APRESENTAÇÃO

Talvez não haja educador que não tenha ouvido a seguinte pergunta de um aluno: “Por que preciso saber isso?”. A questão causa embaraço, mas temos muito a ganhar se a encararmos em vez de nos desviarmos dela. Afinal, por que ensinamos história? O que queremos desenvolver nos alunos? Certamente, esperamos que o aprendizado deles vá muito além da mera e estéril memorização de informações. Buscamos, acima de tudo, ajudar a formar cidadãos conscientes e responsáveis, capazes de agir eticamente em sociedade, e, com isso, contribuir para a construção das bases necessárias à consolidação de nossa jovem democracia. Trata-se, claro, de uma missão complexa.

O desafio é grande porque precisamos não só estabelecer estratégias de trabalho que dialoguem com alunos de diferentes perfis como também acompanhar as mudanças da legislação educacional, lidando com condições de trabalho que nem sempre são as mais adequadas (excesso de afazeres dentro e fóra da sala de aula, baixa remuneração, falta de recursos materiais nas escolas, entre outros problemas).

Considerando esse cenário, desenvolvemos esta coleção tendo em vista dois propósitos: aproximar os alunos dos temas apresentados estabelecendo relação entre o conteúdo abordado e a atualidade, com uma linguagem acessível, e oferecer aos professores subsídios para o trabalho em classe, como sugestões de práticas e estratégias. Esperamos, assim, que o processo de ensino-aprendizagem seja uma experiência significativa para todos.

Bom trabalho!

ORGANIZAÇÃO DESTE MANUAL

Organizado em duas partes (as orientações gerais da coleção e as específicas de cada volume), este manual tem o objetivo de apresentar a proposta e a estrutura da coleção, além de fornecer subsídios teóricos e práticos para o trabalho do professor em sala de aula. Conheça sua organização.

Orientações gerais

Expõem a estrutura do material de apôio ao professor; trazem reflexões sobre a história como área de pesquisa e componente curricular e sobre a prática docente. Também incluem as opções teóricas e metodológicas da coleção e como se realizam no livro do aluno, além de possibilidades e instrumentos para as avaliações e sugestões de gestão de sala de aula.


Páginas de livro. Destaque para as Orientações Gerais.
Página de livro. Destaque para o quadro Planejamento de aulas em conjunto.
Páginas de livro. Destaque para o esquema representando Temas Contemporâneos Transversais na Base Nacional Comum Curricular.
Páginas de livro. Destaque para o tópico A organização da coleção.

Orientações específicas

Nesta parte, são apresentados quadros que sintetizam de fórma organizada como as competências e habilidades da Bê êne cê cê são contempladas em cada um dos volumes da coleção, textos de aprofundamento para o professor, sugestões de consulta contextualizadas e, ao redor da reprodução das páginas do livro do aluno, a parte específica com comentários e sugestões para o trabalho em classe. Veja a seguir.


Página de livro. Destaque para as Orientações específicas.

Informa as Competências gerais da Educação Básica, as específicas de Ciências Humanas e as de História priorizadas em cada capítulo, além dos temas contemporâneos transversais abordados.


Páginas de livro. Destaque para o quadro Objetos de conhecimento e habilidades do sétimo ano.

Apresenta o quadro de objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê para cada ano, assim como sua correspondência ao longo dos capítulos do respectivo volume.


Página de livro. Destaque para o quadro Sugestões de cronograma.

Propõe sugestões de cronograma, subsidiando o planejamento das aulas.


Página de livro. Destaque para o tópico Textos de aprofundamento.

Apresenta uma seleção de textos relacionados a alguns temas estudados no volume para dar subsídios teóricos ao trabalho do professor.


Página de livro. Destaque para o tópico Sugestões de consulta.

Disponibiliza sugestões contextualizadas de livros, artigos, sites, filmes e podcasts para aprofundar os temas estudados ao longo do volume.

Páginas de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com abertura de unidade e orientações para o professor ao redor da reprodução.

Junto às páginas de abertura de cada unidade, há comentários e orientações que subsidiam a introdução do que será estudado e a justificativa da pertinência dos objetivos de cada um dos capítulos que a compõem.


Página de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com abertura de capítulo e orientações para o professor com habilidades da Base Nacional Comum Curricular e objetivos de estudo ao redor da reprodução.

Junto às páginas de abertura de cada capítulo, há a indicação das habilidades da Bê êne cê cê e os objetivos de estudo contemplados, além de sugestões para a abordagem da imagem, do texto e das questões da abertura, oferecendo estratégias de trabalho para o levantamento dos conhecimentos prévios e o envolvimento dos alunos neste momento inicial do estudo do capítulo.


Páginas de livro. Destaque para as reproduções do livro do estudante com os boxes Recapitulando e Refletindo sobre e as seções Leitura complementar e Enquanto isso, e orientações para o professor com respostas das questões, comentários e destaques da Base Nacional Comum Curricular ao redor das reproduções.

Ao longo dos capítulos, são apresentados respostas, comentários e destaques da Bê êne cê cê em relação às questões dos boxes e seções.

Página de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com texto didático e orientações para o professor com sugestões de abordagem e de atividade complementar ao redor da reprodução.

Comentários com sugestões de abordagem e atividades complementares oferecem estratégias opcionais para a exploração dos temas em classe.


Página de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com texto didático e orientações para o professor com trecho de artigo acadêmico ao redor da reprodução.

Trechos de artigos acadêmicos, notícias e textos historiográficos, além das indicações de como os temas abordados estão relacionados às competências e às habilidades da Bê êne cê cê, dão subsídios para o trabalho do professor no desenvolvimento dos conteúdos.


Páginas de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com texto didático e orientações para o professor com respostas, comentários e indicações de conteúdos interdisciplinares ao redor da reprodução.

Respostas, comentários e indicações de conteúdos interdisciplinares estão disponíveis nas páginas de atividades.


Páginas de livro. Destaque para a reprodução do livro do estudante com a seção Fazendo e aprendendo e orientações para o professor ao redor da reprodução.

A justificativa das propostas da seção “Fazendo e aprendendo”, sua relação com a Bê êne cê cê e as orientações de trabalho também são apresentadas.

SUMÁRIO

ORIENTAÇÕES GERAIS X

1. Material de apoio ao professor dez

Manual para o professor dez

2. A história como área de pesquisa: diferentes correntes historiográficas dez

O materialismo histórico dez

A História Social Inglesa dez

A Escola dos Annales onze

A História Cultural onze

A historiografia nacional doze

As opções desta coleção treze

3. A natureza do saber histórico treze

O historiador e o uso das fontes catorze

História e memória catorze

Realidade e representação quinze

4. Por que ensinamos história? quinze

Consciência histórica e a história como componente curricular escolar quinze

História e cidadania dezesseis

Diversidade, tolerância e promoção da cultura de paz dezessete

5. A história na sala de aula dezessete

O ensino de história e a produção acadêmica dezoito

Habilidades e competências dezoito

Os alunos no centro do processo de ensino-aprendizagem dezenove

Ensinar história vinte e três

O ensino de história da África, da cultura afro-brasileira e das populações indígenas vinte e três

Tempo, memória e fontes vinte e três

Ensino de história e interdisciplinaridade vinte e cinco

O ensino de história e as novas tecnologias vinte e seis

Dinamismo e flexibilidade nas aulas vinte e oito

Avaliação: processos e concepções vinte e oito

Formas de abordagem da coleção trinta

6. A sala de aula para além da história trinta

Gestão do tempo de aula trinta e um

Gestão do espaço físico trinta e dois

Gestão do espaço para a aplicação de testes e provas trinta e dois

Organização para apresentação de material audiovisual trinta e três

Gestão do uso do celular em sala de aula trinta e quatro

Gestão de conflitos em sala de aula trinta e quatro

Orientações para uso crítico de material disponível na internet trinta e seis

7. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trinta e seis

As Ciências Humanas na BNCC trinta e sete

A história na BNCC trinta e oito

O ensino de história nos anos finais do Ensino Fundamental trinta e nove

A BNCC na coleção quarenta

8. A organização da coleção quarenta e um

9. Bibliografia consultada quarenta e três

ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS XLVI

1. Introdução quarenta e seis

2. A BNCC neste volume quarenta e seis

Competências e temas contemporâneos transversais quarenta e seis

Objetos de conhecimento e habilidades do 7º ano quarenta e sete

3. Sugestões de cronograma quarenta e oito

4. Textos de aprofundamento cinquenta

Renascimento ou renascimentos? cinquenta

Geopolítica e expansão marítima cinquenta e um

Presença portuguesa na costa oriental africana cinquenta e dois

Cortés e os signos cinquenta e três

A criação das capitanias hereditárias cinquenta e cinco

João Maurício de Nassau-Siegen cinquenta e seis

Os escravizados e a constituição de laços familiares e comunitários cinquenta e sete

A herança indígena e os bandeirantes cinquenta e oito

Minas Gerais: opulência e pobreza sessenta

Mercantilismo: transição entre o feudalismo e o capitalismo sessenta e um

A transição para o capitalismo e a elaboração do pensamento mercantilista sessenta e dois

5. Sugestões de consulta sessenta e dois

6. Início do livro do estudante 1

Unidade 1 – O surgimento da modernidade 10

Capítulo 1 – Os Estados europeus e o absolutismo monárquico 12

Capítulo 2 – Humanismo, Renascimento e Reformas Religiosas 26

Capítulo 3 – Expansão marítima europeia 42

Unidade 2 – A conexão entre mundos 60

Capítulo 4 – Expansão portuguesa na África e na Ásia 62

Capítulo 5 – Colonizações espanhola e inglesa na América 82

Capítulo 6 – A colonização portuguesa na América 103

Unidade 3 – A construção do Império Português na América 118

Capítulo 7 – Nordeste açucareiro 120

Capítulo 8 – Sociedade escravista e cultura afro-brasileira 136

Capítulo 9 – Expansão das fronteiras da América portuguesa 149

Unidade 4 – Mudanças na economia do mundo ocidental 166

Capítulo 10 – A mineração na América portuguesa 168

Capítulo 11 – Mercantilismo: uma economia de transição 186

ORIENTAÇÕES GERAIS

1. Material de apôio ao professor

Manual para o professor

Organizado em duas partes, este manual tem o objetivo de apresentar a coleção e fornecer subsídios teóricos e práticos para o trabalho do professor em sala de aula.

Parte um – Orientações gerais

Na primeira parte, refletimos brevemente sobre a história como área de pesquisa, explicitando as opções teórico-metodológicas da coleção, fazemos uma exposição sobre o ensino de história considerando a Base Nacional Comum Curricular (Bê êne cê cê), o uso de metodologias ativas e o protagonismo juvenil, refletimos sobre a avaliação, sugerimos fórmas de gestão de sala de aula com o objetivo de contribuir com a prática docente e apresentamos a estrutura da coleção.

Parte dois – Orientações específicas

Na segunda parte, encontram-se as orientações específicas de cada volume: indicamos a relação dos conteúdos estudados com os respectivos objetos de conhecimento e habilidades da Bê êne cê cê; apresentamos abordagens que colaboram para o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica e das Competências específicas de Ciências Humanas e de História e dos temas contemporâneos transversais; apresentamos sugestões de cronograma, textos de aprofundamento e sugestões contextualizadas de consulta complementar, que podem subsidiar o trabalho docente com os assuntos tratados em cada volume; e oferecemos propostas para o encaminhamento de atividades, assim como as respostas às questões do livro do aluno e comentários e citações que podem auxiliar no desenvolvimento das aulas, além de sugestões para a realização de atividades complementares. As orientações específicas estão inseridas ao redor da reprodução da respectiva página do livro do aluno para facilitar a consulta e, consequentemente, ajudar o docente em sala de aula.

2. A história como área de pesquisa: diferentes correntes historiográficas

Atualmente, a história é entendida como um campo de tensões e contradições no qual pessoas comuns, ocupando diferentes lugares na sociedade e com distintos pontos de vista, buscam pôr em prática projetos muitas vezes conflitantes. A própria historiografia – quer dizer, a produção científica da história – carrega consigo as marcas do seu tempo, sendo compreendida como resultado dessas tensões.

É longa a trajetória teórico-metodológica que produziu esse entendimento do conhecimento histórico. As correntes teóricas surgiram de demandas do momento em que foram criadas e procuraram, com diferentes métodos, chegar a uma compreensão mais ampla dos processos históricos.

Como resultado das reflexões de diversos pensadores ao longo do tempo, houve uma profunda renovação dos temas, dos problemas, das abordagens e dos objetos da história. Visitemos, brevemente, as linhas de estudo mais influentes na atualidade.

O materialismo histórico

Até o final do século dezenove e o início do vinte, predominou a visão positivista, que resumia a história às narrativas descritivas de fatos do passado, sobretudo dos feitos dos grandes líderes políticos e militares, considerados figuras heroicas.

Essa concepção de história começou a ser contestada em meados do século dezenove. A consolidação e a expansão do capitalismo na Europa foram acompanhadas pela crescente desigualdade social e econômica, o que fomentou as críticas à sociedade burguesa e estimulou o desenvolvimento de alternativas políticas e de novas fórmas de interpretar a dinâmica social. Entre elas, a mais influente foi o materialismo dialético de cál marcs e fréderique ênguels, cuja aplicação à interpretação da história originou o chamado materialismo histórico. Por meio desse método, buscou-se explicar a realidade social partindo das condições concretas da existência e das contradições engendradas por elas.

Analisando a dinâmica do mundo industrializado a partir dos antagonismos entre o trabalho e o capital, márks projetou a eclosão da revolução socialista, que instauraria a ditadura do proletariado. márks acreditava que, depois de assumir o contrôle sobre os meios de produção, os trabalhadores fundariam uma nova organização social, política e econômica que ele chamou de comunismo.

Apesar de dividir opiniões, as teorias e ideias marxistas ainda influenciam muitos estudiosos na atualidade.

A História Social Inglesa

Também conhecida como Escola Marxista Inglesa, essa corrente se desenvolveu em meados do século vinte, a partir das críticas aos rumos que o socialismo tinha tomado na antiga União Soviética. Mesmo depois de romper com o Partido Comunista Britânico, na década de 1950, um grupo de historiadores manteve, em linhas gerais, a defesa do socialismo e do modêlo marxista de análise das sociedades. Podemos destacar, dentre eles, éduard pálmer tompson, Érik Robsbaum, crístofer ril, ródini rílton e péry énderson.

Para esses estudiosos, a história não tem uma determinação de causas que se possa apreender por meio de leis rígidas, por isso o objeto de estudo histórico deve abarcar não somente as estruturas sociais, econômicas e políticas, mas também os aspectos culturais e a experiência vivida pelos seres humanos. É a chamada “história vista de baixo”, uma perspectiva de estudo que busca inserir as pessoas comuns na história e construir uma nova significação para a categoria de classe social. Os trabalhos vinculados à Escola Social Inglesa são referência para estudantes, professores e historiadores de todo o mundo. Entre as principais obras destacam-se A Revolução Inglesa de 1640, de crístofer ril, e A formação da classe operária inglesa, de Éduardi Tômpson.

A Escola dos Annales

Na França, nas primeiras décadas do século vinte, os pesquisadores lúciã févr e Marc Blok elaboraram uma crítica à história factual e política praticada pelos positivistas, incapaz, segundo eles, de explicar, particularmente, a crise geral que se instalou na Europa com o fim da Primeira Guerra Mundial.

Pretendendo ir além da história empírica, propuseram uma análise historiográfica mais abrangente, feita com a colaboração dos aportes de outras áreas, como a geografia e a sociologia. Ao mesmo tempo, puseram em discussão a neutralidade do historiador, expondo os referenciais que embasavam suas pesquisas. Eles também foram responsáveis pela ampliação do conceito de fonte histórica, estendendo-o a todo vestígio da ação humana no tempo, como gravuras, vestimentas, utensílios domésticos, fotografias etcétera

Na continuidade das pesquisas desenvolvidas pela Escola dos Annales, a história política acabou perdendo espaço para a história econômica e social. Também ganharam relevância os estudos interdisciplinares e a preocupação com a dimensão psicológica dos acontecimentos históricos, a qual originaria mais tarde a história das mentalidades.

Fotografia. Ambiente com parede e chão de pedras. No chão há alguns objetos com cor de ferrugem como uma grande bateia e uma pequena jarra, além de algumas plantas. Na parede há um quadro com fotografia em preto e branco de dois homens, um deles está deitado de barriga para baixo e o outro está sentado. Ambos olham para cima.
Fotografia e objetos utilizados no garimpo em exposição na Galeria Arte e Memória, antiga vila do Xique-Xique de Igatu ocupada por garimpeiros, em Andaraí, Bahia. Foto de 2021. Com a ampliação do conceito de fonte histórica, surgiram novos estudos, abordando temas antes esquecidos pela historiografia.

A segunda geração da Escola dos Annales foi liderada por fernã brôdél, após a Segunda Guerra Mundial. Ele retomou a categoria de tempo como estrutura da análise histórica e a dividiu em três dimensões: a história dos indivíduos e da política, que é a de curta duração; a história conjuntural, cíclica, da economia de mercado, isto é, a de média duração; e na base, sustentando todo o restante, a história das estruturas da sociedade, ou seja, a de longa duração. Com isso, Brôdél procurou demonstrar que apenas uma análise abrangente da sociedade, por meio do diálogo com outros campos de estudo, era capaz de dar conta dos vários fios que compõem a trama social da história.

A terceira geração da Escola dos Annales começou a se estruturar no fim da década de 1960. Os historiadores da chamada Nova História defendiam que não havia uma totalidade que pudesse ser apreendida nem uma categorização capaz de dar conta das várias temporalidades, por isso era preciso buscar a articulação dos diferentes problemas e objetos da história. Tal visão refletia a descrença nos grandes modelos explicativos elaborados nas décadas de 1960 e 1970 e substituía a pretensão de fazer uma história total por uma história fragmentada, que resultou em uma ampliação de temáticas e de estudos, bem como numa maior intersecção entre a história e outros campos de estudo. Assim, nos trabalhos da terceira geração da Escola dos Annales, novos grupos ganharam destaque, como as mulheres e as crianças, e muitos temas antes ignorados, que não eram vistos como matéria digna de análise científica, tornaram-se relevantes para os estudos historiográficos, como a alimentação, a morte, o vestuário, a sexualidade e a moda, entre outros. Entre os historiadores mais destacados dessa geração estão emanuél lo rói ladurrí, márc ferrô, Jaques Le Gófi, Gêórge Dubí e Filíparriés.

Na década de 1980, a Nova História foi alvo de muitas críticas, entre elas a de que havia perdido os referenciais que até então tinham balizado os estudos historiográficos e a de que havia diluído a memória nacional. Alguns historiadores, como piérre norrá, começaram a resgatar o valor da memória, estudando os vestígios de fatos, símbolos e lugares do passado que, permanecendo na memória coletiva, criam laços de identidade e um sentimento de pertencimento a uma comunidade.

A História Cultural

A História Cultural deu importantes contribuições à renovação historiográfica contemporânea. Embora seja geralmente identificada com a Escola dos Annales ou com a Nova História, a História Cultural remonta aos trabalhos do holandês Iôrrân Rêlzinrrá e do suíço iácôb burcrrart, entre o fim do século dezenove e o início do século vinte. Esses pensadores defendiam que, ao analisar a cultura, é preciso observar a relação entre as práticas culturais e suas representações, os objetos culturais e os usos e costumes que caracterizam as sociedades. Um dos objetivos da História Cultural é compreender como determinado fenômeno

cultural é construído, pensado e internalizado em diferentes lugares e momentos. Por essa razão, ela se preocupa com o terreno do simbólico e suas interpretações, com os mitos e as crenças, a fala, as manifestações artísticas, as práticas religiosas.

A História Cultural conferiu novo significado à história política, originando o que hoje se chama História Política Renovada. Os pesquisadores ligados a essa linha historiográfica investigam a contribuição de elementos culturais para o desenvolvimento de acontecimentos políticos, bem como para a formação de determinadas estruturas de poder, como a função dos símbolos utilizados pelas monarquias europeias na manutenção da autoridade real.

A metodologia de trabalho da História Cultural ampliou o diálogo com outras áreas, formando uma rede conceitual que não estabelece hierarquias entre os campos de estudo nem territorializa o conhecimento. Por conseguinte, os historiadores trabalham permanentemente em um lugar de fronteira, com o cruzamento de fontes, teorias e aparatos conceituais de várias áreas de pesquisa, buscando compreender os sentidos que seres humanos de outros tempos davam ao seu mundo.

A historiografia nacional

A formação do Brasil como nação é um fenômeno bastante recente e posterior à fundação do Estado brasileiro. Até a conclusão do processo de independência política, o que é hoje o Brasil era um punhado de unidades administrativas com pouco em comum. Não existia uma brasilidade propriamente dita, ou seja, um sentimento de pertencimento nacional dos homens e mulheres que viviam no território brasileiro – cuja definição não se completaria senão no século vinte. Isso significa que a ideia do Brasil como nação é produto de uma construção. Foi preciso encontrar, ou criar, os laços para unir os habitantes das diferentes províncias, e isso dependeu da elaboração de uma narrativa histórica. Conhecê-la é fundamental para que o cidadão seja capaz de se situar em debates importantes e definidores de políticas públicas hoje, uma vez que questões como as relacionadas ao racismo, à violência contra a mulher e à intolerância religiosa passam pelo entendimento de como se forjou a nação brasileira.

As primeiras histórias do Brasil, ou melhor, as crônicas assim batizadas, datam do período colonial. Nelas não havia nenhuma preocupação de encontrar traços definidores do que fosse o Brasil, já que nem sequer era entendido como unidade. Foi somente em 1838 que se criou o primeiro órgão com a função de estudar e descrever o território brasileiro, a fim de criar uma narrativa da história do país: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (í agá gê bê). Sediado no Rio de Janeiro, reuniu um seleto grupo de literatos. Um de seus integrantes, José Inácio de Abreu e Lima, foi o autor do primeiro compêndio de história do Brasil, publicado em 1843. O livro, um manual escolar para estudantes do Colégio Pedro segundo, recebeu duras críticas, em especial de Francisco Adolfo de vãrnrárrê, o Visconde de Porto Seguro. vãrnrárrê acusou Abreu e Lima de plagiar outra obra e não viu com bons olhos a inclusão da população nativa na categoria “brasileiros”, pois considerava que o termo deveria se restringir aos habitantes que, segundo ele, eram “civilizados” e não abranger os povos que, em seu entendimento, representavam a “incivilidade”. Em outras palavras, para vãrnrárrê, a palavra “brasileiros” só se aplicaria aos habitantes que encarnavam o modêlo civilizatório europeu.

Entre 1854 e 1857, vãrnrárrê publicou os dois volumes da obra História geral do Brasil, em que inventariou e organizou pela primeira vez um expressivo número de documentos oficiais, muitos deles garimpados em arquivos europeus. Em sua síntese da história brasileira, exaltou a colonização europeia e procurou criar um passado idealizado para o país recém-independente. O relato, cheio de heróis e grandes feitos, omite os conflitos e as contradições do passado.

Na passagem do século dezenove para o vinte, ocorreu um marco na historiografia nacional: a publicação das obras de João Capistrano Honório de Abreu, como Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil (1899) e Capítulos de história colonial (1907). Capistrano de Abreu adotou uma postura crítica em relação à história positivista e analisou metodicamente suas fontes, considerando, em especial, os aspectos culturais da formação do Brasil. Em vez de celebrar grandes heróis, enfatizou o protagonismo do povo brasileiro na evolução histórica do país.

Sob a influência de Capistrano de Abreu, a historiografia brasileira das primeiras décadas do século vinte se ocupou, principalmente, de discutir a formação do povo brasileiro. No centro desse debate estiveram a questão racial e a natureza das relações construídas entre brancos, negros e indígenas no Brasil. O tema não era novo. Já no século dezenove, pensadores como o naturalista alemão cal fridrixi filip van marsius e Silvio Romero apontavam a miscigenação como característica marcante da formação do povo brasileiro, chegando a designar ao elemento branco o papel de orientá-lo em direção à civilização.

Nas décadas de 1920 e 1930, quando as teses eugenistas se difundiam pela Europa e pelos Estados Unidos, o debate ganhou impulso. Obras como Evolução do povo brasileiro (1923) e Raça e assimilação (1932), de Oliveira Vianna, e Casa-Grande e senzala (1933) e Sobrados e mucambos (1936), de Gilberto Freyre, influenciaram profundamente o pensamento brasileiro e a compreensão sobre a formação do país. De um lado, Oliveira Vianna defendeu a superioridade da raça branca sobre a negra e um plano de branqueamento racial. De outro, Freyre valorizou a mestiçagem e deu fórma ao conceito de democracia racial.

Outro pensador importante da década de 1930 foi Sérgio Buarque de Holanda, cuja obra Raízes do Brasil (1936) apontava o caráter predatório e violento da colonização portuguesa. Tomando um rumo contrário ao de outros intérpretes do Brasil, que exaltavam o projeto colonial lusitano, Sérgio Buarque de Holanda rejeitava qualquer julgamento de superioridade racial do branco em relação ao negro e ao indígena.

A década seguinte foi marcada pela inauguração do pensamento de linha marxista no Brasil. Caio Prado Júnior publicou em 1942 o livro Formação do Brasil contemporâneo, no qual, partindo de um viés econômico, porém sem desprezar os aspectos sociais e políticos, tentou explicar o país.

Da segunda metade do século vinte em diante, a produção historiográfica brasileira se divide em três vertentes principais: a tradicional, empirista, herdeira do positivismo e defensora de uma narrativa factual e descritiva da história; a marxista, com o materialismo histórico como metodologia básica, bastante forte no período da ditadura civil-militar; e a influenciada pela Escola dos Annales, que introduz novas linhas de pesquisa.

O fim do govêrno militar coincidiu com o crescimento da indústria cultural e editorial brasileira. A publicação de vários livros de história até então disponíveis somente em língua estrangeira e a possibilidade de inserção de autores nacionais no mercado editorial favoreceram a renovação da pesquisa histórica no Brasil. Além disso, houve um aumento da oferta de bolsas de estudo e a abertura de novos programas de pós-graduação, o que causou uma expansão significativa da produção historiográfica brasileira na década de 1990, marcadamente influenciada pela Nova História e pela Nova História Cultural.

As opções desta coleção

A proposta desta coleção é utilizar os aportes de várias linhas teóricas – como a História Social Inglesa, a História Cultural e a Nova História – naquilo que contribuem para tornar o conhecimento histórico significativo para os alunos do Ensino Fundamental.

Entendemos a história como algo dinâmico que, em permanente construção, comporta diversos aspectos da experiência humana ao longo do tempo. Para abarcar a complexidade das relações que estruturam os diferentes momentos da história, esta obra se propõe a manter uma articulação entre a política e o cotidiano, entre a economia e as relações sociais e entre a cultura formal e os aspectos simbólicos presentes nas sociedades estudadas.

Assim, além dos principais aspectos da política e da economia de cada período, a coleção trata, por exemplo, da religiosidade e da noção de sagrado nas sociedades humanas, desde a época anterior à invenção da escrita até a contemporaneidade. Também abre espaço para a história das ideias e sensibilidades, abordando aspectos como o respeito aos deuses por diferentes povos, em diferentes culturas e momentos históricos; a insegurança causada pela fome e pelos constantes conflitos na Europa da Idade Média, bem como a influência religiosa na cultura e nos modos de organização social medievais; o medo e as superstições dos navegadores que embarcaram (ou não) rumo ao desconhecido durante as expansões marítimas europeias; os impactos da Revolução Haitiana no imaginário das elites coloniais da época; a descrença no liberalismo e a crise social às vésperas da ascensão dos regimes totalitários na Europa. Esses exemplos ilustram as possibilidades que as novas abordagens históricas oferecem aos materiais didáticos.

Temas como a alimentação, o vestuário e os costumes aparecem como proposta de estudo em diferentes ocasiões: no 6º ano, quando tratamos dos gregos e dos romanos da Antiguidade, dos islâmicos e dos europeus medievais; no 7º ano, quando destacamos os escravizados africanos na América portuguesa; no 8º ano, quando abordamos as alterações dos costumes franceses da época da grande revolução; e no 9º ano, quando nos ocupamos dos movimentos contraculturais da década de 1960.

O destaque à presença feminina na história é uma constante em todos os volumes da coleção. Colocamos em evidência as diferenças da condição entre homens e mulheres desde o período Neolítico, quando se atribui às mulheres a responsabilidade pela domesticação de espécies vegetais, até a atualidade, sublinhando o protagonismo feminino em diversas situações. Não deixamos de tratar, por exemplo, das mulheres e sua posição na cultura islâmica, tema desenvolvido no 6º ano pela óptica da questão de gênero e da diversidade cultural.

A coleção ainda salienta o papel de grupos e camadas sociais que, na história tradicional e positivista, não eram contemplados, como os operários e os trabalhadores em geral, abordando seu cotidiano e modo de vida. Enfoca também a questão indígena − desde antes da chegada do europeu ao continente americano até a atualidade, quando diferentes povos indígenas usam tecnologias digitais − e a história e a cultura afro-brasileira, por meio das manifestações políticas, artísticas e sociais, chamando atenção para o protagonismo da população negra na conquista de direitos no país.

Ressaltamos que, sempre que pertinente ao tema estudado, damos destaque para a luta pela igualdade de direitos e pela defesa dos direitos humanos.

3. A natureza do saber histórico

As transformações que ocorreram na concepção e nos objetos de estudo da história não mudaram os princípios da boa historiografia: o historiador deve dominar o referencial teórico ao qual se filia e o aparato conceitual com o qual trabalha e, principalmente, deve trabalhar com método da investigação científica, baseado na análise crítica dos documentos, a partir da qual se elaboram hipóteses em busca de conclusões parciais, sujeitas a revisão e retificação.

É no permanente esforço de investigação, formulação de hipóteses, verificação e retificação de conclusões que reside o caráter científico do conhecimento histórico e a objetividade a que visa o historiador.

Não há certezas, não há caminhos que não possam ser refeitos de outra maneira, não há conclusões definitivas. Todas as fontes podem ser lidas novamente de outro modo, vir a ser comparadas com novas fontes disponíveis e revelar novas faces, antes ignoradas. O historiador deve interpretar as fontes, demolir sua aparente neutralidade, mas nunca as inventar.

O historiador e o uso das fontes

Até o século dezenove, só eram reconhecidos como fontes históricas os documentos escritos oficiais. Somente na primeira metade do século vinte os conceitos de documento histórico e fonte histórica foram revolucionados e ampliados pela Escola dos Annales. Sobre documento histórico, lúciã févr afirma:

“A história faz-se, sem dúvida, com documentos escritos. Quando há. Mas pode e deve fazer-se sem documentos escritos, se não existirem reticências. Faz-se com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para fabricar o seu mel, quando faltam as flores habituais: faz-se com palavras, sinais, paisagens e telhas; com fórmas de campo e com más ervas, com eclipses da Lua e arreios; com peritagens de pedras, feitas por geólogos, e análises de espadas de metal, feitas por químicos. Em suma, com tudo o que, sendo próprio do homem, dele depende, lhe serve, o exprime, torna significantes a sua presença, atividade, gostos e maneiras de ser.”

févr lúciã. In: LE GÓFI, Jaques. História e memória. quinta edição Campinas: Editora da unicâmpi, 2003. volume 1, página 107.

