade contribuirá para que os estudantes desenvolvam a atitude crítica diante de conteúdos e informações (ê éfe seis nove éle pê três zero).”

fiquem combinadas como serão realizadas as correções das produções de texto que os alunos farão. Utilize as rubricas de correção – com algumas adaptações – que acompanham essas propostas. Essa etapa da avaliação é muito importante em um trabalho interdisciplinar.

Esses procedimentos poderão ser adotados para todas as ações interdisciplinares, uma vez que as seções e boxes têm, intencio­nalmente, estruturas semelhantes.

Planejamento individual

Embora seja o menos recomendado, sabemos que esse tipo de planejamento individual será a realidade de muitas escolas. Mesmo que isso ocorra, garantimos, dada a estrutura da coleção, que os alunos se beneficiarão de terem um curso disciplinar, de Língua Portuguesa, mas que se comunica com outras áreas do conhecimento.

Nesse tipo de cenário, certamente menos favorável, recomendamos que você realize com colegas de Arte, História, Geografia, Ciências etcétera algumas reuniões de planejamento anual com o objetivo de estabelecer combinados que possam garantir alguns diálogos com outros saberes. Sugerimos que nessas reuniões:

  • sejam analisados conjuntamente os textos presentes nas seções Leitura (1 e 2) e suas possíveis relações com outros componentes. Dessa fórma, mesmo que não seja possível a realização de um trabalho interdisciplinar, os colegas de outros componentes poderão, dentro de suas próprias aulas (ainda de que fórma multidisciplinar), trabalhar alguns temas presentes nos artigos de opinião e de divulgação científica, nas resenhas críticas, nos poemas-protesto, nos contos, nas passagens de romance etcétera que compõem as seções;
  • sejam combinadas como serão colocadas em ação as práticas de pesquisa propostas principalmente em Investigue e Preparando o terreno, de modo que possa haver uma colaboração dos outros professores nesses processos investigativos formais;
  • possam ser analisadas seções de natureza multi e interdisciplinar como Conversa com arte e fóra da caixa para garantir que, minimamente, possa haver uma contribuição teórica dos professores de outros componentes.

Além disso, a adoção conjunta de algumas das metodologias ativas apresentadas neste ême pê podem também abrir espaço para abordagens interdisciplinares interessantes.

A seguir, apresentamos, ainda, uma proposta de projeto integrador que envolve os componentes Língua Portuguesa, História, Geografia e Arte. Trata-se de uma estrutura que poderá servir de modelo para outras composições de projetos integradores interdisciplinares criados por você e seus colegas. Neste caso, propomos o projeto integrador “A charge lê o nosso mundo”, que tem como tema “As relações entre charges e o contexto histórico de suas produções”. Note que o projeto apresenta a seguinte estrutura (que poderá servir de inspiração para outras ações conjuntas); tema, justificativa, disciplinas integradoras, cê gê, cê e éle , cê e éle pê , competências específicas de História, de Geografia e de Arte, habilidades, objetivos, materiais a serem utilizados e produto final a ser desenvolvido.

Projeto integrador — Caixinhas de histórias

Tema: Relatos de experiências que retomam, leem e releem a História do Brasil no século vinte (aproximadamente entre 1950 e 1999).

Justificativa: Este projeto tem como objetivo propor sugestões de trabalho ao professor que levem os alunos a refletir a respeito das relações entre memória e histórias de vida e a construção da história coletiva. Os estudantes devem ser sensibilizados sobre a relevância dos relatos de experiência na elaboração das memórias e a importância de um conjunto de olhares particulares para a construção da narrativa histórica. Deverão também investigar, por meio de entrevistas feitas com familiares de diferentes gerações, a maneira como grandes eventos históricos se fizeram perceber em suas vidas cotidianas. Após essa etapa de pesquisa, os estudantes construirão, de fórma colaborativa, um relato de experiência vivida relacionado a um momento histórico relevante vivido por eles.

Disciplinas integradoras: Língua Portuguesa, Arte e História.

Tema contemporâneo: Vida familiar e social.

Competências gerais: 1, 3 e 6.

Competências específicas

Linguagens: 1, 2 e 5.

História: 1.

Arte: 1, 4, 5 e 8.

Objetivos

  • Refletir sobre o papel da memória da formação da personalidade.
  • Refletir sobre as relações entre memória pessoal e história coletiva.
  • Exercitar as capacidades de compreensão e produção de relatos de experiência.

Materiais a serem utilizados

  • Cadernos.
  • Folha com linhas (papel almaço).
  • Gravadores (se possível).
  • Material de arte para confecção das caixinhas de histórias (pequenas caixas – de madeira, se possível –, tintas coloridas, giz de cera, papel crepom etcétera).

Produto final a ser desenvolvido

Exposição interativa.

Antes de iniciar o projeto, é necessário que você explique aos estudantes os objetivos do Projeto Integrador e a maneira como será realizado. Explique que será um trabalho comum aos componentes curriculares de Língua Portuguesa, Arte e História, e que será desenvolvido em algumas etapas distribuídas ao longo do ano. O produto final será a organização de uma exposição interativa.

Língua Portuguesa, História e Arte

1. Gênero relato pessoal

Selecione previamente alguns exemplos de relatos pessoais, orais e escritos, dando preferência àqueles que apresentem pers pectivas pessoais em relação a momentos históricos marcantes.

Algumas sugestões são os relatos orais sobre a vida durante a Segunda Guerra no Brasil, coletados pelo Museu da Pessoa e disponibilizados nesse site. Uma sugestão de relatos escritos são aqueles narrados em O diário de én frênqui. Explique que os relatos selecionados abordam, de diferentes maneiras, a Segunda Guerra Mundial. Investigue os conhecimentos prévios dos alunos sobre esse acontecimento e valorize suas respostas. Em seguida, apresente os relatos aos estudantes e dedique algum tempo para a discussão de cada um deles. Certifique-se de que todos os estudantes compreenderam as informações fundamentais de cada relato e estimule-os a imaginar como teria sido viver naquele momento.

2. Produção de relato pessoal

Oriente os estudantes a elaborar um relato pessoal escrito, registrando experiências relacionadas a um evento recente da história do país ou da comunidade em que se insere a escola (um grande evento ambiental, como enchentes ou secas, uma eleição, a Copa do Mundo da fifa etcétera). Considere a adequação do evento selecionado à faixa etária dos alunos. Peça aos estudantes que leiam e comentem o texto de colegas, orientando-os a completar eventuais lacunas de informações relevantes para a compreensão dos relatos. Se possível, estabeleça qual deve ser a formação das duplas, agrupando estudantes que, em geral, apresentam maior facilidade na escrita de textos com alunos que, em geral, aparentam ter mais dificuldade. Explique aos estudantes os aspectos do texto que deverão ser observados. Sugira, por exemplo, que observem se o relato: situa com clareza o evento histórico com que se relaciona; explica com clareza as causas e as consequências dos eventos narrados; apresenta uma perspectiva pessoal sobre o evento; contém algum trecho confuso; apresenta algum aspecto que precisa ser mais detalhado. Após essa atividade, peça aos estudantes que comentem, em duplas, as observações feitas. Então, coletivamente, peça-lhes que expliquem o que puderam perceber a respeito do relato.

3. Entrevista e pesquisa

Esta etapa deverá ser desenvolvida preferencialmente durante as aulas de História e tem como objetivo apresentar aos alunos fatos históricos marcantes do período que vai de 1950 a 1999. O professor deverá explicar alguns fatos relevantes, o recorte temporal e seus respectivos contextos. Oriente os estudantes a formar grupos com quatro integrantes. Esses grupos deverão discutir e selecionar as pessoas a serem entrevistadas e definir um roteiro com as perguntas que deverão ser feitas a cada entrevistado. Auxilie na formulação das perguntas. Algumas sugestões são: O que você lembra quando pensa no fato (definir o fato histórico)?; Para você, a fórma de viver mudou quando o fato (definir o fato histórico) ocorreu?; Qual era sua idade então?; Você compreendia o que estava ocorrendo?. Oriente os alunos a entrevistar ao menos dois familiares de gerações diferentes e, então, registrar por escrito aspectos relevantes dos relatos. Na aula seguinte, os alunos, reunidos em seus grupos, deverão compartilhar com os colegas os relatos recolhidos nas entrevistas com os familiares. Comente que, ao final da aula, cada grupo deverá selecionar os três relatos mais interessantes, os quais deverão ser, posteriormente, gravados. Ao final da aula, explique aos estudantes que as gravações podem ser feitas por meio de aparelhos celulares e que apenas um aparelho será necessário, uma vez que os alunos podem se organizar para conduzir as entrevistas em conjunto. Se não houver possibilidade de uso de gravadores ou aparelhos celulares, solicite que o registro das entrevistas seja feito por escrito.

4. A sensibilização do aluno

O objetivo desta etapa, que pode ser conduzida pelo professor de Arte, é sensibilizar os alunos para os relatos de experiência e também para o planejamento da exposição interativa em que eles serão exibidos. Para isso, leve para a sala de aula alguns objetos pessoais importantes para você. Esses objetos deverão ser expostos à observação da turma. Relate as razões que tornam esses objetos importantes. Em seguida, estimule os alunos a nomear objetos que tenham importância pessoal para eles, e as razões para isso. A conversa deve ser conduzida para que eles percebam que alguns objetos que nos cercam são importantes na medida em que guardam parte da nossa memória e, assim, tornam-se também objetos de afeto. É interessante levá-los ainda a perceber que esse afeto está sempre vinculado a determinadas experiências pelas quais passamos, e que desejamos preservar de alguma fórma. Proponha aos alunos que coletem objetos pessoais dos entrevistados, para que sejam expostos juntamente com as gravações/registros escritos dos relatos de experiência. Essa coleta é uma tarefa para a próxima aula desta etapa, que consistirá na montagem de caixinhas decoradas onde os objetos pessoais serão organizados para exposição. Na sequência, os alunos devem reunir-se em grupos para, com os objetos coletados dos familiares, elaborar as caixinhas de histórias. Oriente-os a ter muito cuidado e respeito com os objetos dos familiares, pois têm valor afetivo. Reúna, previamente, todo o material necessário para a confecção das caixas, de acôrdo com as possibilidades de cada escola. Alguns materiais sugeridos, além das caixas, são tintas escolares, pincéis, giz de cera, lápis e canetas coloridos, papel crepom de cores diversas etcétera

5. Montagem da exposição

As gravações deverão ficar ao lado das caixinhas com os objetos pessoais. Por meio de pequenas legendas e da observação dos objetos, os convidados serão estimulados a adivinhar quem são as pessoas cujos relatos ouvirão (idade, sexo, interesses etcétera). Converse previamente com a direção da escola para que possam decidir o local em que poderá ser montada a exposição, a data e o horário em que os convidados poderão visitá-la.

IV. Práticas de ensino-aprendizagem

A importância de avaliar

A avaliação é uma ação docente necessária que fornece ao professor subsídios para mapear conhecimentos e habilidades23nota de rodapé que os alunos detêm, acompanhando sua progressão, ao mesmo tempo que serve de estratégia para traçar um percurso didático adequado ao que se espera que o estudante aprenda. Planejar e replanejar são etapas essenciais em um planejamento eficaz, favorecidas pela avaliação, uma vez que é ela que possibilita compreender os conhecimentos que os estudantes já possuem, suas dificuldades de aprendizagem e o que ainda precisa ser desenvolvido.

Roldão e Ferro (2015) consideram que a avaliação tem uma finalidade reguladora, pois encaminha o agir tanto de professor como de estudantes. Para esses estudiosos, tal regulação vincula-se ao processo de ensino, ou seja, ao estabelecimento do que precisa ser ensinado, considerando os saberes já construídos e as aprendizagens que serão necessárias nas próximas etapas. Aos estudantes, ela proporciona que acompanhem o próprio processo de aprendizagem (autoavaliação), ao possibilitar que compreendam o que foi aprendido e o que ainda necessita de outras ações. Para atingir essa finalidade reguladora, é preciso que os instrumentos avaliativos escolares não constituam meros instrumentos produzidos apenas para quantificar e mensurar as aprendizagens.

Não há como falar de avaliação sem entrar em dois conceitos essenciais: a metacognição e a autorregulação. A metacognição refere-se ao domínio consciente que o estudante tem de seu próprio conhecimento. Figueira (2003) a define como um modelo de processamento do desenvolvimento cognitivo, formado por dois componentes, um de sensibilidade e outro de crenças. Segundo a autora, “a sensibilidade diz respeito ao conhecimento da necessidade de se utilizar, ou não, estratégias em tarefas ou atividades específicas” (FIGUEIRA, 2003, página 3). O outro componente define-se

reticências como conhecimento ou crença que a pessoa tem de si enquanto ser cognitivo, em tarefas cognitivas diversas, sobre os fatores ou variáveis que atuam ou interatuam e de que maneiras afetam o resultado dos procedimentos cognitivos. (FIGUEIRA, 2003, página 3).

Como processo de aprendizagem, a metacognição não visa à assimilação de conhecimento, mas ao desenvolvimento de habilidades que possibilitam regular os processos cognitivos. Segundo Sanmartí (2009), a autorregulação motiva o estudante a compreender de modo nítido o que precisa aprender, organizar, planejar, desenvolver, selecionando, de fórma autônoma, estratégias adequadas para realizar a atividade proposta.

Aprender envolve muito mais aspectos do que a aquisição mecânica de um conhecimento, pois abarca tanto crescimento emocional como intelectual, implicando o aprender a aprender, que, segundo Fonseca (2008), abrange o foco na captação de informações; a formulação, o estabelecimento e a planificação de estratégias para realizar tarefas; o monitoramento do desempenho cognitivo; o exame de informações disponíveis; e a aplicação de procedimentos para solução de problemas.

Ao regular os processos de cognição, o estudante torna-se ativo e responsável pelo desenvolvimento das atividades, criando estratégias que o levem a superar obstáculos. Isso significa que, consciente de suas habilidades e potencialidades, pode desenvolver múltiplas outras, cabendo ao professor, como mediador desse processo, construir um clima motivacional que estimule a autonomia intelectual do estudante para organizar e fazer gestão de sua própria aprendizagem.

Nesse sentido, autorregular e autoavaliar permitem que o estudante estabeleça contato direto com suas dificuldades de aprendizagem, para assim poder superá-las. Cabe destacar que a aprendizagem não é descontextualizada; como aponta Frison (2006, página 110), “reticências ela ocorre quando se consegue exercer alguma espécie de contrôle sobre a própria ação, sobre a busca de opções para conseguir metas em função de seus interesses e valores reticências.”.

Esse processo vincula-se à avaliação formativa, que considera os processos de regulação de professores e estudantes, utilizando tanto a avaliação diagnóstica, que identifica os conhecimentos prévios dos aprendizes, como a avaliação cumulativa, que mapeia as dificuldades de aprendizagem dos alunos sobre determinado conjunto de práticas didáticas. Essa articulação de diferentes fórmas de avaliação é importante; juntas, segundo Gatti (2003), elas dão sentido à aprendizagem e possibilitam ao professor avaliar tanto o estudante como o processo proposto e, ao estudante, avaliar a si próprio. Além disso, esse mapeamento que só uma avaliação formativa proporciona é essencial para o planejamento das aulas que serão ofertadas aos alunos nas etapas subsequentes ao momento de aplicação das avaliações ao longo do curso.

Essas concepções sobre o papel da avaliação para o ensino-aprendizagem do estudante e para o professor embasaram várias propostas que aparecem nesta coleção, entre as quais citamos as etapas de avaliação presentes nas seções meu ou minha [nome do gênero] na prática. O trato frequente com critérios para a autoavaliação ou para a avaliação dos colegas (rubricas de correção) concorre para que o aluno, progressivamente, adquira ferramentas para a análise de atividades de mesmo tipo ou semelhantes.

Da mesma fórma, a discussão das produções em sala de aula constrói um ambiente em que o valor está posto no processo e na aprendizagem e não nos resultados posteriormente aferidos. Por sua vez, o professor passa a ter condições de acompanhar o ritmo de avanço da turma pela maneira como lida com os critérios disponibilizados ou mobilizados por conta própria.

Também seções relativas ao eixo leitura/escuta contribuem para essa aquisição constante de repertório de autoanálise, na medida em que oferecem parâmetros para a validação ou não das hipóteses e análises. Atividades mais curtas também foram pensadas com esse foco. A realização do Desafio da linguagem (mais frequente nas seções Falando sobre a nossa língua), por exemplo, decorre de uma etapa anterior de leitura e possibilita que professores e alunos mensurem a aprendizagem ainda durante o processo, mapeando o que os estudantes já sabem, mas em produções de menor porte – o que auxilia o professor no planejamento das aulas subsequentes a partir do diagnóstico que essa atividade proporciona.

Fornecemos a seguir alguns modelos de avaliação que poderão ser utilizados por você com suas turmas. Esses instrumentos avaliativos contam com textos de variados gêneros (já familiares aos alunos do 6º ano porque estão ligados ao que eles estão estudando nas sequências didáticas que compõem os capítulos da coleção); com questões discursivas e de múltipla escolha (itens de avaliação devidamente resolvidos e comentados); com indicação das cê gê, cê e éle e cê e éle pê abordadas nos itens; com sugestões de análise baseadas nas respostas dadas pelos alunos e rubricas de correção, as quais favorecerão mapeamentos de conhecimentos, competências e habilidades, além de contribuírem para preparar os alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais para exames de larga escala. Da mesma maneira que as atividades ofertadas nas seções do livro e que compõem as sequências didáticas, essas avaliações foram produzidas considerando uma perspectiva formativa. Utilize-as como instrumentos cumulativos, ou seja, que buscam detectar o que os alunos aprenderam e quais são suas dificuldades sobre determinado conjunto de aprendizagens. Dependendo dos resultados, você poderá realizar retomadas de algumas seções que compõem as sequências didáticas presentes nos capítulos, como as questões relativas às Leituras 1 e 2, ou ainda criar grupos de recuperação paralela nos contraturnos, se esta for a realidade de sua escola, e retrabalhar conhecimentos e habilidades por meio das seções meu ou minha [nome do gênero] na prática, Desafio da linguagem e dos itens oferecidos à análise em Falando sobre a nossa língua.

Modelo de avaliação 1

cê gê: 1.

cê e éle : 1 e 2.

cê e éle pê : 1 e 2.

O trecho que você vai ler a seguir foi retirado de um diário muito conhecido, escrito por uma menina que tinha 13 anos quando o produziu. én frênqui foi uma garota judia que viveu em Amsterdam, na Holanda, em uma época de perseguição aos judeus por nazistas e precisou, por essa razão, se refugiar em um sótão da empresa que seu pai possuía. Lá, ela registrou seus sentimentos em um diário secreto.

Faz alguns dias que não escrevo porque eu quis, antes de tudo, pensar neste diário. É estranho uma pessoa como eu manter um diário; não apenas por falta de hábito, mas porque me parece que ninguém – nem eu mesma – poderia interessar-se pelos desabafos de uma garota de treze anos. Mas que importa? Quero escrever e, mais do que isso, quero trazer à tona tudo o que está enterrado bem fundo no meu coração.