A aproximação dos historiadores de outros campos de conhecimento favoreceu o ingresso de materiais que antes não eram considerados pertinentes para a história, como a literatura, as artes plásticas, a música, a moda, os rituais, os movimentos sociais e culturais, os símbolos e as tradições. Os jornais e os processos criminais, por exemplo, puderam servir de fonte para a análise histórica e gerar uma biografia. Um exemplo é o estudo de crístofer ril sobre a história de Óliver Crom-uél. Outro exemplo da ampliação da noção de fonte é a tese de fernã brôdél sobre a região do Mar Mediterrâneo, realizada com base em rótas de navegação, gráficos dos fluxos de comércio e aspectos do espaço geográfico da região.

As fontes orais também passaram a ter relevância para a pesquisa histórica, principalmente nos estudos de história do tempo presente, com a valorização do papel do sujeito no processo de tomada de decisões e na investigação das relações entre memória e história.

Outra mudança importante na postura do historiador perante as fontes primárias foi a admissão de que tais fontes não podem ser tomadas como testemunho inquestionável do passado, portadoras de toda a “verdade”. Hoje os historiadores entendem que as fontes precisam ser investigadas levando-se em conta as condições em que foram produzidas. Em outras palavras, reconhecem que as fontes os conduzem a determinado ponto de vista ou a um recorte particular de determinado tempo.

A história e as fontes digitais

Uma questão que se impôs mais recentemente é o trabalho do historiador na era da cultura digital. Que novas fontes estão hoje disponíveis no mundo virtual? Como isso altera os métodos de pesquisa utilizados pelo historiador? Segundo Rogê Chartiê:

“A textualidade eletrônica de fato transforma a maneira de organizar as argumentações históricas ou não, e os critérios que podem mobilizar um leitor a aceitá-las ou rejeitá-las. Quanto ao historiador, permite desenvolver demonstrações segundo uma lógica linear ou dedutiva reticências. Permite uma articulação aberta, fragmentada, relacional do raciocínio, tornada possível pela multiplicação das ligações hipertextuais. Quanto ao leitor, agora a validação ou rejeição de um argumento pode se apoiar na consulta de textos (mas também de imagens fixas ou móveis, palavras gravadas ou composições musicais) que são o próprio objeto de estudo, com a condição de que, obviamente, sejam acessíveis em fórma digital.”

chartiê, rogê. A história ou a leitura do tempo. segunda edição Belo Horizonte: Autêntica, 2010. página 59-60.

A posição de chartiê é reforçada pelo número cada vez maior de acervos de museus, arquivos, bibliotecas, universidades, órgãos governamentais, entre outros, que vêm sendo digitalizados e disponibilizados para a pesquisa. chartiê dá o exemplo do historiador estadunidense róbert darntôn, que publicou um artigo na versão impressa e na versão digital de uma revista estadunidense; na versão digital, os leitores puderam ter acesso a uma quantidade maior de dados das fontes que o autor utilizou para fazer o trabalho. Esse fato, nas palavras de chartiê,

reticências estabelece uma relação nova, mais comprometida com os vestígios do passado e, possivelmente, mais crítica com respeito à interpretação do historiador.”

chartiê, rogê. A história ou a leitura do tempo. segunda edição Belo Horizonte: Autêntica, 2010. página 60.

Captura de tela. Site da Biblioteca Nacional Digital. Na parte superior, logotipo da Biblioteca Nacional Digital e campo de busca. Abaixo, as opções: ARTIGOS; DOSSIÊS; EXPOSIÇÕES; ACERVO DIGITAL; HEMEROTECA DIGITAL; SOBRE A BN DIGITAL. Abaixo, imagem de uma mulher de cabelo preso e usando vestido. Ao lado, o texto: Dona Maria Primeira. Portugal e o Brasil: elos de uma mesma corrente. Curadoria Mary del Priore. Em segundo plano, pintura de uma paisagem, com destaque para uma caravela portuguesa no mar.
Tela inicial do site bê êne Digital, que disponibiliza diversos documentos, fotografias, gravuras, jornais e revistas pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Com a digitalização, um número maior de pessoas consegue acessar acervos da instituição.

História e memória

Para Jaques Le Gófi, a memória consiste em um conjunto de funções psíquicas que possibilita aos indivíduos conservar informações sobre o passado mediante um processo de reelaboração dessas informações, que envolve tanto a valorização e a seleção de alguns aspectos quanto o esquecimento de outros. Isso significa que a memória revela menos sobre o que de fato

aconteceu no passado e mais sobre o que os acontecimentos significam para quem os rememora. Por isso, a memória deve ser entendida como o resultado de uma construção social ligada à constituição de identidade, ou seja, o produto de uma operação cultural coletiva em que um grupo de pessoas produz, com base em elementos do passado, uma imagem de si.

Desde o final da década de 1970, a memória se tornou, por obra dos historiadores da Nova História, objeto de reflexão e pesquisa. Vários estudos têm procurado compreender as fórmas assumidas pela memória, bem como a maneira como ela articula passado e presente. A atenção desses estudiosos recai principalmente sobre a memória coletiva pelo fato de ela ser produto de um processo dinâmico de troca de lembranças individuais, interpretações da realidade elaboradas pelos meios de comunicação, recortes e reelaborações do passado, o qual resulta em um elemento identitário poderoso. Os estudos sobre a memória são particularmente importantes para as investigações sobre as sociedades ágrafas, nas quais a preservação do passado é fundamental para a manutenção de seus laços de união e, portanto, para a coesão do grupo.

Realidade e representação

A representação como categoria de análise não é nova e remete primeiramente ao trabalho do sociólogo êmile durcáim, sendo depois apropriada por historiadores como Rogê Chartiê e róbert darntôn, entre muitos outros. A representação, segundo chartiê, é uma construção feita pelas pessoas sobre suas práticas, de modo que não há uma realidade que possa ser compreendida a prióri, mas apenas representações dela. chartiê se coloca contra os estudos das mentalidades – que igualariam o imaginário de todas as camadas sociais, desconsiderando sua diversidade – e procura trazer historicidade para os sentidos que as pessoas dão às próprias vivências. Para ele é necessário,

reticências dar assim atenção às condições e aos processos que, muito concretamente, sustentam as operações de construção do sentido (na relação de leitura, mas também em muitas outras) é reconhecer, contra a antiga história intelectual, que nem as inteligências nem as ideias são desencarnadas e, contra os pensamentos do universal, que as categorias dadas como invariantes, quer sejam filosóficas ou fenomenológicas, devem ser construídas na descontinuidade das trajetórias históricas.”

chartiê, rogê. O mundo como representação. In: chartiê, rogê. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da u éfe érre gê ésse, 2002. página 68.

Para chartiê, portanto, o conteúdo de uma imagem, de um texto literário, de um filme e de outras manifestações das sociedades humanas não é cópia da realidade, mas uma representação dela, ou seja, uma construção que revela como ela foi percebida pelas pessoas segundo seus lugares na sociedade, em um momento histórico específico. Sendo assim, essas manifestações não podem ser vistas como objetos invariáveis no tempo e no espaço, pois expressam questões próprias ao contexto em que foram criadas.

róbert darntôn vê a representação como a maneira pela qual as pessoas comuns organizam a realidade mentalmente e expressam essa organização nos comportamentos e nas práticas sociais, formando um conjunto compartilhado de símbolos que constituem um idioma geral.

Ao estudar as representações na arte, na música, na literatura, nos documentos escritos ou em outras fontes históricas, o historiador busca apreender as diferenças e os significados que estão inscritos ali e que permitam perceber como as culturas formularam sua maneira de pensar e sua visão de mundo. Em síntese, as representações são criadas por pessoas inseridas em determinado contexto histórico e carregam significados que podem ser desvendados.

4. Por que ensinamos história?

Vivemos em um mundo multifacetado de identidades e de modos de vida, no qual as novas tecnologias digitais possibilitam trocas de informações em um ritmo nunca imaginado pelas gerações anteriores. Ante tal realidade, devemos procurar e selecionar informações com senso crítico e autonomia, agindo de maneira ética, sustentável e cidadã. Por isso, no Ensino Fundamental, é importante que a história dialogue com a atualidade e apresente referenciais aos jovens em formação, auxiliando-os a desenvolver competências e habilidades necessárias para que possam interpretar o mundo em que vivem e interagir nele responsavelmente. Mas como dotar o ensino de história dessa faculdade formadora necessária nos dias de hoje? A resposta exige uma reflexão sobre aspectos da prática pedagógica desse componente curricular.

Consciência histórica e a história como componente curricular escolar

A todo instante, os indivíduos se veem compelidos a projetar-se para o futuro e a fazer escolhas de acôrdo com os objetivos que definem para si. Entretanto, para isso, precisam encontrar referências que lhes permitam tomar decisões e agir com alguma sensação de segurança em um mundo instável e em constante transformação.

Essas referências podem ser encontradas em fatos, experiências e reflexões do passado; porém as lembranças e os vestígios do passado não se apresentam de imediato como um conjunto organizado e inteligível. Ao contrário, o passado, da maneira como aparece nas lembranças, tem um caráter fragmentário e caótico; por isso, é preciso conferir-lhe sentido, dotá-lo de coerência, encontrar uma articulação lógica entre os múltiplos elementos que compõem a experiência humana no tempo. É a consciência histórica que cria as condições para que os indivíduos tracem uma linha de coerência entre a experiência vivida e os projetos a serem realizados.

Mesmo aqueles que nunca tiveram contato com a história como componente curricular ou ciência desenvolvem, nas situações da vida prática, consciência histórica. Esta se fórma não só por meio do contato com os conhecimentos escolares, mas também por meio das experiências da realidade cotidiana: os saberes acumulados na memória coletiva e individual, as trocas nos grupos de convívio e da apreensão dos conteúdos históricos veiculados pela mídia (telejornais, jornais impressos, cinema, internet etcétera), por exemplo. Da síntese de informações colhidas de todas essas experiências se constitui a consciência histórica, que passa a ser responsável por ordenar as lembranças do passado e lhes conferir sentido, permitindo que os seres humanos analisem o presente, avaliem quais ações são as mais acertadas e decidam quais devem pôr em prática. Nas palavras do doutor em educação Daniel Medeiros,

reticências a consciência histórica não se resume a conhecer o passado. Ela oferece estruturas para que, através delas, o conhecimento histórico tenha o condão de agir como meio de compreensão do presente e antecipação do futuro. A consciência histórica é, ao mesmo tempo, o âmbito e o objetivo do aprendizado histórico.”

MEDEIROS, Daniel H. de. A formação da consciência histórica como objetivo do ensino de história no ensino médio: o lugar do material didático. 2005. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

Em seus estudos, o historiador e filósofo alemão iórn russãn propôs classificar a consciência histórica em quatro categorias: a tradicional, a exemplar, a crítica e a genética. A primeira delas corresponde a um tipo de consciência em que o tempo é entendido como um contínuum, e situações e comportamentos tradicionais são repetidos sem interrupção no tempo, oferecendo lastro para a identidade de um grupo. Estamos aqui no campo das tradições. Já a consciência exemplar é aquela em que a experiência histórica é rememorada para explicar o presente. Em outras palavras, situações experimentadas no passado são refletidas no presente de modo anacrônico:

reticências o passado está repleto de uma multiplicidade de exemplos que servem para mostrar a validade e a utilidade de regras gerais de conduta. A relação entre passado, presente e futuro repousa na validade contínua dessas regras gerais. reticências. Neste sentido, as decisões tomadas são comunicadas por referência a casos precedentes através dos quais se deduzem regras.”

GAGO, Marília. Consciência histórica e narrativa na aula de história: conceções de professores. Porto: citissêm/ Afrontamento, 2018. página 69.

A terceira categoria é a crítica, que pressupõe um distanciamento entre o sujeito e o passado, e a relativização e ressignificação desse. Nesse tipo de consciência, o passado já não serve para legitimar o presente ou moldá-lo. Ao contrário, fornece elementos para se formular um questionamento das estruturas e modelos do presente. Por fim, a consciência genética é aquela em que o indivíduo compreende as relações entre presente e passado e consegue se situar em relação a diferentes temporalidades, movendo-se no presente a partir de referências tomadas de outros tempos sem que, no entanto, esteja preso a elas. Nas palavras dos historiadores Fernando Marrera e Uirys Souza,

reticências [a consciência genética] ocorre quando o indivíduo está totalmente consciente do seu presente e de que está inserido em um mundo, onde seu presente é um reflexo parcial do que ocorreu no passado, de tal fórma que o que passou não voltará a passar, mas que algumas continuidades permanecem, de modo que, nesse processo de conscientização, o indivíduo não nega totalmente o passado (como propõe a consciência crítica), nem tenta inserir ou legitimar o presente através do mesmo (conforme propõe a consciência tradicional e exemplar), mas estabelece uma síntese entre ambos.”

MARRERA, Fernando Milani; SOUZA, Uirys Alves de. A tipologia da consciência histórica em russãn. Revista Latino-Americana de História, São Leopoldo, volume 2, número 6, página 1076-1077, agosto 2013. Edição Especial.

A construção das duas últimas categorias da consciência histórica se dá mediante o trabalho de conteúdos que instigue o desenvolvimento de uma argumentação histórica crítica e que favoreçam a percepção das relações entre a experiência vivida, de modo que os alunos vejam a si mesmos como sujeitos históricos.

História e cidadania

Cidadania é uma palavra que deriva do termo latino civitas, que identificava, na Roma antiga, a cidade, a comunidade organizada politicamente. Atualmente, designa um conjunto de direitos políticos, econômicos e sociais usufruídos pelos indivíduos, que têm como contrapartida deveres em relação ao coletivo.

O exercício da cidadania pressupõe o indivíduo entender seu papel na coletividade e atuar nela de maneira sensata e responsável. Isso significa ter consciência de quem ele é, do lugar que ocupa na sociedade, de como seus interesses e projetos se articulam ou se contrapõem aos dos demais e do impacto que suas ações têm sobre a vida coletiva. Educar o indivíduo para essa consciência é um dos papéis da escola e, nela, o ensino de história ocupa um lugar de destaque. Por meio do estudo da história, o indivíduo desenvolve habilidades cognitivas importantes como a de compreender a sociedade na qual se insere a partir de uma perspectiva temporal, analisar os interesses políticos e econômicos que movem os diferentes atores sociais e se posicionar em relação a eles, comparar sociedades de variadas conformações e identificar características que as aproximam ou distanciam, entre outras. Sem tais habilidades, o indivíduo age em sociedade e toma decisões guiado pelo imediatismo e pela percepção impressionista dos fenômenos sociais. Muitas vezes, adota postura individualista, não conseguindo se enxergar como parte do coletivo. Por essa razão, o ensino de história também desempenha uma função importante na educação para a tolerância e a democracia.

Diversidade, tolerância e promoção da cultura de paz

Em 16 de novembro de 1995, na 28ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi aprovada a Declaração de Princípios sobre a Tolerância. Nesse documento, os países signatários – entre eles, o Brasil – reafirmaram os princípios da Declaração Universal dos Direitos dos Homens e reconheceram que a missão de preservar a paz entre os povos não é possível sem uma firme defesa da tolerância, definida como:

reticências o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.”

unêsco. Declaração de princípios sobre a tolerância. Disponível em: https://oeds.link/VHhoTH. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

O documento ainda sublinha o papel da educação como meio eficaz de combate à intolerância, na medida em que ela desfaz preconceitos, o solo fértil onde brotam o medo do diferente e a violência contra as minorias.

Seis anos depois, na 31ª Sessão da Conferência Geral da Unesco, foi assinada a Primeira Declaração Universal da Diversidade Cultural, na qual se reforça o documento de 1995 e propõe um plano de ação para a valorização e aceitação da diversidade criativa, além de destacar a importância da educação.

“Promover, por meio da educação, uma tomada de consciência do valor positivo da diversidade cultural e aperfeiçoar, com esse fim, tanto a formulação dos programas escolares como a formação dos docentes.”

unêsco. Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural e Plano de Ação. Disponível em: https://oeds.link/XYbD6Z. Acesso em: 30 maio 2022.

O compromisso de educar os jovens para a tolerância e o respeito à diversidade já estava previsto no Plano Nacional de Educação, em suas concepções e princípios da Educação Básica, e foi consubstanciado pela Bê êne cê cê (que abordaremos adiante) por meio das Competências gerais da Educação Básica. Trata-se de um dos mais importantes compromissos assumidos pelo Brasil perante os órgãos internacionais de defesa dos direitos humanos e no combate a toda fórma de discriminação.

O professor desempenha um papel central na consolidação desse compromisso, uma vez que a sociabilidade do indivíduo, em seus primeiros anos de formação, se desenvolve no espaço escolar. É na escola que a criança encontra, pela primeira vez, um ambiente marcado pela diversidade e tem de conviver e interagir diariamente e por várias horas com pessoas de fóra do círculo familiar, o que pode favorecer a eclosão de episódios de discordância, tensão e conflito. Crianças e jovens buscarão, no ambiente escolar, criar laços de identidade com seus pares e integrar-se socialmente por meio de gostos, valores, comportamentos etcétera Cabe ao professor assegurar que a sala de aula se imponha como um ambiente de escuta, onde a diversidade e as diferenças sejam acolhidas com respeito. A criação de um ambiente de acolhimento é fundamental para criar um vínculo de confiança entre o educador e seus alunos, e um espaço onde esses últimos possam se sentir protegidos para tratar das questões que os afligem e inquietam.

Situações de conflito, inevitáveis quando o contraditório emerge, se bem administradas, não são danosas; pelo contrário, são a oportunidade de educar os jovens para a convivência ética e democrática e promover a cultura de paz. Para isso, o professor precisa estar atento a toda manifestação de discriminação em sala de aula (étnico-racial, religiosa, de gênero, idade etcétera) e preparado para, lançando mão do conhecimento e da informação, desconstruir as bases sobre as quais as atitudes discriminatórias se sustentam e promover o entendimento e o diálogo entre os alunos.

Embora todos os professores, de todos os componentes curriculares, devam colaborar para a construção de um ambiente saudável de trocas e debate de ideias, o professor de história ocupa um lugar privilegiado para desempenhar esse papel porque os objetos de aprendizagem e as habilidades com os quais trabalha favorecem a reflexão sobre a diversidade, a compreensão das diferenças e a discussão sobre conceitos como os de democracia e autocracia, tolerância e intolerância, opressão e resistência, entre outros. Muitas vezes, é ao se reconhecer em situações experimentadas por outras pessoas em outros tempos e refletir sobre elas, buscando traçar analogias com o presente, que o jovem consegue olhar para si mesmo e avaliar as próprias ações. Por essa razão é tão importante, no estudo da história, ultrapassar a história factual e o estudo dos grandes modelos explicativos para dar atenção também a temas como o cotidiano, a infância e as sensibilidades.

A formação de cidadãos equilibrados e tolerantes, que busquem soluções pacíficas, por meio do diálogo, para os conflitos cotidianos e não disseminem discursos de ódio, depende de uma educação inclusiva, e o professor de história tem instrumentos para promovê-la.

5. A história na sala de aula

Para alcançar os objetivos do ensino de história, o professor em sala de aula precisa articular uma série de elementos e, fundamentalmente, conduzir um processo de ensino-aprendizagem significativo.

O ensino de história e a produção acadêmica

O conhecimento histórico e o rigor conceitual são indispensáveis para o ensino de história. Mas o professor não deve incorrer no erro de confundir a docência com a produção acadêmica. As aulas não podem ser uma simplificação de textos produzidos por especialistas, e tampouco os alunos devem ser considerados historiadores-aprendizes. O esforço para adaptar teses complexas ao nível de compreensão de adolescentes que ainda não dominam nem a linguagem nem o aparato conceitual e metodológico da academia pode conduzir a esquematismos e lugares-comuns que, quase sempre, se desdobram em simplificações e reducionismos indesejáveis.

O professor também deve ter o cuidado de não confundir a análise histórica com a repetição de modelos explicativos invariáveis, que criem nos alunos a impressão de que todos os acontecimentos históricos cumprem um mesmo “roteiro” e conduzem sempre aos mesmos resultados, levando-os a deduzir que a história está sempre se repetindo. Trabalhar a historicidade de cada momento, considerando suas especificidades, é fundamental para que os alunos percebam as transformações históricas como resultado da combinação de numerosos e contraditórios elementos característicos de cada época.

Nesse sentido, é importante se pautar por objetivos pedagógicos bem definidos, levando em conta que os alunos precisam não só compreender como se dá a construção do conhecimento histórico − a fim de que entendam que esse campo do conhecimento é dinâmico, está sujeito a mudanças e admite diferentes perspectivas de análise − como também perceber que a própria produção historiográfica está inserida na história e as questões propostas pelos historiadores de cada época se relacionam aos problemas e inquietações de seu tempo.

Do mesmo modo, é necessário questionar afirmações do senso comum, como a de que “estudamos o passado para compreender o presente”. Não se pode negar que a realidade que experimentamos é resultado de decisões tomadas por aqueles que nos precederam e pela combinação singular de um conjunto de fatores, mas deve-se evitar a ideia de que o passado comanda o presente, como se não pudéssemos fazer escolhas e redefinir o rumo que damos às nossas vidas. Assim, se o estudo do passado nos permite avaliar as possibilidades com as quais nossos antepassados contaram, bem como as escolhas que fizeram, nem por isso ele nos constrange a aceitar nosso presente como destino. Pelo contrário, o estudo do passado deve descortinar as diversas faces do presente e nos ensinar a olhar para todas as direções possíveis. Como diz jeãn chenô,

“se o passado conta, é pelo que significa para nós. reticências Ele nos ajuda a compreender melhor a sociedade na qual vivemos hoje, saber o que defender e preservar, saber também o que mudar e destruir.”

chenô jeãn. Devemos fazer tabula rasa do passado? São Paulo: Ática, 1995. página 24.

Também é importante ter em mente que a história se desenvolve como trama e não como uma sucessão de relações de causa e efeito, e que o historiador é incapaz de dar conta de todos os elementos que se articulam nessa trama, seja pela extrema complexidade dela, seja por causa das limitações e parcialidade das fontes. Decorre daí que nosso conhecimento sobre o passado é sempre incompleto e fragmentário. Além disso, os fatores que se combinaram no passado, bem como a maneira como essa combinação se deu, foram únicos e singulares. Isso significa que por mais semelhanças que possamos identificar entre nosso tempo presente e outros momentos históricos, os contextos não serão nunca idênticos e, portanto, os problemas e as soluções que afligiram nossos antepassados não se confundem com os que temos diante de nós.

Por conseguinte, não nos debruçamos sobre o passado para buscar nele respostas para o presente. Elas não estão lá. O que buscamos nele são parâmetros para nossas decisões e escolhas; são conhecimentos e reflexões que sirvam como pêso e medida para os posicionamentos que tomamos; são elementos que nos permitam relativizar as paixões, as certezas, os preconceitos aos quais nos apegamos, às vezes sem o saber, de maneira que nos tornemos mais tolerantes, compreensivos e transigentes em relação àqueles que são, de alguma maneira, diferentes de nós e, afinal, capazes de agir com mais justiça e parcimônia.

Habilidades e competências

A Base Nacional Comum Curricular foi elaborada como um instrumento para que a educação brasileira possa atingir seu objetivo de promover uma formação humana integral e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. O ensino de história desempenha um papel importante na consecução dessa meta.

Contudo, é preciso perguntar a que ensino de história nos referimos. A transmissão mecânica e automática de conteúdos informativos baseada apenas em uma tradição escolar não garante a formação integral de sujeitos éticos, críticos, tolerantes, criativos e participativos. Apenas um conhecimento histórico conectado com as questões do presente, derivado de um processo de reflexão e baseado na investigação e na experiência dialógica tem esse poder. Para garantir isso, a Bê êne cê cê definiu, de maneira clara e objetiva, competências e habilidades a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Básico. Por habilidade se entende a capacidade de compreender, interpretar e/ou agir em relação a determinada situação, ou seja, as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares. Já competência, conforme a definição da Bê êne cê cê, é:

reticências a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 8.

Habilidades e competências são, portanto, aquisições, consequência de aprendizado. Por isso, a intervenção pedagógica é essencial. Durante as aulas, o professor precisa estar atento tanto ao que o aluno aprende quanto ao que ele faz com aquilo que aprende, ou seja, à capacidade de ele transferir o aprendizado para a compreensão de novas situações ou para a resolução de novos problemas.

Nesse contexto, o conteúdo informativo deixa de ser o foco do ensino e passa a estar a serviço de um exercício cognitivo, de uma experiência de entendimento da realidade. O que importa é entender o significado dos fatos históricos, abstrair conceitos a partir deles, compreender suas conexões com o presente e saber onde e como aplicar os novos conhecimentos.

A Bê êne cê cê estabeleceu as Competências gerais a serem desenvolvidas pelos alunos no decorrer da Educação Básica, as Competências específicas de cada área do conhecimento e seus respectivos componentes curriculares e as habilidades para cada ano do Ensino Fundamental.

Mas, antes de tratar da Bê êne cê cê, precisamos apontar características gerais do processo de aprendizagem dos alunos nos anos finais do Ensino Fundamental, as quais devem ser consideradas pelo professor.

Os alunos no centro do processo de ensino-aprendizagem

As ideias de que os alunos devem ocupar posição central no processo de ensino-aprendizagem e de que a escola desempenha um papel importante na formação dos cidadãos e na construção da democracia não são inéditas. Elas já eram defendidas no comêço do século passado por educadores filiados à chamada Escola Nova, que questionavam o formato das escolas tradicionais e seus métodos de ensino. Todavia, estudos na área da teoria da aprendizagem e, mais recentemente, da neurociência, contribuíram para um melhor entendimento de como se dá a aprendizagem e reforçaram a defesa de uma educação centrada nos alunos.

Uma das teorias mais importantes para explicar o processo de ensino-aprendizagem foi desenvolvida na década de 1960 pelo psicólogo da educação Dêivid Paul Aussubel. Segundo esse autor, todo conhecimento novo, para ser incorporado à estrutura cognitiva do aprendiz, precisa ser significativo. Como explicam Marco Antonio Moreira e Bernardo bufváits, Auzúbel define essa aprendizagem como

“um processo através do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Ou seja, esse processo envolve a interação da nova informação com uma estrutura de conhecimento específica, a qual Auzúbel define como conceitos subsunçores”.

MOREIRA, Marco Antonio; bufváits, Bernardo. Mapas conceituais: instrumentos didáticos, de avaliação e de análise de currículo. São Paulo: Editora Moraes, 1987. página 17.

A imagem que Auzúbel projeta é a de uma teia, cuja trama se torna mais firme e resistente à medida que mais fios se somam e entrelaçam. Para ele, informações novas que não encontrem nessa teia lugar onde possam se amarrar, tendem a não ser consistentes nem permanentes, logo se desprendendo – daí alunos que demonstraram bom rendimento em uma prova tradicional não serem capazes, pouco tempo depois, de se lembrar dos conteúdos avaliados. Quando, por outro lado, as novas informações ligam-se a conhecimentos prévios, integram-se à rede de conhecimentos do sujeito, que se alarga e se torna mais complexa. Caso o aprendiz não tenha conhecimentos prévios que funcionem como subsunçores, o educador deve lançar mão do que Auzúbel chama de organizadores prévios – isto é, elementos familiares ao aprendiz ou derivados da sua experiência – que possam funcionar como pontes cognitivas, ligando os novos conhecimentos a outros, mesmo que mais distantes e com laços mais frágeis em um primeiro momento.

Considerando as demandas escolares, os conteúdos a serem explorados e os objetivos de aprendizagem que fazem parte do currículo de uma escola, como a teoria da aprendizagem significativa pode auxiliar na formação de alunos críticos, participativos e atuantes? E qual é, de fato, o verdadeiro significado quanto ao protagonismo, indicando que os alunos devem ocupar posição central no processo de ensino-aprendizagem?

Para uma melhor compreensão desses processos, é necessário entender o sentido de protagonismo, o destaque que a escola dá para as culturas juvenis e qual o papel do professor que, reconhecendo tudo isso, faz uso de metodologias e estratégias específicas que visam tornar o aluno mais participativo e atuante naquilo que for possível.

Culturas juvenis

O termo culturas juvenis se refere a diferentes maneiras como os adolescentes conduzem suas vidas e pode estar relacionado a interesses, estilos, comportamentos, música, crenças, vocabulário, roupas, esportes e características dos encontros e festas dos quais participam. O reconhecimento desta ideia nos faz refletir que, quase à parte das regras de conduta da sociedade, existe uma subcultura com normas, costumes, comportamentos e valores, diferentes do que talvez seja esperado por grande parte da sociedade.

Considerar as culturas juvenis como parte da formação do adolescente implica trazer para a sala de aula a legitimidade dessa realidade, integrando-a, quando possível, aos objetivos de aprendizagem e aos conteúdos trabalhados, possibilitando o exercício da reflexão com atividades que extrapolam o espaço da sala de aula. Isso acontece, por exemplo, quando tomamos como base a prática do skate para refletir sobre o uso de fontes históricas e o trabalho do historiador.

A análise de problemas reais e a busca de soluções, considerando o conhecimento teórico aprendido, pode ser o caminho não apenas para compreender a realidade, como também para interagir e tentar buscar soluções para as demandas da vida em uma sociedade global.

O que é ser protagonista

Desde a implementação da Bê êne cê cê, o termo protagonismo vem sendo bastante discutido, destacando-se nas Competências gerais e específicas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Esse termo, muito utilizado no contexto da dramaturgia, nos remete ao personagem principal, que se sobressai durante toda a narrativa. O mesmo ocorre em outros contextos, como nos esportes, onde o protagonista é quem joga melhor e se destaca.

No contexto escolar, no entanto, não devemos compreender o jovem como aquele que se destaca ou que vai liderar tudo o que ocorre na escola. A instituição e os professores são os responsáveis pelo currículo e pelo encaminhamento das programações destinadas a cada faixa etária. A concepção de protagonismo nos remete ao contexto da aprendizagem, destacando que a realidade vivenciada pelo jovem deve estar inserida nas programações didáticas, de modo que ele possa comprometer-se, refletir e atuar na sociedade em que vive, além de responsabilizar-se por seu processo de aprendizagem, incluindo os processos avaliativos.

Nessa concepção, o jovem deixa de ser apenas ouvinte ou receptor de informações e o professor passa a atuar como mediador da aprendizagem, uma vez que considera a vivência e a realidade do jovem para planejar e provocar a reflexão acerca de realidades e conflitos atuais e a tomada de decisão com relação aos caminhos que serão percorridos.

Tornando-se responsável e apropriando-se dos processos de aprendizagem, o educando tem a oportunidade de exercer a capacidade de fazer suas próprias escolhas, de resolver problemas, de adaptar-se a diferentes cenários, de trabalhar em grupo, de pensar criticamente, de comunicar e expressar-se, de confiar em seu potencial e de tornar-se proativo mediante situações das quais faz parte, demonstrando iniciativa, criticidade e responsabilidade.

Fotografia. Meninos e meninas em pé, um ao lado do outro, em ambiente escolar. Alguns seguram folhas de papel. À direita, uma menina segura um microfone em uma das mãos e uma folha de papel na outra.
Alunos da Escola Estadual Quilombola Professora Tereza Conceição de Arruda apresentam-se em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Quilombo Mata Cavalo, Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso. Foto de 2020. O comprometimento com a realização de atividades individuais e coletivas é uma fórma de exercício do protagonismo.

Metodologias ativas

Um recurso importante no processo de ensino-aprendizagem é o uso de metodologias ativas, que favorecem o estabelecimento de conexões cognitivas e emocionais para que a aprendizagem seja significativa. Como defende José Moran,

“a aprendizagem mais profunda requer espaços de prática frequentes (aprender fazendo) e de ambientes ricos em oportunidades. Por isso, é importante o estímulo multissensorial e a valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes para ‘ancorar’ os novos conhecimentos. reticências A aprendizagem ativa aumenta a nossa flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas, operações mentais ou objetivos e de adaptar-nos a situações inesperadas, superando modelos mentais rígidos e automatismos pouco eficientes.”

Baciqui, Lilian; MORAN, José (organizador). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. página 3.

Nas metodologias ativas, o professor é deslocado do lugar de detentor do conhecimento para o de mediador, sendo responsável por planejar e organizar as atividades que os alunos desempenharão para construir o conhecimento, apropriar-se dele e mobilizá-lo.

Entre as metodologias ativas sugeridas na coleção, há propostas de escrita criativa, de debates, de pesquisa, de entrevistas, de construção de relatórios, de criação de blog, entre outras, cuja concretização exigirá que os alunos mobilizem informações históricas e as articulem com autonomia. Há também indicações de situações-problema para as quais os alunos deverão buscar solução por meio de investigação ou do inter-relacionamento de informações e conceitos de diferentes componentes curriculares. Além disso, podem-se utilizar estratégias como a sala de aula invertida, delegando aos alunos tarefas individuais para serem realizadas antes da aula, reservando o tempo na escola para atividades coletivas como debates e pesquisas em grupo.

Ao preparar-se previamente para as aulas, os alunos desenvolvem habilidades como a autonomia, a capacidade da resolução de problemas, o senso crítico, a organização e a gestão do tempo. A aula, por sua vez, passa a ser um debate de dúvidas em que o professor atua na mediação da construção do conhecimento, podendo discutir a aplicabilidade dos conceitos em situações reais e práticas.

Argumentação

O reconhecimento dos alunos como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem demanda que sejam incentivados ao exercício do pensamento e ao enfrentamento de situações em que precisem mobilizar seus conhecimentos.

Para desenvolver a argumentação, os alunos devem ser orientados a selecionar informações coerentes com o ponto de vista que pretendem defender e concatená-las de maneira lógica, objetiva e clara, construindo um raciocínio convincente. Além disso, é importante que sejam incentivados a realizar uma escuta ativa, a fim de compreender o pensamento de seu interlocutor e a linha de raciocínio seguido.

Essas são habilidades a serem desenvolvidas ao longo dos anos. Assim, em diversos momentos da coleção, os alunos são convidados a mobilizar seus conhecimentos na construção de argumentos e a sustentar seus pontos de vista.

Nesses momentos, sempre que possível, é recomendável incentivar que as práticas de argumentação, orais ou escritas, sejam fundamentadas no conhecimento científico. No caso da aprendizagem em história, convém ter em mente que o acesso a acervos digitalizados aumenta o subsídio para a construção de argumentos fundamentados, como exposto no item “A história e fontes digitais” deste manual.

Investigação científica

A investigação científica favorece a ativação de diversas habilidades cognitivas, na medida em que o aluno deve, movido por uma situação desafiadora – a situação-problema –, propor uma hipótese e encontrar, selecionar e sistematizar dados e informações que subsidiem a resposta buscada. No ensino de história, as situações-problema podem servir para aproximar passado e presente e colaborar para o desenvolvimento do pensamento histórico. Por exemplo, ao apresentar aos alunos uma situação de violência no campo e pedir que busquem soluções para pacificar e democratizar as relações nessas áreas, eles terão de pesquisar a formação da estruturação fundiária nacional, o perfil da sociedade agrária brasileira, as relações entre colonizador e populações originárias, entre outros aspectos, para entender a origem e a natureza da violência no campo, com o objetivo de propor uma solução. Deve-se lembrar que, nos anos finais do Ensino Fundamental, os estudantes ainda estão em fase de desenvolvimento de autonomia e por essa razão as pesquisas devem ser orientadas e guiadas por uma relação de perguntas, a fim de que eles não se percam e fujam do foco ou se limitem a imprimir páginas aleatórias de sites da internet.

No conjunto dos quatro volumes desta coleção, os alunos terão contato com noções introdutórias de práticas de pesquisa como revisão bibliográfica, análise documental, construção e uso de questionários, estudo de recepção, entrevista, análise de mídias sociais e observação, tomada de nota e construção de relatório. Trata-se de um trabalho preparatório para que essas práticas sejam retomadas e aprofundadas na etapa do Ensino Médio.

Leitura inferencial

A leitura inferencial pressupõe a percepção das sutilezas dos textos e o entendimento daquilo que está em suas entrelinhas, o que está sugerido e até o que foi omitido. No início dos anos finais do Ensino Fundamental, muitos estudantes ainda apresentam dificuldade para realizá-la. Assim, é importante que o professor trabalhe a leitura de textos e imagens tanto no nível da compreensão quanto no da interpretação, buscando criar, sempre que possível, situações de aprendizagem em que alunos com mais dificuldade trabalhem na companhia de colegas com nível de leitura mais amadurecido. Os alunos do 8º e 9º ano podem ser expostos com mais frequência a textos e imagens cuja interpretação exija que ativem conhecimentos já aprendidos. Por exemplo, ao estudar o Iluminismo, o professor pode selecionar dois artigos atuais com temática econômica ou política, um de inspiração liberal e outro não, e solicitar aos alunos que indiquem o texto cujas ideias se identificam com o liberalismo.

Partindo da ideia de que o pensamento inferencial é reconhecido como um processo de percepção e elaboração da informação que leva à produção de uma série de conclusões que não estão explícitas no texto lido, o professor pode fazer uso de estratégias que, gradativamente (e de maneira contínua) estimulem o desenvolvimento dessa habilidade.

Durante a leitura, prepare perguntas que exijam que os alunos tirem suas próprias conclusões (uma vez que a resposta não estará explícita) e peça para explicarem o porquê de tal conclusão (ou com base em quais fatos eles podem sustentar sua explicação). Nesse momento, é importante estar atento aos alunos com mais dificuldade em realizar inferências e, se necessário, formular novas perguntas para estimular que estabeleçam relações entre o texto e seus conhecimentos.

A inferência se sustenta na elaboração de teorias e hipóteses acerca da leitura, comparando-a a vivências e conhecimentos que os alunos já têm. Por isso, oportunidades em que eles tenham que explicitar seus pensamentos também são de fundamental importância.

Pensamento computacional

O termo pensamento computacional está associado à linguagem de programação, cuja aplicação na educação é vista por parte dos educadores como capaz de favorecer uma aprendizagem significativa e eficiente. Ele se estabeleceu na década de 1980, mas se popularizou apenas em 2006, quando passou a ser empregado como referência a uma maneira específica como os cientistas da computação pensam o mundo. Em 2016, com base nas proposições anteriores, bárbara cúrshãn definiu o pensamento computacional como

“uma distinta capacidade criativa, crítica e estratégica humana de saber utilizar os fundamentos da computação, nas mais diversas áreas do conhecimento, com a finalidade de identificar e resolver problemas, de maneira individual ou colaborativa, através de passos claros, de tal fórma que uma pessoa ou uma máquina possam executá-los eficazmente.”

Bréquiman cristian palman. Desenvolvimento do pensamento computacional através de atividades desplugadas na Educação Básica. 2017. Tese (Doutorado em Informática na Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. página 29.

Apesar de sua associação evidente com o universo das tecnologias digitais, o pensamento computacional não está limitado a ele, podendo ser entendido também como o conjunto de processos cognitivos envolvidos na formulação e na resolução

de problemas. As habilidades operatórias ativadas pelo pensamento computacional são várias: identificar, analisar, decompor, verificar padrões, generalizar, entre outras. Em linhas gerais, elas podem ser organizadas em quatro etapas fundamentais:

  • Decomposição: na primeira etapa, deve-se identificar um problema complexo e decompô-lo em problemas menores.
  • Reconhecimento de padrão: procede-se, então, à análise de cada problema menor e à sua comparação com outros problemas similares para os quais já há solução.
  • Abstração: atenta-se apenas para os aspectos mais importantes de cada problema, ignorando-se os detalhes irrelevantes.
  • Algoritmos: com base nos passos anteriores, pode-se criar regras ou passos para orientar a solução de problemas similares.

Nessa coleção, algumas dessas habilidades operatórias ativadas pelo pensamento computacional são empregadas, por exemplo, em atividades de sistematização e análise de dados, como aquelas que envolvem pesquisas quantitativas e a necessidade de obter dados estatísticos; em propostas de comparação entre determinados elementos de diferentes civilizações; na resolução de situações-problema, entre outras oportunidades.

Estudo de campo e visitas guiadas

O estudo de campo e a realização de visitas guiadas são atividades importantes para estimular a curiosidade dos alunos e trabalhar procedimentos de investigação e sistematização de dados. Todavia, seu bom aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem depende da maneira como são realizados, pois também nessas situações o aluno deve ocupar posição de centralidade. É fundamental que essas atividades sejam precedidas por uma preparação, na qual os estudantes pesquisem ou recebam informações básicas sobre o lugar para onde vão, o que encontrarão, qual será o objetivo da atividade etcétera Eles também devem ser orientados sobre as informações ou dados que devem coletar e o modo como fazer isso (anotações, registros fotográficos, ficha etcétera). Além disso, é importante que os dados coletados sejam analisados pelos alunos, a fim de chegarem a uma conclusão.

Diferentes perfis de estudante e projeto de vida

A valorização do protagonismo do estudante com o uso de estratégias que o colocam no centro do processo de ensino-aprendizagem não retira do professor a necessidade de estar atento às particularidades dos alunos. Pelo contrário, a posição de mediador requer mais atenção do professor em um contexto de postura ativa dos alunos na execução de algumas atividades.

Desse modo, o desenvolvimento de competências relacionadas a autonomia de pensamento, capacidade de produzir análises críticas e criativas, empatia, cooperação, argumentação, entre outros, deve considerar os diferentes perfis dos estudantes.

Nesse sentido, é preciso estar alerta ao fato de que cada aluno tem experiências específicas fóra da escola (familiares e comunitárias) e que, no ambiente escolar, expressa de maneira única suas visões de mundo enquanto influencia e é influenciado pelos colegas. É tarefa do professor observar com sensibilidade os comportamentos individuais e em grupo para identificar potencialidades e fragilidades, de modo a promover a integração de todos num ambiente de cooperação em que os alunos mais aptos em determinada tarefa possam contribuir para o desenvolvimento dos demais, sobretudo no trabalho com turmas numerosas, por exemplo, com mais de 40 pessoas.

Para garantir a criação desse ambiente, cabe ao professor, ainda, cuidar para que não haja qualquer tipo de constrangimento, seja de natureza socioeconômica ou relativa a atitudes e valores, desestimulando quaisquer sinais de desrespeito à individualidade dos estudantes. Espera-se, dessa maneira, contribuir para a consolidação da escola como espaço de cidadania participativa.

reticências Atenta a culturas distintas, não uniformes nem contínuas dos estudantes dessa etapa, é necessário que a escola dialogue com a diversidade de formação e vivências para enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos educativos. A compreensão dos estudantes como sujeitos com histórias e saberes construídos nas interações com outras pessoas, tanto do entorno social mais próximo quanto do universo da cultura midiática e digital, fortalece o potencial da escola como espaço formador e orientador para a cidadania consciente, crítica e participativa.

Nessa direção, no Ensino Fundamental – Anos Finais, a escola pode contribuir para o delineamento do projeto de vida dos estudantes, ao estabelecer uma articulação não somente com os anseios desses jovens em relação ao seu futuro, como também com a continuidade dos estudos no Ensino Médio. Esse processo de reflexão sobre o que cada jovem quer ser no futuro, e de planejamento de ações para construir esse futuro, pode representar mais uma possibilidade de desenvolvimento pessoal e social.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 61-62.

Nesta coleção, diversos recursos articulados com as culturas juvenis propiciam ao aluno refletir sobre as questões sociais de sua época, podendo orientá-lo em suas escolhas pessoais e em seu projeto de vida, na medida em que permitem aproximá-lo da ideia sobre quem ele quer ser no futuro.

Exemplos desses recursos são as diversas atividades que apresentam tirinhas (linguagem dos quadrinhos), charges, memes ou exploram a linguagem das redes sociais; e também as que solicitam aos alunos a criação de materiais desses tipos, incluindo versão de música, com base nos referenciais culturais deles. A coleção também apresenta diversas imagens, como os grafites e reproduções de cenas de filmes e animações, e sugestões de filmes, livros e jogos que fazem parte das culturas juvenis, propiciando possibilidades de conexão entre a aplicação dos conhecimentos concernentes ao componente curricular história e os anseios dos estudantes.

Ensinar história

Ensinar história é trabalhar pela compreensão dos processos que se desenvolveram no decorrer do tempo para dar fórma à realidade vivida no presente, auxiliando os alunos a perceberem as conexões que conferem sentido a diferentes aspectos da realidade. É também contribuir para que identifiquem seu lugar e papel no mundo, e assumam seu protagonismo, tomando decisões com autonomia. Nesse processo, é importante que os jovens se apropriem de uma fórma específica de conhecimento, que depende, principalmente, da capacidade de estabelecer relações temporais. Essa apropriação somente ocorre se exercitarem o pensamento, pondo em prática determinados procedimentos que, aos poucos, constroem sua formação histórica.

A compreensão dos processos históricos depende, entre outras coisas, da consciência de que o passado pode ser interpretado de diferentes maneiras e de que o conhecimento histórico é dinâmico. Em outras palavras, o estudante precisa entender que o conhecimento histórico se transforma à medida que surgem novas evidências e os historiadores percorrem caminhos de interpretação antes ignorados ou insuficientemente explorados. Como nos lembra chênô,

reticências os fatos históricos são cognoscíveis cientificamente, mas essa exigência deve levar em conta seus caracteres específicos. Por um lado, os fatos históricos são contraditórios como o próprio decorrer da história; eles são percebidos diferentemente (porque diferentemente ocultados) segundo o tempo, o lugar, a classe, a ideologia. Por outro lado, escapam à experimentação direta por sua natureza passada; são suscetíveis apenas de aproximações progressivas, sempre mais próximas do real, nunca acabadas nem completas.”

chenô jeãn. Devemos fazer tábula rasa do passado? São Paulo: Ática, 1995. página 67.

Para que os alunos compreendam o caráter dinâmico e plural do conhecimento histórico, é importante que sejam frequentemente apresentados a diferentes interpretações de um mesmo acontecimento, bem como a estudos que abordam aspectos distintos de uma mesma realidade. Assim, desenvolverão a habilidade de ponderar e avaliar com autonomia interpretações históricas fóra do ambiente escolar.

Da mesma fórma, é importante que, no decorrer de sua formação, os alunos entendam que as fontes históricas não são um espelho da realidade de seu tempo, e sim uma representação dela, e sua compreensão e sua análise também passam por interpretações, o que põe em xeque a crença na objetividade absoluta do conhecimento histórico. Além disso, o ensino de história deve proporcionar aos alunos a percepção de que a história combina diferentes temporalidades e de que as transformações, por exemplo, na vida política podem não ser acompanhadas de mudanças nas estruturas econômicas ou na fórma de pensar. Por fim, para que vejam a si mesmos como sujeitos da história, é necessário conhecer, além de figuras consagradas na memória coletiva, personagens comuns, com os quais possam estabelecer uma identificação.

O ensino de história da África, da cultura afro-brasileira e das populações indígenas

O ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena em todo o currículo escolar da Educação Básica tornou-se obrigatório desde a implementação das Leis número .10639, de 2003, e número .11645, de 2008. Apesar de reconhecer a relevância dessas leis e considerar que a temática contribui para combater o racismo, o preconceito, a discriminação e os estereótipos, favorecendo a construção de uma sociedade pautada no respeito à diversidade e à pluralidade, incorporá-la aos currículos tem sido um desafio constante para toda a comunidade escolar.

Segundo o relatório Educação: um tesouro a descobrir, publicado pela Unesco, o conhecimento escolar deve ser pautado em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Nesse sentido, é importante que, durante as aulas, os alunos sejam incentivados a:

  • “aprender a conhecer” conceitos relacionados à história da África, à história e cultura afro-brasileira e das populações indígenas que tenham interferido na formação das sociedades e culturas em que vivemos atualmente;
  • “aprender a fazer”, colocando em prática os conhecimentos adquiridos sobre a história da África, a história e cultura afro-brasileira e das populações indígenas, utilizando-os como subsídios para analisar, por si mesmos, os acontecimentos históricos relacionados à nossa sociedade e às populações minoritárias;
  • “aprender a viver juntos” ou a “conviver”, percebendo que as diferenças devem ser respeitadas e valorizadas;
  • “aprender a ser”, compreendendo que todos têm o direito de expressar suas crenças, seus modos de vida e suas culturas, sem sofrer qualquer tipo de distinção ou segregação.

Se estivermos atentos a esses pontos, poderemos contribuir com uma prática de ensino da história que favoreça a reflexão, o debate, a criticidade e que prepare os jovens para valorizar a diversidade e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Tempo, memória e fontes

O tempo é a categoria estruturante da história, seja como área de pesquisa, seja como componente curricular. Estamos nos referindo ao tempo histórico, um tempo de mudanças, de permanências, de ocorrências simultâneas, formado pelo desenvolvimento das sociedades humanas ao longo do tempo cronológico.

A compreensão do tempo histórico é uma construção abstrata e complexa, que se fórma em grande parte no decorrer da vida escolar, da infância até a juventude. Trata-se de um conceito fundamental para o conhecimento histórico, em virtude das ideias de ruptura e continuidade entre o passado e o presente (e dos distintos ritmos de mudança entre acontecimentos simultâneos). Para a apreensão do conceito, é necessário um longo aprendizado, porque há camadas e dimensões temporais que ora se superpõem, ora se distanciam. Em um primeiro momento, os alunos deverão situar sua vida pessoal em um contexto social para, só depois, expandir a consciência para outros tempos e espaços. Nessa experiência, os alunos vivem a passagem do tempo-calendário para o tempo histórico e social, trajetória realizada, em grande parte, nas aulas de história.

Além do entendimento do tempo histórico, outra categoria importante no ensino de história é a memória. Como tratamos anteriormente, os estudos que têm a memória como objeto procuram identificar a construção coletiva de memórias e os usos políticos do passado pelo presente.

Discutir a construção da memória é fundamental para a reflexão sobre o ensino de história, principalmente quando são abordadas questões contemporâneas ou festejos de datas cívicas, ocasiões em que, muitas vezes, se recorre à história para elaborar projetos ou promover atividades que possam contribuir para cristalizar ideias e afirmar uma memória coletiva sem posicionamento crítico.

“O pêso do dever de memória pode eliminar a necessária reflexão acerca do que se ensina, ou seja, ‘os conteúdos’. Quantas vezes o que parece importante per se impede de avaliar a pertinência do tema e o recurso didático, ou seja, a resposta à pergunta sobre a utilidade do tema em curso? Os ‘valores’ que se procuram transmitir (e, nesse sentido, o ensino das ciências sociais foi um veículo habitual para eles) o são em função de determinados processos que são históricos e requerem um contexto para sua compreensão reticências.”

LORENZ, Federico Guilhermo. O passado recente na Argentina: as difíceis relações entre transmissão, educação e memória. In: CARRETERO, Mario et al. (organizador). Ensino da história e memória coletiva. Porto Alegre: artimédi, 2007. página 240.

Em razão disso, o professor, ao definir a abordagem de cada tema, deve proporcionar possibilidades variadas de análise, mostrando aos alunos como o mesmo acontecimento pode ser visto de diversos ângulos e, de cada ângulo, adquirir diferentes valores, recebendo mais ou menos atenção. A execução de Tiradentes, por exemplo, pode ser supervalorizada em uma época e ser quase banida em outra, dependendo das condições históricas presentes no momento em que o tema é tratado. As lutas operárias e as revoluções do século vinte foram muito valorizadas pela historiografia das décadas de 1970 e 1980, quando a Guerra Fria despertava paixões revolucionárias. No entanto, a partir do final do século vinte, com o fim da Guerra Fria, temas ligados à cultura e ao cotidiano ganharam destaque como objeto de estudo, o que reduziu as pesquisas sobre os movimentos políticos e sociais.

O trabalho com fontes históricas

Uma das tarefas que mais exigem a atenção do professor de história é o trabalho com fontes. É muito tentador utilizá-las apenas como elemento de ilustração das explicações dadas em sala de aula, especialmente quando se trata de fontes imagéticas. Contudo, ao fazer isso, o professor perde a oportunidade de trabalhar com os alunos a construção do saber histórico, fundamental para o desenvolvimento do olhar analítico.

Hoje não se admite que uma fonte seja tratada como portadora fiel de uma verdade histórica. Na análise de uma fonte deve estar presente a preocupação com as condições de sua produção.

O historiador Eduardo França Paiva destaca a importância de nos perguntarmos quais são as lacunas, os vazios e os silêncios que permeiam a construção de um material que servirá como fonte histórica e como essa fonte foi apropriada ao longo do tempo, de acôrdo com o contexto em que seus usuários a observaram. Ele enfatiza:

“Ora, sem aplicar esses procedimentos às fontes e, evidentemente, às fontes iconográficas, os historiadores e os professores de história transformam-nas em reles figurinhas e ilustrações de fim de texto e, pior, emprestam-lhes um estatuto equivocado e prejudicial ao conhecimento histórico. Refiro-me ao estatuto da prova e de verdades irrefutáveis, tudo apresentado a partir de uma falsa autoridade tomada a uma história que assim o permitisse. Mas a armadilha iconográfica parece ser mais sedutora que as armadilhas de outras fontes. Talvez seja a própria beleza da imagem reticências. A imagem, bela, simulacro da realidade, não é a realidade histórica em si, mas traz porções dela, traços, aspectos, símbolos, representações, dimensões ocultas, perspectivas, induções, códigos, cores e fórmas nela cultivadas. Cabe a nós decodificar os ícones, torná-los inteligíveis o mais que pudermos identificar seus filtros e, enfim, tomá-los como testemunhos que subsidiam a nossa versão do passado e do presente, ela também, plena de filtros contemporâneos, de vazios e de intencionalidades.”

PAIVA, Eduardo França. História e imagens. segunda edição Belo Horizonte: Autêntica, 2006. volume 1, página 18-19. (Coleção História e Reflexões).

Em sala de aula, o professor não pode perder de vista que toda fonte primária tem de ser interrogada com base nas condições de sua produção. Assim, deve estimular os alunos a questionar o material sob análise com perguntas com nível adequado de complexidade. Alguns exemplos de questionamentos relevantes são:

  • Quem produziu a fonte? Que lugar essa pessoa ocupava na sociedade?
  • Trata-se de um documento oficial, ou seja, emitido por meio de alguma instituição governamental do período?
  • Em que contexto a fonte foi produzida?
  • Qual seria a intenção da pessoa responsável pela produção da fonte?
  • A quem a fonte se destinava?
  • Que valores ou princípios fundamentam sua produção?

Os alunos, sobretudo no 6º e no 7º ano, precisam do auxílio do professor na articulação das várias respostas que obtiverem interrogando as fontes, para que, ao interpretá-las, desenvolvam a capacidade de perceber inclusive o que não está explícito no material analisado.

No processo de aprendizagem também necessitam ser constantemente lembrados de que a fonte é um recorte, um ponto de vista, um aspecto da realidade, e não seu espelho − é a representação da realidade experimentada pelo autor, em um contexto histórico específico.

Ensino de história e interdisciplinaridade

Muito se tem falado sobre interdisciplinaridade na educação, principalmente após a publicação do relatório produzido para a Unesco pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século vinte e um, em 1998, chamado Educação: um tesouro a descobrir. No Brasil, a publicação do relatório influenciou a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (enêm) e a adoção da matriz de competências e habilidades, por áreas do conhecimento, estabelecida como referência para o exame.

O tema tem sido discutido já há algum tempo. Existe a preocupação de diminuir tanto a compartimentação do conhecimento quanto a crescente especialização, processo que teve início nos séculos dezoito e dezenove com o surgimento da grande indústria e da produção em massa.

Na área de história, como vimos, os trabalhos de pesquisa vêm sendo produzidos com o aporte de várias áreas diferentes desde a primeira metade do século vinte, o que demonstra os limites da perspectiva disciplinar da ciência e do ensino formal.

No Brasil, discute-se a interdisciplinaridade desde a década de 1970. São referências os trabalhos de rilton japiassú, que trata de questões teóricas sobre o assunto, e de Ivani Fazenda, que aborda o tema em seu aspecto pedagógico. Segundo Japiassu,

reticências a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa.”

japiassú rilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. página 74.

A interdisciplinaridade é motivo de polêmica e objeto de críticas, tanto por quem vê nela o caminho para desvencilhar a ciência dos impasses do mundo globalizado quanto por quem aponta seus limites, sua falta de definição e suas contradições. Atualmente, reconhece-se que o conceito é polissêmico e a aplicação dele depende das possibilidades de manter um olhar que se aproxime de um objeto de pesquisa por diferentes perspectivas e com concepções teóricas apropriadas.

Em consequência, é mais acertado pensar em atitude interdisciplinar. Isso não significa eliminar os componentes curriculares, mas fazer com que dialoguem, partindo do pressuposto de que são concebidos como processos históricos e culturais de constituição do conhecimento e de negociação de significados. É possível respeitar os limites teóricos e metodológicos de cada componente curricular e, ao mesmo tempo, construir pontes entre eles, estabelecendo relações de complementaridade, de convergência e de interconexão.

Podemos, assim, falar em momentos de interdisciplinaridade, estabelecidos após definição de objetivos, planejamento de etapas, tarefas e cronogramas pelos professores dos diversos componentes curriculares envolvidos, em consonância com a prática em sala de aula, a partir da qual se estabelecem as necessidades de cada momento. A realização de experiências interdisciplinares, por meio de projetos compartilhados, de trabalhos investigativos, da reflexão permanente, deve ser balizada pelos professores, de modo que contribua para que os alunos se capacitem para a vida em sociedade e construam uma visão ampla do mundo em que vivem.

Trabalhando nesse sentido, em todos os capítulos desta coleção são apresentadas questões que podem ser desenvolvidas com professores de outros componentes curriculares. Essas questões são acompanhadas de comentários que identificam as habilidades contempladas do componente curricular indicado. Essa indicação pode servir de subsídio para a construção de aulas em conjunto com professores de outros componentes curriculares e áreas do conhecimento. Para facilitar o diálogo com o professor de outro componente, sugere-se a construção de um quadro para direcionar a ação pedagógica conjunta.

PLANEJAMENTO DE AULAS EM CONJUNTO

História

Outro componente

Habilidade

Reprodução do código e do texto da habilidade de história a ser trabalhada

Reprodução do código e do texto da habilidade do outro componente a ser trabalhada

Conteúdo

Descrição sucinta do conteúdo relacionado

Descrição sucinta do conteúdo relacionado

Material didático

Localização do conteúdo no livro ou em outros recursos (númeração de página, endereço de site, minutagem de vídeo etc.)

Localização do conteúdo no livro ou em outros recursos (númeração de página, endereço de site, minutagem de vídeo etc.)

Ação conjunta

Descrição da atividade envolvendo os dois professores, com os procedimentos a serem realizados, a duração, os objetivos a serem alcançados e a definição da estratégia de avaliação dos resultados

O quadro é apenas uma sugestão, podendo ser adaptado de acôrdo com os objetivos e as prioridades adotadas pela escola e pelos professores em seus respectivos cursos.

Temas contemporâneos transversais

Outra maneira de desenvolver a abordagem interdisciplinar é a partir de temas transversais, cuja abrangência – seja em escala local, regional ou global – possibilita um trabalho integrador com diferentes componentes curriculares e áreas do conhecimento.

Com base em alguns pareceres, resoluções e leis federais, a Bê êne cê cê elencou temas contemporâneos a serem incorporados nos currículos e nas propostas pedagógicas. Posteriormente, em 2019, o Ministério da Educação publicou Temas contemporâneos transversais: contexto histórico e pressupostos pedagógicos, organizando os temas em seis macroáreas temáticas.

Esquema. No centro, um boxe na cor azul escura com o texto escrito em branco: Temas contemporâneos transversais na Base Nacional Comum Curricular. Ao redor, setas na cor azul clara ligando o boxe central a boxes laterais em amarelo com texto em preto descrevendo os títulos e seus respectivos subtemas. Da parte superior no centro em direção à direita, entram os seguintes boxes: Título: MEIO AMBIENTE; subtemas: Educação ambiental; Educação para o consumo. Título: ECONOMIA; subtemas: Trabalho; Educação financeira; Educação fiscal. Título: SAÚDE; subtemas: Saúde; Educação alimentar e nutricional. Título: CIDADANIA E CIVISMO; subtemas: Vida familiar e social; Educação para o trânsito; Educação em direitos humanos; Direitos da criança e do adolescente; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso. Título: MULTICULTURALISMO; subtemas: Diversidade cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras. Título: CIÊNCIA E TECNOLOGIA; subtema: Ciência e tecnologia.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na Bê êne cê cê. Contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília: Méqui, 2019. página 12.

Além de corroborar a ideia de que o espaço escolar deve ser um espaço cidadão, o documento preconiza que os temas contemporâneos transversais, trabalhados de fórma integrada, possam instrumentalizar os estudantes para o entendimento da sociedade em que vivem.

Nos quatro volumes desta coleção, no manual do professor, destacam-se oportunidades em que as temáticas desenvolvidas no contexto do componente curricular história ensejam o trabalho com os temas contemporâneos transversais, explicitando a articulação entre eles.

O ensino de história e as novas tecnologias

A sociedade atual é a da informação, na qual circulam rapidamente quantidades enormes de conteúdo, que se combinam e se reconfiguram em um fluxo dinâmico. Também é a da cultura digital: dos celulares, tablets e da web. A tecnologia atualmente sustenta redes horizontais de poder e conhecimento, estimulando a colaboração para a construção de saberes, ferramentas e técnicas.

É nesse contexto social que a escola está inserida, que alunos e professores estudam e trabalham, estabelecem relações, se divertem e realizam seus planos. No entanto, pela própria velocidade das mudanças, algumas pessoas das gerações mais velhas se sentem inseguras diante das inovações tecnológicas, ao passo que os indivíduos das gerações mais novas vivem na expectativa de alcançar benefícios com o uso das tecnologias digitais, sejam eles sociais, informacionais ou educativos.

Refletindo sobre as mudanças e incertezas dos dias atuais, muitos estudiosos da educação perguntam se é possível afirmar que o uso das novas tecnologias da informação na escola tem contribuído para desenvolver o espírito crítico e investigativo e ampliar a produção de conhecimento e qual será o papel do professor nessa nova conformação.