Há um ditado que diz: “O papel é mais paciente que o homem”. Lembrei-me dele em um de meus dias de ligeira melancolia, quando estava sentada, com a mão no queixo e tão entediada e cheia de preguiça que não conseguia decidir se saía ou ficava em casa. Sim, não há dúvida de que o papel é paciente, e como não tenho a menor intenção de mostrar a ninguém este caderno de capa dura que atende pelo pomposo nome de diário – a não ser que encontre um amigo ou amiga verdadeiros –, posso escrever à vontade. Chego agora ao xis da questão, o motivo pelo qual resolvi começar este diário: não possuo nenhum amigo realmente verdadeiro.

Vou explicar isso melhor pois ninguém há de acreditar que uma menina de treze anos se sinta sozinha no mundo. Aliás, nem é esse o caso. Tenho meus pais, que são uns amores, e uma irmã de dezesseis anos. Conheço mais de trinta pessoas a quem poderia chamar de amigas – e tenho uma porção de pretendentes doidos para me namorar e que, não o podendo fazer, ficam me espiando, na classe, por meio de espelhinhos. reticências O problema é que não conseguimos nos aproximar uns dos outros. Talvez me falte autoconfiança; seja como for, o fato é esse, e não consigo mudá-lo.

Daí este diário. A fim de destacar na minha imaginação a figura de uma amiga por quem esperei tanto tempo, não vou anotar aqui uma série de fatos corriqueiros, como faz a maioria. Quero que este diário seja minha amiga e vou chamar esta amiga de kiti.

Sábado, 20 de junho de 1942.

Frank Én. O diário de én frênqui. Tradução Elia Ferreira Edel. edição Rio de Janeiro: Record, 1988.

1. No segundo parágrafo, én frênqui explica o motivo que a levou a escrever seu diário. Que motivo é esse? Explique-o com suas próprias palavras.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê dois cinco.

Resposta esperada: én frênqui decidiu escrever um diário para ter alguém próximo para quem pudesse contar coisas de sua vida, já que não “possuía nenhum amigo verdadeiro”. A maioria das dificuldades dos estudantes pode se concentrar em três aspectos dessa questão. A primeira seria na paráfrase da informação, que os levaria a afirmar algo diferente do que pretendiam; nesse caso, o encaminhamento seria levá-los a questionar a escolha de palavras, para que entendessem o problema criado por ela. A segunda, ainda relacionada à capacidade de paráfrase, seria limitar-se a repetir textualmente (ou quase) o trecho que se segue imediatamente à declaração da autora de que vai anunciar o motivo de ter iniciado

o diário: “não possuo nenhum amigo verdadeiro”; nesse caso, deve-se levar os alunos a perceber que no parágrafo seguinte a autora desenvolve essa afirmação, explicando-a – e sugerir a eles que elaborem a paráfrase tendo em vista todo o sentido da afirmação. A terceira, anterior a essas, seria não identificar a informação no texto; nesse caso, o encaminhamento seria pedir aos estudantes que identificassem, no “segundo parágrafo” (como orientado pelo enunciado), uma palavra do campo semântico de “motivo” e, uma vez identificada, pedir a eles que expliquem qual informação aparece associada a ela.

2. Com base em sua resposta anterior, explique por que én frênqui decidiu nomear seu diário.

Habilidades: ê éfe seis sete éle pê três sete e ê éfe seis sete éle pê dois oito.

Resposta esperada: én frênqui decidiu nomear seu diário como fórma de expressar que, para ela, esse diário representava, mais que um caderno, uma amiga de verdade, como ela não encontrava entre suas colegas. Acreditamos que o estudante pode falhar em atender às exigências da questão por duas razões. A primeira é não reconhecer a motivação para a nomeação do diário; nesse caso, é preciso indicar ao aluno o trecho do texto em que a autora faz referência à nomeação e apontar a relação que ela estabelece entre isso e seu desejo de que o diário seja como uma amiga. Outra estratégia possível, caso o estudante tenha respondido corretamente à primeira questão, seria pedir a ele que retomasse o enunciado dela, que faz referência à questão anterior. A segunda é explicar de maneira vaga a motivação, dizendo, por exemplo, que decidiu nomear por “não ter amigos verdadeiros”.

3. No último parágrafo, én frênqui afirma que, diferentemente de outros diários, o dela não servirá para “anotar uma série de fatos corriqueiros”. Sabendo que corriqueiro significa “comum”, o que provavelmente ela escreverá em seu diário? Justifique.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê dois oito.

Resposta esperada: Pode-se perceber que én frênqui pretende escrever em seu diário opiniões e sentimentos íntimos (ou profundos), o que pode ser percebido quando afirma que quer “trazer à tona tudo que está enterrado bem fundo em meu coração”. A principal dificuldade da questão é a inferência exigida por ela. Assim, espera-se que os erros mais frequentes tenham a ver com a dificuldade de identificar que, para én frênqui, a relação com o diário é de intimidade, da qual ela carece em outros campos de sua vida. Nesse caso, você deve levar o aluno a compreender o texto de maneira global, uma vez que ele gira em torno do tema da carência de intimidade da autora. Para isso, pode começar apontando a ele que, no primeiro parágrafo, ela afirma sua vontade de “trazer à tona tudo aquilo que está enterrado” e, em seguida, pedir a ele que identifique, no decorrer do texto, por que há algo “enterrado” e de que maneira essas coisas poderiam ser trazidas “à tona”.

4. No segundo parágrafo do diário, én frênqui menciona um ditado, “o papel é mais paciente que o homem”. A respeito disso, responda:

Habilidades: ê éfe seis sete éle pê dois oito e ê éfe seis sete éle pê três oito.

a. O que você acha que esse ditado significa?

Resposta esperada: O ditado significa que é mais fácil escrever certas coisas do que contá-las a outras pessoas. A principal falha esperada consiste em não conseguir estabelecer as relações necessárias para compreender a metáfora. Nesse caso, o professor deve, através de uma série de perguntas, levar os alunos a perceber que é mais fácil contar coisas a pessoas “pacientes”, ou seja, pessoas que serão capazes de aceitar o que você diz sem reagir e que, portanto, o papel é um interlocutor ideal, porque acolhe tudo o que você tem a dizer, sem julgar nada.

b. Considerando sua resposta anterior, explique: por que ela menciona o ditado?

Resposta esperada: én frênqui menciona o ditado para explicar por que se sente mais confortável contando coisas íntimas para seu diário do que para outras pessoas. Uma das falhas esperadas consiste em não conseguir estabelecer a relação entre a figura de linguagem e a afirmação de que, para o diário, a autora pode “escrever à vontade”. Nesse caso, o professor deve pedir ao estudante que retome o parágrafo e observe a relação que én frênqui estabelece entre a paciência do papel, não mostrar a ninguém o que escreveu e poder escrever sem constrangimentos. Outra falha esperada reside na dificuldade de expressar a relação percebida. Nesse caso, o professor deve orientar o aluno a parafrasear a afirmação quanto a poder “escrever à vontade” e, então, explicar como esse sentimento de liberdade se relaciona com a característica do papel de ser “mais paciente”.

O trecho a seguir foi retirado do romance A bolsa amarela, escrito pela gaúcha Lygia Bojunga. Leia-o com atenção para responder às questões 5, 6 e 7.

Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenininha, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não aguento mais o meu. Vontade assim todo o mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras – as três que de repente vão crescendo e engordando toda a vida – ah – essas eu não quero mais mostrar. De jeito nenhum. Nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é a vontade de crescer de uma vez e deixar de ser criança. Outra hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina.

Mas hoje tô achando que é a vontade de escrever. Já fiz tudo pra me livrar delas. reticências foi só no mês passado que a vontade de escrever deu pra crescer também. A coisa começou assim: um dia fiquei pensando o que é que eu ia ser mais tarde. Resolvi que ia ser escritora. Então já fui fingindo que era. Só pra treinar. Comecei escrevendo umas cartas:

“Prezado André,

Ando querendo bater papo. Mas ninguém tá a fim.

Eles dizem que não têm tempo. Mas ficam vendo televisão. Queria te contar minha vida. Dá pé?

Um abraço da Raquel.”

reticências

BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. edição Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2003.

5. No segundo parágrafo do fragmento lido, a narradora afirma, sobre ser escritora, “já fui fingindo que era”. Observe o verbete fingir, reproduzido a seguir, e responda: que sentido – entre os apresentados – melhor descreve o utilizado pela narradora no trecho? Justifique sua resposta.

Fingir (fin.gir) verbo 1 reticências ocultar sentimento, intenção, pensamento; dissimular. <“fingia para não magoar a mãe”> 2 reticências fazer parecer real (o que é falso ou inexistente); aparentar, simular. <“fingiu entusiasmo”> 3 reticências exprimir sem sinceridade. <“fingiu todo o testemunho”> 4 criar na imaginação; inventar <“costumavam fingir que moravam à beira-mar”>

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê dois oito.

Resposta esperada: O sentido da palavra fingir utilizado pela narradora é aquele descrito na entrada 4: “criar na imaginação; inventar”. Pode-se perceber isso pelo fato de que não há simulação ou falsidade no fingimento da menina, mas brincadeira e imaginação. São duas as dificuldades esperadas nessa questão. A primeira seria uma dificuldade para diferenciar os sentidos de fingir. A segunda dificuldade reside na elaboração da justificativa. Em ambos os casos, o professor deve pedir ao aluno que faça uma paráfrase dos diversos sentidos da palavra e induzi-lo a perceber que todos os sentidos menos o 4 implicam, em alguma medida, uma vontade de “parecer” algo que não se é; no caso da narradora, ao contrário, há apenas imaginação e brincadeira, já que ela fingiu apenas para si.

  1. A respeito do trecho de A bolsa amarela, assinale a alternativa correta.
    1. “Dar sumiço da aula de matemática” significa, no trecho, algo como “fazer a aula desaparecer”, ou seja, fazê-la passar mais rapidamente.
    2. Durante todo o trecho, o interlocutor da narradora é André, seu colega.
    3. Durante todo o trecho, não é possível dizer que a narradora seja interlocutora de ninguém, já que é sempre ela quem fala.
    4. Na carta que a narradora escreve a André, a expressão dá pé tem o sentido de “é possível”.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê três oito.

Resposta certa: D

A marcação da alternativa A como correta indica um equívoco na leitura de determinada gíria, o que pode ser indicativo de uma dificuldade para inferir sentidos de palavras e expressões a partir de seu contexto verbal. Nesse caso, o professor deve induzir o aluno a perceber a diferença entre pretender que algo “desapareça” e querer que “passe mais depressa”. Constatada a diferença, o professor deve pedir ao estudante que desenvolva outras hipóteses de sentido e as avalie de acôrdo com sua pertinência ao contexto. O sentido a que o aluno deve chegar precisa ser equivalente a “matar aula”.

A marcação da alternativa B como correta indica também um equívoco de leitura. Nesse caso, o estudante não soube delimitar com precisão o trecho em que André é de fato interlocutor da narradora. O professor deve levar o aluno a perceber marcas que distinguem os dois momentos presentes no trecho: a narradora como personagem que narra o texto a seus leitores e a narradora como personagem que interage com outros personagens.

A marcação da alternativa C como correta indica uma compreensão imprecisa do conceito de “interlocutor”. O uso corrente frequentemente restringe a palavra à designação daquele com quem se fala, o que pode levar o aluno a compreender que a posição de interlocutor equivale àquela que conhecemos como “receptor”. Nesse caso, o professor deve indicar a ele essa imprecisão e pedir que retome o conceito para perceber que tanto aquele que fala como aquele que ouve são interlocutores em uma situação de comunicação.

  1. Ainda a respeito do trecho de A bolsa amarela, assinale a alternativa correta.
    1. Podemos saber quem é a narradora exclusivamente devido ao fato de ela afirmar que é uma menina e uma criança.
    2. Para sabermos quem é a narradora, podemos prestar atenção à linguagem que ela utiliza. Já que ela emprega uma linguagem complexa, sabemos que se trata de uma adulta de uma cidade grande.
    3. O uso de gírias como ligando a mínima nos ajuda a perceber que a narradora é jovem.
    4. A narradora comete diversos erros no emprego da língua, como a escolha de pra no lugar de para e no lugar de estou.

Habilidade: ê éfe seis nove éle pê quatro sete.

Resposta certa: C

A marcação da alternativa A como correta em geral deve-se à desconsideração da palavra exclusivamente. Nesse caso, o professor deve indicar ao aluno a necessidade de que a afirmação esteja integralmente correta para a marcação da alternativa correspondente a ela. Além disso, é possível que o estudante não perceba a contribuição da variante linguística para caracterização do contexto. Nesse caso, o professor deve retomar a discussão acerca das variantes como fator de identidade cultural, explicitando que, frequentemente, é possível perceber a origem geográfica, a idade, o sexo, a classe social etcétera de alguém através da linguagem empregada por ele.

A marcação da alternativa B como correta indica uma apropriação equivocada do conceito de variante urbana de prestígio. Nesse caso, o professor deve remeter o aluno às discussões sobre variação para que ele perceba que esse conceito não pode ser aplicado à fala de grupos urbanos particulares como os jovens, que é o caso da narradora.

A marcação da alternativa D indica que o estudante compreende de maneira equivocada o conceito de erro, falhando em perceber que a língua pode se apresentar de diversas maneiras. O professor deve remetê-lo à discussão acerca da inexistência de um modo único de usar a língua e da necessidade de saber adequar o uso aos contextos diversos. Caso essa marcação seja frequente na turma, cabe ao professor retomar a discussão coletivamente para esclarecer os equívocos.

O trecho a seguir foi retirado do romance Inocência, escrito por Visconde de toné no século dezenove. Nele, o autor, pretende fazer um retrato da vida rural e de seus personagens. Leia o excerto com atenção para responder às questões 8 e 9.

reticências Ocasiões há em que o sertanejo dá para assobiar. Cantar, é raro; ainda assim, à surdina; mais uma voz íntima, um rumorejar consigo, do que as notas saídas do robusto peito. Responder ao pio das perdizes ou ao chamado agoniado da esquiva jaó, é o seu divertimento em dias de bom humor. reticências

Cresce-lhe o orgulho na razão da extensão e importância das viagens empreendidas; e seu maior gosto consiste em enumerar as correntes caudais que transpôs, os ribeirões que batizou, as serras que superou e os pantanais que afoitamente cortou, quando não levou dias e dias a rodeá-los com rara paciência.

A certeza que tem de que nunca poderá perder-se na vastidão, como que o liberta da obsessão do desconhecido, o exaltaglossário  e lhe dá foros de infalibilidadeglossário .

Se estende o braço, aponta com segurança o espaço e declara peremptoriamente:

– Neste rumo daqui a 20 léguas fica o espigão mestre de uma serra braba, depois um rio grosso; dali a cinco léguas outro mato sujo que vai acabar num brejal. Se vassuncê frechar direitinho assim umas duas horas, topa com o pouso do Tatu, no caminho que vai a Cuiabá.

reticências A única interrupção que aos outros consente, quando conta os inúmeros descobrimentos, é a da admiração. À mínima suspeita de dúvida ou pouco caso, incendem-se-lhe de cólera as faces e no gesto denuncia indignação.

– Vassuncê não credita! protesta então com calor. Pois encilhe o seu bicho e caminhe como eu lhe disser.

toné, Visconde de. Inocência. edição São Paulo: Ática, 2011.

Exalta
: provoca estímulo, entusiasmo.
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Foros de infalibilidade
: certeza de que é infalível.
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8. Explique, com suas próprias palavras, o que a personagem do sertanejo quer dizer quando fala em serra braba.

Habilidade ê éfe seis sete éle pê três oito.

Resposta esperada: A expressão serra braba faz referência a uma serra que apresenta dificuldades para ser atravessada. Espera-se que a principal dificuldade dos alunos resida na explicação precisa do sentido da expressão. Nesse caso, o professor deve apontar que o adjetivo braba indica que a personagem percebe a serra como uma espécie de antagonista. Considerando o contexto, que descreve o sertanejo como um viajante orgulhoso, podemos inferir que ele enxerga a serra como um obstáculo que deva ser “superado”.

9. Ao observar a fala típica da personagem retratada em palavras como braba, vassuncê ou credita, o que é possível afirmar sobre a fala do personagem?

Habilidade: ê éfe seis nove éle pê cinco cinco.

Resposta esperada: fórmas como braba, vassuncê e credita indicam que o personagem sertanejo emprega uma variante linguística que difere da norma-padrão. Nessa questão, é possível que os alunos afirmem que fórmas linguísticas como braba, vassuncê e credita indicam erros no emprego da língua portuguesa. Nesse caso, o professor deve retomar as discussões acerca da variação linguística, enfatizando que todas as variantes são diferentes fórmas de manifestação da língua. O que ocorre é que algumas delas são prestigiadas socialmente e, por isso, seu emprego é exigido em situações de maior formalidade, enquanto outras são alvo de preconceito linguístico.

  1. Sobre as relações entre linguagem verbal e não verbal em geral, assinale a alternativa correta.
    1. Não é possível afirmar que pinturas constituem atos de comunicação, já que não há linguagem verbal envolvida.
    2. Podem ser considerados interlocutores da comunicação estabelecida por pinturas todos os espectadores que passam por elas e as visualizam.
    3. Pode-se afirmar que a linguagem mista é uma mistura de linguagem verbal e não verbal, em que a linguagem verbal predomina sobre a outra.
    4. A ausência de linguagem verbal dificulta a compreensão imediata de pinturas, já que textos de linguagem mista são de compreensão mais fácil.

Resposta certa: B

A marcação da alternativa A provavelmente indica um equívoco de compreensão do conceito de comunicação, que não se restringe às informações verbais. O professor deve esclarecer ao aluno que comunicação é o que se dá na interação dos interlocutores. Na imagem em questão, a comunicação se dá entre o artista, que produz a pintura com determinadas intenções comunicativas, e o espectador, que as compreende à sua maneira.

A marcação da alternativa C indica uma incompreensão das relações entre linguagem verbal e não verbal, uma vez que não há qualquer tipo de predominância predeterminada de uma sobre a outra. Se julgar pertinente, o professor deve reforçar o trabalho com textos de linguagem mista, enfatizando a importância da linguagem não verbal na construção de seus sentidos.

A marcação da alternativa D indica que o aluno não percebe que os diferentes tipos de linguagem são autossuficientes, não dependendo de outros para se fazer compreender. Nesse caso, o professor deve promover outras atividades de compreensão de textos de linguagem não verbal, enfatizando sua independência em relação à linguagem verbal.

Modelo de avaliação 2

Competências

cê gê: 1.

cê e éle : 1 e 2.

cê e éle pê : 1 e 2.

O excerto a seguir foi retirado da obra As boas mulheres da China, em que Xinran, sua autora e narradora, registra diversos relatos de experiência contados a ela, em especial, por mulheres chinesas. Leia-o com atenção para responder às questões de 1 a 5.

reticências

A minha sala ficava no décimo sexto dos vinte e um andares daquele prédio moderno e severo.

Eu preferia subir a escada a arriscar-me a usar o elevador, que não merecia confiança e quebrava frequentemente. Quando cheguei à minha mesa, percebi que tinha deixado a chave da bicicleta no cadeado.

Com pena de mim, um colega se ofereceu para telefonar para o porteiro. Isso não era muito fácil porque, na época, nenhum funcionário de baixo escalão tinha telefone e o meu colega teria que ir à sala do chefe da seção para fazer o telefonema. No final alguém me trouxe a chave, junto com a minha correspondência.