O historiador Rogê Chartiê, reconhecido por seus estudos sobre a história do livro e da leitura, tem se debruçado sobre a emergência de questões ligadas à tecnologia, como a produção e o armazenamento de conhecimento, os suportes de leitura e as modificações que eles trazem. Ele chama a atenção para a recepção quase simultânea que um texto pode ter na internet. Não há mais necessidade de fazê-lo passar pelas etapas de edição, impressão, divulgação e venda do material impresso. A facilidade de publicar textos na internet permite que o próprio leitor se transforme em escritor e divulgue seus textos instantaneamente, sem intermediários, fenômeno bastante presente nos blogs, por exemplo.

Outra mudança que chartiê destaca é a

reticências possibilidade da biblioteca universal, entendendo por isso que, se cada um dos textos escritos ou impressos do patrimônio textual é transformado em um texto eletrônico, não há razão para que não se possa propor uma universal disponibilidade do patrimônio textual por meio da transmissão eletrônica.”

chartiê, rogê. Cultura escrita, literatura e história: conversas de Rogê Chartiê com Carlos aguírre anaia, jesús anaya rosíque, Daniel Goldin e Antonio saborit. Porto Alegre: artimédi, 2001. página 146.

Esses pontos nos levam a pensar em questões como autoria/autoridade vérçus horizontalidade do conhecimento. Hoje em dia, qualquer pessoa pode se tornar autor, e a palavra escrita pode ser questionada quase imediatamente. As mudanças também afetam o papel do professor em sala de aula e a sua credibilidade, pois ele já não é aquela autoridade que domina uma bibliografia de difícil acesso e tem a missão de revelar seu conteúdo aos alunos. Informações e conhecimentos estão disponíveis para todos ao toque de uma tecla. E aos montes. Na internet proliferam textos. É para isso que, falando sobre a biblioteca universal eletrônica, chartiê adverte:

“Há muitos riscos. Por exemplo, o de dar uma dimensão inédita, original, nova, ao tema que identificamos na discussão em tôrno do temor do excesso textual: um mundo textual que não possa ser manejado, que esmague o leitor mais do que o ajude, um mundo proliferante e incontrolável. Aqui, os bancos de dados e os terminais desta biblioteca universal, ao menos virtual, seriam uma figura particularmente extrema deste excesso de textos.”

chartiê, rogê. Cultura escrita, literatura e história: conversas de Rogê Chartiê com Carlos aguírre anaia, jesús anaya rosíque, Daniel Goldin e Antonio saborit. Porto Alegre: artimédi, 2001. página 147.

A advertência feita por chartiê nos remete a um dos papéis centrais do professor na atualidade: mediar a excessiva oferta de informações existente e, ao mesmo tempo, qualificá-la, propondo trajetórias de leitura e maneiras de analisar o material disponível, de acôrdo com uma proposta de trabalho que seja clara nos fundamentos, na metodologia e nos objetivos.

Perdida a autoridade vertical, o professor pode compartilhar seu conhecimento com os alunos, estabelecendo uma troca estimulante – até porque os alunos também terão um papel mais ativo na busca por informações. A nova relação, porém, não dispensa o conhecimento do componente curricular e o uso de estratégias adequadas para trabalhar com um grupo específico de alunos. Sem isso, não há aparato tecnológico que viabilize o aprendizado na Educação Básica.

Garantidas certas condições, a tecnologia digital pode ser utilizada de maneira muito criativa, possibilitando, por exemplo, experiências que muitos alunos talvez não pudessem vivenciar de outra fórma − como visitas virtuais a museus e a sítios arqueológicos, consulta a arquivos, entre outras. São muitas as propostas possíveis para os alunos: criação de um blog para discutir temas ou compartilhar resultados de pesquisa, elaboração de aulas on-line pelos grupos ou a comunicação on-line com alunos de outras escolas, formando redes de pesquisa, por exemplo. O professor, por sua vez, pode trabalhar em conjunto com um profissional da área de tecnologia na escola, quando houver, para desenvolver projetos nessa área.

Só não podemos cair na falácia de acreditar que a tecnologia, por si só, revolucionará a educação e dispensará os recursos humanos. Até porque não é apenas conteúdo o que se ensina e se aprende na escola. Conforme adverte Otacíllio Ribeiro:

“A máquina precisa do pensamento humano para se tornar uma ferramenta auxiliar no processo de aprendizado. É necessário integrá-la às mais diferentes atividades, pois ela pode ser entendida enquanto instrumento de expansão do pensamento. Que sirva para envolver os estudantes em projetos práticos, desafiadores e que estimulam o raciocínio humano. Hoje, o papel da escola é ensinar a pensar, preparando o aluno para lidar com situações novas, problematizando, discutindo e tomando decisões. Sobretudo, cabe à educação resgatar o homem de sua pequenez, ampliando horizontes, buscando outras opções, tornando as pessoas mais sensíveis e comunicativas.

Ao pensar o processo pedagógico mediado pela tecnologia, não se pode esquecer que a centralidade da ação deve estar nos sujeitos, e não nas técnicas.”

RIBEIRO, Otacíllio J. Educação e novas tecnologias: um olhar para além da técnica. In: COSCARELLI, Carla; RIBEIRO, Ana Elisa (organizador). Letramento digital: aspectos e possibilidades pedagógicas. terceira edição Belo Horizonte: Autêntica/ceále, 2011. página 94. (Coleção Linguagem e Educação).

Assim, viver na sociedade do conhecimento e da cultura digital abre possibilidades que não dispensam a escola e menos ainda o professor, mas exigem deles uma readequação. Quanto antes enfrentarmos esses desafios, mais rápido os alunos se sentirão integrados ao mundo no qual nasceram, seja porque a tecnologia já faz parte da sua vida fóra da escola, seja porque, muitas vezes, eles não teriam acesso a ela sem a escola.

Dinamismo e flexibilidade nas aulas

Existe ainda resistência de parte de alguns professores em abandonar o modêlo tradicional da aula expositiva por acreditar que, sem sua explanação, os alunos não entenderão os conteúdos que devem aprender. Contudo, ainda que a aula expositiva seja eficiente em determinadas situações – por exemplo, quando for necessário sistematizar um conjunto de informações acessadas pelos alunos por meio de atividades de uma sequência didática –, seu emprego como único (ou quase único) método didático tende a ser pouco eficiente para promover a aprendizagem. Além de monótona e pouco estimulante, a repetição de aulas expositivas não permite que sejam criadas situações novas e desafiadoras que atendam às necessidades de grupos heterogêneos de estudantes, cuja aprendizagem ocorre por diferentes meios. Segundo Julia Andrade e Juliana Sartori, se o professor enfatiza exclusivamente atividades nas quais o aluno permanece passivo, no papel de mero receptáculo do conhecimento transmitido, ele

“tende a não formar memórias de longa duração, não se vincula emocionalmente ao trabalho escolar e não tem condições de construir ativamente seu próprio conhecimento e conectá-lo com sua vida. Sua tendência é criar memórias operatórias de curto e médio prazo reproduzindo mecanicamente informações para atender a uma demanda externa a ele e, após testes e avaliações, esquece tudo o que estudou.”

Baciqui, Lilian; MORAN, José (organizador). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. página 180.

Por outro lado, a oferta de aulas dinâmicas e variadas, mas sem estarem articuladas para atingir um objetivo pedagógico claro, tende a produzir um efeito caótico, favorecendo a dispersão e dificultando a concatenação dos conteúdos estudados para que estejam a serviço do desenvolvimento de habilidades e da construção de competências.

Desse modo, para conseguir um resultado favorável, o professor precisa planejar minuciosamente o percurso que pretende fazer com seus alunos. Nesse planejamento, deve-se observar uma relação de itens:

  • Qual é o objetivo das aulas?
  • Que objetos do conhecimento é preciso mobilizar para atingir esse objetivo?
  • Quais são os conceitos históricos estruturantes desses objetos?
  • Que atividades posso propor para conduzir o aluno até meu objetivo e em que sequência elas serão propostas?
  • Que materiais usarei para essas atividades?
  • Em que espaço as atividades serão trabalhadas?
  • De quantas aulas precisarei?
  • Como os alunos serão organizados para a realização das atividades?
  • Como avaliarei os resultados das atividades?
  • O que é possível fazer caso algum aluno não atinja o objetivo esperado?

Ao responder a cada uma dessas questões, o professor não deve se prender à sequência de capítulos nem de atividades do livro didático, mas reorganizá-los de acôrdo com seu objetivo. Assim, suponhamos que o objetivo seja trabalhar a habilidade ê éfe zero seis agá ih zero sete da Bê êne cê cê (Identificar aspectos e fórmas de registro das sociedades antigas na África, no Oriente Médio e nas Américas, distinguindo alguns significados presentes na cultura material e na tradição oral dessas sociedades) com os alunos do 6º ano. Para isso, o professor não precisará trabalhar individualmente os capítulos do livro didático, nem seguir a sequência exata em que estão apresentados. É possível, por exemplo, selecionar o texto “Tradição oral e patrimônio imaterial” (capítulo 2), sobre as sociedades ágrafas e o papel dos griôs, para uma aula dialógica com a turma; depois propor a leitura individual do texto didático “Saberes incas” (capítulo 5), sobre o quipo, para fazer uma comparação entre as duas fórmas de transmissão de conhecimento; a seguir, pode-se sugerir a análise em grupo da charge “A evolução da escrita”, de Luiz Fernando Cazo (capítulo 4); por fim, com a participação dos alunos, pode-se elaborar uma tabela na lousa sobre as várias fórmas de registro.

O professor, portanto, tem autonomia para realizar recortes e recombinar os materiais disponibilizados pelo livro didático, podendo também associá-los a outros materiais e desenvolver atividades complementares. Essa flexibilidade na utilização do material didático e na preparação das aulas permite dar dinamismo às aulas, planejá-las em função dos conhecimentos prévios e dos interesses dos alunos e orientar melhor o trabalho em função dos objetivos selecionados.

Avaliação: processos e concepções

A avaliação, com seus problemas, dificuldades e métodos, é um tema complexo e que suscita várias abordagens e proposições. O que avaliar, de que maneira e que resultado esperar são questões há muito tempo debatidas e que devem permanecer na pauta dos debates na área da educação, porque a avaliação faz parte do processo de ensino-aprendizagem e acompanha toda e qualquer mudança nos critérios que norteiam a prática pedagógica.

Atualmente, enfatiza-se que a avaliação não pode ser tratada somente como uma medida quantitativa de quais conteúdos o aluno aprendeu, mas sim como um instrumento pedagógico que também incorpore aspectos qualitativos, sendo diagnóstica e processual, para que o professor tenha noção do percurso percorrido pelo aluno na aprendizagem e também da eficiência da metodologia que está utilizando. Assim, em vez de instrumento de classificação quantitativa da aprendizagem, a avaliação defendida atualmente possui uma característica híbrida, ou seja, combina aferição quantitativa com percepção qualitativa, colocando o foco mais no processo do que no resultado final. Trata-se de uma via de mão dupla, pela qual professores e alunos têm a oportunidade de revisar o trabalho e, se necessário, corrigir a trajetória durante o percurso.

Por isso, avaliações não devem ser realizadas somente em momentos estabelecidos no calendário escolar, e sim em diversas ocasiões, com os mais variados recursos, práticas e estratégias, desde os mais subjetivos, como a observação do cotidiano do aluno e da sua capacidade para resolver problemas, até os mais objetivos, como provas “oficiais”, seminários e relatórios de pesquisa. O importante é oferecer aos alunos diferentes possibilidades de manifestar suas habilidades, respeitando as diferenças de ritmos e características cognitivas de cada um. Há alunos que preferem se expressar oralmente, outros preferem escrever, outros ainda se sentem mais confortáveis realizando atividades de pesquisa ou análise de textos. Enfim, a melhor fórma de avaliação é aquela que permite aproveitar as habilidades dos alunos de diferentes perfis e lhes serve de incentivo para investir no processo de aprendizagem, e não aquela que os desqualifica.

Entre as orientações apresentadas pelos manuais do professor desta coleção, que subsidiam propostas de avaliação, estão as abordagens concebidas para trabalho com aberturas de unidade e capítulo. No início de cada unidade, ao redor da reprodução das páginas do livro do estudante, os textos apresentam as temáticas que serão desenvolvidas e a justificativa de pertinência dos objetivos dos capítulos que a compõem. Estas informações, associadas à exploração das imagens pelos alunos, podem ser usadas para diagnosticar os conhecimentos deles que poderão ser mobilizados para dar início ao trabalho da unidade. De modo semelhante, as aberturas de capítulo contam com exploração de texto e imagem e com questões que podem ser aproveitadas para avaliar os conhecimentos dos alunos, possibilitando um planejamento mais assertivo das aulas seguintes, com base em eventuais fragilidades individuais ou coletivas.

Um dos principais objetivos do ensino de história é levar os alunos a compreender o método de pesquisa dessa ciência, recuperando o fazer historiográfico. Segundo as professoras Maria Auxiliadora ximít e Tânia Braga Garcia,

reticências o ensino de história requer introduzir o aluno no método histórico, cujos elementos principais que deverão estar presentes em todo o processo didático são: aprender a formular hipóteses; aprender a classificar e analisar as fontes; aprender a analisar a credibilidade das fontes históricas; aprender relações de causalidade e a concluir a explicação histórica.”

ximít, Maria Auxiliadora; GARCIA, Tânia Braga. O trabalho histórico em sala de aula. História e Ensino. Revista do Laboratório de Ensino de História/cê éle cê agá/uél, Londrina, volume 9, página 229.

Considerando esses objetivos, nesta coleção, o professor conta com várias atividades de apropriação do conhecimento histórico, entre elas pesquisa com fontes, análise crítica de textos e imagens, seminários e elaboração de esquemas explicativos. Essas atividades estão distribuídas no decorrer dos capítulos, nos boxes Explore, e também na seção Atividades, ao final de cada capítulo.

Quando uma atividade ou um conjunto de atividades é selecionado pelo professor para avaliar um conhecimento ou habilidade específica, recomenda-se realizar a seguinte sequência de ações com os alunos, quando possível. O processo de avaliação começa com a explicitação do objetivo para que os alunos compreendam o que se espera deles; em seguida, passa-se pela etapa de acompanhamento, na qual são observados pelo professor, que conversa com eles para conhecer suas dificuldades e os resultados que estão obtendo; e termina com uma autoavaliação, em que podem dizer o que aprenderam, que postura tiveram, se acreditam que atingiram o objetivo e o que podem melhorar. Esse tipo de avaliação, processual e compartilhada, tende a comprometer os alunos com o que foi proposto e confiar-lhes um papel ativo e de responsabilidade com a própria aquisição do conhecimento.

Ao longo de todo o processo avaliativo, os alunos que mostrarem algum tipo de dificuldade devem receber atenção diferenciada. Alguns exemplos de estratégias que podem ser empregadas são a realização de atividades complementares; a atenção personalizada do professor durante a realização de atividades individuais ou em grupo; e o apôio de alunos-tutores, designados pelo professor para acompanhar os colegas com alguma dificuldade.

Vale mencionar, ainda, que a seleção de conteúdos e de atividades desta coleção contribui para que os alunos se preparem para a realização de exames de larga escala. Esse tipo de avaliação permite construir um retrato da aprendizagem, fornecendo dados que auxiliam e orientam a promoção de políticas educacionais, em âmbito regional ou nacional.

Nos anos finais do Ensino Fundamental, o principal exame de larga escala é o Sistema de Avaliação da Educação Básica (saébi), que visa construir um diagnóstico da Educação Básica em nosso país e identificar fatores que possam interferir no desempenho dos discentes. Embora tenha sido criado na década de 1990, o saébi passou a avaliar a área de Ciências Humanas apenas em 2019, por meio de testes aplicados aos alunos do 9º ano. Em consonância com a Bê êne cê cê, a Matriz de Referência de Ciências Humanas – anos finais – do saébi foi dividida em seis eixos do conhecimento, conforme o quadro a seguir.

EIXOS DO CONHECIMENTO

1. Tempo e espaço: fontes e formas de representação

2. Natureza e questões socioambientais

3. Culturas, identidades e diversidades

4. Poder, Estado e instituições

5. Cidadania, direitos humanos e movimentos sociais

6. Relações de trabalho, produção e circulação

Além dos eixos do conhecimento, o saébi apresenta três eixos cognitivos: reconhecimento e recuperação; compreensão e análise; e avaliação e proposição.

Os conteúdos apresentados ao longo dos quatro volumes desta coleção contribuem para o desenvolvimento dos eixos do conhecimento do saébi em diversos momentos do texto didático, dos boxes, das seções e das atividades. Os eixos cognitivos, por sua vez, também são contemplados respeitando a faixa etária dos alunos e a progressão do nível de dificuldades.

Em relação às atividades, vale ressaltar que, em vários capítulos, orientamos os alunos a identificar alternativas corretas ou incorretas, a fim de familiarizá-los com o formato de testes utilizados nos exames de larga escala. Considerando os anos finais do Ensino Fundamental como uma etapa preparatória para o Ensino Médio, também apresentamos aos alunos de 8º e 9º ano questões do enêm e de vestibulares, de modo a habituá-los, paulatinamente, a esses exames.

Formas de abordagem da coleção

Apresentaremos adiante a estrutura da coleção, especificando a função de cada elemento. Antes, porém, adiantaremos aqui algumas de suas características com o intuito de exemplificar de que fórma sua abordagem facilita a consecução dos objetivos traçados.

A coleção parte do pressuposto de que os alunos necessitam desenvolver uma consciência histórica para que possam se afastar do senso comum e agir com autonomia e consciência. Tendo isso em vista, cria condições (por meio do texto-base, das seções, dos boxes e das atividades) para que compreendam a história como ciência em construção, propiciando a gradual aquisição de habilidades como comparar, contextualizar, interpretar, analisar, inferir e argumentar, essenciais ao exercício do pensamento crítico e à formação de cidadãos éticos, que respeitem e valorizem a diversidade, ajam de fórma sustentável e promovam a cultura de paz.

Sempre que possível, a obra apresenta diferentes interpretações sobre os assuntos estudados, bem como aspectos distintos do mesmo contexto. As seções e propostas de atividade trazem, de maneira progressiva, situações que possibilitem o exercício da comparação, da contextualização, da análise, do levantamento de hipóteses, da leitura inferencial, da argumentação e do pensamento computacional.

Em relação à gradação de dificuldade, a coleção respeita as diferenças das etapas de desenvolvimento dos alunos nos anos finais do Ensino Fundamental, o que se reflete tanto na abordagem do conteúdo e nas propostas de atividade quanto no formato visual do material: nos dois primeiros volumes, o tamanho das fontes e o espaçamento utilizado são maiores em comparação com os dos demais volumes, para que, principalmente, a passagem do 5º para o 6º ano seja tranquila para os alunos.

A seleção de conteúdos contempla a relação entre as diferentes dimensões da história (política, econômica, social e cultural), explorando temas que favoreçam a aproximação com questões contemporâneas e a reflexão crítica dos alunos sobre eles mesmos e a própria realidade.

Vejamos um exemplo de cada volume: no 6º ano, abordando a importância e a valorização dos mais velhos nas sociedades ágrafas, levamos os alunos a refletir sobre a condição dos idosos em sua comunidade; no 7º ano, tratamos sobre a importância da invenção da prensa de tipos móveis na difusão de ideias e de estudos, e incentivamos os alunos a pensar sobre o papel da imprensa na atualidade e sobre sua postura individual em relação aos conteúdos veiculados pela mídia; no 8º ano, podemos citar a reflexão sobre a relação humana com o meio ambiente na atualidade a partir do contexto da Revolução Industrial; no 9º ano, propomos uma análise crítica sobre a questão da compra de votos, uma prática da Primeira República que, por meio de diferentes recursos, infelizmente contamina a estrutura política atual, afrontando os princípios democráticos.

A obra exige dos alunos, além da conexão temporal, o estabelecimento de nexo entre conteúdos e conceitos já estudados e aqueles que entram em pauta, propiciando o desenvolvimento da capacidade de transferência do aprendizado para a compreensão de novas situações. Orientações e sugestões para o professor efetuar a retomada de conhecimentos estão disponíveis junto à reprodução das respectivas páginas na parte específica deste suplemento.

Quanto à leitura de fontes e à interdisciplinaridade, em todos os capítulos há propostas de análise de fontes e atividades que dialogam com outros componentes curriculares. Essas atividades são acompanhadas das indicações das habilidades do componente a ser trabalhado em conjunto com história e de comentários para o professor.

Por fim, existem várias propostas para a utilização das tecnologias digitais, e, ao mesmo tempo, para a reflexão sobre os usos dessas tecnologias. Os objetivos e métodos definirão a qualidade do resultado do uso da tecnologia, que, por si só, não é boa nem ruim.

6. A sala de aula para além da história

A construção do papel das crianças e dos adolescentes como estudantes ocorre ao longo do Ensino Fundamental. É nessa etapa que os alunos adquirem o repertório conceitual básico dos diferentes componentes curriculares e que as relações de troca intelectual com os colegas e professores intensificam-se e se tornam mais frequentes, promovendo o desenvolvimento de sua capacidade de negociação, cooperação e diálogo.

Justamente pela natureza formativa do Ensino Fundamental, o papel do professor como mediador do processo de aprendizagem é muito relevante. É o educador quem facilita para os estudantes o acesso à informação e o desenvolvimento de habilidades e competências, e da capacidade de organização para o estudo, além de coordenar os trabalhos realizados em sala de aula e intermediar conflitos.

Por essas razões, a organização e a gestão das aulas precisam ser bem administradas para que o tempo seja aproveitado ao máximo e os objetivos do processo de ensino e aprendizagem sejam atingidos. Levando esses aspectos em consideração, sugerimos algumas fórmas de gestão de aula com o objetivo de contribuir para tornar a prática docente mais assertiva.

Gestão do tempo de aula

A passagem do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental é uma fase delicada da vida escolar, pois coincide com o momento em que os pré-adolescentes passam por um conjunto de mudanças hormonais, físicas, psicológicas e cognitivas, o que colabora para que experimentem um estado de inquietação e dispersão maior que em anos anteriores. Além disso, marca a adaptação a uma nova dinâmica escolar, com mais professores, componentes curriculares e tarefas.

Em virtude de tantas mudanças, o papel de “organizador” dos professores tende a ser mais relevante e determinante para o sucesso escolar dos alunos. Assim, ao longo dos 6º e 7º anos, é necessário ao professor manter rigoroso contrôle sobre o tempo da aula para evitar que ele se esvaia e as atividades planejadas acabem sendo seguidamente adiadas, prejudicando o cumprimento do currículo.

Uma prática que favorece a dinâmica da aula, reduzindo o tempo despendido na organização inicial da turma, é a adoção de uma rotina. Principalmente na abertura da aula, o professor deve repetir sempre uma sequência de ações que permita que os estudantes se organizem mais rápido e sejam capazes de se preparar para as tarefas seguintes. Assim, fazer todos os dias a chamada, escrever na lousa a data e o título da aula e listar no quadro o que está previsto para acontecer naquele dia, por exemplo, são práticas que proporcionam aos alunos serenidade e segurança antes do início dos trabalhos propriamente ditos. A adoção de uma rotina pode contribuir para que os alunos desenvolvam autonomia por meio da apropriação da organização de seu tempo, o que lhes garante bases mínimas para pensar além das tarefas mecânicas.

A boa gestão do tempo depende também da diversificação das tarefas a serem realizadas na aula, principalmente ao longo do 6º ano e no início do 7º, pois o nível de concentração dos mais jovens ainda é baixo. Nesse caso, é contraproducente uma aula expositiva de 45 a 50 minutos, pois a tendência é os alunos se cansarem após 15 ou 20 minutos, tornando-se dispersivos e agitados. É, portanto, mais adequado planejar a aula para que haja pequenas interrupções, chamando a turma à participação sob sua mediação.

Outro recurso que favorece o uso racional do tempo é evitar propor trabalhos para serem feitos em sala de aula com prazos estendidos de entrega. Os alunos mais jovens dimensionam mal o tempo de que precisam para realizar as atividades e, por isso, organizam-se melhor ao realizar tarefas curtas, para serem entregues ao final da aula. Assim, parcelar os trabalhos em etapas ajuda a controlar a cadência das aulas e o desenvolvimento de trabalhos dentro dos prazos.

O período entre o 8º e o 9º anos coincide com a entrada plena dos estudantes na adolescência. Nessa fase, os questionamentos em relação às determinações dos professores tendem a crescer, pois os alunos anseiam por maior autonomia e desejam participar das decisões que os afetam. Por essa razão, aconselha-se manter uma rotina em sala, mas abreviada: após fazer a chamada e registrar na lousa o tema da aula, o professor pode dedicar algum tempo às negociações de cronograma, tarefas e prazos com os alunos, tomando o cuidado de ser objetivo e não permitir que elas se estendam para além de alguns minutos. Uma sugestão para melhor organizar o tempo de aula dos alunos mais velhos é elaborar planos de trabalho para períodos de 15 dias, como no exemplo a seguir:

PLANO DE TRABALHO (MARÇO)

DATA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

ATIVIDADE

LOCAL

ATENÇÃO

11/3

Revolução Industrial

Análise de imagens: o sistema doméstico e o sistema fabril.

Sala de aula.

Para a próxima aula, ler as páginas 19 a 22 do livro didático.

14/3

Revolução Industrial

Aula: A Revolução Industrial.

Sala de aula.

Fazer as atividades 2, 4 e 5 das páginas 33 e 34 do livro didático.

18/3

Revolução Industrial

• Correção das atividades.
• Análise de trecho do romance
Oliver Twist.

Sala de informática.

Atividade em duplas.

21/3

Revolução Industrial

Discussão sobre o trecho lido de Oliver Twist.

Sala de aula.

Atividade de debate.

O plano de trabalho é uma estratégia eficiente para ensinar os adolescentes a planejarem seus estudos em prazos mais longos, e para registrar suas responsabilidades pedagógicas a fim de que não as negligenciem.

Para as atividades realizadas em sala, sugere-se estender um pouco o tempo de finalização dos trabalhos – por exemplo, para duas aulas, mas deve-se ter em mente que adolescentes facilmente se dispersam em conversas paralelas ao longo do tempo de execução de tarefas, o que faz com que o tempo efetivo de produção seja encurtado. Por essa razão, os trabalhos em sala devem ser continuamente monitorados e o tempo disponível até o término da aula alertado pelo professor.

A boa administração do tempo de aula garante ao professor condições para ter o contrôle sobre seu planejamento e desenvolver sequências didáticas sem precisar interrompê-las antes de atingir seu objetivo ou prolongá-las além do necessário.

Gestão do espaço físico

Nos anos finais do Ensino Fundamental, com distintos professores e vários componentes curriculares, a sala de aula passa a ser partilhada por muitas pessoas. É necessário, por consequência, que se construa esse espaço de maneira coletiva, a fim de atender às necessidades de todos.

Durante as aulas, pode-se dispor de diferentes organizações do espaço, a depender da proposta de trabalho que se pretende realizar. A tradicional disposição das carteiras, enfileiradas e com os alunos sentados olhando para a frente, é apenas uma das maneiras possíveis de utilizar o espaço.

Um debate ou uma aula expositiva dialogada pode ser feita com outra organização do espaço. A disposição das cadeiras em círculo ou em u funciona muito bem para esse tipo de proposta: possibilita ao professor que se coloque junto dos alunos, em uma mesma condição, tornando o ambiente mais democrático.

Além disso, permite que todos se vejam enquanto estão falando ou ouvindo. Com isso, a interação se torna mais intensa, e, naturalmente, o processo de aprendizagem pode ser mais significativo nessas circunstâncias.

Fotografia. Meninos e meninas sentados em carteiras escolares dispostas em semicírculo. Alguns estão com a mão levantada. Ao centro há uma mulher em pé.
Aula com carteiras organizadas em formato de u, na Escola Estadual Francisco Minhône, no município de São Paulo, São Paulo. Foto de 2019.

Em outras circunstâncias, como quando os alunos executam tarefas em grupo, por exemplo, pode-se organizar a classe em blocos, juntando as carteiras e formando os grupos (claramente identificados), para facilitar o trabalho dos alunos e o acompanhamento pelo professor.

No momento de uma atividade individual, quando manter o foco é importante e a dispersão em diálogos paralelos com outros colegas pode atrapalhar o cumprimento da tarefa, a disposição em fileiras pode ser utilizada de fórma a ampliar a possibilidade de concentração.

Não se deve esquecer, também, de que a sala de aula é um espaço onde a produção dos alunos deve fazer parte do ambiente. Esse elemento faz com que sintam que o espaço lhes pertence e é construído a partir das suas necessidades e interesses. Por isso, a sala de aula deve ser um lugar em que alunos e professores partilhem saberes, se envolvam em tarefas instigantes e mantenham um relacionamento saudável e de confiança. A dimensão socioemocional, nesse caso, não pode ser ignorada. A sala de aula precisa ser acolhedora e inclusiva, representar um espaço onde os diferentes sujeitos se sintam acolhidos para poder participar de fórma significativa das atividades, expressando seus aprendizados e suas dificuldades livremente.

Principalmente no 9º ano, é interessante, caso as regras da escola permitam, delegar tarefas aos grupos de alunos para serem realizadas em espaços diversos da escola. Desse modo, é possível atribuir a um grupo uma tarefa para ser feita na biblioteca enquanto outro grupo se dirige à sala de informática. A prática de permitir que alunos trabalhem por conta própria, sem a presença contínua do professor ao seu lado, favorece o ganho de autonomia e o desenvolvimento de responsabilidade.

Antes de fazer uma proposta de trabalho que dê liberdade para os alunos se moverem sozinhos pelos espaços escolares, é preciso avaliar a maturidade do conjunto dos alunos, preparar propostas claras, objetivas e que possam ser realizadas pelos estudantes. Além disso, recomenda-se propor atividades que possam ser finalizadas e entregues ao professor ao final da aula e que funcionários da escola sejam previamente avisados sobre o trânsito incomum dos estudantes pelos corredores e espaços escolares.

Gestão do espaço para a aplicação de testes e provas

Um dos momentos mais tensos da relação dos alunos com a aprendizagem é o da avaliação por meio de testes ou provas. Sabemos que avaliar o aprendizado é um processo constante e contínuo, mas isso se faz, em geral, sem o conhecimento direto dos alunos. Entretanto, a consciência de que estão sendo avaliados provoca tensão, já que muitas vezes a insegurança e o receio do processo são mais difíceis de ser absorvidos por eles que o conhecimento em si. Por isso, é fundamental que o professor conduza esse momento de fórma a torná-lo o mais tranquilo possível, sem abrir mão do rigor necessário

do processo avaliativo. Isso porque eles enfrentarão, na vida acadêmica e profissional, outros momentos de avaliação, em provas escritas, apresentações orais, trabalhos em grupo etcétera Assim sendo, é importante que sejam preparados para tais situações vivenciando-as na escola, conforme suas possibilidades e de acôrdo com a faixa etária.

Sugerimos, então, que sejam utilizadas estratégias que envolvam os alunos na avaliação, mas sem transformá-la em algo que os iniba. Deve-se criar condições para que demonstrem as suas potencialidades. No caso da avaliação escrita individual, é importante que o docente oriente os alunos sobre a estrutura da avaliação e, anteriormente, dê-lhes, nas aulas e em tarefas de casa, atividades similares àquelas que serão exigidas na prova ou no teste. Na realidade, provas e testes devem ser constituídos com base nas atividades realizadas ao longo do período em avaliação, e não o contrário.

Caso a avaliação tenha questões discursivas e objetivas, é importante que ambos os tipos tenham sido apresentados aos alunos ao longo das aulas, de modo que tenham compreendido a dinâmica e a fórma de resolução desses tipos de questão. Se tudo isso for feito, no momento da avaliação os alunos se sentirão confiantes e preparados, pois não estarão diante de nenhuma novidade, e sim realizando uma tarefa para a qual vinham sendo preparados durante as aulas.

Por fim, o professor deve ajudá-los a se concentrar na própria avaliação. Para tanto, se possível, o docente deve solicitar aos alunos que todo o material seja guardado nas mochilas, exceto o necessário para realizar a prova. Além disso, deve organizar o espaço da sala de aula dispondo as carteiras de modo que facilite a atenção na tarefa. Essas medidas contribuem bastante para o sucesso dos alunos, já que a concentração e o foco são necessários para alcançar os objetivos da avaliação.

Caso em algum momento o professor realize uma avaliação em dupla, é importante que as duplas sejam dispostas na sala de aula com a mesma preocupação, isto é, a garantia do foco e da organização. Pode-se colocar os alunos lado a lado, ou de frente um para o outro, dependendo do espaço disponível e da tarefa a ser executada. Se a tarefa for escrita, é melhor a primeira opção, já que ambos os alunos podem interferir no texto de maneira mais sistemática. Também é importante orientá-los quanto à comunicação, que deve ser mantida estritamente com o colega de dupla.

Para avaliação em grupo, uma sugestão é organizar os alunos em círculos ou retângulos, com os membros de cada grupo voltados para o espaço interno formado pelo círculo ou pelo retângulo. Isso se faz necessário para facilitar a comunicação entre os integrantes e evitar que os grupos interfiram no trabalho uns dos outros.

Por fim, um aspecto decisivo dos processos avaliativos é a devolução das tarefas aos alunos, com comentários individuais, se possível, inclusive para os que tiveram bom desempenho. Requerem atenção especial e cuidado aqueles que não tiveram desempenho satisfatório. É crucial mostrar tanto os caminhos pelos quais esses alunos possam melhorar quanto aquilo em que eles conseguiram evolução, mesmo que insuficiente. Mantê-los motivados é importante no momento de retorno de uma avaliação e para produções futuras.

Organização para apresentação de material audiovisual

Os recursos audiovisuais são amplamente utilizados por professores em sala de aula, constituindo um bom instrumento pedagógico caso esteja articulado de fórma orgânica e coerente com o conteúdo e os objetivos em questão. A relevância do uso desse tipo de material deve ser a primeira questão a pautar o professor na decisão de aplicá-lo ou não em sala. Isso porque, caso não seja bem pensado, o uso dessa ferramenta pode ser inócuo, desestimulante e desinteressante.

Em primeiro lugar, é importante que o professor notifique de antemão e prepare a turma para a atividade com o recurso audiovisual. Os alunos devem ser informados sobre os objetivos do uso daquele instrumento, as razões pedagógicas e os resultados a que se pretende chegar. Assim, eles terão clareza de todo o processo e identificarão o audiovisual como um recurso do processo de ensino-aprendizagem, e não como fórma encontrada pelo professor para “passar o tempo” ou demais ideias equivocadas dessa natureza.

Tomada a decisão da utilização de trechos de audiovisuais na aula, o professor deve pensar no modo como isso será feito. O espaço da sala de vídeo ou da sala de aula deve ser organizado de acôrdo com a necessidade da tarefa proposta. Dessa fórma, caso o recurso seja usado para exibir um filme e, em seguida, propor um debate, a configuração da sala em u é a mais adequada para que o debate flua naturalmente após a exibição do vídeo. Já no caso de se pretender que os alunos produzam um texto ao final da exibição, é interessante o formato em fileiras, para garantir que a turma se concentre na tarefa após o encerramento da exibição do vídeo.

É importante, também, que o professor pense na utilização dos recursos audiovisuais com base em sua funcionalidade. Trechos de filmes ou animações, por exemplo, devem ser vistos com concentração e foco. Já se o recurso é mais interativo, é importante coordenar a participação dos alunos durante a exibição, permitindo a manifestação deles à medida que a interatividade se realize.

Uma estratégia que pode ajudar o professor nessa tarefa é, além de estabelecer um objetivo pedagógico claro ao utilizar o recurso audiovisual, o de procurar materiais que sejam adequados à faixa etária e atraentes à turma, pois, para que sejam atingidos os objetivos pedagógicos, os alunos precisam se envolver com a proposta. Além disso, o docente deve assistir ao recurso audiovisual antes de exibi-lo aos alunos, procurando assim novas ferramentas ou intenções para o trabalho e verificando sua funcionalidade em sala de aula.

Recomenda-se fortemente atentar para a adequação do material audiovisual exibido, levando-se em consideração a faixa etária, a maturidade e o perfil dos alunos. Para os alunos mais novos, dos 6º e 7º anos, é interessante preparar um roteiro de observação do material a ser exibido, pontuando com clareza exatamente o que se deseja que os estudantes observem: o uso de cores em um filme, um diálogo em especial, um determinado cenário etcétera Esse recurso garante que os alunos assistam ao material exibido com mais foco, o que assegura um melhor aproveitamento pedagógico do recurso.

Gestão do uso do celular em sala de aula

Em um mundo cada vez mais tecnológico, as novas gerações já assimilaram muitos aparelhos eletrônicos em seu cotidiano. Muitas tarefas que eram, em outros tempos, realizadas sem a mediação da tecnologia digital ou por aparelhos diferentes e específicos estão concentradas em um só dispositivo: o celular.

A utilização de celular em sala de aula tem sido motivo de polêmica. Parte dos educadores condena o uso do aparelho, ao passo que outros admitem sua utilização com finalidade pedagógica. A permissão do uso do celular em sala de aula deve ser decidida pela coordenação ou equipe docente a fim de evitar que os alunos façam comparações entre condutas diferentes dos professores e criem, com isso, situações de constrangimento para os educadores. Para o bom funcionamento de qualquer escola, a unidade dos professores e a harmonia entre eles são fundamentais.

Caso a decisão da equipe seja pela proibição, as regras devem ser expostas claramente. Cada professor que entra na sala de aula deve reforçar, diariamente, a orientação para que os alunos desliguem seus aparelhos e mantenham-nos guardados na mochila. É prudente avisar os alunos sobre a atitude que será tomada caso alguém desrespeite a regra e, uma vez identificado o aluno infrator, o que foi estabelecido deve ser prontamente aplicado de maneira impessoal e sem alarde.

A equipe pode, todavia, admitir o uso de celular em situações específicas. O uso de agenda, por exemplo, pode ser importante para a organização do aluno. O registro fotográfico da lousa, por sua vez, assegura a redução do tempo gasto com cópias, permitindo a dinamização da aula. Caso o professor considere importante o registro escrito da aula no caderno, é possível, por exemplo, orientar os alunos a fazer anotações da aula expositiva (explicações) e usar a câmera do celular para o registro de resumos expostos na lousa.

Uma das mais importantes funções do celular, porém, é facilitar atividades de pesquisa. O acesso à internet permite atividades desafiadoras e proporciona independência aos alunos.

A oferta de situações-problema para ser solucionadas em grupo estimula a pesquisa e a troca de informações entre os estudantes, favorecendo o aprendizado. Por meio da internet, os alunos podem ainda trocar informações com outros grupos e realizar trabalhos mais complexos, de maneira integrada.

Contudo, existe sempre o risco de o celular ser mal utilizado: fotos feitas durante a aula sem a permissão dos envolvidos, conversas paralelas que não têm relação com o trabalho proposto, acesso a conteúdo inapropriado, tudo isso pode ocorrer. Por essa razão, a opção de permitir o uso do aparelho celular em sala de aula deve sempre ser acompanhada de orientações sobre ética digital para que os estudantes entendam as implicações do mau uso do aparelho nesse ambiente. Mesmo que os jovens tenham familiaridade com as novas tecnologias, ainda estão em formação e precisam ser constantemente lembrados de suas responsabilidades e limites.

Gestão de conflitos em sala de aula

A adolescência é uma fase de ruptura, em que o jovem deixa para trás os laços de dependência do núcleo familiar e arrisca-se em novas experiências relacionais, ampliando seu círculo de convivência social e buscando construir uma identidade. É também o momento em que se descobre capaz de pensar por si e de tomar decisões, o que o coloca diante de uma sensação de liberdade.

Essa liberdade é sentida, primeiro, como a ultrapassagem dos limites que lhe são impostos pela família e, depois, como uma experimentação das suas possibilidades de ação no mundo além do círculo doméstico. Até onde pode ir? Quem ou o que o deterá? De que “tamanho” é a liberdade da qual desfruta? Questões assim estimulam o adolescente a testar limites – o que significa enfrentar, seja pelas palavras, seja pelo comportamento, a autoridade dos adultos e as regras que lhe são impostas.

Em sala de aula, os alunos adolescentes podem se tornar agentes de uma série de situações conflituosas e, frequentemente, desgastantes. A agitação, a impulsividade, o imediatismo, a resistência ao trabalho pedagógico, a irreverência e, não raramente, a agressividade são muitas vezes percebidos e sentidos pelo educador como empecilhos à tarefa de ensinar. Entretanto, existem estratégias que podem favorecer a convivência pacífica em sala de aula.

Antes de tudo, o professor deve se reconhecer como a autoridade em sala de aula e estar seguro de que é a pessoa responsável pelos estudantes. Essa autoridade não deve ser transferida para outros sujeitos, como os pais ou a coordenação, sob o risco de os alunos não a identificarem mais no educador. No entanto, autoridade não se confunde com autoritarismo. É preciso conquistar a confiança dos alunos. Firmeza – jamais se deve prometer o que não se pode ou não se deseja cumprir –, justiça nas decisões e temperança são atitudes necessárias em sala de aula. Além disso, mostrar domínio de seus conhecimentos e segurança em sua profissão é fundamental para conquistar a confiança dos alunos.

Todavia, mesmo quando a relação do professor com a turma é positiva, podem acontecer situações de confronto, e lidar com elas é sempre delicado. Primeiramente, é importante que o professor evite o embate direto. Enfrentar um aluno diante dos colegas tende a favorecer uma reação de solidariedade do grupo, potencializando o risco de generalização do conflito. O docente deve evitar levantar a voz e procurar dialogar com os alunos de modo

privado, ao final da aula ou, se for necessário, tão logo ocorra a intervenção. Nesse diálogo, é necessário evitar julgamentos. Deve-se criticar a atitude impertinente dos alunos, mas não os julgar.

Recomenda-se, ainda, que o professor procure escutar os adolescentes antes de repreendê-los. A escuta atenta possibilita o entendimento do ponto de vista dos alunos para que se possa construir uma contra-argumentação, indicando que foi levada em consideração a alegação deles, tirando-os da posição defensiva que assumirão se forem advertidos sem ser ouvidos. Ao fim da conversa, se possível, é importante que o docente estabeleça um pacto com os alunos, mostrando-se confiante na capacidade de colaboração deles.

Há, contudo, situações em que o conflito envolve vários alunos ao mesmo tempo. Nessas horas, o contrôle é dificultado pela agitação e pelo falatório da turma. É prudente que o professor mantenha a calma e procure resolver a questão em assembleia. Para tanto, é necessário definir-se a regra de que só poderá falar quem estiver com determinado objeto na mão (um chaveiro, um estojo de tecido ou qualquer objeto que possa ser passado de mão em mão sem quebrar nem machucar alguém). Ao término da fala, um aluno deverá passar o objeto a outro que deseje se pronunciar. Se possível, o docente deve sair do foco da discussão e incentivar os alunos a debater o problema gerador do conflito, retomando o contrôle do debate para fazer o fechamento da solução.

Em todas as situações, é importante o professor ter em mente o fato de que é o adulto da relação e, por conseguinte, deve buscar ser o elemento de equilíbrio na sala de aula, promovendo a cultura de paz no ambiente escolar.

O combate ao bullying

Mesmo reconhecendo os conflitos como algo esperado entre os adolescentes, é preciso estar atento ao dia a dia dos alunos, observando seu relacionamento em momentos dentro e fóra da sala de aula, pois algumas manifestações do grupo, ou especificamente de algum aluno, podem revelar atos de violência mais sérios, como o bullying – palavra de origem inglesa que remete à intimidação sistemática.

O bullying caracteriza-se por uma agressão intencional e repetitiva, protagonizada por um ou mais alunos, e pode ser agravado quando o grupo todo atua como espectador das agressões, contribuindo indiretamente para sua continuidade.

A vítima de bullying pode sofrer com ataques físicos, comentários vexatórios, apelidos pejorativos, ameaças, exclusão ou outras fórmas de violência, permanecendo em um estado de opressão, forte tensão e sofrimento físico e psicológico. Por sentir-se constrangida, com medo ou culpada, a vítima deixa de pedir ajuda a familiares, colegas ou profissionais que atuam na escola.

O Programa de Combate à Intimidação Sistemática foi instituído pelo govêrno federal em novembro de 2015, com a assinatura da Lei número .13185, que estabelece algumas medidas para coibir o bullying nas escolas. A mesma lei caracteriza outra modalidade de agressão, o cyberbullying, quando a violência e os ataques são feitos no meio virtual,

“mediante o uso de instrumentos para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.”

BRASIL. Lei número .13185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Disponível em: https://oeds.link/mmwTsj. Acesso em: 17 março 2022.

O primeiro passo para combater o bullying e o cyberbullying é reconhecer sua existência e atuar de maneira educativa e formativa, promovendo ações preventivas, mas também assertivas e efetivas.

A observação dos alunos em diferentes espaços, principalmente nos quais se sentem menos observados é uma tarefa para a qual toda a equipe da escola deve estar preparada. É importante que professores, assim como demais colaboradores estejam atentos a maneira como os adolescentes se relacionam, se há alguém que está sempre isolado, como se subdividem em grupos, se há mudanças ou não nesses grupos, entre outros aspectos. Reações de raiva, choro, algum machucado sem explicação, perda de material, muitas vezes podem ser indícios de que algo não vai bem.

Em suas aulas, o professor pode organizar trabalhos em grupo diversificando os critérios de organização, de modo a evitar que os mesmos alunos fiquem sempre isolados ou sem grupo: por ordem alfabética, por preferências de assuntos, por separação de habilidades, elegendo alunos para registro escrito, ilustrações ou exposição oral. Se esta for uma prática habitual, os alunos terão maior oportunidade de conhecer-se. Além disso, indiretamente, a prática de evidenciar quem tem maior dificuldade é inibida.

Assuntos relacionados ao bullying e ao cyberbullying também podem ser discutidos em assembleias e palestras, envolvendo os alunos na tarefa de responsabilizar-se uns pelos outros. Algumas ações possíveis são a formação de grupos responsáveis por cuidar para que nenhum aluno fique sozinho, a eleição de alunos mediadores de conflitos e de grupos responsáveis pelo acolhimento e pela integração de novos alunos, a adoção de boas práticas no ambiente virtual etcétera Também é importante que os alunos discutam situações reais, baseados em notícias do cotidiano e que possam exercitar a empatia, a solidariedade e a cooperação.

Outra medida fundamental é fortalecer os alunos para se posicionar contra o agressor, pedir ajuda, denunciar e levar qualquer situação ao conhecimento de professores ou da equipe gestora. A criação de um clima de confiança e empatia é essencial, pois possibilita que o aluno tenha espaço para externar seus sentimentos e sinta-se apoiado por colegas e pela equipe da escola. Ao mesmo tempo, deve-se garantir oportunidades de reflexão, retificação e a busca de novas condutas para quem pratica esses atos de violência.

Nos espaços de convivência coletiva, todos devem responsabilizar-se pelo combate à violência e a promoção da cultura de paz, compreendendo que o convívio com a diferença favorece a formação de uma sociedade mais saudável e verdadeiramente inclusiva.

Orientações para uso crítico de material disponível na internet

Atualmente, a velocidade com que a informação se dissemina pelos meios digitais e o comportamento imediatista do leitor diante de uma avalanche de textos, imagens e sons produziram um cenário no qual os fatos se tornaram irrelevantes, e as “verdades” passaram a se sustentar exclusivamente em convicções. Sites são utilizados para veicular notícias falsas, as chamadas fake news, que rapidamente contaminam as redes sociais e, de tanto serem repetidas, são assimiladas por parte da população como verdades incontestáveis. Muitas dessas notícias não chegam a ser totalmente mentirosas, mas são distorcidas, tiradas de contexto ou acompanhadas de interpretações maliciosas.

Em um cenário como esse, os jovens, se não têm parâmetro para selecionar informações, tornam-se vítimas fáceis das fake news, que comprometem até a mais simples pesquisa pela internet. Por essa razão, os estudantes devem ser orientados desde cedo sobre como proceder a checagem de informações. Afinal, o desenvolvimento de um pensamento crítico e autônomo depende da capacidade dos indivíduos de reconhecerem informações confiáveis e descartarem o que é improcedente. Certos procedimentos reduzem bastante as chances de o leitor ser enganado. São eles:

• Desconfiar

As notícias falsas e os boatos apelam frequentemente às emoções, que fazem o leitor agir por impulso, sem refletir. Por essa razão, deve-se desconfiar de textos e imagens apelativos e sensacionalistas. Texto escrito em caixa-alta, com abuso de adjetivos, também é indicativo de que a notícia pode ser mentirosa ou exagerada.

As fake news, geralmente fabricadas às pressas, não recebem os cuidados dispensados pelos veículos de imprensa sérios; por conseguinte, na maioria dos casos contêm muitos erros gramaticais e ortográficos, contradições, lacunas (falta de data na notícia, omissão de autoria etcétera), dados incorretos e informações vagas (por exemplo, afirmar que uma importante instituição de pesquisa divulgou determinada informação, mas não identificar a instituição citada).

Além disso, a oferta de vantagens excepcionais, como premiações de valor muito alto, costuma ser sugestiva de se tratar de vírus ou site malicioso.

• Cruzar informações

É aconselhável fazer uma pesquisa nos sites de busca para saber se a notícia ou informação suspeita foi confirmada por outros veículos. É comum que fake news sejam reproduzidas por várias fontes, por isso é preciso se assegurar da confiabilidade dos veículos consultados. Não se deve dar crédito a blogs e sites desconhecidos ou com nomes apelativos. Deve-se dar preferência a pesquisas feitas em sites de instituições renomadas, como universidades, órgãos internacionais e institutos de pesquisa, e veículos de imprensa prestigiados. Para checar se imagens não foram retiradas de seu contexto, deve-se consultar um buscador de imagens.

• Consultar sites especializados em checagem de informação

Na internet, existem agências especializadas em checar informações e combater a disseminação de boatos e de notícias falsas. Na dúvida, sempre vale consultá-las.

• Ter cautela com informações enviadas por amigos ou parentes

Muitas vezes, os internautas dão crédito a informações recebidas pelas redes sociais porque foram enviadas por pessoa de confiança. Todavia, amizade e parentesco não garantem a lisura das fontes. Um amigo ou parente também pode ter sido enganado. Por isso, ao receber uma informação ou antes de repassar, é necessário checar a fonte original.

• Não ler somente as manchetes

Muitos veículos de informação procuram atrair a atenção do leitor com manchetes que distorcem a notícia, induzindo-o a uma interpretação equivocada. Por isso, não se pode deixar de ler todo o texto noticioso.

• Conferir a data

Criadores de fake news muitas vezes requentam notícias antigas, difundindo-as em outro contexto. Por essa razão, conferir a data é um procedimento básico de checagem de informação.

• Evitar a impulsividade

Como as notícias falsas ou maliciosas são frequentemente exageradas ou apelativas, causam surpresa e indignação, provocando emoções que impedem o leitor de fazer uma pausa reflexiva antes de divulgá-las. O contrôle da impulsividade é uma das ações mais importantes para não cair nas armadilhas criadas pelos produtores de fake news.

7. A Base Nacional Comum Curricular (Bê êne cê cê)

Prevista na Constituição Federal (1988), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (éle dê bê, de 1996) e no Plano Nacional de Educação (pê êne é, de 2014), a Bê êne cê cê para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental foi homologada em 2017 e a parte referente ao Ensino Médio incluída em 2018.

O documento estabelece o conjunto das aprendizagens essenciais a que todos os estudantes têm direito, e, por ser de caráter normativo, deve ser seguido na elaboração ou adequação dos currículos escolares em todo o Brasil.

O objetivo da Bê êne cê cê é garantir que todas as crianças e adolescentes do país tenham a mesma formação escolar, reduzindo as desigualdades verificadas pelas avaliações de larga escala nacionais e internacionais. Essa formação escolar deve assegurar o desenvolvimento de dez Competências gerais pelos estudantes para que se tornem capazes de mobilizar valores, habilidades e conhecimentos diversos na análise e resolução de situações cotidianas e para que exerçam plenamente a cidadania.

AS COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4. Utilizar diferentes linguagens − verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital −, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 9-10.

Além de estabelecer as Competências gerais para Educação Básica, a Bê êne cê cê organizou o Ensino Fundamental em duas etapas: anos iniciais (1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano). O trabalho durante esses ciclos deve propiciar o desenvolvimento integral do aluno por meio de cinco áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino Religioso. Essas áreas articulam conhecimentos e saberes relativos a um ou mais componentes curriculares, como mostra o quadro a seguir.

ÁREAS DO CONHECIMENTO E RESPECTIVOS COMPONENTES CURRICULARES (BNCC)

Área do conhecimento

Componentes curriculares

Linguagens

Língua portuguesa

Arte

Educação física

Língua inglesa

Matemática

Matemática

Ciências da Natureza

Ciências

Ciências Humanas

História

Geografia

Ensino Religioso

Ensino religioso

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 27.

As Ciências Humanas na Bê êne cê cê

Cada área do conhecimento tem Competências específicas a serem desenvolvidas ao longo da Educação Básica. Para o Ensino Fundamental, a área de Ciências Humanas é composta dos componentes curriculares história e geografia, tendo como conceitos fundamentais tempo e espaço, pois se entende que a ação humana se dá em determinado tempo e em certo espaço, sob circunstâncias específicas.

“O raciocínio espaço-temporal baseia-se na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se como condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados das ações realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo contrôle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 351.

Assim, entende-se que o ensino da história e geografia deve propiciar o desenvolvimento de condições para os alunos adquirirem uma melhor compreensão de mundo, autonomia de pensamento e capacidade de intervenção responsável no meio em que vivem. Para tanto, articuladas às Competências gerais da Educação Básica, definiram-se sete Competências específicas de Ciências Humanas a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental.

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

1. Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos.

2. Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo.

3. Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de modo a participar efetivamente das dinâmicas da vida social.

4. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

5. Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo espaço e em espaços variados, e eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo espaço e em espaços variados.

6. Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo voltados para o bem comum e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

7. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal relacionado a localização, distância, direção, duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 357.

Nas áreas compostas de mais de um componente curricular, como as Ciências Humanas, cada um deles também tem Competências específicas a serem desenvolvidas.

A história na Bê êne cê cê

O entendimento explicitado pela Bê êne cê cê sobre a produção do conhecimento da história é o mesmo desta coleção, já exposto anteriormente: todo o conhecimento sobre o passado, como produto do presente, é também um conhecimento sobre o presente elaborado por sujeitos distintos. Como destacado pela Bê êne cê cê,

“A relação passado/presente não se processa de fórma automática, pois exige o conhecimento de referências teóricas capazes de trazer inteligibilidade aos objetos históricos selecionados. Um objeto só se torna documento quando apropriado por um narrador que a ele confere sentido, tornando-o capaz de expressar a dinâmica da vida das sociedades. Portanto, o que nos interessa no conhecimento histórico é perceber a fórma como os indivíduos construíram, com diferentes linguagens, suas narrações sobre o mundo em que viveram e vivem, suas instituições e organizações sociais.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 397.

Assim como a produção do conhecimento histórico não pode ser dissociada de seu tempo, o ensino de história não pode deixar de considerar as demandas, os desafios e a configuração do mundo contemporâneo.

“As questões que nos levam a pensar a história como um saber necessário para a formação das crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo atual.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 397.

Considerando as características da produção do saber histórico e dos objetivos do ensino de história, deve-se incentivar a indagação sobre a produção do conhecimento e a própria produção dele por meio da identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise, estimulando a autonomia de pensamento.

O esforço para o desenvolvimento da autonomia de pensamento exige o conhecimento básico da epistemologia da história, ou seja,

reticências a natureza compartilhada do sujeito e do objeto de conhecimento, o conceito de tempo histórico em seus diferentes ritmos e durações, a concepção de documento como suporte das relações sociais, as várias linguagens por meio das quais o ser humano se apropria do mundo. Enfim, percepções capazes de responder aos desafios da prática historiadora presente dentro e fóra da sala de aula.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 400-401.

Tendo em vista esses pressupostos para o ensino de história, em articulação com as Competências gerais da Educação Básica e as Competências específicas de Ciências Humanas, a Bê êne cê cê definiu sete Competências específicas a serem desenvolvidas em história.

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

1. Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo.

2. Compreender a historicidade no tempo e no espaço, relacionando acontecimentos e processos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais, bem como problematizar os significados das lógicas de organização cronológica.

3. Elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos, interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito.

4. Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

5. Analisar e compreender o movimento de populações e mercadorias no tempo e no espaço e seus significados históricos, levando em conta o respeito e a solidariedade com as diferentes populações.

6. Compreender e problematizar os conceitos e procedimentos norteadores da produção historiográfica.

7. Produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de modo crítico, ético e responsável, compreendendo seus significados para os diferentes grupos ou estratos sociais.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 402.

O ensino de história nos anos finais do Ensino Fundamental

Segundo a Bê êne cê cê, o ensino de história nos anos finais do Ensino Fundamental deve ser pautado por três procedimentos básicos:

“1. Pela identificação dos eventos considerados importantes na história do Ocidente (África, Europa e América, especialmente o Brasil), ordenando-os de fórma cronológica e localizando-os no espaço geográfico.

2. Pelo desenvolvimento das condições necessárias para que os alunos selecionem, compreendam e reflitam sobre os significados da produção, circulação e utilização de documentos (materiais ou imateriais), elaborando críticas sobre fórmas já consolidadas de registro e de memória, por meio de uma ou várias linguagens.

3. Pelo reconhecimento e pela interpretação de diferentes versões de um mesmo fenômeno, reconhecendo as hipóteses e avaliando os argumentos apresentados com vistas ao desenvolvimento de habilidades necessárias para a elaboração de proposições próprias.”

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, 2018. página 416.

Além disso, o documento definiu unidades temáticas e objetos de conhecimento para cada ano desta etapa do curso. Resumidamente, no 6º ano são estudados as fórmas de registro e os procedimentos próprios da história, bem como os registros e os modos de vida das primeiras comunidades humanas, a Antiguidade Clássica e o contraponto com outras sociedades, as lógicas de organização social e política e as manifestações culturais até o período medieval; no 7º ano, o mundo moderno, as conexões entre as sociedades africanas, americanas e europeias e os seus reflexos na dinâmica e na organização do poder no mundo colonial americano; no 8º ano, a crise do chamado Antigo Regime e

as conformações da história contemporânea no século dezenove; por fim, no 9º ano, a história republicana brasileira até a atualidade, além do contexto internacional nesse período (as grandes guerras, as crises econômicas, conflitos regionais etcétera). Os temas permitem a compreensão da configuração do mundo atual e a valorização dos direitos humanos e o respeito às diferenças.

Para assegurar que esses conhecimentos sejam os mesmos para todos os currículos escolares nacionais, a Bê êne cê cê listou um conjunto de habilidades que expressam as aprendizagens essenciais de cada ano. Cada uma delas é identificada por um código composto de letras e números. Por exemplo:

Esquema. No topo está escrita a habilidade EF06HI01. Dela, saem quatro fios, cada um para um quadro diferente. No primeiro, da esquerda para a direita, está escrito: ‘O primeiro par de letras indica a etapa do ensino; neste caso, o Ensino Fundamental.’; no segundo quadro: ‘O primeiro par de números indica o ano a que se refere a habilidade; neste caso, o 6º ano.’; no terceiro quadro: ‘O segundo par de letras indica o componente curricular; neste caso, história.’; e no quarto e último quadro está escrito: ‘O segundo par de números indica a posição da habilidade na sequência do ano.’

O código anterior designa a seguinte habilidade: “identificar diferentes fórmas de compreensão da noção de tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas)”. Em cada um dos volumes da coleção, reproduziremos o quadro com as respectivas unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades.

A Bê êne cê cê na coleção

Conforme o que já foi exposto, é possível perceber como a concepção da coleção sobre o ensino de história e seus objetivos estão de acôrdo com as aprendizagens essenciais definidas pela Bê êne cê cê. Quanto à organização dos conteúdos, considerando os procedimentos básicos estabelecidos pelo documento para o ensino de história, esta coleção apresenta uma organização cronológica, relacionando o estudo da história do Brasil com o da história geral, localizando devidamente os eventos e processos no tempo, com a indicação de duração, relação de anterioridade e posterioridade, e facilitando a compreensão dos alunos sobre as interações, continuidades e rupturas da história.

A coleção concilia os estudos de história com o desenvolvimento das Competências gerais da Educação Básica na medida em que fornece subsídios para que os alunos compreendam e analisem criticamente o mundo em que vivem, reflitam sobre si mesmos e suas fórmas de interação com o mundo, conheçam fórmas de investigação científica, diferentes criações artísticas e linguagens textuais e utilizem os recursos tecnológicos disponíveis para a investigação e a criação de conteúdo. O objetivo é lhes proporcionar os meios para que possam contribuir para uma sociedade mais justa e inclusiva.

Quanto às Competências específicas de Ciências Humanas, poderíamos elencar diversas situações em que cada uma delas é contemplada ao longo da coleção. Como esse trabalho é realizado e indicado sistematicamente ao longo dos volumes, apresentaremos agora apenas alguns exemplos envolvendo a competência número 1 (“compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de fórma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos”). No 6º ano, tal competência é desenvolvida quando abordamos a construção da história, a memória e a relação dos patrimônios culturais materiais e imateriais com as diferentes sociedades; no 7º ano, no trabalho com os conteúdos sobre a interação dos diferentes povos e grupos sociais nas dinâmicas coloniais na América; no 8º ano, no momento em que tratamos as tensões e rupturas decorrentes dos processos revolucionários e as construções das diferentes identidades nacionais ao longo do século dezenove; no 9º ano, ao destacarmos os conflitos mundiais, as repressões ideológicas, as perseguições de populações, e ao explorarmos a diversidade de expressões de crenças, costumes e suas manifestações na contemporaneidade.

Da mesma fórma, mencionaremos alguns exemplos de como uma das Competências específicas de História é tratada ao longo da coleção. A primeira (“compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo”) é fortemente trabalhada durante toda a coleção por meio das abordagens sobre continuidades e rupturas da história em seus múltiplos aspectos. No início do 6º ano, isso ocorre, principalmente, da perspectiva da longa duração, ou seja, pela abordagem estrutural

dos processos históricos e da construção do conhecimento sobre eles. No 7º ano, ao explorarmos o contato entre povos (exclusões, interações e trocas) nas diferentes conformações sociais e econômicas no período que se convencionou chamar de modernidade. No 8º ano, quando abordamos a ebulição causada por novos referenciais intelectuais e, consequentemente, políticos e sociais, que levaram aos processos revolucionários e à formação de novas nações, bem como as diferenças de interesses e contradições sociais de algumas dessas nações. No 9º ano, pela quantidade e variedade dos conteúdos abordados, o estudo passa a ser o do tempo mais curto (das guerras, dos conflitos, das greves e movimentos sociais diversos e suas implicações na configuração do mundo no qual vivemos), e por meio dele é que se desenvolve a primeira competência específica.