Em meio à grande pilha de cartas, uma me chamou a atenção imediatamente: o envelope tinha sido feito com a capa de um livro e havia uma pena de galinha grudada nele. Segundo uma tradição chinesa, uma pena de galinha é sinal de pedido de socorro urgente.

A carta vinha de um garoto e tinha sido mandada de uma aldeia cêrca de duzentos e cinquenta quilômetros de Nanquim.

Respeitada Xinran,

Ouço todos os seus programas. Todo mundo na nossa aldeia gosta deles. Mas não estou escrevendo para lhe dizer como o seu programa é bom; estou escrevendo para lhe contar um segredo.

Não é bem um segredo, porque todo mundo na aldeia sabe. Há um homem velho e aleijado aqui, de sessenta anos, que comprou uma esposa recentemente. Ela parece muito nova. Acho que foi raptada.

Acontece muito disso por aqui, mas muitas das garotas conseguem fugir mais tarde. O velho está com medo de que a mulher fuja, por isso amarrou-a com uma grossa corrente de ferro. A cintura dela está em carne viva por causa do peso da corrente – o sangue escoa pela roupa. Acho que ela vai morrer. Salve-a, por favor.

Não mencione esta carta no rádio de modo algum. Se os moradores da aldeia descobrirem, expulsam a minha família daqui.

Que o seu programa fique cada vez melhor.

Seu ouvinte leal,

zãn xiaoxuan

Era a carta mais aflitiva que eu recebia desde que começara a apresentar o meu programa noturno de rádio, Palavras na brisa noturna, quatro meses antes. Nele eu discutia vários aspectos do cotidiano e usava minhas próprias experiências para obter a confiança dos ouvintes e sugerir meios de lidar com as dificuldades da vida. “Meu nome é Xinran”, dissera eu no início da primeira transmissão. “‘Xinran’ significa ‘com prazer’.

Chim chim rêm djôn cala iêm’, escreveu zu zikin num poema sobre a primavera: ‘Com prazer, a natureza abriu os olhos para coisas novas’.” O programa era uma “coisa nova” para todo mundo, inclusive para mim.

Eu estava só começando como apresentadora e tentava fazer algo que nunca se fizera no rádio.

reticências O autor e filósofo chinês Lu Xun disse certa vez que “a primeira pessoa que experimentou um caranguejo deve ter provado uma aranha também, mas percebeu que não era boa para comer”.

Esperando a reação dos ouvintes ao programa, eu me perguntava se iam considerá-lo um caranguejo ou uma aranha. O número de cartas entusiasmadas que se empilhavam na minha mesa me convenceu de que era um caranguejo.

XINRAN. As boas mulheres da China. Tradução de Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Fragmento).

1. No início do texto, a narradora relata que um colega decidiu ligar para o porteiro em seu nome por ter sentido “pena” dela. Explique por que o colega sentiu pena.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê três sete

Resposta esperada: O colega sentiu pena porque ela seria obrigada a descer e subir novamente dezesseis andares de escada, já que não utilizava elevadores. É possível que o estudante tenha dificuldades para indicar com precisão a causa do sentimento de pena do colega, apontando apenas que este se solidarizou com a necessidade da narradora de voltar para buscar suas chaves. Nesse caso, elucide que a causa concreta da pena é o fato de que ela teria de descer e subir pelas escadas novamente, o que implicaria esforço físico, e oriente o estudante a sempre buscar a causa específica dos eventos.

2. Junto da chave e da correspondência levadas para ela, a narradora recebe uma carta que chama sua atenção. Seu conteúdo denuncia o rapto e aprisionamento de uma garota, além de afirmar que isso acontece “com frequência”. Leia novamente o seguinte trecho:

reticências muitas das garotas conseguem fugir mais tarde.”

Identifique o substantivo presente no trecho e explique que propriedade dessa classe de palavras ajuda a reforçar que esse rapto não é um acontecimento isolado.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê zero quatro.

Resposta esperada: O substantivo é garotas. A flexão do substantivo no plural reforça que esse rapto não é um acontecimento isolado, uma vez que já aconteceu com mais de uma garota. É possível que o estudante tenha dificuldades com duas etapas diferentes da questão. Caso sua dificuldade seja a identificação do substantivo, remeta-o ao conteúdo já estudado e, se julgar pertinente, ofereça uma série de exercícios extras de identificação de substantivos e suas funções nos textos, para que possa se familiarizar com o conceito. Caso, no entanto, sua dificuldade se concentre na compreensão da importância da flexão de plural para o sentido do texto, ofereça alguns exercícios de identificação da função de flexões dos substantivos, com ênfase nas flexões de grau, cujos valores são mais difíceis de identificar com precisão.

  1. Sobre o emprego de substantivos nesse trecho, assinale a alternativa correta.
    1. O substantivo aldeia , em “todo mundo na aldeia sabe”, é um substantivo próprio, já que designa um local específico.
    2. A narradora designa seu próprio nome através de um substantivo comum, já que é composto de apenas uma palavra.
    3. No penúltimo parágrafo, a narradora emprega um substantivo abstrato para explicar o tipo de relação que procurava estabelecer com os ouvintes de seu programa.
    4. No penúltimo parágrafo, a narradora afirma que “o programa era uma ‘coisa nova’”. “O programa”, no caso, é um substantivo abstrato, já que depende da ação de pessoas para existir.

Habilidade: ê éfe zero seis éle pê zero quatro.

Resposta certa: C.

A marcação da alternativa A como correta indica que o estudante não está diferenciando com clareza palavras que, no sistema da língua, designam seres singulares e palavras que, em determinados contextos, fazem referência a seres singulares. Nesse caso, procure elucidar que palavras como Manaus sempre servirão para designar locais singulares, ao passo que palavras como cidade podem servir para designar diversos seres diferentes, ainda que, em determinados contextos, possam ser usadas para nomear um indivíduo específico. A marcação da alternativa B

como correta indica que o estudante confunde as categorias “comum” e “simples”. Nesse caso, retome a discussão a respeito das categorias, enfatizando que “comum” opõe-se a “próprio” (opondo substantivos utilizados para designar objetos em geral e substantivos usados para designar objetos particulares), enquanto “simples” opõe-se a “composto” (opondo substantivos formados por apenas um termo e substantivos formados por mais de um). A marcação da alternativa D como correta indica que o aluno não compreendeu devidamente a noção de “dependência” dos substantivos abstratos. Nesse caso, é necessário esclarecer que os substantivos abstratos são aqueles que se apresentam como manifestação de alguém, que os sente ou pensa. Aqueles substantivos que não dependem de um indivíduo para se manifestar são considerados concretos. No caso de programa, ainda que eles precisem ser produzidos por seres humanos, não precisam deles para se manifestar.

4. Leia com atenção a carta enviada pelo garoto para a narradora e o penúltimo parágrafo. Em seguida, explique o que levou o rapaz a endereçar essa carta à narradora.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê três sete.

Resposta esperada: O rapaz envia a carta à narradora porque é um ouvinte de seu programa. Nesse programa, a narradora obtém a “confiança” de seus ouvintes e se propõe a ajudá-los a lidar com suas dificuldades.

É possível que o aluno tenha dificuldade de identificar com precisão o que motiva o rapaz a endereçar a carta para a narradora, respondendo, por exemplo, que ele faz isso “procurando por ajuda” ou “para contar um segredo”, sem se dar conta de que é preciso explicar por que a narradora seria uma destinatária adequada, do ponto de vista do garoto, para a carta. Nesse caso, leve-o a compreender a motivação por meio de perguntas como: “Por que ele não enviou a carta à polícia?”, “O que o leva a enviar diretamente para a narradora?”, “Que características do programa que ela apresenta levaram o rapaz a confiar-lhe um segredo?”.

5. No último parágrafo, a narradora diz que o número de cartas recebidas a convenceram de que o programa “era um caranguejo”. Explique, com suas próprias palavras, o sentido dessa expressão.

Habilidade:ê éfe seis sete éle pê três oito.

Resposta esperada: Ao igualar o programa a um caranguejo, a narradora o associa às características desse animal, que, na afirmação do poeta, diferentemente da aranha, era bom “para comer” – sugerindo, assim, que seu programa também era bom. É possível que os estudantes tenham dificuldade para expressar o sentido da associação do caranguejo ao programa. Auxilie-os explicando que, quando dois termos são comparados, precisamos encontrar os termos de comparação, ou seja, identificar os traços comuns que permitem que a comparação ocorra. Nesse caso, a única característica do caranguejo sugerida pela afirmação é que, diferentemente da aranha, ele não era ruim para comer – característica que pode ser estendida ao programa, passando a ser considerado, assim, como algo positivo.

O trecho a seguir é a continuação daquele que você acabou de ler. Ele narra o desfecho da experiência que se iniciou no momento do recebimento da carta. Leia-o com atenção para responder às questões de 6 a 9.

A carta que recebi do garoto zãn xiaoxuan foi a primeira a apelar para a minha ajuda prática e me deixou muito confusa. Informei o chefe da minha seção e perguntei o que devia fazer. Ele sugeriu, com indiferença, que eu entrasse em contato com o departamento de Segurança Pública. Telefonei e contei a história de zãn xiaoxuan.

O policial do outro lado da linha me disse que me acalmasse. “Esse tipo de coisa acontece muito. Se todo mundo reagisse como a senhora, morreríamos de tanto trabalhar. E de toda fórma é um caso perdido.

Temos pilhas de relatórios aqui e os nossos recursos humanos e financeiros são limitados. Se fosse a senhora, eu pensaria bem antes de me envolver. Aldeães como esses não têm medo de ninguém nem de nada. Mesmo que fôssemos até lá, eles poriam fogo nos nossos carros e espancariam os nossos oficiais.

Eles fazem o impossível para garantir que suas famílias se perpetuem, pois deixar de produzir um herdeiro seria uma ofensa contra os ancestrais.”

“Então o senhor está me dizendo que não vai assumir responsabilidade por essa garota?”

“Eu não disse isso, masreticências

“Mas o quê?”

“Mas não há motivo de pressa, podemos ir passo a passo.”

“Não se pode deixar alguém morrer passo a passo!”

O policial deu uma risadinha. “É por isso que dizem que os policiais apagam incêndios e os jornalistas ateiam fogo. Qual é mesmo o seu nome?”

“Xinreticências ran”, respondi, rangendo os dentes.

“Sim, sim, Xinran, um bom nome. Está bem, Xinran, venha até aqui. Eu vou ajudá-la”, disse, como se me fizesse um favor e não como se cumprisse o próprio dever.

Fui direto à sua sala. Era um típico oficial de polícia chinês: robusto e alerta, com uma expressão astuta.

“No interior”, disse ele, “o céu está no alto e o imperador está muito longe.” Na sua opinião, a lei não tinha poder algum lá. Os camponeses temiam apenas as autoridades locais, que controlavam seus suprimentos de pesticidas, fertilizantes, sementes e ferramentas agrícolas.

O policial tinha razão. No final, foi o chefe do depósito de suprimentos agrícolas da aldeia que conseguiu salvar a garota. Ameaçou suspender o suprimento de fertilizantes dos aldeães, caso ela não fosse solta.

Três policiais me levaram até o povoado num carro da polícia. Quando chegamos, o chefe da aldeia teve que abrir caminho para nós por entre os moradores, que nos xingavam e sacudiam o punho na nossa direção.

A garota tinha só doze anos. Nós a tiramos do velho, que chorava e praguejava amargamente. Não ousei perguntar pelo garoto que me havia escrito. Eu queria agradecer, mas a polícia me disse que, se descobrissem o que ele tinha feito, os aldeães poderiam assassiná-lo e à sua família.

Presenciando em primeira mão o poder dos camponeses, comecei a entender como, com o auxílio deles, Mao derrotou Tcháim Cai-tchéqui e suas armas britânicas e americanas.

A menina foi mandada de volta para a família em Xining – uma viagem de trem de vinte e duas horas, a partir de Nanquim –, acompanhada por um policial e alguém da estação de rádio. Apurou-se que os pais tinham contraído uma dívida de quase dez mil iuanes tentando encontrá-la.

XINRAN. As boas mulheres da China. Tradução de Manoel Paulo Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Fragmento).

6. No primeiro parágrafo desse segundo trecho, a narradora emprega um substantivo abstrato importante para caracterizar a reação de pessoas diante de seu pedido de ajuda. Identifique esse substantivo e explique, com suas próprias palavras, como ele caracteriza essa reação das pessoas.

Resposta esperada: O substantivo abstrato utilizado é indiferença, que a narradora emprega para explicar que as pessoas reagiam ao seu relato a respeito da menina raptada com desinteresse. É possível que o estudante apresente dificuldades em duas etapas da questão. Caso o aluno não consiga identificar o substantivo utilizado, o professor deve remetê-lo ao conteúdo já estudado no bimestre e, se julgar pertinente, oferecer uma série de exercícios extras de identificação de substantivos e suas funções nos textos, para que o estudante possa se familiarizar com o conceito. Caso, no entanto, sua dificuldade seja compreender o sentido do substantivo e seu papel para a caracterização da reação das pessoas, explique o sentido da palavra e, em seguida, para que o emprego do substantivo fique evidente, pergunte ao estudante em quais momentos do relato podemos perceber “indiferença” dos interlocutores da narradora.

7. Releia o seguinte trecho, que contém a primeira resposta do policial ao pedido de ajuda da narradora:

reticências “Esse tipo de coisa acontece muito. Se todo mundo reagisse como a senhora, morreríamos de tanto trabalhar. E de toda fórma é um caso perdido. Temos pilhas de relatórios aqui e os nossos recursos humanos e financeiros são limitados. Se fosse a senhora, eu pensaria bem antes de me envolver. Aldeães como esses não têm medo de ninguém nem de nada. Mesmo que fôssemos até lá, eles poriam fogo nos nossos carros e espancariam os nossos oficiais. Eles fazem o impossível para garantir que suas famílias se perpetuem, pois deixar de produzir um herdeiro seria uma ofensa contra os ancestrais.”

A respeito do emprego de substantivos nesse trecho, assinale a alternativa correta.

  1. Os substantivos empregados para fazer referência aos fatos narrados na carta do garoto são coisa, caso e relatórios.
  2. O substantivo coisa, determinado pela expressão “tipo de”, indica que raptos como o da garota descrita são pouco comuns.
  3. Pelo substantivo caso, acompanhado da palavra perdido, podemos perceber a opinião do policial a respeito do conteúdo da carta do garoto.
  4. A expressão “pilhas de”, que determina o substantivo relatórios, contribui para caracterizar a quantidade de trabalho da polícia e explicar por que o policial decide ajudar a narradora.

Habilidade: ê éfe zero seis éle pê zero quatro.

Resposta certa: C.

A marcação da alternativa A como correta indica um problema de leitura em que o aluno, apesar de identificar corretamente o referente de caso e coisa como o rapto da menina relatado na carta, não identificou de maneira adequada que, diferentemente, o substantivo relatórios faz referência a casos com os quais a polícia já estava lidando. Nesse caso, indique que a flexão de plural em relatórios pode ser uma pista de que se trata de casos diferentes daquele que a narradora queria denunciar. A marcação da alternativa B como correta indica que o estudante não percebeu que a designação genérica do referente em “tipo de coisa” sugere que se trata de algo já visto anteriormente pelo policial, ou seja, que talvez casos como esse sejam comuns. Nesse caso, é preciso esclarecer o sentido da expressão ao aluno e explicar que, com frequência, a generalização promovida por esse tipo de expressão está associada a objetos comuns, e não singulares. A marcação da alternativa D como correta indica que o estudante compreendeu que a expressão “pilhas de” agrega ao substantivo a que está associada a ideia de quantidade, mas cometeu um erro posterior de leitura, na medida em que a grande quantidade é utilizada pelo policial como justificativa para não se ocupar do caso denunciado pela narradora. Esclareça que o policial só decide ocupar-se do caso quando a narradora exige que ele assuma responsabilidade pela garota raptada.

8. Explicando o desfecho do caso, a narradora menciona que o policial “tinha razão” e, então, menciona a circunstância que motivou a soltura da garota. Complete a frase a seguir apontando a causa da soltura. Utilize suas próprias palavras. Ela foi solta porquereticências

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê três sete.

Resposta esperada: Ela foi solta porque a autoridade responsável pelos fertilizantes agrícolas necessários para o plantio ameaçou não os fornecer para os aldeães caso eles não a soltassem. É possível que o estudante não consiga identificar com precisão que a causa da soltura foi a ameaça, por parte de uma autoridade, de suspender o suprimento de um insumo necessário, limitando-se a dizer que eles foram pressionados ou ameaçados por uma autoridade. Nesse caso, explique que é necessária maior precisão no estabelecimento da relação de causalidade, ou seja, que é preciso apontar exatamente qual foi o elemento que os persuadiu a soltar a garota raptada.

  1. A respeito do relato da narradora, assinale a alternativa correta.
    1. Trata-se da narração impessoal de alguns eventos cujo interesse é relatar curiosidades da vida na China.
    2. Trata-se de um relato pessoal a respeito de um evento exemplar de um aspecto da vida na China.
    3. Pode-se perceber a todo momento que o relato dá conta da visão que a narradora tem dos fatos, o que invalida sua importância como exemplo da vida na China.
    4. A impessoalidade do relato contribui para que os fatos sejam vistos objetivamente, como em uma notícia.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê zero um.

Resposta certa: B.

A marcação das alternativas A ou D como corretas indica que o aluno compreendeu o relato como um texto em que predomina um tom “impessoal”. Nesse caso, indique a ele que, apesar de alguma objetividade na linguagem, o texto relata o evento a partir de um ponto de vista específico, o da narradora, uma jornalista habitante de uma grande cidade, que se indigna com certas condutas condenáveis de habitantes de pequenas aldeias. A marcação da alternativa C como correta indica que o aluno percebe o ponto de vista que orienta o sentido do texto, mas assume que a expressão de um ponto de vista pessoal invalida o relato como expressão de uma realidade objetiva. Nesse caso, leve o aluno a perceber que relatos de experiências pessoais, com frequência, são fontes valiosas de informações objetivas, desde que se saiba diferenciar os fatos narrados das impressões e opiniões pessoais veiculadas pelo narrador.

10. Neste bimestre, você estudou o gênero história em quadrinhos. Um aluno, ao estudar para uma prova a respeito desse gênero, escreveu o seguinte resumo:

“Nas histórias em quadrinhos, a narrativa é apresentada por meio de uma sequência de quadrinhos. Em geral, essas histórias empregam linguagem mista, ou seja, as informações são apresentadas por meio de linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo. Nesse caso, tanto as informações a respeito do conteúdo das falas das personagens quanto as informações a respeito do modo como as personagens falam são apresentadas por meio de linguagem verbal.”

Uma das informações apresentadas pelo aluno é incorreta. Identifique a informação incorreta e explique qual foi o erro cometido pelo aluno.

Habilidade: ê éfe seis sete éle pê dois oito.