O trabalho com as competências e habilidades fica evidente no texto-base, nas propostas das seções e nas atividades. No início das orientações específicas de cada livro, há um quadro-resumo indicando os capítulos em que cada competência foi trabalhada. Ao longo dos capítulos, junto à reprodução das respectivas páginas do livro do aluno, também há anotações e comentários sobre o desenvolvimento das competências, além de sugestões de atividades complementares.

8. A organização da coleção

Os livros desta coleção foram organizados em unidades que agrupam capítulos pela inter-relação de seus assuntos.

6º ANO

Unidade 1 − A construção da história e a origem da humanidade

Capítulo 1: Tempo, memória e história

Capítulo 2: A origem da humanidade

Unidade 2 − As primeiras civilizações

Capítulo 3: Os primeiros habitantes da América

Capítulo 4: Civilizações fluviais na África e na Ásia

Capítulo 5: Sociedade, economia e cultura dos povos nativos americanos

Unidade 3 − Antiguidade Clássica

Capítulo 6: Origens da Antiguidade Clássica

Capítulo 7: Transformações no mundo grego antigo

Capítulo 8: Roma republicana

Capítulo 9: Roma imperial

Unidade 4 − África e Europa medieval

Capítulo 10: A expansão do islã e os reinos africanos

Capítulo 11: A Europa feudal

Capítulo 12: Transformações na Europa medieval

7º ANO

Unidade 1 − O surgimento da modernidade

Capítulo 1: Os Estados europeus e o absolutismo monárquico

Capítulo 2: Humanismo, Renascimento e Reformas Religiosas

Capítulo 3: Expansão marítima europeia

Unidade 2 − A conexão entre mundos

Capítulo 4: Expansão portuguesa na África e na Ásia

Capítulo 5: Colonizações espanhola e inglesa na América

Capítulo 6: A colonização portuguesa na América

Unidade 3 − A construção do Império Português na América

Capítulo 7: Nordeste açucareiro

Capítulo 8: Sociedade escravista e cultura afro-brasileira

Capítulo 9: Expansão das fronteiras da América portuguesa

Unidade 4 − Mudanças na economia do mundo ocidental

Capítulo 10: A mineração na América portuguesa

Capítulo 11: Mercantilismo: uma economia de transição

8º ANO

Unidade 1 − O mundo ocidental em transformação

Capítulo 1: Das Revoluções Inglesas à Revolução Industrial

Capítulo 2: Novas ideias: o Iluminismo e os fundamentos do liberalismo econômico

Unidade 2 − Revoluções e independências

Capítulo 3: A independência dos Estados Unidos

Capítulo 4: França: revolução e era napoleônica

Capítulo 5: Independências na América espanhola

Unidade 3 − Brasil: da crise do sistema colonial ao Segundo Reinado

Capítulo 6: Das rebeliões coloniais às lutas pela emancipação na América portuguesa

Capítulo 7: Do Primeiro Reinado às Regências

Capítulo 8: O Segundo Reinado

Unidade 4 − Transformações no século XIX

Capítulo 9: Revoluções e novas teorias políticas do século XIX

Capítulo 10: Os Estados Unidos no século XIX

Capítulo 11: A nova ordem econômica e o imperialismo

9º ANO

Unidade 1 − Brasil e mundo na aurora do século XX

Capítulo 1: A Primeira República no Brasil

Capítulo 2: Cotidiano e cultura na Primeira República

Capítulo 3: A Primeira Guerra Mundial

Capítulo 4: A Revolução Russa

Unidade 2 − Totalitarismo, autoritarismo e guerra

Capítulo 5: A crise do capitalismo e a ascensão do nazifascismo

Capítulo 6: A Segunda Guerra Mundial

Capítulo 7: O primeiro governo Vargas e o Estado Novo (1930-1945)

Unidade 3 − A Guerra Fria e seus desdobramentos

Capítulo 8: A Guerra Fria

Capítulo 9: A descolonização na África e na Ásia

Capítulo 10: O Brasil entre duas ditaduras

Capítulo 11: Experiências ditatoriais na América Latina e a ditadura civil-militar no Brasil

Unidade 4 − A construção do mundo contemporâneo

Capítulo 12: Movimentos sociais e culturais da década de 1960

Capítulo 13: A redemocratização na América do Sul

Capítulo 14: Fim da Guerra Fria e os desafios do século XXI

Capítulo 15: O Brasil depois da Constituinte de 1988

Os textos, as seções e os recursos gráfico-visuais objetivam oportunizar aos alunos o contato com os conteúdos por diferentes vias. Assim, os capítulos trazem mapas, fotografias, reproduções de obras de arte, de cenas de filmes, de objetos da cultura material, charges, gráficos, tabelas e quadros organizadores, entre outros recursos. A exploração deles ocorre em questões apresentadas no boxe Explore e na seção Atividades.

Destacamos, como importantes ferramentas, os mapas, que auxiliam os alunos na orientação espacial (não só na localização de cidades ou povos, mas também na visualização de deslocamentos humanos, religiões, produtos econômicos, rótas de comércio, fronteiras geopolíticas e suas variações, que mostram que a definição dos territórios possui uma historicidade), e as histórias em quadrinhos e as charges, que representam acontecimentos com ironia, humor e, muitas vezes, de maneira crítica, possibilitando, por meio de sua leitura, a compreensão de variados assuntos.

Também tivemos a preocupação de inserir trechos de livros da historiografia adequados à faixa etária dos alunos. Com isso quisemos acrescentar informações e análises consistentes sobre o assunto trabalhado e, além de favorecer o desenvolvimento da atitude historiadora, familiarizar os alunos com textos historiográficos.

A seguir, apresentamos cada uma das partes que compõem os capítulos desta coleção.

  • Abertura de unidade: apresenta aos alunos o que será estudado por meio de imagens, um sumário e um breve texto que estabelece os nexos entre os capítulos da unidade.
  • Abertura de capítulo: por meio de uma imagem (muitas vezes relacionada a elementos das culturas juvenis, como filmes, charges, jogos, agá quês e esportes), textos e questões, introduz o tema ou os temas a serem estudados, estabelecendo relação com algum aspecto da atualidade, de modo a despertar o interesse dos alunos, dando um sentido para o estudo; além disso, propicia o levantamento dos conhecimentos prévios deles, facilitando o trabalho do professor na identificação de ideias do senso comum que precisam ser desconstruídas.
  • Recapitulando: ao longo do capítulo, apresenta questões para verificação da compreensão e sistematização dos conteúdos, favorecendo a fixação do que foi estudado pelos alunos de fórma gradativa e facilitando o trabalho docente na identificação de pontos que devem ser reforçados com a classe ou individualmente.
  • História em construção: voltada para a compreensão do saber histórico como algo em construção, inicialmente a seção fornece informações sobre fontes e métodos de pesquisa, e, gradativamente, passa a propor a análise de fontes e de textos historiográficos que ajudam a problematizar o assunto estudado por meio da prática de uma atitude historiadora.
  • Explore: questões que propõem a análise de material apresentado ao longo do capítulo, como mapas, citações, tabelas e imagens, auxiliando na compreensão mais ampla dos conteúdos, além de favorecer o desenvolvimento da compreensão leitora de diversos tipos de linguagem.
  • Refletindo sobre: propostas de reflexão crítica sobre algum aspecto do cotidiano dos alunos ou assunto da atualidade relacionado ao conteúdo estudado com o objetivo de desenvolver o autoconhecimento, o reconhecimento das diferenças, o desenvolvimento da empatia, tendo em vista as Competências gerais da Educação Básica, as Competências específicas de Ciências Humanas e os temas contemporâneos transversais.
  • Saiba mais: com o objetivo de dinamizar o estudo dos conteúdos desenvolvidos, este boxe apresenta informações complementares e/ou curiosidades relacionadas ao assunto estudado.
  • Leitura complementar e Enquanto isso: seções com inserções alternadas entre os capítulos. A primeira apresenta leituras de fontes reconhecidas, que enriquecem o estudo do tema, e a segunda trabalha a noção de simultaneidade, explorando eventos ou processos históricos ocorridos ao mesmo tempo dos que foram apresentados no texto-base, mas em espaços distintos. Nas duas seções,

questões auxiliam a exploração do conteúdo apresentado, que foi selecionado levando em consideração a faixa etária dos alunos.

  • Conexão: ao final de cada capítulo, a seção apresenta sugestões de livros, filmes, quadrinhos, sites e jogos, oferecendo alternativas para diversificação e enriquecimento das aulas.
  • Atividades: ao final dos capítulos, apresenta questões que mobilizam habilidades mais complexas, como demonstrar, analisar, comparar e explicar, entre outras, além de apresentar noções introdutórias de algumas práticas de pesquisa. A seção é constituída de três divisões fixas: Aprofundando, que corresponde às questões de aprofundamento com interpretação de textos, dados estatísticos e imagens, demandando análise, comparação, a relação do conteúdo com conceitos e a elaboração de argumentos; Aluno cidadão, que relaciona o conteúdo estudado a questões da atualidade, propondo uma reflexão crítica e desenvolvendo competências, ao mesmo tempo que aborda temas contemporâneos transversais como educação ambiental, alimentar e nutricional, educação para o trânsito e para a valorização das relações étnico-raciais, valorização do idoso etcétera; Conversando com, que aborda os temas de fórma interdisciplinar, destacando para o professor as habilidades trabalhadas do outro componente curricular indicado. Além disso, a seção Atividades apresenta subdivisões variáveis, relacionadas a cada etapa do aprendizado: nos volumes do 6º e 7º ano, Mão na massa e Você é o autor reforçam o trabalho com metodologias ativas e a valorização do protagonismo dos alunos de fórma lúdica; nos volumes do 8º e do 9º ano, os alunos são desafiados a testar seus conhecimentos com questões do enêm e de vestibulares de todo o país, selecionadas de acôrdo com a proficiência esperada para cada etapa, familiarizando os alunos com questões aplicadas em exames de larga escala.
  • Fazendo e aprendendo: no fechamento das unidades, esta seção apresenta tutoriais e desafia os alunos a desenvolverem propostas relacionadas a metodologias ativas, como elaborar uma linha do tempo, um quadro comparativo, um pequeno roteiro para encenação, criação de pôster e de reportagem e a realização de pesquisa entre outros, dando espaço para a criatividade e o protagonismo juvenil ao mesmo tempo que favorece o desenvolvimento das competências socioemocionais relacionadas ao trabalho em equipe e à cooperação.

9. Bibliografia consultada

Documentos normativos

Para a elaboração deste manual do professor, foram consultadas os seguintes decretos, leis e publicações oficiais:

BRASIL. Decreto número .7037, de 21 de dezembro de 2009. Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos – pê êne dê agá três e dá outras providências. Disponível em: https://oeds.link/NhFnOM. Acesso em: 30 abril 2022.

Texto integral do decreto que institui o Programa Nacional de Direitos Humanos no Brasil.

BRASIL. Lei número .13005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (pê êne é) e dá outras providências. Disponível em: https://oeds.link/FgvmSh. Acesso em: 30 abril 2022.

Íntegra da lei que estabelece o Plano Nacional da Educação (pê êne é).

BRASIL. Lei número .13185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Disponível em: https://oeds.link/mmwTsj. Acesso em: 17 março 2022.

Oferece diretrizes para o combate à intimidação sistemática (bullying).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Méqui, sébi, 2018.

Documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais a serem desenvolvidas ao longo da Educação Básica.

BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na Bê êne cê cê. Contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília: Méqui, 2019.

Publicação que contextualiza e orienta a abordagem dos temas contemporâneos transversais.

unêsco. Declaração de princípios sobre a tolerância. Disponível em: https://oeds.link/VHhoTH. Acesso em: 14 fevereiro 2022.

Texto integral da Declaração de princípios sobre a tolerância, aprovado pela Unesco em 1995.

unêsco. Declaração universal sobre a diversidade cultural e plano de ação. Disponível em: https://oeds.link/XYbD6Z. Acesso em: 30 maio 2022.

Apresenta a íntegra da Declaração universal sobre a diversidade cultural, aprovada pela Unesco em 2002, e as linhas gerais de um plano de ação para implementá-la.

unêsco. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre educação para o século vinte e um. Brasília: Unesco, 2010.

Relatório que apresenta horizontes, princípios e orientações para a educação no século vinte e um.

Teoria da história

As obras a seguir subsidiaram as discussões sobre as transformações da historiografia e sobre o conhecimento histórico.

Bloque, Marc. Apologia da história ou O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2001.

Tece importantes considerações sobre o ofício do historiador, discutindo métodos, fontes e o objeto da história.

Broudel, Fernan. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978.

Discute a relação entre a história e outros campos do saber, as diferentes dimensões temporais e as contribuições da Escola dos Annales para a historiografia.

Bãrke, Peter (organizador). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora Unésp, 1992.

Aborda aspectos mais recentes da pesquisa histórica, como a micro-história, a história das mulheres e o papel da narrativa.

chartiê, rogê. A história ou a leitura do tempo. segunda edição Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

Discute as relações entre verdade e conhecimento histórico e entre memória e história, bem como o impacto das tecnologias digitais sobre a pesquisa histórica.

chartiê, rogê. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Universidade da u éfe érre gê ésse, 2002.

Reúne ensaios sobre questões sensíveis ao trabalho do historiador, como a interdisciplinaridade.

chartiê, rogê. Cultura escrita, literatura e história: conversas de Rogê Chartiê com Carlos aguírre anaia, jesús anaya rosíque, Daniel Goldin e Antonio saborit. Porto Alegre: artimédi, 2001.

Debate a cultura escrita em seus múltiplos aspectos, bem como a relação entre ela e o conhecimento histórico.

chenô jeãn. Devemos fazer tábula rasa do passado? São Paulo: Ática, 1995.

Discute a relação entre presente e passado, o papel da história nas disputas pelo poder, entre outros assuntos.

dôce franssôá. A história à prova do tempo: da história em migalhas ao resgate do sentido. São Paulo: Editora Unésp, 2001.

Conjunto de ensaios que enfocam a relação entre o estruturalismo e a história.

févr lúciã. Combates pela história. segunda edição Lisboa: Editorial Presença, 1985.

Reúne as principais ideias defendidas por lúciã févr, alinhadas à Escola dos Annales.

FREITAS, Marcos Cezar (organizador). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998.

Analisa a historiografia nacional desde o século dezenove, debatendo temas como a construção da nacionalidade e a escravidão.

rãnt, lín. A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

Enfoca a Nova História Cultural, discutindo a importância da intersecção entre a história e outras áreas do conhecimento.

LE GÓFI, Jaques. História e memória. Campinas: Editora da unicâmpi, 1990.

Aborda temas do debate historiográfico, como o caráter científico da história e a relação entre presente e passado.

ROMANO, Rugiero direção Enciclopédia Einaudi. volume 1: Memória – História. Porto: Imprensa Nacional, 1985.

Explora conceitos fundamentais do campo da história, como memória, história, calendário, passado/presente, documento/monumento.

russãn iórn. A razão histórica: teoria da história – fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora ú êne bê, 2001.

Busca identificar as características do conhecimento científico e o alcance e os limites da interpretação histórica.

veine pou. Como se escreve a história. Brasília: Editora ú êne bê, 1998.

Aborda os limites do historiador para alcançar uma história global e determinar uma verdade histórica totalizante.

Pedagogia e psicologia da aprendizagem

As discussões sobre o processo de ensino-aprendizagem e sobre o uso de metodologias ativas na educação foram fundamentadas nas seguintes obras.

Baciqui, Lilian; MORAN, José (organizador). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

Explica o que são metodologias ativas, oferecendo referências, exemplos e sugestões de trabalho.

Bréquiman cristian palman. Desenvolvimento do pensamento computacional através de atividades desplugadas na Educação Básica. 2017. Tese (Doutorado em Informática na Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

Investiga fórmas de desenvolver o pensamento computacional na Educação Básica, sem a mediação de recursos digitais.

japiassú rilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

Discute a interdisciplinaridade e maneiras como ela pode ser promovida em sala de aula.

mingué, Pilar A. (organizador). A construção do conhecimento na educação. Porto Alegre: artimédi, 1988.

Reúne artigos a respeito dos principais referenciais teóricos do socioconstrutivismo, como piagê, Auzúbel e vigótisqui.

MOREIRA, Marco Antonio; bufváits, Bernardo. Mapas conceituais: instrumentos didáticos, de avaliação e de análise de currículo. São Paulo: Editora Moraes, 1987.

Apresenta a teoria de Auzúbel sobre aprendizagem significativa, aplicando-a na construção de mapas conceituais.

PERRENÔ, Fílipe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: artimédi, 1999.

Defende o foco do ensino na formação de competências, bem como o trabalho por projetos e a avaliação formativa.

RODRIGUES, Rivanilson da Silva. Um estudo sobre os efeitos do pensamento computacional na educação. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciência da Computação). Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2017.

Investiga a introdução do pensamento computacional na Educação Básica e seus resultados em diferentes áreas do conhecimento.

Ensino de história

As obras a seguir balizaram as discussões sobre o ensino de história e a produção do saber histórico em sala de aula.

ABREU, Marta; Soirret, Raquel (organizador). Ensino de história, temáticas e metodologias. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.

Discute conceitos importantes para o ensino de história, como identidade, cultura e cidadania, além de propor experiências didáticas.

CARRETERO, Mario et al. (organizador). Ensino da história e memória coletiva. Porto Alegre: artimédi, 2007.

Discute a relação entre ensino de história e memória na construção de identidades e na formação da cidadania.

GAGO, Marília. Consciência histórica e narrativa na aula de história: concepções de professores. Porto: citissêm/ Afrontamento, 2018.

Com base nas ideias de J. russãn, investiga as relações entre o que professores da Educação Básica entendem por consciência histórica e suas concepções de narrativa histórica.

MARRERA, Fernando Milani; SOUZA, uíris Alves de. A tipologia da consciência histórica em russãn. Revista Latino-Americana de História, São Leopoldo, volume 2, número 6, agosto 2013. Edição especial.

Debate os diferentes tipos de consciência histórica existentes de acôrdo com a categorização proposta por J. russãn.

MEDEIROS, Daniel H. de. A formação da consciência histórica como objetivo do ensino da história no ensino médio: o lugar do material didático. 2005. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

Problematiza o papel dos livros didáticos na formação da consciência histórica dos estudantes.

PAIVA, Eduardo França. História e imagens. segunda edição Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

Reflete sobre a importância da análise iconográfica na pesquisa e no ensino de história.

ximít, Maria Auxiliadora; GARCIA, Tânia Braga. O trabalho histórico em sala de aula. História e Ensino. Revista do Laboratório de Ensino de História/cê éle cê agá/uél, Londrina, volume 9, outubro 2003.

Analisa a influência, na prática docente, da formação do professor de história como pesquisador.

Uso da tecnologia da informação e da comunicação na educação

As obras a seguir embasaram a reflexão sobre o uso da tecnologia da informação e da comunicação na educação e seus efeitos no processo de ensino-aprendizagem.

coscaréli, Carla; RIBEIRO, Ana Elisa (organizador). Letramento digital: aspectos e possibilidades pedagógicas. terceira edição Belo Horizonte: Autêntica/ceále, 2011.

Discute o uso das tecnologias de informação e comunicação em sala de aula.

PRIOSTE, Cláudia. O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual. São Paulo: êduspi, fapésp, 2016.

Aborda a relação dos jovens com os meios digitais, discutindo, por exemplo, o uso das redes sociais e o ciberbullying.

ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (organizador). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

Subsidia a prática docente em relação ao ensino e à orientação sobre o uso responsável e competente das novas tecnologias de informação e comunicação pelos alunos.

Combate ao bullying

As reflexões sobre o bullying e as estratégias para combatê-lo no ambiente escolar tiveram como referência as seguintes obras:

búduã, M. N.; têilor, Max Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: artimédi, 2006.

Oferece informações sobre a prática do bullying e suas consequências, bem como propostas para combatê-la.

CALHAU, Lélio Braga. Bullying: o que você precisa saber. Identificação, prevenção e repressão. segunda edição Niterói: Impetus, 2010.

Orienta como identificar o bullying, o que fazer para evitá-lo e como agir para solucionar o problema.

FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Editora Verus, 2005.

Caracteriza o bullying, trata de seus efeitos e oferece orientações para evitá-lo e combatê-lo.

ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS

1. Introdução

As orientações específicas deste manual do professor evidenciam de modo detalhado as articulações entre os objetivos, as justificativas e as principais competências e habilidades trabalhadas no volume, tendo por base a abordagem teórico-metodológica apresentada nas orientações gerais.

No início de cada capítulo, acompanhando a reprodução do livro do estudante, os textos relacionam os objetivos e as habilidades da Bê êne cê cê a serem mobilizados pelo conteúdo e pelas atividades propostas. Na abertura de unidade, a pertinência dos objetivos dos capítulos que a compõem é justificada de modo unificado, oferecendo um panorama sobre o trabalho a ser desenvolvido.

No decorrer dos capítulos, além das respostas das atividades e das orientações pedagógicas, são destacadas as principais competências e habilidades mobilizadas, bem como as sugestões de abordagem dos temas contemporâneos transversais.

O item a seguir apresenta um mapeamento de aspectos da Bê êne cê cê trabalhados neste volume, de modo a facilitar o planejamento didático do ano, de acôrdo com o cronograma adotado no desenvolvimento do curso.

2. A Bê êne cê cê neste volume

Competências e temas contemporâneos transversais

O quadro a seguir apresenta os principais destaques de cada capítulo do volume do 7º ano.

Capítulos

Competências gerais da Educação Básica

Competências específicas de Ciências Humanas

Competências específicas de História

Temas contemporâneos transversais

1. Os Estados europeus e o absolutismo monárquico

1, 3

6

1, 2, 5, 6

• Educação em direitos humanos

2. Humanismo, Renascimento e Reformas Religiosas

5, 7, 8, 9

1, 5

3, 7

• Educação em direitos humanos

3. Expansão marítima europeia

2, 4

5, 7

1, 6

• Direitos da criança e do adolescente

4. Expansão portuguesa na África e na Ásia

4, 5, 8, 9, 10

5, 6

5, 6

• Diversidade cultural
• Educação em direitos humanos
• Educação ambiental

5. Colonizações espanhola e inglesa na América

4

5, 6

3, 4, 5

• Educação ambiental

6. A Colonização portuguesa na América

1, 2, 7, 10

1, 2, 4

3, 4, 5, 6

• Trabalho
• Ciência e tecnologia
• Educação ambiental
• Educação para o consumo
• Educação financeira
• Educação fiscal
• Diversidade cultural
• Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

7. Nordeste açucareiro

1, 6

1, 5

1, 3, 5, 6

• Saúde
• Educação alimentar e nutricional
• Educação ambiental

8. Sociedade escravista e cultura afro-brasileira

1, 9, 10

1, 2

1, 3, 5

• Educação em direitos humanos
• Diversidade cultural
• Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras
• Trabalho

9. Expansão das fronteiras da América portuguesa

9

5, 7

2, 3, 5

• Diversidade cultural

Capítulos

Competências gerais da Educação Básica

Competências específicas de Ciências Humanas

Competências específicas de História

Temas contemporâneos transversais

10. A mineração na América portuguesa

2, 3, 6

1, 3, 7

2, 3, 5

• Educação ambiental
• Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

11. Mercantilismo: uma economia de transição

1, 2, 3, 4, 6, 7, 9

6

3, 6

• Vida familiar e social
• Educação para o consumo
• Educação ambiental
• Educação financeira

Objetos de conhecimento e habilidades do 7º ano

UNIDADES TEMÁTICAS

OBJETOS DE CONHECIMENTO

HABILIDADES

CAPÍTULOS

O MUNDO MODERNO E A CONEXÃO ENTRE SOCIEDADES AFRICANAS, AMERICANAS E EUROPEIAS

A construção da ideia de modernidade e seus impactos na concepção de História
A ideia de “Novo Mundo” ante o Mundo Antigo: permanências e rupturas de saberes e práticas na emergência do mundo moderno

(EF07HI01) Explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão, com base em uma concepção europeia.

1

(EF07HI02) Identificar conexões e interações entre as sociedades do Novo Mundo, da Europa, da África e da Ásia no contexto das navegações e indicar a complexidade e as interações que ocorrem nos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

3, 4, 5, 6, 7, 8

Saberes dos povos africanus e pré-colombianos expressos na cultura material e imaterial

(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.

4, 5

HUMANISMOS, RENASCIMENTOS E O NOVO MUNDO

Humanismos: uma nova visão de ser humano e de mundo Renascimentos artísticos e culturais

(EF07HI04) Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus significados.

2

Reformas religiosas: a cristandade fragmentada

(EF07HI05) Identificar e relacionar as vinculações entre as reformas religiosas e os processos culturais e sociais do período moderno na Europa e na América.

2, 5

As descobertas científicas e a expansão marítima

(EF07HI06) Comparar as navegações no Atlântico e no Pacífico entre os séculos XIV e XVI.

3

A ORGANIZAÇÃO DO PODER E AS DINÂMICAS DO MUNDO COLONIAL AMERICANO

A formação e o funcionamento das monarquias europeias: a lógica da centralização política e os conflitos na Europa

(EF07HI07) Descrever os processos de formação e consolidação das monarquias e suas principais características com vistas à compreensão das razões da centralização política.

1, 2

A conquista da América e as formas de organização política dos indígenas e europeus: conflitos, dominação e conciliação

(EF07HI08) Descrever as formas de organização das sociedades americanas no tempo da conquista com vistas à compreensão dos mecanismos de alianças, confrontos e resistências.

5, 6, 9

(EF07HI09) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência.

5, 6, 9

A estruturação dos vice-reinos nas Américas
Resistências indígenas, invasões e expansão na América portuguesa

(EF07HI10) Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.

5

(EF07HI11) Analisar a formação histórico-geográfica do território da América portuguesa por meio de mapas históricos.

3, 7, 9, 10

(EF07HI12) Identificar a distribuição territorial da população brasileira em diferentes épocas, considerando a diversidade étnico-racial e étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática).

6, 9, 10

UNIDADES TEMÁTICAS

OBJETOS DE CONHECIMENTO

HABILIDADES

CAPÍTULOS

LÓGICAS COMERCIAIS E MERCANTIS DA MODERNIDADE

As lógicas mercantis e o domínio europeu sobre os mares e o contraponto Oriental

(EF07HI13) Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo atlântico.

3, 4, 5, 7

(EF07HI14) Descrever as dinâmicas comerciais das sociedades americanas e africanas e analisar suas interações com outras sociedades do Ocidente e do Oriente.

4, 5

As lógicas internas das sociedades africanas
As formas de organização das sociedades ameríndias
A escravidão moderna e o tráfico de escravizados

(EF07HI15) Discutir o conceito de escravidão moderna e suas distinções em relação ao escravismo antigo e à servidão medieval.

4

(EF07HI16) Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados em suas diferentes fases, identificando os agentes responsáveis pelo tráfico e as regiões e zonas africanas de procedência dos escravizados.

4, 5, 8, 10

A emergência do capitalismo

(EF07HI17) Discutir as razões da passagem do mercantilismo para o capitalismo.

11

3. Sugestões de cronograma

O planejamento de trabalho com as unidades e os capítulos do livro ao longo do ano letivo pode variar em função do calendário escolar adotado pela instituição de ensino. Para subsidiar o planejamento do professor, disponibilizamos possibilidades de organização bimestral, trimestral e semestral do livro.

CRONOGRAMA BIMESTRAL

1º bimestre

2º bimestre

3º bimestre

4º bimestre

Unidade 1

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Unidade 2

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Unidade 3

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Unidade 4

Capítulo 10

Capítulo 11

CRONOGRAMA TRIMESTRAL

1º trimestre

2º trimestre

3º trimestre

Unidade 1

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Unidade 2

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Unidade 3

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Unidade 4

Capítulo 10

Capítulo 11

CRONOGRAMA SEMESTRAL

1º semestre

2º semestre

Unidade 1

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Unidade 2

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Unidade 3

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Unidade 4

Capítulo 10

Capítulo 11

4. Textos de aprofundamento

Renascimento ou renascimentos?

No texto a seguir, o antropólogo djáqui gúdi discute a singularidade do Renascimento italiano, argumentando que o Renascimento europeu deve ser compreendido a partir da interconexão com outras culturas. Além disso, apresenta a tese de que momentos de efervescência cultural e retomada do passado ocorreram em diversas outras sociedades.

reticências A singularidade do Renascimento italiano está em seu contexto histórico e no fato de que, ao olhar para trás, ele rememorou uma cultura ‘pagã’ e evitou as muitas restrições que o cristianismo havia imposto às atividades científicas e artísticas. Também houve um afrouxamento das relações no comércio e no intercâmbio cultural com as culturas do Oriente, que eram infiéis. Esse afrouxamento dos vínculos ocorreu também no islamismo e no judaísmo, assim como na dinastia Song, na China; na Índia, houve uma maior continuidade cultural. No entanto, no árabe, no chinês e no sânscrito, encontramos um importante elemento de continuidade, em que o olhar retrospectivo implicou, linguisticamente, uma constante reaproximação entre o passado e o presente, ao passo que na Europa (e no início do Islã) esse olhar retrospectivo dependeu de traduções de outras línguas e, às vezes, para outras línguas (como o latim), o que, é claro, não era acessível à maioria. reticências Nesse caso, ainda que a revitalização esteja associada à tradução de uma língua, o progresso do Renascimento reside no deslocamento do conhecimento e da atividade criativa para as línguas locais, em outras palavras, na vernaculização. Essa é a base para esse salto mais permanente para a ‘modernização’, certamente com a ampla participação de outras pessoas, sobretudo tecnólogos e artesãos. O conhecimento reticências tornou-se familiar a todos que sabiam ler, e não apenas aos que só sabiam ler as línguas clássicas.

Foi instituindo e institucionalizando a possibilidade de uma abordagem secular das artes e em especial das ciências que o Renascimento italiano ajudou a mudar o mundo.

Essa institucionalização resultou em parte do fato de que o conhecimento não transcendental foi preservado nas universidades e nas academias. Teve a ver também com as mudanças na economia interna, que apoiava essas faculdades, e os meios de comunicação. Sem dúvida, a imprensa teve um papel crucial, tornando a humanidade capaz de refletir sobre aquilo que havia aprendido. ‘Na verdade, o humanismo pode dever a sobrevivência fundamental de suas ideias à descoberta de Gutenberg.’ Senão, poderia ter sido ‘transmutado por um novo escolasticismo’, como a renascença do século doze. Ela não criou o Renascimento, reticências mas ‘ajudou a manter vivas as ideias revolucionárias’.

A economia externa também foi importante, já que se expandiu com a descoberta da América e a colonização de outras partes do mundo, permitindo um enorme crescimento da produção e da atividade comercial. Com o contrôle da energia e a organização do trabalho necessário para operar as máquinas, esse mercado expandido significou o desenvolvimento de indústrias de grande escala.

Minha tese é reticências que todas as sociedades dotadas de escrita reticências olharam retrospectivamente para o que foi realizado em períodos anteriores, e esse olhar foi seguido algumas vezes de um salto para a frente. Entretanto, o retorno ao passado foi importante sobretudo no domínio religioso, em que o progresso e a mudança raramente são bem-vindos. Todas as religiões ilustradas olharam para trás: as abraâmicas, para a Bíblia judaica e para os desenvolvimentos posteriores; os hindus politeístas, para a escritura védica; e os budistas e os jainistas para seus respectivos cânones. Mas isso aconteceu também em sociedades mais seculares, como a China, onde as pessoas se remeteram a Confúcio e a outros intelectuais desse período, citados constantemente como autoridades. reticências Esse processo nem sempre conduziu a um renascimento; ocasionalmente pode ter envolvido conservação e continuidade, ainda que a referência aos escritos passados tenha estimulado uma nova atividade cultural ou até propiciado um avanço. Estímulos mais significativos ocorreram quando o olhar retrospectivo implicou a revivificação de uma cultura que tinha uma ideologia diferente, como na Europa, quando o mundo não cristão dos clássicos pôde ser evocado e incentivou abordagens mais seculares de muitos aspectos da vida. O declínio do Império Romano provocou o colapso da economia urbana do Ocidente. reticências O Mediterrâneo perdeu o status de centro da atividade econômica até o comércio ser retomado com o Oriente e com o sul, onde continuou a existir uma cultura urbana e mercantil que se estendia à Pérsia, à Índia, à China e a todo o continente eurasiano. Essas regiões não experimentaram o mesmo retrocesso pelo qual a Europa Ocidental havia passado; a Índia e a China tiveram um desenvolvimento mais contínuo, apesar de intermitente. E, com exceção do Islã, eram mais pluralistas. O contato com essas

culturas orientais estimulou as mudanças que conduziram ao Renascimento italiano, ou seja, a retomada do comércio, a recuperação de uma abordagem mais ampla e a renovação dos contatos culturais com o passado e com o presente. Mas cada uma dessas sociedades letradas teve seu período de olhar retrospectivo, sua florescência cultural, sua renascença, quando as explicações sobrenaturais foram desafiadas e um humanismo mais secular floresceu. De um ponto de vista sociológico, as renascenças foram múltiplas e não estavam confinadas nem ao ‘capitalismo’ nem ao Ocidente. A Europa não estava sozinha, tampouco foi uma ilha cultural.”

gud djec. Renascimentos: um ou muitos?. São Paulo: Editora Unésp, 2011. página 318-320.

Geopolítica e expansão marítima

O historiador Luiz Felipe de Alencastro destaca, no texto a seguir, a estratégia geopolítica circunscrita à expansão ultramarina portuguesa. Para o autor, o expansionismo português apresentou um caráter preventivo num contexto marcado por disputas luso-espanholas.

“Têm sido extensamente estudadas as motivações religiosas e econômicas que impulsionaram os Descobrimentos lusitanos. Entretanto, os objetivos geopolíticos, decorrentes da rivalidade luso-espanhola, não foram alvos da mesma atenção. Sobretudo na perspectiva do debate historiográfico sobre o caráter não econômico do colonialismo lusitano.

A expansão ultramarina portuguesa brota no seio de um reino periodicamente posto em risco. Num Estado submetido à pressão política espanhola e, mais tarde, à coerção econômica inglesa. Neste contexto, a coroa lusitana engendra um expansionismo preventivo – ‘preemptivo’ –, engatilhado para ganhar territórios do além-mar que poderiam vir a ser ocupados por Madri, donde a extraordinária abstração geopolítica negociada entre as duas capitais ibéricas no Tratado de Alcáçovas (1479), reconhecendo a soberania de Lisboa sobre Madeira, Açores e toda a África negra, e no Tratado de Tordesilhas (1494), pactuando fronteiras comuns ainda por existir, em lugares remotos, inatingidos, ‘do que até agora está por descobrir no mar oceano’, como especifica um dispositivo deste último texto, partilhando domínio e império sobre mares, territórios e povos desconhecidos.

O ‘expansionismo preemptivo’ se manifesta desde o comêço das descobertas. Terá sido a expedição franco-espanhola de 1402, em direção à Madeira, que levou Portugal a ocupar preventivamente aquela ilha nos anos 1418-26, encetando as travessias descobridoras das Canárias (1424), dos Açores (1431-39), e de Cabo Verde (1456-62). Da mesma fórma, o avanço proporcionado à Espanha no Oceano Pacífico pela primeira circunavegação de Fernão de Magalhães (1520-21) e, sobretudo, pela descoberta da Róta leste-oeste, do México às Filipinas, por Álvaro de Saavedra (1527-28), leva os portugueses a se precaverem, ocupando portos e fixando feitorias ao longo da Róta Goa-Macau, principal artéria do comércio asiático. Foi ainda o expansionismo preemptivo que soprou as velas portuguesas sobre toda a extensão do litoral atlântico sul-americano, convertendo, desde a segunda metade do século dezesseis, o estuário do Prata num dos pontos críticos da tensão fronteiriça luso-espanhola que dividia o planeta.

O mapeamento da Róta Portugal-Açores, no segundo quartel do século quinze, havia solucionado o problema crucial do torna-viagem dos navegadores no Atlântico: a partir do arquipélago açoriano, uma verdadeira auto-estrada marítima, formada pelos ventos variáveis e pelos ventos dominantes de sudoeste, leva os navios de volta à costa portuguesa. Anteriormente, e fóra dessa Róta, os barcos que navegavam para o sul, enfrentavam ventos contrários no regresso, e acabavam se perdendo ao arribar no litoral africano da zona sarrélo-saariana, dominada pelos inimigos muçulmanos. Na circunstância, a posse dos Açores se configura, ontem e hoje, como um trunfo decisivo no espaço atlântico. Significativamente, a expansão portuguesa nos séculos quinze e dezesseis se apodera de pontos-chaves das vias de comunicação mundiais do passado e do presente. Açores, Cabo Verde, São Tomé e Mina (no bolsão do Golfo da Guiné), Luanda e o Brasil (nos dois lados do Atlântico Sul), Goa, Ormuz (no gargalo do Golfo Pérsico), Mascate (no Golfo de Omã), Malaca (vizinha da atual Cingapura, no estreito de Malaca, via de acesso ao extremo Oriente), Macau (no litoral de Cantão, no sul do Mar da China), se situam no entroncamento das rótas estratégicas do planeta.

Balizando as grandes rótas marítimas de comércio, a constelação de feitorias portuguesas deixa evidente o escopo globalizante dos descobrimentos. Sobressai ainda o caráter essencialmente marítimo e mercantil de uma política que, excetuando o caso de Madeira e Açores, quase extensões continentais lusitanas, só toma feição propriamente colonial e povoadora numa determinada área, e bem mais tarde: no Brasil, e no decurso do século dezoito. Desse ponto de

vista, a tipologia distinguindo ‘colônia de povoamento’ e ‘colônia de exploração’ – bastante difundida na historiografia brasileira – não alcança a especificidade do quadro político e mercantil que cobria os dois primeiros séculos do sistema colonial. Formulada por leruá bôliê no final do século dezenove, tal conceituação se aplica à segunda expansão europeia – sucedida entre 1870 e 1956 (expedição anglo-francesa no Canal de Suez) – quando a supremacia militar do Ocidente, potencializada pela Revolução Industrial, já assegurava às metrópoles colonizadoras o domínio efetivo dos territórios e dos povos nativos do ultramar, e não à primeira expansão (séculos quinze a dezessete).

Ao inverso, a análise de cal polaní referente ao porto de trato apresenta maior consistência histórica com a rede de enclaves e feitorias que caracteriza o ultramar português até a Restauração (1640), antes de o império do Atlântico (Brasil e Angola) sobrepujar o Império Luso do Oriente (Índia, Insulíndia e China).”

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. A economia política dos Descobrimentos. In: NOVAES, Adauto (organizador). A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. página 193-195.

Presença portuguesa na costa oriental africana

O historiador Salim apresenta, no texto a seguir, os motivos religiosos e econômicos que impulsionaram a circunavegação portuguesa da África e o estabelecimento de feitorias na costa oriental do continente. Segundo o autor, a presença portuguesa encontrou resistência local de cidades suaílis, de povos vindos do continente, além de muçulmanos com interesses comerciais na região.

reticências os portugueses procuravam prejudicar o islã nos planos comercial, político, militar e religioso, ou seja, desmantelar o monopólio mameluco (depois, otomano) das rótas comerciais em direção à Ásia e à China, aliando-se a outros cristãos para colocar um fim à dominação muçulmana em todos os lugares onde ela era exercida. Além disso, almejavam, em última instância, apoderar-se dos territórios muçulmanos, pois se presumia que os não-cristãos não tivessem direito algum à propriedade. reticências Visando prejudicar os muçulmanos, o príncipe Henrique, instigador do plano português, era também Grande Senhor da Ordem de Cristo e, sob tal bandeira, combateu os muçulmanos no Marrocos, no início do século quinze. Graças às suas expedições magrebinas, notadamente, os portugueses aprenderam que os árabes foram pelo mar até a África Oriental; portanto, podia-se contornar a África, travar a ação dos muçulmanos e suplantá-los no exercício do comércio. reticências

Frequentemente defendeu-se que além da costa africana, os portugueses sempre estiveram interessados pelo Oriente. Tal argumento é às vezes invocado para explicar o fracasso da implantação portuguesa nesta parte do litoral africano. Portanto, a costa suaíli era considerada como um apêndice do Estado da Índia, cujo centro era Goa, residência do vice-rei português. Entretanto, os portugueses nomearam um 'capitão do mar de Melinde’ que, na ausência de uma ocupação efetiva, devia patrulhar a Róta oriental da África com algumas embarcações colocadas à disposição, outorgar licenças (carataze) aos navios e administrar a feitoria portuguesa de Melinde. A fundação dessa feitoria prova que os portugueses se interessavam pelo comércio africano. reticências As cidades suaílis permaneciam independentes quando nenhum conflito de interesse as opunha aos portugueses e, em caso de conflito, eram colocados entraves ao comércio, sem que esse fosse interrompido completamente. Algumas cidades sofreram mais do que outras. reticências Desde a sua aparição na região do Oceano Índico, os portugueses suscitaram a hostilidade não só dos suseranos muçulmanos locais, mas também dos dirigentes da superpotência muçulmana cuja influência e supremacia comercial eram incontestáveis: os mamelucos do Egito. Após a vitória dos otomanos sobre esses últimos, em 1517, foi o sultão turco de Constantinopla quem encabeçou a luta contra o invasor português. Várias batalhas navais ocorreram entre a costa ocidental da Índia e o Golfo Pérsico. Em 1570-1571, uma insurreição explodiu na fortaleza portuguesa de Hormuz, cujos habitantes haviam pedido socorro aos otomanos. Porém, o levante foi reprimido. O exemplo de Hormuz foi seguido por outras cidades, tanto que as embarcações turcas atormentavam periodicamente os portugueses. reticências Se tais operações restavam sem grandes consequências, também não deixavam de inquietar os portugueses. O próprio rei sentiu a necessidade de convidar o vice-rei, estabelecido em Goa, a tomar medidas para pôr um termo nos excessos praticados por administradores portugueses, dos quais os chêique suaílis tinham se queixado. De fato, receavam que caso os chêique fossem incitados ou obrigados a buscar ajuda junto aos turcos, a fim de se libertarem do jugo português, os acontecimentos justificariam tais receios.

Em 1585, o emir ‘Ali Bey, vindo com uma só galera e portador de uma mensagem de libertação, foi acolhido calorosamente por todas as cidades suaílis situadas entre Mogadíscio e quílua, com exceção de Melinde. Após ter acumulado um espólio e ter transformado uns cinquenta soldados portugueses de Lamu em prisioneiros, o emir partiu prometendo retornar com reforços. Os portugueses replicaram com uma expedição punitiva, dirigida, sobretudo, contra Faza e Mombaça. reticências Fiel à palavra empenhada, o emir ‘Ali Bey retornou, em 1588, com cinco navios e, ainda desta vez, obteve o apôio da maioria das cidades, exceto Melinde que resistiu simbolicamente. ‘Ali Bey começou a executar o projeto para transformar Mombaça em uma base turca. Os portugueses reagiram com o envio de uma frota reforçada que velejou rumo à África Oriental em janeiro de 1589. reticências A fim de reforçar sua posição e de se preparar para novos ataques, os portugueses decidiram construir uma fortaleza e instalar uma guarnição em Mombaça. O Forte Jesus foi construído em 1593-1594 por pedreiros vindos das Índias e por trabalhadores de Melinde, dirigidos por um arquiteto italiano.

reticências Convém sublinhar que o reforço da presença portuguesa em Mombaça não ocasionou nenhuma mudança sensível no que concerne à administração da costa suaíli em seu conjunto, onde os portugueses eram pouco numerosos. Tudo o que eles demandavam dos soberanos das cidades era o pagamento do tributo. A única vantagem da guarnição de Mombaça era que ela permitia uma reação mais fácil e mais rápida às eventuais tentativas de resistência e de revolta. Portanto, a proximidade dos portugueses não intimidava a todos. Assim, em 1603, o soberano de Pate tomou as armas, sendo então julgado e executado. Porém, a impiedosa atitude de seus inimigos não impediu nem Pate, nem outras cidades de se levantarem.”

SALIM, A. I. A costa oriental da África. In: GOT, béf uél (organizador). História geral da África: África do século dezesseis ao dezoito. Brasília: Unesco, 2010. página 890-899.

Cortês e os signos

No texto a seguir, o historiador Zisvêtâm Todorov discute o papel da informação como um dos aspectos essenciais da conquista do Império Asteca. O autor apresenta o conquistador espanhol hernãn cortês como um sujeito dotado de consciência política e histórica, traços distintivos entre ele e os conquistadores predecessores.

“Não se deve imaginar que a comunicação, entre os espanhóis, seja exatamente oposta à que praticam os índios. Os povos não são noções abstratas, apresentam entre si semelhanças e diferenças. reticências Pode-se descrever o comportamento desses espanhóis [das primeiras expedições] dizendo que se dedicam a coletar a maior quantidade de ouro no menor espaço de tempo, e não procuram saber nada sobre os índios. reticências

O contraste é sensível a partir do momento em que Cortês entra em cena: não seria ele um conquistador de exceção, e não um conquistador típico? Não: a prova é que seu exemplo logo será seguido, e amplamente, embora ele nunca seja igualado. Era necessário um homem extremamente bem-dotado para cristalizar, num único tipo de comportamento, elementos até então díspares; uma vez dado o exemplo, impõe-se com uma rapidez impressionante. A diferença entre Cortês e os que o precederam talvez esteja no fato de ter sido ele o primeiro a possuir uma consciência política, e até mesmo histórica, de seus atos. Na véspera de sua partida de Cuba, provavelmente em nada se distinguia dos outros conquistadores ávidos de riquezas. No entanto, tudo muda assim que começa a expedição, e já se pode observar o espírito de adaptação que Cortês transforma em princípio de sua própria conduta: em Cozumel, alguém lhe sugere que envie alguns homens armados para procurar ouro no interior. ‘Cortês respondeu rindo que não tinha vindo por coisas tão insignificantes, mas para servir a Deus e ao rei’ (Bernal Díaz, 30). Assim que fica sabendo da existência do reino de Montezuma, decide não apenas extorquir riquezas, como também subjugar o reino. Esta estratégia muitas vezes contraria os soldados da tropa de Cortês, que contam com lucros imediatos e palpáveis; mas ele continua intratável; assim, devemos a ele a invenção, por um lado, de uma tática de guerra de conquista e, por outro, a de uma política de colonização em tempos de paz.

O que Cortês quer, inicialmente, não é tomar, mas compreender; são os signos que interessam a ele em primeiro lugar, não os referentes. Sua expedição começa com uma busca de informação, e não de ouro. A primeira ação importante que executa – a significação desse gesto é incalculável – é procurar um intérprete. Ouve falar de índios que empregam palavras espanholas; deduz que talvez haja espanhóis entre eles, náufragos de expedições anteriores; informa-se, e suas suposições são confirmadas. Ordena então a dois de seus barcos que esperem oito dias, depois

de enviar uma mensagem a esses intérpretes potenciais. Depois de muitas peripécias, um deles, jerônimo de Aguilar, se une à tropa de Cortês, que quase não reconhece nele um espanhol. reticências Esse Aguilar, transformado em intérprete oficial de Cortês, lhe prestará serviços inestimáveis.

Mas Aguilar só fala a língua dos maias, que não é a dos astecas. A segunda personagem essencial dessa conquista de informações é uma mulher, que os índios chamam de Malintzin, e os espanhóis de donha Marina, e não se sabe qual dos dois nomes é uma deformação do outro; a fórma que o nome assume mais frequentemente é ‘la Malinche’. Ela é dada de presente aos espanhóis, durante um dos primeiros encontros. Sua língua materna é o náuatle, a língua dos astecas; mas foi vendida como escrava aos maias, e também domina a língua deles. Há, pois, no início, uma cadeia bastante longa: Cortês fala a Aguilar, que traduz o que ele diz para a Malinche, que por sua vez se dirige ao interlocutor asteca. Seus dons para as línguas são evidentes, e em pouco tempo ela aprende o espanhol, o que aumenta sua utilidade. Pode-se supor que ela guardasse rancor em relação a seu povo de origem, ou em relação a alguns de seus representantes; o fato é que escolhe decididamente o campo dos conquistadores. Com efeito, não se contenta em traduzir; é evidente que também adota os valores dos espanhóis, e contribui como pode para a realização dos seus objetivos. Por um lado, efetua uma espécie de conversão cultural, interpretando para Cortês não somente as palavras, mas também os comportamentos; por outro lado, sabe tomar a iniciativa quando necessário, e dizer a Montezuma as palavras apropriadas (especialmente no momento de sua prisão), sem que Cortês as tenha pronunciado anteriormente.

Todos concordam em reconhecer a importância do papel da Malinche. É considerada por Cortês como uma aliada indispensável, e isto é evidenciado pelo lugar que concede à intimidade física entre eles. Apesar de tê-la ‘oferecido’ a um de seus tenentes logo depois de tê-la ‘recebido’ e de casá-la com outro conquistador, logo após a rendição da Cidade do México, a Malinche será sua amante durante a fase decisiva, desde a partida em direção à Cidade do México até a queda da capital asteca. Sem epilogar acerca do modo como os homens decidem o destino das mulheres, pode-se deduzir que esta relação tem uma explicação estratégica militar, mais do que sentimental: graças a ela, a Malinche pode assumir seu papel essencial. Mesmo depois da queda da Cidade do México, ela continua a ser tão apreciada quanto antes, ‘porque Cortês, sem ela, não podia entender os índios’ (Bernal Díaz, 180).

Estes últimos veem nela muito mais do que uma intérprete; todos os relatos fazem-lhe frequentes referências e ela está presente em todas as imagens. A que ilustra, no Codex Florentino, o primeiro encontro entre Cortês e Montezuma é bem característica neste sentido: os dois chefes militares ocupam as bordas da figura, dominada pela figura central de Malinche reticências. Bernal Díaz, por sua vez, conta: ‘Dona Marina [Malinche] tinha muita personalidade e autoridade absoluta sobre os índios em toda a Nova Espanha’ (37). Também é revelador o apelido que os astecas dão a Cortês: chamam-noreticências Malinche (pelo menos uma vez, não é a mulher que adota o nome do homem).

Os mexicanos pós-independência geralmente desprezaram e acusaram a Malinche, que se tornou a encarnação da traição dos valores autóctones, da submissão servil à cultura e ao poder dos europeus. É verdade que a conquista do México teria sido impossível sem ela (ou outra pessoa que desempenhasse o mesmo papel), e que ela é, portanto, responsável pelo que aconteceu. Quanto a mim, vejo-a sob outra luz: ela é, para começar, o primeiro exemplo, e por isso mesmo o símbolo, da mestiçagem das culturas; anuncia assim o Estado mexicano moderno e, mais ainda, o estado atual de todos nós, que, apesar de nem sempre sermos bilíngues, somos inevitavelmente bi ou triculturais. A Malinche glorifica a mistura em detrimento da pureza (asteca ou espanhola) e o papel de intermediário. Ela não se submete simplesmente ao outro (caso muito mais comum, infelizmente: pensemos em todas as jovens índias, ‘presenteadas’ ou não, que caem nas mãos dos espanhóis), adota a ideologia do outro e a utiliza para compreender melhor sua própria cultura, o que é comprovado pela eficácia de seu comportamento (embora ‘compreender’ sirva, neste caso, para ‘destruir’).

Mais tarde, vários espanhóis aprendem o náuatle, e Cortês sempre se beneficia disso. Por exemplo, dá a Montezuma um pajem, que fala a sua língua; a informação passa então a circular nos dois sentidos, porém, de imediato, isso tem um interesse bastante desigual. ‘Logo depois, Montezuma pediu a Cortês um pajem espanhol que estava a seu serviço e que já sabia falar a língua asteca. Chamava-se ortêguílha. Foi certamente proveitoso para Montezuma, assim como para nós, pois, por intermédio do pajem, Montezuma perguntava e aprendia várias coisas acerca de nossa Castela; quanto a nós, sabíamos o que diziam seus capitães’ (Bernal Díaz, 95).

Garantindo assim a compreensão da língua, Cortês não deixa escapar nenhuma oportunidade de reunir informações. ‘Após termos feito nossa refeição, Cortês perguntou-lhes, através de nossos intérpretes, coisas relacionadas a seu senhor, Montezuma’ (Bernal Díaz, 61). ‘Cortês

reuniu alguns caciques e lhes perguntou detalhes minuciosos sobre a Cidade do México’ (ibid, 78). Suas perguntas estão diretamente relacionadas ao encaminhamento da guerra. Após uma primeira confrontação, interroga imediatamente os chefes dos vencidos. ‘Por que razão, sendo tanto, fugiam de tão poucos?’ (Gomara, 22). Uma vez obtidas as informações, sempre recompensa generosamente seus portadores. Está sempre disposto a ouvir conselhos, embora nem sempre os siga – já que as informações têm de ser interpretadas.

É graças a esse sistema de informação, perfeitamente funcional, que Cortês consegue perceber rapidamente, e em detalhes, a existência de divergências internas entre os índios – fato que reticências tem papel decisivo para a vitória final. Desde o início da expedição, está atento a qualquer informação desse gênero. E as divergências são realmente muitas; Bernal Díaz diz: ‘Guerreavam incessantemente, província contra província, aldeia contra aldeia’ (208) e Motolinia também lembra: ‘Quando os espanhóis vieram, todos os senhores e todas as províncias opunham-se fortemente umas às outras e guerreavam continuamente umas contra as outras’ (três, 1). Chegando a tlaquiscála, Cortês é particularmente sensível a esse fato: ‘Vendo as discórdias e a animosidade de uns e de outros, fiquei muito satisfeito, pois me pareceu que isso contribuiria muito para o que propunha a fazer e que eu poderia encontrar um meio de subjugá-los rapidamente. reticências' Os índios chegariam a solicitar a intervenção de Cortês em seus próprios conflitos; como escreve Piérre martír: ‘Esperavam que, defendidos por tais heróis, teriam, contra seus vizinhos, auxílio e proteção, pois eles também são corroídos por essa doença que nunca desapareceu e é, de certo modo, inata na humanidade: eles têm, como os outros homens, a fúria da dominação’ (quatro, 7). Mais uma vez, é a conquista eficaz da comunicação que conduz à queda final do Império Asteca reticências.”

TODOROV, Zisvêtâm. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1983. página 117-124.

A criação das capitanias hereditárias

O historiador Francisco Iglésias analisa o sistema de capitanias hereditárias, adotado no Brasil por iniciativa do rei Dom João terceiro. O autor argumenta que, embora poucas capitanias tenham prosperado, esse sistema foi responsável por preservar o patrimônio territorial português na América.

“A coroa portuguesa não revelou interesse imediato pela chegada ao Novo Mundo, em 1500, com a expedição dirigida por Pedro Álvares Cabral; ela se destinava à Índia reticências. Parece não haver dúvida de que Cabral, acompanhado por navegantes experimentados – não era o seu caso, um fidalgo –, não cometeu nenhum engano, mas cumpriu determinação superior, para lançar as bases da posse. Pouco se deteve em Santa Cruz, Vera Cruz e finalmente Brasil, continuando viagem para o Oriente, comunicados os fatos ao rei, da saída do Tejo até então. reticências

Viagens de certo vulto são as dirigidas por Cristóvão Jaques, em 1516 e em 1526. Segue-se a de Martim Afonso de Sousa, de 1530 a 1532, para o Brasil a mais importante de todas, pelo que fez, pela amplitude e pelas propostas de bom aproveitamento da terra. Faz reconhecimento de enorme faixa do litoral, de Pernambuco até o Rio da Prata, deixa padrões de posse. Funda a primeira vila, a de São Vicente, no litoral, com breve penetração pelo interior, até as alturas da atual cidade de São Paulo. reticências O país não ficara de todo esquecido, portanto, embora Portugal estivesse empenhado na aventura do Oriente. Algumas expedições, além das referidas, vinham aportar ao Brasil, na volta da Índia. Acordou a atenção governamental a presença seguida de navegantes estrangeiros – espanhóis, ingleses, franceses (estes, sobretudo, a presença mais constante desde o princípio), outros ainda. Ante a ameaça de perda do território, impunha-se à coroa dedicar alguma atenção especial à sua possessão no Ocidente. Como não havia riqueza a ser confiscada, como no Oriente e como aconteceria no México ou no Peru, era preciso criá-la.

Tal foi a tarefa inicial do govêrno, seguindo propostas de Cristóvão Jaques e Martim Afonso de Sousa. A ideia era a de criar uma administração descentralizada, com vários pontos no extenso litoral. reticências

Concebeu-se o plano de convocar os ricos – nobres ou militares notáveis – para a direção, sem ônus para o Tesouro. O rei comunicou a ideia a Martim Afonso de Sousa, em 1532; ele talvez a sugerira, lembrando o exemplo de outras experiências em ilhas do Atlântico reticências. Era também pensamento de Cristóvão Jaques e do humanista Diogo de Gouveia, apresentado bem antes. reticências A tentativa foi frustrada, pois não teve resultados práticos nem serviu como incentivo para exploração das novas terras do império.

Era o sistema de capitanias hereditárias, em prática só em janeiro de 1534, por Dom João terceiro: o país dividido em lotes de cinquenta léguas de costa e pelo interior, até a demarcação da linha de Tordesilhas, a ser feita ainda, evidentemente. Em decorrência, elas teriam diferentes dimensões, pois as mais ao sul seriam bem menores, pelo fato de a linha demarcatória ser mais próxima do litoral. Cada lote seria doado a um capitão-mor, responsável por todos os negócios, dispondo de poderes muito grandes, embora a coroa se reservasse parte do arrecadado, assegurando assim a presença do poder real. As unidades tinham o nome de capitanias e eram propriedade do contemplado com elas, que dispunha de poder de passá-las aos descendentes. Eram hereditárias e não tinham relações umas com as outras. Demais, o donatário podia conceder partes de sua terra a outros – as sesmarias, reavendo em troca parte do produzido. Assim como o capitão-mor era um delegado da coroa, que não podia arcar com os investimentos, o sesmeiro era um delegado do donatário. A legislação portuguesa seria aplicada com tolerância, admitindo a vinda de certos condenados pela justiça, livres de qualquer pena. Movia o administrador a ideia de incentivar o povoamento do imenso território. Direitos e deveres do Estado e dos donatários eram estabelecidos nas Cartas de Doação e nos Forais, reguladores da ordem jurídica do sistema no princípio, contando, ainda, com as Ordenações do Reino, o Código Manuelino. reticências

A primeira fórma administrativa é eminentemente descentralizada e deu poucos resultados. Começou com a criação de catorze capitanias, com doze donatários (alguns tiveram mais de uma). Distribuíram-se terras do Maranhão até Santa Catarina, ficando o extremo norte e o extremo sul sem consideração. De fato, poucos donatários mostraram interesse pelas tarefas; alguns nem vieram. Outros, pouco investiram ou nada realizaram. Só duas capitanias tiveram certo florescimento: a de Pernambuco ou Nova Lusitânia, de Duarte Coelho, foi a de melhores resultados. São Vicente, de Martim Afonso de Sousa, também teve algum, embora menor. Os colonos portugueses eram em número bem pequeno.

reticências Se Pernambuco e São Vicente tiveram certo progresso, o mesmo não se deu nas demais capitanias. reticências

Não foram positivos os resultados, nem podiam ser, embora com elas se conseguisse preservar o patrimônio português. As condições eram adversas a um resultado melhor, a empresa não era sedutora. Ante as dificuldades, os próprios donatários pediram socorro ao rei. Precisava-se tentar outra fórma.

Dom João terceiro cria o govêrno-geral, em 1548, para superar as insuficiências do sistema. Se as capitanias eram a descentralização, o govêrno-geral era, como o nome indica, a centralização. Sob o signo dessa ambiguidade decorrerá a trajetória política brasileira: assim foi na colônia, como será no império e na república reticências.”

IGLÉSIAS, Francisco. Trajetória política do Brasil: 1500-1964. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. página 21-26.

João Maurício de Nassau-zíguen

No texto a seguir, o historiador Evaldo Cabral de Mello discute a figura e a linhagem de Maurício de Nassau, problematizando as produções historiográficas que analisam seu papel na conquista e na administração do chamado Brasil holandês.

“Trata-se de erro corriqueiro supor que João Maurício de Nassau-zíguen era holandês, quando na verdade descendia de uma linhagem alemã fixada há séculos na região renana, embora na época do seu nascimento, em 1604, parentes seus, inclusive seu avô e seu pai, já se houvessem distinguido, do outro lado da fronteira norte, combatendo a Espanha no exército neerlandês, ou seja, dos Países Baixos. reticências Outro equívoco frequente entre nós consiste em confundi-lo com seu famoso homônimo e padrinho, Maurício de Nassau, um dos príncipes de Orange. Guilherme, cognominado ‘o Silencioso’ devido à sua discrição, foi o fundador da independência dos Países Baixos e irmão do avô paterno de Nassau. Para distinguir os dois Maurícios é que desde então passou a chamar Nassau de ‘o Brasileiro’.

Ainda outro engano, o de supô-lo príncipe, quando nasceu apenas conde, pois aquele título só lhe será concedido em 1653 pelo imperador Ferdinando terceiro, embora fosse tratado por tal no Brasil holandês, onde Nassau, aliás, considerava-se príncipe de fato reticências.