Resposta esperada: As informações a respeito do modo como as personagens falam nas histórias em quadrinhos não são apresentadas necessariamente por meio de linguagem verbal, já que os formatos dos balões são os responsáveis, na maior parte das vezes, por expressar essas informações. É possível que o estudante apresente dificuldades para reconhecer a informação incorreta, devido a uma compreensão superficial das interações entre linguagem verbal e não verbal nas histórias em quadrinhos. É preciso retomar exemplos de histórias com linguagem mista a fim de que o aluno perceba que mesmo informações a respeito da fala das personagens podem ser articuladas por recursos visuais, como o formato dos balões.

Avaliação e pandemia

No ano de 2020, a educação formal de milhões de crianças e adolescentes foi impactada pela pandemia de covid-19, fenômeno que se estendeu pelos anos de 2021 e 2022 (ano em que esta coleção foi produzida). O fechamento das escolas por meses interrompeu, em maior ou menor grau, os processos de ensino-aprendizagem dos alunos, o que teve consequências importantes. Um estudo encomendado ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona ( cliâr)24nota de rodapé , vinculado à Fundação Getúlio Vargas (éfe gê vê), procurou simular as perdas de aprendizado que os alunos sofreram com a pandemia, e o resultado mostrou que, apenas no ano de 2020, os alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais tiveram suas aprendizagens prejudicadas em Língua Portuguesa e, de fórma mais acentuada, em Matemática25nota de rodapé .

Os dados fornecidos pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (saébi) e utilizados pelo estudo realizado pela cliâr possibilitaram simular as seguintes consequências no Ensino Fundamental – Anos Finais: em um cenário pessimista, haveria um retrocesso semelhante às aprendizagens demonstradas na edição do saébi de 2015 em Língua Portuguesa e de 2017 em Matemática; quando se considera uma estimativa intermediária, haveria uma queda equivalente ao retorno de proficiência de dois anos antes em relação às duas disciplinas citadas; em uma situação otimista, a proficiência dos alunos ficaria estável ou com discreto crescimento em relação à edição do saébi de 2019.

Pensando sobretudo nos dois primeiros cenários estudados pela cliâr, consideramos importante que esta coleção contribua, dentro de seus limites, para a detecção e mapeamento das defasagens dos estudantes e que possa oferecer novas oportunidades de aprendizagens para os alunos no componente Língua Portuguesa. Nessa direção, o professor, sobretudo de turmas grandes, com mais de 45 alunos, pode, além do que já foi apresentado anteriormente, valer-se de seções da coleção como atividades avaliativas e intervenções. Veja algumas sugestões:

  1. Selecione questões das subseções Refletindo sobre o texto, Investigando mais e da seção Textos em conversa para verificar como está a prática leitora dos estudantes. Escolha a questão após analisar o tipo de informação que ela pode lhe oferecer e seu propósito no momento: verificar a localização de informações, a capacidade de inferir, o reconhecimento do tema, a capacidade de relacionar o texto a conhecimentos prévios, a apreensão do sentido global do texto etcétera
  2. Solicite e recolha o texto produzido de acôrdo com as orientações de um Desafio da linguagem. Trata-se de uma atividade que propõe ao estudante a expressão, de maneira organizada e compreensível, dos resultados de uma análise de texto conduzida por questões. Nossa sugestão é que as questões sejam corrigidas antes da escrita do texto, para que o aluno elucide dúvidas ou desfaça equívocos e possa, na etapa de produção, concentrar-se no processo de expressão. Por ser uma atividade breve e muito dirigida, a correção a ser feita por você, se as turmas não forem muito grandes, torna-se ágil e possibilita a você identificar lacunas e tomar decisões relativas à condução do curso. Se a grande quantidade de alunos tornar inviável essa correção individualizada, recorra à resposta sugerida no livro

para o Desafio da linguagem, anote-a na lousa, discuta-a com a turma após a feitura da atividade, depois peça aos estudantes que troquem sua produção com os colegas e façam uma correção de acôrdo com o que foi discutido. Circule pela sala de aula para tirar eventuais dúvidas.

3. Solicite e recolha uma produção de texto. Sugerimos que isso seja feito após a produção e avaliação da proposta contida no capítulo, ou seja, já na etapa de reelaboração, uma vez que o aluno já terá tido um primeiro feedback de seus pares sobre a produção do gênero em estudo, o que, em tese, lhe daria a oportunidade de aprimoramento. Se preferir, utilize uma nova proposta de produção textual, oferecida neste ême pê, na Parte específica (pê ê). A correção poderá ser feita usando a grade de critérios oferecida no capítulo ou a nova grade que ali propusemos. Se a turma for extensa, discuta a grade de correção com a classe e peça que façam correção aos pares.

A partir dessas atividades, de suas observações da turma e do resultado de outros instrumentos avaliativos, provavelmente será necessário propor ações em relação aos estudantes cujos resul­tados não tenham sido satisfatórios, quando pensamos na etapa em que estão. Veja agora algumas sugestões que podem ser aplicadas para promover esse avanço individual ou podem ser usadas como atividade complementar para a turma. Estas sugestões de trabalho foram pensadas para contemplar desde turmas menores até aquelas numerosas, com mais de 45 alunos.

1. Eixo leitura/escuta — Domínio de vocabulário

Algumas dificuldades dos estudantes podem estar relacionadas à incompreensão de termos e expressões empregados no texto. Eles podem não conseguir inferir o sentido pelo contexto nem descobri-lo com apôio no glossário ou em um dicionário.

Solicite ao aluno que produza listas das palavras que não compreendeu durante uma primeira leitura. Separe as que poderia tentar deduzir daquelas que deve consultar no dicionário por oferecerem maior dificuldade. No passo seguinte, ele deve voltar aos trechos em que aparecem as palavras e levantar hipóteses sobre seus significados. Escolha algumas delas para estudo: projete ou anote o trecho na lousa ou releia com o grupo e vá mostrando as associações com o contexto que possibilitam inferir o sentido pertinente da palavra. O propósito é tornar consciente um conjunto de procedimentos que os estudantes podem incorporar nas práticas de leitura.

2. Eixo leitura/escuta — Compreensão de informações

Escolha um texto – da coleção ou não – e prepare um conjunto de afirmações que os estudantes deverão avaliar como falsas ou verdadeiras. Procure expressar as ideias com palavras diferentes das que estão no texto e mude a ordem dos dados nos períodos para que eles enfrentem um real desafio de compreensão.

Durante a correção, pergunte aos estudantes que cometeram equívocos o que os confundiu e explore o que for dito, mostrando como poderiam ter checado a veracidade da afirmação.

3. Eixo leitura/escuta — Poemas

Em geral, os poemas estudados no Ensino Fundamental – Anos Finais não costumam se valer de linguagem hermética, como alguns trabalhados no Ensino Médio, mas é possível que parte dos alunos tenha dificuldade na compreensão da linguagem figurada e na leitura das formulações mais sintéticas.

Solicite que façam paráfrases dos poemas, retextualizando-os em prosa. Oriente-os a explicar as metáforas e comparações em lugar de repeti-las. Ajude-os a reconhecer quando há um interlocutor específico. Peça que comecem com estruturas como “Na primeira estrofe, o eu lírico desse poema pergunta sereticências”; “O poema é iniciado com o eu lírico se lamentando porreticências”; “O eu lírico conversa com um amigo, a quem confessareticências”. Escute algumas paráfrases para ver a coerência em relação ao texto original e explore pontos que apresentam mais dificuldade, mostrando procedimentos necessários à compreensão do texto. Ainda que a paráfrase não seja suficiente para recuperar as várias camadas de sentido do texto, contribui para a apreensão do sentido global dele.

4. Eixo leitura/escuta — Expressão de ideias

Em alguns momentos, você precisa distinguir se o aluno tem dificuldade na compreensão do texto oferecido à leitura ou nas questões propostas acerca dele.

Uma atividade produtiva para ajudar nesta tarefa consiste na solicitação de que o aluno escreva uma mensagem para o produtor do texto para comentar se gostou ou não da leitura e por quê, se concorda com as opiniões expressas, se se considera bem informado depois de ler etcétera A orientação dependerá do texto de que o estudante vai partir. O material produzido, principalmente as justificativas, pode informar ao professor o nível de compreensão atingido.

5. Eixo da produção de textos — Texto expositivo

Podem ser necessárias atividades em que o desafio esteja mais na expressão e menos na concepção das ideias.

Uma atividade eficaz consiste na produção de textos de acôrdo com informações oferecidas em itens. Escolha um texto expositivo curto (notícia, verbete etcétera) ou fragmento; separe suas informações e anote-as de fórma bem sintética, em itens, propositalmente repetindo palavras; peça aos alunos que componham um texto apenas com essas informações. Eles podem uni-las em um mesmo período e empregar as palavras que desejarem. Só são vetadas a inclusão de dados ou a eliminação deles. Se desejar uma atividade mais complexa, altere a ordem dos itens para que os estudantes tenham de estabelecer uma sequência coerente.

Essa atividade favorece a observação e o exercício, por parte do aluno, de recursos como a segmentação, o uso de recursos de retomada e de mecanismos de coesão, entre outras.

Veja um exemplo a partir do texto a seguir.

O Transformative Learning Technologies Lab (Laboratório de Tecnologias Transformadoras de Aprendizagem), sediado na Escola de Educação (Teachers College) e na Escola de Engenharia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, está liderando um projeto de pesquisa chamado “Fazer Cultural” (ou “Cultural Making”), para documentar, sistematizar e refletir sobre as fórmas do “fazer” brasileiro em diferentes comunidades e como esse conhecimento pode ser mobilizado na educação. Para dar conta desta tarefa, foi lançada uma chamada para pesquisadores brasileiros.

O TLT Lab tem mais de 10 anos de trabalho com pesquisa, desenho e implementação de programas nas áreas de ciências, engenharia, computação e tecnologias na educação básica em diversos países. A instituição foi pioneira mundial na implementação de espaços maker em escolas e trabalha com pesquisas dentro de uma perspectiva construcionista e freireana. Neste projeto, terão prioridade as comunidades quilombola, ribeirinha, indígena, caiçara e rendeira. Ao longo do processo, os pesquisadores devem observar e documentar as práticas do “fazer” nessas comunidades, identificando como representam fórmas de pensar, agir e construir, bem como suas implicações para a criação e disseminação de conhecimento local.

É exigido do pesquisador ou da pesquisadora disponibilidade de 15 a 20 horas semanais para o trabalho, que envolve a participação em reuniões periódicas e, claro, pesquisa de campo. Devem ser consideradas comunidades que trabalham com a criação de objetos de artesanato, construção de objetos e invenções para moradia, transporte etcétera, produção autoral de artefatos do dia a dia ou de objetos cerimoniais, como fantasias. Ao final, serão publicados artigos e outros materiais, juntamente com a equipe do projeto.

O perfil de candidatura desejado pelo laboratório inclui pessoas que tenham contato prévio com as comunidades. Além disso, é importante ter experiência em pesquisa sistemática em suas diferentes fórmas (etnográfica, sociológica, educacional, qualitativa, quantitativa etcétera) além de conhecimento em análise e organização de documentos de pesquisa. Formação acadêmica e pós-graduação, assim como fluência em inglês, são desejáveis, mas não requeridas. (PORVIR, 2022).

O texto a ser produzido pelos estudantes poderia ser como segue.

  • O Transformative Learning Technologies Lab/TLT (Estados Unidos da América) está liderando um projeto de pesquisa chamado “Fazer Cultural” (ou “Cultural Making”).
  • O projeto pretende documentar, sistematizar e refletir sobre as fórmas do “fazer” brasileiro em diferentes comunidades.
  • O projeto investiga como o conhecimento sobre o “fazer brasileiro” pode ser mobilizado na educação.
  • O TLT está buscando pesquisadores brasileiros.
  • O TLT Lab tem mais de 10 anos de trabalho com pesquisa, desenho e implementação de programas nas áreas de ciências, engenharia, computação e tecnologias na educação básica em diversos países.
  • O TLT foi pioneiro no mundo na implementação de espaços maker em escolas.
  • O instituto TLT trabalha com pesquisas dentro de uma perspectiva construcionista e Freireana.
  • O projeto prioriza comunidades quilombola, ribeirinha, indígena, caiçara e rendeira.
  • Durante o processo, os pesquisadores do projeto deverão observar e documentar as práticas do “fazer” brasileiro nas comunidades quilombola, ribeirinha, indígena, caiçara e rendeira.
  • Os pesquisadores do TLT deverão identificar de que maneira as comunidades representam fórmas de pensar, agir e construir, bem como suas implicações para a criação e disseminação de conhecimento local.
  • o pesquisador ou a pesquisadora do projeto precisará ter disponibilidade de 15 a 20 horas semanais para o trabalho.
  • Serão priorizadas comunidades que trabalham com artesanato, construção de objetos e invenções para moradia, transporte, produção autoral de artefatos do dia a dia ou de objetos cerimoniais, como fantasias.
  • Haverá publicação de artigos e de outros materiais ao final do processo.
  • Perfil dos candidatos ao projeto: pessoas que tenham contato prévio com as comunidades quilombola, ribeirinha, indígena, caiçara e rendeira, experiência em pesquisa sistemática em suas diferentes fórmas, conhecimento em análise e organização de documentos de pesquisa.
  • Formação acadêmica, pós-graduação e fluência em inglês são desejáveis para participar do projeto do TLT, mas não requeridas.
6. Eixo da produção de textos — Apresentação oral

Alguns alunos podem ter dificuldade em situações de oralidade, independentemente de seu grau de extroversão nas situações informais. Por vezes, há dificuldade em empregar a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa ou em mobilizar os aspectos cinésicos e paralinguísticos de maneira funcional.

Sugerimos uma conversa com os estudantes para falar da importância de desenvolver as habilidades relativas à oralidade e comentar que isso se faz com a prática frequente. Proponha, então, que se preparem para momentos de fala para a turma. No caso de turmas grandes, com mais de 45 alunos, você pode criar uma agenda, distribuindo as atividades ao longo de determinado período, e optar por permitir que os alunos escolham livremente os temas, oferecer um conjunto deles para que cada um selecione o preferido ou predefinir os temas de cada um. É possível, por exemplo, fazer uma pergunta e orientá-los a defender um ponto de vista, sustentando-o com três argumentos.

Promova uma audição atenta das falas e teça comentários construtivos para que o aluno saiba em que investir na próxima ocasião de apresentação.

Grade de critérios relativos ao uso da língua

Apresentamos a seguir dois quadros que poderão ser utilizados por você, professor, para a avaliação de alguns aspectos relativos ao uso da língua em textos produzidos na modalidade escrita. Essas grades têm como princípio a descrição de determinadas características dos textos, por entendermos que desse modo torna-se mais fácil verificar aspectos que precisam ser aprimorados e a comunicação deles aos alunos, caso o deseje fazer. Você pode reproduzir o quadro e preenchê-lo com um “x” no campo correspondente ao que observa ou atribuir pontuação a cada item.

Ícone de Modelo

ASPECTOS LINGUÍSTICOS

O TEXTO APRESENTA EQUÍVOCOS QUE NÃO SÃO ESPERADOS NESSA ETAPA DE DESENVOLVIMENTO.

O TEXTO APRESENTA MUITOS EQUÍVOCOS.

O TEXTO APRESENTA ALGUNS EQUÍVOCOS.

O TEXTO NÃO APRESENTA EQUÍVOCOS OU ELES SÃO PONTUAIS.

Ortografia

Acentuação

Concordância verbal

Concordância nominal

Pontuação

Segmentação de períodos e parágrafos


ESCOLHA DE PALAVRAS

PRECISÃO

VARIAÇÃO

Uso de vários termos com sentido equivocado.

Uso de poucos ou de nenhum termo com sentido equivocado.

Uso de vários termos com sentido impreciso.

Uso de poucos ou de nenhum termo com sentido impreciso.

Repetição desnecessária frequente de termos.

Texto com bom uso de recursos de substituição.


Observe que o primeiro quadro pode perder ou ganhar itens conforme o curso for avançando e os alunos angariando novas aprendizagens.

Ainda nesse quadro, a primeira coluna remete a equívocos que já não são esperados para o ano, independentemente do preenchimento das colunas seguintes. No 6º ano, por exemplo, poderia ser marcada como inadequação não esperada a escrita de “losa” em lugar de “lousa”; já no 8º ano seria uma inadequação não esperada a formulação “encontrar-o” em lugar de “encontrá-lo”.

Os quadros podem ser adaptados conforme as características de suas turmas e de seu curso. Dependendo de como o grupo de professores do Ensino Fundamental – Anos Finais trabalha, esse quadro poderá ainda ser adaptado para ser utilizado não só pelas áreas de Linguagens e Ciências Humanas, mas também pelas áreas da Matemática e Ciências da Natureza.

Sugerimos que, se for possível, haja um trabalho prévio dos professores de Língua Portuguesa de capacitação dos colegas de outros componentes para que possam fazer um uso produtivo desse material, o que significa contribuir para a utilização consciente por parte dos estudantes de um discurso mais monitorado quando isso se faz necessário. Nesse sentido, deve haver um combinado coletivo dentro das áreas sobre determinados equívocos que não são esperados em cada ano do Ensino Fundamental – Anos Finais (de ortografia, sintaxe etcétera), de modo que todos os professores possam contribuir para o aprimoramento da escrita dos seus alunos. Evidentemente, o que chamamos de aprimoramento tem relação com o nível de consciência que os alunos vão adquirindo sobre o uso que fazem de sua língua.

Todos deverão estar atentos para lidar de modo inclusivo com alunos que apresentem problemas como dislexia (incapacidade de processar o conceito de codificar e decodificar a unidade sonora em unidades gráficas – fórma de grafemas –, mas com capacidade cognitiva preservada); disortografia (problemas na transformação do som no símbolo gráfico que corresponde a ele); e disgrafia (quando o aluno apresenta uma escrita ilegível em razão de dificuldades no ato motor de escrever – coordenação motora fina, ritmo, velocidade do movimento etcétera).

Essa contribuição dada pelo grupo de Língua Portuguesa também poderia se dar em relação ao trabalho realizado com gêneros, havendo, por exemplo, o compartilhamento das orientações para a produção de determinados gêneros textuais, como as de seminários, que podem ser utilizadas de maneira interdisciplinar, nas aulas de História, ou os critérios empregados para avaliação de alguns gêneros textuais, como o artigo de divulgação científica, nas aulas de Ciências.

Competências e habilidades

Como sabemos, a Bê êne cê cê define o conjunto de “aprendizagens essenciais” que os alunos brasileiros devem desenvolver ao longo da Educação Básica e serve como referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios do país. Essas chamadas “aprendizagens essenciais” devem assegurar aos alunos, como já mencionamos, o desenvolvimento de determinadas competências,

reticências mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018, página 8).

Quando a Base enfatiza a importância do desenvolvimento de competências, ela dialoga diretamente com as concepções que orientam, desde as décadas finais do século vinte, a maior parte dos projetos de educação dos Estados e Municípios brasileiros, além dos projetos de países como Portugal, Austrália, França, Estados Unidos, Chile, Peru, entre outros.

Avaliações nacionais de grande escala, como o Exame Nacional do Ensino Médio (enêm) e o saébi, e internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (piza), nessa mesma direção, têm também dado enfoque às competências na formulação dos itens que utilizam em suas provas. Em relação à Base, quando o documento escolhe esse enfoque mostra que as decisões didático-pedagógicas necessariamente precisam ser direcionadas para o desenvolvimento de competência:

Por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na Bê êne cê cê. (BRASIL, 2018, página 13).

Como se sabe, a Base define dez competências gerais como “direitos de aprendizagem e desenvolvimento” (BRASIL, 2018, página 8), e cada área do conhecimento apresenta suas competências específicas. Em relação a Linguagens – área da qual faz parte o componente Língua Portuguesa –, as competências específicas são seis e elas explicitam de que fórma as competências gerais da Educação Básica se expressam nessa área. A Base também elenca dez competências específicas de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental e um conjunto de habilidades diretamente relacionadas a cada um dos campos de atuação social e a determinadas práticas de linguagem e objetos de conhecimento.

Essas competências gerais, as específicas e as habilidades estão distribuídas nesta coleção, mas sem deixar de levar em conta as especificidades de cada etapa de desenvolvimento cognitivo dos estudantes nos quatro anos que compõem o Ensino Fundamental – Anos Finais e os diferentes perfis desses estudantes que habitam as salas de aula. E de que fórma, concretamente, essas competências e habilidades estão presentes nesta coleção?

A título de exemplo, observe como as competências e habi­lidades são mobilizadas no primeiro capítulo deste volume, O registro do eu no mundo.

SEÇÃO

HABILIDADES

COMPETÊNCIAS

Leitura 1
(Inclui Desvendando o texto, Fala aí!, É lógico, Como funciona um romance? e Da observação para a teoria)

EF67LP37.

CG: 4, 6, 8 e 9.
CEL: 1 e 3.
CELP: 2 e 3.

Leitura 2
(Inclui Refletindo sobre o texto, Da observação para a teoria, Desafio da linguagem, Investigue e Sabia?)

EF69LP44, EF67LP04 e EF67LP28.

CG: 1, 2, 3, 6 e 8.
CEL: 1, 2 e 5.
CELP: 2, 5, 7, 8 e 9.

Se eu quiser aprender mais

EF67LP25.

CG: 6.
CEL: 2.
CELP: 2 e 3.

Textos em conversa

CG: 1 e 4.
CEL: 1 e 3.
CELP: 1, 3 e 7.

Falando sobre a nossa língua
(Inclui Sabia?, Fala aí! e Desafio da linguagem)

EF67LP07, EF67LP08, EF67LP38 e EF69LP17.

CG: 1, 2, 3, 4, 6 e 7.
CEL: 1, 2, 3, 4 e 5.
CELP 1, 3, 6, 7 e 9.

Meu diário na prática
(Inclui É lógico!)

EF06LP11 EF06LP12 EF67LP36

CG: 1, 4, 6 e 8.
CEL: 1, 2 e 3.
CELP: 1, 2, 5 e 7.

SEÇÃO

HABILIDADES

COMPETÊNCIAS

E se a gente fizesse um diário alternativo?
(Inclui Fala aí!)

EF69LP07
EF69LP56

CG: 1, 4, 8, 9 e 10.
CEL: 1, 2 e 3.
CELP: 1, 2, 3 e 7.

Conversa com arte
(Inclui Biblioteca cultural)

EF69LP14
EF69LP15
EF69LP21
EF69LP25
EF69LP26
EF67LP20
EF67LP23
EF67LP24

CG: 1, 2, 3, 4, 6, 7, 9 e 10.
CEL: 1, 2, 3, 4 e 5.
CELP: 3, 5, 6 e 7.

Biblioteca cultural em expansão

EF69LP46 e EF69LP49

CG: 1, 2, 3 e 6.
CEL: 2 e 5.
CELP: 8 e 9.


E que diferença há entre o desenvolvimento de cê gê, cê e éle , cê e éle pê e habilidades?

Retomemos o exemplo da seção de leitura que abre o capítulo 1 deste volume do 6º ano. Quando o aluno trabalha, nessa seção Leitura 1, com uma página do diário da menina Maria Luísa E., ele está desenvolvendo competências gerais ligadas ao reconhecimento de suas emoções por meio de um texto pertencente ao campo da vida cotidiana (cê gê 8) e exercitando a empatia e o respeito à alteridade (cê gê 9). Ao mesmo tempo, esse aluno vivencia de que fórma essas competências gerais se expressam em uma área do conhecimento, no caso a de Linguagens, por meio de competências específicas, ou seja, ele desenvolve a capacidade de expressar sua subjetividade por meio das linguagens (cê e éle 1) e utiliza a linguagem verbal escrita e oral para se expressar (cê e éle 3). Esse aluno, ainda, desenvolve competências específicas do componente Língua Portuguesa quando, por meio dessa seção Leitura 1, compreende a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem (cê e éle pê 1) e apropria-se da linguagem escrita (cê e éle pê 2). Finalmente, do ponto de vista do desenvolvimento de habilidades, situadas no componente Língua Portuguesa, esse aluno tem a oportunidade de, finalizado o trabalho com o diário: analisar os efeitos de sentido decorrentes do uso de determinados recursos linguístico-discursivos (ê éfe seis sete éle pê três sete).

Lembramos, ainda, que um dos grandes defensores do ensino por competência, fílipe perrenô (1999), afirma que essa abordagem “leva a fazer menos coisas, a dedicar-se a um pequeno número de situações fortes e fecundas, que produzem aprendizados e giram em torno de importantes conhecimentos” (Perrenôu, 1999, página 64), concepção com a qual concordamos quando optamos, por exemplo, por realizar um trabalho “forte e fecundo” com um determinado recorte de diário publicado, no caso da já citada Leitura 2 do Capítulo 1 deste volume.

Isso não significa, entretanto, que deva haver um esvaziamento dos conteúdos escolares, sobretudo dos estruturantes. Ao contrário, Perrenôu sugere que esses saberes (essas “aprendizagens essenciais”, como são denominadas na Base), selecionados com rigor, precisam ser trabalhados com mais densidade e mobilizados para a resolução de situações-problema26nota de rodapé propostas para os alunos.

Esta coleção segue essa abordagem quando, por exemplo, na seção Falando sobre a nossa língua do Capítulo 1 do 9º ano, após estudar o tópico “Variação linguística”, convida os estudantes a reunirem-se em grupos para entrevistar um migrante que esteja morando na região em que vivem, reconhecer a variedade linguística empregada por ele e investigar as diferenças entre ela e a usada pelos alunos. Depois de definir o entrevistado, os grupos deverão pesquisar informações sobre a variedade linguística que será observada e criar um roteiro com perguntas para guiar a entrevista, a ser gravada e, posteriormente, escrita e fixada em um mural para a leitura da turma. O texto final, entretanto, não poderá ter qualquer formato; ele precisará conter uma introdução, com a apresentação do entrevistado, e a sequência de perguntas e respostas, em que devem ser apresentados os motivos do deslocamento desse migrante e as facilidades ou dificuldades que ele encontrou na nova região, inclusive no que diz respeito ao uso da língua. A ideia é que, ao final, os grupos possam descobrir quais palavras típicas da região de origem do entrevistado ainda são usadas por ele, se a pessoa nota mudanças nas palavras que escolhe usar ou na maneira de pronunciá-las, entre outros aspectos. A entrevista, que será apresentada na modalidade escrita, ainda exige dos alunos a reformulação das falas gravadas, o que os obrigará a reorganizar os períodos para que fiquem inteligíveis e fluentes, sem repetições desnecessárias.

Em diálogo com a Bê êne cê cê, consideramos bastante importante que o professor tenha consciência de quais competências estão sendo desenvolvidas/mobilizadas nos alunos em cada sequência didática e etapa escolar. Por isso, na parte específica deste ême pê, fornecemos quadros com listas dos objetivos e das competências gerais e específicas e habilidades da Bê êne cê cê trabalhadas em dadas atividades e situações-problema propostas nesta coleção. Além disso, as competências e habilidades também estão dispostas no “U”. O quadro da parte específica deste ême pê e as informações fornecidas no “U” poderão ser usadas por você, professor, para conscientizar seus alunos de que fórma essas competências e habilidades são mobilizadas concretamente na obra ou utilizadas para confecção e análise das avaliações das aprendizagens.

Biblioteca do professor

Acesse o sáite https://oeds.link/OrrqNB (acesso em: 23 maio 2022) e conheça o saébi, conjunto de avaliações em larga escala que permite ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inépi) diagnosticar como está a educação básica brasileira e analisar fatores que podem interferir no desempenho dos alunos. Os testes utilizados pelo saébi são criados a partir de matrizes de referência, e os conteúdos relacionados a competências e habilidades desejáveis para cada ano e para cada componente curricular são subdivididos em partes menores (descritores), cada uma especificando o que as questões que compõem a prova devem avaliar.

Práticas de pesquisa

A incorporação na escola das chamadas práticas de pesquisa tem destaque na Base. Esse documento, como se sabe, relaciona os eixos de integração de Língua Portuguesa a práticas de linguagem (leitura de textos, produção de textos, oralidade e análise linguística/semiótica). Articuladas a essas práticas há, de acôrdo com a Bê êne cê cê, outra categoria organizadora do currículo: os campos de atuação em que elas se realizam. No Ensino Fundamental – Anos Finais, são considerados, como já afirmamos, os campos jornalístico-midiático, de atuação na vida pública, das práticas de estudo e pesquisa e artístico-literário. Há, como se vê, um campo diretamente ligado a “práticas de estudo e pesquisa". Entretanto, como enfatiza a Base, essa prática (essencial para o aluno do século vinte e um e para o estudante que cursará o Ensino Médio no final do processo) precisa atravessar todos os campos:

A pesquisa, além de ser mais diretamente focada em um campo, perpassa todos os outros em ações de busca, seleção, validação, tratamento e organização de informação envolvidas na curadoria de informação, podendo/devendo também estar presente no tratamento metodológico dos conteúdos. (BRASIL, 2018, página 85).

A prática de pesquisa também é citada diretamente na descrição de determinadas habilidades dentro do componente curricular Língua Portuguesa. A habilidade ê éfe seis sete éle pê dois zero, por exemplo, prevê que o aluno vá “Realizar pesquisa, a partir de recortes e questões definidos previamente, usando fontes indicadas e abertas”; a ê éfe seis sete éle pê dois um estabelece que o estudante vá “Divulgar resultados de pesquisas por meio de apresentações orais, painéis, artigos de divulgação científica, verbetes de enciclopédia, ­pódikests científicos etcétera”; a habilidade ê éfe oito nove éle pê dois um, por sua vez, espera que o estudante possa produzir

reticências enquetes e pesquisas de opinião, de fórma a levantar prioridades, problemas a resolver ou propostas que possam contribuir para melhoria da escola ou da comunidade, caracterizar demanda/necessidade, documentando-a de diferentes maneiras por meio de diferentes procedimentos, gêneros e mídias e, quando for o caso, selecionar informações e dados relevantes de fontes pertinentes diversas (sites, impressos, vídeos etcétera), avaliando a qualidade e a utilidade dessas fontes, que possam servir de contextualização e fundamentação de propostas, de fórma a justificar a proposição de propostas, projetos culturais e ações de intervenção. (BRASIL, 2018, página 183).

Pensando nessa necessidade de apresentar, de fórma transversal, noções introdutórias de práticas de pesquisa a alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais, esta coleção foi estruturada para oferecer sistematicamente uma série de oportunidades para o aluno construir seu conhecimento com base em pesquisas e para ter a oportunidade de divulgá-las formalmente em variados formatos.

Nessa direção, uma seção como Preparando o terreno, presente intencionalmente nos volumes do 8º e 9º anos e localizada sempre antes da seção meu ou minha [nome do gênero] na prática, destina-se à orientação de pesquisa (de campo, bibliográfica etcétera) necessária, neste caso, a uma produção de texto, já pensando no estudante que se encaminha para o Ensino Médio.

A seção Conversa com arte – que trabalha com atividades de análise de um objeto representativo de uma linguagem artística (cinema, pintura, teatro etcétera) para observações sobre aspectos materiais, sentido construído, efeitos previstos e contexto de circulação – eventualmente também pode convidar a uma investigação formal. fóra da caixa é outra seção composta de atividades de resolução de problemas diversos relativos aos campos jornalístico/midiático, da atuação na vida pública ou das práticas de estudo e pesquisa. O boxe Investigue – espalhado nas várias seções da coleção – é outro convite para que o aluno realize pesquisa em material de outras áreas do conhecimento, a fim de que possa abordar, ampliar ou responder a uma questão específica. Finalmente, o boxe A língua nas ruas apresenta orientação de atividade de investigação de uso da língua na mídia ou pelos falantes da comunidade.

Veja, no quadro a seguir, as noções introdutórias de práticas de pesquisa que foram planejadas para os alunos neste volume.

CAPÍTULO

SEÇÃO

TEMA

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE PRÁTICAS DE PESQUISA

COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS

Capítulo 1
O registro do eu no mundo

Leitura 2
(Investigue)

Contexto histórico em que Anne Frank e Alice Dayrell escreveram seus diários

• Revisão bibliográfica

Escrita dos resultados

Conversa com arte

Intervenção urbana

• Revisão bibliográfica
• Estudo de recepção

Realização de intervenção urbana

Capítulo 2
Imagens e palavras em ação

E se a gente entrevistasse alguém que entende de quadrinhos?

Profissionais de HQ

• Construção e uso de questionários
• Entrevistas
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Apresentação de vídeos com as entrevistas

CAPÍTULO

SEÇÃO

TEMA

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE PRÁTICAS DE PESQUISA

COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS

Capítulo 2
Imagens e palavras em ação

Leitura 1
(Investigue)

Mitologia nórdica

• Revisão bibliográfica

Apresentação oral em grupos

Falando sobre a nossa língua
(A língua nas ruas)

Aprendizagem da língua portuguesa por falantes estrangeiros

• Construção e uso de questionários
• Entrevistas
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Apresentação oral coletiva

Capítulo 3
Traduzir saberes

Leitura 1
(Investigue)

Dicionários

• Revisão bibliográfica

Escrita de texto

Fora da caixa

Máscara

• Revisão bibliográfica
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Escrita de verbete de enciclopédia on-line

Capítulo 4
Para contar o que aconteceu

Leitura 1
(Investigue)

Terremotos

• Revisão bibliográfica

Escrita de texto

Fora da caixa

Relato de fato

• Revisão bibliográfica
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Produção de notícia escrita

Capítulo 5
Contar e mostrar

E se a gente refletisse sobre os livros?

Vantagens do livro e do livro digital

• Revisão bibliográfica

Gravação de podcast

Capítulo 6
Vender produtos e ideias

Leitura 1
(Investigue)

Doação de órgãos

• Revisão bibliográfica

Escrita de texto

Se eu quiser aprender mais

Aquecimento do planeta

• Revisão bibliográfica

Discussão coletiva

Fora da caixa

Elaboração de reclamação

• Construção e uso de questionários
• Entrevistas
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Compartilhamento oral com a turma

Capítulo 7
Um eu poético

Falando sobre a nossa língua
(A língua nas ruas)

Concordância verbal

• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Compartilhamento oral

Conversa com arte

Seminário sobre poetas brasileiros

• Revisão bibliográfica
• Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Apresentação oral com slides ou cartazes

Capítulo 8
Opinar, mas com responsabilidade

Fora da caixa

Moderação do blog da turma

• Análise de mídias sociais

Escrita de regulamento


O estudante como protagonista de suas aprendizagens: as metodologias ativas

Ao abordar as finalidades do Ensino Médio, a Bê êne cê cê defende a ideia de que a escola deve “reticências promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade de trabalharem em equipe e aprenderem com seus pares reticências.” (BRASIL, 2018, página 465). Ao mencionar essa obrigação da escola, a Bê êne cê cê traz à luz a necessidade de os educadores trabalharem com as chamadas “metodologias ativas”, visão com a qual compartilhamos e buscamos corroborar nesta coleção, aplicando a ideia ao Ensino Fundamental – Anos Finais.

Embora a Bê êne cê cê não trate diretamente das “metodologias ativas”, com esta terminologia, a necessidade de inserir o aprendiz como protagonista em seu processo de ensino-aprendizagem, em colaboração direta e constante com seus pares, está diretamente relacionada a habilidades importantes da área de Linguagens e do componente Língua Portuguesa.

O site do Méqui, em que está hospedado o documento da Bê êne cê cê, apresenta alguns textos que abordam o tema. Na aba “Implementação”, em “Práticas”, encontramos um artigo que trata da importância das metodologias ativas colaborativas no trabalho com competências. Segundo o texto,

Quando trabalhamos com metodologias ativas – colaborativas e cooperativas (collaborative and cooperative learning) –, que integram o grupo de técnicas Inquiry-Based Learning (IBL) e que tem suas raízes na visão de vigótisqui, de que existe uma natureza social inerente ao processo de aprendizagem – base de sua teoria de Desenvolvimento por Zona Proximal (dê zê pê) – a construção do conhecimento permite o desenvolvimento de importantes competências, como:

saber buscar e investigar informações com criticidade (critérios de seleção e priorização) a fim de atingir determinado objetivo, a partir da formulação de perguntas ou de desafios dados pelos educadores;

compreender a informação, analisando-a em diferentes níveis de complexidade, contextualizando-a e associando-a a outros conhecimentos;

interagir, negociar e comunicar-se com o grupo, em diferentes contextos e momentos;

conviver e agir com inteligência emocional, identificando e desenvolvendo atitudes positivas para a aprendizagem colaborativa;

ter autogestão afetiva, reconhecendo atitudes interpessoais facilitadoras e dificultadoras para a qualidade da aprendizagem, lidando com o erro e as frustrações, e sendo flexível;

tomar decisão individualmente e em grupo, avaliando os pontos positivos e negativos envolvidos;

desenvolver a capacidade de liderança;

resolver problemas, executando um projeto ou uma ação e propondo soluções. (BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, sem data)

Nesta coleção, as metodologias ativas são priorizadas e estão presentes em inúmeras atividades que convidam à aprendizagem colaborativa, à construção coletiva do conhecimento, à autogestão, à resolução de problemas.

No Capítulo 1 deste volume do 6º ano, por exemplo, a seção Conversa com arte convoca os alunos a, cooperativamente, realizarem uma intervenção urbana autoral; no Capítulo 2, na seção E se a gentereticências entrevistasse alguém que entende de quadrinhos?, os alunos, em grupos, produzem uma entrevista filmada antecipando conhecimentos que serão importantes para realizar o que se propõe na Leitura 1 da sequência didática; no Capítulo 3, na seção Nossa campanha publicitária na prática, os alunos interagem, negociam, comunicam-se, fazem autogestão afetiva, tomam decisão individual e em grupo, lideram, resolvem problemas quando precisam produzir, em grupos, peças para uma campanha publicitária a fim de persuadir colegas da escola a modificar um comportamento que prejudica a sociedade.

Metodologias ativas: aprofundamento

Como nem todos os educadores brasileiros estão familiarizados com esse tipo de metodologia, apesar de ela perpassar muitas das abordagens propostas na Base, e porque quase não há materiais oficiais sobre isso, consideramos relevante apresentá-las aqui neste ême pê para que você, professor, possa se apropriar dessa fórma de ensinar essencial a uma educação que almeje colocar o jovem como protagonista de seu processo de aprendizagem.

As metodologias ativas existem como alternativa à chamada didática tradicional (predominante e baseada em aulas expositivas) e derivam, como o texto do site da Base nos lembra, de teorias da aprendizagem como o socioconstrutivismo e de estudos cognitivos.