O mais eminente dos historiadores de língua inglesa que se ocuparam da história do Brasil e da expansão portuguesa no mundo, C. R. bóquissêr, resumiu melhor que ninguém o biografado: ‘Ele não foi apenas um general capaz e um administrador de primeira categoria, mas um governante

em muitos aspectos à frente do seu tempo’. Vamos por partes. A competência militar de Nassau não pode ser posta em dúvida, embora se trate de atributo inferior àqueles que outrora eram romanticamente identificados aos grandes chefes de guerra, o que ele não foi. Se sua principal empresa bélica, o sítio da Bahia, fracassou por lhe faltarem os meios que lhe haviam prometido, os êxitos foram inegáveis: a defesa do Brasil holandês contra o ataque de armada luso-espanhola em 1640 e a conquista de Angola, de São Tomé e do Maranhão em 1641. Ocorre, porém, que tais triunfos foram alcançados graças ao poder naval, vale dizer, pelos almirantes e por suas esquadras, o que tende a relegar ao segundo plano a visão nassoviana que os inspirou. Bastaria dizer que, na primeira ocasião, foi ele que fez a opção por uma estratégia que privilegiou o combate no mar e não em terra; e, na segunda, quem resolveu a tomada de Angola em vez da Bahia, como desejava a Companhia das Índias Ocidentais.

Nassau foi sobretudo o ‘administrador de primeira categoria’ da frase de bóquissêr, inclusive administrador militar. reticências Nassau adorava ‘ocupar-se de questões técnicas’, como atestam seus experimentos com artilharia na praia de chevêniguen em 1659 e a invenção de uma carruagem de três rodas. Suas construções brasileiras, vráiburgui, Boa Vista e La Fontéin, foram criações suas; e o orgulho que sentia por elas levou-o a compilar o códice contendo as plantas dos edifícios que erguera ao longo da vida.

Por fim, para concluir a glosa do julgamento de bóquissêr, Nassau foi também ‘um governante em muitos aspectos à frente do seu tempo’. Eis com efeito o traço que dota sua personalidade daquele ar pré-iluminista que o fez em grande parte tão popular entre os historiadores. Nesse aspecto, Nassau foi antes um filho da Holanda que da Alemanha. A despeito das suas vinculações orangistas e do republicanismo dos dirigentes holandeses, a congenialidade entre ambos transparece ao longo do govêrno do Brasil e da carreira militar na república. A tolerância religiosa era a pedra de toque dessas afinidades; e bóquissêr teve toda a razão ao asseverar que ‘reinava no Brasil holandês, nos anos de govêrno de João Maurício, um grau de liberdade religiosa maior do que em qualquer outra parte do mundo ocidental’, inclusive os próprios Países Baixos. Tolerância vinculada ao equilíbrio pessoal e ao gosto pela conciliação. Das receitas humanísticas sobre o exercício do mando, Nassau privilegiava a recomendação de combinar moderação e rigor reticências.

rôtinque reparou na ironia de que ‘a grandeza e o significado histórico’ de Nassau tenham permanecido indelevelmente associados ao que, em última análise, ‘foi um fracasso militar’, isto é, a perda do Brasil holandês. O paradoxo exige uma explicação, a começar pela cronológica: ela ocorreu após seu regresso aos Países Baixos. Quer na opinião da época, quer na historiografia do período sempre prevaleceu o consenso de que a culpa cabia inteiramente à Companhia das Índias Ocidentais, e não a Nassau, que a alertou sistematicamente para as consequências de uma política colonial de subordinação estrita à racionalidade dos balancetes. Tudo isso é verdade, e tudo isso deu à Companhia o papel de grande vilã da história, para não falar no tratamento dispensado a Nassau, com o qual ela não honrava a inteligência e muito menos o caráter dos seus dirigentes. Ele acabou rendendo-se à constatação de que seu projeto de, nas palavras à assembleia de 1640, formar ‘um só povo’ de tantas raças diferentes conflitava-se irremediavelmente não só com os objetivos da Companhia, mas até com a aversão que luso-brasileiros e neerlandeses votavam-se mutuamente.”

MELLO, Evaldo Cabral de. Nassau: governador do Brasil holandês. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. página 11-18.

Os escravizados e a constituição de laços familiares e comunitários

Os historiadores Wlamyra de Albuquerque e Walter Fraga Filho apresentam, no texto a seguir, a constituição de laços familiares e comunitários entre os escravizados como estratégicos para a recriação de laços afetivos e resistência à violência desagregadora da escravidão.

“As comunidades negras no Brasil foram formadas em meio à desagregação familiar resultante do tráfico e às adversidades da vida escrava. A condição escrava dificultou a formação e consolidação de famílias e comunidades, já que amigos e parentes podiam ser separados pela venda para proprietários diferentes. Para sobreviver sob o cativeiro, os escravos e escravas buscaram acionar relações sociais aprendidas na África e as aqui inventadas. Os vínculos formados a partir do trabalho, da família, dos grupos de convívio e da religião foram fundamentais para a sobrevivência e para a recriação de valores e referências culturais.

reticências Muitas vezes as rivalidades na África se reproduziram no Brasil, outras vezes elas diminuíram sob o pêso da escravidão. Havia ainda divisões entre africanos e crioulos e entre estes e os pardos ou mulatos. Essas divisões contavam muito na vida do cativo, na sua aceitação pelo grupo e na escolha de parceiros ou parceiras para relações afetivas. Muitas vezes essas divisões se manifestavam nos momentos em que os escravos decidiam se rebelar reticências.

Já deu para perceber que a identidade étnica era importante fator de agregação dos africanos. Em geral, formadas em tôrno de línguas comuns ou assemelhadas, essas identidades foram em grande parte construídas no Brasil. E eram muitas: angola, congo, monjolo, cabinda, quiloa, mina, jeje, nagô, hauçá etcétera Cada grupo era uma ‘nação’.

Havia um senso de lealdade entre escravos pertencentes a uma mesma etnia ou nação. reticências Mas os africanos perceberam que para sobreviver no cativeiro foi também preciso estabelecer alianças com pessoas de diferentes lugares da África. reticências

É importante assinalar que os laços comunitários foram formados nas senzalas em meio a uma diversidade de grupos étnicos. Foram formados também pela necessidade de encontrar saídas e alternativas à vida escrava. No seio dessas comunidades, os escravos puderam preservar grande parte da cultura africana e transmiti-la aos filhos e netos. Para entrar no mundo das senzalas é preciso estudar as famílias, os grupos religiosos e de amizade.

É evidente que a vida sob cativeiro criava sérios entraves à formação de famílias. A tendência do tráfico de importar mais homens do que mulheres dificultou a formação de casais. Ou seja, havia muito homem para pouca mulher nas senzalas. A condição escrava dificultou também a consolidação de famílias e comunidades, já que amigos e parentes podiam ser separados pela venda ou decisão dos senhores de alocá-los em propriedades diferentes e distantes.

A despeito dos obstáculos criados pela escravidão, os cativos buscavam manter relações conjugais estáveis, além de construir redes de parentesco extensas para além dos laços consanguíneos. reticências

No interesse de garantir condições mínimas de segurança para si e para sua propriedade, houve senhores que preferiam garantir alguma estabilidade familiar aos seus cativos. Na visão desses senhores, o escravo preso às responsabilidades familiares tinha menos predisposição para fugir ou rebelar-se.

reticências A formação de laços familiares foi importante também para a manutenção dos espaços de moradia, acesso a uma parcela de terra para cultivo e para reagir às práticas de domínio senhorial. Assim, a atuação em família ampliava as possibilidades de sobrevivência dos cativos e permitia a elaboração de projetos de liberdade. reticências

Diante dos efeitos desagregadores da vida escrava, os cativos criaram parentescos simbólicos, aqueles que vão além dos laços conjugais e consanguíneos. Incorporaram ao âmbito da família parentes de consideração e parceiros de trabalho, padrinhos e madrinhas, afilhados e afilhadas, compadres e comadres. reticências

O compadrio também representava para o escravo um instrumento de defesa nos confrontos cotidianos com os senhores. Um escravo fugido que resolvia voltar ao domínio do senhor, geralmente recorria a um ‘padrinho’ para interceder a seu favor. Esse ‘padrinho’, no entanto, nem sempre era aquele de batismo. Um homem livre que intermediasse o retorno do escravo à senzala poupando-o de algum castigo era considerado ‘padrinho’. reticências Além do compadrio, a ‘família-de-santo’, criada nos candomblés, ampliaria os limites do parentesco escravo. Era uma espécie de recriação da família ampliada existente na África. Além disso, os laços familiares criados em tôrno do culto dos ancestrais representaram a possibilidade de recompor simbolicamente laços de parentesco desfeitos no tráfico ou no curso da vida escrava.

Ao juntar no mesmo culto escravos, libertos e livres, a família-de-santo terminou criando redes sociais que não eram regidas pelas divisões e hierarquias vigentes no mundo da escravidão. As casas de culto eram regidas por outras normas e noções de obediência e disciplina, de proteção e assistência, de gratificações e sanções, de tensões e conflitos. Sem dúvida a família cativa constituiu um dos pilares sobre os quais se formaram as comunidades de senzala.”

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. página 95-103.

A herança indígena e os bandeirantes

No livro Caminhos e fronteiras, um clássico da historiografia sobre o Brasil colonial, o historiador Sérgio Buarque de Holanda destaca o conhecimento dos indígenas sobre os caminhos e as fórmas de se localizar nas matas, herdado pelos bandeirantes por meio do convívio com os nativos.

“Alguns mapas e textos do século dezessete apresentam-nos a vila de São Paulo como centro de amplo sistema de estradas expandindo-se rumo ao sertão e à costa. Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro, quem pretenda servir-se desses documentos para a elucidação de algum ponto obscuro de nossa geografia histórica. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados como em um panorama simbólico.

Neste caso, como em quase tudo, os adventícios deveram habituar-se às soluções e muitas vezes aos recursos materiais dos primitivos moradores da terra. Às estreitas veredas e atalhos que estes tinham aberto para uso próprio, nada acrescentariam aqueles de considerável, ao menos durante os primeiros tempos. Para o sertanista branco ou mamaluco, o incipiente sistema de viação que aqui encontrou foi um auxiliar tão prestimoso e necessário quanto o fôra para o indígena. Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens, em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, mestre e colaborador inigualável nas entradas, sabiam os paulistas como transpor pelas passagens mais convenientes as matas espessas ou as montanhas aprumadas, e como escolher sítio para fazer pouso e plantar mantimentos.

Eram de várias espécies esses tênues e rudimentares caminhos de índios. Quando em terreno fragoso e bem-vestido, distinguiam-se graças aos galhos cortados a mão de espaço a espaço. Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia significar uma pista. Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores para a volta. Era o processo chamado ibapad, segundo Montoya, caapeno, segundo o padre João Daniel, cuapaba, segundo Martius, ou ainda caapepena, segundo Stradelli: talvez o mais generalizado, não só no Brasil como em quase todo o continente americano. Onde houvesse arvoredo grosso, os caminhos eram comumente assinalados a golpes de machado nos troncos mais robustos. Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extremos de sutileza. cóchi grúnberg viu uma dessas marcas de caminho na Serra de Tunuí: constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais, a maior metida na terra, e a outra, em ângulo reto com a primeira, mostrando o rio. Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal.

Quando não fossem praticáveis tais sistemas o índio encontrava meios de guiar-se pelo sol e com tal habilidade que, segundo referem crônicas quinhentistas, dois Tupinambá degredados da Bahia para o Rio de Janeiro e levados por mar conseguiram, depois de fugir, tornar por terra ao seu país, caminhando mais de trezentas léguas através da mataria e de parcialidades hostis. Durante a noite marcavam as horas, em alguns lugares, pela observação das estrelas e constelações. Durante o dia, pela sombra que o polegar deixa na mão. reticências

Um sistema de sinalização convencional nada seria, porém, sem o socorro de um espírito de observação permanentemente desperto e como só se desenvolve ao contato prolongado com a vida nas selvas. Essa espécie de rústico alfabeto, unicamente acessível a indivíduos educados na existência andeja do sertanista, requer qualidades pessoais que dificilmente se improvisam. É possível, talvez, ter ideia da segurança com que os índios se guiavam pelos astros ou rastros, conhecendo a perícia de nosso caboclo no distinguir ou identificar os menores vestígios da passagem de animais nos carreiros. Um exame superficial das pegadas de um homem ou bicho basta-lhe muitas vezes para tirar as deduções mais precisas sobre sua origem, sua direção e a época em que foram produzidas.

Mais de uma proeza dos bandeirantes explica-se graças a esse talento particular. Foi pelos rastros de um abarracamento que Manuel Dias da Silva, correndo pelo ano de 1736 territórios do atual estado de Mato Grosso, conseguiu averiguar não só que ali tinham estado castelhanos e com personagens de alta patente, como determinar com precisão quanto tempo antes tinham deixado o lugar, o número de animais que levavam, e o rumo tomado. reticências

Ainda aqui, bem apurado, é um aspecto da influência indígena que insiste em sobreviver em terra onde foram assíduas a comunicação e a mestiçagem com o gentio. Influência que viria animar, senão tornar possíveis, as grandes empresas bandeirantes. Sabemos como era manifesta nesses conquistadores a marca do chamado selvagem, da raça conquistada. reticências

Deve-se admitir que nessas épocas iniciais a compreensão justa das realidades, as maiores probabilidades de determinar e criar o futuro, o verdadeiro manancial de energias ativas, não estavam nos costumes naturalmente mais policiados e sem dúvida mais suaves, que se iam implantando no litoral, e nem mesmo na indignação piedosa do jesuíta contra os escravizadores de índios. Estaria antes nos instintos obscuros, nas inclinações muitas vezes grosseiras, nos interesses frequentemente imorais que animavam o bandeirante devassador dos sertões. E estavam certamente nessa incorporação necessária de numerosos traços da vida do gentio, enquanto não fosse possível uma comunidade civil e bem composta, segundo os moldes europeus.”

HOLANDA, Sérgio Buarque. Caminhos e fronteiras. São Paulo: Companhias das Letras, 1994. página 19-22.

Minas Gerais: opulência e pobreza

No trecho a seguir, a historiadora Laura de Mello e Souza analisa a pobreza da capitania das Minas Gerais, como um contraponto à aparência do luxo e da ostentação depreendida da mineração na região durante o século dezoito.

“Desde cedo se firmou a imagem de que o ouro, metal nobre por excelência, correspondia a uma riqueza enganadora, fátua e, no limite, falsa. O problema é complexo e tem vários desdobramentos, pois se tudo ‘conspira para se julgarem estas minas as mais pobres, e desgraçadas das que vivem em sociedade’, ‘não é fácil afirmar delas este conceito’ porque a aparência – o luxo, a ostentação – encobre a essência, a pobreza que está por trás da ‘falsa reputação’ e do ‘falso brilhante’. reticências

Uma vez detectada a pobreza e entendidas as Minas como o seu cenário, elabora-se a formulação de que o fausto é falso, de que a natureza do ouro é intrinsecamente enganadora. Porém, conforme se configura a franca decadência das Minas, começa a surgir a necessidade de explicar esse estado de coisas e justificar a pobreza. Parte-se então para uma série de racionalizações que, apesar de mais elaboradas, resvalam no problema sem dar conta da sua verdadeira natureza.

Num primeiro nível – o mais elementar de todos –, surge a explicação de que não há riqueza devido ao extravio e ao contrabando. De fato, tudo indica que este existiu durante todo o período minerador, constituindo-se em preocupação central das autoridades coloniais. reticências

A partir dos estudos científicos levados a cabo pelos membros da Academia de Ciências de Lisboa reticências, o extravio deixa de ser a explicação preferida e as atenções se voltam para a inadequação dos métodos utilizados na extração do metal. Galga-se assim um segundo patamar na tentativa de compreensão do problema.

Em 1791, a Junta da Fazenda opinava sobre o estado da capitania e o decréscimo da arrecadação do ouro, traçando o perfil do que fôra, por todos aqueles anos, o procedimento adotado: aproveitamento do ouro aluvional e da fácil extração: ‘... foi naquele tempo de abundância, e quando a extração do mesmo ouro era mais fácil e menos dispendiosa; pois que achava junto nos córregos aonde estava como depositado pelo decurso de longos anos pelas enxurradas que cotidianamente a conduzia dos morros dificultosos de se lavarem, não só peça sua situação, e falta de águas, como pelas poucas fôrças dos mineiros....

Uma vez extraído o metal de aluvião, os veeiros de grupiara ou meia-encosta, os de galeria, enfim, os que adentravam pela terra apresentavam extração mais difícil, para a qual a técnica rudimentar dos mineiros das Gerais era bastante inadequada. reticências

reticências Segundo o mineralogista alemão [éshivega], a pobreza dominava inúmeros arraiais auríferos: ‘Se se pergunta, nesses lugares, sobre a causa dessa decadência, obtém-se como resposta ter sido a escassez do ouro que impeliu uma parte da população a deixar o local e outra a cair na miséria reticências. O observador superficial aceitará essa explicação como verdadeira, e propagando-a, dará uma ideia falsa sobre um dos assuntos econômicos de maior importância para a capitania de Minas’. A região continuava rica nas profundezas, prossegue éshivega, e apenas a riqueza superficial havia sido explorada: mas isto não sabiam os mineiros, pois eram ignorantes em matéria de mineração e adotavam os métodos os ‘mais inoportunos’. reticências

Num terceiro nível explicativo, surge a ideia de que a mineração é ilusória porque, na realidade, não é trabalho. Este, por sua vez, configura-se claramente como praga bíblica: penoso, demorado, difícil, é provação necessária para a obtenção final da felicidade; ‘uma riqueza achada de repente, e com facilidade, não nascida da indústria, ou de trabalho’, será sempre perniciosa.

reticências Ante a miséria das Minas, Vieira Couto se consternava e reticências, perplexo, o mineralogista, [se perguntava] como explicar ‘um ente que não existe na natureza, um erário rico de uma nação pobre?’

As questões colocadas por Vieira Couto haviam começado a ser respondidas com nitidez durante o movimento da Inconfidência Mineira reticências. De fato, foi aquele momento em que a percepção do estatuto colonial aflorou às consciências mais esclarecidas do Brasil, e não foi ocasional o fato destas terem primeiro se manifestado na capitania do ouro e do falso fausto. Durante todo o século dezoito, fôra aquela a região mais lucrativa dos domínios portugueses de ultramar, teatro de violências fiscais e do autoritarismo ilimitado dos governantes. Aos poucos, a decadência da capitania – que, como se viu acima, fôra alegada desde muito cedo – começou a assumir contornos precisos nas consciências: não apenas indefinida e atemporal, mas difícil de ser delineada devido ao fato de estar imersa na realidade colonial, e de corporificar a dependência. Não podia, pois, haver ouro que chegasse para a voracidade do fisco, e a maior quantidade de ouro encontrado não significava, obrigatoriamente, riqueza. Quase nada escapava às malhas do sistema colonial: fisco voraz, tributação sobre escravos, sistema monetário específico e importações feitas pelo

exclusivo de comércio eram os meios de que se servia a Metrópole para a retirada do ouro. Esse mecanismo gerava pobreza, implicando, para o colono, impossibilidade de comprar escravos; numa sociedade escravista, isto implicava mais pobreza. O círculo se fechava, e o verdadeiro tema – o mundo da pobreza em que se movia o mineiro – era, através dos tempos, recoberto pelo tema da decadência.”

SOUZA, Laura de Mello. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século dezoito. Rio de Janeiro: Graal, 1982. página 33-40.

Mercantilismo: transição entre o feudalismo e o capitalismo

No texto a seguir, os historiadores Francisco Falcon e Antonio Rodrigues discutem a transição do feudalismo para o capitalismo, destacando o conjunto de mudanças ensejadas pelo mercantilismo e a coexistência de elementos feudais em desagregação com os aspectos do capitalismo emergente.

“Os três séculos (dezesseis a dezoito) correspondentes cronologicamente à Idade Moderna caracterizam-se no plano da história econômica por dois processos distintos, embora estreitamente inter-relacionados: as transformações estruturais que marcam a transição do feudalismo para o capitalismo e a expansão mercantil que constitui a primeira etapa do processo de unificação do mundo – ou de estabelecimento do assim denominado ‘sistema mundial (capitalista) moderno’.

Trata-se, portanto, no caso da transição feudal-capitalista, de um processo muito longo em termos cronológicos, além de destituído de uma verdadeira uniformidade. reticências Começando com os primeiros sinais da crise do feudalismo, termina, séculos mais tarde, com o advento do capitalismo, o que nos permite detectar nesse processo de transição inúmeros aspectos componentes, alguns dos quais contraditórios, configurando-se aí dois tipos básicos de transformações:

• As transformações associadas às fórmas ou estruturas socioeconômicas de natureza feudal presentes na sociedade do Antigo Regime na época do Estado absolutista, típicas do mundo rural reticências.

• As transformações mais ligadas ao surgimento e à expansão de fórmas socioeconômicas de natureza pré-capitalista, tanto no campo como nas cidades, em geral mais ligadas à manufatura e às atividades mercantis.

Se quisermos pensar de um ponto de vista histórico reticências, considerando-se sobretudo as variações conjunturais da economia, poderemos delimitar reticências os seguintes períodos:

1º O período correspondente à chamada crise do final da Idade Média, durante os séculos catorze e quinze, que atingiu muitas das antigas fórmas tradicionais das relações feudais na agricultura e que se fez acompanhar de sensível declínio demográfico e de significativos descensos no âmbito das atividades manufatureiras e mercantis. Daí, certamente, as numerosas manifestações de tensões e conflitos sociais, assim como as expressões de uma verdadeira crise ideológica. Constituindo o conjunto dessa crise ou, segundo outros, sua verdadeira essência, encontraremos ao lado da depressão econômica a presença da trilogia trágica: a fome, a peste e a guerra.

2º Dos meados do século quinze até o comêço do século dezessete, um período de expansão econômica corresponde àquilo que alguns historiadores vêm denominando de o longo século dezesseis. Temos aí uma relativa expansão das atividades industriais, artesanais, é claro, bem como da produção agrícola, em estreita conexão com a retomada do crescimento demográfico e o início da expansão mercantil – marítima e colonial. Importantes mudanças culturais – como aquelas diretamente ligadas ao Humanismo e ao Renascimento – e religiosas – como as Reformas – marcam a ruptura com diversos aspectos do universo medieval abrindo caminho para a revolução científica e para o advento da modernidade.

3º Do início do século dezessete ao final desse mesmo século ou, em alguns casos, às primeiras décadas do dezoito, ocorre, em diversos países europeus, a chamada crise do século dezessete, cuja natureza e alcance constituem motivo de intermináveis debates entre os historiadores. Para alguns, trata-se de uma fase de ajustamento, ou mesmo de recuo, do desenvolvimento do capital comercial, ao passo que, segundo outros, foi um dos dois momentos decisivos da história do capitalismo, em termos econômicos, políticos e sociais – a Revolução Inglesa. Do ponto de vista da primeira dessas perspectivas, a crise é um processo geral que abrange todos os aspectos da vida das sociedades europeias; já sob a ótica da segunda, a crise teria sido, na verdade, a viragem decisiva que abriu caminho para o triunfo do capitalismo.

4º A partir de meados do século dezoito, ou mesmo duas ou três décadas antes de 1750, reticências o capitalismo tende a se expandir com rapidez na Europa Ocidental. Diversas revoluções econômicas assinalam a expansão europeia, também verificável do ponto de vista do comércio e da

exploração coloniais. Sintetizando tais transformações está o conceito de revolução burguesa ou de dupla revolução. reticências Temos aqui, na verdade, a Revolução Industrial Inglesa reticências.

Vista como um todo, a fase final do feudalismo correspondeu historicamente a transformações as mais variadas, associadas tanto à progressiva desestruturação das relações feudais como ao avanço lento, não raro irregular, das relações capitalistas. Quando a nossa atenção se concentra nessas últimas, a tendência é sempre destacar aquelas que constituem as manifestações de processos e tendências cujo sentido vem a ser o do advento do capitalismo, daí o hábito de intitulá-las precondições da Revolução Industrial: a acumulação (primitiva) de capital; a liberação da mão de obra e os progressos técnico-científicos. Na realidade, a fase final do feudalismo corresponde a uma fase de transição caracterizada pela coexistência de elementos típicos do feudalismo, em processo de progressiva desagregação, e de outros, propriamente capitalistas, ainda emergentes.”

FALCON, Francisco; RODRIGUES, Antonio Edmilson. A formação do mundo moderno: a construção do Ocidente dos séculos catorze ao dezoito. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2006. página 5-9.

A transição para o capitalismo e a elaboração do pensamento mercantilista

A seguir, os professores da universidade estadunidense de rávard, rãnt e chérman, apresentam um resumo sobre as mudanças estruturais ocorridas na Europa que contribuíram para a formação do capitalismo.

“Uma série de mudanças profundas provocou o declínio do feudalismo e a emergência de uma nova economia orientada para o mercado. As mais importantes dessas mudanças foram os progressos ocorridos na tecnologia agrícola entre o século onze e o final do treze. Os aperfeiçoamentos introduzidos na tecnologia agrícola desencadearam, nos séculos subsequentes, uma sucessão de acontecimentos que culminaram na consolidação do capitalismo.

O rápido crescimento da população e da concentração urbana favoreceram o ressurgimento do comércio de longa distância. O sistema manufatureiro estruturado nas cidades (putting-out system) produzia as mercadorias que eram intercambiadas no comércio de longa distância. Configurou-se uma especialização urbano-rural que pressupunha a monetarização das funções econômicas e das atividades produtivas. A transformação das relações sociais feudais em relações monetárias de mercado destruiu a base social do feudalismo. As tentativas de preservar o sistema feudal culminaram na repressão sangrenta das revoltas camponesas.

Outros processos que contribuíram decisivamente para a instauração do sistema capitalista de mercado foram o regime de enclosure (cercamento) dos campos, o Renascimento intelectual, a exploração colonial, a descoberta de grandes quantidades de metais preciosos, a inflação de preços ocorrida nos séculos dezesseis e dezessete e a criação dos novos Estados-nações.

As políticas mercantilistas aplicadas nos estágios iniciais do capitalismo ocasionaram ampla intervenção governamental nos processos de mercado, sobretudo nos processos relacionados com o comércio internacional. Tais políticas tinham por objetivo, de um modo geral, assegurar elevados lucros para as grandes companhias de comércio, ampliar as fontes de renda dos governos nacionais e, numa perspectiva mais ampla, atrair o máximo de metais preciosos para o país.”

rãnt, Emery K.; chérman, RRAUARD J. História do pensamento econômico. vigésima sexta edição Petrópolis: Vozes, 2013. página 43-44.

5. Sugestões de consulta

Livros

cólinsson, pétrique. A Reforma. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

pétrique cólinsson identifica as origens da Reforma Protestante nas práticas da Igreja Católica de fins da Idade Média. Trata-se de um livro panorâmico sobre o tema, que inclui estudos sobre o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo, além da Contrarreforma católica.

COSTA E SILVA, Alberto da. A manilha e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

Nessa obra, Alberto da Costa e Silva constrói uma síntese da história da África ao longo de dois séculos cruciais (dezesseis e dezessete). Além de analisar a questão fundamental da escravização e do tráfico humano, o autor evidencia a diversidade de fórmas de produzir riqueza, os inúmeros contatos entre povos, regimes políticos e aspectos de devoção religiosa.

COSTA E SILVA, Alberto da. A manilha e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

Nessa obra, Alberto da Costa e Silva constrói uma síntese da história da África ao longo de dois séculos cruciais (dezesseis e dezessete). Além de analisar a questão fundamental da escravização e do tráfico humano, o autor evidencia a diversidade de fórmas de produzir riqueza, os inúmeros contatos entre povos, regimes políticos e aspectos de devoção religiosa.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Clássico estudo de história econômica brasileira, no qual Celso Furtado explica a formação do território brasileiro e os ciclos econômicos desde a época colonial, associando esses processos à questão da mão de obra e à superação das desigualdades regionais, em busca do desenvolvimento do país.

GARIN, Eugenio (organizador). O homem renascentista. Lisboa: Presença, 1991.

Essa obra analisa os sujeitos renascentistas, redimensionados pelo humanismo e pela emergência de novas sensibilidades, mais dinâmicas e terrenas. Para além dos artistas, a obra contempla o príncipe, o condottiero, o cardeal, o cortesão, o mercador, o banqueiro, a mulher, além dos viajantes e dos indígenas.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2015.

Trata-se de uma obra que apresenta uma síntese da história estadunidense sob a perspectiva brasileira. Nela, os autores percorrem desde o período colonial até os anos 2000, com o objetivo de explicar as razões da grande influência estadunidense na cultura do Brasil.

REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (organizador). Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Essa coletânea apresenta estudos de diversos especialistas e trata-se de um marco da historiografia brasileira, por colocar em evidência a amplitude das ações de resistência à escravidão e a luta pela liberdade, em diversas capitanias ou províncias brasileiras.

Revistas e artigos

PINTO, Fabrina Magalhães; BENEVENUTO, Flávia (organizador). Dossiê Renascimento Italiano. Crítica Histórica, Maceió, volume 6, número 12, 2015. Disponível em: https://oeds.link/loBO2H. Acesso em: 9 junho 2022.

Este volume da revista Crítica Histórica é dedicado ao estudo do Renascimento italiano a partir de uma abordagem interdisciplinar. O Dossiê, composto de oito artigos, trata de diversos aspectos do Renascimento, sob a perspectiva da filosofia, da literatura e da história.

SILVEIRA, Eder da; CORREA, Silvio Marcus de Souza. Viajantes brancos na África negra do século quinze. In: MACEDO, J. R. (organizador). Desvendando a história da África. Porto Alegre: Editora da u éfe érre gê ésse, 2008. página 85-96. (Séries Diversidades). Disponível em: https://oeds.link/64ISJT. Acesso em: 3 maio 2022.

Nesse artigo, os autores oferecem um panorama da presença portuguesa na África no século quinze, ressaltando a importância de outros fatores, além do econômico, na expansão marítima portuguesa. Por meio de relatos de viagem, os autores identificam as dimensões mais práticas e subjetivas da empreitada lusa sobre o continente africano.

Sites

MUSEU AFROBRASIL. Disponível em: https://oeds.link/e8XAUL. Acesso em: 3 maio 2022.

O Museu Afro Brasil tornou-se uma das referências para compreensão da história do Brasil, além de colaborar para a superação das desigualdades e para a afirmação da importância da contribuição dos africanos e afrodescendentes na formação do país.

PESQUISA ESCOLAR Fundáji. Disponível em: https://oeds.link/TSWAl6. Acesso em 9 junho 2022.

Organizado pela Fundação Joaquim Nabuco, o site disponibiliza informações sobre temas da história, da cultura e da sociedade brasileira, relacionados sobretudo às Regiões Norte e Nordeste, além de apresentar atividades pedagógicas, que podem ser desenvolvidas com os alunos.

Filmes

Lutéro. Direção: érique til. Alemanha, Estados Unidos, 2003, 121 minutos

O filme narra a vida de Martinho Lutéro, mostrando desde a sua crise espiritual até o rompimento com a Igreja Católica e o nascimento de uma nova religião.

Quilombo. Direção: Cacá Diegues. Brasil/França, 1984, 119 minutos

Ao tratar da história de Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, o filme constrói uma narrativa épica, que busca valorizar a identidade negra na história do Brasil.

Podcast

Indígenas, os povos originários do Brasil. episódio 5: Indígenas e a atuação missionária. Disponível em: https://oeds.link/s3ICNs. Acesso em: 9 junho 2022.

Realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto e apresentado pela historiadora Helena Azevedo de Paula Almeida, esse episódio aborda a visão dos europeus sobre as crenças religiosas indígenas e o projeto de catequização implementado pela coroa portuguesa.