Em geral, as metodologias ativas obedecem às seguintes diretrizes: o desenvolvimento de habilidades socioemocionais deve ser estimulado; o professor assume o papel de tutor, e não de transmissor, do conhecimento; os conhecimentos devem ser contextualizados; a autonomia intelectual do aluno deve ser estimulada por meio da metacognição; a colaboração entre pares deve ser estimulada; a avaliação deve ser constante e o feedback deve ser rápido; as atividades devem ser desenvolvidas a partir do conhecimento prévio do estudante.

Biblioteca do professor

MOTA, Ana Rita; ROSA, Cleci Teresinha vérner. Ensaio sobre metodologias ativas: reflexões e propostas. Espaço Pedagógico, Passo Fundo, número 2, volume 25, página 261-276, maio/agosto 2018. Disponível em: https://oeds.link/lrSJpd. Acesso em: 23 maio 2022.

Tendo como pano de fundo a psicologia cognitiva e a metacognição, o texto apresenta, analisa e explora algumas metodologias ativas de ensino. Também são fornecidas recomendações práticas para envolver o estudante ativamente nas aulas.

Exploraremos, a seguir, alguns exemplos de metodologias ativas que poderão ser utilizadas em suas práticas a partir do que propomos nesta coleção.

Sala de aula invertida (flipped classroom)

A abordagem da sala de aula invertida (tradução do inglês flipped classroom) consiste em uma combinação de atividades presenciais e a distância. Nesse modelo, a aquisição de conhecimento teórico fica concentrada em ambientes externos à sala de aula e prévios ao período de aula, enquanto atividades práticas e de interação são realizadas em aula. Trata-se, em geral, de uma modalidade de ensino que corresponde ao ensino híbrido (blended learning, termo usado para designar modelos que unem atividades analógicas e digitais) por conta da dependência das TDIC para montagem das atividades a distância. Elas não necessitam ser realizadas em meio digital, embora isso ocorra na maioria dos casos.

Biblioteca do professor

Baciqui, Lilian; MORAN, José. (organizador). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

Nesta obra, os autores partem da ideia de que as metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos pelos professores: se desejamos ter estudantes proativos, é necessário adotar metodologias em que os aprendizes se envolvam em atividades complexas, nas quais precisem tomar decisões e avaliar resultados; se a ideia é educar para a criatividade, os alunos precisam experimentar novas possibilidades de resolver problemas.

Instrução por pares (peer instruction)

A instrução por pares (peer instruction, em inglês) é um método avaliativo desenvolvido pelo professor Eric Mazur, da Universidade Harvard (Estados Unidos da América), no final dos anos 1990, que envolve a aplicação de diferentes atividades conforme a quantidade de acertos dos alunos em questões de múltipla escolha, precedida de exposição do conceito a ser trabalhado. Uma porcentagem baixa de acertos prevê que o conceito seja revisto, enquanto porcentagens médias e altas determinam a realização de discussões em grupo, seguidas do refazimento das questões, e uma breve explicação sobre o tópico, sucedida da continuação do teste, respectivamente. É possível aplicar a instrução por pares isoladamente a cada questão ou utilizá-la de fórma mais generalizada, após aplicação de um teste composto de diversas questões de múltipla escolha (vânis, 2015).

O teste de verificação de aprendizagem deve ser, necessariamente, de múltipla escolha, porque todos os resultados precisam ser previstos pelo professor e compartilhados com todos os estudantes. A discussão coletiva, no caso de um resultado em que haja entre 30% e 70% de respostas corretas, serve para que os alunos reflitam sobre as próprias respostas ao formular uma argumentação que as sustente; eles também revisam a escolha que fizeram ao ouvir os argumentos de seus colegas.

Ensino sob medida (just-in-time teaching)

O método de ensino sob medida (just-in-time teaching, em inglês) depende das TDIC, que são usadas como uma ferramenta de comunicação, e tem o objetivo de otimizar o tempo que alunos e professores compartilham em sala de aula. Esse método prevê que as aulas presenciais sejam usadas para solucionar dificuldades específicas dos estudantes, bem como para desenvolver habilidades que não envolvam leitura e aquisição passiva de conceitos. Em casa, os alunos executam uma série de tarefas chamadas de warm-up exercises (exercícios de aquecimento, na tradução para o português). Esses exercícios são feitos utilizando as TDIC e têm um prazo de entrega que deve ser rigidamente controlado pelo professor. A partir do término desse prazo, o professor acessa as respostas dos alunos às tarefas e estrutura a próxima atividade a ser realizada em sala de aula com base nas dificuldades que ele observar (GAVRIN, 2006).

Aprendizagem baseada em problemas (problem-based learning PBL)

A abordagem PBL, muitas vezes traduzida para Aprendizagem Baseada em Problemas (á bê pê), prevê a proposição de um problema para grupos pequenos de alunos, os quais devem encontrar uma solução significativa para ele por meio de pesquisa individual e contraste coletivo de ideias. Para que essa abordagem seja desenvolvida adequadamente, é preciso que o problema proposto aos grupos seja contextualizado. Também é necessário que os alunos tenham acesso a fontes de pesquisa, embora seja possível não as fornecer diretamente para fomentar a autonomia na busca por informações.

É possível elencar algumas funções dadas a estudantes e professores específicos. Esquematiza-se, no quadro a seguir, elaborado por Borges e Crachá (2014), uma fórma de atribuição de papéis dentro de um mesmo grupo, formado por estudantes e por um professor-tutor:

ESTUDANTE COORDENADOR

ESTUDANTE SECRETÁRIO

MEMBROS DO GRUPO

TUTOR

Liderar o grupo tutorial.
Encorajar a participação de todos.
Manter a dinâmica do grupo tutorial.
Controlar o tempo.
Assegurar que o secretário possa anotar adequadamente os pontos de vista do grupo.

Registrar pontos relevantes apontados pelo grupo.
Ajudar o grupo a ordenar seu raciocínio.
Participar das discussões.
Registrar as fontes de pesquisa utilizadas pelo grupo.

Acompanhar todas as etapas do processo.
Participar das discussões.
Ouvir e respeitar a opinião dos colegas.
Fazer questionamentos.
Procurar alcançar os objetivos de aprendizagem.

Estimular a participação do grupo.
Auxiliar o coordenador na dinâmica do grupo.
Verificar a relevância dos pontos anotados.
Prevenir o desvio do foco da discussão.
Assegurar que o grupo atinja os objetivos de aprendizagem.
Verificar o entendimento do grupo sobre as questões discutidas.

Fonte: Tabela 1 – Descrição dos papéis dos participantes do grupo tutorial. ín: BORGES, CRACHÁ, 2014, página 303.

Painel integrado (jigsaw classroom)

O painel integrado (do inglês jigsaw classroom) é uma dinâmica em que os alunos são divididos em grupos reduzidos e o objeto de aprendizagem é dividido em partes. O número de partes precisa corresponder ao número de grupos. Propõe-se que os alunos discutam o tema que lhes coube. Em seguida, constroem-se novos grupos organizados por meio de um cruzamento entre os membros dos primeiros grupos, de tal fórma que em cada novo grupo haja pelo menos um representante de cada um dos primeiros gruptos – e, portanto, de todos os assuntos discutidos.

A seguir há uma esquematização da montagem de um painel integrado em ordem cronológica de passos a serem seguidos:

  1. Exposição do tema geral e instruções de como funcionará o painel integrado.
  2. Divisão da turma em primeiros grupos (de 1 a 4, no esquema reproduzido a seguir) e distribuição dos subtemas a eles.
  3. Discussão dos subtemas dentro de cada primeiro grupo.
  4. Divisão da turma em segundos grupos (de A D, no esquema reproduzido a seguir), de modo que cada segundo grupo contenha, pelo menos, um integrante de cada primeiro grupo.
  5. Apresentação da discussão feita anteriormente por cada um dos membros do segundo grupo.

É importante destacar que o número de subtemas corresponderá, sempre, ao número de integrantes de cada segundo grupo. Portanto, o professor deve organizar o conteúdo em uma quantidade de subtemas adequada ao número de alunos por grupo.

Esquema em duas partes. Na primeira parte, acima, indicam-se quatro grupos, 1, 2, 3 e 4, os subtemas para discussão e a distribuição dos alunos entre os grupos. Conteúdo: “Grupo 1, subtema 1 – integrantes: alunos 1 a 4. Grupo 2, subtema 2 – integrantes: alunos 5 a 8. Grupo 3, subtema 3 – integrantes: alunos 9 a 12. Grupo 4, subtema 4 – integrantes: alunos 13 a 16”. Uma seta vertical vermelha no sentido de cima para baixo liga a primeira parte do esquema à segunda. Nela, indicam-se quatro grupos, A, B, C e D, e a distribuição dos alunos entre eles. Conteúdo: “Grupo A – integrantes: alunos 1, 5, 9 e 13. Grupo B – integrantes: alunos 2, 6, 10 e 14. Grupo C – integrantes: alunos 3, 7, 11 e 15. Grupo D – integrantes: alunos 4, 8, 12 e 16”.
Gamificação

A gamificação consiste na utilização de elementos dos jogos digitais (mecânicas, estratégias, pensamentos) como estratégia didática, com a finalidade de motivar ou de promover a aprendizagem por meio do jogo. Assim como os elementos dos jogos, as fórmas de aplicá-los em atividades didáticas são inúmeras. Listamos a seguir algumas sugestões.

  1. Rotas diferentes para um mesmo fim – Em grande parte dos games, é possível atingir o mesmo objetivo por meio de caminhos distintos. Esse elemento dos jogos, se aplicado às atividades didáticas, pode contribuir para a incorporação das características pessoais dos alunos ao processo de aprendizagem, o que consistiria em ganhos tanto cognitivos como motivacionais. Cabe ao docente oferecer diferentes fórmas de alcançar a mesma solução de um problema.
  2. Feedback imediato – Nos games, os jogadores são, em geral, capazes de visualizar o efeito de suas ações em tempo real. É possível substituir o feedback normalmente lento das atividades escolares (como o resultado de provas escritas, por exemplo) por respostas rápidas, que estimulem um redirecionamento também rápido de estratégia por parte dos alunos. Isso pode ser feito com o auxílio das tê dê i cê, que possibilitam a automação do feedback. Ao perceber que seu raciocínio não está levando aos resultados esperados, o estudante é capaz de mudar de estratégia e atingir o objetivo didático de uma atividade.
  3. Curva de aprendizagem – Idealmente, um jogo de videogueime ensina ao jogador como interagir com os contrôles na prática, sem que precise se alongar em explicações complexas ou metalinguísticas a respeito da mecânica dele. Um bom jogo também oferece ao jogador o tempo necessário para que ele se acostume com a sua mecânica antes de introduzir um novo desafio, balanceando o ritmo ao introduzir cada um deles. O conhecimento adquirido na resolução de um desafio é requerido para que se solucione o próximo, e assim por diante. Usar esse elemento em sala de aula pode criar nos alunos a ideia de progresso, além de respeitar o ritmo pessoal de aprendizagem de cada um.
  4. Dividir tarefas complexas em outras menores − Ao dividir grandes objetivos de aprendizagem (como “escrever a introdução de um artigo de opinião”, por exemplo) em outros menores (como “criar um tópico frasal para o parágrafo de introdução de um artigo de opinião”, “desenvolver o tópico frasal em dois períodos que o expliquem mais detalhadamente” e “encerrar o parágrafo de introdução com uma frase que desperte a curiosidade do leitor”), a grandiosidade da tarefa final, que pode inconscientemente causar apreensão nos alunos, é atenuada. Algo similar pode ser observado nos guêimis, em que frequentemente objetivos maiores são divididos em um conjunto de tarefas de mais fácil execução. Dessa fórma, o estudante pode observar de maneira panorâmica as partes que compõem um problema e não ter sua motivação abatida pela sensação de “não saber por onde começar”.
  5. Uso de narrativa para imersão − A maioria dos vídeogueimes, em especial os que foram produzidos a partir do ponto em que a indústria dos jogos eletrônicos já contava com tecnologias que ampliavam muito a capacidade de processamento dos consoles e computadores, oferece algum contexto narrativo para as ações que o jogador deve performar. Esse contexto narrativo justifica as ações que de outra fórma pareceriam excessivamente arbitrárias e motiva os jogadores a interagir. O mesmo pode ser emprestado ao ensino: aprendizagens contextualizadas, ou seja, conhecimentos cuja aplicação está explícita desde o princípio para o estudante, acabam por gerar maior motivação do que aquelas cuja relação com a realidade não fica evidente (FARDO, 2013).

Pensamento computacional

Entre as dimensões que, segundo a Bê êne cê cê, caracterizam a computação e as tecnologias digitais e devem ser contempladas pelos currículos das escolas está o Pensamento computacional (pê cê). Por ser, geralmente, um tópico desconhecido pela maior parte de nós, professores de Língua Portuguesa, consideramos importante apresentar, ainda que sucintamente, o que alguns estudiosos denominam pê cê para que nosso componente possa contribuir para essa importante demanda.

Em geral, a primeira questão que surge sobre o tema é: quando falamos em pê cê, estamos falando necessariamente em computadores? Essa pergunta é essencial porque não há como ignorar os limites técnicos impostos às escolas públicas brasileiras, ­sobretudo no que tange aos equipamentos necessários para trabalhar com programação e à conexão dessas máquinas com a internet. Entretanto, felizmente, as reflexões acerca do pê cê não passam obrigatoriamente pelo dispositivo computador. Como nos lembram os educadores do Instituto Ayrton Senna (2019), “O Pensamento Computacional não está necessariamente ligado à programação de computador reticências”. Eles mencionam, ainda, que djênét uín, professora de ciência da computação,

reticências definiu o pensamento computacional como a formulação de problemas e soluções representados de fórma que possam ser executados por processadores de informações – humanos, computadores ou, melhor ainda, uma combinação de ambos reticências. (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2019.)

(2017) revela que

O termo “Pensamento Computacional” jamais pode ser confundido com a simples aptidão de manusear aplicativos em dispositivos ­eletrônicos (Alfabetismo Digital) ou uma fórma de pensar mecânica, limitando a criatividade da mente humana. (bréquiman, 2017, página 25).

Apoiado em diversos estudos27nota de rodapé , propôs uma definição para o pê cê:

O Pensamento Computacional é uma distinta capacidade criativa, crítica e estratégica humana de saber utilizar os fundamentos da Computação, nas mais diversas áreas do conhecimento, com a finalidade de identificar e resolver problemas, de maneira individual ou colaborativa, através de passos claros, de tal fórma que uma pessoa ou máquina possam executá-los eficazmente. (bréquiman, 2017, página 29).

Vale destacar, ainda, que o pê cê, além de não depender necessariamente do uso de um computador, tem caráter interdisciplinar. bréquiman indica, ainda, como os conceitos do pê cê podem ser desenvolvidos em alguns componentes curriculares (2017, página 48). Apresentamos, a seguir, as sugestões para a área de Linguagens, que o autor denomina “Linguagens e artes”.

CONCEITOS DE PC

LINGUAGENS E ARTES

Coleção de Dados

Identificar padrões em diferentes tipos de frases.

Análise de Dados

Representar padrões de diferentes tipos de frases.

Representação de Dados

Escrever um rascunho.

Abstração

Uso de metáforas e analogias.
Escrever uma história com diversas vertentes.

Algoritmos e Procedimentos

Escrever instruções.

Paralelismo

Utilizar o corretor ortográfico.

Simulação

Encenação de uma história.

Fonte: Quadro 2 – Sugestões de inserção do pê cê nas disciplinas de Estudos Sociais, Linguagens e Artes. ín: bréquiman, 2017. página 48.

O Centro de Inovação para a Educação Brasileira (RAABE, bréquiman, CAMPOS, 2018), no documento Currículo de Tecnologia e Computação – Da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, explica que o pê cê

Tem sido considerado um dos pilares fundamentais do intelecto humano, ao lado de leitura, escrita e aritmética, pois, como estes, serve para descrever, explicar e modelar o universo e seus processos complexos. (RAABE; bréquiman; CAMPOS, 2018, página 19).

A imagem a seguir, criada pelo ciébi, situa o pê cê dentro das etapas que contemplam uma educação digital mais completa e conceitua abstração, algoritmos, decomposição e reconhecimento de padrões.

Esquema circular em camadas. Etapas da Educação – Pensamento Comportamental – Abstração; Algoritmos; decomposição; Reconhecimento de padrões. Etapas da Educação – cultura Digital – Letramento Digital; Cidadania Digital; Tecnologia e Sociedade; Etapas da Educação – Tecnologia Digital – Representação de Dados; Hardware e Software; Comunicação e Redes. Abstração - Envolve filtragem e classificação de dados para solução de problemas. Algoritmos - Refere-se à construção de orientações claras para a resolução de problemas. Decomposição - Trata da divisão de problemas complexos em partes menores para a sua solução. Reconhecimento de Padrões - Envolve a identificação de padrões entre problemas para a sua solução.

O Currículo de Tecnologia e Computação proposto pelo ciébi detalha um pouco mais estes conceitos:

Abstração: Este conceito envolve a filtragem dos dados e sua classificação, ignorando elementos que não são necessários, visando aos que são relevantes. Envolve também fórmas de organizar informações em estruturas que possam auxiliar na resolução de problemas.

Algoritmos: É um conceito que agrega todos os demais. O algoritmo é um plano, uma estratégia ou um conjunto de instruções claras e necessárias para a solução de um problema. Em um algoritmo, as instruções são descritas e ordenadas para que o objetivo seja atingido e podem ser escritas em formato de diagramas, pseudocódigo (linguagem humana) ou escritos em códigos, por meio de uma linguagem de programação.

Decomposição: A decomposição trabalha o processo pelo qual os problemas são divididos em partes menores e mais fáceis de resolver. Compreende também a prática de analisar problemas a fim de identificar que partes podem ser separadas e também de que fórma podem ser reconstituídas para a solução de um problema global. Essa prática também possibilita aumentar a atenção aos detalhes.

Reconhecimento de Padrões: Trabalha a identificação de características comuns entre os problemas e suas soluções. Resulta do fato de realizar a decomposição de um problema complexo para encontrar padrões entre os subproblemas gerados. Estes padrões são similaridades ou têm características que alguns dos problemas compartilham e que podem ser explorados para que sejam solucionados de fórma mais eficiente. (RAABE; bréquiman; CAMPOS, 2018, página 19).

Nas várias seções, subseções e boxes desta coleção, ­propomos um trabalho com o desenvolvimento do pê cê factível dentro do universo da Língua Portuguesa. E como esse trabalho é realizado? A seguir, apresentamos as principais fórmas pelas quais isso acontece.

O reconhecimento de padrões é trabalhado, por exemplo, nas subseções Desvendando o texto, Como funciona um/uma [nome do gênero]? e Refletindo sobre o texto, que compõem as seções de Leitura, por meio do resgate dos elementos estáveis que caracterizam os diferentes gêneros textuais em estudo.

A resolução de problema por parte do aluno é com frequência trabalhada no boxe Desafio da linguagem, por meio do uso de recursos linguísticos específicos.

Lembramos que, segundo bréquiman (2017), o algoritmo

reticências possui uma grande abrangência em diversos momentos das atividades propostas no Pensamento Computacional. É um conjunto de regras para a resolução de um problema, como a receita de um bolo reticências. (bréquiman, 2017, página 42).

Nesse sentido, o pensamento algorítmico é desenvolvido na seção meu ou minha [nome do gênero] na prática – com suas subseções Momento de produzir (que contempla as etapas de planejamento, elaboração e revisão), Momento de reescrever (que contém as etapas de avaliação e reelaboração) e Momento de apresentar –, uma vez que esse “conjunto de instruções claras e necessárias” está a serviço da “solução de um problema” (RAABE, bréquiman, CAMPOS, 2018, página 19), apresentado no comando da atividade. Mesmo que o “problema” mude a cada atividade, o aluno necessita passar pelo mesmo conjunto de instruções para resolvê-lo, o que o torna capaz, progressivamente, de criar etapas autonomamente.

Quando pensamos no desenvolvimento da abstração que compreende a filtragem e a classificação dos dados e cria ferramentas que possibilitam a separação dos componentes essenciais em certo problema –, as seções fóra da caixa e Conversa com arte, que encerram os capítulos, propõem, em geral, um “problema” que deverá ser resolvido por um grupo de alunos. Para dar conta dele, os estudantes recolhem dados (muitas vezes filtrados dos conhecimentos que adquiriram ao longo de todo o capítulo) e separam aqueles que são essenciais para a formulação do que é exigido. Muitas vezes, essas seções também trabalham com etapas – “conjunto de instruções claras e necessárias” (RAABE; bréquiman; CAMPOS, 2018, página 19). Nesse sentido, desenvolve a capacidade de o aluno decompor um “problema”, pois há necessidade de dividi-lo “em partes menores para facilitar a [sua] resolução” (RAABE; bréquiman; CAMPOS, 2018, página 19).

Considerando os conceitos de pê cê que bréquiman (2017) agrupa em sua tabela, vislumbramos mais exemplos de como esta coleção trabalha esse tipo de pensamento: a coleta de dados na seção Preparando o terreno, a análise de dados na etapa de planejamento da seção meu ou minha [nome do gênero] na prática e no boxe A língua nas ruas, a representação de dados quando o aluno precisa transformar as informações de um texto analisado em quadros e esquemas e a simulação, objetivo, em alguns momentos, das seções E se a gentereticências?, Conversa com arte e fóra da caixa, entre outros exemplos.

Pensando no pê cê como uma “capacidade criativa, crítica e estratégica” (bréquiman, 2017, página 29), as seções e os boxes presentes nesta coleção foram planejados e estruturados para desenvolver justamente a criatividade, a criticidade e o pensamento estratégico dos estudantes.

A fim de que os alunos tomem consciência do tipo de aprendizagem relacionada ao pê cê desenvolvido nas propostas desta coleção, criamos os boxes É lógico!, inseridos próximo às atividades às quais eles se relacionam.

Finalmente, para dar conta de um desenvolvimento mais pleno do pê cê nos adolescentes, propomos (com ênfase) que seja realizado um trabalho interdisciplinar com a área de Matemática. Assim, as aprendizagens relativas a reconhecimento de padrões, decomposição, algoritmos, abstração, coleta, análise e representação de dados e simulação desenvolvidas pelo componente Língua Portuguesa poderão se transformar, por exemplo, em linguagem de programação.

Biblioteca do professor

NOEMI, D. Pensamento computacional: saiba como aplicar à realidade das escolas. Escolas Disruptivas, 7 janeiro 2020. Disponível em: https://oeds.link/kjWB12. Acesso em: 25 maio 2022.

Esse artigo apresenta as competências relacionadas ao pê cê e ­estratégias para incluí-lo na proposta pedagógica das escolas. Mostra que, diferentemente do que o próprio nome sugere, o pê cê não se relaciona apenas com a tecnologia, a programação ou a matemática e ­tampouco exige o uso de computadores.

V. Estrutura geral da coleção

Nos quadros a seguir, estão relacionadas e descritas, de modo sintético, as seções, subseções e boxes desta coleção. As sugestões para o professor envolvem as ações mais comuns para sua aplicação. Alertamos para a existência, no éle Ê e no “U”, de orientações específicas em muitas seções, feitas com o objetivo de aproveitar particularidades de um texto ou atividade, de diversificar o conjunto de práticas realizadas durante a aula, de justificar a função de determinada seção no capítulo e de trabalhar algumas das competências e habilidades indicadas pela Bê êne cê cê.

Seções

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

Leitura 1

Desvendando o texto – Atividades de análise do sentido global do primeiro texto exemplar do gênero em foco.
Como funciona um(a) [nome do gênero]? – Atividades de observação de características do gênero (contexto de produção e circulação, estrutura composicional e elementos estilísticos), seguidas de boxe de sistematização das informações apresentadas.

• Solicitar a leitura ou apresentar o áudio/vídeo.
• Seguir orientações específicas apresentadas na seção, quando for o caso.
• Orientar uma visão geral do texto quando for um poema ou texto em prosa subdividido com intertítulos ou contiver imagens,
links, boxes e rubricas.
• Perguntar aos estudantes sobre dúvidas relativas a vocabulário, conceitos ou informações. Verificar se os próprios alunos conseguem resolver essas dúvidas.
• Perguntar aos alunos, antes ou depois das atividades, se gostaram do texto, se concordam com o ponto de vista defendido nele, se se sentiram informados, se têm identificação com o que leram etc.
• Solicitar a realização das atividades, observando as estratégias sugeridas (feitura individual, em grupos, oral, escrita etc.).
• Fazer a correção das atividades, voltando ao texto quando os estudantes tiverem dificuldade em localizar uma informação ou elemento em seu contexto.
• Pedir que um aluno leia o boxe
Da observação para a teoria (ver detalhes dele adiante) e que outros expliquem as informações apresentadas. Relacionar as informações do boxe com as respostas e observações construídas durante a leitura e a realização das atividades.

Leitura 2

Refletindo sobre o texto – Atividades de análise do segundo texto exemplar do gênero com observação do contexto de produção e circulação, estrutura composicional e elementos estilísticos e sua articulação para construção do sentido global, seguidas de boxe de sistematização das informações apresentadas.

• Ver sugestões apresentadas em Leitura 1.
• Pedir aos alunos que façam comparações entre o texto e a
Leitura 1, observando semelhanças e diferenças temáticas, composicionais e estilísticas.

Se eu quiser aprender mais

Atividades de exploração e aprofundamento de um aspecto pontual do gênero (modalização, contra-argumentação, tipos de discurso etc.), que pode ser estendido a outros.

• Parafrasear a introdução da seção e solicitar aos alunos que realizem as atividades.
• Aproveitar cada um dos novos textos como objeto de leitura, pedindo a um ou mais estudantes voluntários ou indicados que produzam paráfrases ou sínteses orais do que leram.
• Corrigir as atividades, destacando o aspecto pontual em foco.

Preparando o terreno

Seção eventual, presente apenas nos volumes do 8º e 9º anos, localizada sempre antes de Meu/minha [nome do gênero] na prática. Destina-se à orientação de práticas de pesquisa (de campo, bibliográfica etc.) necessária a uma produção de texto.

• Ler (principalmente no início do ano) ou parafrasear as orientações para a avaliação e reescrita para verificar dúvidas.
• Orientar as práticas de pesquisa que serão propostas aos estudantes.
• Garantir que os alunos tenham compreendido o que precisarão fazer e com que função.
• Atentar para atividades que necessitam ser produzidas coletivamente e/ou com sua intervenção.
• Verificar, ao final da atividade, se os alunos estão preparados para iniciar a produção textual que será proposta no capítulo.

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

Meu/minha [nome do gênero] na prática

Momento de produzir
Planejando meu/minha [nome do gênero]: quadro que reúne e sintetiza características do gênero já observadas nas etapas anteriores e as desdobra em orientações específicas para a produção.
Elaborando meu/minha [nome do gênero]: orientação passo a passo para a produção da primeira versão do texto.
Revisando meu/minha [nome do gênero]: apresentação sintética de algum tópico linguístico que deve ser observado pelo aluno na feitura do texto.

• Ler (principalmente no início do ano) a proposta de produção e os passos do planejamento e da elaboração para verificar dúvidas e apresentar orientações complementares ao aluno.
• Solicitar o planejamento do texto como tarefa de casa, preferencialmente. Tomar essa decisão observando se a tarefa é individual ou em grupo.
• Solicitar a elaboração levando em conta a natureza da produção. Filmagens ou inclusão de imagens no texto verbal, por exemplo, exigem ações fora da sala de aula e maior tempo de preparo.
• Enfatizar que o aspecto textual estudado em
Se eu quiser aprender mais pode contribuir para uma produção de mais qualidade.
• Solicitar aos alunos que revisem criticamente o texto produzido, baseando-se nas informações apresentadas relativas ao aspecto linguístico em foco. Verificar se os alunos estão se apropriando dessa etapa de forma produtiva e consciente, ou seja, se estão relacionando as escolhas linguísticas às características do gênero (grau de formalidade, contexto de circulação etc.).

Momento de reescrever
Avaliando meu/minha [nome do gênero] – Orientações para a avaliação do texto, tendo como base um quadro de critérios pertinentes à proposta específica.
Reescrevendo meu/minha [nome do gênero] – Orientações para a reescrita levando em conta a avaliação feita e o produto a ser apresentado.

• Ler (principalmente no início do ano) ou parafrasear as orientações para a avaliação e reescrita para verificar dúvidas.
• Comentar, a partir da segunda produção, a importância de os alunos conhecerem os critérios de avaliação ainda durante a elaboração para ficarem atentos aos aspectos indicados.
• Acompanhar atentamente o processo de avaliação para garantir uma interação respeitosa e qualificada entre os alunos.
• Oferecer dicionários, gramáticas e o próprio conhecimento para solucionar dúvidas relativas à norma-padrão e às variedades linguísticas.
• Solicitar a reelaboração do texto já considerando a forma como será divulgado.

Momento de apresentar – Orientações passo a passo para a divulgação da produção.

• Reservar espaços na escola, providenciar material, organizar atividades, quando for o caso.
• Fazer adaptações nas propostas quando não for possível realizar o produto indicado.
• Orientar a divulgação: mural, coletânea impressa, postagem no
blog, apresentação oral etc.
• Formar a equipe de editores, quando for o caso.
• Acompanhar o processo de elaboração do produto para divulgação.

Textos em conversa

Atividades de leitura, com a exploração de texto que dialoga com o disponível em Leitura 1 ou Leitura 2 por tema ou campo de atuação.

• Orientar a leitura do texto em silêncio ou em voz alta.
• Perguntar aos estudantes sobre a existência de dúvidas relativas a vocabulário, conceitos ou informações. Verificar se os próprios alunos conseguem resolver essas dúvidas.
• Solicitar aos alunos que façam as atividades antes de promover uma discussão, para que tenham de mobilizar os próprios conhecimentos, exceto quando há outras orientações diferentes.
• Elaborar questões gerais para verificar a compreensão global ou pedir a um aluno que faça uma paráfrase do texto.
• Auxiliar os alunos a compreender o diálogo existente entre os textos, explorando similaridades e diferenças.
• Perguntar aos alunos se, após essa discussão, desejam rever uma ou mais respostas dadas por eles. Conceder tempo para que releiam e ajustem seu material.
• Corrigir as questões.

E se a gente…?

Seção em que o aluno é convidado e orientado a ler ou realizar uma produção textual. Serve para “aquecimento”, desdobramento ou aprofundamento de uma atividade proposta em outra seção, permitindo uma melhor exploração do tema, mídia, campo de atuação, experiência etc.

• Avaliar a possibilidade de propor a atividade como tarefa de casa, considerando o tempo necessário à preparação e à realização individual ou em grupo.
• Fazer a leitura das orientações, explicando os passos, complementando-os ou adaptando-os, se for o caso.
• Relacionar a atividade proposta nesta seção com as outras atividades do capítulo, de modo a ajudar o aluno a compreender a função do que ele está fazendo.

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

E se a gente…?

• Perguntar aos alunos se gostaram de realizar a atividade, sobretudo quando envolver gêneros ou temas diretamente relacionados às culturas juvenis.
• Organizar, eventualmente, a divulgação do material.

Falando sobre a nossa língua

Começando a investigação – Exploração de passagens da(s) leitura(s) que antecederam (imediatamente ou não) a seção por meio de atividades e de textos teóricos sintéticos sobre o tópico.
Tópico – Exposição teórica de tópicos gramaticais, com outros exemplos e, eventualmente, esquemas e quadros.
Investigando mais – Atividades de exploração de textos de gêneros variados para leitura de sentido global, observação de usos intencionais da língua e demais semioses e efeitos decorrentes deles e reflexões metalinguísticas.
Pode-se contar com boxes-conceito ou boxes de sistematização para exposições breves de teoria ou sistematização.

• Solicitar a realização de Começando a investigação como tarefa de casa ou como atividade de sala. Não solicitar a continuidade da seção antes da reflexão sobre essa atividade inicial.
• Partir da atividade para a exposição do conteúdo teórico, preferencialmente por meio de paráfrase, com aproveitamento ou não dos exemplos e esquemas do capítulo. O texto didático deve servir, preferencialmente, como material para consulta ou estudo posterior do aluno.
• Solicitar a realização das atividades e fazer, posteriormente, a correção delas. Aproveitar, nessa etapa, os textos das atividades solicitando paráfrases, questionando os estudantes sobre a concordância ou não com o ponto de vista defendido etc.
• Observar se há, na seção, um
Desafio da linguagem e organizar a atividade de modo que seja realizado após as correções.
• Avaliar, no final da seção, se houve bom aproveitamento das atividades. Caso seja notada dificuldade significativa, propor outras atividades (orais e coletivas, escritas e individuais etc.), inclusive se valendo dos textos disponíveis no capítulo.

Minha canção

Atividade de fruição de uma canção brasileira contemporânea (acompanhadas de cifras simplificadas) e orientações para a produção de um texto verbal ou multissemiótico em diálogo com ela.

• Estimular a turma a cantar a canção, se possível acompanhada por instrumentos musicais. Se não for possível, procurar o áudio na internet.
• Parafrasear ou ler as questões feitas com o intuito de estimular a reflexão, a discussão e a fruição da canção. Não é indicado que os alunos respondam às questões uma a uma nem por escrito.
• Estimular a recuperação do conhecimento prévio da turma sobre o compositor ou intérprete, sobre o estilo musical, sobre o videoclipe ou
show a que se vincula a canção (quando for o caso) etc.
• Estimular a apresentação de opiniões acerca da letra e da melodia da canção.
• Ler e orientar a produção sugerida na seção, verificando adaptações necessárias, combinando prazos, rotina de trabalho etc.
• Reservar espaço para exposição de um produto (quando for o caso), providenciar material etc.

Conversa com arte

Atividades de análise de um objeto representativo de uma das linguagens do componente Arte (artes visuais, teatro etc.) para observações sobre aspectos materiais, sentido construído, efeitos previstos e contexto de circulação.

• Verificar se a atividade pode ser feita apenas com apoio no livro ou se é preciso buscar algum equipamento.
• Oferecer tempo para que os alunos, individualmente ou em grupo, analisem o objeto em análise.
• Trabalhar com ênfase a imagem, explorando aspectos como elementos representados, posições desses elementos, recorte, cores, efeito da luz, sugestão ou não de movimento e de áudio etc.
• Explorar conhecimento prévio dos alunos acerca daquela linguagem artística.
• Parafrasear ou ler as questões da seção para promover a reflexão e a discussão. Não é indicado que os estudantes respondam às questões uma a uma nem por escrito.
• Explorar a maneira como os alunos recebem aquela expressão, produto, prática ou experiência artística (Já gostavam? Estão interessados em conhecer mais? etc.).
• Ler o orientar a produção sugerida na seção, verificando adaptações necessárias, combinando prazos, rotina de trabalho etc.
• Reservar espaço para exposição (quando for o caso), providenciar material etc.

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

Fora da caixa

Atividades de resolução de problemas diversos relativos aos campos jornalístico/midiático, da atuação na vida pública ou das práticas de estudo e pesquisa.

• Pedir que um ou mais alunos leiam e parafraseiem a introdução da seção e as orientações das atividades propostas.
• Adequar as ações de forma que elas sejam condizentes com as particularidades das atividades da seção.

Biblioteca cultural em expansão

Sistematização, em quadros, de sugestões de obras literárias, filmes, museus virtuais etc. que dialogam com uma das leituras do capítulo e podem interessar àqueles que a apreciaram.

• Ler ou fazer uma paráfrase dos quadros com as sugestões.
• Incluir outras sugestões conhecidas por você e que sejam pertinentes ao conjunto.
• Perguntar aos alunos se alguém conhece alguma delas e solicitar que fale dessa experiência. Você também pode falar de sua experiência.
• Perguntar aos estudantes se estão interessados em conhecer uma das obras. Em caso de interesse coletivo, considerar a possibilidade de criar um projeto de leitura. Em caso de interesse particular, verificar se o aluno aceita apresentar à turma o resultado de sua leitura por meio de uma resenha escrita ou oral.
• Convidar os estudantes a apresentar suas sugestões. Isso pode ser feito por meio da leitura do que escreveram ou da apresentação em formato de
podcast, por exemplo.
• Verificar se os alunos têm interesse em formar um clube do livro da turma para discutir as indicações feitas por eles na seção.

Boxes

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

Biblioteca cultural

Convite ao aluno para ampliar seu conhecimento acerca de um artista ou tema em foco por meio da pesquisa de sites, da audiência de vídeo etc.

• Consultar as orientações específicas que eventualmente acompanham o boxe.

Investigue

Convite ao aluno para ampliar seu conhecimento acerca de um tema ou responder a uma questão específica por meio da pesquisa em material de outras áreas do conhecimento.

• Consultar as respostas e, eventualmente, as orientações específicas que acompanham o boxe.

Fala aí!

Pergunta provocativa que instiga a reflexão e o debate acerca de um tema com implicações éticas, morais ou estéticas.

• Consultar as orientações específicas que acompanham o boxe.
• Evitar tratar o boxe como atividade secundária, de pouca importância. Ele contribui para a leitura ativa do texto, para a expressão oral do aluno e para o dinamismo da aula.
• Planejar o melhor momento de explorar o boxe, considerando as características de sua turma, como a maior ou menor adesão a situações de debate.
• Aproveitar as questões para instigar a turma a refletir e debater e estar muito atento ao que é dito, ao que fica implícito na fala e também ao que é sugerido por gestos, olhares e silêncios, uma vez que estão em questão também competências socioemocionais.
• Procurar a parceria de outros profissionais da escola caso note algum comportamento que precisa ser acompanhado ou sofrer interferência imediata.

Sabia?

Apresentação de informações complementares ou curiosidades acerca de um tema em estudo.

• Consultar as orientações específicas que eventualmente acompanham o boxe.

Lembra?

Revisão sintética de conceitos já estudados e necessários à realização de alguma atividade.

Boxes-conceito

Síntese de um conceito em estudo.

Boxes informativos

Apresentação de informações extras relevantes para um tópico em estudo.

Da observação para a teoria

Sistematização das observações sobre o gênero promovidas nas atividades de Leitura 1 e Leitura 2.

Da teoria para a prática

Aplicação prática, no texto que será produzido pelo estudante, da teoria estudada (a partir das observações feitas sobre o gênero experienciadas nas atividades de leitura).

Dica de professor

Apresentação de orientações pontuais que ajudam o aluno a compreender um termo técnico ou a realizar uma atividade proposta.

DESCRIÇÃO

SUGESTÕES PARA O PROFESSOR

De quem é o texto?

Apresentação sintética de informações acerca do artista que produziu os textos estudados em Leitura 1 e Leitura 2.

É lógico!

Apresentação do tipo de aprendizagem relacionada ao Pensamento Computacional que está sendo desenvolvido nas atividades propostas.

• Consultar as orientações específicas que eventualmente acompanham o boxe.

Desafio da linguagem

Convite ao aluno, em formato de situação-problema, para produzir um texto (coeso, coerente, fluente e de pequena extensão) no qual organize dados e conhecimentos que obteve ao responder a um conjunto de questões previamente fornecidas em vários comandos.
Além disso, pode haver um convite para o estudante mobilizar de modo produtivo determinado tópico linguístico ou para interferir criativamente em um texto, mas sem prejudicar a coerência dele.
Os boxes são acompanhados de orientações específicas, de modo a favorecer o desenvolvimento de habilidades relativas à expressão.

• Consultar a sugestão de resposta e, eventualmente, as orientações específicas que acompanham o boxe.

A língua nas ruas

Orientação de atividade de investigação de uso da língua na mídia ou pelos falantes da comunidade.

• Consultar as respostas e as orientações específicas que acompanham o boxe.


Outras orientações para o professor

Acrescentamos a seguir mais algumas sugestões àquelas que estão contidas nos quadros anteriores.

  1. Intencionalmente, esta coleção tem seções móveis. Essa estrutura está ligada a uma lógica que parte do pressuposto de que, dependendo das expectativas de aprendizagem de cada sequência didática, a ordem das seções nela presentes poderá ser alterada. Procure explicar isso aos alunos. Mostre a eles, também, que os capítulos do livro não têm como intenção transformá-los em produtores profissionais de gêneros textuais específicos. As sequências didáticas partem de uma série de atividades que colocam o adolescente como protagonista de sua aprendizagem e o convidam a experienciar. É por isso que, por exemplo, um capítulo como o de número 6 do 9º ano é intitulado “O mundo de dentro”, e não “O conto psicológico”, porque as leituras, a produção de um conto desse subgênero e o contato do estudante com outras linguagens são importantes caminhos para trabalhar medos, anseios, expectativas, laços de amizade e outras subjetividades deles.
  2. Busque alternativas para que as produções dos estudantes realmente sejam divulgadas/publicadas. Verifique, por exemplo, se é possível criar um espaço na biblioteca ou junto da secretaria para expor coletâneas ou revistas produzidas pelas turmas; criar um espaço nos corredores para inserção de murais; deslocar aparelhos de som para reprodução de pódikests no pátio ou sugerir que eles sejam reproduzidos em aulas de colegas; criar blóguis ou outros espaços virtuais etcétera
  3. Alterne o modo de realização das atividades: oral ou escrita, individual ou coletiva, na sala ou como tarefa de casa. Há orientações para isso em vários pontos dos capítulos.
  4. Esteja atento às respostas dadas pelos alunos para avaliar a necessidade de reapresentar algum tópico em estudo, revisitar informações, fazer correções no planejamento ou realizar atuações individualizadas (leia mais sobre isso na seção A importância de avaliar, neste ême pê).
  5. Observe sempre a adequação das respostas aos comandos presentes nas questões. Veja se os alunos compreendem a diferença entre transcrever, identificar, analisar, explicar, comparar etcétera
  6. Oriente os estudantes nos momentos em que assistirão a exposições teóricas ou informativas para que saibam se devem tomar nota e como devem fazer isso. Progressivamente, eles deverão decidir sozinhos.
  7. Procure solicitar, com frequência, a leitura dos textos em voz alta para que os alunos exercitem a altura de voz, ritmo de leitura, adequação das pausas à pontuação, respiração etcétera
  8. Oriente os alunos para que façam a escuta atenta das falas dos colegas. Eles devem saber identificar momentos em que podem interferir e momentos em que devem esperar que o turno de fala seja liberado.
  9. Estimule os estudantes a apresentar os seus pontos de vista e a sustentá-los de maneira respeitosa e equilibrada.
  10. Apresente a eles os seus pontos de vista e experiências de leitura, criando uma relação de parceria na aprendizagem. Evite os posicionamentos de ordem partidária e forneça, desde que não desrespeite direitos humanos, mais de um ponto de vista sobre um assunto.

11. Garanta o respeito mútuo durante as aulas. Não permita que comportamentos inadequados interfiram no seu trabalho e na possibilidade de aprendizagem do grupo, pontuando sempre que perceber que isso está acontecendo. Refaça os contratos de trabalho justificando a importância do coletivo e atue individualmente quando notar que um grupo de alunos destoa da turma, procurando envolvê-los nas atividades, chamando-os para conversas particulares ou se valendo de medidas disciplinares, combinadas coletivamente entre os professores, a coordenação e a direção, quando necessário.

VI. Tempo de planejar

Apresentamos a seguir quadros com sugestões de distribuição dos capítulos em cronogramas bimestrais, trimestrais e semestrais.

Cronograma bimestral

Indicamos que três capítulos sejam trabalhados no 1º bimestre considerando que, em geral, ele é mais extenso do que os demais nas escolas; indicamos que apenas um capítulo seja trabalhado no 4º bimestre porque, em geral, ele é mais curto do que os demais e somam-se muitas atividades no final do ano letivo.

CAPÍTULO

SUGESTÃO DO BIMESTRE EM QUE O CAPÍTULO DEVERÁ SER DESENVOLVIDO

1 – O registro do eu no mundo

1º bimestre

2 – Imagens e palavras em ação

1º bimestre

3 – Traduzir saberes

1º bimestre

4 – Para contar o que aconteceu

2º bimestre

5 – Contar e mostrar

2º bimestre

6 – Vender produtos e ideias

3º bimestre

7 – Um eu poético

3º bimestre

8 – Opinar com responsabilidade

4º bimestre


Cronograma trimestral

Indicamos que apenas dois capítulos sejam trabalhados no 3º trimestre porque, em geral, ele é mais curto do que os demais.

CAPÍTULO

SUGESTÃO DO TRIMESTRE EM QUE O CAPÍTULO DEVERÁ SER DESENVOLVIDO

1 – O registro do eu no mundo

1º trimestre

2 – Imagens e palavras em ação

1º trimestre

3 – Traduzir saberes

1º trimestre

4 – Para contar o que aconteceu

2º trimestre

5 – Contar e mostrar

2º trimestre

6 – Vender produtos e ideias

2º trimestre

7 – Um eu poético

3º trimestre

8 – Opinar com responsabilidade

3ºtrimestre

Cronograma semestral

Indicamos que cinco capítulos sejam trabalhados no 1º semestre porque ele costuma ser mais extenso do que o 2º.

CAPÍTULO

SUGESTÃO DO SEMESTRE EM QUE O CAPÍTULO DEVERÁ SER DESENVOLVIDO

1 – O registro do eu no mundo

1º semestre

2 – Imagens e palavras em ação

1º semestre

3 – Traduzir saberes

1º semestre

4 – Para contar o que aconteceu

1º semestre

5 – Contar e mostrar

1º semestre

6 – Vender produtos e ideias

2º semestre

7 – Um eu poético

2º semestre

8 – Opinar com responsabilidade

2º semestre


Outros modos de apresentação e ordenação de conteúdos

Professor, conforme já explicitamos em outros momentos deste ême pê, é essencial que você se aproprie desta coleção, adaptando-a às necessidades específicas de suas turmas e de sua escola. A própria estruturação dos capítulos em sequências didáticas compostas de seções móveis contribui para que haja uma perspectiva customizada das propostas apresentadas.

Nesse sentido, você tem autonomia para apresentar e ordenar os conteúdos tendo em vista seus objetivos. Este volume, por exemplo, estruturado em 8 capítulos dispostos intencionalmente de fórma a intercalar os campos de atuação aos quais os gêneros principais estão ligados, pode ter sua ordenação modificada. Se você considerar mais produtivo, tem a opção de, por exemplo, dividir seu curso em dois grandes blocos: em um primeiro momento (1º semestre), poderá desenvolver um trabalho específico com gêneros não-literários (Capítulos 2, 3, 4, 6 e 8) e, em um segundo módulo (2º semestre), poderá trabalhar exclusivamente com gêneros literários ou que mantenham alguma relação com essa fórma de arte (Capítulos 1 – Leitura 2; 5 e 7). Nesse mesmo caminho, poderá também agrupar os capítulos por campos afins: por exemplo, você poderá reunir em um primeiro módulo capítulos que trabalham gêneros que se situam estritamente no campos artístico-literário (Capítulos 5 e 7); em outro módulo, poderá reunir os gêneros ligados ao campo jornalístico-midiático (Capítulos 2, 4, 6 e 8), em outro, os capítulos que trabalham com o contar, mas que não necessariamente são literários (Capítulos 1, 2 e 4); entre outros arranjos.

É possível, ainda, manter a ordem dos capítulos, mas interferir nas atividades que os compõem. Enfatizamos, é claro, que supressões e adaptações feitas por você poderão interferir no cumprimento dos objetivos das sequências didáticas e, por consequência, no desenvolvimento de algumas habilidades e competências. Mesmo assim, você poderá, por exemplo, depois de analisar as demandas de suas turmas, escolher, quando há duas seções Leitura, apenas uma delas para trabalhar. Poderá, ainda, dependendo do grau de maturidade de sua turma e da familiaridade dela com determinados gêneros por tê-los trabalhado em anos anteriores, optar por ir diretamente para a seção Como funciona um ou uma [nome do gênero]?. Você poderá, também, selecionar algumas questões presentes em Refletindo sobre o texto e antecipar, se for conveniente, o boxe de sistematização. Se considerar que sua turma já domina um aspecto pontual de um gênero em estudo – por exemplo os tipos de discurso –, poderá se aprofundar menos em uma seção como Se eu quiser aprender mais. Se, por alguma razão didático-metodológica, considerar que é mais produtivo você fornecer dados para a produção de um texto, poderá (no caso do 8º e 9 º anos) não propor as atividades de prática de pesquisa que compõem a seção Preparando o terreno. Também poderá transformar a seção Textos em conversa em uma avaliação. Dependendo do trabalho que o professor de Língua Portuguesa do ano anterior já tiver realizado, poderá, no caso da seção Falando sobre a nossa língua, partir diretamente para a subseção Investigando mais. Se julgar mais interessante, poderá também escolher trabalhar apenas com uma das seções Minha canção (sempre são duas por volume) ou dividir esse trabalho com o professor de Arte. Outra possibilidade é transformar a seção Conversa com arte em um trabalho necessariamente interdisciplinar com o componente Arte e a seção fóra da caixa ser dividida com os professores de Geografia e História, por exemplo. Os boxes Biblioteca cultural podem ser transformados em um grande painel coletivo da turma. A seção Biblioteca cultural em expansão pode ser enriquecida com uma indicação coletiva, em lugar de individual. Se considerar que sua turma já está madura em relação à compreensão de determinados conceitos, você poderá não utilizar o boxe Da observação para teoria. Os boxes É lógico! podem ser trabalhados sempre em conjunto com os professores de Matemática e (se houver) de Programação, para que um trabalho com algoritmos possa ser realizado com mais profundidade. Os boxes Desafio da linguagem e A língua nas ruas podem ser transformados em avaliações formais. Enfim, são muitos os caminhos que poderão ser percorridos por você a partir das sequências didáticas oferecidas pela coleção.

Nota de rodapé
1
O termo multissemiótico demarca a análise das múltiplas semioses (som, imagem, movimento etcétera).
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2
Competência Geral 9 da Bê êne cê cê: "Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza." (BRASIL, 2018, página 10).
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Esta coleção foi editada no ano de 2022.
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O conceito de campos de atuação refere-se às esferas histórica e ideologicamente definidas (Báquitin, 2011) que organizam a produção, recepção e circulação de diferentes textos, concretizados em diferentes gêneros textuais. Os campos de atuação propostos pela Bê êne cê cê representam, portanto, uma leitura didática de tal conceito, sendo uma diretriz organizadora das práticas de linguagem apresentadas, proporcionando distintas possibilidades de organização curricular.
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Ao fazer esta afirmação, os autores não estão ignorando os altos índices de evasão escolar que fazem com que as idades dos alunos nas turmas sejam bastante variadas.
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Adiante exploraremos o conceito de experiência com o qual dialogamos.
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Esta coleção está embasada em estudos científicos e acadêmicos atualizados ligados ao componente Língua Portuguesa, bem como nas experiências práticas dos educadores que a produziram e nas experiências destes como autores de livros didáticos. Entretanto, em geral, optou-se, de fórma intencional, por não ancorar as sequências didáticas propostas em exposições teóricas muito extensas e excessivamente acadêmicas, sobretudo no trabalho com gêneros textuais.
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A Bê êne cê cê deixa claro que a abordagem do projeto de vida dos estudantes de fórma sistematizada, organizada e mediada é função principalmente dos professores do Ensino Médio. Entretanto, está evidente nos textos de apresentação do Ensino Fundamental (“A etapa do Ensino Fundamental” e “O Ensino fundamental no contexto da educação básica”, BRASIL, 2018, página 57-62) que essa discussão deve também atravessar os cursos dessa etapa de ensino.
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Ver os dois boxes Biblioteca do professor nas páginas quinze e dezesseis.
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Esta coleção é composta de um conjunto numeroso de variados tipos de atividades (propostas no éle Ê e comentadas no “U”) que estimulam, por meio da interação entre os estudantes e professores, o reconhecimento do valor da diferença (alteridade) e o convívio social republicano (que garante a democracia). Essas experiências propostas levam em conta também os vários atores que atravessam a vida dos alunos, ligados à família, à comunidade escolar, às associações como grêmios etcétera
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A instauração de uma cultura de paz na escola precisa estar associada necessariamente a um trabalho cotidiano e constante do professor e da escola. Nesse sentido, procuramos, nesta coleção, inserir encaminhamentos que objetivam trabalhar essa cultura, sempre associados às atividades propostas nas sequências didáticas. Esses encaminhamentos estão, em geral, no “U” que compõe este ême pê. Sugerimos que os professores preparem suas aulas com antecedência para entrar em contato com esse conjunto de encaminhamentos.
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No “U” que compõe este ême pê, relacionada objetivamente às atividades propostas na coleção, há uma série de encaminhamentos sobre a condução de discussões que estimulem a tolerância, ao chamar a atenção, por exemplo, para eventuais atitudes agressivas implícitas em ações. Os autores desta coleção optaram por esses encaminhamentos no “U” por os considerar mais produtivos para o professor.
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Reiteramos que no “U” de cada volume, há um conjunto de orientações contextualizadas sobre como trabalhar com os estudantes o desenvol­vimento da empatia, cooperação, valorização da alteridade, pensando na instauração de uma cultura de paz na escola (e, por conse­quência, na sociedade).
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Segundo o site do Fundo das Nações Unidas para a Infância Brasil ( Brasil), Enquanto a Covid-19 está perto de chegar a seu terceiro ano [em 2022], o impacto sobre a saúde mental e o bem-estar de crianças e jovens continua pesando muito. Segundo os últimos dados disponíveis do unicéfi, globalmente, pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada por lockdowns, enquanto mais de 1,6 bilhão de crianças sofreram alguma perda relacionada à educação. A ruptura com as rotinas, a educação, a recreação e a preocupação com a renda familiar e com a saúde estão deixando muitos jovens com medo, irritados e preocupados com seu futuro. Por exemplo, uma pesquisa on-line na China no início de 2020, citada no relatório Situação Mundial da Infância 2021, indicou que cêrca de um terço dos entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade. (unicéfi BRASIL, 2021).
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No próximo tópico (Bullying), trataremos com mais detalhes das ações de prevenção primária, secundária e terciária.
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (ó ême ésse). Prevenção ao suicídio: um manual para profissionais da saúde em atenção primária. Genebra (Suíça): 2000. Disponível em: https://oeds.link/BkcfCA. Acesso em: 30 abril 2022.
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Estratégia baseada em Tognetta e Vinha, 2008.
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A Bê êne cê cê trata de engajamento e motivação nas página 16 e 17 (BRASIL, 2018).
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Baseamo-nos em MORSON, EMERSON, 2008.
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Expressões-chave utilizadas pelo Instituto Porvir (2017) como estratégia para identificação das competências gerais que orientam a Bê êne cê cê.
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Além das pesquisas de campo, há na coleção – no éle Ê e/ou no “U” – suges­tões contextualizadas (em diálogo com as atividades propostas nos capítulos) de visitas guiadas a museus, bibliotecas, ambientes virtuais etcétera
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Como se sabe, a Lei nº 13.415/2017 (BRASIL, 2017) estabeleceu um conjunto de mudanças na estrutura do Ensino Médio (ê ême). Nessa direção, o pê êne éle dê 2021 (BRASIL, 2019c), em diálogo com a Bê êne cê cê, previu a existência de coleções de 6 volumes contemplando a área de Linguagens e suas Tecnologias, além de um volume específico de Língua Portuguesa. Essa exigência de obras que contemplam um trabalho interdisciplinar entre Língua Portuguesa, Educação Física e Arte (por área) não se estendeu aos livros oferecidos aos alunos do Ensino Fundamental – Anos Finais (de que faz parte esta coleção de Língua Portuguesa).
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Lembramos que, para a Bê êne cê cê, conhecimentos são “conceitos e procedimentos” e habilidades são “práticas cognitivas e socioemocionais”; competência, por sua vez, é definida como “a mobilização de conhecimentos reticências, habilidades reticências, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do traba­lho.” (BRASIL, 2018, página 8).
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O site do centro é https://oeds.link/etnnhg (acesso em: 18 maio 2022).
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O estudo da cliâr considerou: o nível de aprendizado dos alunos em um ano típico (utilizando dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica [saébi] de 2015 a 2019), o tempo de interrupção das aulas (estimado em 72% do ano letivo) e o aprendizado (ou não) obtido pelo ensino não presencial (explorado em cenários denominados otimista, intermediário e pessimista). A metodologia adotada baseou-se no estudo do Banco Mundial Simulating the potential impacts of covid-19 school closures on schooling and learning outcome: a set of global estimates.
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Dialogamos com o conceito de situação-problema proposto por : reticências situação didática na qual se propõe ao sujeito uma tarefa que ele não pode realizar sem efetuar uma aprendizagem precisa. Esta aprendizagem, que constitui o verdadeiro objetivo da situação-problema, se dá ao vencer o obstáculo na realização da tarefa. (mêrriê, 1998, página 192).
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Como, por exemplo, os listados a seguir. bãndy, A.Computational Thinking is PervasiveJournal of Scientific and Practical Computing, volume 1, páginas sessenta e sete a sessenta e nove, 2007. Twenty things to with a Computer. ­Educational Technology Magazine, 1972. Disponível em: https://oeds.link/02JToj. Acesso em: 24 maio 2022. Uin J MComputational thinking. Communications of the ACM, volume 49, número 3, página 33, 2006.
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